ASPECTOS GEOLÓGICOS DA FOLHA ITIQUIRA – MIR 419 (SE.21-X-D) – MEMÓRIA TÉCNICA Parte 2: Sistematização das Informações Temáticas NÍVEL COMPILATÓRIO DSEE-GL-MT-052

PLANO DA OBRA

PROJETO DE DESENVOLVIMENTO AGROAMBIENTAL DO ESTADO DE - PRODEAGRO

ZONEAMENTO SÓCIO-ECONÔMICO-ECOLÓGICO: DIAGNÓSTICO SÓCIO- ECONÔMICO-ECOLÓGICO DO ESTADO DE MATO GROSSO E ASSISTÊNCIA TÉCNICA NA FORMULAÇÃO DA 2ª APROXIMAÇÃO

Parte 1: Consolidação de Dados Secundários Parte 2: Sistematização das Informações Temáticas Parte 3: Integração Temática Parte 4: Consolidação das Unidades

Governo do Estado de Mato Grosso Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação Geral (SEPLAN) Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD)

PROJETO DE DESENVOLVIMENTO AGROAMBIENTAL DO ESTADO DE MATO GROSSO - PRODEAGRO

ZONEAMENTO SÓCIO-ECONÔMICO-ECOLÓGICO: DIAGNÓSTICO SÓCIO- ECONÔMICO-ECOLÓGICO DO ESTADO DE MATO GROSSO E ASSISTÊNCIA TÉCNICA NA FORMULAÇÃO DA 2ª APROXIMAÇÃO

ASPECTOS GEOLÓGICOS DA FOLHA ITIQUIRA – MIR 419 (SE.21-X-D) – MEMÓRIA TÉCNICA Parte 2: Sistematização das Informações Temáticas NÍVEL COMPILATÓRIO

MÁRIO VITAL DOS SANTOS

CUIABÁ

MAIO, 2000

CNEC - Engenharia S.A.

GOVERNADOR DO ESTADO DE MATO GROSSO Dante Martins de Oliveira

VICE-GOVERNADOR José Rogério Salles

SECRETÁRIO DE ESTADO DE PLANEJAMENTO E COORDENAÇÃO GERAL Guilherme Frederico de Moura Müller

SUB SECRETÁRIO João José de Amorim

GERENTE ESTADUAL DO PRODEAGRO Mário Ney de Oliveira Teixeira

COORDENADORA DO ZONEAMENTO SÓCIO-ECONÔMICO-ECOLÓGICO Márcia Silva Pereira Rivera

MONITOR TÉCNICO DO ZONEAMENTO SÓCIO-ECONÔMICO-ECOLÓGICO Wagner de Oliveira Filippetti

ADMINISTRADOR TÉCNICO DO PNUD Arnaldo Alves Souza Neto

EQUIPE TÉCNICA DE ACOMPANHAMENTO E SUPERVISÃO DA SEPLAN

Coordenadora do Módulo MARIA LUCIDALVA COSTA MOREIRA (Engª Agrônoma)

Supervisor do Tema JURACI DE OZEDA ALLA FILHO (Geólogo)

Coordenação e Supervisão Cartográfica LIGIA CAMARGO MADRUGA (Engª Cartógrafa)

Supervisão do Banco de Dados GIOVANNI LEÃO ORMOND (Administrador de Banco de Dados) VICENTE DIAS FILHO (Analista de Sistema)

EQUIPE TÉCNICA DE EXECUÇÃO

CNEC - Engenharia S.A.

LUIZ MÁRIO TORTORELLO (Gerente do Projeto) KALIL A. A. FARRAN (Coordenador Técnico) MÁRIO VITAL DOS SANTOS (Coordenador Técnico do Meio Físico - Biótico)

TÉCNICA

PAULO CÉSAR PRESSINOTTI (Geólogo) DIRCEU PAGOTTO STEIN (Geólogo)

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 01

2. PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS 03

3. CARACTERIZAÇÃO DAS UNIDADES LITOESTRATIGRÁFICAS 04

3.1. GRUPO CUIABÁ 06

3.2. GRUPO RIO IVAÍ 07

3.3. FORMAÇÃO FURNAS 08

3.4. FORMAÇÃO PONTA GROSSA 09

3.5. FORMAÇÃO AQUIDAUANA 10

3.6. FORMAÇÃO PALERMO 11

3.7. GRUPO PASSA DOIS 13

3.8. FORMAÇÃO BOTUCATU 14

3.9. FORMAÇÃO MARÍLIA 15

3.10. SUPERFÍCIE PALEOGÊNICA PENEPLANIZADA COM LATOSSOLIZAÇÃO 16

3.11. FORMAÇÃO PANTANAL 17

3.12. ALUVIÕES ATUAIS 18

4. PRINCIPAIS ESTRUTURAS GEOLÓGICAS 18

5. RECURSOS MINERAIS 19

5.1. JAZIMENTOS MINERAIS 20

5.2. SITUAÇÃO LEGAL 20

6. POÇOS TUBULARES PROFUNDOS 21

7. ÁREAS CRÍTICAS E DEGRADADAS 21

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS/ANÁLISE CRÍTICA 23

9. FOTOGRAFIAS 25

10. BIBLIOGRAFIA 35

ANEXOS

ANEXO I - MAPAS

A001 “PONTOS/ESTAÇÕES GEOLÓGICAS DA FOLHA ITIQUIRA - MIR 419 (SE.21-X-D) - 1:250.000 (INCLUI A LOCALIZAÇÃO DOS POÇOS TUBULARES PROFUNDOS SELECIONADOS)”

A002 “PRINCIPAIS ASPECTOS GEOLÓGICOS DA FOLHA ITIQUIRA - MIR 419 (SE.21- X-D) – 1:250.000”

A003 “POTENCIALIDADE MINERAL E SITUAÇÃO LEGAL DA FOLHA ITIQUIRA – MIR 419 (SE.21-X-D) – 1:250.000”

ANEXO II - RELAÇÃO DAS FICHAS COM DESCRIÇÕES DE CAMPO

ANEXO III - RELAÇÃO DAS FICHAS COM CADASTRO DE JAZIMENTOS MINERAIS E SITUAÇÃO LEGAL

ANEXO IV - RELAÇÃO DAS FICHAS COM CADASTRO DE POÇOS TUBULARES PROFUNDOS SELECIONADOS

LISTA DE QUADROS

001 RELAÇÃO DOS DADOS FÍSICOS REFERENTES A QUANTIFICAÇÃO DAS INFORMAÇÕES SECUNDÁRIAS E PRIMÁRIAS 03

002 QUANTIFICAÇÃO DOS TÍTULOS MINERÁRIOS POR “STATUS” DA SITUAÇÃO LEGAL SEGUNDO AS PRINCIPAIS SUBSTÂNCIAS MINERAIS 20

003 PRINCIPAIS DADOS HIDROGEOLÓGICOS REFERENTES AOS POÇOS TUBULARES PROFUNDOS DA FOLHA ITIQUIRA – MIR 419 (SE.21-X-D) 21

LISTA DE FIGURAS

001 COLUNA LITOESTRATIGRÁFICA DA FOLHA ITIQUIRA – MIR 419 (SE.21-X-D) 5

LISTA DE FOTOGRAFIAS

001 SERRA DE SÃO JERÔNIMO, RIO ITIQUIRA (DP-419-22). DOBRAMENTO RECUMBENTE COM VERGÊNCIA PARA NORTE E NÚCLEO DE METASSILTITO MACIÇO OU COM FOLIAÇÃO INCIPIENTE. NOS FLANCOS A FOLIAÇÃO É MAIS NOTÓRIA. GRUPO CUIABÁ 25

002 SERRA DE SÃO JERÔNIMO, RIO ITIQUIRA (DP-419-22). METASSILTITOS MACIÇOS QUE OCORREM NO NÚCLEO DE DOBRAS. GRUPO CUIABÁ 26

003 SERRA DE SÃO JERÔNIMO, NA REGIÃO DO CÓRREGO CEMITÉRIO (DP-419-29). ESPORÕES AGUDOS DO GRUPO CUIABÁ RECOBERTOS POR SEDIMENTOS DO GRUPO RIO IVAÍ 27

004 NORTE DE ITIQUIRA – DESCIDA DA SERRA DA JIBÓIA (DP-419- 18). ESTRATOS CENTIMÉTRICOS DE SILEXITOS OOLÍTICOS E PISOLÍTICOS DISPOSTOS PLANO-PARALELAMENTE. FORMAÇÃO PALERMO 28

005 NORTE DE ITIQUIRA – DESCIDA DA SERRA DA JIBÓIA (DP-419- 18). SEQÜÊNCIA DE ARENITOS FINOS SILICIFICADOS DA FORMAÇÃO PALERMO 29

006 NORTE DE ITIQUIRA, ESTRADA ITIQUIRA – RONDONÓPOLIS (DP- 419-09). RELEVO TÍPICO A NORTE DE ITIQUIRA. TOPO APLANADO COM ESCARPAS SUSTENTADAS POR ARENITOS DA FORMAÇÃO MARÍLIA 30

007 RIO CORRENTES / PIQUIRI (DP-419-25). SUMIDOURO DO RIO CORRENTES/PIQUIRI COM DIÂMETRO DE APROXIMADAMENTE 15 M. FORMAÇÃO MARÍLIA 31

008 RIO PIQUIRI (DP-419-25). SURGÊNCIA DO RIO PIQUIRI. FORMAÇÃO MARÍLIA 32

009 ESTRADA ITIQUIRA/ (DP-419-03). CONGLOMERADOS CENOZÓICOS NA BACIA DO ITIQUIRA. MATRIZ ARGILO-ARENOSA ABUNDANTE. BLOCOS E MATACÕES DE ARENITOS E ARENITOS CONGLOMERÁTICOS MARÍLIA; ARENITOS AQUIDAUANA E BOTUCATU. MATACÕES EM DESTAQUE SÃO MARÍLIA. SEIXOS DE SÍLICA AMORFA E DE QUARTZO 33

010 ITIQUIRA (DP-419-02). ITIQUIRA, ESTRADA PARA ALTO ARAGUAIA. DEPÓSITO CENOZÓICO RECOBRINDO O RELEVO DE TODO VALE DO ITIQUIRA A MONTANTE DA CIDADE HOMÔNIMA. BLOCOS DE ARENITO MARÍLIA NO SOLO RESIDUAL 34

LISTA DE MAPAS

001 LOCALIZAÇÃO DA ÁREA MAPEADA 02

1

1. INTRODUÇÃO

A presente Memória Técnica refere-se aos trabalhos de geologia executados na Folha Itiquira - MIR 419 (SE.21-X-D), localizada no setor sudeste do Estado, entre os paralelos 17o00’ e 18o00’ de latitude sul e 54o00’ e 55o30’ de longitude oeste de Gr. (Mapa 001). Esta folha abriga, em sua porção setentrional, a divisa com o Estado do Mato Grosso do Sul, demarcada a leste através do Rio Corrente, que próximo ao limite oeste deságua no Rio Piquiri, que passa a ser o marco divisório entre os estados. O principal centro urbano corresponde a cidade de Itiquira, no canto nordeste da folha, cujo acesso se dá através da MT-299 a partir de Alto Araguaia, e pelas MTs 040, 370 e 299, estradas estas que se originam na BR-163, que corta transversalmente o centro da referida folha. Os principais rios que cortam a área, além dos que fazem divisa de estado, são o Itiquira, Ponte de Pedra, Comprido, e os córregos Cachoeira e Mangaba.

