Nossa Senhora da Oliveira em Terras de Basto Pedro Villas Boas Tavares Nossa Senhora da Oliveira em Terras de Basto / Pedro Villas Boas Tavares 5 8 9

Nossa Senhora da Oliveira em Terras de Basto Filha de Adão e May de Deos Dos Privilégios ao Culto como vindes disfarçada, À saudosa memória de minhas primas de quintela, Aurora, Maria das Dores e Rosa Mesquita Mourão Rosa do rosal dos Ceos de entre nuvens tão rosada!

Tristão Barbosa de Carvalho

1. Há cerca de dez anos, o Senhor Dr. Adriano Vasco Rodrigues consagrou 1 Esse estudo, intitulado A Capela da Senhora da Oliveira na Gandarela e os seus retábulos maneiristas, [1987?], não foi - que saibamos à esquecida e interessantíssima capela de Nossa Senhora da Oliveira, de - publicado. 0 nosso acesso ao seu texto dactilografado deve-se à gentileza do Rev. Pároco de S. Clemente de Basto, Padre Albertino Monteiro, cujo gesto, Gandarela de Basto, um pioneiro estudo, fundamentalmente centrado nos filho de devotamento aos valores da terra, agradecemos. 0 autor confessa que foi convidado à feitura de tal «estudo monográfico» pelo Senhor Eng9 Roberto aspectos artísticos da sua arquitectura, decoração e recheio interior1. Carneiro, na altura Secretário de Estado do Ministério da Administração Interna, e a sugestão do Senhor Dr. João Pulido de Almeida, da Casa da Gandarela. Nesse estudo, o pequeno templo é descrito com minúcia, interior e então Deputado à Assembleia da República pelo Círculo de . Embora não visando fazer uma monografia sobre S. Clemente de Basto ou sobre o concelho exteriormente, e as suas formas artísticas, nomeadamente talha e imaginária, de Celorico, o Senhor Dr. Adriano Vasco Rodirgues não deixa de considerar alguns relevanrtes aspectos de enquadramento de Gandarela - a povoação onde são classificados de acordo com estilos, tipologias e possíveis influências. a capela se ergue - na geografia, na história e no vasto conjunto patrimonial formado pelas Terras de Basto. Relevam-se «o traço neoclássico» da sua fachada, contrastando, interiormente, 2 «Com características específicas comuns a muitos exemplares de pequenas dimensões das escolas de talha de província», segundo o parecer que. com a exuberância vegetalista da decoração dos seus dois altares, colunas mediante fotografias, solicitamos à Prof. Doutora Natália Marinho Ferreira Alves, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, e com amizade salomónicas, retábulos e tecto de caixotões almofadados, lembrando - na agredecemos. expressão do autor - «uma gruta silvestre que há muito houvesse morrido». Sem o brilho do ouro neste caso, são as impressões fortes de uma talha enquadrando-se efectivamente no estilo barroco, período nacional2. Valerá a pena revisitarmos, ainda que rapidamente, esta capela, sem esquecermos o seu contexto topográfico e envolvência (fotos 1, 2, 3, 4, 5, 6). Adriano Vasco Rodrigues preocupou-se, natural e logicamente, com o «esclarecimento das origens da capela», e, das pesquisas por si empreendidas, resultaram dados advenientes duma dupla documentação: da memória descritiva referente a S. Clemente de Basto, constante do Vol. Ms. ns 6, do Dicionário Geográfico de , que se guarda na Torre do Tombo (Memória 63, fls. 435 a 444), e do processo de autorização da construção da capela, constante do Igrejário do Arquivo Diocesano de Braga, conservado no respectivo Arquivo Distrital. Por essa documentação ficou-se a saber que em 1758 era administrador da capela António Luís de Barros, tendo sido todavia a sua construção requerida ao Arcebispo D. Rodrigo de Moura Teles em 4 de Março de 1714 por Gervásio Luís de Barros, morador em Gandarela, de S. Clemente, que obteve despacho final de autorização apenas em 26 de Junho de 1717, com a cláusula de a porta principal ficar, - como ficaria, até hoje franqueada aos crentes. Mais somos informados que este pedido para se levantar uma capela «perto das casas donde viviam, no dito lugar da Gandarela, com huma imagem de Nossa Senhora da Oliveira», fora feito por determinação verbal do pai do requerente, «estando em perfeito juízo, alguns dias antes da sua morte, em presença do seu pároco, Reverendo Manuel Marinho, e de Matias Luís de Barros, também filho do dito defunto», para cuja fábrica e para que nessa capela lhe mandassem dizer três missas anuais (pelas festas do Natal, Páscoa e Espírito Santo), deixara reserva de alguns bens. Um dos dados mais importantes do estudo a que nos temos reportado consiste em evidenciar, com base numa inscrição no frontal do altar lateral, de Cristo Crucificado, que aquele trabalho de talha foi realizado pelo próprio irmão 2e Congresso Histórico de Guimarães / D. Afonso Henriques e a sua Época 5 9 0

3 Por diligência do ex-presidenle da Câmara, Senhor João Pulido de Almeida, esta casa, que se encontrava em grande degradação, foi restaurada, e nela funciona hoje, entre outros serviços públicos, o Centro de Saúde da Gandarela. Foi última residente nesta casa, na condição de arrendatária, mas representando a família secularmente ligada à Venda, a Senhora Dona Álda de Fátima de Carvalho Valle e Vasconcelos, filha da Senhora D. Maria Umbelina e do Dr. Manuel Justino de Carvalho Pinto Coelho Valle e Vasconcelos, médico, que foi Deputado pelo Círculo de Braga. Em 11/6/1878 entrou na administração desta casa o Padre Manuel Justino de Carvalho Valle e Vasconcelos, por acordo de permuta do usufruto vitalício da «casa e horta chamada da Estalagem», na Gandarela, sua propriedade, com Miguel Júlio de Carvalho Valle e Vasconcelos e sua mulher D. Joaquina Teixeira da Silva, pacíficos possuidores que eram de parte do usufruto vitalício «da casa e horta chamada da Venda». Estes Carvalhos Valles, de que existem três casas armoriadas em Cavez (Ponte, Souto e Igreja), entroncavam na progénie de Domingos Carvalho dos Santos, que foi feito Moço da Câmara de D. Afonso F o t. 1 Gandarela: visla de conjunto da povoação F o t. 2 Casa da Venda e Capela de N.8 Sr.8 da Oliveira VI pelos bons serviços prestados na guerra da Restauração; seu bisneto, Sebastião Carvalho dos Santos, recebeu Carta de Brasão de Armas passada a 26 de Agosto de 1750, e seu outro descendente, Lourenço Tomás Ferreira de do impetrante da licença de construção da capela, Matias Luís de Barros, como Carvalho, obteve de D. Maria I Carta de Brasão de Armas dos mesmos apelidos de Carvalhos e Valles, reg8 em 20/8/1786 no Ls 3?, fl. 233 v5, do trabalho de um amador, feito «por devoção», pois, nesse frontal, com efeito, se Registo dos Brasões e Armas da Nobreza. Por sentença de formal de partilhas do Juízo de Direito da Comarca de , de 23 de Junho de pode ler: Marias Luis de Barros este altar fez por devosam e toda a folhagem de 1882, extraída do inventário por falecimento de seus pais, Augusto César de Carvalho Valle e Vasconcelos e D. Maria da Purificação Pinto Coelho e armasam, sem aprender nem tomar lisão. Todavia, nesse estudo, lamenta-se Castro, residentes na Casa do Souto, da Freguesia de Cavez, esta propriedade passou a Manuel Justino de Carvalho Valle e Vasconcelos. Com efeito, a casa Adriano Vasco Rodrigues de nem na capela nem na igreja paroquial haver e a capela vêm mencionadas numa certidão narrativa da Conservatória do qualquer texto referente à erecção da mesma e à família instituidora, dizendo Registo Predial de Celorico de Basto de 4 de Outubro de 1919, onde constam as hipotecas que oneravam os prédios possuídos pelo Dr. Manuel Justino de mesmo: «hoje, em Gandarela perdeu-se a memória daquela família». Carvalho Valle e Vasconcelos, falecido nesse ano, e por sua mulher, D. Maria Umbelina. Em 4/9/1933, a Senhora D. Umbelina, viúva, e seus filhos D. Alda Ora acontece que a Casa da Venda, a que estava ligada a capela, só foi de Fátima e Augusto César de Carvalho Valle e Vasconcelos, solteiros, celebraram contrato de arrendamento relativamente à parte da Casa da Venda alienada recentemente, tendo sido habitada, quase até aos dias de hoje, por que habitavam com o Dr. Bernardo Pacheco Pereira Leite e mulher, Dona Sofia da Glória Soares de Moura Pereira Leite. 0 Senhor Dr. Manuel Joaquim pessoas da família3; de resto, na simpática casa fronteira, hoje servindo de sede Pacheco de Magalhães e Almeida Peixoto Soares de Moura Pereira Leile, da Casa do Forno, recentemente falecido, foi o último proprietário desta casa. No à Cruz Vermelha, residiu, durante duas décadas e até há pouco, uma prezada tempo do seu pai, o Senhor José Maria Pacheco Soares de Moura Pereira Leite, a capela foi entregue à Paróquia de S. Clemente, e desde então, tem-se família da terra - a família Mesquita, da Casa de Quintela -, descendência do revitalizado uma sua utilização litúrgica regular, sendo de realçar, - consentâneos com as grandiosas e concorridas festas populares aqui instituidor da capela4; também a Casa da Arosa5, realizadas no 2? Domingo de Agosto em honra de Nossa Senhora da Oliveira -, os cuidados ultimamente havidos na sua conservação e dignificação da respectiva envolvência. No passado, merece ainda referência o empenho que o Senhor Jerónimo Pacheco de Campos Pereira Leite, filho do novo proprietário da Casa da Gandarela, Dr. Jerónimo Augusto Pacheco Pereire Leite, da Casa do Casal de Alvite, Cabeceiras de Basto, e de sua mulher D. Maria Catarina Lopes de Campos, da Casa de Espessande, Paredes, colocou na realização destas festas. 4 Gervásio Luís de Barros, o impetrante da licença de construção da capela, casou com Mariana de Mesquita e Magalhães, de Quintela (do Casal da Aldeia de Baixo, como então se designava a futura Casa de Quintela, dos de Baixo), filha de José de Mesquita e Magalhães, da Quinta da Lama, e de Isabel Gonçalves, de Quintela. Mariana de Mesquita e Magalhães era irmã de António de Mesquita e Magalhães, que «morador na sua Quinta de Quintela», fez testamento a 18/4/1744. Mariana Mesquita de Magalhães foi trisavó de Rosa Ricardina Tavares da Veiga Falcão, da Casa da Ponte de Petimão, c. c. o Dr. José Meirelles Leite, da Casa da Ramada do Arco (cf. Apêndice). Dos seus filhos (José Justino, António Manuel, Maria Leonor, Joana Júlia, Maria Isabel, Isabel Maria, João, Ana Emília e Manuel Baltasar), Ana Emília casou para a Casa de Quintela com o Dr. António Ferreira de Mesquita, e Joana Júlia casou na Igreja Paroquial de S. Clemente de Basto com o Dr. José Teixeira da Costa e Sousa (1847-1888), da Casa do Souto de Baixo, St8 Marinha da Pedreira, , pai do meu avô paterno Dr. Abel Teixeira da Costa Tavares (6/1/1881-31/1/1973). 5 Custódio de Mesquita Magalhães, nascido em 20/9/1752, filho de António Luís de Barros Mesquita e Magalhães e Isabel Luísa Marinho Alvares, era genro de David de Oliveira Ribeiro de Moura e D. Antónia Quitéria Alvares de Araújo Magalhães, da Casa da Arosa, pais do Dr. Custódio António de Moura Alvares de Magalhães Machado, que foi juiz de fora na vida de Azurara da Beira e ouvidor da comarca de Linhares e lhes sucedeu na casa. Custódio de Mesquita Magalhães, além de cunhado, era compadre de José David, irmão do Dr. Custódio. Como se vê do Livro de Rezam do primeiro, e do testamento deste último, várias vezes o Dr. Custódio pagou dívidas e obras feitas na Venda, por causa dos seus sobrinhos dessa casa. 0 Dr. Custódio Nossa Senhora da Oliveira em Terras de Basto / Pedro Villas Boas Tavares 591

