R. Museu Arq. Etn., , n. 22: 157-180, 2012.

Margarida Andreatta e a conformação da Arqueologia Histórica Paulistana

Rafael de Abreu e Souza*

SOUZA, R.A. Margarida Andreatta e a conformação da Arqueologia Histórica Paulistana R. Museu Arq. Etn., São Paulo, n. 22: 157-180, 2012.

Resumo: Este trabalho tem como objetivo ressaltar o papel da professora Margarida Davina Andreatta no escopo do fortalecimento da Arqueologia His- tórica (e Urbana) na cidade de São Paulo a partir da compreensão de sua traje- tória intelectual e do campo no qual estava inserida. Margarida participou da formação de toda uma leva de pesquisadores que atuaram em São Paulo com leituras, destarte seguindo linhas diferenciadas, possuidoras de elos comuns, como, por exemplo, a não utilização da classificação da Tradição cerâmica “neo- brasileira” e sua escolha por determinados métodos de campo.

Palavras-chaves: Margarida Andreatta, Arqueologia Histórica, São Paulo

Introdução As sínteses produzidas em torno da história da Arqueologia Histórica no Brasil e no Cone Arqueologia Histórica não precisa mais Sul tem dado pouca atenção às pesquisas da Ade afirmação, apesar da luta por sua professora Margarida e ao trabalho que desen- realização no escopo urbano, frente às dinâmicas volveu no país. Compreender o contexto de sua de transformação da cidade-mundo (Augé 1994) formação e as redes de relações que marcaram que é São Paulo. Neste sentido, faz-se importante sua formação possibilita pensar criticamente refletir sobre o processo de formação da disci- sua trajetória intelectual e sua função a partir plina na cidade a partir da figura da professora de laços orgânicos que a vinculavam a comu- Margarida Andreatta, pesquisadora do Museu nidade (Said 2003). Voz solitária em relação a Paulista e do Museu de Arqueologia e Etnologia certas temáticas, representou o que professava da Universidade de São Paulo, referindo-se ao por meio de trabalhos e intervenções (Said capital cultural e social (Bourdieu 2001) de traje- 2003) de cunho mais prático, mais “empírico” tória, com preferências e aspirações, com sentido, do que “teórico” (Johnson 1999; Reis 2003). ritmo e direção (Velho 2008). Quero dizer que as contribuições de Andreatta deram-se efetivamente associadas ao trabalho de escavação em locais com presença de vestígios passíveis de leitura arqueológica. (*) Doutorando em Arqueologia, Museu de Arqueologia e Em geral, Margarida Andreatta é associada Etnologia, USP e em Ambiente e Sociedade pelo NEPAM/ UNICAMP. às pesquisas urbanas em São Paulo nos anos

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1980 e, destarte produção de estudos sobre a 2011). O envolvimento de Fernandes caracteriza Arqueologia Histórica latino-americana (Lima a geração de intelectuais brasileiros preocupados 1993; Zanettini e Cazzetta 1993; Funari 1997; com a construção de uma identidade nacional e Zarankin 2007; Symanski 2009), faz falta inves- a preservação do patrimônio cultural através da tigações mais aprofundadas que auxiliem na formação profissional (Maranhão 2006). compreensão de como os pesquisadores tiveram No curso, Margarida teve aulas de Geografia contato e implantaram perspectivas da Arqueo- Física, Geografia Humana, Geografia do Brasil, logia Histórica no país, sem advir de “escolas” Etnografia, Antropologia, História da Antiguida- ou instituições que tinham na área uma possibi- de e Idade Média, História Moderna, do Brasil, lidade clara de abordagem. Este artigo aponta, da América e Contemporânea, além de discipli- ainda, à correlação, pouco explorada, entre nas como Etnografia Brasileira e Língua Tupi “Arqueologia Pré-Histórica” e “Histórica”, como (Carvalho 2010). História e Geografia marcada- a prática científica insistiu em dissociar (Prous mente de caráter evolucionista foram ministra- 1992; Zanettini e Cazzetta 1993; Barreto 1999). das em cursos por inúmeros professores, dentre A investigação da trajetória intelectual eles Loureiro Fernandes (Campos 2011). da professora Margarida permitiu não apenas Este corpo docente ajudou a compor o encontrar pistas de como se consolidou a capital cultural dos futuros alunos e indica Arqueologia Histórica em São Paulo, mas de a presença marcante de Fernandes antes da como se formou na cidade uma vertente de entrada propriamente dita de Margarida na atuação bastante marcada por suas prerrogati- Arqueologia. Mais tarde, graças a ele, Margarida vas, afastada das pronapianas e exímia conhe- pode realizar cursos e estudos pelo Museu do cedora das escavações etnográficas. Além disso, Homem de Paris, pela Associação de Arqueólo- possibilitou notar que a Arqueologia Histórica gos Portugueses e em locais na Espanha e Itália pouco dispunha de espaços para publicações. (Andreatta 2005). Como lembra Marcos Albuquerque (1992), Margarida inicia seus trabalhos de arque- “os primeiros desbravadores desta Arqueologia ologia, graduanda, no Centro de Estudos e dificilmente encontravam espaço em simpósios Pesquisas Arqueológicas, onde se formaram ou congressos para apresentarem o resultado arqueólogos atuariam no ambiente urbano/his- de suas pesquisas”. As publicações primeiras da tórico em seus respectivos estados como Marcos Arqueologia Histórica no Brasil encontram-se Albuquerque, no Pernambuco, e Ondemar pulverizadas em revistas de patrimônio, arquite- Dias, no Rio. Estas primeiras experiências dire- tura, de divulgação científica e outras cujo foco cionam a entrada de Margarida no universo da não era Arqueologia. Se isto indica relações com Arqueologia a partir dos sambaquis. outras áreas do conhecimento, faz clara alusão É importante ressaltar que com a criação a pouca aceitação da Arqueologia Histórica no do CEPA deu-se início a uma programação campo brasileiro (Lima 1993). intensiva de cursos ministrados por arqueólogos Margarida forma-se em Geografia e História estrangeiros, como Joseph Emperaire e Wesley pela Faculdade Católica de Filosofia de Curi- Hurt (Lima 1999/2000). Hurt inaugura pesqui- tiba, mais tarde PUC do Paraná, entre 1955 e sas sistemáticas nos sambaquis de Paranaguá, 1957. Sob os cuidados dos Irmãos Maristas, a com atenção à estratigrafia dos sítios e suas FCFC seguia a mesma orientação ideológica ordenações cronológicas. A partir de 1956, o (o ideário católico) da Faculdade de Filosofia, casal Emperaire assume as escavações em outros Ciências e Letras do Paraná (mais tarde UFPR), sambaquis das bacias de Paranaguá e Antonina, com presença do laicato católico (Campos contando com os discípulos Oldemar Blasi, 2010). Isto resulta das amistosas relações entre Margarida Andreatta e Maria José Menezes Estado e Igreja, entre 1930 e 1940, em especial (Lima 1999/2000). pela aproximação de intelectuais como Manoel A equipe escava sambaquis famosos como Ribas e Loureiro Fernandes na formação dos o Toral 51 e o Ilha das Rosas (Anette e Andre- cursos superiores paranaenses (Campos 2010; atta, 1976; Schmitz 2009), no qual o Pe. Rohr