63°00' 61°30' 60°00' 58°30' 57°00' 55°30' 54°00' 52°30' 51°00' 49°30' 7° 7° LEGENDA SB 21 YD N

220 SC 22 XC Código da Base Cartográfica 8° 8° SC 20 XA SC 20 XB SC 21 VA SC 21 VB 278 Código MIR

244 245 246 247 9° 9° SC 20 XC SC 20 XD SC 21 VC SC 21 VD SC 21 XC SC 21 XD SC 22 VC SC 22 VD SC 22 XC Área Mapeada Referente a Memória Técnica

270 271 272 273 274 275 276 277 278 10° 10° SC 20 ZA SC 20 ZB SC 21 YA SC 21 YB SC 21 ZA SC 21 ZB SC 22 YA SC 22 YB SC 22 ZA FONTE : CNEC,1997

295 296 297 298 299 300 301 302 303 11° 11° SC 20 ZD SC 21 YC SC 21 YD SC 21 ZC SC 21 ZD SC 22 YC SC 22 YD SC 22 ZC

316 317 318 319 320 321 322 323 12° 12° SD 20 XB SD 21 VA SD 21 VB SD 21 XA SD 21 XB SD 22 VA SD 22 VB SD 22 XA

336 337 338 339 340 341 342 343 13° 13° SD 20 XD SD 21 VC SD 21 VD SD 21 XC SD 21 XD SD 22 VC SD 22 VD SD 22 XC

353 354 355 356 357 358 359 360 14° 14° SD 20 ZB SD 21 YA SD 21 YB SD 21 ZA SD 21 ZB SD 22 YA SD 22 YB SD 22 ZA

369 370 371 372 373 374 375 376 15° 15° SD 20 ZD SD 21 YC SD 21 YD SD 21 ZC SD 21 ZD SD 22 YC SD 22 YD

385 386 387 388 389 390 391 16° 16° SE 20 XB SE 21 VA SE 21 VB SE 21 XA SE 21 XB SE 22 VA SE 22 VB

401 402 403 404 405 406 407 17° 17° SE 21 VD SE 21 XC SE 21 XD SE 22 VC

417 418 419 420 18° 18° Mapa 001 SE 22 YA TÍTULO 0 50 100 250 Km LOCALIZAÇÃO DA ÁREA MAPEADA ( Esquemático )

433 19° 19° 63°00' 61°30' 60°00' 58°30' 57°00' 55°30' 54°00' 52°30' 51°00' 49°30' MINISTÉRIO DA BIRD BANCO INTERNACIONAL PARA RECONSTRUÇÃO E DESENVOLVIMENTO INTEGRAÇÃO NACIONAL

GOVERNO DO ESTADO DE MATO GROSSO SECRETARIA DE ESTADO DE PLANEJAMENTO E COORDENAÇÃO GERAL ZONEAMENTO SÓCIO-ECONÔMICO ECOLÓGICO Projeto de Desenvolvimento Agroambiental do Estado de Mato Grosso PRODEAGRO 2000 Engenharia S. A. 3

2. PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS

A metodologia geral que norteou os trabalhos de geologia na escala de 1:250.000, apresentados em 53 Memórias Técnicas que recobrem todo Estado de Mato Grosso, encontra- se detalhadamente descrita no Relatório DSEE-GL-RT-003 “Aspectos Gerais das Memórias Técnicas-Geologia”, onde são tratadas as informações gerais do projeto tais como a documentação geológica recuperada e analisada, os critérios interpretativos utilizados na identificação de zonas homólogas, os trabalhos de campo efetuados, e os aspectos temáticos no sensu strictu, tais como a conceituação das unidades litoestratigráficas aflorantes no Estado, os recursos minerais existentes, potencialidade e fragilidade geológica e o cadastro dos poços tubulares profundos.

Destacamos abaixo os projetos de cunho regional que abrangem o domínio da Folha Itiquira e suas imediações, sendo eles:

− Projeto Radambrasil Folha SE.21Corumbá. MME, 1982 (escala 1:1.000.000);

− O Uso da Terra e o Garimpo na Bacia do Rio São Lourenço, Mato Grosso. FEMA- MT; UFMT, 1990 (ESCALA 1:1.00.000); e,

− Projeto Zoneamento das Potencialidades dos Recursos Naturais da Amazônia Legal. IBGE, 1990 (escala 1:2.500.000).

As imagens de satélite 226/72 (12/07/94) e 225/72 (09/10/94) P&B banda 4, e falsa cor bandas 3, 4 e 5; e o mosaico de radar SE.21-X-D (Projeto Radambrasil) todos na escala 1:250.000, foram utilizados na delimitação das zonas homólogas, e abrangem totalmente a área da folha estudada.

O Quadro 001 sintetiza os principais dados físicos levantados na Folha Itiquira, com um total de 33 afloramentos descritos, 17 pontos amostrados, 1 jazimento mineral cadastrado, 9 poços tubulares profundos cadastrados e 10 áreas de situação legal analisadas.

Os pontos de afloramentos descritos (fichas com descrição de campo, Anexo II) e os poços tubulares profundos (fichas cadastrais, Anexo 6) encontram-se espacializados no Mapa A001 “Pontos/Estações Geológicas da Folha Itiquira – MIR 419”, Anexo I.

QUADRO 001 RELAÇÃO DOS DADOS FÍSICOS REFERENTES À QUANTIFICAÇÃO DAS INFORMAÇÕES SECUNDÁRIAS E PRIMÁRIAS DADOS LEVANTADOS DADOS DADOS PRIMÁRIOS TOTAL SECUNDÁRIOS (SEPLAN/CNEC) INFORMAÇÕES TEMÁTICAS Afloramentos Descritos - 33 33 Amostras Coletadas 17 17 Jazimentos Minerais 1 Poços Tubulares Profundos 9 Situação Legal (no de processos - ref. 10 Jul./95-DNPM) FONTE: CNEC, 1997

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3. CARACTERIZAÇÃO DAS UNIDADES LITOESTRATIGRÁFICAS

No âmbito desta folha, na área pertencente ao Estado de Mato Grosso, afloram doze unidades litoestratigráficas (Figura 001), representadas pelo Grupo Cuiabá, ocupando estreita faixa transversal no centro-oeste da folha, com cerca de 4% em área superficial; o Grupo Rio Ivaí, na borda ocidental da Serra de São Jerônimo, com menos de 1% de distribuição areal; Formação Furnas, prolongando-se em faixa a leste do domínio do Grupo Cuiabá, somando 8% da área; Formação Ponta Grossa, em pequena área próximo ao limite norte da folha, com menos de 0,1% de área superficial; Formação Aquidauana ocorrendo no quadrante NE, com 5% da área aproximadamente; Formação Palermo, distribuindo-se em pequenas regiões no setor NE ocupando cerca de 3%; Grupo Passa Dois, no extremo NE, com aproximadamente 1%; Formação Botucatu, também de maneira restrita no canto NE, com área em torno de 0,5%; Formação Marília, correspondendo a unidade mais expressiva na folha, com cerca de 34%, Superfície Paleogênica Peneplanizada com Latossolização, com aproximadamente 20% da área e ocupando o centro da folha; Formação Pantanal, com ocorrência na porção ocidental da folha abrangendo cerca de 20%; e as Aluviões Atuais que se distribuem preferencialmente ao longo das principais drenagens, somando aproximadamente 3,5% da área pertencente ao Estado, na folha. Estas unidades encontram-se descritas a seguir e espacializadas no Mapa A002 "Principais Aspectos Geológicos da Folha Itiquira", Anexo I.

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FIGURA 001 COLUNA LITOESTRATIGRÁFICA DA FOLHA ITIQUIRA

EON ERA PERÍODO DESCRIÇÃO SUMÁRIA DAS UNIDADES LITOESTRATIGRÁFICAS

Ha - Aluviões Atuais: areias, siltes, argilas e cascalhos

Qp - Formação Pantanal: Sedimentos arenosos, síltico-argilosos, argilo-arenosos e areno- conglomeráticos semi-consolidados e inconsolidados. Localmente com impregnações ferruginosas e salinas QUATERNÁRIO CENOZÓICO Tpspl - Superfície Peneplanizada com Latossolização: solos argilosos a argilo-arenosos microagregados de coloração vermelha-escura. Podem apresentar na base crosta ferruginosa, raramente com nódulos concrecionários de caulinita sotopostos ás crostas ferruginosas. TERCIÁRIO TERCIÁRIO PALEOGENO

Km - Formação Marília: arenitos de granulometria variada, paraconglomerados e arenitos argilosos, calcíferos em diferentes horizontes e, subordinadamente, níveis de siltitos e argilitos CRETÁCEO

Jb - Formação Botucatu: arenitos finos a médios, bimodais, com grãos bem MESOZÓICO arredondados e estratificações cruzadas de grande porte. Podem ocorrer na forma

GRUPO de intertrapes com basaltos. Desenvolvem extensos areiais JURÁSSICO SÃO BENTO

Ppd - Grupo Passa Dois: reúne as Formações Corumbataí e Irati não individualizadas. Pi - Formação Irati: alternância de folhelhos petros

FANEROZÓICO pirobetuminosos e fétidos, siltitos, calcários dolomíticos e cherts; Pc - Formação GRUPO Corumbataí: alternância rítmica de siltitos, folhelhos, argilitos e níveis de calcários. PASSA DOIS

PERMIANO Pp - Formação Palermo: arenitos finos a muito finos e siltitos com intercalações de sílex oolítico e/ou pisolítico

CPa - Formação Aquidauana: arenitos com níveis conglomeráticos e intercalações TUBARÃO de siltitos, argilitos e subordinadamente diamictitos SUPERGRUPO PERMO- CARBONÍFERO

Dpg - Formação Ponta Grossa: arenitos finos a muito finos com intercalações de PALEOZÓICO siltitos, argilitos e delgados níveis conglomeráticos DEVONIANO

SDf - Formação Furnas: arenitos ortoquartzíticos de granulometria grosseira a localmente fina. Na base apresentam horizontes conglomeráticos monomíticos de GRUPO PARANÁ espessuras métricas SILURO- DEVONIANO

OSri - Grupo Rio Ivaí: arenitos finos em bancos espessos e maciços, ocasionalmente grosseiros e conglomeráticos em posições basais SILURIANO ORDOVÍCIO-

PScb - Grupo Cuiabá: filitos diversos, metassiltitos, ardósias, metarenitos, metarcóseos, metagrauvacas, xistos, metaconglomerados, quartzitos, metavulcânicas ácidas e básicas, mármores calcíticos e dolomíticos. Presença conspícua de veios de quartzo SUPERIOR PROTEROZÓICO FONTE: CNEC, 1997

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3.1. GRUPO CUIABÁ

De acordo com MARINI et al. (1984), o nome Cuiabá foi primeiramente empregado por EVANS (1894) e incorporado na literatura pelos sucessivos trabalhos de ALMEIDA (1945, 1954, 1964 e 1965). É constituído por metamorfitos de baixo grau, facies xisto-verde, com predomínio de filitos, micaxistos e, subordinadamente, quartzitos e metagrauvacas, mármores calcíticos e dolomíticos, calcários e metaconglomerados. Os xistos classificam-se petrograficamente em micaxistos quartzosos ou feldspáticos, raramente em calcoxistos. Veios de quartzo são ubíquos nessas rochas. São observadas passagens gradacionais de mica xistos para filitos e quartzitos e, com menor freqüência, para metarcóseos e metagrauvacas. Filitos grafitosos e hematíticos ocorrem não tão amiúde.