obteve Carta de Brasão passada a 7/11/1782. Morreu sem geração, tendo casado com D. Maria Rita de Macedo, da Casa de Macedo, St3 Maria de Galegos. Dois tios de sua mulher, Francisco Luís de Macedo e Manuel José de Macedo, foram abades de S. Clemente. Este magistrado desenvolveu importante acção no norte do país, na resistência anti-napoleónica. Era neto, pela parte paterna, de João Ribeiro de Oliveira e de D. Sabina de Moura: e pela materna, de António Machado e de sua mulher D. Teresa Maria Álvares de Araújo Magalhães: bisneto de Francisco Álvares de Araújo e de sua mulher D. Benta de Macedo; terceiro neto de outro Francisco Álvares de Araújo, capitão- mor da vila e concelho, e de sua mulher, D. Maria de Magalhães (cf. BAENA, Visconde de Sanches de - Arquivo Heraldico-Genealogico, bc3 1872, n9 512, p. 131). O Dr. Custódio era particularmente amigo de seu primo Francisco de Magalhães de Araújo Pimentel, da Casa da Gandarela (cf. nota 36). Sucederam-lhe na Casa da Arosa seu sobrinho Manuel Alves Pereira de Magalhães e Moura, Senhor da Casa de Carcavelos - St3 Senhorinha de Basto, e o filho deste, José Alves Pereira de Magalhães e Moura. José Alves Pereira Fot. 3 Fachada da entrada principal da Capela de N.3 Sr.3 da Oliveira F o t. 4 Capela de N.3 Sr.3 da Oliveira: de Magalhães e Moura c.c. Ana Emília da Cunha Mourão de Carvalho Sotto- frontal do altar lateral, perpetuando o nome do seu artiííce Mayor, da Casa da Granja de Ribas. Tiveram: António e Francisco, que morreram solteiros, tendo este último sido Senhor da Casa do Muro - Ourilhe; à saída da povoação, na estrada par a sede da freguesia, bem como as Leonila, que casou na Casa dos Caselhos com Francisco Marinho de Barros; Rosa Amélia que casou com António Machado, Senhor da Casa da Ribeira, de Casas da Ponte de Petimão e de Figueiredo de Ribas se ligaram familiarmente Santiago da Faia; Guilhermina Júlia, que casou para a casa de Quintela com António Augusto Mesquita Meireles, filho do Dr. António Ferreira de Mesquita e à Casa da Venda6, pelo que, munido de outras informações, talvez tivesse de Ana Emília de Meireles Leite Tavares da Veiga Falcão; Maria Filomena, que, viúva e sem filhos, vendeu as suas propriedades, tendo ficado reservatária da podido o autor ir mais longe nas suas inferências. Casa da Arosa. É actual proprietário da Casa da Arosa o Senhor Dr. Avelino Pulido de Almeida. Assim, - é um mero exemplo -, numa minuta de consulta jurídica feita por 6 De Gervásio Luís de Barros e Mariana de Mesquita e Magalhães nasceu António Luís de Barros Mesquita e Magalhães, casado com Isabel Luísa Gervásio Luís de Barros ao Dr. Gervásio Falcão, sobre condições de dote e Marinho Álvares, filha de Domingos Marinho Álvares, de Cabanelas d’Além - St3 Maria da Borba da Montanha, e de sua mulher Benta Machada, de Santa reserva, posterior à morte de seu irmão Matias Luís de Barros7, falecido em Cristina, hoje S. Gonçalo da Ribeira. Uma irmã deste António Luís, Maria Luísa Mesquita e Magalhães, casou-se aos 29/12/1727, na Igreja de S. Clemente, 1738, temos a confirmação do decisivo papel deste último, como «"operário- com Manuel Ribeiro Tavares Falcão, da Casa da Ponte de Petimão, filho de artista”», na construção da Capela de Nâ Senhora da Oliveira. A obra exigiu o Pedro Ribeiro Falcão, dessa casa, e de sua mulher D. Filipa Tavares, da Casa da Breia de Baixo ou da Fonte da Breia, da freguesia de S. Nicolau de empenhamento dos dois irmãos: «montaria a despeza de parede e madeiras, Cabeceiras de Basto. Recorde-se, de passagem, que esta senhora era filha de Baitasar Tavares, Vedor-Geral do Exército na Província do Minho, militar pelos ferraiges e ornamentos, o tudo, pouco mais ou menos, coatrosentos e tantos seus relevantes serviços em campanha louvado e promovido por D. Pedro II, e de sua mulher Joana de Murça; D. Filipa foi baptizada a 26/1/1676 em mil réis; isto fis dipois de viubo, e meu irmão ajudou com o seu corpo». Mas S. Nicolau pelo Vigário de Painzela Dâmaso Marques, sendo padrinhos o Lic9 Miguel Ferreira Felgueira, do lugar de Baloutas, e Maria de Murça, mulher de depois de desaparecidos estes, com dívidas, ainda discutiram os herdeiros se João de Guimarães, do lugar da Breia. 0 filho de António Luís de Barros Mesquita e Magalhães e Isabel Luísa Marinho Álvares, Custódio de Mesquita e o custo da capela deveria vir a partilhas8. Magalhães, sucedeu-lhes na posse da casa e capela (v id e apêndice, I). 7 Gervásio Luís queria saber o que era seu, para saber o que havia de dotar e reservar. Então rememora: «Coando meu pai me dotou os seus bens moveis e de rais, por morte de minha mãy. rezerbou para dar a quem quizese, por sua morte, trezentos mi! rs. em dinheiro e em medidas pouco mais ou menos; ele dise, por sua morte, que me deixava a dita reserva e lhe fizese huã capella para a himagem e embocação de nosa Senhora da oliveira; e tinha dito, por palabra, que lhe dissera hum pedreiro que custaria a parede dees mil rs.; porem o suplicante depois de thirar a lisença, como delia se ve juntamente, a capella, não falando na obrigafção] da fabrica e tres missas que o meu pai deixou, montariya a despeza de parede e madeiras, íerraiges e ornamentos, o tudo, pouco mais ou menos, coatrosentos e tantos mil rs.; isto íis dipois de viubo, e o meu irmão ajudou com o seu corpo, liem ficarão me 3 filhos de minha mulher que per folha de emventariyo lhe cavia pouco mais ou menos a cada hum - 250 000 - mil rs. - e falleseo hum. Preguntasse se nesta despeza da Capella entrão em alguã os ditos filhos. Item Respondeo o d.or gervazio falcão que na despeza da Capella entravão a rezerva que meu pai deixou e dipois a mais despeza do meu terso» - Fundo da Casa da Venda de Gandarela (= FCV), Menuta de condisois de dote e rezerva, (fl. solta de papel, doc. não datado, ms. do autor tal como os subsequentemente citados). 8 Sobre este ponto registam-se opiniões diferentes nas minutas sobre a maneira como se deveria fazer inventário por morte de Gervásio Luís de Barros. Um dos pareceres diz: «Pareceme que o custo da capela não deve vir a partillha, assim por ser feita por recomendação do pay do defunto, como porque não augmenta a herança; deve porem carregarse em o primeiro tt9 a propriedade hipotecada para a fabrica de que o filho [António Luís) é administrador, e se lhe deve carregar na parte do 39»; outro parecer, subscrito por António de Sousa Pereira, datado do Porto, de 20 de Março de 1758, escudando-se em aspectos formais, sustenta o contrário: «Como se não mostra tt9 ou disposição de Domingos Luis por que conste deixara vínculo, ou capella, e bens anexados a ella, sou de parecer que o custo da capella e ornatos delia deve tudo vir a collação pelo valor que tiver quando faleceo Gervásio Luis; "P Congresso Histórico de Guimarães / D. Afonso Henriques e a sua Época 5 9 2

A falta de ouro da talha traduz as dificuldades da família em honrar um compromisso, assumido em Julho de 1710, junto do leito mortal de Domingos Luís de Barros, por seus filhos Gervásio9 e Matias. Apesar do valor das suas propriedades, a Casa da Venda cedo se viu em apuros financeiros, de que então foi sabendo sair pela coesão dos laços familiares e por oportunos apoios vindos do Brasil10. Os arquivos de família continuam a ser uma importante e inexplorada fonte de informação, e, neste particular, quis o acaso que, tendo chegado à nossa mão, por via familiar, uma boa parte da documentação manuscrita da Casa da Venda, nos sentíssemos na obrigação de dar algumas achegas e responder a algumas interrogações suscitadas pelo referido trabalho, cujo mérito será sempre de sublinhar. O contexto familiar era ainda importante para responder a uma pergunta implícita e imediata, que afinal não foi formulada: porquê a erecção de uma capela da Senhora da Oliveira, e não sob uma outra qualquer invocação mariana? Estamos em condições de responder: é que os moradores do Casal do Outeiro, «por outro nome da Venda», como foreiros da Colegiada de Guimarães, eram detentores, face ao poder local e central, dos importantes privilégios das Tábuas Vermelhas de Nossa Senhora da Oliveira. A construção da capela fc. A . 1 - - r _ _ i 1 _ »■ --- - representa, regionalmente, um claro significado devocional, convergindo com a F o t. 5 - Capela de N.s Sr.J da Oliveira: * Senhor dos Allitos “ do aliar lateral popularidade de uma invocação, de uma imagem e de um santuário porque os pais não podem prejudicar aos filhos com obras nem legados pios. prestigioso, movimentando, como movimentava o santuário vimaranense, largas e não basta a certidão do Parocho para prova de que Domingos Luis mandara fazer a cappela, nem este preceito obrigava ao filho, não lhe deixando bens romagens. Todavia, o reconhecimento à virgem pela sua intercessão, unia-se alem da legitima». Apesar de benfeitoria que tinha «despeza e não rendimento», o mesmo parecer sustentava Manuel Fernandes Nunes (Porto, neste caso, familiarmente, para além de outros benefícios, de ordem espiritual e 20/5/1758), com outro argumento: «deve vir á collação a bemfeitoria da material, à recordação de importantes mercês, usufruídas na ordem jurídica ao capella porque com ella se augmentou o valor da mesma quinta». A filha e seu irmão, cabeça de casal, deveriam partilhar «os funerais e mais dividas» longo do tempo, pela ligação daquele casal à Igreja da Senhora da Oliveira. então existentes, proportione haereditaria. A situação de partilhas só ficou plenamente resolvida com um contrato de transasam amigavel celebrado a Obra de devoção, gesto - certamente - de reconhecimento, o prestigiante acto 12/5/1767 entre os dois casais da Ponte e da Venda, uma vez que Manuel Tavares Falcão se achava «em termos de obrigar ao dito seu cunhado pello de construção da capela, permitia ainda reforçar a visibilidade dessa ligação à que lhe pertencia da sua caza da legitima de sua mulher». Essa situação resultava das seguintes premissas: dotara Gervásio Luís a sua filha, por Colegiada de Guimarães, da qual dimanavam afinal invejados privilégios. escritura, 500.000 ré is , «coando a cazou com m.el Tabares falcão»; essa soma resultava de 300.000 que «lhe couverão por herança de su may», e de 2. Nunca será demais lembrar que, nomeadamente em matéria fiscal, a 200.000 «que lhe levaria em conta na legitima que lhe couvece por falecimento do dotador seu pai»; fez o dotador segunda «escritura de dote» a sociedade de antigo regime desenvolveu uma cultura do privilégio análoga e seu filho António Lufs: dotou-lhe, com obrigação, todos os seus bens móveis e de raiz, «com reserba da metade, com obrigação de lhe pagar suas dividas, em certos aspectos predecessora da nossa lógica contemporânea das em que a maior parte delias herão porcedidas do defunto seu irmão». Trouxe a esposada de António Luís, Isabel Luísa Marinho Alvares, em dinheiro, -para liberdades11. A documentação que compulsamos e aquela que aqui emtrada do cazal», 500.000 réis», bens de raiz e enxoval (FCV, Menutasa respeito de se lazer emventario, caderno de fls. Inum.). apresentamos mostra-nos justamente uma família e uma comunidade rural - em 9 Deve ver-se este nome Gervásio e as várias Senhorinhas desta família (cf. apêndice), nomes então frequentes na região, como uma devota homenagem à Gandarela de Basto - agarrando-se avaramente, ao longo do tempo, a uma santa beneditina e ao seu consanguíneo S. Gervásio, tumulados na vizinha Igreja de Santa Senhorinha de Basto, na bela capela em 1634 mandada fazer memória justificativa de liberdades próprias - izenções e privilégios -, que na por Francisco Ribeiro do Canto, natural da freguesia. Esperando descendência, parece que era nesses tempos frequente a decisão dos pais em sua permanente tendência racionalizadora, tanto os agentes do poder local matéria de onomástica: «Se for menina... Senhorinha, se for rapaz... Gervaz». Infelizmente mudou o critério e o gosto e. também em matéria de como do central propendiam a fazer obliterar. nomes, «pelos santos novos se esquecem os velhos»... Devoção de família, Desde os alvores da nacionalidade que a Colegiada de Guimarães, erigida na capela da Casa de Quintela, em S. Clemente de Basto, havia uma interessante imagem de vestir de Santa Senhorinha, de cerca de 25 cm de sobre as cinzas do anterior mosteiro duplex, fundado e dotado pela Condessa altura, com anacrónicos folhos e rendas, como se de uma abadessa beneditina rica do século XVIII se tratasse. 10 Mariana de Mesquita Magalhães, mulher de Gervásio Luís, teve pelo Nossa Senhora da Oliveira em Terras de Basto / Pedro Villas Boas Tavares 5 9 3