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desenvolveu a técnica da “cimentação” para atenção ao processo de edificação do sambaqui, o recolhimento de esqueletos (Albuquerque uma “pirâmide truncada”, em alusão aos mounds 1986). Das aulas práticas no sambaqui participa- norte-americanos (Guimarães 2003). ram também José Proenza Brochado, Ondemar Em 1959, Loureiro Fernandes funda a Dias, Igor Chmyz, Celso Perota, Maria Beltrão e “Secção Regional da Associação Brasileira de An- Marcos Albuquerque (Schmitz et al. 1989). tropologia”, em Paranaguá, durante sua atuação Margarida insere-se, deste modo, nas ações como presidente da ABA (1957 e 1959). A reu- das missões arqueológicas francesas levadas a nião, que contou com a presença de Margarida, cabo no Brasil, nascentes do interesse europeu resultou na somatória das experiências do CEPA, em pesquisar as culturas pré-históricas latino- do Departamento de Antropologia e da Seção de -americanas menos conhecidas, no âmbito do Antropologia, Etnologia e Antropogeografia do “americanismo” francês (Barreto 1999). Mar- Instituto de Pesquisas da Faculdade de Filosofia cadamente influenciadas por Leroi-Gourhan e da Federal do Paraná (Chmyz 2006: 187). pelo casal Emperaire, a perspectiva das tipo- Com as escavações do sambaqui do Ma- logias e culturas arqueológicas influencia os chado, em Alexandra, Paranaguá, Margarida dá trabalhos de Margarida em termos. Apesar de início (Andreatta 1960) a publicações voltadas utilizar as abordagens de que o registro deve à análise da fauna malacológica, sua primeira ser priorizado sobre a escavação e que nesta, as especialidade. Nos anos 1970, publica, com o estruturas devem predominar sobre a estrati- Pe. Rohr, estudos sobre o sambaqui do Tapera, grafia (Alberioni 2003), adapta, mais tarde, com a apresentação do material osteodondoma- estas prerrogativas ao contexto urbano, no qual lacológico do sítio no IIIº Simpósio de Arque- a sucessão de camadas demanda uma leitura ologia. Desde 1958 (e até os anos 1980), Rohr, estratigráfica primorosa. com quem Margarida viria a trabalhar, aluno de Em 1957, bolsas da Capes possibilitam Annette Emperaire, dá início ao programa de estágio dos alunos Waldemiro Bley Jr., Margari- escavações em sítios litorâneos que originaria o da Davina Andreatta e Maria da Conceição de Museu do Homem do Sambaqui, privilegiando Moraes Coutinho na escavação do sambaqui abordagens verticais e superfícies amplas, bus- do Guaraguaçu, um dos maiores do Paraná, du- cando dados sobre os usos do espaço, particu- rante o primeiro ano do curso de Arqueologia larmente o funerário (Lima 1999/2000). Em oferecido pelo CEPA. Em 1958, outras quatro 1977, durante o IIº Simpósio de Arqueologia da bolsas da Capes permitem a participação, no Área do Prata e Adjacências, em São Leopoldo, mesmo sambaqui, dos estudantes Margarida RS, apresenta sugestões para terminologia do Andreatta, Maria José Menezes, William Routh material arqueológico em dente, chifre e osso, e Maria da Conceição. Coordenado pelo casal num dos primeiros esforços do tipo para os Emperaire, o Guaraguaçu foi sistematicamente sambaquis do país. escavado entre 1957 e 1961, composto por dois Durante os anos 1960, Margarida atuou sambaquis superpostos (A e B) de onde foram ainda em outros sambaquis do Paraná e Santa retirados mais de 100 esqueletos humanos. Catarina. Seus estudos giraram em torno da Maria Menezes e Margarida, em 1968, publicam problemática, corrente entre os anos 1950 e estudos sobre os sepultamentos com dados 1980, de tentativas de agrupamentos regionais paleodemográficos e antropométricos. dos sambaquis, apoiadas na sistematização das Nesta mesma época, Margarida participa da diferenças e das semelhanças de sua cultura escavação de outros sítios, com etapas supervi- material (Tenório 2004). sionadas por Hurt. Entre agosto e outubro de É assim que, entre junho e setembro de 1958, com Oldemar Blasi, os estudantes José 1969, Margarida participa da primeira etapa de Rauth, Margarida e Maria da Conceição esca- escavações do sítio Armação do Sul, um “sítio vam o sítio-escola do sambaqui do Macedo, tam- pré-cerâmico raso”, junto do Pe. Rohr e das bém em Paranaguá. Os estudos levados a cabo estagiárias Zulmara Sauner e Kátia Giordano, por Hurt e Blasi no Macedo deram particular do CEPA. Oitenta e seis sepultamentos foram

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encontrados, além de “covas culinárias”, a partir anos, participou dos trabalhos na região de La do método de estaqueamento em quadrículas Quina, na biblioteca e na seção de restauração e de 2x2m escavadas em níveis artificiais de 10 conservação de coleções etnográficas do Museu. cm (Schmitz et al. 1993). Um dos indivíduos Tem início a influência de Leroi-Gourhan sob a foi encontrado com mais de 50 pontas de arqueóloga, “verdadeira imagem do humanista projétil sobre o peito (Rohr e Andreatta 1969). moderno” como ela mesma definiria (1965). A importância do sítio da Armação do Sul As escavações na escola de campo de Arcy- na formação de Margarida é grande: marca -sur-Cure, em Yonne, tiveram composição mais o primeiro contato da arqueóloga com um ou menos fixa, incluindo Leroi-Gourhan como contexto histórico, uma vez que se trata de um coordenador por anos. A esta equipe, como o sítio multicomponencial no qual foram registra- próprio Leroi-Gourhan colocou, se juntariam, das estruturas e coletados materiais cerâmicos e a cada ano, diversos estagiários franceses e metálicos relacionados a uma armação de baleia estrangeiros (Leroi-Gourhan 1961). Com eles, do século XVIII (Comerlato 2003). Margarida é imersa na metodologia clássica de Os trabalhos com o casal Emperaire, intensi- escavação horizontal máxima, onde cada artefa- ficados na década de 60, resultaram na formação to era identificado em três dimensões, fotografa- no âmbito da chamada “Escola Francesa” (Reis do, inventariado e classificado. 2007). Também graças a eles, Andreatta esteve Durante a estadia na França, a 22 de maio sobre os auspício de Leroi-Gourhan, de 1962 a 1963, a reunião da Societé des Americanistes 1965, realizando estágio no Centre de Recherche nomeou Margarida membro, apresentada por Prehistoriques et Protohistoriques do Museu Annette Emperaire e Lehmann, em mesa sob a do Homem. O estágio visava pesquisas em presidência de Claude Lévi-Strauss, após palestra sítios arqueológicos, com escola de campo em de Annette sobre o quadro cronológico da pré- alguns deles como Arcy-sur-Cure. Durante estes -história do Brasil meridional. Mais tarde, entre

Fig. 1: Escavações no sambaqui da Armação do Sul (Schmitz et al 1993)

