Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos O PROCESSO DE MOVIMENTO PENDULAR: Paiçandu/Maringá na sala de aula

Tânia Cristina Roncada1 Sueli de Castro Gomes2

RESUMO

Este artigo resulta da implementação do material didático produzido no terceiro período da formação continuada do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, realizado com os alunos do 1º ano do Ensino Médio. O objetivo foi proporcionar fundamentos teóricos e práticos para subsidiar a compreensão do processo de deslocamento pendular entre Paiçandu/Maringá, PR. Trabalhou-se a temática “Os movimentos pendulares”, através de atividades diversificadas e entrevistas, dando ênfase à compreensão do movimento pendular e na identificação dos fatores que contribuíram com a construção e organização espacial das cidades Paiçandu e Maringá. Para tanto, foi necessário recorrer ao processo histórico da organização espacial desses municípios.

Palavras-chave: Movimento Pendular. Paiçandu-PR. Ensino de Geografia. Região Metropolitana.

Introdução

No ensino de geografia, deve-se considerar o aluno e a sociedade em que este vive. Não pode ser uma ciência solta, distante da realidade. Os assuntos selecionados para serem estudados nessa disciplina devem permitir que os alunos se percebam como participantes do espaço em que estudam e que vivem, no qual os fenômenos que ali ocorrem são resultados da vida e do trabalho dos homens que se inserem em um processo de desenvolvimento e que, consequentemente, transformam o espaço. Neste Projeto, as atividades realizadas com os alunos tiveram como objetivo geral proporcionar a estes fundamentos teóricos e práticos para subsidiar sua compreensão acerca do processo de deslocamento pendular entre as cidades de Paiçandu e Maringá, ambas no Estado do Paraná. Na opção pela temática “Os movimentos pendulares”, não tivemos a intenção de elaborar uma pesquisa quantitativa, puramente numérica, mas

1 Graduada em Geografia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Pós-graduanda em Didática e Metodologia de Ensino pela Unopar. Professora da rede estadual de ensino. Endereço eletrônico: [email protected] 2 Docente da Universidade Estadual de Maringá. Doutora em Geografia Humana pela USP. Endereço eletrônico: [email protected]

levar os alunos a superar o senso comum do conhecimento para serem capazes de compreender o processo de deslocamento da população a partir da sua realidade. Nesse processo, é fundamental lembrar que as pessoas se deslocam porque não conseguem trabalho e/ou estudo condignos no município de residência; o que observamos é que nossa vida social e econômica é regulamentada historicamente pelo processo de valorização do capital. Nosso estudo resulta da busca para a explicação de muitas indagações que no cotidiano da prática profissional dos professores de Geografia ficam sem respostas, principalmente quando se trata da compreensão do processo de movimentos pendulares entre os municípios de Paiçandu e Maringá, cidades vizinhas do Estado do Paraná. Intitulado como “O processo de movimento pendular: Paiçandu/Maringá- PR”, desenvolvemos este estudo com alunos do 1º ano do Ensino Médio do período matutino, no primeiro semestre de 2014, no Colégio Estadual Paiçandu – Ensino Fundamental, Médio, Normal e Profissional, na cidade de Paiçandu, PR. Nosso objetivo foi oferecer subsídios teórico-práticos para o desenvolvimento das diversas atividades junto aos alunos para a compreensão do processo de deslocamento pendular. Nesse contexto, pretendemos analisar a construção do espaço geográfico nos municípios de Paiçandu e Maringá como resultado das intenções que o homem realiza sobre o meio em que vive. Para tanto, recorremos ao processo histórico da organização espacial desses municípios.