Mumadona, concitou a protecção especial dos primeiros monarcas portugueses, sendo certo que D. Afonso Henriques foi padroeiro, protector e benfeitor desta igreja12. Os êxitos militares do fundador cedo foram associados à particular e providencial protecção de Santa Maria de Guimarães ao rei e ao reino13, sendo nesse contexto fácil de entender a especial devoção e protecção dos monarcas portugueses a esta igreja, particularmente daqueles que foram inanguradores de uma nova dinastia. O Padre Carvalho da Costa invoca uma Carta de D. Afonso II, no seu entender demonstrativa de que os privilégios concedidos ao corpo canonical, aos seus servidores e caseiros, remontava já ao pai e avô deste monarca14. O mesmo fizera o Padre Torquato Peixoto d'Azevedo, que escreveu: «Foi tão grande a devoção que teve o conde D. Henrique à Virgem Santa Maria, e o seu filho el-rei D. Affonso Henriques, que ainda hoje o estão manifestando os muito privilégios, isempções e liberdades que concederam a esta sua igreja, com que privilegiaram seus priores e todos os servidores delia, como consta de um que diz: - Que todos os caseiros de Santa Maria de Guimarães, e os criados de seus priores, e conegos, e todos os mais servidores de sua igreja fossem isemptos e libertados de hirem à guerra e não possam a isso ser obrigados, nem para ella pagar tributo algum, e não possam ser constrangidos para nenhum encargo contra sua vontade»15. Em Fot. 6 - Capela de N.' Senhora da Oliveira: imagem da Senhora no retábulo do altar-mor. apêndice (II, 2) apresentamos justamente o treslado de uma provisão régia de menos dois irmãos no Brasil: Lourenço e José de Mesquita Magalhães: este 1663 que, entre outras coisas, nos mostra que, quando não convenientemente último teve no Brasil os seguintes filhos: Agostinho, o mais velho, Manuel, Ana Maria, Domingos, Miguel. Mas Isabel Luísa Marinha Alvares, mulher de seu respeitados estes privilégios pelos «oficiais» da guerra, justiça ou fazenda, os filho António Luís, teve também no Pernambuco irmãos: o Cónego Lic9 Manuel Machado, que por morte deixou considerável fortuna, António, e Domingos seus usufrutuários não hesitavam em invocar - com êxito -, uma sua vigência Marinho, que morreu pobre no sertão. Sabemos, da análise de algumas Cartas do Brasil do FCV, que o cónego deixou, por morte, bens móveis e de raiz continuada «desde o Senhor Rei Dom Afonso Henriques». avaliados em perto de dois contos e meio, ficando líquida, para seus pais, a quantia de 1.982.234 réis, que o R e/ Vigário Dr. Félix Machado se Dada a conhecida e natural proliferação dos servidores, caseiros e foreiros encarregaria de remeter de Pernambuco para Portugal, em nome de seu «Primo e Senhor, Domingos Marinho Áivares». da colegiada abrangidos por este tipo tão lato de privilégios, D. Afonso V curou 11 Cf. v.g. MARAVALL, José António - Estado Moderno y mentalidade social. Madrid, 1972, t. II, pp. 422-423 e 433-434. de mandar inquirir quais e quantos caseiros e servidores tinha efectivamente 12 Cf. OLIVEIRA, Manuel Alves de - História da Real Colegiada de Guimarães. Guimarães, 1978, pp. 42-73 e a bibliografia aí aduzida, nomeadamente: esta igreja, e a esses e a mais onze casais - que «por não serem libertados CUNHA, D. Rodrigo da - História Eclesiástica dos Arcebispos de Braga. 2* parte, Braga, 1635, pp. 27-28 e SANTA MARIA, D. Nicolau de - Crónica da estavam em parte despovoados», aos quais aprouve ao monarca «fazer Ordem dos Conegos Regrantes. Lisboa, 1668,1' parte, pp. 254-256. De uma larga bibliografia sobre a antiga Guimarães e a relação do mosteiro, depois esmola a Nossa Senhora» - confirmou então os respectivos privilégios, ficando colegiada, com o seu meio. o desenvolvimento urbano circundante e a história pátria, lembramos o incontornável COSTA, Padre António Carvalho da - esta relação e confirmações a constar de um livro próprio, com folhas de Corografia Portuguesa. 1.1, Braga, 1868, particularmente pp. 5-9 e 15-18 (1* pergaminho e cobertas de couro vermelho, guardado no arquivo da colegiada, ed„ Lisboa, 1706): CRAESBEECK, Francisco Xavier da Serra - M emórias ressuscitadas da Província de Entre Douro e Minho (1726), 1.1, Ponte de Lima. e de uma correspondente lista ou tábua guardada na câmara da vila16. Ficaram 1992, pp. 65-85; e uma esquecida e relevantíssima obra focalizada nos aspectos de higiene e assistência social: PINA, Luís de - Vimaranes, Porto, estes beneficiários a partir de então a ser designados como privilegiados das 1929, particularmente pp. 113-161. No nosso texto, mais do que uma vez, remeteremos para um imprescindível autor: AZEVEDO, Padre Torquato Peixoto tábuas vermelhas. de - Memórias Resuscitadas da Antiga Guimarães. Porto, 1845, compostas pelo sacerdote vimaranense em 1692. Sucessivamente confirmados, nomeadamente por D. Manuel e D. João III, 13 S. TOMÁS, Frei Leão de - Benedictina Lusitana, t. II, Coimbra, 1651, pp. 169-170. estes privilégios foram ainda ampliados por D. João V. Este monarca, por alvará 14 Corografia, Cap. XII, ed. cit., p. 39. 15 M emórias cit. (=MRAG), p. 230. de 4 de Março de 1707, confirma a insenção dos privilegiados em «todos os 16 MRAG. p. 232. Segundo este autor iicam em 366 os casais privilegiados. trebutos solitos e insolitos», neles compreendendo o pagamento da décima, 2® Congresso Histórico de Guimarães / D. Afonso Henriques e a sua Epoca 5 9 4

não só a respeito das fazendas que fossem «foreiras aquella Igreja», mas 17 Tranquilizando os beneficiários quanto ao alcance do seu privilégio, um parecer jurídico assinado, datado de Ribas de 5/1/1708 explicava: «Vendo o também de todas as mais «que por qualquer titolo» fossem «próprias dos ditos Alvará que sua Magestade foi serviço mandar passar pello qual avia por exemptos de todos os tributos os priviligiados de N. Senhora da Oliveira, e prevellegiados»17. Ainda assim, para evitar abusos, se explicava que os não só os avia por exemptos a respeito das fazendas que fossem foreiras a collegiada da mesma Senhora, mas inda de todas as mais que os ditos contemplados seriam apenas aqueles que entravam «no numero declarado na cazeiros possuíssem por quoalquer tftulo que por elles fossem possuídas: e como este privillegio seja pessoal, por essa rezaão he que sua Magestade Carta do Senhor Rey Dom Afonço ho quinto, pois asim como he[ra] justo que mandou que os ditos privilligiados fossem exemptos de todos e quaisquer tributos: e não só se intende nos que de prezente se lanso neste Reyno, mas estes privillegios se goard[ass]em he[ra] também rezão que estes privilégios se inda de alguns anovados que acresão, pellas palavras do mesmo Alvara onde declara so lilu s e insolitus, id est, os que de presente se costumão lansar e se não augment[ass]em em tanto prejuízo publico»18. poderão vir a lansar; porem só devem gozar do dito privilegio aquelles cazeiros que (orem dos do numero [das tábuas vermelhas] e não os mais, ida Em 20 de Setembro de 1768, D. José, num contexto de reformismo e est. que tenhão privilegio des do número, que os mais não podem usar do dito privillegio: e como peita graça qu'el Rey fes os ditos privilligiados he racionalização administrativa, ponderando justamente o «prejuízo da causa certo se lhe não podem lansar tributo algum, porquanto he geral a respeito delles, e lansandosselhe, ficarão os lansadores incorrendo nas penas dos pública», há-de anular esse alvará de 4 de março de 1707, promulgado contava incoitos. He na forma que se deve intender, como assim a respeito das mesmas penas o trata a ordenação, supposto se não declare no mesmo seu pai «pouco mais de dezesete annos de idade e menos de tres mezes de Alvara» - FCV, Menuta a respeito dos prevelegios (fl. solta, pontuação e governo», por o considerar «vicioso na origem», «obrepticio e subrepticio» e itálico nosso). 18 FCV, Certidão em pública-forma com o teor da referida provisão, passada «intolerável nos effeitos produzidos». Nos termos do novo alvará, no que tocava por despacho do Lic® João da Rocha Dantas, vereador e juiz em Guimarães, a requerimento de Domingos Lufs, «morador no seu casal do outeiro e venda», ao privilégio da isenção da décima e de outros tributos sólitos e insólitos, em Gandarela de Basto, «encabeçado» nos privilégios das tábuas vermelhas de Ns S* da Oliveira. As propriedades que figuravam no rol das que se somente ficavam isentos deles os colonos que vivessem «nos Casaes da encontravam inscritas no célebre Livro das Tábuas Vermelhas da Colegiada, eram naturalmente apetecidas e disputadas, dada a panóplia de imunidades e mesma Igreja de Nossa Senhora da Oliveira e as fazendas enfyteuticas delia», regalias que esse facto conferia aos seus possuidores. D. João V confirmou e explicitou práticas anteriores, oferecendo embora mais largo alcance prático devendo os referidos privilegiados pagar «sem reserva alguma» a décima e os em matéria de isenção de tributação sobre os bens; vemo-lo no exemplo anterior e em exemplos posteriormente aduzidos: isenção do recrutamento mais tributos referidos, relativamente a outros bens que possuíssem. No entanto, militar, do pagamento de contribuições, mesmo respeitantes a outras propriedades (nomeadamente a décima e quatro e meio por cento usuais), e ao mesmo tempo, ficavam por D. José confirmados os privilégios constantes redução de 75% no pagamento de sizas, dispensa de aboletamento de tropas, e outros serviços públicos considerados vexatórios e colidindo com a posse dos alvarás anteriores, dos seus antecessores, sempre com a cláusula de que do privilégio. Sobre esta matéria e para este período cf. CAMPO BELO, Conde de - A propósito de um casal em terras de Gaia, Privilegiado das «Tábuas deles apenas gozariam «os privilegiados comprehendidos em o número Vermelhas», Actas do Congresso Histórico de Guimarães e sua Colegiada, V. II, Guimarães, 1981, (=ACHG), pp. 165-170. declarado na Carta do Senhor Rei Dom Afonso V»19. 19 Cf. Collecção da Legislação Portugueza (1763-1774), org. pelo Desembargador António Delgado da Silva, Lisboa, 1829, pp. 362-365. Neste Pela exemplaridade da sua particular devoção20, pelo impulso de generosas alvará, para contentar a colegiada, da qual era Dom Prior Paulo de Carvalho e Mendonça, irmão de Sebastião José, para a «beneficiar» dando «maior valor doações e concessões21, o rei da Boa Memória, peregrino de Santa Maria de aos seus Casaes, e fazendo nelles mais frequentes e uteis os Laudemios», D. José determinava que das vendas dos ditos casais e mais bens que lhe eram Oliveira22, está especialmente ligado à vigência destes privilégios23. De resto, a foreiras, se não pagaria doravante siza alguma, singela ou dobrada; partir do estudo dos respectivos livros dos testamentos, foi já suficientemente determinava outrossim que nas cartas e requerimentos dirigidos ao cabido lhe fosse dado o tratamento de Senhoria. relevado que a constituição do património da colegiada está ligada à expansão 20 Cf. BRITO, Lufs Filipe Aviz de - 0 Frontão da Colegiada como significativa memória da Pátria consolidada, ACHG, p. 347 e bibliografia aduzida. do culto de Nossa Senhora da Oliveira, fortemente incrementado após a batalha 21 Cf. CARVALHO, A.L. de - Guimarães de tempos idos, Guimarães, 1947, pp. 25-35 de Aljubarrota24. 22 Cf. LOPES, Fernão - Crónica de D. João I, Vol. II. Cap. 61, Civilização ed pp. 161-162. É curioso notar que tanto o Padre Torquato de Azevedo como o texto de um 23 Cf. AZEVEDO, Padre Torquato Peixoto de - MRAG, pp. 234-237. 24 MARQUES, José - Património e rendas da Colegiada de Guimarães em dos documentos apresentados em apêndice (II, 2) parecem sublinhar uma 1442, ACHG, p. 215; sobre a importância da colegiada como centro de convergência de peregrinações, debaixo da protecção régia, cf. IDEM, ibid.,4 relação de conveniência entre a vigência destes privilégios e o incremento do Colegiada de Guimarães no priorado de D. Alonso Gomes de Lemos (1449- 1487), p. 241 e passim. Apesar dos bens que possuía sob foro, segundo povoamento local. A colegiada tinha propriedades em S. Nicolau de OLIVEIRA, Aurélio - Rendas e arrendamentos da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira de Guimarães (1684-1731), ACHG, pp. 115-121, esta instituição Cabeceiras, S. Senhorinha, S. Clemente de Basto e Celorico25. Da colegiada era vivia na dependência da arrecadação dizimeira, constituindo os dízimos cerca de 90% das suas rendas totais. também o couto de Codeçoso, «demarcado sobre si e previlegiado das taboas 25 Cf. MARQUES, José - Património e rendas..., pp. 216-217. 26 CRAESBEECK, Francisco Xavier da Serra - Memórias... cit., I. II, p. 208. vermelhas de Nossa Senhora da Oliveira», situado «dentro do destrito da villa 27 Cf. SERRÃ0, Joaquim Veríssimo - História de Portugal, Vol. II, ed. Verbo, de Basto, para a parte do Nacente, em terras muito asperas e montuozas»26. 1979, p. 250. E de recordar que no séc. XV Basto era uma região tão escassamente povoada que, em 1441, Celorico foi declarado couto para 30 homiziados com os mesmos direitos atribuídos ao coutro de Sabugal27. Assim sendo, no que toca a esta Nossa Senhora da Oliveira em Terras de Basto / Pedro Villas Boas Tavares 5 9 5