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1964 e 1965, Andreatta fez parte do curso minis- concellos 1964: 873) com estrutura defensiva trado por Leroi-Gourhan intitulado Étude sur la central e muralhas circundantes (Pereira 2011). téchnique actuelle de l’archeologie, reafirmando O acervo era composto por artefatos de metalur- a total imersão no convívio e aprendizado com gia, ossos, marfim e líticos lascados (Paço 1960). a metodologia das escavações em superfícies amplas, que utilizava trincheiras como ataque vertical para compreensão da estratigrafia. As escavações em La Quina, um sítio neandertal localizado no sudoeste da França, na região de Charente, proporcionaram a Margarida o contato com uma tecnologia lítica diferente daquela presente na América. O sítio, com datas de 33 mil anos a. C., foi escavado por Germaine Henri-Martin entre 1950 e 1960, interpretando-o a partir das mudanças tecno- lógicas relacionadas às diferentes ocupações (Henri-Martin 1965). A metodologia utilizava a divisão em setores nomeados por letras maiús- Fig. 3: Planta baixa do Castro de Vila Nova de São culas do alfabeto, algo que estará presente em Pedro (Paço 1960) diversos trabalhos da professora Margarida. Também nesta época, Margarida participa Entre 1965 e 1970, Andreatta atuou em sí- de campanha dirigida pelo tenente-coronel Ma- tios paleocristãos do norte de Portugal, com des- nuel Afonso do Paço, em Portugal, que dirigiu taque para as ocupações na Citânia de Briteiros. investigações arqueológicas no Castro de Vila Descoberto no século XIX pelo arqueólogo por- Nova de São Pedro, um povoado calcolítico (Vas- tuguês Francisco Sarmento, Citânia de Briteiros

Fig. 2: Corte estratigráfico de La Quina (Germaine Henry-Martin, 1965)

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é um sítio da Idade do Ferro, castro do noroeste Entre 1968 e 1969 acontecia o curso da Península Ibérica igualmente amuralhado. de Aperfeiçoamento em Arqueologia e o de Em 1966, Margarida participa, também em Aperfeiçoamento em Antropologia Cultural Portugal, das escavações do Balineu lusitano-ro- na Faculdade de Filosofia de São Leopolodo, mano da Egitânia, termas de uma vila romana, ministrado por Mentz Ribeiro desde 1965, do coordenadas pelo arqueólogo português Fernan- qual participaram José Brochado, Pedro Inácio do de Almeida - diretor do Museu Natural de Schmitz, Maria Beltrão, Maria José Menezes, Arqueologia entre 1966 e 1973 (Raposo 2003). Igor Chmyz, etc. A foto abaixo, tirada no en- Almejando compreender a história da ocupação contro em 1968, mostra, junto a uma mesa com do local, forma abertos pequenos cortes em material lítico lascado, Margarida Andreatta estratigrafia para evidenciar o edifício arruinado acompanhada do Pe. Rohr, do Pe. Schmitz, do do século I abaixo da grande camada de entulho Irmão Marista Guilherme Naue e do historia- resultante da invasão dos Francos no século III; dor Danilo Lazarotto. os cortes de 1m² apresentaram um complexo Até os anos 1970, quando Margarida perfil com 12 camadas distintas e procuraram efetivamente assumiu a coordenação de projetos traduzir “a história relatada neste pequeno corte sistemáticos de arqueologia, realizou trabalhos e testemunho” (Almeida e Ferreira 1966). Inúme- fez contato com inúmeros (dos poucos) arque- ras eram as camadas de descarte de terra sigilita e ólogos que atuavam no país, em especial entre de aterros sucessivos. São Paulo e o Rio Grande do Sul. As pesquisas

Fig. 4: Perfil estratigráfico do Balineu da Egitânia (Almeida e Ferreira, 1966)

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sobre os sambaquis, seu primeiro aporte, não futuro mestrado em Antropologia. Estas posi- foram de todo abandonadas, uma vez que entre ções, políticas, possibilitam o projeto com Beck. 1972 e 1979, já coordenadora do curso de Também em 1972, Margarida torna-se ar- Antropologia da Universidade Federal de Santa queóloga do Museu Paulista da USP. Sua entra- Catarina, participa, de projeto com Anamaria da insere-se no momento de reestruturação da Beck, das escavações de sambaquis como o Arqueologia no Museu, iniciado nos anos 1960 Morro do Ouro, em Joinville. quando Luciana Pallestrini deixa o Instituto de Pré-História. Este “novo fôlego” (Wichers 2012) cria um Setor de Arqueologia nos anos 1970 e resulta na entrada não apenas de Margarida, mas de Silvia Maranca e Agueda Vilhena, rees- truturando a Arqueologia na instituição a partir da efetivação do primeiro programa continuado do estado de São Paulo, o Projeto Paranapane- ma (Wichers 2012). Neste momento, com Niéde Guidon, parti- cipa dos trabalhos na Toca do Meio, no Parque da Serra da Capivara, no Piauí, sítio com pin- turas rupestres, líticos com evidências de uso e fogueiras bastante antigas (Guidon e Andreatta 1980; Prous 2002). Segundo Margarida, o sítio continha, ainda, um componente histórico: edi- ficações de adobe associadas à cultura sertaneja piauiense. O projeto coordenado por Guidon estava vinculado ao MAE e ao MP. Fig. 5: Schmitz, Naue, Lazarotto, Rohr e Andreatta Durante o IIº Encontro Interregional de (IAP, 2012) Cientistas Sociais do Brasil, em 1974 (Gara- O projeto integrado de pesquisa composto nhuns, PE), Margarida apresenta os resultados por Beck, Gerusa Duarte, Andreatta, Edson das escavações do sítio Lapa Vermelha IV, Araújo e Maria José Reis, intitulado “O po- em Lagoa Santa, , fruto de sua voamento pré-histórico de Santa Catarina”, atuação na missão franco-brasileira liderada objetivou compreender a ocupação pré-histórica pelos Emperaire entre 1971 e 1973. Influencia- do “espaço territorial”, buscando delinear da pelas pesquisas anteriores de Hurt e Blasi, terminologias e conceitos ainda incipientes Annette Emperaire constitui uma missão para na Arqueologia Brasileira (“unidade espacial”, Lagoa Santa, da qual participam importantes “unidade arqueológica”, “sítio”, “continuidade nomes da Arqueologia Brasileira como André espacial” e “continuidade temporal”). A Marga- Prous e Agueda Vialou. O sítio ficaria famoso rida fica a incumbência de estudar a “ocupação pela localização do crânio de Luzia, mais tarde pré-histórica do litoral sul de Santa Catharina” alvo dos estudos de Walter Neves (Neves e Piló (Beck et al 1971). Os estudos procuraram tam- 2008). A participação na missão em Minas colo- bém fortalecer e dinamizar o papel do Museu caria Margarida em maior contato com abrigos, de Antropologia da UFSC. grutas e arte rupestre, como fica claro no artigo As experiências de docência e vínculos insti- que publica em 1975, com Annette e outros tucionais consolidam-se nos anos 1970. Assume arqueólogos. Já havia, todavia, escavado outro a coordenação do curso de Antropologia da abrigo, o do Wôbeto, no planalto paranaense, UFSC, entre 1970 e 1973, em momento crucial também com Annette (Andreatta 1968). para a Antropologia de catarinense (Reith Em 1975, o Museu Paulista oferece o curso 2007). Em 1972, ministra aulas na Especializa- de extensão universitária “Introdução à Museo- ção em Antropologia Social da UFPR, cerne do logia”, no qual Margarida ministra a disciplina

