CADERNOS FBDS 3

O PARQUE NACIONAL DO ITATIAIA

IPEF

CADERNOS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL é uma publicação da FBDS Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável Rua Golf Club, 115. , RJ 22610-040 Tel (21)322-4520. Fax (21)322-5903 email: [email protected]

Empresas Fundadoras: Acesita - Cia. Aços Especiais Itabira, Aracruz Celulose S.A.,Brascan Administração e Investimentos Ltda., Itochu Brasil S.A., Companhia do Jari, Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira, Companhia Siderúrgica Pains, Companhia Suzano de Papel e Celulose, Companhia Vale do Rio Doce, Construtora Andrade Gutierrez S.A., Eximcoop S.A., Klabin Fabricadora de Papel e Celulose, Mannesmann S.A., Nissho Iwai do Brasil S.A., Nutrimental S.A., Petrobrás - Petróleo Brasileiro S.A., Realcafé Solúvel do Brasil S.A., Ripasa S.A. Papel e Celulose S.A., Saint Gobain S.A., Shell Brasil S.A., Tetra-Pak Ltda., Varig S.A., Veracruz Florestal Ltda., Votorantim Celulose e Papel S.A.

Cadernos FBDS 3 abril 2000

As opiniões expressas em cada artigo são de responsabilidade de cada autor e não refletem necessariamente a posição da FBDS.

Editor: Ângelo A. dos Santos

Criação e Produção Gráfica: Ponto de Vista Comunicação Ltda.

Fotolito: mmmmmmmmmmmmmmmm

Impressão: mmmmmmmmmmmmmmmm

Apoio: Klabin Fabricadora de Papel e Celulose S.A. Sumário

Nota do Editor ...... 7

Introdução e Caracterização do Estudo ...... 9 Ângelo A. dos Santos, Gisela Hermman

Descrição Geral do Parque Nacional do Itatiaia ...... 21 Ângelo A. dos Santos, Carlos Eduardo Zikan

Mapeamentos Temáticos GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA ...... 31 Rosely Ferreira dos Santos, Antonio Gonçalves Pires Neto, Sonia Maria Csordas

Mapeamentos Temáticos VEGETAÇÃO, USO E OCUPAÇÃO DA TERRA ...... 40 Rosely Ferreira dos Santos

Perfil Sócio-demográfico-ambiental e Identificação das Demandas do Entorno PESQUISA SÓCIO-ECONÔMICA DO ENTORNO ...... 49 Samyra Crespo, Leandro Piquet Carneiro

Perfil Sócio-demográfico-ambiental e Identificação das Demandas do Entorno PESQUISA COM LIDERANÇAS...... 73 Samyra Crespo, Leandro Piquet Carneiro

Uso Público no Parque Nacional do Itatiaia PARTE I: CARACTERIZAÇÃO DO USO PÚBLICO ...... 93 Teresa Cristina Magro, Valéria M. Freixêdas Vieira

Uso Público no Parque Nacional do Itatiaia PARTE II: RESULTADO DAS AVALIAÇÕES DE IMPACTO ...... 119 Teresa Cristina Magro, Valéria M. Freixêdas Vieira

Programa de Gestão Participativa no Parque Nacional do Itatiaia ...... 147 Gisela Hermman, Cláudia Costa

Considerações Finais ...... 165 Nota do Editor

Este terceiro número dos Cadernos da FBDS é dedicado ao Parque Nacional do Itatiaia. Os estudos desenvolvidos circunscreveram um projeto sobre gestão participativa e uso público no PNI.

O projeto partiu de uma caracterização ambiental, efetuada por profissionais altamente quali- ficados, através de mapeamentos temáticos: geologia, geomorfologia, vegetação e uso do solo. Procedeu a um “survey” para definir um perfil sócio-econômico-ambiental das populações do entorno, complementado por uma pesquisa com as lideranças locais, tanto municipais, empre- sariais quanto ambientais, com finalidade de detectar a sensibilidade dos moradores com o PNI. Os estudos sobre o uso público identificaram, mapearam e calcularam a capacidade de suporte de cada uma das atividades de uso público já implantadas no Parque. Também propôs um plano de manejo para o uso público, definindo as ações que levam a uma gestão mais efici- ente. Os estudos sobre gestão participativa identificaram as dificuldades para implantar um sistema que envolva os diferentes atores sociais nas soluções de problemas ambientais do Par- que, bem como propôs um planejamento para um futuro plano de implantação da gestão participativa.

Este Projeto foi apoiado pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade-FUNBIO que, através do edital inaugural 96/97, selecionou a proposta apresentada pela FBDS sobre o Parque Nacional do Itatiaia, dentro da chamada 05 -Gestão de Unidades Públicas e Conservação.

Este caderno que reflete o esforço de cada uma das equipes envolvidas, contém os principais resultados do projeto e deve ser apreciado como um sumário executivo de cada um dos estu- dos desenvolvidos. O detalhamento das pesquisas, das metodologias e das análises estão con- tidas nos relatórios finais de cada uma das equipes.

Temos a certeza de que este trabalho resultou em um volume de ampla consulta para todos aqueles interessados nas questões ambientais do Parque Nacional do Itatiaia.

Rio de Janeiro, 17 de maio de 2000 Formações c aracterísticas da parte alta do Parque,a cima de 2.700 m, com rochas e campos de altitude. (foto Gerhard Valentin)

8 CADERNOS FBDS Introdução e Caracterização do Estudo

Ângelo A. dos Santos (1) Gisela Hermman (2)