Fot.7’ Marco da Lama: o cruzamento da estrada velha e da estrada “nova”, hoje. F o t. 7 - Marco da Lama: um marco-limite da Comenda de S. Salvador de Ribas (Ordem de Cristo). região, parece legítimo pensar que, embora a bem dos rendimentos canonicais, 28 Aquelas contavam respectivamente 148 e 131 fogos; Santo André de Codeçoso. 30; Santa Maria de Moreira do Castelo, 35; S. Pedro de o atractivo dos privilégios das tábuas vermelhas aqui concedidos tenha Britelo, 52; Santa Maria de Canedo, 81; S. Romão do Corgo, 48; Santa Maria de Veade, 74; Santiago de Gagos, 13; Santo André de Molares, 42; Santiago de efectivamente constituído - não um acaso - mas um pensado mecanismo de Ourilhe, 31; S. Miguel de Caçarilhe, 39; S. Miguel de Gémeos, 33; S. Salvador de Infesta, 30; Santa Tecla, 27; S. Miguel de Carvalho, 70; S. Martinho de Vale travão à desertificação humana, beneficiando uma região demograficamente de Bouro, 66; S. Salvador de Ribas, 96; S. Bartolomeu do Rego, 57; Santo Estevão de Regadas. 36; S. Martinho de Seidões, 30; Santa Marinha de deprimida. Ardegâo, 16; Santa Eulália de Arnozela, 18; S. Salvador de Fervença, 70; S. Maria de Borba da Montanha, 87; Santa Eufémia de Agilde, 58; Santa Leocádia Em 1527, S. Clemente de Basto - «S. Crymente de Guamdarela» - uma das de Macieira, 48; S. Miguel de Borba de Godim, 53; S. João de Gatão, 56; S. Salvador de Vila Garcia, 31. Segundo o cadastro a que nos temos reportado, mais extensas freguesias do Minho, apesar de já então, populacionalmente, ser ordenado por D. João III, publicado por FREIRE, A. Braamcamp - Povoação de Entre Doiro e Minho no XVII século, -Archivo Historico Portuguez», Lisboa, a mais importante do concelho de Celorico, seguida das freguesias de Santo Vol. III (1905), p. 256, somavam «os moradores desta terra e concelho per foguos com vyuvas ao todo, 1812 moradores», havendo 1560 mancebos André de Telões e S. João de Arnóia, contava o modesto número de 150 solteiros. 0 concelho de Cabeceiras somava 774 fogos, vivendo com seus pais e amos 560 mancebos, de 18 para 30 anos de idade. Sobre os cálculos da fogos28; multiplicando este número peio coeficiente 4, teríamos uma freguesia população portuguesa nos sécs. XV e XVI, consulte-se SERRÃO, Joaquim Veríssimo - op. c it, Vol. II, pp. 234-243, e Vol. III (1978), pp. 218-223, com a com cerca de seiscentas almas. Do século XVI para o XVIII, mais precisamente bibliografia aduzida. 29 Cf. A.N.T.T., Dicionário Geográlico de Portugal, Vol. 6, Memória 63, fl. 435, no espaço de 231 anos, a população terá crescido para o dobro; em 1758, em (Informação assinada pelo Pe. André de Azevede Sousa, Abade de S. Clemente, e pelos párocos vizinhos de S. Salvador de Ribas e S. Sebastião de Passos). S. Clemente contavam-se 315 fogos, correspondendo a 1169 almas29, e em Segundo esta informação, havia então 1031 residentes (937 pessoas de sacramento + 94 menores) e 138 ausentes da freguesia. 1800 continuava a verificar-se um crescimento seguro: 1351 almas, distribuídas 30 Cf. VILLAS-B0AS, Custódio José Gomes de - Cadastro da Província do por 358 fogos30. M inho, publicado por CRUZ. António - Geografia e economia da Província do Minho nos fins do séc. XVIII, Porto, 1970, Apêndice 2, II. inum. Este número Ontem como hoje, a relativa importância de Gandarela, à escala da correspondia a 467 homens e 434 mulheres maiores de 14 anos e a 255 rapazes e 195 raparigas menores de 14 anos. freguesia, do concelho e da região, devia-se, em boa parte ao facto de este lugar ficar num cruzamento estratégico de vias: o caminho público que, assomando por trás da Casa da Gandarela e passando entre a Casa da Venda e o campo da veiga, conduzia à igreja paroquial, a Vilar e a Pereira; a estrada velha que, vinda do Arco de Baúlhe através do Ladário, aproveitando largos froços da via romana, depois de passar junto ao Marco da Lama (fotos 7 e 7’) - 2® Congresso Histórico de Guimarães / D. Aíonso Henriques e a sua Época 596

31 Cf. A.N.T.T., Dicionário Geográfico de Portugal. Vol. 6, Memória 63, fl. 438. 32 Cf. VILLAS-BOAS, Custódio José Gomes de - Mappa do Districto entre os Rios Douro e Minho, publ. por CRUZ, ANTÓNIO - op. c it., Apêndice 2. 33 Consultando o Livro de rezão da Casa da Venda, aberto em 1800 por Custódio de Mesquita e Magalhães, vemos que no final do século XVIII pagavam José Alvares da Silva e sua mulher «pela caza e orta do olibal da feira deste lugar duas galinhas e hum pito e novecentos reis em dinheiro, por contrato feito na nota de Manuel Joaquim da Mota a... de 17...»; e José Nogueira e sua mulher ou herdeiros «pella caza e recio no mesmo sitio tres galinhas, por escripto feito na mesma, a 3 de Junho de 1790» (fl. 4). Passados cerca de cem anos o primeiro destes foros era pago pelo lilho de António Bernardo Teixeira, ferreiro, e de Maria Rosa da Silva; o segundo, F o t. 9 O Campo da Feira na actualidade F o t. 1 0 Casa da Gandarela pelos herdeiros de Ana Alves de Magalhães, depois de ter sido de Francisco Ribeiro, carpinteiro (fls. 4,18 e 21). No princípio deste século pagavam à ele próprio um cruzamento de caminhos menores - e à Arosa, conduzia a Venda renda «das barracas da feira de Gandarela», a vencer em 24 de Junho: Crispim - 2$449; José Pereira - 6$740; Bernardo Meirelles (Bairro) - 6S550; Guimarães; finalmente a via que vinda da Raposeira - e recordemos que em José Couto da Silva - 1$700; José Bernardo Monteiro - 2$570. 34 Lemos no termo de uma dessas correições: «Aos quinze dias do Mes de meados do séc. XVIII a freguesia se servia dos correios da Raposeira e de Fevereyro de mil e setecentos e desaseis annos em esta feyra de Gandarella que se fas neste dito lugar (...) adonde eu escrivão fui vindo com Antonio Celorico, que chegavam à segunda-feira e partiam à quinta31 passava sobre a dias, hum dos Almotaçeis que de prezente servem nesta dita Villa e seu termo por sua Magestade que Deos guarde, pera efeito de dar correição aos velha ponte romana de Petimão (Ponte Pedrinha), pelos lugares de Quintela, Misteyrais da dita feyra e lugar, e por [o preço taxado ao] sal, peixe [branco] e sardinhas, e pezar pam, e logo o procurador do conçelho requereo a elle Ferrã, e de Gandarela conduzia, bifurcando-se perto de Borba da Montanha, a Almotace satisfizesse a sua obrigação e que porlestava pella terça de Sua Magestade [um terço da totalidade dos direitos concelhios, arrecadados pelos Margaride e à Lixa e Amarante (foto 8)32. Assim sendo, de espantar seria que almotacés, que iam para o fisco real] de que fis este termo (...). E depois de por todas as couzas que estavão de venda na feira e por achar que nenhuma em Gandarela não existisse um estalajadeiro e uma casa da estalagem, pessoa pasava as suas posturas e que não tinha delinquido, rezam porque não efectivamente sita junta à Casa da Venda. Dada a sua importância, era na sede devião ser condenadas, deu esta correição por bem feita e acabada, de que me mandou fazer este termo de emserramento que asinarão: António da Cunha do concelho (no Castelo, e depois em Freixieiro), na Lixa e aqui em Gandarela Teixeira, escrivão da Camara e Almotaçaria que o escrevi. Dias«. - Arquivo Municipal de Celorico de basto (=AMCB), Livro de termos dos Almotacés, II. que se lançavam os grandes pregões respeitantes à justiça e à vida militar. 6. 35 Cf. Apêndice II, doc. 3. Aproveitando uma localização central no seio da região e na confluência de 36 Assim era designada no tempo de Francisco de Magalhães de Araújo Pimentel, F.C.R., Coronel das milícias da Barça e de Basto, condecorado pelos vias, em Gandarela havia feira cativa em o dia quinze de cada mês: realizava-se serviços prestados na Guerra Peninsular e deputado no 1' parlamento português. Este fidalgo faleceu em 21/7/1839, tendo casado com D. Francisca no ainda hoje chamado campo da feira, adjacente, para sul, à estrada nova do Júlia de Noronha e Menezes Portugal de Ataide e Almeida, da Casa da Prelada, falecida a 31/3/1848. Tiveram um lilho único, Manuel de Magalhães fontismo (foto 9), e então «olival da feira», propriedade da Casa da Venda33, sito de Araújo Pimentel, F.C.R., nascido em Agosto de 1816 e falecido a 9/10/1873, último senhor da Casa da Gandarela nesta família, casado com ao fundo do extenso campo da veiga, da mesma casa, cujo terço do sua prima co-irmã, D. Maria Cristina Pereira Gayo de Noronha; esta senhora haveria de passar a segundas núpcias com seu primo D. Francisco de rendimento Gervásio Luís de Barros havia de consignar para a fábrica da Noronha e Menezes, tendo falecido em 16/8/1883. A Casa da Gandarela foi comprada pelo Dr. Jerónimo Augusto Pacheco Pereira Leite, deputado e capela de Nossa Senhora da Oliveira. No policiamento dos abastecimentos e dirigente do Partido Regenerador no Distrito de Braga, da Casa do Casal, em Alvite, Cabeceiras de Basto, casado, como se disse, com D. Maria Catarina comércio interno concelhio, aqui, como à vizinha feira da Lameira e às outras Lopes de Campos, da Casa de Espessande, em Paredes. Deles a herdou o filho, Jerónimo Pacheco de Campos Pereira Leite. Foi todavia adquirida pelo feiras do concelho se deslocavam os almotacés, realizando as suas irmão deste, Dr. Bernardo, c.c. D. Sofia da Glória Pinto Coelho Soares de Moura Quintela Pereira Leite, da Casa de Cascere, Lousada. Deles a herdou correições34. É importante notar que a escolha daquele chão terá ainda sua filha, D. Maria da Glória Pacheco Soares de Moura Pereira Leite, c.c. Paulo de Freitas da Cunha Mourão de Carvalho Sotto-Mayor, da Casa da obedecido ao critério das vantagens comparativas resultantes do facto de, Granja de Ribas. Assim somos chegados aos pais da Senhora D. Maria Sofia, naquele caso, se tratar de propriedade privilegiada, presumivelmente liberta a actual Senhora da Casa da Gandarela, onde reside com o seu marido, Senhor Dr. João José Magalhães Ferreira Pulido de Almeida, nossos das imposições concelhias. O recinto - «o olival da feira»- era «terra de prazo» prezados amigos. da Casa da Venda, casal, como sabemos, foreiro à colegiada e privilegiado das tábuas vermelhas. Todavia, em finais do séc. XVII, as autoridades concelhias terão tentado ignorar o facto, pelo que o titular do prazo, Domingos Luís, com procuração do cabido, demandava judicialmente António da Silva, escrivão da Câmara de Celorico, «sobre levar assento na feira da Gandarela de todas as mercancias» que à dita feira vinham35. Nesta povoação destacava-se indubitavelmente aquela moradia nobre que, compreensivelmente, ficaria conhecida por Torre e Casa da Gandarela36 (foto 10). \