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“A importância da peça arqueológica em seu levantamento cadastral topográfico das habita- contexto original, com ênfase preferencial em ções, com observação das técnicas de constru- Museologia”. Em 1976, com a continuidade do ção em adobe, dos muros e fundações de pedra curso, ministra a disciplina “Museu e Arqueolo- e do grau de conservação (Andreatta 1985). No gia I”. Este teria sido um dos primeiros esforços geral, o projeto acabou sendo uma das primei- em direção a musealização do patrimônio arque- ras pesquisas sistemáticas sobre a ocupação do ológico paulista (Wichers 2012). Brasil Central e é referencia para os estudos das Margarida passou a atuar, então, por 16 ocupações indígenas em aldeias circulares (Wüst anos, como pesquisadora do Museu Antropoló- e Barreto 1999; Oliveira 2005). gico da UFG, a partir da coordenação do Projeto Entre 1977 e 1982, Andreatta desenvolveu Anhanguera (em conjunto a Luciana Pallestrini, doutorado em Antropologia Social na USP, em que atuou apenas entre 1975 e 1976). O projeto, torno dos padrões de assentamento pré-coloniais, interdisciplinar, buscava reconstituir quadros no âmbito do projeto que coordenava em Goiás, humanos e geográficos da região, realizando sob orientação de Pallestrini. A partir dos estu- prospecções e escavações (de sítios pré-históricos dos do sítio Bonsucesso, em Nazário, Margarida e históricos), levantamentos de pinturas, estudo teceu considerações sobre a evidenciação de pa- de material arqueológico, datações e formação drões de povoamento interpretando as chamadas de equipe (Andreatta 1985). “manchas pretas” como espaços habitacionais de A partir de 1975, o Projeto Anhanguera, uma grande aldeia pré-histórica. As relações do desenvolvido pelo Museu Paulista e pelo Museu ambiente circundante com a organização dos es- Antropológico, centrou-se na escavação de diversos paços habitacionais é ponte para a interpretação sítios líticos e cerâmicos (nos quais são realizados “arqueo-etnológica” em torno da ocupação hu- os primeiros estudos sobre os “vasos de bojo mana em ambientes diversos (Andreatta 1982). duplo” arqueológicos [Andreatta 1982]); foram O sítio, com 48 machas pretas, “cabanas”, em cadastrados, por outro lado, os primeiros sítios formato elíptico, foi escavado a partir do quadri- históricos localizados pela própria Margarida. O culamento 20 x 20m, do subquadriculamento das projeto levantou 33 sítios, escavados por “deca- áreas com concentração de material (cerâmica, lí- pagens em amplas superfícies, com a execução de tico, ossos, chifres e fogueiras) e de decapagens em trincheiras e perfis como indicadores dos dife- níveis naturais. Foram utilizados setores nomeados rentes níveis e composição dos solos” (Andreatta 198; Schmitz e Barbosa 1985). As campanhas por letras e números, além de abertas trincheiras e de escavação utilizaram o sub-quadriculamento, perfis indicadores da sucessão dos diferentes níveis metro a metro, com decapagens e evidenciações e da composição dos solos. O material arqueoló- de vestígios a partir de sua sucessão. Soma-se a esta gico exumado foi encarado como “testemunho”, metodologia a utilização de trincheiras destinadas “indispensável para a interpretação das atividades a “verificação da estratigrafia junto às estruturas desenvolvidas pelo homem na aldeia pré-histórica” habitacionais; à coleta de sedimentos para análise (Andreatta 1982), em clara alusão às abordagens do solo; e ao traçado dos perfis” (Andreatta 1977: de Pallestrini (1975: 114). Estes “testemunhos” 54). As trincheiras foram uma forma clássica de foram analisados sem filiação a tradições: “cerâmi- intervenção arqueológica que passou a ser bastante ca de tipo simples”, “tipo decoração entalhada” utilizada quando das escavações nas Casas Bandei- e líticos (“peças modificadas pelo uso”), à das ristas em São Paulo. Deste projeto, participaram, perspectivas de Tixier, Emperaire, Brézillon, Balfet, como estagiárias, Márcia Angelina Alves, Dilamar Meggers, Evans e Seronien-Vivien (Andreatta Cândida Martins e Margareth Souza. As duas 1982). Paradoxalmente, Margarida é associada últimas desenvolveram estudos de pós-graduação ao estudo da Tradição Aratu, mesmo sem o ter sob orientação da professora Margarida. afirmado em relação aos sítios que estudou. Os sítios arqueológicos históricos, de Interessante ressaltar que, neste momento, caráter urbano (como a cidade de Santa Cruz outros projetos são levados a cabo em Goiás, de Goiás, fundada no século XVIII), sofreram sob claro enfoque histórico do PRONAPA,

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como o Programa Arqueológico de Goiás, a dimensão e a organização espacial da aldeia, sob coordenação do Pe. Schmitz do Instituto assim como a identificação de sua estrutura Anchietano (Schmitz e Verardi 1995-1996) e o interna (Andreatta 1982). A visão de uma Projeto Integrado de Pesquisas Arqueológicas da abordagem do “externo” (forma, espacialização) Bacia do Paraná, sob coordenação de Alfredo e do “interno” norteou as ações nos sítios histó- Mendonça. Identificados com as posturas ricos das Casas Bandeiristas em São Paulo, e a histórico-ecológicas pronapianas, arrolaram e semelhança desta leitura com os aportes teórico- determinaram uma série de fases e tradições, ao -metodológicos da household archaeology permitiu passo que Margarida seguia a “descrição comple- a aproximação de seus orientandos com os ta de sítio, imitando mestres franceses”, como autores processuais norte-americanos. pontuou o Schmitz (Schmitz e Barbosa 1985). Em 1985, Margarida participa, como Margarida abordou o sítio arqueológico docente, do curso de Especialização “Antropo- Bonsucesso preocupada em evidenciar a forma, logia: métodos e técnicas de Abordagem em Et-

Figura 6: “Plano da aldeia pré-histórica” do sítio Bonsucesso (Andreatta 1982)