Os calcários via de regra em bancos maciços, juntamente com os mármores, ocorrem sob forma lenticular dentro da seqüência xistosa, possuem pequena espessura e aspecto sacaróide. Os quartzitos possuem granulação fina, estratificação plano-paralela, raramente cruzada, com abundância de moscovita. As grauvacas, relativamente freqüentes, têm grande dureza e quase nunca ostentam estratificação, as vezes intercalam-se com filitos produzindo típicos acamamentos gradacionais.

Distribui-se ao longo de um arco com concavidade para sudeste, extenso por cerca de 1.500 km, que constitui a Faixa de Dobramentos Paraguai - Araguaia, ocupando a porção interna desta faixa. Porém, em grande parte, acha-se oculto sob as coberturas fanerozóicas da Bacia Sedimentar do Paraná, dos pantanais matogrossenses e da Depressão do Araguaia. Encontra-se exposto praticamente ao longo de toda borda noroeste da Bacia Sedimentar do Paraná, desde a região de Bonito (MS) até Aragarças (GO).

Na Folha Itiquira, a faixa de afloramento do Grupo Cuiabá situa-se ao longo da vertente ocidental da Serra São Jerônimo, recoberta por sedimentos quaternários da Formação Pantanal, no sopé da serra e sotoposto ao Grupo Rio Ivaí, no chapadão; em ambos casos em contato erosivo discordante (DP-419-29).

O Grupo Cuiabá apresenta seqüências dobradas com grau metamórfico incipiente. São metargilitos marrom arroxeados dispostos em flancos de dobras recumbentes fechadas, com eixo a N20E/07 SW (DP-419-22), com foliação tênue e espaçada (DP-419-29); e metassiltitos cinza esverdeados, ocupando núcleos praticamente maciços. A mica aparece em baixa porcentagem, quase inexistente nos metassiltitos.

A orientação geral da foliação está a NE-SW, com variações locais causadas por falhamentos de gravidade. Zonas de intenso fraturamento a N25-35E/ subvertical, indicam movimento normal com abatimento do bloco a oeste. Pelo menos em um local observou-se estrutura em flor, com rejeito direcional, de idade supostamente cenozóica, com planos orientados a N45E e lineações subhorizontais para SW (DP-419-29).

No geral, os solos são arenosos a areno-argilosos, pouco espessos (inferior a 1 m), localmente com pequena cobertura cascalhosa que pode estar mais ou menos ferruginizada.

O padrão de imageamento que retrata o Grupo Cuiabá caracteriza-se por relevo de morros e morrotes digitados nas escarpas da serra, com perfis convexos estreitos e topos agudos, e entalhes freqüentes e pronunciados na drenagem primária. A tonalidade é cinza escuro e a textura é fina a lisa. Nas partes aplanadas de sopé, na planície e que refletem pedimentos rochosos com cobertura detrítica delgada, os padrões diferem-se apenas pela morfologia.

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3.2. GRUPO RIO IVAÍ

Conforme ASSINE (1996), o Grupo Rio Ivaí compreende, da base para o topo, as formações Alto Garças, Iapó e Vila Maria. Das três, apenas a última foi até o momento datada, tendo sido deposicionada no Llandoveriano Inferior, verificada com base em tetradas de esporos de plantas terrestres e no fitoplâncton (GLAY, et al., 1985 apud ASSINE, 1996).

A Formação Furnas foi durante muitos anos considerada a unidade litoestratigráfica basal da Bacia do Paraná em sua porção brasileira, embora sedimentos subjacentes já tivessem sido constatados por MAACK (1947), que descobriu diamictitos sob os arenitos conglomeráticos daquela unidade em afloramentos no Estado do Paraná. Para tais sedimentos, propôs a denominação de Formação Iapó, sugerindo idade siluriana por correlação com unidades presentes no Grupo Table Mountain da África do Sul. Estes fatos, porém, não tiveram muita repercussão na comunidade geológica brasileira até que fosse comunicada a descoberta de sedimentos da Formação Vila Maria (FARIA & REIS NETO, 1978), na borda norte da bacia.

A Formação Vila Maria, definida por FARIA & REIS NETO (op. cit.), compreende um pacote sedimentar com espessura máxima de 40 m, aflorante na região de Piranhas - Bom Jardim, no sudoeste de Goiás, sotoposta a Formação Furnas, em contato concordante e gradacional. A designação provém do povoado Vila Maria, ao sul de Arenópolis, no Estado de Goiás. Da base para o topo, FARIA & REIS NETO (op. cit.) descreveram-na como constituída de conglomerado polimítico com intercalações de folhelhos, folhelhos gradando de cinza esverdeado a marrom, fossilíferos (orbiculóidea), com laminações de calcita, arenito com laminação cruzada e estrutura flaser em interlaminações de siltitos e folhelho; siltito vermelho gradando para arenito fino, laminado e moscovítico. A seqüência inferior (conglomerado e folhelho) apresenta características de um turbidito de facies proximal, enquanto a seqüência arenosa superior, de planície de maré.

FARIA (1982) dividiu-a em três seqüências litológicas: seqüência basal, constituída de diamictitos polimíticos com ocasionais intercalações delgadas de folhelhos e arenitos; seqüência intermediária, composta de folhelhos fossilíferos com bancos de arenitos finos, feldspáticos a arcoseanos e calcíferos; e a seqüência superior, constituída de arenitos róseos a avermelhados, finos, feldspáticos, que são sotopostos por siltitos avermelhados com níveis arenosos.

Os níveis de folhelhos contém a fauna fóssil da formação, (brachiopodos, pelecípodos e archeogastrópodos). A fauna fóssil coletada não forneceu caracteres seguros para afirmação de idade siluriana para a Formação Vila Maria, entretanto a ocorrência do icnogênero “arthrophycus” descrita por BURJACK & POPP (1981) permitiu atribuir idade Llandoveriano Inferior (Siluriano Inferior) para a Formação Vila Maria.

Quanto ao ambiente de sedimentação, Faria (op. cit.) considera ambiente litorâneo de águas rasas sob influência de marés, com exposições periódicas (laminações cruzadas e gretas de contração). A presença de importantes intervalos pelíticos demonstra condições temporárias de ambiente sub-litorâneo. A cor vermelha predominante, sobretudo nos siltitos e arenitos feldspáticos, sugere ambiente oxidante para essas litologias.

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ASSINE, et al. (1994) propuseram a subtração da seção basal, constituída por diamictitos e fácies associadas, por considerarem-na a expressão da Formação Iapó no flanco norte da bacia. A Formação Vila Maria, assim redefinida, inicia-se com uma seção de folhelhos, que apresentam colorações geralmente vermelhas, com ocorrências locais de cor cinza-escura. Em direção ao topo, intercalações de arenitos muito finos dão origem a facies heterolíticas, caracterizadas pela interestratificação de delgadas camadas de arenitos muito finos, retrabalhados por ondas e de siltitos argilosos com abundantes marcas de ondas assimétricas (ASSINE, 1996).

De acordo com ASSINE (op. cit.), a origem marinha da Fm. Vila Maria é atestada pela presença de variados tipos de invertebraos (pelecípodos, gastrópodos e braquiópodos inarticulados), descritos por POPP, et al. (1991) e acritarcas (GRAY et al., 1985).

Ainda segundo ASSINE (1996), os arenitos da Fm. Alto Garças são facilmente confundidos com os da Fm. Furnas. A chave para a sua identificação é a constatação dos diamictitos da Formação Iapó e/ou folhelhos da Fm. Vila Maria, que, toda via, nem sempre ocorrem devido a erosão do topo do Grupo Rio Ivaí.

No âmbito desta folha, o Grupo Rio Ivaí ocorre no flanco oeste da Serra São Jerônimo e se estende para Mato Grosso do Sul. A cartografia desta unidade, nesta porção da serra, é decorrente dos trabalhos de ASSINE (1996), pois, ao longo da estrada vicinal que tem início na MT-163 (a norte da fazenda São Carlos) e direciona-se para o Morro Formoso, cortando o flanco oeste da Serra São Jerônimo, não se caracterizou litotipos que permitissem diagnosticar rigorosamente o Grupo Rio Ivaí.

O reconhecimento desta unidade passa pelo seu conteúdo fossilífero ou por seções geológicas que permitam seu prolongamento; isto, obviamente, em trabalho de cunho estratigráfico.

3.3. FORMAÇÃO FURNAS

A Formação Furnas é a unidade basal do Grupo Paraná. O nome Furnas foi utilizado por OLIVEIRA (1912) para designar os arenitos das escarpas da Serra de Furnas e de Serrinha (PR), aflorantes desde o norte da estação Serrinha até as imediações de Itapeva (SP). A mesma seqüência sedimentar havia recebido anteriormente outras denominações, entre as quais a de Serrinha (DERBY, 1878), Arenito Branco de Faxina (GONZAGA DE CAMPOS, 1889) e Arenito da Chapada (EVANS, 1894). Em que pese o caráter prioritário destas últimas denominações, o nome Furnas prevalece por ser de aceitação e uso generalizado (MÜHLMANN, et al. 1974 In: Revisão estratigráfica da Bacia do Paraná. PETROBRÁS, Relatório DESUL-444, 1974).

A Formação Furnas consiste de arenitos esbranquiçados, localmente arroxeados, médios a grosseiros, friáveis em superfície, regularmente selecionados, grãos angulares a subangulares, quartzosos e com matriz caulinítica. Secundariamente, desenvolvem-se intervalos de pequena espessura de arenitos conglomeráticos, arenitos finos e siltitos argilosos, sendo estes últimos freqüentemente micáceos. Os arenitos conglomeráticos são mais freqüentes na parte inferior da formação e as partículas constituem-se principalmente de seixos e grânulos de material quartzoso. Estratificação cruzada acanalada é a feição sedimentar mais conspícua da formação. Além desta, encontram-se também intervalos com estratificação cruzada planar e estratificação plano-paralela.

O ambiente de sedimentação é controverso sendo postulado ambiente praial, estuarino principalmente, francamente marinho a continental para sua gênese, por diferentes autores.

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De acordo com MÜHLMANN, et al. (op. cit.), o tipo de estratificação cruzada, a presença de estruturas de corte e preenchimento, depósitos residuais de canais nos quais são encontrados seixos de argila e a neoformação de caulinita indicam ambiente continental fluvial para a Formação Furnas.

