Teatro 30 de maio a 2 de junho 2013

Sou o Vento de Jon Fosse. Encenação e interpretação de Diogo Dória e Manuel Wiborg © Folha Eu não queria, mas foi o que eu fiz interno de uma mesma pessoa. Um diálogo em que a tentativa subtil de Resolvi morrer. E ninguém negará que domínio impossível de um sobre o outro é a mais forte das decisões. nos apresenta um quadro de melancolia. Fedra no Hipólito de Eurípedes Fosse situa-nos num mar onde tudo é vazio e instável. Um barco como “Comecei a escrever tentando fazer uma espaço habitado de onde se avistam espécie de música... poucas palavras, ilhas e recifes com terra firme para repetições, variações, silêncios.” Assim onde voluntariamente não se caminha. resumia o autor o seu estilo na revista Procurámos um mar numa pintura, cujo dos Artistas Unidos no ano 2000. Jon movimento interno correspondesse aos Fosse trabalha o ritmo da linguagem silêncios do texto cheios de tortuosos com repetições onde vai introduzindo caminhos. Fechámo-nos num espaço nuances e acrescentando informação, abstrato descobrindo Um quem era o como quem constrói um caminho. Fala Outro, sentindo tratar-se de duas partes da necessidade de fazer ouvir a voz da do mesmo que se completam, apenas escrita silenciada na mera troca verbal. vozes e não personagens. Perdemo-nos Daí a importância das pausas, muitas às voltas no tempo (e no texto) fechados vezes indicadas no fim da fala. Fosse dentro de nós. escreve para que o anjo possa passar. Na procura da verdade de um texto A poética de Fosse remete-nos para labiríntico, assente em espaços abstratos um mundo trágico. O modo como o em substituição do real ou da imitação autor trata o tempo sob a forma cíclica, do real, surge uma força invulgar que Texto Jon Fosse (Eg er vinden, 2007) Tradutor Pedro Porto Fernandes confundindo o fim e o princípio, nos absorve e nos mantém na distância Atores e encenadores Diogo Dória, Manuel Wiborg Cenografia João Queiroz, Elsa Bruxelas acentua uma ideia de não progressão, do espectador e ao mesmo tempo nos Luz Jorge Ribeiro Produção Manuel Wiborg Coprodução Manuel Wiborg, Culturgest de imobilidade. A voz de Um marcada transporta para um registo da nossa Agradecimentos Jorge Silva Melo, Pedro Porto Fernandes, Nuno Colaço, Filipa Camacho pelo irremediável e pelo inconciliável emoção, obrigando-nos a enquadrar (assistência à cenografia/carpintaria) Apoios Embaixada da Noruega, Robbialac (categorias do trágico) caminha inexo- uma linguagem diferente. A dinâmica ravelmente para a morte afirmando a não é linear, existindo momentos mais vida na própria morte, como na tragédia intensos num movimento semelhante clássica. Também a narração da catás- a insetos esvoaçando em círculos trofe feita no final nos reconduz à figura cruzados que se arriscam sem nunca se do Mensageiro na tragédia. afastarem ou aproximarem demasiado, O nosso maior desafio foi encontrar o em vias de colidir a cada momento. tom justo para estes diálogos reiterati- Diogo Dória vos semeados de inúmeros sins e nãos, em que as ações descritas são apenas sugeridas. As duas personagens/vozes de Sou De qui 30 de maio a dom 2 de junho o Vento confrontam-se com medos 21h30 (domingo às 17h) · Palco do Grande Auditório · Dur. aprox. 55 min · M16 diferentes, opõem-se como um conflito

3 João Queiroz. Quadro para a cenografia de Sou o Vento, 2013. outorgada pelo Rei da Noruega para Diogo Dória recompensar contribuições às artes e cultura norueguesas). Diogo Dória estreou-se como ator em As suas peças começaram a circular 1975, tendo desde então trabalhado com no final dos anos 90, tendo sido repre- encenadores como Luis Miguel Cintra, sentadas na Noruega e no estrangeiro, Christine Laurent, José Luis Gómez, dirigidas por encenadores como Gunnel Solveig Nordlund, Dominique Ducos. Lindblom, Claude Régy, Jacques No cinema participou em filmes de João Lassale, Thomas Ostermeier, Barbara César Monteiro, João Botelho, João Frey, Katie Mitchell ou Patrice Chéreau Canijo, Jorge Silva Melo, Raoul Ruiz, que, em 2011, dirigiu Sonho de Outono e Wim Wenders e Manoel de Oliveira Sou o Vento. (com quem já colaborou por 14 vezes). É autor de E Nunca nos Separarão Dirigiu vários espetáculos, nomeada- (1994), O Nome (1995), Vai Vir Alguém mente com textos de Samuel Beckett, (1996), A Criança (1997), Mãe e Criança Nathalie Sarraute, Robert Pinget e (1997), O Filho (1997), A Noite