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Em 1676 era seu senhor Francisco Álvares de Araújo, eleito em 13 de Outubro 37 AMCB, Livro de ordenanças, Autos de eleição, II. 9 v5. Eleito a votos pelos «homens da governança e homens nobres» da vila de Basto, tomados pelo desse ano capitão-mor da vila de Basto. Havendo outros pretendentes à corregedor da comarca e oficiais da câmara, Francisco Álvares viu a sua eleição impugnada, sem efeito, pelo nobre seu conterrâneo Manuel da Cunha eleição, considerava-se «por seus procedimentos e por sua pessoa» apto a Souto Maior, uma vez que, segundo este alegava, não fora feita «canonicamente, guardandose a forma do regimento». Teriam sido instados e bem desempenhar o cargo, pois era filho de Francisco Álvares de Magalhães, rogados votos (falava-se por exemplo num banquete em Ribas a pessoas que haveriam de votar), e para o resultado teriam indevidamente concorrido votos «juiz que fora por eleição de pelouros muitos annos» e falecera «conhecido de de «corrieiros e almocreves e outros offeciaes maquaniauos». Manuel da Cunha Souto Maior propunha-se provar que Francisco Alvares «andara todos os fidalgos e governadores das armas das fronteiras e de tras os montes, alguns dias antes da dita eleição correndo a maior parte do termo daquela villa a rogar e pedir votos pera que votassem nelle, acompanhado e beira e minho, que nas pasaijes se acoartelavam em sua caza»37. acumulado com francisco da mota, luriel de cavallos, valente e muito respeitado, o qual persuadia e intimidava os votantes com rogos e ameasos», 3. Voltamos a encontrar o nome deste capitão-mor da vila de Basto, no ano e que oulrossim «se unira com o capitão Joseph da mota, de Casarilhe, e Domingos da motta, de Gagos, e com o Reverendo abbade de Caserilhe, e seguinte, nuns autos de causa cível em que foram autores Domingos Luís e sua com fernam da motta, de Amoia, Lourenço da Costa, da infesta, e seu filho, e mulher, do Casal da Venda, de Gandarela, contra o próprio cabido de com francisco Ribeiro, de sam Bertholameu, os quais todos arranchados em hum corpo com Domingos pires, do murgido de Borba, e com o alcaide Guimarães38. O texto da sentença, proferida pelo juiz de fora de Guimarães, daquella villa e com o padre Balthezar Coelho, de Fervença, e outros mais parseais» para, por diversas partes, irem «pedindo e sobernando os votos». António Caiado Rebelo, mostra-nos como o cabido, ciente do poder de Os embargos foram recebidos mas dados por não provados pelo conegedore pela Relação. No texto extractamos algumas passagens da resposta do atracção destes privilégios das tábuas vermelhas, procurava aproveitar as embargado. Dado o contexto, para mostrar o seu desinteresse material, compreende-se que Francisco Álvares de Araújo quisesse sublinhar que seu oportunidades que se lhe oferecessem para os rentabilizar em proveito das pai era «muito riquo e o ficara elle sendo também por ficar em sua casa e bens», e que a casa que tinha «bem fazia nobreza» (cf. fls. 6-13). rendas capitulares, neste caso autorizando uma venda que implicava 38 FCV, [Carta de] Sentença contra o cabido a respeito da íalça benda dos previlegios que tes o Capitão mor, dada e assinada em Guimarães, derrogação de direitos sucessórios à renovação do prazo e do privilégio. O a 14-1-1678, pelo juiz de fora António Caiado Rebelo (9 fls. Inum.). 39 Cf. CARVALHO, A.L. de - op. cit., pp. 119-121. magistrado, limitando-se neste caso à defesa de praxes do direito comum do 4 0 Não sabemos a identidade deste Torcato de Barros, mas o apelido, certo contexto, e nomeadamente esta última referência, levam-nos a suspeitar tratar- reino, pode no entanto ser visto em sintonia com directrizes anteriores do poder se de um familiar próximo dos autores. 41 FCV, Sentença contra o cabido cit., fls. 7-8. central, insurgindo-se contra a venalidade, desfiguração e multiplicação deste 42 Em certos casos, como no de Domingos Luís, a amplitude do privilégio, acompanhando os seus titulares, de certo modo compensava - com tipo de privilégios39. generosidade - a relativa exiguidade dos rendimentos especificamente retirados da posse útil de propriedades da colegiada. Atente-se neste parecer: Mostraram os autores que, entre os mais bens de raiz de que estavam «Vi o privilegio de Domingos Luis encabesado no casal do outeiro, e deve gosar e aproveitarse das Isensois e liberdades delle, ainda que tenha outras pacificamente de posse havia muitos anos, «por sy e seus antepassados», terras e casais de que se sustente a maior parte da vida, e não delle: porque a Ord. Lib. 2, IP 25 se não entende destes privilégios encabesados, e somente estava «o seu cazal do outeiro, por outro nome da venda, com o seu prevellegio he a respeito dos lavradores e caseiros dos priviligiados, como ella mesma das taboas vermelhas cito no dito cazal», sempre se tendo aproveitado dos declara. Demais que se a dita ordenação se entendece também desses encabesados priviligiados muito pouquos avião de valer, por estarem a mayor «fructos do dito casal e da esempção e imunidade do dito provillegio»; mas parte deites em casas e outras propriedades que não tem rendimentos para [que] os priviligiados se governem e mantenham por ellas nem ainda um mes, estando assim nesta posse, Francisco Álvares, «como se fora seu», com quanto mais a mayor parte da vida» - FCV, [Minuta a respeito dos] Caseiros dos priviligiados, s/d, fl. solta. consentimento do cabido, «dollosamente e com mallicia» vendera o dito casal com o respectivo privilégio a Torcato de barros, sendo deles senhor e possuidor, como «ultima vida», Domingos Luís, respectivamente pai e sogro dos autores, em cujo direito da renovação ficara o seu homónimo Domingos Luís sucedendo, por ser filho varão mais velho e ter o seu pai falecido ab intestadcf0. Como tal, foi aquela venda tida por «maliciosa e fraudulenta», declarada nula a confirmação e consentimento do cabido, e condenado este por cometer «forssa e expolio nesta parte aos autores»; o juiz declavara restituir os autores à sua anterior posse e à «liberdade de seu previllegio», nela os conservando e lhes reservando o direito para em juízo competente pedirem a renovação do dito prazo e privilégio41. A natureza e amplitude deste tipo de privilégios dão-nos a medida da importância da vitória judicial de Domingos Luís42. Ciclicamente, contra ventos e marés, quase até finais do antigo regime, a documentação permite-nos seguir Nossa Senhora da Oliveira em Terras de Basto / Pedro Villas Boas Tavares 5 9 9

os seus sucessores no casal, procurando escudar-se em tão vantajosos 43 Cf. CARVALHO. A .L de - op. cit., pp. 126-151. Sobre a nova conjuntura, do mesmo autor, cl. Guimarães e a aclamação de D. João IV. -Revista de particularismos legais. Guimarães-, Vol. Especial, 1940, pp. 163-169. Cf. ainda, ibidem, MATTOS, Gastio de Mello de - Os terços de Entre Douro e Minho nas Guerras da Um dos maiores era sem dúvida a isenção de serviço militar ou, a partir da Aclamação, pp. 203-225. 44 0 documento que apresentamos em apêndice é anterior ao apresentado por Restauração, uma eventualíssima hipótese de incorporação em milícias de OLIVEIRA, Manuel Alves de - op. cit., p. 106 - mostrando que o uso do epíteto insigne, aplicado à colegiada, remonta pelo menos ao início da restauração. privilegiados de Nossa Senhora da Oliveira, tuteladas pelo cabido e levantadas 45 Cf. Apêndice II, Doc. 1. 46 FCV, Pública-forma das petições do cabido e despachos do governador da em ocasião de especial necessidade43. Assim, em 1641, em plena situação de Casa e Relação do Porto datados do Porto de 9/4/1652 e 26/12/1652 (caderno incompl. De 6 fls. Inum.). guerra, o chantre da «muito insigne e real colegiada»44 deprecava ao capitão da vila de Basto, requerendo-lhe a ele e a seus oficiais «da parte de sua Magestade» que não vezassem nem molestassem o privilegiado Domingos Luís, de Gandarela, nem o obrigassem a ir a seus «alardos e guardas e ressenhas», uma vez que estava já alistado com suas armas no livro dos privilegiados de que o próprio chantre era capitão, disponível para o acompanhar nas ocasiões que se oferecessem «do serviço de sua Magestade» e «defensão» do reino45. Mas toda uma panóplia de isenções se abria, e não só para esta família... Em 13 de Março de 1656, Domingos Luís «do casal de gandarella e Aroza», Domingos Lopes «do casal das vinhas de painçais e casal da serdeira», Domingos Francisco «do outeiro», Anna Francisca «do mesmo lugar da Aroza», Francisco Velloso «do mesmo lugar», Francisco Álvares «da quintafã] de Ribas», Francisco Ribeiro e António Ribeiro «da trapa[?]», Diogo Álvares e seu cunhado Francisco Gonçalves «da Pereira», José Martins «da Vacaria» e Gonçalo Pires «da quintã», - todos portanto das freguesias de S. Clemente e S. Salvador de Ribas -, requeriam ao corregedor de Guimarães, Dr. Diogo de Carvalho de Cerqueira «que para bem de sua justiça» lhes era necessária «huã certidão com o theor das petições [do Cabido de Guimarães] e despachos a ellas do Senhor Governador [da Casa e Relação da cidade do Porto] em que se reconhecia que os «encabeçados» nos privilégios da colegiada da Oliveira eram «escusos», entre outros «encargos públicos», do corte e carreto de madeiras46. Havia alguns anos o cabido interviera a favor da soltura de Domingos Francisco Amador e Afonso José Pereira, presos por ordem do corregedor da comarca, «porquanto em conservação de seus previllegios» tinham procurado embargar «que se não cortase madeira no dito couto do codesozo he aboim pera as galleas de sua magestade»(sjC), fundados em que eram caseiros da colegiada, beneficiando desta isenção irrevogavelmente desde D. João I. O cabido obtivera então despacho favorável da Relação do Porto mandando «restituir os paos que estavão cortados», considerando que era «muito justo» que se conservassem os privilégios concedidos à igreja colegiada de Guimarães. Com base nesse despacho, o cabido lembrou idênticas violações feitas em caseiros de fora do couto de Codeçoso e Aboim, em quem o dito privilégio das tábuas vermelhas subsistia 2- Congresso Histórico de Guimarães / D. Afonso Henriques e a sua Epoca 600