1 A construção do espaço urbano de Paiçandu

O município de Paiçandu localiza-se na Região Sul do Brasil e ao Norte do Estado do Paraná; possui uma área de 183,12 quilômetros quadrados, localizada na latitude 23°27’20” Sul e longitude 52°02’30” Oeste. Sua altitude média é de aproximadamente 470 metros, acima do nível do mar. Faz parte da Mesorregião Norte Central Paranaense e limita-se com os municípios de Mandaguaçu ao Norte, ao Sul, a Leste com Maringá e a Oeste com e . Convém lembrar que o objeto de estudo da Geografia é o espaço geográfico, sob a perspectiva de cidade ou campo, que traz a marca da sociedade em que foi produzido ao longo da história. A esse respeito, citamos Carlos (2010, p. 86-87), para quem:

o espaço geográfico é um produto histórico e social onde o homem não se relaciona simplesmente com a natureza, mas a partir dela, pelo processo de trabalho, apropria-se da natureza transformando a em produto seu, como condição ao processo de reprodução da sociedade.

Na perspectiva de Endlich (2009, p.17), o espaço geográfico:

é a parte condicionante e expressão de dinâmicas econômicas, políticas, enfim, de processos sociais, ou seja, enquanto por um lado a sociedade define-se econômica e politicamente, estabelecendo condições sociais, produz também o espaço em que vive com atributos que só podem ser compreendidos neste contexto geral. Por outro lado, o espaço produzido é também mediação desse processo.

Podemos entender que o espaço urbano, então, é um produto humano e social que está sempre em transformação. Quando pensamos em cidade como o construído (casas, edifícios, praças), verificamos que esta é produzida pelo trabalho social enquanto espaço de vida urbana. A cidade pode ser entendida como reflexo de sua organização espacial, determinada pelas mais complexas relações sociais, políticas e econômicas, vinculadas diretamente ao processo de reprodução do capital. Carlos (2010, p.86) afirma que "a metrópole é um produto que vai se construindo ao longo de uma história que, junto com sua fisionomia, transforma também a vida dos seus habitantes e consequentemente suas relações com o espaço urbano", acrescentando que na metrópole encontra-se a expressão máxima do dinamismo das atividades exercidas pelas pessoas de acordo com suas necessidades sociais ligadas ao processo de reprodução do capital. Estudar a cidade/municípios é importante e necessário para o aluno à medida que este participa e vivencia a realidade concreta, e não coisas distantes e abstratas. Nesse âmbito, não podemos entender a cidade contemporânea sem analisar seu passado; dessa forma, recorremos ao processo histórico da organização espacial dos municípios paranaenses aqui contemplados: Paiçandu e Maringá.

A área do município de Paiçandu, entre os anos de 1938 a 1940, era um sertão habitado por índios e caboclos, os quais formavam um agrupamento no local de um pequeno cemitério, que era o ponto de referência na densa mata virgem, conhecido por “Cemitério dos Caboclos”. No período de 1942 a 1944, começaram a surgir os primeiros desbravadores oriundos de Minas Gerais e São Paulo, atraídos pela fertilidade das terras próprias para o café, que na época do desbravamento e dos massacres indígenas se constituía a maior fonte de riqueza da região. Em 1948, teve início a obra colonizadora da Companhia Melhoramentos Norte Paraná e a formação de glebas como a de Paiçandu, Colombo, Bandeirantes, Chapecó e Água Boa. Os trilhos de aço da ferrovia que alicerçou o povoado chegaram a Apucarana em 1943, a Maringá em 1954 e somente em 1973 em Cianorte. A estrada de ferro passava estrategicamente por Paiçandu, favorecendo o povoado, o qual, por sua vez, se fortaleceu, começando a surgir as primeiras casas de comércio nas proximidades da futura estação ferroviária. Em seu processo histórico, o município de Paiçandu foi concebido com a função de ser um núcleo secundário, ou seja, fornecedor de mercadorias, bens e serviços para abastecimento do campo. Assinalamos que em 14 de novembro de 1951 emancipou-se de , e em 25 de julho de 1960 desmembrou-se de Maringá através da Lei nº 4245, pelo Governador Moisés Lupion. A partir da década de 1970, ocorreram profundas transformações no campo (refletidas no meio urbano), em decorrência da modernização da agricultura na região de Maringá. Houve um incentivo por parte do governo estadual em diversificar as culturas plantadas (soja, trigo, milho, entre outras), e, em decorrência, a erradicação da cultura cafeeira. Esse processo de transformações acarretou o êxodo rural, gerando mudanças na distribuição espacial da população e alterações nas relações de trabalho. Expulsos do campo, muitos trabalhadores adotaram as pequenas cidades ou as maiores cidades da região como local de moradia e procura de empregos. Na década de 1970, houve acentuado interesse das imobiliárias de Maringá pelos terrenos e imóveis localizados em Paiçandu, tendo em vista que as pessoas que não conseguiam comprar moradia ou pagar aluguéis de acordo com o mercado imobiliário local de Maringá buscaram fixar residência nas cidades vizinhas. A proliferação de loteamentos, nessa década, ocorreu na cidade de Paiçandu. Após 1976, o número de loteamentos implantados cresceu vertiginosamente, com a instalação de vários Parques e Jardins Habitacionais de iniciativa privada.