Canta os Almeida Faria. Na Culturgest encenou Seus Cantos (1998), Um Dia de Verão Sete Contra Tebas de Ésquilo em 2007. (1998), Sonho de Outono (1999), Quando É coordenador e professor do Curso de a Luz Baixa e Fica Escuro (1999), Dorme, Teatro da ESAD das Caldas da Rainha. Meu Menino (1999), Visitas (2000), Inverno (2000), Variações Sobre a Morte Manuel Wiborg (2001), A Rapariga no Sofá (2002), Lilás (2002), Os Cães Mortos (2003), Manuel Wiborg interpretou no teatro Suzannah (2004), Sa ka la (2004), textos de Abel Neves, Joyce Carol Oates, Quente (2005), Sono (2005), Rambuku Jorge Silva Melo, Miller, Shakespeare, Jon Fosse Jon Fosse foi feito cavaleiro da Ordre (2006), Sombras (2006), Sou o Vento Brecht, Müller, Pinter e Strindberg, National du Mérite de França em 2007. (2007), Morte em Tebas (2008), entre entre outros. Trabalhou com os Jon Fosse nasceu em 1959 em Foi também classificado como número outras. encenadores José Peixoto, Rogério de Haugesund, no Oeste da Noruega. Vive 83 na lista dos 100 maiores génios vivos Foi apresentado ao público portu- Carvalho, Artur Ramos, Jean Jourdheuil em Bergen. Escreve em novo norueguês, pelo Daily Telegraph. Foi vencedor dos guês pelos Artistas Unidos, que o têm e Jorge Silva Melo. Fundou a Actores língua obrigatória nas escolas mas só prémios: Nynorsk (1988 e de novo em traduzido, representado e publicado. Produtores Associados, onde encenou falada nessa região. Estreou-se na lite- 2003); Aschehoug (1997); Dobloug Esteve em Lisboa em 2000, aquando da Jacinto Lucas Pires, José Maria Vieira ratura em 1983, tendo publicado cerca (1999); Norsk Kulturråds (2003); Brage estreia de Vai Vir Alguém n’A Capital e Mendes, Gonçalo M. Tavares, Pinter, de quinze livros antes de chegar ao (2005); Academia Sueca (2007); e em em 2001 para assistir a Sonho de Outono. Strindberg e Biljana Srbljanovic. No teatro: romance, poesia, ensaios, novelas 2010 foi-lhe concedido o prestigiado Voltou em 2009, por ocasião da visita cinema trabalhou com Manuel Mozos, e livros para crianças. O seu primeiro Prémio Ibsen. Desde 2011, foi-lhe oficial dos Reis da Noruega, para assistir Jorge Pinto, Jacinto Lucas Pires, Jorge texto para o teatro foi escrito em 1994. concedido o Grotten, uma residência à leitura de Sou o Vento (por Manuel Queiroga, Fernando Vendrell, António As suas obras foram traduzidas em mais honorária pertença do estado norue- Wiborg e Pedro Lima). Cunha Telles, António Campos e Jorge de quarenta idiomas. É amplamente guês e localizada nas instalações do Silva Melo (Prémio Dunkerque 1993). considerado um dos maiores dramatur- Palácio Real, no centro da cidade de Na Culturgest encenou As Regras da gos contemporâneos. (o Grotten é uma honra especial Atracção (Prémio Ribeiro da Fonte

4 5 2001), Vou lá Visitar Pastores (2004) Era uma Borboleta (Museu da Cidade, Próximo espetáculo e Uma Laranja Mecânica (2006). Em 2012). Participou em numerosas expo- televisão participou em diversas nove- sições coletivas desde 1981. Recebeu o © Jonas J. Tomter las, telefilmes e séries, sendo as mais Prémio EDP de Desenho em 2000 e foi recentes Conta-me Como Foi (RTP1) distinguido com o Prémio AICA 2011 Zanussi 5 e Laços de Sangue (SIC). É autor da (Associação Internacional da Crítica de peça O Amante de Ninguém (a partir Arte). Está representado em diversas Ciclo “Isto é Jazz?” de textos de Dostoiévski) publicada na coleções públicas e privadas, nomea- Comissário: Pedro Costa Cotovia. damente: Coleção da Caixa Geral de Depósitos, Fundação Luso-Americana Elsa Bruxelas para o Desenvolvimento, Fundação Jazz Dom 2 junho EDP, Fundação Calouste Gulbenkian – Pequeno Auditório · 21h30 · Dur. 1h10 · M3 Elsa Bruxelas nasceu em 1959. Com Centro de Arte Moderna, Ar.Co, Coleção formação em artes plásticas e música, António Cachola, Coleção MEIAC, tem participado em várias exposições Museu de Arte Moderna do Funchal. Saxofones Kjetil Møster, , extraordinárias capacidades perfor- com obras em gravura e vídeo. Realizou Jørgen Mathisen Contrabaixo Per Zanussi mativas, mas a regra que lhe assiste os filmes de curta-metragem e videoarte Jorge Ribeiro Bateria Gard Nilssen está às claras: Zanussi, Møster, Hegdal, Duas Pernas e um Sopro (2011), Tudo Mathisen e Nilssen pretendem, acima de Continua Até ao Dia em que Pára (2007); Jorge Ribeiro iniciou a sua formação Não é por acaso que o nome Zanussi tudo, divertir-se