A Formação Furnas ocorre restritamente ao longo da Serra São Jerônimo, sustentando escarpas a oeste e aflorando em vales da vertente oposta.

Na Folha Itiquira faz contatos discordantes erosivos com o Grupo Rio Ivaí, sotoposto e com a Formação Marília, sobreposta. Apresenta-se soerguida por falhamentos normais que controlam a borda oriental da planície pantaneira.

Constitui-se predominantemente por arenitos finos e muito finos, com seleção média a ruim, grãos angulosos e subangulosos, quase sempre sem matriz, essencialmente quartzosos e cor branca típica. Na região, muito raramente apresentam feldspatos ou filme caulinítico envolvendo os grãos e, mais raramente ainda, micas.

No desfiladeiro do Rio Itiquira, um sumidouro que teve o teto da caverna abatido (DP- 419-25), controlado por lineamento do sistema NE-SW, mostra uma seqüência com cerca de 12 m de espessura para essa unidade. São bancos métricos de arenitos de granulometria muito fina até média e de arenito conglomerático com matriz mais grossa e grânulos de quartzo. São predominantemente maciços, subordinadamente com estratificação cruzada acanalada, dispostos plano-paralelamente.

Na planície pantaneira aflora sustentando a Serra Solteira e o Morro Formoso, às margens do Rio Piquiri, além de testemunhos residuais de menor porte, esparços e controlados por estruturas NE-SW.

O padrão imageado da Formação Furnas é marcado por feições morfológicas de escarpa e cobertura de solos arenosos no chapadão, com fraturamento NE-SW destacado por vales. Condicionam tons de cinza claros e textura fina. Nos vales define-se tons mais escuros e texturas lisas, com rupturas de declive no limite superior. Ravinamentos provocados por água servida foram observados em DP-419-21 e 24 (borda oeste da Serra São Jerônimo) observando-se certa incidência de processos erosivos concentrados junto a núcleos urbanos.

3.4. FORMAÇÃO PONTA GROSSA

O termo Ponta Grossa foi utilizado pela primeira vez por OLIVEIRA (1912) para designar os folhelhos aflorantes nos arredores da cidade homônima no Paraná. A Formação Ponta Grossa constitui-se de folhelhos, folhelhos sílticos e siltitos cinza escuros a pretos, localmente carbonosos, fossilíferos, micáceos, com intercalações de arenitos cinza claros, finos a muito finos, grãos angulares e subangulares, argilosos, micáceos, fossilíferos, localmente formando bancos de até 5 m de espessura. Quando alterada, a formação apresenta cores variegadas, predominando colorações amarela, arroxeada e castanha.

A estrutura sedimentar mais conspícua é a laminação plano-paralela. Em certos intervalos são observadas estratificações cruzadas de pequeno porte, localmente acanalada, laminação cruzada, laminação flaser, marcas onduladas, bioturbação e estruturas de escorregamento.

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O conteúdo fossilífero da Formação Ponta Grossa indica de maneira inquestionável condições marinhas de deposição. A maior parte dos sedimentos da Formação Ponta Grossa foram depositados em ambiente de águas rasas sob influência de marés. Os folhelhos pretos laminados parecem ter-se depositados em águas calmas, e estão presentes em subsuperfície (MÜHLMANN et al., 1974, In: Revisão Estratigráfica da Bacia do Paraná. PETROBRÁS, Relatório DESUL-444, 1974).

A Formação Ponta Grossa é restrita à diminuta porção da vertente norte da Serra da Jibóia, em seu limite ocidental, nas cabeceiras do Rio Juriguinho. Aflora num anfiteatro de erosão que representa a terminação sul dos extensos relevos colinosos da unidade na Folha Rondonópolis, sotoposta a termos da Formação Aquidauana e da Formação Marília, em discordância erosiva.

A característica básica da unidade é a presença de camadas espessas de argilitos finamente laminados, micáceos, de cores cinzentas e esverdeadas, dispostos em bancos métricos e decimétricos em acomodação plano-paralela. Intercalações de siltitos e mais raras de arenitos, sempre micáceos, ocorrem com freqüência.

O padrão imageado da Formação Ponta Grossa é dado por tons médios de cinza e textura fina, com sombreamento mais escuro e nuanças claras devido ao ravinamentos em condições de cabeceiras.

3.5. FORMAÇÃO AQUIDAUANA

O nome Aquidauana foi utilizado pela primeira vez por LISBOA (1909) para designar sedimentos vermelhos que ocorrem no vale do Rio Aquidauana, Mato Grosso do Sul, indicando como seção tipo aquela atravessada pela estrada de Ferro Noroeste do Brasil, neste mesmo vale.

No Estado de Mato Grosso, de acordo com GONÇALVES & SCHENEIDER (1970, In: Geologia do Centro Leste de Mato Grosso, PETROBRÁS, 1970) a Formação Aquidauana constitui-se predominantemente de sedimentos arenosos de coloração vermelha arroxeada. Grosseiramente, podem ser identificados 3 conjuntos litológicos nessa formação. A porção inferior caracteriza-se pela predominância de arenitos vermelho arroxeados, médio a grosseiros, estratificação cruzada acanalada, com desenvolvimento subordinado de diamictitos, clásticos finos, arenito esbranquiçado, grosseiro e conglomerático e delgado conglomerado basal.

Na porção média tem-se amplo desenvolvimento de siltitos, folhelhos e arenitos finos, vermelho arroxeados, finamente estratificados plano-paralelamente; localmente, intercalados neste conjunto, ocorrem diamictitos, folhelhos cinza e cinza esverdeados; nos termos argilosos, a estratificação apresenta, localmente, aspecto várvico.

Na porção superior da formação voltam a predominar sedimentos arenosos, no topo da unidade ocorre em muitos locais um pacote de 30 m de espessura constituído de arenito vermelho-tijolo, médio, regularmente selecionado, com estratificação cruzada do tipo planar.

A coloração avermelhada dos sedimentos e as estruturas sedimentares, principalmente cruzada acanalada, sugerem que a deposição ocorreu em ambiente continental, altamente oxidante, por sistemas fluviais e lacustrinos associados. Não são encontrados sedimentos tipicamente glaciais, embora seja suposta a presença de glacial próximo a área de sedimentação.

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Na Folha Itiquira, a formação ocorre restrita ao sopé da Serra da Jibóia, alçada por movimentação normal que controla sua distribuição a sul, num registro topográfico bastante diferenciado das demais regiões de ocorrência, onde ocupa posições cimeiras.

Origina relevo aplanado no alto curso do rio Ponte de Pedra, recoberto por seqüências permianas da Formação Palermo, em contato erosivo, e cretáceas da Formação Marília, também em contato erosivo. Ocorrências não mapeáveis na escala adotada aparecem tectonicamente embutidas no Palermo, a norte de Itiquira.

Na restrita área de exposição da folha ocorrem, predominantemente, arenitos finos com contribuição variável de granulometria média, mal selecionados portando, grãos subangulosos na fração fina e arredondados na fração média, maciços, quartzosos, com pequena contribuição de feldspatos, cor vermelho tijolo e disposição em bancos métricos. O tectonismo altera, ocasionalmente, a posição horizontalizada do acamamento.

O padrão imageado do Aquidauana normalmente é variado, decorrência das diversas fácies que constituem a unidade. Contudo, o relevo estruturado e os vales entalhando desfiladeiros são feições características. Na região mostra uma suave estruturação, muito descaracterizada pelo arrasamento do relevo e pelos morros residuais sobrepostos pela Formação Marília, e vales abertos e suavizados. O tom de cinza sofre muito dessas interferências, tendendo a médio, e a textura é fina.

As espessuras de solo são muito variadas, assim em DP-419-12 predominam afloramentos rochosos, já em DP-419-13 e 17, os solos são arenosos a areno-silto-argilosos com espessuras superiores a 3 m.

3.6. FORMAÇÃO PALERMO

O nome Palermo foi empregado pela primeira vez por WHITE (1908) para designar uma seqüência de siltitos arenosos e argilosos que ocorrem sobrepostos à Formação Rio Bonito no sudeste de Santa Catarina. Na área tipo, WHITE (op. cit.) indicou duas seções para esta unidade litoestratigráfica. Uma aflorante ao longo da estrada Lauro Muller-São Joaquim, Santa Catarina, outra descrita nas proximidades de Vila Palermo, município de Lauro Muller, Santa Catarina.

A Formação Palermo, litologicamente, apresenta-se homogênea em toda a bacia, exceção feita as áreas do Arco de Ponta Grossa, onde desenvolve, em sua parte superior, arenitos muito finos; e a sua área de afloramentos em São Paulo, onde aparecem arenitos e conglomerados intercalados na seqüência de siltitos.

O contato inferior da Formação Palermo com a Formação Rio Bonito é concordante. Em Mato Grosso e Goiás este contato se faz discordantemente com a Formação Aquidauana. As características litológicas e sedimentares relativamente uniformes e a grande extensão da Formação Palermo indicam que, após a Formação Rio Bonito, toda a área atual da bacia foi coberta por transgressão marinha, transformando-se numa extensa plataforma rasa. A intensa bioturbação encontrada nesses sedimentos indica que a deposição deu-se abaixo do nível de ação das ondas. Localmente, a ação de correntes foi mais intensa originando a formação de laminações paralelas associadas com marcas ondulares (MÜHLMANN, et al., 1974 In: Revisão Estratigráfica da Bacia do Paraná. Petrobrás. Relatório DESUL-444, 1974)

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A Formação Palermo constitui-se de siltitos e siltitos arenosos, de cores cinza em subsuperfície e amarelo esverdeado em superfície, por alteração. Estes sedimentos encontram-se intensamente bioturbados resultando na quase completa destruição das estruturas sedimentares originais. Estas, quando preservadas, caracterizam-se por laminações cruzadas de muito pequeno porte.

No âmbito da folha, a Formação Palermo ocorre em extenso nível rebaixado que se define no sopé da Serra da Jibóia e estende-se, com caimento suave, em direção à calha do Rio Itiquira, aflorando em seu leito (DP-419-18). O confinamento tectônico dessa distribuição é marcante, dado por falhas normais a NE-SW, com abatimentos dos blocos a sul. Expressivos lineamentos a NW-SE controlam secundariamente a distribuição da unidade.

Os contatos são discordantes com a Formação Aquidauana, sotoposta em ângulo, e por discordância erosiva com a Formação Marília, sobreposta.

A seqüência Palermo é caracteristicamente fina, com silicificação intensa que desfigura as feições originais dos pacotes (DP-419-18). Há maior representatividade de argilitos finamente laminados, dispostos em camadas plano-paralelas de espessura decimétrica, com cores arroxeadas de alteração que são típicas da unidade na região. Intercalações delgadas de arenitos muito finos e siltitos são comuns. Compõem seqüências com arenitos muito finos, bem selecionados, quartzosos, maciços e muito restritamente com estratificação cruzada de pequeno e médio porte, de cor ocre e com siltitos, este de ocorrência subordinada, geralmente maciços e cinza amarelado.