2 Espaço urbano de Maringá A cidade de Maringá localiza-se na Região Norte-Central do Estado do Paraná, fundada pela Companhia Melhoramentos Norte do Paraná (CMNP), no final da década de 1940. Maringá foi dividida em várias zonas distintas, através de padrões de zoneamento rígidos de habitação, tais como a do comércio, indústria, armazéns, habitações de vários padrões e uma zona de serviços públicos, definindo suas funções urbanas. A cidade teve um projeto urbanístico que determinava a possibilidade de uma ocupação residencial diferenciada, segundo o padrão econômico da população para adquirir os lotes. Nesse contexto, a desigualdade socioeconômica da população refletiu em uma ocupação desigual do espaço urbano. As áreas centrais de Maringá foram designadas para uma ocupação de elite e a população de baixa renda para a periferia, se assentando em loteamentos populares, com inúmeras deficiências de infraestrutura. Ao longo dos anos, na organização espacial de Maringá sobressaiu-se o interesse marcante da Companhia e os agentes imobiliários que visavam ao lucro e menosprezavam o social. Quanto à formação do espaço urbano de Maringá, Machado e Mendes (2006) a dividiram em quatro fases distintas: na primeira (1960-1969), houve grande investimento na área central da cidade, oriundo do excedente de riquezas especialmente de alguns fazendeiros de café e comerciantes. A segunda fase (1970-1979) foi marcada pela modernização agrícola implantada pelo governo federal. O campo passou por profundas transformações, como a utilização de máquinas e de insumos agrícolas. Tal transformação foi também sentida nos espaços urbanos pela absorção desse contingente. Muitos agricultores da região migraram para as cidades à busca de moradias; muitos foram para Maringá, a maioria sem nenhuma qualificação profissional, e outros permaneceram no perímetro urbano de Paiçandu, que até então não possuía infraestrutura necessária aos moradores. Dessa maneira, ocorreu uma expansão territorial (horizontal e vertical) de Maringá, especialmente para atender às classes média e alta. Nesse período, teve início a implantação de loteamentos populares em Paiçandu, destinados principalmente à população de baixa renda de Maringá. A terceira fase (1980-1989) foi marcada pela implementação da agroindústria, e os interesses de grupos ou pessoas de poder econômico e político da cidade e região influenciaram no espaço estrategicamente escolhido (entre Maringá e Paiçandu). Isso tornou fácil o deslocamento do contingente de trabalhadores de Paiçandu e fez a cidade crescer territorialmente mais em direção a leste, produzindo o fenômeno de periferização. A última fase (1990-1999) foi a maturidade da verticalização, considerando a instabilidade política-econômica do país no início da década de 1990. A verticalização foi uma verdadeira inovação na cidade. A esse respeito, Machado e Mendes (2006, p.123) asseveram:

O rápido crescimento territorial da cidade de Maringá é reflexo de um planejamento com à uma integração internacional, nacional e regional característico do processo de expansão e acumulação capitalista. Essa expansão é conduzida por pressões dos agentes imobiliários, provocando dificuldades e deterioração da qualidade de vida da maioria da população em benefício de pequenas parcelas da sociedade.