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nologia Regional”, pela UFG, no qual orienta associado aos jesuítas. O contexto do Almeida, Dilamar Martins. Dilamar dá continuidade aos somado a coordenação das prospecções nas projetos em Goiás, já sob moldes preventivos, a ruínas do Abarebebê, em Peruíbe, com Dorath partir do final dos anos 1990, com a participa- Uchoa, relacionado a uma missão jesuítica do ção de Margarida. século XVI, nos anos 1990, justificam a presen- Em Goiás, a influência da metodologia ça da professora em bancas e em orientações de campo de Pallestrini (em especial quanto às sobre o assunto (Thomaz 1996; Najjar 2005). “manchas de terra pretas”) com o uso das super- Soma-se a esta trajetória o fato de Margari- fícies amplas e das trincheiras para a leitura dos da ter feito parte de um dos primeiros trabalhos perfis estratigráficos (o método topográfico), com aporte etnoarqueológico realizados na métodos que Margarida já havia acompanhado América Latina (Politis 2003), ao analisar a com Leroi-Gourhan, são bastante evidentes. Por indústria lítica dos Xetá, da Serra de Dourado, outro lado, a leitura do material lítico lascado é do Paraná, alvo, nos anos 1940, de agressivas influenciada pelos estudos de Jacques Tixier. políticas de expansão sobre seus territórios Com isso, sua abordagem aos materiais tradicionais. Esta atividade foi resultante do lascados ordena as tipologias dentro do conceito programa organizado por Loureiro Fernandes, de cadeia operatória. Esta corrente interpreta- que realizou expedições durante o período de tiva francesa, com influências dos Emperaire, 1955 a 1961. A análise da cultura material Xetá Tixier e outros, por vezes, afastou a arqueóloga ficou a cargo de Annette Emperaire, Maria José das possibilidades de atuação no país, quando Menezes e de Margarida, com artigos publica- da hegemonia do PRONAPA, já que levava a dos entre 1964 e 1978 (Emperaire, Menezes e pesquisadora a pensar em termos de tecnolo- Andreatta 1979). A tecnologia lítica Xetá seria gias, cadeias operatórias e experimentação, em mais tarde estudada também por Tom Miller. resposta a uma arqueologia pautada exclusiva- Enquanto isso, os anos 1970 foram, sem mente em culturas e tipologias arqueológicas dúvida, de alguma efervescência e avanço para (Reis 2007: 93). a Arqueologia Urbana em São Paulo. Marlene As sugestões de Margarida (1968) em torno Suano, da USP, coordenou prospecções arque- da nomenclatura de alguns artefatos líticos ológicas numa casa bandeirista no bairro do disseminaram-se; Kneip (1977) opta, por exem- Jabaquara, o sítio da Ressaca, em 1978 (Zanetti- plo, pela terminologia “peça com depressão” ni 2005: 36). O sítio seria prospectado nova- em substituição a “quebra-coquinho” segundo mente por Andreatta em 1979. Pereira Jr, em “Andreatta 1968”. No final dos anos 1970, a de- 1973, realizou escavações arqueológicas no sítio dicação aos artefatos líticos ainda apresenta fôle- da antiga Igreja do Pátio do Colégio, onde teria go, com pesquisas no vale do Paranapanema, no encontrado enterramentos (Juliani 1996). Nos vale do Itararé e no Paraná, antes da mudança anos 1940, Loureiro Fernandes realiza prospec- quase que definitiva para as temáticas da Arque- ções arqueológicas, a convite de Luis Saia, então ologia Histórica. Participa, nos anos 1970, das diretor do SPHAN, para o tombamento do sítio pesquisas do Projeto Paranapanema, escavando Santo Antônio, em São Roque (Zanettini 2005). os sítios Alves, Jango Luís, Almeida e Regadas Estes exemplos marcam a ampliação das temá- Garcia (um sítio tupi-guarani escavado em 1979. ticas de pesquisa da arqueologia do território Voltaria ao contexto com o diagnostico para o paulista que, do século XIX aos primeiros anos Sítio Santa Marina, em Jacareí, em 1988). do século XX, esteve focada, mormente, nos Em 1976, Margarida publica as análises de sambaquis (Wichers 2012). 415 artefatos líticos do sítio Alves, o primeiro Com os anos 1980, um programa de coope- sítio escavado em Piraju, no âmbito do Projeto ração, no âmbito das políticas de conservação e Paranapanema, entre 1969 e 1971. Sob perspec- restauro, entre o DPH e o MP possibilita a sis- tivas similares foram analisados os líticos dos tematização de escavações de inúmeros sítios na sítios Fonseca, Jango Luis e Almeida (Morais cidade, sempre com foco nas chamadas Casas 1983), este, com componentes de “contato” Bandeiristas, mas também em locais no centro

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(Andreatta 1981/1982). Percebe-se, entretanto, Andreatta dá início, assim, como coordena- que quase quarenta anos decorreram para que dora, junto do então diretor do DPH, Murillo a Arqueologia Urbana, e a Arqueologia Histó- Marx (Araújo; Campos e Juliani 2005: 129), às rica, configurasse-se na cidade. Entre os anos pesquisas, pautadas em estudos sistemáticos, de 1940 e o final dos anos 1970 permaneceu em prospecções e escavações em “Casas Bandeiris- relativa hibernação, o que lhe rendeu atraso em tas” e em locais de “interesse histórico” do Mu- relação a pesquisas realizadas em outros estados nicípio de São Paulo, como becos, ruas, quintais como Rio Grande do Sul, Paraná e Pernambuco e praças, entre os anos de 1979 e 1981 (Zequini (Zanettini 2005: 39). 2006: 35), com atividades, todavia mais esporá- No final dos anos 1970, a experiência com dicas, até 1992 (Juliani 1996). Visariam “inter- os contextos arqueológicos clássicos foi enten- pretar a ocupação espacial e tentar delinear as dida como o link, no âmbito da Arqueologia atividades desenvolvidas pelos habitantes das Histórica, que tornou possível o convite, pelo casas coloniais rurais” (Campos 1995/1996). DPH/SMCSP, a partir do MP/USP, para a O objetivo último do projeto seria montar um criação do Programa de Arqueologia Histórica no núcleo de Arqueologia Histórica para atuar em Município de São Paulo. Seguindo as diretrizes da âmbito municipal (Zanettini 2005: 3). Carta de Veneza (1964), o DPH sentiu neces- De fato, está claro o pioneirismo do Progra- sidade de implantar um serviço arqueológico ma de Arqueologia Histórica no Município de São como “subsídio de recuperação e restauração de Paulo (Lima 1993) no continente americano, bens históricos edificados” (Campos 1995-1996). estabelecendo parâmetros para interpretações Segundo Margarida, “as escavações em velhos ca- das cerâmicas de fabrico local, dos itens im- sarões tinham por objetivo subsidiar o restauro. portados, das evidências de forja, investigando Buscávamos reconstituir o padrão construtivo, a padrões de assentamento, construções, descar- cor das paredes, as telhas originais”. tes, distinguindo áreas de atividade em termos O programa esteve associado à Arquitetura, funcionais. Estas prerrogativas aproximavam-se elucidando técnicas de construção, períodos de do que vinha sendo discutido pela household reformas (Andreatta 1986) e coletando informa- archaeology americana. Uma vez que as casas ções que auxiliassem no restauro de edifícios. são abordadas enquanto unidades sociais e A isto Margarida chamaria “pontos arquitetô- econômicas de análise, nas quais estruturas e nicos” evidenciados através da Arqueologia: disposições no espaço são esclarecedoras, às indícios de fundação de taipa de pilão, esteios vezes mais que os artefatos em si, da dinâmica de madeira, soleiras, acessos, “locais de ativida- da casa, Margarida entendia as transformações des familiar-sociais e de trabalho” (Andreatta e histórias do sítio como passos fundamentais a 1981/1982). Por isso as escavações priorizariam sua compreensão (Beaudry 2002). Esta abor- a reconstituição de plantas baixas e a evidencia- dagem seria aprofundada por seu orientando ção de “solos-pisos” de ocupação, divisórias e Paulo Zanettini (2005). vias de circulação interna. Para Margarida, os “testemunhos arque- Os edifícios eram escolhidos pelo “valor ológicos” contribuiriam para a interpretação arquitetônico” representativo de um período da ocupação do espaço e das atividades desen- da cidade de São Paulo; refletiam os nortes da volvidas por seus habitantes (Andreatta 1986). política cultural dos últimos anos do regime Os objetos eram encarados como reflexo de militar de preservar os monumentos represen- relações sociais, testemunhas da trajetória tativos como “testemunhos do gênio da raça” humana. A perspectiva do “objeto testemunha”, (Silva 2001). Além disso, eram encarados pela fruto da Antropologia de finais do século XIX, Arqueologia como “ilhas preservadas de solo prerrogava que “o objeto é dado ou documento não-perturbado” pela dinâmica urbana (Campos capaz de fornecer pistas à compreensão das cul- 1995-1996). O “edificado” faria parte das leituras turas afastadas no tempo e/ou espaço da cultura de Margarida sobre sítios históricos, assim como ocidental” (Leitão e Pinheiro-Machado 2010). da escolha dos tipos de sítios em que atuou. O “testemunho arqueológico” seria um dado