Intercalações de níveis de sílex e aglomerados silicosos são constantes. Constituem horizontes com espessuras decimétricas, originados pela recorrência de estratos centimétricos. Também, e freqüentemente, ocorrem níveis delgados intercalados solitariamente às camadas, geralmente de argilitos e siltitos. Geralmente os níveis mais maciços refletem oólitos e pisólitos, enquanto os aglomerados se mostram ricos em geodos milimétricos e mostram aspecto conglomerático, envolvendo e desestruturando o sedimento original. Apresentam cores cinzentas e esbranquiçadas. O aplanamento que conforma o pedimento sustentado por Palermo na margem direita do ribeirão Ponte de Pedra é sustentado por níveis silicosos, bem como por morros residuais achatados sobre o próprio pavimento (DP-419-18).

A deformação tectônica da unidade é particularmente notória ao longo da falha normal de Itiquira. Na ponte sobre o Rio Itiquira , na cidade homônima, às margens do rio, ocorre seqüência com siltito argiloso na base, maciço. Sobre ele, um pacote com 6 m de espessura de arenitos com estratificação cruzada de médio porte, englobando blocos achatados e angulosos de arenito Aquidauana segundo a inclinação da laminação cruzada (DP-419-08). Passam para arenitos em estratos decimétricos com tênue estratificação plano- paralela que englobam bolotas de argilito roxo e transicionam para siltitos no topo, pelo aumento gradativo de finos.

Para o topo da vertente, sem continuidade física, a seqüência modifica-se totalmente em termos de arranjo, afetada por falhamentos normais. São termos da Formação Palermo com lascas de arenitos Aquidauana e porções de arenitos Marília, sobrepostas desorganizadamente.

Conglomerados vermelhos com seixos de arenitos Aquidauana e possivelmente, em parte, Marília, além de seixos de quartzo, sílex, aglomerado silicoso e argilito Palermo, com matriz arenosa, também são afetados pelos esforços tectônicos (DP-419-08). O arranjo estrutural menor sugere movimentos normais e inversos, com componentes direcionais, se bem que a análise macroscópica evidencia deslocamento normal. Ao se considerar fragmentos Marília nos conglomerados, estes seriam então cenozóicos e a atividade tectônica recente. Contudo, não se pode assegurar que tais fragmentos sejam realmente do Marília. O

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posicionamento estratigráfico deste conglomerado é bastante duvidoso, podendo este tectonismo ter ocorrido pós-Cretáceo e com ressurgência cenozóica, com comportamento também compressivo conforme verificado pela componente direcional dos deslocamentos e pela estruturação em flor dos planos de falha. A exposição não permite maiores considerações sem o apoio de uma análise estrutural detalhada de toda região.

O padrão de imageamento da Formação Palermo mostra tons de cinza claro com nuanças para branco, decorrência do material silicoso aflorante e do cascalho resultante sobre o terreno. Entalhes rasos da drenagem, com fundos esbranquiçados completam o padrão no relevo aplanado, com morros testemunhos sobrepostos.

Os solos oriundos da Formação Palermo também são de natureza variável. Em DP- 419-15 predominam solos argilosos com espessuras entre 0,5 e 1,0 m, em DP-419-08 predomina afloramento rochoso e cascalho silexítico e em DP-419-13, os solos são arenos com pelo menos 3 m de espessura.

3.7. GRUPO PASSA DOIS

O nome Passa Dois foi introduzido por WHITE (1906, 1908), na coluna estratigráfica da Bacia do Paraná, representando o intervalo estratigráfico: folhelho Irati, folhelho Estrada Nova e Calcário Rocinha. MENDES (1967) adotou o nome na categoria de Grupo, composta pelas formações Irati, Estrada Nova e Rio do Rasto. MÜHLMANN et al. (op. cit.) mantém para o grupo Passa Dois o mesmo limite estratigráfico estabelecido por MENDES (1967), onde, na porção sul da Bacia do Paraná, está representado pelas formações Irati, Serra Alta, Terezina e Rio do Rasto, enquanto que nos estados de São Paulo, Goiás e Mato Grosso, pelas formações Irati e Corumbataí.

Em relação a Formação Irati, seu nome foi utilizado pela primeira vez por WHITE (1906, 1908) referindo-se a folhelhos pirobetuminosos “schisto preto” e calcários associados, com restos fósseis do réptil Mesossaurus brasilienses. Em sua definição original englobava também os folhelhos sílticos da atual Formação Serra Alta (MÜHLMANN, et al., op. cit.). Sua seção tipo situa-se no município de Irati-PR, 3 km a sul da estação ferroviária do Paraná, num corte da estrada de ferro da Rede Ferroviária Federal. A espessura da formação em superfície, no flanco leste da Bacia, é da ordem de 40 m, sendo mais reduzida no Estado de Mato Grosso. Mesosaurus brasiliensis e Stereosternum tumidum são os fósseis mais característicos da Formação Irati. Além destes, carapaças de crustáceos, restos de vegetais, troncos silicificados, restos de peixes, insetos e palinomorfos completam o conteúdo fossilífero da formação.

A Formação Corumbataí tem sua citação original de ANDRADE SILVA & ANDRADE (1927), na localidade tipo vale do Rio Corumbataí, Estado de São Paulo. Corresponde aos sedimentos situados entre as formações Irati e Pirambóia nos estados de São Paulo, Goiás e Mato Grosso. Compõe-se, na sua seção inferior, de folhelhos e siltitos cinza escuro e preto, com fraturas conchoidais e concreções calcíferas, e ainda um conjunto de argilitos e folhelhos cinza escuro, de aspecto rítmico, com ocasionais leitos de calcários silicificados, oolíticos em parte, além de níveis coquinóides. Na seção superior ocorre uma seqüência de argilitos e arenitos finos argilosos, regular a bem classificados, esverdeados, arroxeados e avermelhados.

Devido a pequena representatividade espacial destas duas formações no Estado de Mato Grosso, estas foram mapeadas como uma associação indivisa na escala 1:250.000 e englobadas como Grupo Passa Dois.

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Na Folha Itiquira, o Grupo Passa Dois aflora restritamente no extremo nordeste, nas cabeceiras do ribeirão Pedra de Fogo. Aparentemente sua área de ocorrência é condicionada pelos lineamentos com movimentação normal que se colocam a NE-SW. A área mapeada é extensão das ocorrências observadas na Folha Mineiros, a leste, com litotipos da formações Irati e Corumbataí aflorantes nas calhas de drenagem.

As relações de contato são observadas parcialmente com as formações Botucatu e Marília, sobrepostas, sendo discordante e erosivo. Entre as formações do grupo os contatos são concordantes.

Nas posições topográficas mais altas de cabeceiras, predominam arenitos muito finos, bem selecionados, quartzosos, com um pouco de mica, ricos em matriz argilosa de alteração, tendência a camadas maciças decimétricas e cores ocre e ocre rosado. Intercalados, e sobrepostos, aparecem siltitos, argilosos e arenosos, em camadas decimétricas maciças, com alguma mica e cores de alteração ocre esbranquiçado. Intercalam-se níveis de rochas silicosas constituídas por oólitos submilimétricos e matriz afanítica, de cores acinzentadas, aspecto bandado, dispostas segundo o acamamento plano-paralelo.

Estratigraficamente abaixo, ocorre seqüência de calcário cinza claro, com laminação fina plano-paralela, com intercalações de níveis submilimétricos de folhelho carbonoso cinza escuro, laminado e também carbonático. Na base aflora nível de sílex com geodos até centimétricos, com pintas muito finas douradas, sugerindo metálicos. Em todo pacote, nos diversos locais de ocorrência, o acamamento é horizontalizado.

O padrão imageado indica vales rasos e abertos, com rupturas de declividade emoldurando as calhas. Os tons de cinza tendem de médio a escuro com intercalações claras e a textura de fina a lisa.

3.8. FORMAÇÃO BOTUCATU

O nome Botucatu foi introduzido na literatura da Bacia do Paraná por GONZAGA DE CAMPOS (1889). MÜHLMANN, et al. (1974 In: Revisão Estratigráfica da Bacia do Paraná. PETROBRÁS, Relatório DESUL-444, 1974), na revisão estratigráfica da Bacia de Paraná, empregou o nome Botucatu na categoria de formação para designar arenitos eólicos situados imediatamente abaixo dos primeiros derrames basálticos da Formação Serra Geral.

Compreende uma seqüência de arenitos avermelhados, finos a médios, com abundantes estratificações cruzadas. Os grãos apresentam distribuição bimodal, são quartzosos, friáveis, foscos e geralmente bem arredondados. Localmente, e com maior freqüência na parte basal, ocorrem arenitos argilosos mal selecionados.

Na Folha Itiquira, a área de afloramento da Formação Botucatu é extremamente reduzida, ocupando alguns poucos quilômetros quadrados do vértice nordeste e sudeste. É a porção final das extensas áreas de afloramento a leste, correspondendo a porção de chapadão com escarpas e patamares rebaixados. Faz contatos discordantes erosivos com os grupos Passa Dois, sotoposto, e Marília, que o recobre, sem contudo mostrar as relações, visto a cobertura pedo-laterítica presente.

Constitui-se por arenito muito fino, geralmente silicificado, com estratificação cruzada de grande porte, com laminação interna grosseira. São termos arenosos bem selecionados, com grãos bem arredondados e cor bege rosada.

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A pequena área exposta segue padrões imageados de chapadões, com relevo suave definindo quebras nas bordas, por vezes com rupturas sustentadas por níveis silicificados resistentes. Os vales são extremamente abertos e rasos, com tons esbranquiçados denotando grande quantidade de areias. No geral, o tom de cinza é claro e a textura fina. Na região mostra-se com variações de tons e texturas, reflexo da associação entre escarpas, patamares e vales profundos com encostas estruturadas.

3.9. FORMAÇÃO MARÍLIA

As primeiras considerações a respeito da Formação Marília devem-se a ALMEIDA & BARBOSA (1953), quando, no Estado de São Paulo, definiram-na para representar sedimentos ricos em cimento calcífero, amplamente fossilíferos, ocorrentes na parte superior da “Série” Bauru. A unidade foi descrita composta por arenitos grosseiros a conglomeráticos, matriz calcífera, ocorrência em bancos com espessura média de 1 a 2 m, maciços ou com acamamento incipiente subparalelo e descontínuo, raramente apresentando estratificações cruzada de médio porte, com seixos concentrados nos estratos cruzados; raras camadas descontínuas de lamitos vermelhos e calcário são encontradas.

As condições de aridez são responsáveis por calcretização e silcretização, especialmente na região de São Paulo, Goiás e Minas Gerais. Neste aspecto, quando o cimento e os nódulos de carbonato de cálcio são abundantes, é possível utilizá-los como corretivo de solos, desde que blendados com calcários magnesianos. A presença de calcretes de águas subterrâneas no Triângulo Mineiro representa, na região, importante fonte de calcário para cimento.