Assim, esse espaço urbano capitalista apresenta-se dividido com usos e valores distintos, caracterizado pela divisão social do espaço. A cidade de Maringá, em um processo mais abrangente, pode se caracterizar como o tradicional modelo centro-periferia. Para Negri (2006, p.41), “poder-se-ia analisar a periferia como um reflexo da segregação espacial produzida pelo sistema capitalista, que atua através da divisão social do trabalho”. As pessoas que saem do campo ou de outras cidades que não dispõem de recursos financeiros para comprar lotes ou pagar os altos aluguéis nas áreas servidas por redes e sistemas de infraestrutura (saneamento, pavimentação e outros) acabam se deslocando para as cidades vizinhas para morar. Maringá assume um papel de cidade polo da região, conhecida por sua beleza urbanística, prestadora de serviços especializados, importante centro educacional, comercial e agroindustrial. Devemos repensar a ideia de periferia associada à pobreza. O que observamos hoje nas grandes metrópoles do Brasil e também em Maringá são as construções de condomínios fechados de luxo, associadas aos bairros pobres sem infraestrutura e aos bolsões industriais. A cidade de Maringá apresenta localização privilegiada e um bom sistema rodoviário regional, o que permite o escoamento de sua produção, a comercialização de mercadorias com os demais municípios; é também referência nos segmentos de serviços, educação e saúde, tornando-se um polo regional, como foi planejada. A influência exercida sobre os municípios ao seu entorno gerou condições para que fosse institucionalizada a Região Metropolitana de Maringá, sendo Maringá a cidade polo.

2.1 Origem e multiplicação do número de municípios da Região Metropolitana de Maringá

Segundo Carlos (2010, p.86), "a metrópole é um produto que vai se construindo ao longo de uma história e que, junto com sua fisionomia, transforma também a vida dos seus habitantes e consequentemente suas relações com o espaço urbano", acrescentando que na metrópole encontra-se a expressão máxima do dinamismo das atividades exercidas pelas pessoas, de acordo com suas necessidades sociais ligadas ao processo de reprodução do capital. O termo metrópole pode ser também utilizado para denominar uma região dotada de equipamentos urbanos, densamente povoada e uma área contígua ocupada, com alto grau de integração e com interdependência social. Uma região metropolitana não precisa ser obrigatoriamente formada por uma única área contígua urbanizada, composta geralmente por uma metrópole de influência; vale ressaltar que a área metropolitana inclui o espaço urbano e rural das cidades que a compõem, podendo desmarcar uma região com duas ou mais áreas urbanizadas, intercaladas com áreas rurais. Uma região metropolitana é constituída por uma cidade que polariza as demais, as quais possuem um alto grau de integração entre si. Em 1989, foi criado o Consórcio Intermunicipal para o Desenvolvimento Metropolitano da Região de Maringá, Paiçandu, Sarandi e (Metroplan), com a finalidade de planejar o desenvolvimento regional e executar serviços e obras de interesse comum, garantindo um crescimento ordenado e tratando as quatro cidades como uma só. Posteriormente, esse Consórcio foi extinto por motivos políticos. Na administração de Jairo Gianoto (1997-2000), foi criado o Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Maringá (Cidermma), o qual evoluiu para a instituição da Região Metropolitana de Maringá. Em 1998, foi apresentado o Projeto de Lei Complementar nº 253/98, que propunha a criação legal da Região Metropolitana de Maringá, formada pelos oito municípios integrantes do Cidermma: Maringá, Sarandi, Paiçandu, Marialva, Mandaguaçu, Mandaguari, e Ângulo. Em 2002, foi aprovada, por meio da Lei Complementar nº 13565/2002, o Projeto de Lei nº 313/99, incorporando o município de Floresta. Com a aprovação da Lei Complementar nº 110/2005 a essa Lei, foram incorporados os municípios de Astorga, Ivatuba, Itambé e Doutor Camargo. Após vários acordos políticos estabelecidos entre prefeitos e deputados regionais, outros municípios foram incluídos para compor esse conjunto. Hoje, são vinte e seis municípios que compõem a Região Metropolitana de Maringá (Figura 1).

O que são regiões metropolitanas?

Podem ser entendidas como um agrupamento de municípios que se integram e se organizam.