que para a construção de um navio de guerra de grande porte, no séc. XVI, eram necessários 2.000 carvalhos adultos (uma área de 20 ha). A expan- são ferroviária na América do Norte (final do séc. XIX e início do séc. XX) consumiu de 20 a 25% da produção anual de madeira no país (Williams, 1997). Podemos imaginar o que se destruiu de florestas para a sobrevivência dos seres huma- 1. Depleção, Desenvolvimento e nos em países como a China, Índia ou no conti- Conservação de Recursos Naturais nente africano, para garantir a manutenção dos impérios coloniais europeus. O Império Maia, o mais antigo das Améri- Quando as florestas locais rarearam na Roma cas, abrangia a península do Yucatán, avançava antiga, na época republicana, o preço das árvo- sobre o Petén, abarcava as áreas adjacentes ao res foi valorizado tanto pelos comerciantes, au- atual Chiapas, chegando ao sul até Belize e pro- mentando o preço da lenha, como pelos filóso- vavelmente a El Salvador. Seu apogeu ocorreu fos, ampliando as discussões sobre os valores não entre os anos 300 e 800 D.C. Uma de suas cida- materiais das florestas. Os clássicos Plínio (o des, Tikal, no Petén mexicano, podia abrigar de Velho), Lucrécio, Virgílio e Catão deixaram re– 20.000 a 125.000 pessoas. Calcula-se que a po- gistradas as preocupações ecológicas sobre a des- pulação total das cidades Maias pudesse chegar truição das matas. O senador Cícero iniciou um a 3 milhões de pessoas. Quando os conquistado- debate sobre o declínio das reservas florestais res espanhóis chegaram ao México, iniciando a romanas e um plano para a recuperação das flo- destruição dos Aztecas, a civilização Maia esta- restas públicas, sendo derrotado por um de seus va extinta. O testemunho da sua existência es- pares. Os construtores e as indústrias passaram tava coberto pela luxuriante floresta tropical. a empregar métodos mais eficientes de uso da Entre os anos 800 e 900 D.C., as construções ces- madeira; o governo passou a importar madeira saram, a escrita caiu em decadência, os registros para garantir a oferta e diminuir o descontenta- escassearam, as cidades foram despovoadas, os mento popular, os fazendeiros ampliaram as Maias perderam parte de seus territórios para plantações de árvores visando proteger as bacias outras culturas e foram dizimados (Coe, Snow, hidrográficas. A expansão do império romano, Benson, 1986). O que ocorreu com esta popula- entre outras causas, também pode ser lida atra- ção? Ao certo ninguém sabe, mas estudos recen- vés da busca de madeira para manutenção do seu tes apontam para um colapso no sistema agríco- poder no Mediterrâneo (Perlin, 1989). la advindo ou do mau uso do solo e aumento das Muito já se escreveu sobre a estreita rela- pragas, ou de mudanças climáticas locais causa- ção entre a destruição das florestas e o desenvol- das pela destruição das florestas. vimento econômico. Para se ter uma pequena A história da formação do Brasil também idéia da pressão sobre a madeira, foi calculado não se diferencia do quadro – destruição

(1) Coordenador para Assuntos Internacionais, Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (2) Superintendente Técnica, Fundação Biodiversitas

CADERNOS FBDS 9 Artista Anônimo, Figura de Brasileiros, xilogravura 17,8 x 26,3 cm. Ilustração do livro anônimo: “C’est la Deduction du Sumptueux Ordre...” . Rouen, 1551. Coleção José Mindlin. Notar na parte esquerda superior indígenas carregando Pau-Brasil para as canoas. ambiental e sucesso econômico. Mesmo aceitan- perda dos recursos econômicos auferidos com a do que as populações indígenas tenham degra- depleção das populações de pau-brasil, faz uma dado alguns dos recursos naturais, esta depleção tentativa de regular a exploração e instala os pri- se fez localmente, não assumindo jamais a di- meiros guardas florestais da história nacional. O mensão do ecossistema total. final dessa história é conhecido: a árvore símbo- A partir da chegada dos portugueses, surge lo do Brasil desapareceu de sua área original, está a demanda por pau-brasil. Crescendo entre o Rio ameaçada de extinção e somente algumas inici- Grande do Norte e o Rio de Janeiro, o pau-brasil ativas abnegadas, particulares, impedem a se concentrava, em densas populações, entre as extinção total da espécie. atuais cidades do Rio de Janeiro e Cabo Frio, nos A mais clara destruição ambiental e ocor- arredores de Porto Seguro e na ilha de Itamaracá, rência de ciclos de desenvolvimento econômico, onde foram instaladas as primeiras feitorias, jus- no Brasil, pode ser atestada pela história da des- tamente para exploração da madeira. Registros truição da Mata Atlântica. Primeiro, no Brasil Co- nos portos europeus, da chegada de cargueiros lônia, para a implantação da cana de açúcar, no portugueses e franceses, permitem estimar que, nordeste brasileiro, com vistas à exportação do somente ao longo do séc. XVI, foram comer– açúcar e enriquecimento dos mercadores holan- cializadas dois milhões de árvores, ou seja, 20 deses. Posteriormente, no Brasil Império, para as mil por ano, uma média de 50 por dia. No relato plantações de café na Mata Atlântica do sudeste de Jean de Lery, sobre a desastrada instalação da e enriquecimento dos corretores da bolsa de Lon- França Antártica no Rio de Janeiro, contaram-se dres, com algumas sobras para o início da indus- 100.000 toras de pau-brasil em um único depósi- trialização nacional. to de contrabandistas. Cada navio podia levar 5 Como mostra o brilhante trabalho do estu- mil toras. No final de 1500, as árvores só podi- dioso americano W.Dean (1997), a ferro e a fogo am ser encontradas longe da costa, mata aden- destruiu-se uma das mais importantes reservas tro. Em 1605, a coroa portuguesa, temerosa da florestais do planeta. O conflito entre proteção

10 CADERNOS FBDS Lopo Homem: Terra Brasilis, mapa do Atlas Miller, 1515-1519. Manuscrito iluminado mostrando a flora e fauna brasileira. A maioria das árvores representa o Pau Brasil.