A Formação Marília ocorre na porção leste do Estado de Mato Grosso na forma de manchas descontínuas e isoladas, distribuídas caoticamente na Bacia do Paraná e controlada por grandes lineamentos que permite supor uma sedimentação mais extensa e que esta tenha sido destruída em decorrência de atividade tectônica moderna e processos erosivos subseqüentes.

A grande variação composicional apresentada pela Formação Marília é reflexo da diversificação de áreas-fonte. No Estado de Mato Grosso, GONÇALVES & SCHNEIDER (In: Geologia do Centro Leste de Mato Grosso. PETROBRÁS, 1970), a grosso modo, distinguem duas facies: uma inferior, constituída por arenitos argilosos e calcíferos, conglomerados de matriz argilosa abundante e lentes de calcário; e uma superior, essencialmente arenosa.

A Formação Marília é a unidade geológica com maior abrangência espacial na Folha Itiquira, principalmente se considerada sotoposta à extensa cobertura terciária de lateritas e Latossolos. Ocupa o interflúvio Itiquira-Correntes e seus vales, avança pela Serra São Jerônimo, a oeste e Serra da Jibóia, a norte (DP-419-09), em posições cimeiras.

A principal característica da Formação Marília na região da Folha Itiquira é a presença de silicificação generalizada, com ferruginização dos litotipos, e, restritamente, cimentação carbonática. Níveis de silcrete são ocasionais, mas relacionados à unidade.

A porção basal é predominantemente constituída por arenitos conglomeráticos silicificados e ferruginizados. Os clastos são cimentados por uma massa afanítica silicosa. São grânulos e seixos pequenos, de quartzo, sílica amorfa e arenito silicificado, em matriz arenosa média e grossa. Constituem bancos métricos, maciços, que não guardam qualquer evidência da sedimentação. A cor típica é marrom arroxeado, com variações para vermelho rosado e marrom pálido, dependendo do grau de alteração. Os seixos atingem até 10 cm, mas em pequenas quantidades.

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Estratigraficamente superiores, aparecem arenitos finos e médios, restritamente muito finos, em bancos maciços decimétricos e métricos, dispostos plano-paralelamente (DP- 419-03). Quase sempre são silicificados, com cimento carbonático ocorrendo na região de Itiquira. Tendem a seleção ruim quanto mais inferiores na seqüência, e média a boa nos níveis superiores. O arredondamento firma-se mais entre médio a pobre. A cor é marrom rosado, arroxeada e vermelha subordinada. Quando presente cimento carbonático, a alteração promove tons esbranquiçados.

Os silcretes são característicos da Formação Marília na região. Ocorrem como aglomerados silicosos envolvendo clastos, formando horizontes dispostos segundo a estratificação, ou como nódulos intercalados, em concordância aos estratos. São comuns como matacões dispersos nos topos das formas.

A estruturação NE-SW e N-S associada a falhamentos normais afeta a seqüência Marília em vários locais. Controla contatos e distribuição espacial, sendo notável o controle do sumidouro do rio Correntes, na Serra São Jerônimo (DP-419-25), e os embutimentos da seqüência na região de Itiquira (DP-419-08/25).

O padrão imageado da Formação Marília mostra tons de cinza claro a médio e textura média, corrugada quando em escarpas e vales. Define-se predominantemente no chapadão do interflúvio Itiquira-Correntes.

No entorno da cidade de Itiquira e da Serra da Jibóia, em residuais da Formação Marília ou na zona do contato Marília/Palermo, observou-se incidência de ravinamentos, sem no entanto caracterizar uma área impactada por processos erosivos. Os solos oriundos da Formação Marília são arenosos a areno-argilosos, no geral, com espessuras variáveis entre 1 e 3 m.

3.10. SUPERFÍCIE PALEOGÊNICA PENEPLANIZADA COM LATOSSOLIZAÇÃO

Trata-se de uma extensa superfície de aplanamento Paleogênica, com grandes testemunhos na Chapada dos Parecis e na Bacia do Paraná, que se desenvolveu mais tipicamente sobre formações cretácicas.

O material subjacente a esta superfície corresponde a porção “soft” de perfis lateríticos, ou seja, representam a porção desmantelada por processos intempéricos. Apresentam cor vermelho escuro, sem estruturação e nem segregações de ferro ao longo do perfil de natureza eminentemente argilosa, podendo atingir até 30 m de espessura, conforme medido em campo, nas proximidades das cidades de e Campos de Júlio (Folha Vila Oeste – MIR 354), através de altímetro e também através de poços tubulares profundos na cidade de (Folha Utiariti - MIR 355). Na base do perfil pode ou não aparecer crosta laterítica com 1 a 2 m de espessura (também detectada em poços tubulares profundos), capeando horizonte arenoso com nódulos concrecionários de caulinita com 2 a 10 cm de diâmetro.

É considerada como formação edafoestratigráfica, supostamente admitida de ter-se desenvolvida em superfície peneplanizada no Paleogeno, laterizada com geração de crostas lateríticas, as quais foram posteriormente destruídas por processos pedogenéticos que geraram os latossolos argilosos vermelho-escuro. Na Chapada dos Parecis esta unidade é aproveitada, na quase totalidade, pela agricultura mecanizada.

Estes solos têm como característica uma macro estrutura porosa constituída por grumos de argila ligados entre si através de pontes de materiais mais finos e/ou ligações cimentantes, e por partículas maiores de silte e areia. Do ponto de vista geotécnico, estes solos

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quando submetidos a uma solicitação externa e saturados sofrem deslocamentos verticais (recalques) significativos, que podem chegar a dezenas de centímetros (CONCIANI, 1997). Estes recalques são devidos a perda de estabilidade de sua estrutura, ocasionada pela queda de resistência das ligações de sua macro-estrutura. A queda de resistência é provocada principalmente pela saturação da água que, por sua vez, ocasiona queda de resistência das ligações cimentantes e redução das tensões de sucção (tensões capilares) existentes nas pontes de materiais mais finos.

A grande quantidade de argila neste material imprime excelente resistência ao estabelecimento de processos erosivos, não tendo sido identificado significativos processos de erosão concentrada nestes materiais argilosos.

Coberturas autóctones ocorrem no amplo chapadão que se esboça na Serra São Jerônimo e se estende para leste nos divisores principais. Isoladamente aparecem na Serra da Jibóia e em níveis pedimentares rebaixados. Aparentemente, na Folha Itiquira desenvolve-se sobre rochas da seqüência Marília, exceto em pequeno trecho da Serra São Jerônimo, onde recobre o Furnas.

Na vertente do Rio Corrente, a escarpa que sustenta as bordas do chapadão apresenta entre 10 e 15 m de laterita sob o Latossolo Vermelho Escuro de textura argilosa. Nessa região, à medida que se avança dos vales para o topo, em encostas suavemente convexas com longos segmentos retilíneos, percebe-se a passagem de areia quartzosa para latossolos arenosos e, gradativamente, para os latossolos argilosos típicos da cobertura. Tais passagens refletem a dinâmica superficial atual, denotando o progressivo desmantelamento do chapadão e a intensa lixiviação dos solos.

A homogeneidade dos materiais é notória. São horizontes lateríticos de espessuras de 2 a 5 m, podendo chegar a 15 m, com solos espessos, argilo-arenosos, de cor vermelho escuro em perfis métricos e uniformes. Variações no gradiente textural devem-se à compactação em glebas agrícolas.

O padrão imageado é dado por tons de cinza escuro e textura lisa. O relevo é plano e os vales muito suaves e rasos. Variações de tons, esbranquiçados, ocorrem nas bordas dos chapadões e ao longo das drenagens. Pequenas escarpas quase sempre marcam os limites dessas coberturas, sustentadas por lateritas.

3.11. FORMAÇÃO PANTANAL

OLIVEIRA & LEONARDOS (1943) referem-se a vazas, arenitos e argilas como formando uma capa relativamente delgada sobre o embasamento paleozóico da Bacia do . ALMEIDA (1964), define a Formação Pantanal como constituída de sedimentos de natureza arenosa fina a síltico argilosa, com pouco cascalho disperso. Faz menção a existência de um terraço mais antigo, elevado, isto é, pleistocênico, que não é inundável nas épocas de cheia. FIGUEIREDO & OLIVATTI (1974: In: O. Projeto Alto Guaporé. DNPM/CPRM, 1974) englobam dentro da formação pantanal os sedimentos que compõem todos os níveis de terraços fluviais, sendo, o mais elevado, caracterizado como planície aluvial antiga (QP1), o nível intermediário, como terraço aluvial sub-recente (QP2); e o nível mais baixo, como aluviões recentes (QP3).

A planície do Pantanal Matogrossense abrange o terço oeste da Folha Itiquira, limitada pela faixa de morros do Grupo Cuiabá e por formas residuais da Formação Furnas.

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Em superfície ocorrem areias inconsolidadas de cor bege, granulação predominantemente fina a média, seleção ruim e arredondamento bom. Depressões úmidas condicionam termos areno-argilosos ricos em matéria orgânica. Esse conjunto ocupa terraços mais altos, não submetidos à inundação sazonal. A seqüência subsuperficial não aflora nos vales rasos, onde se observa apenas aluviões recentes.

Os padrões imageados refletem áreas secas ou encharcadas, com tons de cinza claros e escuros, respectivamente, e textura média ou lisa. A superfície extremamente aplanada permite destaque para qualquer elevação presente, bem como para ramos pequenos de drenagem, estes esbranquiçados.

Os solos são arenosos com pouca matriz argilosa e espessuras médias ao redor de 1 m.

3.12. ALUVIÕES ATUAIS

Compreendem todos os depósitos de planícies aluviais ao longo da rede de drenagem e de rampas coluviais, estas mais expressivas no sopé da serra na planície pantaneira.

Nos terrenos altos, as planícies aluviais são muito restritas e embutidas, destacando- se apenas um alvéolo do rio Itiquira, originado por barramento associado a falha normal, onde o rio alcança a Serra São Jerônimo. Da região da cidade de Itiquira para montante, há grande quantidade de cascalhos nas aluviões. Na mesma área ocorrem cascalheiras pré-aluviões holocênicas, em níveis ligados à drenagem atual, produto do retrabalhamento dos depósitos pleistocênicos e de contribuição de termos silicosos de unidades mais antigas (DP-419-02).

Cabe maior expressão apenas para os depósitos pantaneiros dos rios Itiquira e Piquiri. São depósitos constituídos basicamente por termos arenosos com características muito variáveis, essencialmente quartzosos. Ambientes associados à planície podem apresentar deposição mais notável de finos.

Mostram padrão imageado típico, com tons de cinza claro e textura grossa, ao longo dos cursos d’água.

As rampas coluviais merecedoras de registro estão dispostas no sopé da Serra São Jerônimo e da Serra Solteira, na planície pantaneira. São delgadas coberturas ricas em clastos angulosos e areia, que se distribuem sobre pavimentos rochosos aplanados. Não refletem um padrão imageado próprio, podendo originar nuanças de tons, em relação ao padrão do substrato, e tornam a textura heterogênea.

4. PRINCIPAIS ESTRUTURAS GEOLÓGICAS

As principais estruturas geológicas correspondem a lineamentos de direção geral NE- SW, N-S, estes subordinados à porção leste da área. Associam-se-lhes sistemas de fraturas bem marcadas nas diferentes unidades geológicas e movimentações normais, diagnosticadas em nível mesoscópico e pela análise da distribuição dos litossomas.