Figura 1: Expansão da região metropolitana de Maringá

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Fonte:http://www.cch.uem.br/observatorio/index.php?option=com_content&view=article&id=314:mapa- regiao-metropolitana-de-maringa-agosto-2013&catid=46:mapas&Itemid=53 – Acesso: 14/11/2013

A produção do espaço urbano da Região Metropolitana de Maringá constitui-se por um conjunto de municípios cujas características socioeconômicas resultam em espacialidades urbanas bastante diferenciadas umas das outras. Nem todos os municípios dessa Região apresentam integração social e econômica igual: alguns municípios possuem maiores fluxos de população e de mercadorias. Por exemplo, Sarandi e Paiçandu possuem um alto grau de integração; a primeira cidade está conurbada à Maringá (por meio de bairros residências) e a segunda em via de conurbação (por meio do setor industrial). A justificativa da Região Metropolitana de Maringá está relacionada ao planejamento e execução de serviços comuns de interesse metropolitanos, como planejamento integrado do desenvolvimento econômico e social, saneamento básico, abastecimento de água, rede de esgoto e serviço de limpeza pública, uso do solo metropolitano, transportes e sistema viário, aproveitamento dos recursos hídricos e controle da poluição ambiental.

3 Movimentos pendulares

Segundo estudos do Ipardes( Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social ), em todas as mesorregiões do Estado do Paraná houve um aumento expressivo dos deslocamentos pendulares. Sua concentração está nas aglomerações urbanas que polarizam as Regiões Metropolitanas de Curitiba, Londrina e Maringá. Entre 2000 e 2010, o Paraná elevou de 478.650 para 933.276 o número de pessoas que deixaram o município de residência para trabalho e/ou estudo em outro município. Maringá teve uma organização espacial diferenciada devido à presença da colonizadora e de agentes imobiliários, como já apontamos. A desigualdade socioeconômica da população refletiu em uma ocupação residencial desigual do espaço, e esse planejamento pode ser considerado característico do processo de expansão e acumulação capitalista. O papel de cidade polo da região foi assumido por Maringá, a qual é conhecida por sua beleza urbanística, configurando-se como prestadora de serviços especializados, importante centro educacional, comercial e agroindustrial. Paiçandu, em seu processo histórico, foi concebida com a função de ser núcleo secundário, fornecendo mercadorias, bens e serviços para o abastecimento do campo. Entretanto, com a modernização na agricultura e sua emancipação, a cidade tornou-se refúgio para a população expulsa do campo e para aqueles que não conseguiram comprar uma casa ou pagar aluguel em cidades maiores como Maringá. O papel de cidade dormitório foi assumido por Paiçandu, que pode ser considerada um município pouco dinâmico, “implicando subordinação e dependência e promovendo à segregação socioespacial” (MOURA, 2009, p.34), ao mesmo tempo em que é portadora de carência e fornecedora de mão de obra. Desse modo, nos municípios de menor porte, como é o caso de Paiçandu, ocorre a não oferta de condições de trabalho e qualidade de vida, provocando o fenômeno chamado movimento pendular. O movimento pendular é caracterizado pelo deslocamento de pessoas, que pode ser um movimento diário ou de períodos maiores, quando as longas distâncias exigem permanência no local. Sua principal característica está vinculada a não fixação de residência no local de destino. As pessoas movimentam-se periodicamente de