CADERNOS FBDS 11 ambiental e desenvolvimento econômico já se pação antrópica da região, o conflito existente é encontra estabelecido no Brasil Imperial. pela ocupação da terra. O interesse legítimo do Grilagem de terras públicas, estabelecimento de estado está no estabelecimento e manutenção florestas de uso comum, leis e normas de prote- de uma unidade de conservação em área da Mata ção ambiental jamais obdecidas, degradação Atlântica. Os ocupantes da área, embora consci- hídrica, erosão, não são problemas atuais no país. entes da importância da unidade de conserva- A inépcia do poder público em criar mecanismos ção para sua qualidade de vida e atividades de proteção aos recursos naturais e a avidez da econômicas, não se envolvem com a atividade iniciativa privada por novas terras florestais, o fim do parque. Ambos sabem da importância da histórico conflito entre a especulação e a conser- área de conservação mas não encontram uma vação são uma herança que nossa sociedade car- agenda comum de discussão e atuação. rega e ainda não conseguiu equacionar. Este trabalho buscou criar as bases para o Será que o desenvolvimento econômico é planejamento de uma gestão participativa do ecologicamente insustentável? Como Parque Nacional do Itatiaia como instrumento equacionar o uso dos recursos naturais e sua con- para definir uma agenda de atuação em comum servação ? Acreditamos que seja possível asso- entre os diferentes atores sociais. ciar a conservação da biodiversidade com seu uso. Optamos, como estratégia para abordar esta Em termos de macropolítica, o caminho passa questão, por desenvolver as seguintes metas/ati- pela reorganização do sistema econômico e por vidades: opções de consumo. A maneira, ou melhor, o mé- Proceder a um diagnóstico da situação atual todo para resolver a equação conflituosa é que do PNI ainda está em construção. Definir um programa de uso público do PNI Em termos de uma ação local, as soluções Caracterizar o envolvimento da população independem de megaestruturas sociais; opções do entorno com o PNI sustentáveis podem ser planejadas e construídas, dependendo do nível de participação dos dife- Definir as necessidades de formação dos re- cursos humanos do PNI nas áreas de gerência rentes atores sociais. administrativa, financeira e ambiental e indi- car os agentes da capacitação 2. O Projeto Definir um programa de educação ambi- ental, divulgação e gestão co-participativa Em 1996, a Fundação Brasileira para o De- Propor um planejamento para um futuro senvolvimento Sustentável (FBDS) assinou um programa de gestão participativa convênio com o IBAMA para iniciar estudos no PNI que abordassem uma questão que se apre- senta em muitas das unidades de conservação 3. A Equipe brasileiras: como harmonizar o uso público com a conservação da biodiversidade e adequar uma Neste trabalho, a FBDS se associou a um U.C. a uma demanda crescente do turismo, excelente time de ambientalistas de outras ins- minimizando os impactos ambientais e sociais? tituições e assumiu a coordenação das equipes, Nosso primeiro trabalho no PNI foi um diagnós- definindo o escopo geral dos trabalhos e asses- tico ambiental e um mapeamento do parque. sorando as equipes no atendimento das metas Em 1997, o Fundo Brasileiro para a propostas. Nosso trabalho foi bastante facilita- Biodiversidade promoveu uma concorência do, uma vez que os pesquisadores envolvidos nos pública para apresentação de projetos em trabalhos de campo tinham um pensamento diferentes campos do uso e conservação da convergente sobre o PNI e estão entre os melho- biodiversidade. A FBDS apresentou uma res profissionais do Brasil. proposta para planejamento da gestão A Fundação Biodiversitas foi criada para se participativa no Parque Nacional do Itatiaia, com ocupar da conservação da biodiversidade; sua ex- enfâse na questão do uso público. periência vai desde a formulação de políticas pú- No caso do PNI, devido ao processo de ocu- blicas conservacionistas, pesquisa sobre biologia

12 CADERNOS FBDS da conservação, educação ambiental, definição 4. Áreas Protegidas no Brasil de áreas prioritárias para conservação até planos de manejo e atuação direta junto a U.C. Hoje, A profa. Rozely Ferreira dos Santos, da possui no país a melhor experiência em gestão Unicamp, é especialista em sensoriamento remo- participativa. Sua experiência foi decisiva na ori- to e sua equipe produziu os mapas mais entação e condução da proposta de planejamen- atualizados sobre o Parque. O primeiro instru- to para o PNI. A Dra. Gisela Hermann foi a res- mento legal que regulamentou as áreas protegi- ponsável pela equipe encarregada deste estudo. das no Brasil foi o Código Florestal de 1934 (Dec. Liderado pela Dra. Samyra Crespo, o Insti- no 23.793/34), que visava preservar áreas silves- tuto Superior de Estudos Religiosos, entre seus tres de valor paisagístico, sem fazer uma refe- vários interesses, se ocupa há vários anos das rência direta à conservação dos recursos natu- questões referentes à percepção ecológica por di- rais nelas contidos. Apesar de o Parque Nacional ferentes atores da sociedade e ampliação da cons- de Itatiaia ter sido criado em 1937, três anos após ciência ecológica da população brasileira. Neste a publicação desse primeiro instrumento legal, projeto, a equipe organizada pelo ISER forneceu somente a partir da década de 60 a criação des- uma imagem consistente da percepção das li- sas áreas de preservação tomou impulso no Bra- deranças locais sobre o PNI e traçou o perfil sócio- sil. econômico e ambiental da população do entorno Em 1965, o Dec. no 23.793/34 foi revogado do parque - decisivo para instrumentar o plane- e substituído pelo Código Florestal que vigora jamento da gestão participativa, bem como a de- até hoje, (Lei no 4.771, de 18 de setembro de finição dos temas ligados à educação ambiental 1965). O novo Código Florestal, associado à Lei e às possíveis fontes de apoio financeiro. de Proteção à Fauna Silvestre (Lei 5.197, de 03 A Dra. Maria Teresa Magro, pesquisadora de janeiro de 1967), constituiu o primeiro do Depto. de Florestas da ESALQ, iniciou seus ordenamento legal diretamente destinado à con- trabalhos sobre o uso público no PNI, anterior- servação do meio ambiente. Na década seguin- mente ao projeto. Respondendo ao nosso convi- te, os conceitos relacionados às áreas protegidas te, organizou uma equipe para cobrir os diferen- começaram a ser mais bem definidos através da tes aspectos do uso público. Com certeza, este publicação do Regulamento dos Parques Nacio- estudo produziu a melhor análise sobre a capa- nais Brasileiros (Dec. no 84.017, de 21 de setem- cidade de suporte em uma unidade de conserva- bro de 1979), que estabeleceu a obrigatoriedade ção, e propos um excelente planejamento das ati- da elaboração do zoneamento e do Plano de Ma- vidades de uso público no PNI. Desconheço ou- nejo para essas unidades. Como uma conseqü- tro trabalho deste fôlego já produzido no país. ência dos avanços legais e institucionais apresen- Esta brilhante equipe de jovens pesquisadores tados nesse período, a maioria dos Parques Naci- está se consolidando como o melhor time de es- onais foi criada nas décadas de 60 e 70. tudiosos sobre o tema, e o estudo sobre o uso A diversidade de áreas protegidas, com ob- público no PNI virá a tornar-se uma referência jetivos e categorias de manejo diversos, levou à para outros trabalhos. necessidade de se estabelecerem critérios e nor- Esse esforço de pesquisa teria sido inútil sem mas para a criação, implantação e gestão desses a atuação decisiva do Diretor do PNI, Dr. Carlos espaços. Assim, desde 1992, está tramitando na Eduardo Zikan, que trabalha para ampliar a par- Câmara dos Deputados o Projeto de Lei que irá ticipação de diferentes atores sociais na resolu- instituir o Sistema Nacional de Unidades de Con- ção de questões do parque. servação (SNUC). Esse documento estabelece A relação total dos participantes neste pro- conceitos e categorias de manejo para as áreas jeto pode ser consultada no anexo. protegidas brasileiras, bem como regulamenta as atividades que serão desenvolvidas em cada uma dessas áreas. O SNUC redefine o termo Unida- de de Conservação (UC) que passa a ser com- preendido como o “espaço territorial e seus com- ponentes, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente

CADERNOS FBDS 13 instituído pelo Poder Público, com objetivos de 2) UCs de Uso Direto, classificadas pelo conservação e limites definidos, sob regime es- SNUC como Unidades de Uso Sustentável, cujo pecial de administração, ao qual se aplicam ga- objetivo básico é promover e assegurar o uso rantias adequadas de proteção”. sustentável dos recursos naturais, permitindo a Baseado na concepção da União Internaci- sua exploração e o seu aproveitamento econô- onal para Conservação da Natureza (IUCN) que mico de forma planejada e regulamentada. A agrupa as áreas protegidas em função de suas ca- categoria Parque Nacional se inclui no primei- racterísticas e de seus objetivos (Quadro I), o ro grupo (Quadro II) e tem como objetivos bási- SNUC separa as Unidades de Conservação em cos “a preservação de ecossistemas naturais, em dois grupos distintos: geral de grande beleza cênica, a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de ati- 1) UCs de Uso Indireto, classificadas pelo vidades de educação e interpretação ambiental, SNUC como Unidades de Proteção Integral, cujo de recreação em contato com a natureza e de objetivo básico é preservar a natureza, sendo res- turismo ecológico”. De acordo com o objetivo tringidos a exploração ou aproveitamento dos do projeto, as discussões aqui apresentadas se- recursos naturais, admitindo apenas o uso indi- rão centradas nas Unidades de Conservação de reto desses recursos e; uso indireto.

QUADRO I Classes de Unidades de Conservação, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN)* Uso Indireto dos Recursos Naturais: exige a não ocupação para fins de exploração direta dos recursos naturais, mas permite benefícios indiretos, somente através de atividades educativas, recreativas e turísticas - aquelas relacionadas à pesquisa científica. Nesta classe, incluem-se, no Brasil, as Estações Ecológicas, Reservas Biológicas, Parques Nacionais, Reservas Particulares do Patrimônio Natural, Áreas de Relevante Interesse Ecológico, Áreas de Preservação Permanente e outras. Uso Direto dos Recursos Naturais: permite a exploração direta dos recursos naturais e tem como objetivo proteger a biodiversidade, assegurando ao mesmo tempo o uso sustentável destes recursos. Nesta classe, incluem-se as Áreas de Proteção Ambiental (APA), as Florestas Nacio- nais, as Reservas Indígenas e as Reservas Extrativistas. Reservas de Destinação: áreas de interesse ecológico cuja ocupação e exploração ainda não foram definidas. * Extraído do Planejamento e Gestão de APAs. Enfoque Institucional - Série Meio Ambiente no 15. IBAMA, 1997.

QUADRO II Categorias de manejo reconhecidas pela IUCN e sua correspondência nas categorias legalmente estabelecidas no Brasil** CATEGORIAS DA IUCN (1994) CATEGORIAS ESTABELECIDAS NO BRASIL Categoria I Reserva Biológica Reserva Natural Estrita Estação Ecológica Reserva Biológica Categoria II Parque Nacional Parque Nacional Categoria III Monumento Natural Categoria IV Área de Manejo de Habitat / Espécies Categoria V Área de Proteção Ambiental Paisagem Terrestre e Marinha Protegida Área de Relevante Interesse Ecológico Categoria VI Floresta Nacional Área Protegida com Recursos Manejados Reserva Extrativista

** Extraído do Marco Conceitual das Unidades de Conservação Federais do Brasil. IBAMA, 1997.

14 CADERNOS FBDS 5. Instrumentos de Planejamento de Unidades de Conservação de Uso gerenciamento que irão propiciar o cumprimen- to de tais objetivos. Na época de sua elaboração, Indireto a ênfase do planejamento estava no orde- namento do espaço físico. Esse conceito não con- Atualmente existem três instrumentos ofi- siderava em seu escopo a necessidade do ciais de planejamento e gestão dos Parques Na- envolvimento das comunidades vizinhas, o que cionais brasileiros: Plano de Manejo, Plano de evoluiu radicalmente após o IV Congresso Mun- Ação Emergencial (PAE) e Plano Operativo Anual dial de Parques Nacionais e Outras Áreas Prote- (POA). gidas, da IVCN, realizado em Caracas, em 1992. O Plano de Manejo (PM) é o instrumen- Esse Congresso marcou uma mudança de pos- to oficial do planejamento das Unidades de Con- tura em relação às áreas protegidas, que passa- servação de uso indireto. De acordo com o Re- ram do isolamento à integração com o entorno gulamento dos Parques Nacionais Brasileiros a partir do reconhecimento do papel das UCs no (Dec. no 84.017, de 21 de setembro de 1979) o desenvolvimento de uma sociedade mais susten- Plano de Manejo é definido como um “projeto tável. dinâmico que, utilizando técnicas de planeja- Em sua maioria, os Planos de Manejo dos mento ecológico, determine o zoneamento de Parques Nacionais Brasileiros foram elaborados um Parque Nacional, caracterizando cada uma no final da década de 70 e no início dos anos 80 e de suas zonas e propondo seu desenvolvimento seguiram o enfoque do Regulamento dos Parques físico, de acordo com suas finalidades”. Nacionais Brasileiros. Esses Planos buscavam es- A partir da análise dos recursos naturais tabelecer programas e sub-programas de mane- existentes e do grau de alteração antrópica, o jo, bem como a regulamentação para cada zona Plano de Manejo deve estabelecer o zoneamento do Parque. Nessa época, ainda não era conside- da área total do Parque Nacional, podendo con- rada a participação de atores externos ao órgão ter, ao todo ou em parte, sete zonas (Quadro III). administrador nos processos de planejamento e Apesar de o Regulamento dos Parques Nacionais gestão das Unidades de Conservação. Os Planos Brasileiros estabelecer os objetivos para cada uma de manejo deveriam, ainda, abranger um perío- das zonas, não define os mecanismos de do de cinco anos e ser, então, revistos.