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O sistema a NE-SW, que se estende por trechos dos rios Corrente e Itiquira, exerce controle na distribuição de seqüências paleozóicas e de feições ligadas ao Cenozóico, como a cobertura pedo-laterítica atribuída ao Terciário. Alinhamentos associados indicam a mesma tendência, com indicações de campo. O sistema que se estende ao longo do Itiquira, na planície, mostra forte controle de terraços da Formação Pantanal, controle do desfiladeiro do Itiquira e um certo controle na distribuição da Formação Marília. O conjunto de feições indicam movimentos normais de caráter recorrente, afetando desde , pelo menos, a seqüência Palermo até as aluviões holocênicas.

Os lineamentos a N-S têm expressão morfológica segmentada. Contudo, é notável o condicionamento que exercem nos limites da planície pantaneira, o forte controle na exposição do Grupo Cuiabá, do Grupo Rio Ivaí e da Formação Furnas e, sobremaneira, os barramentos que propiciaram o desenvolvimento dos sumidouros do Corrente e do Itiquira, neste, condicionando o alvéolo que se desenvolve na vertente oriental da Serra São Jerônimo (DP- 419-25 e 21, respectivamente).

As falhas normais observadas em afloramento são marcadas de modo incipiente, geralmente definidas por conjuntos de fraturas com pequenos rejeitos. Confinam brechas em caixas de falha de pequena espessura, ou então em zonas de intenso fraturamento. A zona de falha na cidade de Itiquira, afetando diversas seqüências, possivelmente com recorrência de movimentos até o Cenozóico, mostra evidências de movimentos normais, inversos e direcionais, estes superpostos. O deslocamento geral sugere movimento com resultante normal, conforme discutido no item referente à Formação Palermo.

Os metamorfitos do Grupo Cuiabá mostram foliação a NE-SW, com mergulhos para NW. A foliação é mais definida nos flancos das dobras, em metargilitos. Nos núcleos, geralmente siltosos, ocorre uma partição espaçada. As dobras são recumbentes, muito fechadas, com eixos a N20E/07 NW.

Em pelo menos um local da seqüência proterozóica observou-se estrutura em flor, que define movimentos direcionais cenozóicos. São planos a N45E com lineações subhorizontais mergulhando para NW (DP-419-29).

5. RECURSOS MINERAIS

Neste item serão tratados os jazimentos minerais e a situação legal. Os jazimentos minerais serão abordados do ponto de vista factual, ou seja, o que realmente é conhecido em termos de indícios, ocorrências, depósitos, jazidas, garimpos e minas; e do ponto de vista previsional, através do raciocínio analógico comparado com áreas sabidamente mineralizadas. Quanto a situação legal será apresentado uma quantificação dos títulos minerários relacionando-os com as principais substâncias requeridas.

A espacialização dos jazimentos minerais e da situação legal (lavra garimpeira) encontra-se no Mapa A003 “Potencialidade Mineral e Situação Legal da Folha Itiquira - MIR 419”, Anexo I. A ficha com o cadastro de jazimento mineral e informações sobre situação legal encontra-se no Anexo III.

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5.1. JAZIMENTOS MINERAIS

Na Folha Itiquira - MIR 419, a potencialidade mineral é representada por uma pequena área no limite oriental da mesma, significando potencialidade média para depósitos de diamantes tipo plácer, ao longo do Rio Itiquira. Nesta região o rio drena rochas da Formação Marília, cujos conglomerados basais e intermediários são supostos de representarem as fontes intermediárias de diamantes advindos de kimberlitos intrudidos na Bacia do Paraná em tempo sin a pré-Marília.

Não foi observada exploração mineral na Folha Itiquira. Na Serra da Jibóia percebe- se extração rudimentar, por raspagem, de rocha silicificada da Formação Marília e de silexitos do Palermo, para servir de cascalho em estradas vicinais.

A seqüência do Grupo Passa Dois, segundo informações verbais, foi objeto de estudo por órgão governamental de Mato Grosso, pelo menos em termos de avaliação das ocorrências de calcário para uso como corretivo de solo.

5.2. SITUAÇÃO LEGAL

Segundo o Programa Títulos Minerários do Departamento Nacional de Produção Mineral - DNPM, de julho de 1995, a Folha Itiquira - MIR 419 apresenta um total de 10 áreas requeridas.

Esses requerimentos referem-se a 1 pedido de lavra garimpeira, 4 autorizações de pesquisa e 5 pedidos de pesquisa, conforme ilustra o Quadro 002 a seguir.

QUADRO 002 QUANTIFICAÇÃO DOS TÍTULOS MINERÁRIOS POR “STATUS” DA SITUAÇÃO LEGAL SEGUNDO AS PRINCIPAIS SUBSTÂNCIAS MINERAIS

SUBSTÂNCIA TITÂNIO TURFA DIAMANTE SILTITO FOLHELHO TOTAL STATUS Lavra 0 Lavra Garimpeira 1 1 Licenciamento 0 Autorização de 2 1 1 4 Pesquisa Pedido de Pesquisa 3 1 1 5 Total 3 2 2 2 1 10 FONTE: DNPM, 1995 (modificado)

As informações referentes a lavra garimpeira podem ser consideradas como indicativas da presença do jazimento mineral e encontram-se contempladas no Mapa A003 “Potencialidade Mineral e Situação Legal da Folha Itiquira”, Anexo I.

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6. POÇOS TUBULARES PROFUNDOS

Na Folha Itiquira - MIR 419 tem-se o cadastro de 9 poços tubulares profundos, conforme apresentado no Quadro 003 a seguir, que sintetiza as principais informações hidrogeológicas recuperadas referentes a estes poços.

QUADRO 003 PRINCIPAIS DADOS HIDROGEOLÓGICOS REFERENTES AOS POÇOS TUBULARES PROFUNDOS DA FOLHA ITIQUIRA

O O VAZÃO VAZÃO N. N. MUNICÍPIO/ PROF. UNIDADE/ MÉDIA ESP. SEQ. CADASTRO LOCALIDADE (M) 3 3 LITOLOGIA (M /H) (M /H/M) Itiquira/Fazenda 1 5-54 50,00 15,23 3,90 Formação Marília 2 1.001.593-0 Itiquira 150,00 16,00 2,28 Formação Marília Formação Marília Itiquira/reservatório 3 148/02 150,00 10,00 0,34 (arenitos, elevado conglomerados) Formação Marília 4 186/04 Itiquira 150,00 4,44 0,63 (arenitos, conglomerados) Formação Marília 5 435/05 Itiquira 93,00 1,38 0,04 (arenitos, argilitos) Itiquira/Pátio da Formação Marília 6 180/01 152,00 3,30 0,37 unidade da SANEMAT (arenitos) 7 185/03 Itiquira SD 11,10 SD Formação Marília (?) Formação Marília 8 89-88 Itiquira 150,00 11,47 0,57 (arenitos) 9 008-97 Itiquira 90,00 SD SD SD: Variável sem dados FONTE: DNPM/SISON, GEOESTE, SANEMAT, AHEC-ARAL e CNEC (modificado)

Todos os poços cadastrados encontram-se no município de Itiquira e destinam-se ao abastecimento urbano e rural.

Foram perfurados em rochas da Formação Marília e mostram profundidades variando de 50,0 a 152,0 m; vazão média entre 1,38 e 16,0 m³/h; vazão específica entre 0,04 e 3,91 m³/h/m.

7. ÁREAS CRÍTICAS E DEGRADADAS

As áreas mais suscetíveis a processos erosivos correspondem a relevos escarpados e relevos de transição interplanáltica em terrenos de substrato arenítico e, localmente, em depósitos cenozóicos de cascalhos.

Na Folha Itiquira, essas condições manifestam-se na Serra São Jerônimo, com escarpas da Formação Furnas; na Serra da Jibóia, com pequenas escarpas e morros residuais das formações Marília e Aquidauana; e no vale do Rio Itiquira, com os topos cobertos de cascalho em processo de desmantelamento das formas.

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As vertentes escarpadas da Serra São Jerônimo mostram grande número de cicatrizes de processos ligados à evolução das encostas. São suportadas por arenitos do Grupo Rio Ivaí e da Formação Furnas, assim como com metamorfitos do Grupo Cuiabá sustentando morros que avançam até o sopé. Escorregamentos e queda de blocos são comuns às escarpas, enquanto ravinamento intenso é característico dos morros. Nos locais acessados observa-se baixa incidência de processos ativos e sempre em decorrência de escoamento superficial nas estradas e de águas servidas às escarpas pela ocupação do chapadão. São basicamente ravinas de pequeno e médio porte e alguns pontos com queda de blocos. A vegetação nativa minimiza o desenvolvimento de novos processos. Escarpas vegetadas e chapadões com faixa razoável de cerrado em suas bordas, são sempre menos afetados.

Na região da Serra da Jibóia concentram-se alguns processos mais intensos de ravinamento e, restritamente, de escorregamento. A causa dominante é sempre água servida pela ocupação em suas mais diferentes formas de expressão, principalmente em estradas. Ravinas estão sempre presentes, tanto em escarpas e encostas de morros residuais, como em declives menos acentuados, mesmo de termos não areníticos. É uma área de ocupação mais intensa e que se estende para sul, rumo a Itiquira.

Os chapadões constituem áreas de suscetibilidade erosiva muito baixa, exceto quando destituídos da cobertura pedo-laterítica. Nestes casos, seus terrenos têm menor resistência ao escoamento superficial, principalmente nas suaves e extensas vertentes para vales principais, onde ocorrem ravinas mais profundas, com franca tendência ao voçorocamento. Sempre que observados, os processos estão ligados a estradas. Comportamento semelhante é expresso pelos relevos rebaixados, de pedimento, na margem direita do Itiquira, no caso com cobertura de cascalhos. Mostram algumas ravinas muito profundas e pequenas voçorocas, principalmente nos degraus entre níveis locais. No pequeno trecho do vale à montante da cidade, onde há depósitos de cascalhos capeando o topo de divisores secundários, a erosão laminar é particularmente notável, com ravinas associadas.

Na BR-163, na vicinal paralela a oeste, e na estrada no sopé da Serra da Jibóia tem- se a maior incidência de processos de ravinamento originados por água servida. Até mesmo onde se encontram presentes solos lateríticos argilosos, em rampas para as drenagens. As proximidades de cidades e de núcleos mais habitados sempre concentram vias de acesso e outras atividades e, com isso, também erosão, mesmo que em terrenos de menor suscetibilidade.

Nos chapadões com Latossolo Vermelho Escuro de textura argilosa os processos erosivos são raríssimos, embora haja uso em cultura extensiva. Contudo, podem servir águas para terrenos suaves de suas bordas, provocando erosão até mesmo nas escarpas lateríticas que os sustentam com certa freqüência.

A planície pantaneira, área natural de acumulação, é afetada por erosão nas faldas da serra, quando presentes suaves rampas detríticas, já ao nível da planície e águas servidas. As formas residuais no interior da planície são rebaixadas por erosão natural, não tendo sido observado a incidência de processos erosivos.