seu local de residência para trabalhar ou estudar em outra cidade em consequência da concentração de oportunidades de estudo e de trabalho nos centros urbanos maiores. A mobilidade pendular apresenta algumas implicações, como, por exemplo, o custo elevado do transporte utilizado para esse percurso para trabalhadores e estudantes, pois estes utilizam veículos próprios, ônibus comerciais de linha, motocicletas e outros. Para realizarem o trajeto, viajam diariamente um longo tempo, o que acarreta um desgaste físico e emocional. Esse tempo despendido com a viagem é retirado especialmente da convivência familiar e do descanso. Ademais, a rodovia que liga Paiçandu a Maringá, a PR-323, é uma das mais movimentadas da região e a principal via de ligação entre esses municípios. Essa rodovia dividiu o espaço urbano de Paiçandu, provocando um significativo dinamismo em sua economia, crescimento urbano, instalação de indústrias, escoamento rápido de sua produção industrial e agrícola, mas também o deslocamento de sua mão de obra em direção à Maringá. O comércio, os serviços bancários, as repartições públicas, o atendimento hospitalar, dentre outros serviços urbanos, se encontram localizados no centro de Paiçandu, a oeste do município, portanto, de um único lado da rodovia, obrigando seus moradores a atravessarem, pulando a mureta de divisão das pistas, e se colocando em risco diariamente. As obras de duplicação da PR-323 no trecho Maringá/Paiçandu são de quatro quilômetros e nesse momento estão sendo construídos cinco viadutos e três trincheiras, assim como um viaduto passa por alargamento. Essas melhorias são aguardadas há muito tempo pelos moradores de Paiçandu que se deslocam diariamente a Maringá para trabalhar ou estudar, porque trarão desenvolvimento para toda a região, melhorarão a situação para a indústria e para o comércio e trarão mais segurança a motoristas e pedestres, pois esse trecho da rodovia já causou muitos acidentes com vítimas fatais. Atualmente, o motorista demora em torno de 40 minutos para percorrer o trecho Paiçandu-Maringá, formando um longo congestionamento; espera-se que a duplicação reduza esse tempo para 10 minutos. No projeto, está a construção de ciclovias, passarelas e calçadas para a segurança do deslocamento dos pedestres, uma reivindicação antiga da população. O transporte público é necessário para garantir a mobilidade das pessoas, que habitam uma aglomeração urbana ou uma região metropolitana, porque é uma das condições de deslocamentos dessas pessoas. O transporte coletivo da Região Metropolitana de Maringá é integrado. Foi aprovada a integração do transporte coletivo metropolitano entre Paiçandu ou Sarandi até Maringá, objetivando a diminuição dos custos da tarifa, ou seja, os moradores desses dois municípios deverão pagar menos pela passagem. Além desses fatores, lembramos da vulnerabilidade que envolve esses deslocamentos diários, como os atrasos e a falta de conforto no ônibus, a inexistência de cintos de segurança, e situações mais graves como assaltos e acidentes. O deslocamento das pessoas tem como principais motivações o trabalho e o estudo. No entanto, percebemos o quanto essa mobilidade é decorrente da sustentabilidade do capital, ou seja, o trabalhador desloca-se para atender às exigências do mercado. Estudos realizados pelo Ipardes (2010) demonstram a situação da mobilidade urbana dos moradores de Paiçandu que saem para trabalhar ou estudar, isto é, 37,30% de seus habitantes realizam a mobilidade pendular, cujo principal destino é a cidade de Maringá.

