Lou Reed – Discografia Selecionada

TRANSFORMER (1972) É, não tem jeito… Quem nunca ouviu com atenção tem que começar por esta obra prima. Com a ajuda primordial do produtor David Bowie (sim, ele mesmo!) e de seu guitarrista na época, o extraordinário Mick Ronson, Reed reuniu um punhado de canções repletas de letras, digamos “excêntricas” para os padrões da época, uma melhor que a outra: as estonteantes “Vicious” e “I’m So Free”, as melancólicas “Perfect Day” e “”, a ambígua “Walk on the Wild Side” – que muuiita gente pensa que é uma canção alegre só por causa da parte instrumental – e mais outras pequenas pepitas de desilusão e ironia mórbida. Foi fundamental para o surgimento do glam rock na Inglaterra e, posteriormente, do punk. https://www.youtube.com/watch?v=4WzdYMv4MM0 https://www.youtube.com/watch?v=aodZBDZJWPY https://www.youtube.com/watch?v=tT0Deh-nTmI https://www.youtube.com/watch?v=FH2EgYq_NCY https://www.youtube.com/watch?v=oG6fayQBm9w

LOU REED (1972) Até hoje não consigo entender por que o álbum de estreia de Lou Reed em sua carreira solo não é considerado algo próximo do extraordinário. Primeiro porque ele traz grande parte da fórmula sonora que ele empregava no seu grupo anterior, o Velvet Underground, só que com um verniz bem mais pesado e bem tocado. Dá para sacar isso logo no começo do álbum com as sensacionais e injustiçadas “I Can’t Stand It”, “Walk and Talk It”, “Lisa Says” e “Berlin”, canção que Reed iria retrabalhar mais tarde em um de seus mais emblemáticos e soturnos álbuns. Não dá para deixar de fazer uma forte conexão sonora entre boas canções como “Wild Child” e “Ride Into the Sun” com o som praticado do outro lado dos Estados Unidos por grupos como o Buffalo Springfield e o The Byrds. A diferença estava nas letras e ‘naquele’ vocal... Ah, acredite: o tecladista Rick Wakeman e o guitarrista Steve Howe tocaram em várias faixas e, tempos depois, entraram para o Yes. https://www.youtube.com/watch?v=XptK9NbPa8c https://www.youtube.com/watch?v=5049MYTzvM0 https://www.youtube.com/watch?v=BIp0f2WH1yU https://www.youtube.com/watch?v=4qh8gbltwaA https://www.youtube.com/watch?v=W3sGlnNVFlY https://www.youtube.com/watch?v=MeUHGhKObWg SALLY CAN’T DANCE (1974) Este é um daqueles exemplos de álbuns incompreendidos à época de seu lançamento, mas que com o passar do tempo... continuaram estranhamente incompreendidos. Com canções excelentes e entupidas de um cinismo que beirava a atrocidade – vide a espetacular e pesada “Kill Your Sons”, as ‘stoneanas’ "Animal Language" e a faixa título, a quase lúgubre “Baby Face” – que poderia estar tranquilamente em um álbum do Lynyrd Skynyrd - e as delicadas “Ennui” e “Billy”. Não acredite em críticos pseudodescolados quem dizem que este é “o pior disco de estúdio que Reed gravou na vida”. Pura cascata! https://www.youtube.com/watch?v=aTBpapWCDDo https://www.youtube.com/watch?v=yK7ZXr6U7e0 https://www.youtube.com/watch?v=S9VJU2hqjfU https://www.youtube.com/watch?v=agJg9tlKl84 https://www.youtube.com/watch?v=zg5FDkxHpog https://www.youtube.com/watch?v=U2WUlRDFmAI

NEW YORK (1989) Sim, é isso mesmo! Você tem que dar um salto de mais de uma década para desembarcar em uma Nova Iorque brilhante dissecada por Reed em seus detalhes mais sórdidos dentro da poeira yuppie/cocainômona decadente que infestava a cidade naqueles tempos. As letras continuam sensacionais e o som recebeu uma polida muito bem elaborada, que não retirou uma grama sequer do peso e da visceralidade dos timbres. Reed tocou em feridas abertas, como a devastação e o clima de terror causado pela da AIDS na quase bucólica “Halloween Parade”, a indiferença da população em relação aos mendigos no folk eletrificado de “Xmas in February” e o abuso sexual de crianças no country explícito de “Endless Cycle”. Como não imaginar uma caminhada pelas ruas daquela cidade ouvindo “Dirty Blvd.”, “Romeo and Juliette” e até mesmo rockões como “Good Evening Mr. Waldhein” e “Busload of Faith”? https://www.youtube.com/watch?v=2LdymX-r0a8 https://www.youtube.com/watch?v=3rhwSJTtNTQ https://www.youtube.com/watch?v=KsCRmFUbKFk https://www.youtube.com/watch?v=wbVoFFC_198 https://www.youtube.com/watch?v=J7yScl4-kms https://www.youtube.com/watch?v=66qe76gkCxo https://www.youtube.com/watch?v=wBIlehYpdwk