«ainda na ocazião de guerra e defensão do Reino»47, obtendo novo despacho no qual se declavara que «nenhuma mollestia» deveria ser feita a tais privilegiados. Decorridos quatro anos desses despachos, os peticionários de S. Clemente e de Ribas supra referidos, requeriam precisamente a correspondente e mirífica certidão que, em circunstâncias idênticas, lhes poderia servir de escudo defensivo contra novas arremetidas racionalizadoras e «igualizadoras» do aparelho administrativo, sempre ávido e carente de recursos... De resto, não será surpreendente o número e identificação destes requerentes: a Casa da Venda manterá ao longo do tempo algumas F o t. 11 Casa da Arosa propriedades cuja toponímia e situação nos parece harmonizar-se com a 47 Reproduzimos os lermos dessa petição: «Diz o Reverendo Cabido da identificação de alguns deles48; o mesmo sucederá com a Casa da Arosa, em Insigne e Real Collegiada da Villa de Guimarães que vosa Senhoria em confirmação dos privillegios consedidos a nosa Senhora da oliveira mandou Gandarela (foto 11), uma casa privilegiada também. Com efeito, vê-la-emos que no coulo de aboim he codesozo se não cortase madeiras nem fosem obrigados os cazeiros a leva delias como consta da ordem de vosa Senhoria deter a Quinta e Casal do Outeiro, Airoso e Montezelo, no lugar do Outeiro da que com esta se oferese, he porque de fora do dito couto ha mais prevelligiados que vivem em casaes emcabesados da mesma Igreja he gozão Freguesia de S. Clemente, a Quinta e Casal do Ermo e Oliveira, sito no lugar da dos mesmos privillegios, como se ve da mesma certidão, he porque o comisario e fragueiros que vem cortar madeiras he obrigar os ditos cazeiros a Quintã, e o Casal da Torre, ambos estes em Ribas, todas estas propriedades levar delias, sendo escuzos pellos ditos previllegios he despacho de vosa foreiras à Colegiada de Guimarães49. Com efeito, perante uma actuação frouxa e Senhoria, pede a vosa Senhoria seja servido guardar os ditos previllegios he que na forma delles sejam escuzos os ditos cazeiros emcabesados do corte he complacente do poder constituído, nestes lugares de Basto, com a passagem leva das madeiras, pois o dito previllegio os escuza, he inda na ocazião de guerra e defensão do Reino, he reseberão merce». do tempo, terá sido relativamente exequível que um número acrescido de 48 Será o caso dos Lameiros dos Painçais, correspondentes decerto às Vinhas de Painçais, e situados nos limites do lugar do Crasto, da freguesia de pessoas se tenha vindo a colocar ao abrigo dos privilégios das tábuas S. Clemente, e - talvez - da sorte da Ribeira de Penalva que seguia para Sigoêlo, confinante com o caminho da Vacaria e com terras da Casa da Loja vermelhas, pois, como sabemos50, para gozar as respectivas «isenções» e da Cerdeira. 49 Arquivo da Casa de Quintela, Testamento do Dr. Custódio António de «liberdades», não era preciso que alguém vivesse exclusivamente de Moura Álvares de Magalhães Machado, Senhor da Casa da Arosa, fl. 5 v*. 50 Cf. notas 17,18 e 42. propriedades da colegiada, bastando deter uma parte da sua posse útil. Por 51 FCV, Petição s/d, fl. solta. 52 FCV, Petições e despachos sobre o jufz do monte, 2 fls. Neste caso - para isso, Domingos Luís, «senhor util do casal do outeiro, por outro nome da venda, Celorico e para esta data - parece manter-se a definição de A. HERCULANO (Historia de Portugal, t. IV; Livro VIII, Parte II, Bertrand, 1981, pp. 336-339), em gandarela, e possuidor delle ou parte», e Domingos Francisco, «possuidor e segundo o qual as principais funções do porteiro eram citar, fazer arrestos, penhoras e almoedas, prender e executar outros actos de jurisdição civil, por senhor útil do casal do outeiro ou quarto delle», a maior parte do ano se ordem do alcaide e dos magistrados municipais. sustentado e governando com suas famílias das terras que grangeavam dos ditos casais em que viviam, foreiros da colegiada, «por assim ser» apelavam para os privilégios inerentes, que os tornavam «escusos de pagar usual» em finta então lançada51. Num outro processo, concluído em 20 de Março de 1676, vemos estes mesmos Domingos Luís «da Venda» e Domingos Francisco «do Outeiro» queixarem-se de «os monteiros e oficiais» do concelho de Celorico os vexarem e constrangerem a irem «montear» contra suas vontades; como o «juiz do monte» António Pires, do Lugar do Crasto, os mandasse penhorar «por não hirem ao monte», não atendendo à isenção que alegavam e aos despachos que exibiam do corregedor de Guimarães, em menos de um mês tinham alcançado do «juiz da vara» mandado de prisão de António Pires, precedida de notificação pelo «porteiro» da vila52. Avançando o século, uma vez que um Domingos Luís, filho, sucedeu a Domingos Luís, pai, na Casa da Venda, continua este nome a aparecer-nos nos Senhora da Oliveira em Terras de Basto / Pedro Villas Boas Tavares

fundos documentais da família, associado a inquebrantável luta contra todas as 53 FCV. Petição e despacho datado de 13/6/1686, II. solta. 54 FCV, Petição e despacho de 22 de Junho de 1697. tentativas de redução ou obliteração prática dos privilégios que eram seu 55 Lê-se no respectivo despacho: «Que se goardem e cumprâo os privillegios do supp.te na forma que nelles se conthem» - FCV. Petição e despacho s/d. apanágio. Para maior celeridade e eficácia nos processos, visto que esse 56 FCV, Petição e despacho datado de Guimarães. 22/4/1708. 57 «Certifico eu Lourenço Serrão de Vasconsellos, Abbade desta Parochial registo lhes seria exigido, estava o privilégio registado na câmara de Igreja de S. Clemente de Basto: que Jervas Luis de Barros, casado com Marianna de Magalhães, meus fregueses, vivem e morão no seu Casal Guimarães e na de Celorico, concelho em cujo termo moravam. Como previlligiado das taboías vermelhas da Senhora da Oliveira da Villa de Guimarães, por nome casal do Outeiro em Gandarella, desta minha freguesia, «priviligiados dos do número das taboas vermelhas de Nossa Senhora da por seu Pay lho dotar; Domingos Luis viveu e elle vive e mora dentro das mesmas casas a hum fogo todos. E nelles não ouve descensãO(SjCj e nunca se Oliveira e dos encabeçados» continuavam a considerar-se, «como tal», livres e apartaram. E por me esta ser pedida a passei e juro in verbo sacerdotis. S. Clemente de basto, de Abril, 12 de 1705. (Assinado) Lourenço Serrão de isentos de «todas e quaisquer fintas e mais incargos do concelho». Assim, em Vasconsellos» - FCV, Certidão reconhecida a 13/4/1705 pelo tabelião público judicial de Celorico. João Coelho de Magalhães. 13 de Junho de 1696, porque o obrigavam a que «com fazenda, pessoa, bois e 58 Com efeito, perante esta reapreciação, vemos Pantaleão de Seabra e Sousa escrever: «0 Pay do supplicante he certo que he previligiado da Senhora da carro» contribuísse para a reparação e «refazimento» dos caminhos vicinais, Oliveira, e que dotou todos os seus bens a este soldado, que he seu filho, com reserva de a metade dos frutos, como da escritura junta se ve: neste cazo não obteve Domingos Luís o almejado «cumpra-se e guarde-se-lhe seu privilégio sey se gozão ambos do mesmo previlegio, ou se hum só. V. Ex* disporá o quie for servido. Monção. 7 de Abril de 1705. (Assinado) Pantaleão de Seabra e sob penna dos incoutos» do despacho do corregedor de Guimarães53. Ao Sousa». - FCV, Libramento de soldado pelo previlegio da Senhora da Olibeira, requerê-lo contra «qualquer pessoa ou pessoas» que procedessem sem 2 fls. respeito à referida insenção, com cominação de que seriam condenadas «nas penas dos incoutos» e a pagarem-nas da cadeia, o suplicante teria em mente o castigo aplicado havia vinte anos ao juiz do monte António Pires. No ano seguinte, em momento de maior preocupação dos coudéis e das juntas de cavalos comarcãs com a suficiência do reino em gado cavalar para as necessidades militares, Domingos Luís tinha de eximir-se de um outro encargo: o de sustentar égua de criação54. E «porque os offeciais do concelho avex[av]ão ao supplicante, condenandoo em coimas», Domingos Luís voltava a apelar, pela mesma altura, com êxito, para o corregedor de Guimarães55. Como se vê, não é difícil intuir os motivos que terão levado Domingos Luís, falecido em 3 de Julho de 1710, a reservar alguns bens para a construção da capela de Nossa Senhora da Oliveira, junto à morada de casas que habitava na Gandarela, e de cujo encargo se desempenhou Gervásio Luís, seu filho mais velho, primeiro administrador desta capela. Ainda antes da morte do pai, ficou Gervásio Luís a beneficiar em toda a extensão dos seus privilégios, já que Domingos Luís lhe dotou o casal privilegiado, com todos os mais bens de raiz, com reserva da metade56. Teve todavia de lutar arduamente pelo respeito desses privilégios. Assim, em pleno período da Guerra da Sucessão de Espanha, o mestre-de-campo Pantaleão de Seabra e Sousa obrigou-o a incorporar-se como auxiliar no terço que comandava. Gervásio Luís alcançou do mestre-de-campo-general da província do Minho despacho no sentido de ser reexaminada essa sua situação, e em face dos documentos que apresentava, nomeadamente uma certidão do abade de S. Clemente, confirmando a sua residência a um mesmo fogo com o pai57, foi dado como «livre de soldado» Pantaleão de Seabra confessou a sua perplexidade perante o facto de pai e filho gozarem do mesmo privilégio, mas submeteu-se ao parecer dos seus superiores hierárquicos58. Trinta anos mais c uongresso msionco ae uuimaraes / u. Aionso nennques e a sua tpoca I 602