4 Metodologia

Este trabalho foi realizado seguindo as referências bibliográficas acerca da história dos municípios envolvidos; os conteúdos foram elencados de forma crítica, dinâmica e contextualizada. Realizamos pesquisas na internet, trabalhos em grupos, ilustração com vídeos sobre a temática, produção textual seguida de debates, construção e leituras de tabelas e elaboração de questões para entrevistas. As atividades e as dinâmicas adotadas na Implementação do Projeto proporcionaram aos alunos o desenvolvimento de um pensamento mais crítico, pois estes passaram a questionar sobre a temática. Proporcionaram também a compreensão do espaço onde eles vivem e fizeram-no sentir-se parte desse espaço. Observamos que os alunos envolveram-se de maneira compromissada, participando do desenvolvimento do trabalho. Empreendemos a avaliação durante toda a implementação pedagógica, considerando a participação dos alunos, bem como seu compromisso e interesse no desenvolvimento das atividades, pesquisas, entrevistas e nas produções textuais.

5 Resultados e discussão

Apresentamos a temática aos professores, equipe pedagógica e direção do Colégio na semana pedagógica de fevereiro de 2014, e para os professores participantes do Grupo de Trabalho em Rede-GTR, e todos a apreciaram. Foi de suma importância a interação com os demais professores da rede estadual através das práticas e experiências elencadas relativas ao assunto abordado durante o desenvolvimento do curso. Destacamos que uma professora mencionou que “o tema vem ao encontro da situação que a sociedade vive, o que o torna mais atraente, despertando o interesse e a participação do aluno”. Apresentamos, a seguir, a organização e o desenvolvimento das atividades do trabalho proposto e realizado. A primeira atividade utilizada para mobilizar os alunos sobre a temática em pauta foi a elaboração de uma síntese realizada pelos alunos após assistirem ao vídeo que aborda a mobilidade sustentável urbana em Goiânia, encontrado no site: http://www.youtube.com/results?search_query=mobilidade+urbana+na+cidade +de+Goi%C3%A2nia, e a leitura do texto complementar “As formas de mobilidade em Geografia”. Para a elaboração dessa síntese, foram necessárias a análise, a interpretação e um debate com todos os alunos na sala. Trabalhamos a organização do espaço urbano de Paiçandu, e para isso sugerimos, aos alunos, uma pesquisa referente à evolução da dinâmica populacional rural/urbana do município entre as décadas de 1970 a 2000. Os alunos não tinham o compromisso de realizá-la, pois era somente uma sugestão. Surpreendentemente, grande parte dos alunos interessou-se em elaborar esse trabalho. Após essa pesquisa, os alunos constataram que a população rural de Paiçandu na década de 1970 era maior que a população urbana, porém em 2000 a população urbana era superior à população rural. Os fatores que contribuíram para esse crescimento urbano e para essa transformação no espaço urbano/rural foram analisados pelos alunos através de textos complementares e debates. Posteriormente, os alunos divididos em grupos empreenderam uma pesquisa acerca do surgimento dos primeiros loteamentos urbanos até os dias atuais do município de Paiçandu. Essa pesquisa podia ser efetuada nos órgãos públicos, nas igrejas, e com os pioneiros. Com base nessa pesquisa, construímos uma tabela, que serviu de suporte para a análise da formação urbana da cidade. Embora tenha sido uma atividade realizada e concluída, não despertou o interesse da maioria dos alunos. Elaboramos questões pertinentes à ocupação do espaço urbano de Maringá, as quais levaram os alunos a refletir sobre essa cidade. Em seguida, estes identificaram as principais rodovias que dão acesso a Maringá com o auxílio do mapa rodoviário. Salientamos que a maior dificuldade encontrada pelos alunos foi a leitura e a interpretação do mapa, pois em uma sala com 40 quarenta alunos, nem todos conseguiram observar ao mesmo tempo. Por isso, dividimos a turma em pequenos grupos para a visualização do mapa e conclusão da atividade. Por meio de um questionário elaborado pela professora, os alunos trabalharam vários conceitos importantes. À medida que as dificuldades foram surgindo, houve a necessidade de retomarmos conteúdos já trabalhados nas séries anteriores. Em seguida, realizamos a atividade com o mapa mudo da Região Metropolitana de Maringá, e os alunos identificaram os municípios que deram origem à Região Metropolitana de Maringá e criaram uma legenda. Nesse momento, foi necessária a orientação para a construção da legenda, pois identificamos a dificuldade que alguns alunos possuem na realização dessa tarefa. No decorrer do trabalho, ressaltamos que as atividades mais expressivas foram as aulas no laboratório de informática (Figura 2), onde os alunos coletaram dados sobre os principais indicadores sociais dos municípios que fazem parte da Região Metropolitana de Maringá. Orientamos os alunos a realizar o levantamento de dados por meio virtual: uso de informações disponíveis em sítios da internet, previamente selecionadas pela professora. Propomos o sítio do Ipardes, e um dos alunos observou que “não conhecia esse sítio”, tinha conhecimento somente do IBGE para fazer pesquisas. Essa atividade foi realizada pelos alunos na própria escola, porém o tempo previsto foi ultrapassado, uma vez que nem todos os computadores da sala de informática estavam funcionando. Dividimos os alunos em grupos de 10 (dez) em 10 (dez) para pesquisar os dados, enquanto isso, os demais ficavam na sala de aula realizando outras atividades. Ao final da pesquisa e após a tabulação dos dados coletados, estes puderam constatar que as características socioeconômicas resultam em espacialidades urbanas diferentes umas das outras.