e divertir quem os ouve. História Desgraçada (2006), A Drogaria teatral no TEUC, enquanto aluno 5 nos remete para os Vandermark 5 Para tal, servem-se de uma receita (2001, Prémio Melhor Curta-metragem da Licenciatura em Engenharia do outro lado do Atlântico. O quinteto de deslumbrante eficácia: melodias que Nacional, FICA), O Homem Do Comboio Eletrotécnica da Universidade de do contrabaixista italo-norueguês Per entram no ouvido, uma rítmica sinco- (1997, Prémio Cottinelli Telmo para o Coimbra. Concebeu o desenho de luz Zanussi e o quinteto do saxofonista pante e groovy que funciona como um melhor filme da competição nacional, para mais de 100 espetáculos de teatro, e clarinetista norte-americano Ken motor de combustão a várias velocida- Festival de Cinema de Vila do Conde), dança, ópera e música. Desempenhou as Vandermark são duas manifestações de des, improvisações delirantes no seu entre outros. Colabora como cenógrafa funções de Chefe do Gabinete Técnico uma mesma causa, a de um jazz afirma- superior nível de inventividade e espon- e assistente de encenação nos projetos do Teatro Académico de Gil Vicente tivo que deglutiu outras músicas no seu taneidade, permanente introdução de de Diogo Dória desde 1984. (Coimbra), Diretor Técnico do Teatro propósito de sintetizar numa só fórmula elementos de absoluta surpresa e até Nacional S. João (Porto) e de Coimbra a condição metropolitana que a sustenta. de autoarmadilhamento e, sobretudo, João Queiroz Capital Nacional da Cultura 2003. Com uma diferença: se Vandermark 5 muita alegria. É Professor Convidado da Academia tem uma óbvia dimensão intelectual, Tudo isto saído da cabeça de um João Queiroz nasceu em Lisboa, Contemporânea do Espetáculo (Porto). a Zanussi 5 interessa mais fazer a músico, Per Zanussi, formado no em 1957. Vive e trabalha em Lisboa. festa, sem desvios de percurso nem Conservatório de e na Licenciou-se em Filosofia, em 1984, subterfúgios expressivos. E com uma Academia de Música da Noruega que pela Faculdade de Letras de Lisboa. Foi arma poderosíssima: a frente de três ganhou nome com a estranha banda de docente de Desenho, Pintura e Teoria saxofones com funções multiplicadas jazz eletrónico e com prati- de Arte no Ar.Co, entre 1989 e 2001. entre uníssonos, contrapontos e despi- camente todas as figuras em destaque Realizou numerosas exposições indi- ques, mais parecendo todo um naipe de da música criativa escandinava, como viduais, sendo as mais recentes Silvae sopros numa orquestra. Arve Henriksen, Martin Kuchen, Frode (Culturgest, 2010), A Curva do Rio A música do grupo norueguês é igual- Gjerstad, , Sten Sandell (Galeria Quadrado Azul, 2011) e Afinal mente complexa e obriga às mesmas e . Conselho de Administração Culturgest Porto Iluminação de Cena Presidente Susana Sameiro Fernando Ricardo (chefe) Fernando Faria de Oliveira Álvaro Coelho Administradores Comunicação Miguel Lobo Antunes Filipe Folhadela Moreira Maquinaria de Cena Margarida Ferraz Estagiária: Nuno Alves (chefe) Mafalda Munhá Artur Brandão Assessores Dança Publicações Técnico Auxiliar Gil Mendo Marta Cardoso Vasco Branco Teatro Rosário Sousa Machado Francisco Frazão Frente de Casa Arte Contemporânea Atividades Comerciais Rute Sousa Miguel Wandschneider Catarina Carmona Serviço Educativo Patrícia Blazquez Bilheteira Raquel dos Santos Arada Manuela Fialho Pietra Fraga Serviços Administrativos e Financeiros Edgar Andrade Estagiárias: Cristina Ribeiro Clara Troni Luísa Fonseca Paulo Silva Patrícia Carvalho Teresa Figueiredo Receção Raquel Oliveira Sofia Fernandes Direção Técnica Ana Luísa Jacinto Direção de Produção Paulo Prata Ramos Margarida Mota Auxiliar Administrativo Direção de Cena e Luzes Nuno Cunha Produção e Secretariado Horácio Fernandes Patrícia Blázquez Coleção da Caixa Geral de Depósitos Mariana Cardoso de Lemos Assistente de Direção Cenotécnica Isabel Corte-Real Jorge Epifânio José Manuel Rodrigues Inês Costa Dias Graça Fonseca Exposições Audiovisuais Maria Manuel Conceição Coordenação de Produção Américo Firmino Mário Valente (coordenador) Produção Paulo Abrantes Edifício Sede da CGD António Sequeira Lopes Ricardo Guerreiro Rua Arco do Cego, 1000-300 Lisboa, Piso 1 Paula Tavares dos Santos Tiago Bernardo Tel: 21 790 51 55 · Fax: 21 848 39 03 Fernando Teixeira [email protected] · www.culturgest.pt

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