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bruto para documentar, de maneira objetiva e horizontais; no Beco do Pinto, subdividido concreta, tradições e costumes, associando-se em setores de A a P, com quadriculamento de ao evolucionismo cultural e à história evolutiva 2x2m, foram feitos cortes para perfis estratigrá- (Leitão e Pinheiro-Machado 2010). ficos e evidenciada a antiga calçada por uma De 1979 a 1981, Margarida realiza pros- trincheira (Chermann 2008). Na Casa do Grito pecções e resgates nos sítios arqueológicos foram abertas três trincheiras na parte externa, Mirim, Morrinhos, Casa do Tatuapé, Casa nº a 0,40m das paredes de pau-a-pique; além disto, 1, Beco do Pinto e Casa do Grito. A metodo- “foram feitas em três dessas trincheiras um logia executava trincheiras “para verificação corte, e na trincheira 4, dois cortes, perpendi- da sucessão de camadas, a fim de estabelecer culares, chamados cachimbos, para verificação comparações entre diferentes níveis internos da sucessão das camadas até o solo original e externos”, evidenciando os “solos-pisos de do local. Nas dependências interiores, foram ocupação e testemunhos neles existentes, pela também abertas seis trincheiras com a mesma técnica de decapagem em níveis naturais, a finalidade que as do exterior” (Andreatta 1986). fim de não ser alterada a posição do material As trincheiras eram ampliadas para decapagem encontrado, que permitirá a interpretação dos de acordo com as evidências nelas encontradas. achados arqueológicos” (Andreatta 1981/1982). Neste ínterim, em 1982, Margarida é cha- Alem das trincheiras, Margarida realizava cortes mada para coordenar as escavações das ruínas e cachimbos (entendidos como cortes menores, das caieiras coloniais na Ilha do Casqueirinho, junto a estruturas, para verificar fundações [An- em Cubatão, onde foram localizados cinco jos 1998]), evidenciando paredes, pisos, janelas sambaquis escavados por meio de parceria entre originais e a relação entre cômodos. o IPH, o MP e a COSIPA, sob coordenação de Na Casa nº 1, foi aberta uma trincheira Dorath Uchoa e Caio Garcia. O local referia-se no quintal, com 2m x 8m x 2,5m, e realizados a um forno de cal edificado, dos séculos XVII e cortes estratigráficos que evidenciaram níveis XVIII, que utilizava os próprios sambaquis para

Fig. 7: Decapagem do piso nas escavações na Casa do Tatuapé (Acervo DPH)

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calcinação (Uchoa e Garcia 1986). Os resul- herança cultural (material e imaterial) é valori- tados do trabalho foram apresentados na IV zada pela história, pela tradição escrita e oral e Reunião da SAB, a primeira a “forçosamente” pelos vestígios coletados em pesquisas”. abrir espaço aos consideráveis trabalhos de Ar- A ementa sintetiza muitas das ideias de queologia Histórica do país (Uchoa e Andreatta Margarida ao longo de sua trajetória, como os 1987; Lima 1993). métodos e técnicas da Arqueologia pré-histórica aplicadas a um novo contexto, as relações entre Arqueologia e Arquitetura (e os edifícios tombados) e a prerrogativa da cultura material enquanto “testemunho”. Margarida dialoga, assim, com a perspectiva mundial que nos anos 1960-1970 tentava definir as teorias e, em espe- cial, os métodos a serem utilizados nos “sítios históricos” (South, 1977; Schuyler, 1978). Ao final do programa de São Paulo, ministra curso de Arqueologia Histórica no Museu Emilio Goeldi, no Pará, em 1986, contando com o sítio escola do Engenho Murutucu. As escavações Fig. 8: Paulo Zanettini e Margarida Andreatta na Casa realizam cinco cortes de 1m² e duas trincheiras do Grito (Acervo DPH) (de 4,40m x 0,70m) para evidenciar um possível Apenas em 1983, ano em que a equipe calçamento (Melo 2007). Antes, em 1982, havia do DPH escava o sobrado do sítio Florêncio vistoriado o acervo arquitetônico, em vias de desa- de Abreu, residência do final do século XIX parecimento, conhecido como “Chácara do Sosse- (escavada, depois, em 1992 por Astolfo Araújo go”, em Sourre, na Ilha de Marajó, composto por e Marcos Carvalho [1999]), Margarida torna-se prédios do início do século XX. Estas atividades professora associada ao Museu de Arqueologia dão início a Arqueologia Histórica na região Ama- e Etnologia da USP (onde orientou, até 2012, zônica e ao estudo arqueológico dos engenhos 23 alunos), e, em 1984, ao Núcleo de Arqueo- coloniais situados no estuário amazônico, alguns logia da Universidade Brás Cubas, em Mogi das anos mais tarde, em 1988, alvo das pesquisas de Cruzes. O sítio Florêncio de Abreu é um dos Anderson e Marques (Marques 2004). poucos sobrados do século XIX escavados na Foi apenas 1986 que se deram as primei- cidade, além do Solar da Marquesa. ras experiências de orientação de projetos de A entrada no MAE é fruto do período de pesquisa de cunho acadêmico (fora aquela na avanços no estatuto legal da instituição, com a especialização da UFG em 1985) aos moldes consolidação de áreas de pesquisa, contratação de iniciações científicas: uma na USP, sobre de profissionais e conformação da pós-gradu- a tecnologia e ocupação humana na Fazenda ação em Arqueologia (Fleming e Florenzano Ipanema, e outra sobre o estudo da cerâmica 2011). No MAE, Margarida ministrou, entre do sítio arqueológico GO.RV.1 pela UFG. Seu 2001 e 2010, sua única disciplina, intitulada primeiro aluno em nível de pós-graduação strictu “Arqueologia Histórica - testemunhos históri- senso, Lúcia Juliani, inicia a orientação para o cos como documento arqueológico”. Segundo mestrado somente em 1990, na USP, em torno, a última ementa do curso, seu objetivo era justamente, da gestão do patrimônio arqueológi- “apresentar elementos e estudos da Arqueologia co urbano paulistano. Histórica para reflexão a respeito das relações As pesquisas de Andreatta claramente ren- entre documentos textuais e materiais” segundo deram frutos em São Paulo. Alguns personagens a justificativa do papel da Arqueologia para podem ser mapeados, como seus alunos Lucia a construção de elos entre as comunidades Juliani, Paulo Zanettini e Maryzilda Campos. presente e as do passado, surgidos “quando sua A geóloga Lucia, o historiador Paulo e artista

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Fig. 9: Planta da escavação da Casa do Grito (Andreatta 1986)

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plástica Maryzilda atuariam como arqueólogos qual participam, além de Margarida, Arno Kern, do DPH nos anos 1980 e 1990, na Seção de Ulysses Pernambucano e Cristina Sá. Presentes Arqueologia, dando andamento a algumas esca- estavam os arqueólogos do DPH, Paulo, Lúcia vações na cidade, como a do Solar da Marquesa e Maryzilda, a informar sobre as escavações na de Santos, sobrado de taipa de pilão do século Casa nº 3, o Solar da Marquesa. No mesmo ano XVIII, em 1985, sempre sob orientação da ocorreu, no Rio, o 1º Seminário de Arqueologia Prof.ª Margarida. Nele realizaram trincheiras e Histórica, que reuniu a maioria dos arqueólogos cortes para perfis estratigráficos, além das deca- envolvidos com o tema (Lima 1993). pagens em níveis naturais (Campos 1995-1996). Entre 1988 e 1989, Margarida escava, junto de Dorath Uchoa, um dos sítios mais emble- máticos da cidade, a Casa Bandeirista do Itaim Bibi, casa de taipa de pilão do século XVIII, arrolada por Mário de Andrade como uma das “casas velhas” que constam do primeiro relató- rio enviado a Rodrigo Melo Franco, em 1937. A Casa é uma das últimas somadas à lista de edificações do “padrão bandeirista” da região, juntamente ao sítio do Capão (escavado anos mais tarde por Paulo Zanettini, em 2003). Nela foram efetivadas intervenções na casa-sede e no anexo de taipa, limpeza do entulho do interior Fig.10: Escavações do sítio Mirim em 1982. Participam da casa e abertas quatro trincheiras, 59 “cachim- Lucia Juliani, à esquerda, e Paulo Zanettini, em pé bos” e realizadas decapagens. (Acervo DPH)