O impacto da erosão é mais facilmente observado nos cursos d’água do que nos solos. Assoreamento de calhas é generalizado. A intensidade do processo é muito maior nas proximidades de estradas, núcleos urbanos e zonas mais intensamente ocupadas por agricultura mecanizada.

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Fora da planície pantaneira, a rede de drenagem está praticamente toda colmatada, principalmente cursos de menor porte e ainda aqueles interiores a chapadões cultivados. Os rios Itiquira e Corrente e o ribeirão Ponte de Pedra também estão fortemente impactados por assoreamento, este último com poços totalmente preenchidos por areia. As soleiras originadas à altura da Serra São Jerônimo constituem importantes armadilhas para os materiais carreados.

A colmatação origina menor capacidade de armazenamento das calhas que, aliada ao incremento do escoamento superficial provocado pela malha viária e desmatamento, propiciam picos de enchentes anômalos para leitos colmatados, em obediência a vazões naturalmente menores. Com isso, a qualquer episódio pluviométrico, têm-se picos de enchente maiores, ocorrendo em espaço de tempo mais curto, o que leva a intenso solapamento das margens e conseqüente aumento do volume de sólidos oferecido às calhas, exacerbando o problema.

A rede de drenagem sofre, localmente, o impacto do despejo de efluentes de pequenos núcleos rurais. A pior situação é do rio Itiquira, que recebe esgoto in natura da cidade homônima, muito embora não se perceba, de modo contundente, o efeito da poluição. A baixa densidade demográfica da área ainda não é capaz de causar danos aos cursos pantaneiros, como se observa logo a norte, em Rondonópolis. Por essa mesma razão, medidas mitigadoras e de controle são ainda pouco onerosas e devem ser implementadas com brevidade.

O lixo urbano advem de pequenos núcleos e encontra-se sempre disposto inadequadamente, constituindo lixões que propiciam grande impacto ambiental. Há simples despejo de resíduos sólidos das mais diversas naturezas, muitas vezes em cicatrizes de erosões. Ao longo de estradas, principalmente próximo aos núcleos rurais e urbanos, sempre existe distribuição aleatória de lixo e entulho de construção civil.

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS/ANÁLISE CRÍTICA

A Formação Palermo e o Grupo Passa Dois, na região a nordeste de Itiquira, apresentam litossomas semelhantes. Apenas quando presente elemento guia de uma unidade é possível a caracterização precisa. Caso contrário, por exemplo, em afloramentos de argilitos alterados, a atribuição a uma das unidades só pode ser feita por inferência do nível estratigráfico.

As unidades geológicas sofrem forte controle tectônico em sua distribuição espacial. É necessário definir detalhadamente a natureza e características dos movimentos, tanto por análise estrutural mesoscópica quanto por intermédio de investigação geofísica, principalmente das grandes descontinuidades regionais para um melhor entendimento da evolução estratigráfica-tectônica neste bordo da Bacia do Paraná.

A seqüência da Formação Pantanal não pode ser observada em subsuperfície, mesmo que parcialmente. As informações existentes são muito esparsas e não permitem uma caracterização geral da unidade. Pode-se dizer que a formação é mal conhecida, principalmente quanto a sua evolução, indubitavelmente interessante como fornecedora de informações quanto ao ambiente tectônico, climático e sedimentar recente.

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Nos solos argilosos vermelhos escuros que caracterizam a Superfície Paleogênica Peneplanizada com Latossolização, são relatados casos de acidentes em fundações de construções de armazenagem de grãos, conforme o caso histórico de um silo que sofreu um recalque da ordem de 70 cm provocando a perda de 1.500 toneladas de grãos, na cidade de Campo Novo do Parecis (CONCIANI, 1997).

Estes solos são bastante homogêneos quanto sua constituição e sobre eles dá-se o grande impulso do desenvolvimento agrário do Estado, através da agricultura mecanizada. Como conseqüência, prevê-se a implantação de novos centros urbanos e rurais, geração de obras rodoviárias, ferroviárias, de armazenamento de grãos, irrigação, linhas de transmissão, edificações etc., para o que se alerta, desde já, a natureza colapsível destes solos que, quando da implantação de obras civis, certamente demandarão tratamento adequado para que o processo de desenvolvimento ocorra com sucesso.

Aliado ao problema da colapsividade, nos chapadões podem ocorrer processos de piping, principalmente nas encostas onde o horizonte laterítico normalmente está ausente e os solos são francamente arenosos. Diagnosticar as áreas mais propensas é importante para prevenir a eclosão de voçorocas, pois estas encontrariam condições muito favoráveis ao desenvolvimento avantajado.

A agricultura extensiva provoca grande degradação dos chapadões, principalmente da vegetação do cerrado. A baixa incidência de erosão deve-se às condições favoráveis do meio físico, com solos razoavelmente permeáveis e topografia plana. Contudo, o tipo de ocupação promove escoamentos superficiais descontrolados e despejos servidos inadequadamente, que produzem grandes impactos nas encostas e depósitos de sopé, fator determinante do aparecimento de muitos processos erosivos.

A legislação ambiental obriga a preservação permanente da vegetação natural num conjunto de unidades da paisagem, como margens de cursos d’água, nascentes, encostas de declive acentuado, etc. Os caminhamentos efetuados mostram total desrespeito a tais obrigações, o que se constitui numa das causas da profunda degradação observada em algumas áreas. A manutenção de uma faixa de cerrado ao longo das bordas dos chapadões, vegetação que não é protegida por legislação específica, permitiria minimizar em muito o impacto do escoamento pluvial superficial nas escarpas e feições associadas, além de constituir elemento de atenuação dos intensos vendavais, conforme relatos.

O assoreamento da rede de drenagem é reflexo da agricultura e, localmente, da malha viária. Percebe-se, em decorrência de prejuízos e não de preocupação conservacionista, o emprego de algumas práticas de conservação que, dependendo do compartimento de paisagem, deveriam se tornar obrigatórias por lei. A malha viária é implantada sem critérios técnicos em sua quase totalidade, mesmo as rodovias principais. Orientação técnica e incentivo ao poder público municipal devem ter prioridade do Estado, com isso minimizando impactos e gastos com manutenção. Percebe-se alguns locais com sistemas de drenagem e, principalmente, de contenção do escoamento, mas sempre onde os impactos já ocorreram e com o intuito de preservar as estruturas construídas, não o meio.

Nas áreas habitadas e no meio agrícola a disposição de lixo de toda natureza é sempre inadequada. Muitos núcleos produzem quantidades de resíduos facilmente controláveis. É necessário difundir e subsidiar técnicas adequadas para construção de aterros e valas sanitárias. Da mesma forma é entendido o problema com despejo de efluentes em áreas urbanas e núcleos rurais. No campo, algumas ações indicam intenção de minimizar a poluição com pesticidas, como cercados para embalagens.

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9. FOTOGRAFIAS

FOTO 001 SERRA DE SÃO JERÔNIMO, RIO ITIQUIRA (DP-419-22). DOBRAMENTO RECUMBENTE CON VERGÊNCIA PARA NORTE E NÚCLEO DE METASSILTITO MACIÇO OU COM FOLIAÇÃO INCIPIENTE. NOS FLANCOS A FOLIAÇÃO É MAIS NOTÓRIA. GRUPO CUIABÁ

FONTE: CNEC, 1997

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FOTO 002 SERRA DE SÃO JERÔNIMO, RIO ITIQUIRA (DP-419-22). METASSILTITOS MACIÇOS QUE OCORREM NO NÚCLEO DE DOBRAS. GRUPO CUIABÁ

FONTE: CNEC, 1997

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FOTO 003 SERRA DE SÃO JERÔNIMO, NA REGIÃO DO CÓRREGO CEMITÉRIO (DP-419-29). ESPORÕES AGUDOS DO GRUPO CUIABÁ RECOBERTOS POR SEDIMENTOS DO GRUPO RIO IVAÍ

FONTE: CNEC, 1997

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FOTO 004 NORTE DE ITIQUIRA – DESCIDA DA SERRA DA JIBÓIA (DP-419-18). ESTRATOS CENTIMÉTRICOS DE SILEXITOS OOLÍTICOS E PISOLÍTICOS DISPOSTOS PLANO-PARALELAMENTE. FORMAÇÃO PALERMO

FONTE: CNEC, 1997

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FOTO 005 NORTE DE ITIQUIRA – DESCIDA DA SERRA DA JIBÓIA (DP-419-18). SEQÜÊNCIA DE ARENITOS FINOS SILICIFICADOS DA FORMAÇÃO PALERMO

FONTE: CNEC, 1997

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FOTO 006 NORTE DE ITIQUIRA, ESTRADA ITIQUIRA – RONDONÓPOLIS (DP-419-09). RELEVO TÍPICO À NORTE DE ITIQUIRA. TOPO APLANADO COM ESCARPAS SUSTENTADAS POR ARENITOS DA FORMAÇÃO MARÍLIA

FONTE: CNEC, 1997

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FOTO 007 RIO CORRENTES / PIQUIRI (DP-419-25). SUMIDOURO DO RIO CORRENTES/PIQUIRI COM DIÂMETRO DE APROXIMADAMENTE 15 M. FORMAÇÃO MARÍLIA

FONTE: CNEC, 1997

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FOTO 008 RIO PIQUIRI (DP-419-25). SURGÊNCIA DO RIO PIQUIRI. FORMAÇÃO MARÍLIA

FONTE: CNEC, 1997

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FOTO 009 ESTRADA ITIQUIRA / ALTO ARAGUAIA (DP-419-03). CONGLOMERADOS CENOZÓICOS NA BACIA DO ITIQUIRA. MATRIZ ARGILO-ARENOSA ABUNDANTE. BLOCOS E MATACÕES DE ARENITOS E ARENITOS CONGLOMERÁTICOS MARÍLIA; ARENITOS AQUIDAUANA E BOTUCATU. MATACÕES EM DESTAQUE SÃO MARÍLIA. SEIXOS DE SÍLICA AMORFA E DE QUARTZO

FONTE: CNEC, 1997

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FOTO 010 ITIQUIRA (DP-419-02). ITIQUIRA, ESTRADA PARA ALTO ARAGUAIA. DEPÓSITO CENOZÓICO RECOBRINDO O RELEVO DE TODO VALE DO ITIQUIRA A MONTANTE DA CIDADE HOMÔNIMA. BLOCOS DE ARENITO MARÍLIA NO SOLO RESIDUAL

FONTE: CNEC, 1997

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10. BIBLIOGRAFIA

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ANEXOS

ANEXO I - MAPAS

ANEXO II - RELAÇÃO DAS FICHAS COM DESCRIÇÕES DE CAMPO

ANEXO III - RELAÇÃO DAS FICHAS COM CADASTRO DE JAZIMENTOS MINERAIS E SITUAÇÃO LEGAL

ANEXO IV - RELAÇÃO DAS FICHAS COM CADASTRO DE POÇOS TUBULARES PROFUNDOS SELECIONADOS