Na trilha que vai do Abrigo Rebouças à sede do Parque Nacional do Itatiaia, a exuberância da flora dos campos de altitude. (foto: Teresa Cristina Magro)

CADERNOS FBDS 15 QUADRO III Zonas dos Planos de Manejo***

ZONA DEFINIÇÃO

É aquela onde o primitivismo da natureza permanece intacto, não se tolerando quaisquer altera- ções humanas, representando o mais alto grau de preservação. Funciona como matriz de I – Intangível repovoamento de outras zonas onde já são permitidas atividades humanas regulamentadas. Esta zona é dedicada à proteção integral dos ecossistemas e dos recursos genéticos e ao monitoramento ambiental. O objetivo básico do manejo é a preservação, garantindo a evolução natural.

É aquela onde tenha ocorrido pequena ou mínima alteração humana, e que contenha espécies da flora e da fauna ou fenômenos naturais de grande valor científico. Deve possuir características de II – Primitiva zona de transição entre a Zona Intangível e a Zona de Uso Extensivo. O objetivo geral do manejo é a preservação do ambiente natural e, ao mesmo tempo, facilitar as atividades de pesquisa cientí- fica, educação ambiental e proporcionar formas primitivas de recreação.

É aquela constituída em sua maior parte por áreas naturais, podendo apresentar alguma altera- III – Uso Extensivo ção humana. Caracteriza-se como uma zona de transição entre a Zona Primitiva e a Zona de Uso Intensivo. O objetivo do manejo é a manutenção de um ambiente natural com mínimo impacto humano, apesar de oferecer acesso público para fins educativos e recreativos.

É aquela constituída por áreas naturais ou alteradas pelo homem. O ambiente é mantido o mais IV – Uso Intensivo próximo possível do natural, devendo conter: centro de visitantes, museus, outras facilidades e serviços. O objetivo geral do manejoéodefacilitar a recreação intensiva e educação ambiental em harmonia com o meio.

É aquela onde são encontradas manifestações históricas e culturais ou arqueológicas que serão V – Histórico-Cultural preservadas, estudadas, restauradas e interpretadas para o público, servindo a pesquisa, educa- ção e uso científico. O objetivo geral do manejoéodeproteger sítios históricos ou arqueológicos, em harmonia com o meio ambiente.

É aquela que contém áreas consideravelmente alteradas pelo homem. Zona provisória, uma vez restaurada, será incorporada novamente a uma das zonas permanentes. As espécies exóticas VI – Recuperação introduzidas deverão ser removidas e a restauração deverá ser natural ou naturalmente agilizada. O objetivo geral de manejo é deter a degradação dos recursos ou restaurar a área.

É aquela que contém as áreas necessárias a administração, manutenção e serviços do Parque Na- cional, abrangendo habitações, oficinas e outros. Estas áreas serão escolhidas e controladas de VII – Uso Especial forma a não conflitar com seu caráter natural e devem localizar-se, sempre que possível, na peri- feria do Parque Nacional. O objetivo geral de manejo é minimizar o impacto da implantação das estruturas ou os efeitos das obras no ambiente natural ou cultural do Parque.

*** Extraídas do Regulamento de Parques Nacionais Brasileiros (Dec. no 84.017, de 21 de setembro de 1979).

16 CADERNOS FBDS Devido a vários fatores, tais como a neces- mesmo será suprido pela Fase 1 do planejamen- sidade de um conhecimento profundo sobre as to de UCs de uso indireto (IBAMA, 1997). unidades e a dificuldade na obtenção de recur- No período de dezembro de 1993 a outubro sos financeiros e pessoal capacitado, a maioria de 1995, no âmbito do PNMA, foram priorizadas dos Parques Nacionais brasileiros não teve seus 28 Unidades de Conservação que tiveram seus Planos de Manejo elaborados. Ao mesmo tem- Planos de Ação Emergencial elaborados. A po, o prazo de dois anos previsto para a elabora- metodologia de elaboração dos PAEs envolve: a ção do Plano era considerado insuficiente, tendo coleta e análise de informações básicas, diagnós- em vista a complexidade dos estudos necessári- tico preliminar da situação da UC, a realização os para realizar o seu zoneamento. Dessa ma- de um Seminário de Planejamento com partici- neira, das 78 UCs de uso indireto federais, ape- pação de técnicos e das populações do entorno - nas 20 possuem Plano de Manejo, sendo que subsídios para a realização da última etapa que deste total 18 necessitam de revisão e apenas dois se refere à definição das estratégias e identifica- estão em vigência (WWF 1994). ção das ações emergenciais. De uma maneira Embora em todas as metodologias para ela- geral, os PAEs resultam na apresentação de um boração de Planos de Manejo exista uma previ- diagnóstico sobre a situação da UC e na defini- são de revisão a cada cinco anos, a maioria dos ção de ações emergenciais para resolução dos Planos de Manejo não chegou sequer a ser problemas identificados. Embora os documen- implementada. Era necessário, então, desenvol- tos produzidos sejam bastante coerentes com as ver uma metodologia de planejamento menos necessidades das UCs, em geral, a sua imple– complexa, que pudesse servir à implementação mentação tem estado muito aquém do espera- e à manutenção, em caráter emergencial, da Uni- do, centrando-se principalmente na construção dade de Conservação. Além disso, vários doado- e melhoria da infra-estrutura das unidades e aqui- res de programas para Unidades de Conserva- sição de equipamentos. No entanto, os acordos ção, tais como o Programa Nacional de Meio e parcerias interinstitucionais previstos, funda- Ambiente (PNMA), exigiam a elaboração de Pla- mentais para uma gestão mais eficiente da uni- nos de Manejo para a liberação dos recursos. Era dade não são totalmente efetivados (Ramos e necessário encontrar uma solução rápida, uma Capobianco, 1996). vez que existiam recursos para as Unidades de Na prática, o instrumento mais utilizado Conservação e, devido à ausência de Planos de para a gestão de nossas Unidades de Conserva- Manejo atualizados, não se conheciam as priori- ção tem sido o Plano Operativo Anual (POA), dades para aplicá-los. que, embora seja definido como um instrumen- Dessa maneira, o Plano de Ação Emer- to de planejamento a curto prazo, nada mais é gencial (PAE) foi criado como uma alternativa do que um detalhamento orçamentário das ati- simplificada de planejamento das Unidades de vidades a serem realizadas, em um dado ano, para Conservação que não possuíam um Plano de o cumprimento das metas estabelecidas no Pla- Manejo ou para aquelas cujos Planos necessitas- no de Manejo ou no Plano de Ação Emergencial. sem ser revisados. Esse instrumento requeria um O POA, desvinculado do PM ou do PAE, não pode tempo menor para a sua elaboração e estabele- ser considerado um instrumento abrangente de cia ações de curto prazo que assegurassem a pro- planejamento, uma vez que o mesmo não en- teção da área. A abordagem metodológica do PAE volve o levantamento de informações para a de- é participativa, considerando os interesses das finição de prioridades e de atividades para efeti- populações do entorno e de outros técnicos en- var-se a implantação da UC. Entretanto, para as volvidos no processo (IBAMA, 1994). O PAE es- UCs que não dispõem de instrumentos formais tabeleceu-se, assim, como o instrumento de pla- de planejamento, o POA passou a assumir o pa- nejamento da Unidade de Conservação até que pel de “orientador” das atividades desenvolvidas, o seu Plano de Manejo fosse realizado, além de o que se dá através da distribuição dos recursos subsidiá-lo na época de sua elaboração. Com a financeiros disponíveis para a unidade em rubri- nova metodologia para elaboração de Planos de cas, que nem sempre refletem as suas reais ne- Manejo em três fases, o Plano de Ação Emer- cessidades. gencial não mais será elaborado, uma vez que o Além de ser, por si só, um instrumento de