CONEY ISLAND BABY (1976) O despojamento com que cada canção foi trabalhada em termos instrumentais está brilhantemente retratado em algumas faixas emblemáticas, como a linda faixa título, uma daquelas baladas desconcertantes que Reed vez por outra engendrava a fim de oferecer contrapontos entre versos e notas, ao mesmo tempo em que criticava a frivolidade da sociedade americana na suingada “Charlie’s Girl”, no rockão “Ooohhh Baby” e no country/folk “Nobody’s Business”. Se não fosse pelas letras esquisitamente românticas, “She’s My Best Friend” e “Crazy Feeling” poderiam ter sido incluídas em um álbum do George Harrison. Discão! https://www.youtube.com/watch?v=rBpXJ8_WMqU https://www.youtube.com/watch?v=v2YgZATW9SA https://www.youtube.com/watch?v=odFf6jTTO50 https://www.youtube.com/watch?v=78bz-NJq4CQ https://www.youtube.com/watch?v=wpoDoB5ENJw https://www.youtube.com/watch?v=S87QdrcOipU

ROCK N’ ROLL ANIMAL (1974) / LIVE (1975) Aqui o ‘novato’ que deseja adentrar ao universo de Lou Reed tem uma pequena amostra de como eram os shows do cara nos anos 70. Com uma banda bem afiada – com destaque para os guitarristas Steve Hunter e Dick Wagner, ambos mais tarde cooptados por Alice Cooper -, os dois discos registram um mesmo show, sendo que no primeiro Reed e seu grupo revisitam canções do tempo do Velvet Underground com uma intensidade avassaladora até mesmo para os padrões da época – “White Light/White Heat”, “Lady Day” e as longas versões de “Heroin” e “Rock ‘n’ Roll” – ao passo que o segundo traz outro repertório igualmente portentoso em termos de peso e timbres de guitarras distorcidos – “Vicious”, “Walk on a Wild Side”, “Satellite of Love”, entre outras. https://www.youtube.com/watch?v=wY1TdzTO_8A https://www.youtube.com/watch?v=lQf-M6pinME https://www.youtube.com/watch?v=jRG3wHaQVR4 https://www.youtube.com/watch?v=ZSLid-0cUcI https://www.youtube.com/watch?v=zpZEMF6M3so https://www.youtube.com/watch?v=Jk44ujrNWeA https://www.youtube.com/watch?v=mtOiUqBBH2g

BERLIN (1973)

Comercialmente, foi uma tragédia; conceitualmente, é um dos álbuns mais importantes de todos os tempos. Com letras sensacionais e uma espetacular banda de apoio – que incluiu os baixistas Jack Bruce (ex-Cream) e Tony Levin (que mais tarde integraria o King Crimson e a banda de Peter Gabriel), Stevie Winwood e o baterista Aynsley Dunbar -, mas completamente baixo astral em sua abordagem “narcótica”, é um disco que só pode ser compreendido em sua essência depois de você percorrer o corredor sonoro formado pelos discos citados aqui anteriormente. Aí sim você vai sacar a história do casal – sim, eu considero como uma “opera rock”, com toda a pompa e suntuosidade do estilo – que vai mergulhando com braçadas firmes e vigorosas ao fundo do oceano do vício. Lindamente deprimente! https://www.youtube.com/watch?v=QG_ooIR0DTY https://www.youtube.com/watch?v=Y793DlD0Sxg https://www.youtube.com/watch?v=S_1BwtPsgL0 https://www.youtube.com/watch?v=-wL1edIlgzs

Pronto! Depois de tudo o que coloquei aqui, você tem dois caminhos: 1) se gostou, está pronto ouvir cada um destes discos com atenção e partir para a degustação dos outros álbuns da discografia do Lou Reed, como os também ótimos (1978), The Bells (1979), The Blue Mask (1982) e (1992). Além, claro, do trabalho do Velvet Underground, notadamente de seu álbum de estreia, o antológico Velvet Underground & (1967), o popular “disco da banana”; 2) se não gostou, nem perca seu tempo: pode continuar a ouvir os seus discos do Manowar e a se deliciar com a própria estupidez...