Figura 2: Alunos na sala do laboratório de informática

Fonte: Acervo da autora, 2014.

Em seguida, os alunos elencaram os principais problemas urbanos de Paiçandu, suas origens e as possíveis ações que poderiam ser feitas visando à redução desses problemas. O debate em sala foi produtivo, pois percebemos o quanto os alunos estão conscientes da organização dos municípios, e observaram que muitos desses municípios que compõem a Região Metropolitana de Maringá não atendem às novas demandas da população, acentuando ainda mais os problemas urbanos. Como proposta de trabalho, os alunos entrevistaram parentes, amigos ou vizinhos sobre o movimento pendular entre Paiçandu/Maringá e sobre a utilização da rodovia PR-323 que liga os municípios a partir de algumas questões norteadoras: 1. Para onde você se desloca? 2. Que meio de transporte você utiliza? 3. Quais os principais motivos que levam você a se deslocar para Maringá ou outro município? 4. Quais os problemas enfrentados nesse deslocamento diário? 5. Quais as soluções possíveis para resolver esses problemas? 6. Quais os pontos positivos e negativos da duplicação da rodovia? As entrevistas repercutiram muito positivamente entre os alunos, pois a maioria entrevistou pessoas da própria família, e foram de suma importância para a produção textual e socialização. O principal motivo que levam as pessoas a realizar o deslocamento pendular de Paiçandu a Maringá foi o trabalho, conforme apontaram as entrevistas dos alunos. Como citou um dos entrevistados, “Paiçandu não tem muitas opções de trabalho, isso me leva a trabalhar em Maringá”. Diante desse depoimento, e considerando a necessidade de repensar os investimentos de ordem política para a transformação do espaço feito pelo homem, devem ser criadas novas alternativas para a melhoria da qualidade de vida da população da cidade.

Considerações Finais

Após a realização das pesquisas e das atividades com os alunos, observamos que o Movimento Pendular não é apenas uma realidade de nosso município, mas que muitas regiões metropolitanas comungam todos os dias desse cotidiano de ida e vinda populacional. A discussão sobre o Movimento Pendular não é nova; assim como a Geografia, outras ciências também o pesquisam. Devido ao crescimento da população urbana, vem sendo cada vez mais estudado, e esse movimento cotidiano da população entre o local em que reside e o local onde estuda ou trabalha é um importante referencial para conhecermos o processo de metropolização. A realização deste Projeto permitiu ainda conhecermos as regiões metropolitanas, sua formação, os fatores que contribuíram para a formação metropolitana e as causas econômicas, como a ação do capital imobiliário, a redistribuição espacial da população em torno da cidade polo, no caso, Maringá, bem como possibilitou aos alunos esse conhecimento. Nas entrevistas realizadas pelos alunos com seus familiares ou vizinhos, pudemos observar que o deslocamento das pessoas tem como principais motivações o trabalho e o estudo. Percebemos o quanto essa mobilidade é decorrente da sustentabilidade do capital, ou seja, o trabalhador desloca-se para atender às necessidades do mercado. Tendo como tema “o processo de movimento pendular Paiçandu/Maringá-PR, na sala de aula” os alunos puderam elaborar atividades relacionadas ao conteúdo da disciplina de Geografia, superaram o senso comum do conhecimento e compreenderam o processo de deslocamento da população associada à realidade vivenciada por eles. Notamos, com este trabalho, que Maringá é uma zona de influência, polarizando o capital e a força de trabalho, enquanto Paiçandu apresenta-se como uma cidade adjacente, reservatório de mão de obra desqualificada que busca emprego na cidade polo. Provavelmente, se as pessoas desse município de residência tivessem opção de trabalhar, estudar e morar com dignidade, o número de deslocamentos seria bem menor, ou seria realizado por outras motivações. Salientamos a necessidade de adoção de políticas públicas que orientem os gestores municipais no intuito de atender à coletividade e lutar contra as desigualdades desse ambiente urbano.

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