CADERNOS FBDS 17 planejamento pouco eficaz, o POA frequente- Marta, Colômbia, em 1997, foram abordadas mente sofre problemas, como atrasos no orça- diversas metodologias adotadas para a elabora- mento da União e complicações burocráticas, ção de Planos de Manejo, nas quais se verificava principalmente nos processos de licitação, o que a tendência e a preocupação de buscar a partici- contribui para o não cumprimento das ações pação para alcançar os objetivos pretendidos conforme planejado. Assim sendo, a elaboração (Sales et al. 1998). Entre esses pontos incluem- do Plano Operativo Anual é mais um procedi- se: mento burocrático do que um planejamento preocupação para desenvolver processos mais abrangente e estratégico. mais participativos, dinâmicos, flexíveis e Apesar dos esforços governamentais, a mai- mais baratos oria das Unidades de Conservação não obteve adoção de um Plano de Manejo contínuo e grandes êxitos na sua manutenção e imple– adaptativo, não sendo mais buscada a ela- mentação, fato agravado pelos frequentes pro- boração de um plano definitivo, que deman- blemas fundiários ainda existentes em grande dava muito tempo, além de um conheci- parte das unidades. Tradicionalmente, as Uni- mento muito profundo da área dades de Conservação no Brasil, mais especifica- inclusão do entorno, ou mesmo, regiões mente, os Parques Nacionais, foram criadas atra- maiores no planejamento da UC vés de decretos presidenciais sem uma consulta busca da integração com os planos de de- prévia às populações diretamente atingidas. Esse senvolvimento nacional, regional e local fato, além de representar uma visão bastante conservadora quanto à questão dos espaços pro- preocupação em contemplar a dimensão tegidos, gerou muita resistência aos parques cri- social, buscando, sempre que possível, al- ados. Até hoje é possível constatar casos de in- ternativas ec1onômicas para a população cêndios criminosos em Parques Nacionais, cau- entorno sados por ex-proprietários de terras insatisfeitos, desenvolvimento de técnicas ambiental- que, em sua maioria, não foram devidamente in- mente corretas e sustentadas para o desen- denizados. volvimento da região. Diante desse quadro, os instrumentos tra- Ao mesmo tempo, as discussões evoluíram dicionais de planejamento não conseguiam re- para modelos de gestão mais eficientes, sendo solver os problemas mais cruciais para a manu- que o conceito moderno de Plano de Manejo tenção das Unidades de Conservação criadas. O nada mais é do que um processo gerencial com modelo racional e tecnocrata não refletia as con- uma visão sistêmica. Cabe, pois, nesse momen- tradições sociais geradas, e nem previa um tra- to uma definição de gestão, termo frequente- balho de negociação e esclarecimento dos dife- mente utilizado na atual literatura ambiental rentes atores, direta ou indiretamente envolvi- brasileira, como as expressões “Plano de Gestão”, dos. Na realidade, essa não foi uma situação ex- “Gestão de Unidades de Conservação” e “Plane- clusiva da questão ambiental brasileira. Proble- jamento e Gestão”. Muito embora as palavras mas semelhantes levaram a comunidade inter- manejo e gestão1 possam ser utilizadas como nacional ao início da discussão sobre a necessi- sinônimos, o IBAMA tem empregado a expres- dade de a sociedade participar na tomada de de- são “Plano de Manejo” para designar o instru- cisões relativas à criação das áreas protegidas. mento de planejamento oficial das Unidades de Durante as discussões do Workshop sobre Conservação de uso indiretoeaexpressão “Pla- Planejamento de Áreas Protegidas, realizado du- no de Gestão” para as de uso direto, mais especi- rante o I Congresso Latino-americano de Parques ficamente para as Áreas de Proteção Ambiental Nacionais e Outras Áreas Protegidas, em Santa (IBAMA 1997).

1 Gestão: ato de gerir; gerência, administração. Manejo: administração, gerência, direção, manejo (em: Novo Dicionário Básico da Língua Portuguesa. Aurélio Buarque de Holanda Ferreira e J.E.M.M. Editores, 1988).