tarde, a pensar então, por seu turno, certamente no filho, António Luís, Gervásio 59 Cf. FCV, Provizão do Snõr Rei Dom João o quinto aserqua de serem hizentos do rial serviço os filhos e criados dos preveligiados do numero das Luís de Barros procurará munir-se de um novo instrumento de defesa: requererá tabollas vermelhas de nosa Senhora da oliveira, 5 fls. 60 Cf. FCV, Petição e despacho do corregedor de Guimarães, dalado de uma certidão com o teor da provisão de D. João V de 17/9/1733, com base na 16/11/1713,2 fls. 61 Além de apelar para a natureza do seu privilégio, Gervásio Luís não deixou qual estes privilegiados passavam a poder mais facilmente alegar isenção do de alegar em si falta «do necessário conhecimento das freguesias e rendas do concelho». Cf. FCV, Petição e despacho do senado da Câmara, datado de serviço militar para os seus «filhos e criados»59. 12/10/1718,2 fls. 62 FCV, Petição e despacho do corregedor de Guimarães, s/d, fl. solta. Efectivamente Gervásio Luís encontrou muitos escolhos ao usufruto dos seus 63 Cf, FCV Petição e despacho (do juiz de fora?), datado da «vila de Basto» 22/2/1729,2 fls. privilégios, especialmente a nível local: em 1713 são os juízes do subsino das 64 Cf. FCV, Petição e despacho do juiz de fora de Celorico. s/d, fl. solta. Esle Campo da Veiga, extremamente produtivo, hoje da Casa da Gandarela, era freguesias de S. Clemente e do Salvador de Ribas que o querem obrigar ao então um dos melhores campos da Casa da Venda; o terço do seu rendimento destinava-se à obrigação de três missas anuais (dia de Natal, Páscoa, dia de pagamento de palha para os cavalos60; em 1718 é eleito para a repartição da Espírito Santo) recomendadas por Domingos Luís de Barros a seu filho Gervásio, e à fábrica da capela, pelo que se compreende bem a necessidade sisa do concelho61; em data difícil de determinar são os almotacés que o de rentabilizar a sua produtividade. Depois de construída a estrada nova, de pretendem penalizar «por não ter feito o caminho da barraqua[7] que sai de macadame, que conduzia ao Arco, o Campo da Veiga com o pomar junto passou a confinar, do sul, com a estrada real (nacional); de nascente, com Gandarella pera Porto de Bouro»62; em 1729 é o escrivão Diogo da Cunha de terra da Casa da Arosa e da Casa da Gandarela; poente, com a estrada que vinha de Petimão; norte, com terras da Casa do Casal. Mesquita que o notifica para ser louvado entre partes Domingos de Abreu e 65 Cf. FCV Sertidão [do livro da fazenda e siza de Guimarães, datada de 4/8/1726], de que consta em como não pagão os priviligiados do numero o Sebastião Gonçalves, dos lugares do Souto e Sarrazinho da freguesia de S. dobro da siza, 2 fls. Clemente63. Todavia, forte das suas razões, vê-mo-lo logrando eximir-se de todos estes encargos, sem deixar de aproveitar outras vantagens do seu privilégio. Emn 1726 Gervásio Luís ajusta com Manuel Álvares de Magalhães, da Casa da Gandarela, uma permuta: o mestre-de-campo dava-lhe a água que lhe cabia no «Poço da Horta», para melhor rega do «Campo da Veiga», e em compensação Gervásio Luís largava-lhe «um pedasso de terra» por cima do «Campo de Favelais» com «huma carvalha velha e coatro carvalhas novas», cada um destes bens avaliados em dez mil réis64. Postos perante a necessidade de ambos pagarem a sisa, imediatamente Gervásio Luís alegou que os privilegiados do número das tábuas vermelhas eram isentos do pagamento do «dobro da sisa» em compras em bens de raiz, como tributo in sollitum que era. Deparavam todavia com a relutância do escrivão das sisas de Celorico. Este apenas se prontificava a passar-lhes certidão de pagamento da sisa - singela -, como pretendiam, depois de autorizado por um despacho do juiz de fora. Assim aconteceu: tendo-lhe sublinhado a conformidade desta pretensão com as praxes vigentes65, foram os suplicantes pelo dito juiz relevados do pagamento do dobro da sisa. É extremamente significativa a forma como a luta pela pervivência eficaz do privilégio transita de geração em geração. Numa petição de 1735 ao corregedor de Guimarães, Gervásio Luís e seu filho, António Luís, queixam-se amargamente de, numa correição feita em Junho, os almotacés lhes terem mandado fazer um pedaço de calçada «para arrumar as agoas na estrada publica», desde as casas do mestre-de-campo Manuel Álvares de Magalhães até aos lavadouros do dito lugar da Gandarela, dizendo eram «testadas suas». Numa outra correição, feita no dia 16 de Agosto (supomos que desse mesmo ano), tinham mandado os almotacés notificá-los para que fizessem «hum pedaso de calsada Nossa Senhora da Uliveira em lerras ue casiu / ruuiu viuas cuas lavares 6 0 3

na estrada publica ao pe das suas casas e de manuel de meirelles e de 66 Cf. FCV, Petição e despacho, s/d, fl. solta. 67 Cf. FCV, [Certidão passada em 18/12/1735 por Jerónimo Ribeiro da Cuz, antónio ribeiro, aonde mora giraldo machado, e na mesma estrada publica, ao escrivão da correição de Guimarães, com o teor da] Provizâo e sentensa dos Senhores Reis com sentensa da Relação do porto, caderno de 9 fs. pe do lugar da ramada, na sua testeira, puzese[m] pasadeiras, e no caminho 68 Cf. FCV, Sentença da causa de Quintela, 2 fls. 69 Cf. FCV, Petição e despacho do provedor da fazenda, s/d, 2 fls. do concelho que bai para a igreja de S. Clemente e alagoa e outras mais 70 Cf. FCV, Petição de um treslado, s/d, fl. solta. 71 Cf. FCV, Petição e despacho do corregedor de Guimarães, de 19/1/1769,2 partes, no sitio da siria, o ajudase[m] a calsar»66. Os suplicantes respingam que fls. 72 Cl. FCV, Petição de despacho do corregedor de 21/11/1769,2 fls. caminhos e calçadas as faça «quem he de direito fazellas», requerem que se 73 Cf. OLIVEIRA, Manuel Alves de - A Colegiada de Guimarães sob o signo de Pombal, Guimarães, 1970, pp. 26-27. não proceda contra eles, que se lhes «goarde seu previlegio na forma que nele se contem e Sua Magestade que Deus guarde manda», juntam para o efeito certidão com o teor das provisões e sentenças mais adequadas àquelas circunstâncias (D. João I, Filipe III, acordão da relação do Porto de 23/5/1628), e acabam por ver, uma vez mais, reconhecida a sua isenção67. Desaparecido Gervásio Luís, António Luís de Barros Mesquita e Magalhães vai-se ver numa contínua tribulação por causa dos crescentes desrespeitos ao seu privilégio. Tendo arrematado o Casal de Quintela «da aldeia de baixo», no qual viviam Miguel Mendes e mulher, por sentença que contra eles obteve em 1746, sucedendo desta forma, naquele prazo, a seu tio, António de Mesquita e Magalhães68, e tendo pelo facto de pagar sisa, apesar das resistências do tesoureiro e do escrivão das sisas do concelho, logrou pagar apenas sisa singela, em atenção a esse privilégio69. Todavia, já nos anos sessenta do século vai ter que apresentar requerimentos no juízo das coudelarias em defesa das suas imunidades70; vai ter que lutar contra pagamentos exorbitantes da décima que os eleitos do concelho lhe haviam lançado em lançamentos a que não pudera assistir71; e finalmente vai ver-se sujeito a uma acção de penhora72. Embora, aparentemente, tenha conseguido fazer prevalecer a sua condição de privilegiado, os tempos iam-se tornando mais difíceis. Com efeito, em 1763-1764, o próprio cabido da Colegiada se queixava para Lisboa, ao seu prelado, Paulo de Carvalho e Mendonça, irmão do Conde de Oeiras, de ofensas práticas e «decadência» na observância dos privilégios. Segundo o cabido eram tantos os inimigos dos privilégios quantas as pessoas que os não possuíam... Todavia, o Dom Prior da Colegiada confessava então que nem por sombras estava disposto a beliscar a sua imagem junto do rei com requerimentos nesta matéria73. As dificuldades, nesta nova conjuntura, exprimem-se num documento verdadeiramente patético; é mais uma petição: Diz Antonio Luis de Mesquita, de Gandarela de S. Clemente, termo da vila de Serolico de Basto, que elle Supplicante he privilegiado das tabolas vermelhas dos do numero de Nossa Senhora da oliveira da Vila de Guimarães, 0 qual privilegio izempta de todos os incargos solitos e insolitos, em rezão do supplicante viver no cazal em que se acha incabeçado o dito privilegio, e porque o juiz do subsino e homens da quadra lho não querem guardar, antes lhe aboletam soldados e lhe metem prezos pellas cazas dentro quando os ditos •ssjopejisjUjUjpB snes sop b u o l u s l u b 0 oBójniijsui ens ep ssoóbaijolu SB SSJUSSSJd UJBLjUS}. 8S 8 n b 0}S nf SOU01IJ 0 |8d P ‘OBlbSJ Bp S8J B |n d o d SBJSSJ. SBPUJOOUOO SIBLU S B p Buun © p OJJUSO 8 IBjnbOJBd OJ|nO OU BpjJSSUj 0 [OL) ‘0BÓ0A8 P 8 SJJB ©p Bipf ‘B|8 d B 0 BnS BO ^BpuSA Bp BSBQ ? 0JU81UBJ0JB LUOO ‘OJSBg ©p B|8JBPUB0 LU8 SBpinjJSUOO LUBABJSS |||AX 0 |n 08S Op |BUjJ ou onb SBSBO SBSOJSLUnU SB BJUOO OBp SOU OSSIQ '0 p U 8A|0AU8 S8 p jOJ 8S B |S p 0}U n [ 8 n b |B0 0 | 8 pB P !U nU J00 Biun Bpoj 8 p SBIU ‘BjljLUBJ Biun 8 p BUOJOSfBJJ B SBU0dB OBU JBOOA8 B 0;UB}U 8 OU spuodssuoo BPU 0A Bp BSBQ BpB!6 S|!AUd Bp OUjJSSp OU JB|BJ V/BUBIA 9 P (BJ8 U8 0 |8}JB n 0 o p > 6ZL 9 P 0JI8J8A8-I S p H 9 P OpBJBp ‘|SABJOABJ OLpBdSSp 8A8jq O

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t»nq pnnflu pnçí p a ^anhniiau ncnniw *n / çaPiPimnn an nniimciu nccaifinno Nossa da Oliveira em Terras de Basto / Pedro Villas Boas Tavares Senhora 6 0 5

I. Apêndice

Custódio Ascendentes de Custódio Mesquita de Mesquita e Magalhães/ apêndice 1 e Magalhães Sr. da Casa da Venda n. 20/9/1752 Ascendentes de Custódio Mesquita e Magalhães e ligação da Casa da Venda, i ------de Gandarela de Basto, à Casa da Ponte António Luís de Barros M.M. de Petimão x Isabel Luísa Marinha Alves T(Gandarela)------Domingoç Marinho Álvares x Benta Machada (S. G.io da Rib2) f3 de Domingos Domingos Luís M achado de Barros e Md Ribeira X Senhorinha T------Gonçalves Francisco * Marinho x Senhorinha Francisca iDomingos------Luís Miguel M5 x (S. S.dor de Infesta) #______^______de Barros Francisca Pires (+3.7. 1710, deixando Gonçalo reserva de bens p / construção Francisco da capela) D.gas Álvares x (Ourilhe) Luísa Barrosa (Redrufe -Sta. Senhorinha)

Gervásio Luís Matias Luís de Barros de Barros x solteiro em 1738 s.g. Mariana Mesquita M agalhães (Quintela -S. Clemente)

António Luís iMaria------Luisa 9 de Barros de Barros falecido s.g. x Mesquita Rosa Clara Isabel Luísa Marinha e Magalhães Alves de Magalhães x Tavares Manuel Ribeiro aos 23/12/1776 Tavares Falcão em S. Clemente (Ponte de Petimão) x Alexadre José Veiga l------i------de Carvalho Custódio Rosa Clara de Mesquita de Magalhães Magalhães Tavares iAntónio------Manuel su.cor na C. da Venda Tavares da Veiga e capela (Casa da Ponte de Petimão) aos 4/2/1801. S. S.dor de Ribas x Inácia Joaqim Teixeira da Mota f2 do Cap. Bento Teixeira e s. m. Teresa Joaquina de Andrade da Mota, morad. na Q.fà c/e Figueiredo 1------T------Plácido Tavares Teresa Rosa Ricardina José Maria da Veiga Falcão n. ib. 11/3/1804 n.ib. 22/4/1806; n. ib. 26/11/1807 n. em Ribas + 1887 a 9/8/1802; Senhor da C. da Ponte em Ribas 14/2/1832 + solteiro, exilado Dr. José Meireles em Paris 29/3/1831 Leite, da Casa da Ramada do Arco de Baúlhe ? congresso Mistorico de buimaraes / D. Afonso Henriques e a sua Epoca 606

II. Apêndice Documental Doc. 1

1641, Fevereiro 22, Guimarães Precatória do Licenciado Roque Ferreira Pereira, Chantre de N. Senhora da Oliveira, ao Capitão Miguel de Freitas, da Vila de Basto, e a seus oficiais, para que não constranjam ao serviço militar Domingos Luís, de Gandarela, Freguesia de S. Clemente, pois além de isento, por ser privilegiado das Tábuas Vermelhas de N. Senhora da Oliveira, estava alistado no livro da respectiva milícia, de que era Capitão, eleito pelo Cabido, o próprio Chantre.