Fig. 11: 1º Seminário do Patrimônio Histórico da Fig. 12: Croqui de cachimbo realizado no Beco do Cidade de São Paulo Pinto (Acervo DPH)

Os anos 1980, e pelo menos até meados dos Anos mais tarde, em 2009, o sítio arqueoló- 1990, assistem a uma efervescência no mundo gico e bem tombado foi parcialmente destruído, da Arqueologia Histórica e nas tentativas de na “calada da noite”, durante as obras de um romper isolamentos e indiferenças do restante dos empreendimentos imobiliários mais caros da comunidade arqueológica do país (Zanettini e da história da América Latina. O Termo de Cazzetta 1993). Em 1985, acontece o 1º Seminá- Ajustamento Judicial e o Termo de Ajustamento rio do Patrimônio Histórico da Cidade de São de Conduta decorrente giraram em torno das Paulo, uma das primeiras iniciativas do tipo, pesquisas realizadas por Paulo Zanettini e equi- com mesa intitulada “Arqueologia Histórica”, da pe, com Margarida como consultora. Ironica-

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mente, a multa do TAC foi destinada a cons- panhando as obras no Vale do Anhangabaú. trução do novo prédio do MAE/USP, a mesma Localizou o antigo córrego e as obras do fim do instituição na qual a Arqueologia Histórica não século XIX, bolsões de lixo, trilhos de bonde, é, e nunca foi, muito prezada. traçados de antigas ruas e as fundações do an- A partir do final dos anos 1980 e ao longo tigo Viaduto do Chá, a partir de obras abertas da década de 1990, Margarida, ainda escavando pelo empreendedor (Juliani 1996). As pesquisas sítios com ruínas ou edificações, engloba a seus tinham como objetivo registrar as evidências trabalhos a Arqueologia Industrial, área que expostas pela obra e compreender a evolução engatinhava na cidade, realizada em terrenos urbana da cidade (Juliani e Campos, 1988). O tombados. Entre 1983 e 1989 dá andamento às programa enfrentou inúmeros desafios, como o pesquisas no sítio arqueológico Afonso Sardinha, fato da primeira etapa permitir o acesso de dois em Iperó, relacionado à fabricação de ferro no técnicos, acompanhados, por apenas uma hora morro de Araçoiaba entre os séculos XVI e XVIII aos canteiros de obra (Juliani e Campos 1990). e à Real Fábrica de Ferro de Ipanema, mais tarde Esta foi a primeira tentativa de desenvol- alvo do estudo de sua aluna de doutorado Ani- vimento de uma metodologia de Arqueologia cleide Zequini (2002-2006), do Museu Republica- Urbana em São Paulo, indicando a potencialida- no de Itú. Junto das escavações no Engenho dos de e alta densidade de vestígios no solo urbano Erasmos, é exemplo da influência da Carta de e a necessidade inerente de critérios para uma Veneza na configuração do Patrimônio Industrial gestão arqueológica das obras de infraestrutura do estado que, a partir do final dos anos 1970, e, na cidade (Juliani 1996; Juliani et al 1988). A sobretudo, com os anos 1980, começa a ganhar experiência conduziu a elaboração e inclusão de nova roupagem (Rodrigues 2010). dispositivo de proteção ao patrimônio arque- Em 1988 e 1990, Margarida leva a cabo as ológico na cidade de São Paulo na nova Lei primeiras intervenções arqueológicas associadas Orgânica do Município de 1990, pelo Artigo a uma Operação Urbana (pela EMURB), acom- 197 (Zanettini e Cazzetta 1993).

Fig. 13: Obra de canalização do ribeirão do Anhangabaú (século XIX) (Acervo DPH)

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Em 1989, Margarida vistoria a vila operária de decapagem em ampla superfície com a execu- de Paranapiacaba, construída pela São Paulo ção de trincheiras, cortes, e perfis estratigráficos, Railway Company em 1867, mais tarde alvo como indicador das diferentes camadas e compo- do mestrado de sua orientanda Cláudia Plens sição do solo” (Maesima 1997). O sítio foi dividi- (2002). Em 1990, prospecta a Calçada do Lore- do em setores, nomeados por letras do alfabeto, na, durante sua restauração, em trecho corres- a cada 2m. Durante esta etapa foram prospecta- pondente à descida da Serra do Mar, construído das as Indústrias Reunidas Fábricas Matarazzo em 1792 para facilitar a fiscalização dos metais São Caetano, complexo industrial ativo entre os e pedras preciosas provenientes do interior do anos 1910 e os anos 1970. As escavações foram Brasil; o tema foi alvo do mestrado de Paulo abandonadas devido à contaminação do terreno Zanettini entre 1993 e 1998. por inúmeros produtos químicos, não sem antes Em 1991, convênio da Prefeitura Municipal resultar na dissertação de mestrado de Henry de São Caetano do Sul e de seu Museu Histó- Maesima sobre os tijolos encontrados. rico com o MP/USP dá início a pesquisas em Entre 1995 e 1997, Margarida escava o Arqueologia Histórica a partir das sugestões de próprio MP a partir de intervenções visando Sonia Xavier, supervisora do MHSC, e de José a abertura de novas áreas no subsolo, que de Souza Martins, da FFLCH/USP a Ulpiano localizaram camadas de entulhos de materiais Meneses, então diretor do MP, que designa utilizados durante a construção do edifício Margarida para coordenar as escavações, acom- (1885-1895) e objetos trazidos pelos operários panhada dos estagiários Willer Bonni, Cecília que ali trabalharam, como esquadros, caixa de Correia, Leandro Duran, Hildo Maesima e Silva fósforos, garrafas de cerveja e resíduos alimen- Melchior (Maesima 1997). tares. Segundo a arqueóloga, o “material encon- As pesquisas no sítio Bairro da Fundação trado no subsolo trouxe subsídios importantes deram-se na face sul da antiga Igreja Matriz, na para a história dos costumes, da arquitetura, da praça Ermelino Matarazzo, a partir de “métodos engenharia e também ampliou o conhecimen-

Figura 14: Prospecções nas IRFM São Caetano (Maesima 1997)