18 CADERNOS FBDS Bibliografia

Bueno, E., 1998, Náufragos, Traficantes e Degre- Ramos, A. & J., Capobianco, 1996, Unidades de dados: as Primeiras Expedições do Brasil. Coleção Conservação no Brasil: aspectos gerais, experiências Terra Brasilis, vol. 2, Rio de Janeiro, Editora Ob- inovadoras e a nova legislação (SNUC), Documen- jetiva. tos do ISA, no 01.

Bueno, E.,1999, Capitães do Brasil: A Saga dos Sales, G.; O. Cases & G. Corzo,1998, Taller de Primeiros Colonizadores. Coleção Terra Brasilis, vol. Planificación de Áreas Protegidas, Memorias del 3, Rio de Janeiro, Editora Objetiva. Primer Congresso Latinoamericano de Parques Nacionales y Otras Áreas Protegidas, Ministerio del Cole, N. S. e Benson, E., 1989, Atlas of Ancient Medio Ambiente, Unidad Administrativa Especial, America, Nova York., Editora Equinox Book. Sistema de Parques Nacionales Naturales, Santa Marta, Colômbia. Dean, W., 1997, A Ferro e Fogo: A HistóriaeaDe- vastação da Mata Atlântica Brasileira, São Paulo, Turner II, B. L. , Clark, W.C., Kates, W., Richards, Editora Companhia das Letras. J. F., Mathews, J. T. and Meyer, W. B. (Edts.), 1990, The earth as transformed by human action, IBAMA, 1994, Plano de Ação Emergencial para o Cambridge University Press, Cambridge. Parque Nacional de Itatiaia, Brasília, DF. Williams, M., 1997. Industrial Impacts on the IBAMA, 1996, Roteiro Metodológico para o Plane- Forests of the United States, 1860-1920, Journal of jamento de Unidades de Conservação de Uso Indire- Forest History. to, Brasília, DF. WWF, World Fund for Nature 1994, Subsídios Perlin, J., 1992, História das Florestas: A Importân- para Discussão, Workshop Diretrizes Políticas para cia da Madeira no Desenvolvimento da Civilização, Unidades de Conservação, Brasília, DF. Rio de Janeiro, Editora Imago.

Uma das plantas que fazem de Itatiaia um meioambiente único. (foto: Teresa Cristina Magro)

CADERNOS FBDS 19 As cachoeiras são um elemento marcante do Parque Nacional do Itatiaia. (foto: Teresa Cristina Magro)

20 CADERNOS FBDS Descrição Geral do Parque Nacional de Itatiaia

Ângelo Augusto dos Santos (1) Carlos Eduardo Zikan (2)

Negras. Parece que os nativos, da família tupi, da tribo conhecida como PURI, constituíram os primeiros nativos dessa região; estudiosos apon- tam essa tribo como colonizadora do vale do Paraíba do Sul. A partir do sec. XVI, nos primórdios do mo- 1. Introdução vimento das bandeiras, europeus ou descenden- tes paulistas vinham à região para a captura de escravos indígenas. Existia uma trilha que par- O Parque Nacional do Itatiaia (PNI) está tia de São Paulo, através do vale do Rio Paraíba situado a sudeste do Estado do Rio de Janeiro, do Sul, em direção ao norte, acompanhando as em terras dos municípios de Resende e Itatiaia; franjas da Mantiqueira. O atual pico das Agu- e ao sul de , abrangendo os municí- lhas Negras era utilizado como um marco de ori- pios de Alagoa, Bocaina de Minas e . entação pelos bandeirantes que capturavam ín- Localiza-se entre as coordenadas 44º34’- 44º42’W dios na região (Drumond, 1997). e 22º16’– 22º 28’S. A importância geológica da A partir da descoberta das jazidas auríferas, região é devida, em parte, às elevações do pla- em Minas Gerais, no fim do sec. XVII, esta re- nalto do Itatiaia, onde o Pico das Agulhas Ne- gião do Itatiaia tornou-se um ponto de passa- gras, com 2.787 m de altitude, é o sétimo ponto gem para o interior da colônia. Tudo indica que, mais alto do Brasil. Outros picos, como a Pedra em 1715, a serra do Itatiaia, incluída na sesmaria do Couto, com 2.682 m, e as Prateleiras, com dada a Garcia Rodrigues Paes Leme, foi ponto de 2.515 m, também destacam-se no planalto. Além busca de ouro. Mas, segundo os registros, somen- do patrimônio biótico e geomorfológico, o PNI te em 1744, uma expedição oriunda de Aiuruoca tem grande relevância por ser o primeiro parque (MG) chegou à região na busca frustrada de ouro. a ter sido criado no Brasil, através do Decreto Essa intensa movimentação atesta que as trilhas Federal nº 1.713, de 14 de junho de 1937 (IBDF, da região eram comumente utilizadas e, daí, a 1982). atual cidade de Resende ter surgido a partir de um ponto de apoio de tropas de burro. Já em Histórico 1744, esta cidade exibia uma capela e, em 1757, Considera-se que os vocábulos de língua devido ao movimento comercial gerado pelo trá- tupi Ita = pedra e tiããi = ponta, dente, deram fico intenso entre Minas Gerais e o porto de origem à denominação ITATIAIA: uma clara alu- Angra dos Reis e Parati, Resende foi elevada à são às formas pontiagudas da serra da condição de freguesia (Drumond, 1997). Mantiqueira, destacando-se o pico das Agulhas Com o término do ciclo do ouro em Minas

(1) Coordenador para Assuntos Internacionais, Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (2) Diretor do Parque Nacional do Itatiaia