A) Arquivo da Casa da Quintela - S.Clemente de Basto, Fundo da Casa da Venda, de Gandarela, caderno de 4 foi., 202 x 282 mm, papel, bom estado, com os vestígios da selagem à foi. 2 v®, ms. do autor.

O Leçenseado Roque ferreira Pereira Chantre na muyto Insigne he Real Collegiada de nossa Senhora da olyveira desta Villa de guymarais, e capitam Eleito pello Reverendo Cabido dos privillegiados delia, etes* faço saber hao senhor Capitam miguei de freitas da Villa de Basto hou a quem seu Carguo servir he bem assym ha todos hos mais offiçiais da milicia delle em como por parte Item de Dominguos luis de Gandarela da freiguezia de sam Clemente de Basto me foy feito petiçam dizendo em hella que helle hera privillegiado do privillegio das taboas vermelhas he cazeiro desta dita Insigne e Real collegiada, he como tal escuzo de assistir nos Alardos he ressenhas he guardas e vigyas salvo quando hos ditos privillegiados me acompanhassem como seu capitam, e porque ho dito senhor [foi. 1v2] Capitam da dyta villa de Basto hos hobrigava ha assystir nos alardos guardas he ressenhas não lhe guardando seu privillegio pello que me pedia ho mandasse alistar em minha companhia he deprecasse hao dyto senhor Capitam da dita villa de basto lhe guardasse seu privillegio he o não obriguasse hir a seus alardos guardas he ressenhas he receberia justiça he merçe; segundo assym se continha na dita petisam do supplicante he petitorio delia ha qual sendome haprazentada he por mym vista, pello meu despacho que hem ella pus mandey Item se Alistasse no livro que pera isso està ordenado he alistado se paçasse precatoryo pera o senhor capitam he seus offiçiais me fazerem merçe quererem cumprir esta minha carta. Guymarais vinte he dous de fevereiro seisçentos quarenta he hum [foi. 2] ete.§ por bem do qual meu despacho os ditos diguo o dito supplycante se allistou no livro dos privillegiados desta Insigne he Real collegiada he lystado helle lhe mandey passar a prezente minha Carta precatória pera vossas merçes pella qual lhes Requeiro da parte de sua Magestade he da minha peço muyto de merçe que sendolhe esta aprezentada ha mandem comprir he guardar, e em comprimento delia não vexem nem molestem hao dito supplycante privillegiado nem ho obriguem a hir a seus Alardos e guardas e Ressenhas porquanto està alistado com suas armas no livro dos privillegiados folhas noventa e nove verso de que Nossa Senhora da Oliveira em Terras de Basto / Pedro Villas Boas Tavares 6 0 7

heu sou capitam, e me hamde acõpanhar nas occasiois que se offeresserem do serviço de sua Magestade EI Rey nosso senhor Dom Joam ho quarto he defenssão [foi. 2 v2] deste Reyno he de vossas merçes assym ho cumprirem he mandarem cumprir foram Justissa que sam hobrigados e a mim merçe he serviço a Virgem nossa Senhora da Oliveira em lhe guardarem seus pryvillegios, e eu farey ho mesmo nas occasioys que também se offeresserem do serviço de vossa merçes he por suas semelhantes Cartas he Requados me for emcomendado dado, (sic) em esta dita Villa de Guimarais por mym hassinado he sellado com ho sello de mynhas armas haos vinte he dous dias do mes de fevereyro do anno do nascymento de nosso senhor Jezum Christo de myl seys çentos he quarenta he hum annos. Pagou desta noventa reis he de assynar nada. Eu Antonio da Costa Sodré Escrivam da companhia dos privillegiados que ho escrevy // (Assinado:) O Capitam Roque Fr3 Pereira (No lugar do selo:) «Chantre» c congresso Histórico de buimaraes / D. Afonso Henriques e a sua Epoca

II. Apêndice Documental Doc. 2

1666, Janeiro 28, Guimarães Pública-forma precedida do respectivo requerimento, feito à Câmara de Guimarães por Domingos Luís e Domingos Francisco, de Gandarela, Freguesia de S. Clemente de Basto, pedindo treslado do registo do Alvará de D. Afonso VI, a favor dos seus privilégios. Despacho pelo verador Manuel Peixoto de Carvalho de 21 de Janeiro de 1666.

R) Arquivo da Casa de Quintela - S. Clemente de Basto, Fundo da Casa de Venda, de Gandarela, caderno de 3 fls., papel selado do ano de 1666, 200 x 310 mm, razoável estado; ms. do autor.

Dizem Domingos Luis de Gandarela freguesia de São Clemente de Basto da Casal da Airosa, e Domingos Francisco do Outeiro da mesma freguesia previligiados de Nossa Senhora da Oliveira que para bem de sua justiça lhes he necessário o treslado da provisão de Sua Magestade que Deus guarde passada a seu favor e de seus privilégios que esta registada na Camera desta Villa que he enconfformação da Sentença do Senado do Porto. Pede a Vossa Mercê lhe faça merce de lha mandar passar em pública forma e Receberá Justiça e merce. (outra tetra:) passe do que constar Guimarães 21 de Janeiro de 1666 (Assinado:) Peixotto A quantos a prezente Certidão virem dada hem publica forma por mandado he authoridade de justisa hem comprimento do despacho assima posto por Manoel peixoto de Carvalho fidalgo da caza de Sua Magestade [fl. 1 v2] Vereador he juis pella ordenasão em esta Villa de Guimarais he seu termo Ettr2 Certefico eu Francisco Monteiro da Costa que nesta Villa de Guimarais he seu termo sirvo de escrivão da Camara por el Rey nosso senhor que he verdade que provendo eu ho livro dos registos das provisois de sua Magestade he mais couzas que hem camera se mandão registar achei em elle a folhas cento e dezoito et verso registada a provizão de sua Magestade de que hos suplicantes hem sua petisão fazem mensão da coai ho treslado de verbo ad verbum he o que se segue Item Eu El Rei faso saber que por me reprezentar Dom Diogo Lobo da Silveira prior da Insigne he Real Colegiada de Guimaraes he o Cabido delia que não querião goardar hos privillegios que se havião consedido a Igreja de nossa senhora da oliveira ordenandose por elles que hos seus cazeiros não servissem na guerra nem lhe tomasem seus filhos he outrosi bois cavalgaduras palha he matimentos nem levallos aos exersitos he que tudo isto hos obrigão como tão bem hem suas cazas se lhes lansão alojamentos de Infantaria e Cavalaria [fl. 2 r2] de modo que largão os Cazais e os deixão devolutos pedindome se lhes dee comprimento aos dittos privillegios pellos terem des de Nossa Senhora da Oliveira em Terras de Basto / Pedro Villas Boas Tavares 6 0 9

o senhor Rei Dom Affonso henriquez que Deos haia athe o presente porque sem isso hera em grande prejuízo ha arrecadasão da Renda da ditta Igreja pellos obrigarem a estas assistensias he avexaçois o que visto he o mais que por sua petisão me reprezentarão Hei por bem e mando se guoardem aos suplicantes os privillegios tão inteira mente como se lhe tem consedido he o tenha ja rezoluto em outras hordens que tenho mandado passar a seu favor pello que ordeno ao governador das armas he exersito do minho digo da privinsia he exersitto do minho não consinta que com hos dittos cazeiros se entenda he lhe fasa guoardar este Alvara tão inteira mente como nelle se conthem sem se lhe por duvida alguã he mando aos offesiais de guerra justissa fazenda he aos das Cameras fasão ho mesmo dando ho comprimento ao que por elle ordeno por assim o haver por bem ho coai vallerá como carta posto que seu effeito haja de durar [fl. 2 r§] mais de hum anno sem embargo da ordenasão hem contrario livro segundo titolo quarenta João Ribeiro ha fez em Lixboa aos dous dias do mez de marso de mil he seis centos sesanta he tres annos francisco pereira da Cunha o fez escrever = Rei = o Conde de eiriseira Joanne Mendez de vazconsellos = Alvara por que Vossa Magestade ha por bem de que se goardem os privillegios que tem os cazeiros de nossa senhora da oliveira como assima se declara para Vossa Magestade ver = por despacho do Conselho de Guerra de vinte he tres de fevereiro de seis centos sesenta e tres registada no livro vinte da Secretaria de Guerra a folhas cento he quarenta he seis O quoal treslado de Alvara de Sua Magestadee eu Domingos Lopes escrivão ho fiz tresladar do proprio que se tornou a entregar ao reverendo padre João da Silva salgado Etts.r3 [?] he não dezia mais o ditto Alvara de Sua Magestade registado no ditto livro que fiqua hem meu poder he cartoreo da Camera a que me reporto he por verdade diguo do quoal pasei a prezente por minha mão [fl. 3 rQ] Bem he fielmente que com ho ditto livro consertei he com ho offesial comiguo abaixo assinado he vai na verdade sem couza que fasa duvida que por mim não vaa rezervado he por verdade me assinei hem esta ditta villa de Guimarais aos vinte he oitto dias do mes de janeiro de mil he seis centos he sesenta he seis annos paguouse desta he busca do livro cento he setenta reis. (Assinado: ) Francisco Monteiro da Costa (Assinatura do oficial, de difícil leitura) c congresso nisionco ae buimaraes / u. Aíonso Henriques e a sua tpoca

II. Apêndice Documental D oc. 3

1697, Janeiro 31, Guimarães Procuração passada pela Cabido de Nossa Senhora da Oliveira a Domingos Luís, morador em Gandarela, S. Clemente de Basto

A) Arquivo da Casa de Quinteia - S. Clemente de Basto, Fundo da Casa da Venda, de Gandarela, 2 fls., 216 x 310 mm, papel, bom estado, conservando o selo da Mesa Capitular, ms. do autor.

As Dignidades Conigos Cabbido da Insigne e Real Collegiada de Nossa Senhora da Oliveira da Vila de Guimarães abaixo asinados pella prezente fazemos nosso bastante procurador com poder de sobestabalecer (sic) em hu e muitos ficando esta sempre em sua força e vigor a Domingos Luis morador no lugar de Gandarela freguesia de S. Clemente de Basto para que ele e seus sobestabalecidos e cada hu in solidum possam requerer toda nossa justiça em todas nossas cauzas movidas e por mover e principalmente em huã que movemos a Antonio da Silva escrivão da Camera de Serolico de Basto sobre levar asento na feira da Gandarella de todas as mercancias que a dita feira vem, sendo a terra de prazo do Casal do outeiro em Gandarela, foreiro a esta meza Capitular; e poderão appellar, aggravar, tentar os julgadores e seus offeciais de sospeitos e nelles tornar a concentir parescendolhe e jurar em nossas almas todo o licito juramento porque para tudo lhe damos os poderes em direito necessários com livre e geral administração e só rezervamos para nos toda a nova Citação dada em Guimarães em Cabbido sub nossos sinais e sello de nossa meza Capitular aos 31 de Janeiro de 697. (Assinado:) O Chantre Prezidente Manoel Pinheiro de Morais (Assinado:) Domingos Pinto de Araújo / Mestre Scholla (Assinado:) Manoel de Carvalho Magalhães / Arcediago de Vila Cova (Assinado:) João Vas Silveira (Assinado:) João de Araújo (Assinado:) Diogo da Silva (SELO) (Assinado:) Antonio de Araújo da Maia (Assinado:) Hieronymo Lopes de Sá