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to sobre o processo construtivo na virada do na” e “faiança” (sob as prerrogativas de Tânia século” (Jornal USP, 1998). Andrade Lima para as faianças finas). O uso Em 1995, coordenadora do NAUBC a destas categorias artefatuais estaria presente no cerca de 12 anos, inicia as pesquisas em Mogi trabalho de diversos de seus orientandos, assim das Cruzes com o Projeto de Arqueologia da como a ausência ou parcimônia na utilização de Região da Serra do Itapety, que localiza cerca de “cerâmica neobrasileira” delineada por Onde- 15 sítios, com escavações em superfície ampla e mar Dias. etnográficas, “ataques horizontais” e leituras es- tratigráficas realizadas por trincheiras de 1,10m x 2m x1m; foram utilizados setores, organizados a cada 10m, nomeados por letras do alfabeto (Tomiyama 2002). Junto de Vivan Fernandes, Nair Tomiyama e Davi Chermann, seus orien- tandos no MAE/USP, escava outros sítios do vale do Paraíba, sempre com metodologias e perguntas semelhantes. Com o projeto retoma a temática industrial com o sítio Lago do Parque, em Mogi, relacionado ao serviço de captação de água no XIX. Fig. 15: Análise da cerâmica do sitio Casa do Itaim: Entre 1997-1999, através de termo de “decorada incisa, incisa escovada, incisa-ungulada” cooperação técnica e administrativa da USP (Acervo do DPH) com a Prefeitura de Santos, Margarida coorde- na escavações no Engenho dos Erasmos, das O uso destas categorias, associada à me- quais participa a arqueóloga Eliete Pythágo- todologia e técnicas que a própria Margarida ras. A escavação possibilitaria a evidenciação utilizou a partir da Arqueologia Pré-Histórica, do material arqueológico, através de ataque como ela mesma afirma em diversos momentos horizontal, enfatizando a representatividade dos (Andreatta 1981/1982; 1999), marcou a for- “referencias socioespaciais do passado” (Andre- mação de muitos pesquisadores, seja pela não atta 1999). Margarida buscava, assim como nas utilização de categorias da “tradição neobrasi- Casas Bandeiristas, auxiliar no entendimento leira” seja pelo uso de metodologias específicas. do modelo construtivo do engenho, subsidian- Poucos de seus alunos utilizam o termo, sempre do trabalhos para a revitalização do conjunto, e com ressalvas. delinear as linhas essenciais de suas condições O trabalho com fábricas e em contextos as- socioeconômicas. sociados ao século XX indica, igualmente, uma O sítio também foi dividido em setores postura bastante aberta em relação ao significa- identificados por letras do alfabeto, cuja meto- do da cultura material, que possibilitou minha dologia abarcou cortes de verificação, sondagens própria orientação sobre um sítio industrial, para delimitação dos limites e trincheiras “para o cotidiano operário e a produção de faiança evidenciar estruturas e diferentes horizontes de fina brasileira na primeira metade do século XX solo” (Andreatta 1999; Anjos 1998). As escava- (Souza 2010). Para Andreatta, em postura rara, ções foram feitas a partir do quadriculamento o século XX é passível de leitura arqueológica. dos setores e aplicação do método de superfie Em 1999, realiza prospecções no sítio ampla para compreender locais de residência, Lavras de Afonso Sardinha, no Pico do Jaraguá, capela e estabelecer a circulação interna do expoente das primeiras minerações portuguesas açúcar, identificando as atividades econômicas na América do século XVI. Mais tarde, junto de e sociais do engenho (Andreatta 1999). Os Paulo Zanettini e Érika Gonzalez, entre 2001 e “testemunhos arqueológicos”, classificados 2003, pelo projeto do Rodoanel, volta às cavas como “cerâmica”, “louça branca”, “porcela- de ouro coloniais.

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Com os últimos anos da década de 1990 impermeáveis da cidade. Chocou pesquisadores e a entrada no século XXI, Margarida é con- da época como Luciana Pallestrini. Zanettini sultada para a realização de vistorias em sítios utilizou o maquinário, por outro lado, para históricos da Grande São Paulo, em geral casas abrir trincheiras. de taipa de pilão dos séculos XVII e XVIII, Os trabalhos de Margarida permitiram engenhos, igrejas etc. Escava sítios pontuais no interessante interação da Arqueologia com estado, como o Jardim Quatro Estações, em o Restauro, pioneira no país no escopo da 2008, casarão do século XIX que sedia o Museu Arqueologia de Restauração (Zanettini e Republicano de Itú, com Angela Ribeiro e Cazzetta 1993; Najjar e Duarte 2002). Somam- Anicleide Zequini. -se a isto suas experiências em Arqueologia da Entre 2002 e 2006, compôs o Grupo de Mineração, Portuária (portos e armações de Estudos de Faianças e Porcelanas, com objetivo baleia), Industrial, dos Engenhos Coloniais, do de obter conhecimentos técnico-produtivos e de cotidiano de unidades domésticas e em uma usos sociais das louças, coordenado por Heloísa gama enorme de variações que possibilitaria Barbuy do Museu Paulista. Disto, resulta a visto- a malacóloga de formação, Margarida, uma ria de Margarida à Fábrica Chiarotti, à Porcela- trajetória densa que pouco existe atualmente na Kojima e à Cerâmica Teixeira em 2002. na Arqueologia. É assim que as experiências de Margari- Enveredando-se pelos caminhos e desca- da conformam campo com intelectuais que minhos da Arqueologia Histórica e Urbana pensam a Arqueologia Histórica na cidade de na cidade de São Paulo, Margarida abriu e São Paulo de maneiras específicas, longe das estruturou uma área desvalorizada, possibili- categorias ecológicas que marcam o conceito de tando a uma série de pesquisadores continuar tradição, utilizando métodos e técnicas de cam- e desenvolver caminhos próprios sobre as po que foram (re)construídos de modo muito temáticas sem fim da Arqueologia Histórica, próprio aqui. tecendo uma rede composta por intelectuais Com atuação bastante intensa na Arqueo- que, apesar de seguirem diferentes temáticas e logia Urbana paulistana, Paulo Zanettini, por possuírem especificidades, dispuseram de um exemplo, levou a cabo estudos em torno do coti- arcabouço teórico-metodológico aprendido diano dos paulistas entre os séculos XVI e XVIII com Margarida. a partir dos trabalhos de Margarida, com a qual Recentemente, Margarida foi homenageada se iniciou estagiário a partir da escavação da em diversos momentos: em 2007, com o Prêmio casa do Tatuapé, em 1979. É ele, já no final dos Bunge; em 2009, pela SAB Sudeste por sua anos 1980 e ao longo dos anos 1990, quem dá trajetória profissional; em 2011, pelos trabalhos continuidade ao uso de técnicas alternativas às prestados à USP e novamente por sua trajetória escavações francesas na cidade, com a utilização profissional pela SAB Nacional em Florianópo- de maquinário pesado e da amostragem para os lis. Desde 2011 Margarida faz parte do projeto sítios urbanos. Margarida foi uma das primeiras Fala Escrita, com objetivo que construir a a utilizar maquinário em escavações urbanas, memória do Museu Paulista em linguagem au- lançando mão da britadeira para romper as diovisual, contextualizando as documentações primeiras camadas arqueológicas formadas por produzidas sobre os sítios escavados ao longo de cimento, asfalto e concreto, típicas superfícies sua vida acadêmica.

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12621 miolo Parte 2.indd 175 16/10/2014 21:45:45 Margarida Andreatta e a conformação da Arqueologia Histórica Paulistana. R. Museu Arq. Etn., São Paulo, n. 22: .157-180, 2012.

SOUZA, R.A. Margarida Andreatta and the conformation of São Paulo Historical Archaeology. R. Museu Arq. Etn., São Paulo, n. 22: 157-180, 2012.

Abstract: This paper aims to highlight the role of Professor Margarida Da- vina Andreatta in the strengthening of the Historical (and Urban) Archaeology at São Paulo city through an understanding of her intellectual trajectory and the field to which she belonged. Margarida has participated at the formation of a whole group of archaeologists who worked in São Paulo with perspectives, although following different lines, having common ties, as, for example, the non utilization of the “Neo-brazilian” ceramic tradition terminology and the choice of specific field work methods.

Keywords: Margarida Andreatta, Historical Archaeology, São Paulo

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