CADERNOS FBDS 21 Gerais, inicia-se o grande ciclo do café. Todaessa existente (IBAMA,1983; FEDAPAM, 1991). região do vale do Paraíba do Sul se transforma Auguste de Saint-Hilaire, em suas expedições em uma grande zona de cafeicultura, tendo pelo sudeste brasileiro entre 1816-22, foi o pri- Resende como vanguarda. meiro naturalista a deixar registrado a coleta de A cafeicultura em todo o vale do Paraíba do material botânico e zoológico na região, bem Sul, bem como em outras regiões do Brasil, exau- como atestar a riqueza da cidade de Resende. O. riu e degradou a Mata Atlântica existente. Hoje, Derby (1889) e E. Ule (1898) foram outros natu- somente nos pontos altos das serras restam par- ralistas que prospectaram na região, no sec. XIX. tes de alguns dos ecossitemas que formavam a As terras onde hoje situa-se parte do PNI per- antiga Mata Atlântica. Um exemploéoParque tenciam ao Visconde de Mauá. Nacional do Itatiaia que, apesar de tentativas A partir do sec. XX, K. H. Dusen (1902) frustradas de colonização por finlandeses e ou- realizou estudos sobre a cobertura vegetaleage- tros, no sec. XIX, não teve sua área totalmente ologia na região. No ano de 1908, estas terras degradada como as partes mais baixas do vale. foram adquiridas pela Fazenda Federal para a cri- Esta região foi alvo de interesse de diversos ação de dois núcleos coloniais. Devido à alta estudos de naturalistas desde o sec. XIX, mas declividade do local, os núcleos não obtiveram o também de atividades extrativistas e predatóri- sucesso esperado e as terras foram, então, repas- as, devido ao rico potencial botânico e faunístico sadas para o Ministério da Agricultura. Em uma

Mapa de Localização Parque Nacional de Itatiaia.

22 CADERNOS FBDS conferência realizada em 1913, o naturalista su- Couto até a Garganta do Registro e partes do íço J. Hubmayer destaca o “inesgotável potenci- maciço de Passa Quatro. A fronteira Rio de Ja- al” para pesquisa científica de campo, apontan- neiro - São Paulo é demarcada pelo rio do Salto. do para a capacidade de turismo da região, devi- Na região NW,o rio Capivari drena grande parte do a sua proximidade aos grandes centros (Rio do “esporão” da Capelinha e dirige-se para o rio de Janeiro e São Paulo). Cabe a esse naturalista a Verde, formador do rio Grande. O rio Aiuruoca primeira proposta de criação desse parque nasce na várzea do mesmo nome e dirige-se para (Drumond, 1997). o rio Turvo, outro afluente do rio Grande (IBDF, No ano de 1929, foi criada no local uma 1982). Estação Biológica que era subordinada ao Jardim A orografia é um dos principais fatores Botânico do Rio de Janeiro (IBDF, 1982; Serra- determinantes do clima do Parque Nacional do no, 1993). Em 1934, vem à luz o Código Flores- Itatiaia, pois compreende as superfícies mais ele- tal Brasileiro, onde é tratada a criação dos par- vadas da serra da Mantiqueira (IBDF, 1982). As ques nacionais; mas, somente em 1937, através condições climáticas, pelos padrões de Köppen, do Decreto Federal no 1713, foi criado o Parque são de dois tipos: Cwb (mesotérmico com verão Nacional do Itatiaia. Apoiado pelos naturalistas brando e estação chuvosa no verão) nas partes Derby e Umbayer e pelo Barão Homem de Melo, elevadas da montanha, acima dos 1.600 m de al- o botânico Alberto Loefgren, Ministro da Agri- titude, e Cpb (mesotérmico com verão brando cultura da época, assina esse decreto, tornando- sem estação seca) nas partes baixas das encostas se oficialmente o criador do PNI (Pádua, 1983; da montanha. No planalto, a temperatura mé- IBAMA, 1994; Drumond, 1997). dia anual é de 11,4º C, sendo janeiro o mês mais Quando de sua criação em 1937, o parque quente com 13,6º C; julho é o mês mais frio com tinha uma área de aproximadamente 12.000 ha. 8,2º C. A máxima absoluta apurada foi de 21,4º C, Posteriormente, sua área foi ampliada para cerca em fevereiro, e a mínima foi de -15,4º C, em ju- de 30.000 ha, através do Decreto nº 87.586, de lho. As geadas intensas são comuns nos meses 20 de setembro de 1982 (IBAMA, 1994). Como de inverno, verificando-se com freqüência gra- o Plano de Manejo do PNI foi publicado antes nizo e, raras vezes, breves nevadas (IBDF,1982). da ampliação da área do parque e, até o momen- As chuvas registradas no PNI são intensas, to, não houve a revisão do mesmo, o principalmente no verão. A precipitação anual zoneamento, que estabelece o grau e o tipo de está em torno de 2.400 mm, tendo janeiro a uso para cada zona de manejo, está definido so- maior intensidade, com média de 27 dias e 388 mente para a área original. mm de pluviosidade. As chuvas ficam mais es- cassas do final de abril até outubro, sendo que, Aspectos Naturais em agosto, ocorrem em média 8 dias de chuva O Parque Nacional do Itatiaia é caracteri- com 58 mm de pluviosidade. Nos meses de ju- zado por relevos de montanhas e elevações ro- nho e julho, a umidade relativa do ar não ultra- chosas, com altitudes de 650 a 2.780 m, que se passa a 70% em média (IBDF, 1982). A umidade destacam sobre o planalto do Alto Rio Grande, máxima absoluta ocorre em dezembro, com 83%, nivelado a 1.900 - 2.100 m; ao sul, formam as es- e a mínima em junho, com 62%; a média é de carpas da Serra da Mantiqueira (ver 75,2%. “Mapeamentos Tenáticos Geologia e Geomor– A flora primitiva da região teve grande in- fologia”, nesta edição). terferência humana, principalmente durante a O maciço do Itatiaia é divisor de águas de época em que existiu, na área atual do PNI, uma duas bacias: a do rio ParaíbaeadorioGrande. O colônia agrícola, no período de 1908 a 1918. As rio Preto drena a área NE do maciço e deságua matas foram cortadas para implantação de cul- no rio Paraíba. Para SE o rio Campo Belo, consi- turas agrícolas e extração de madeira para a cons- derado o rio mais importante da região, acom- trução de dormentes de estradas de ferro panha o vale dos Lírios e desce até a cidade de (IBAMA, 1994). Itatiaia que é abastecida com suas águas. A ba- Seguindo o sistema de classificação cia do rio do Salto, no setor SW, tem drenagem fitoecológico, descrito por Veloso (1992), a vege- que abrange desde as PrateleiraseaPedra do tação do Parque Nacional do Itatiaia se distribui

CADERNOS FBDS 23 em: Floresta Ombrófila Densa Montana, nas instalações e equipamentos do parque. Manter o áreas onde a altitude varia de 650 a 1.500 m; Flo- patrimônio do PNI e zelar pela sua integridade. resta Ombrófila Densa Alto Montana, acima de 11. Equipar o PNI com infra-estrutura e pro- 1.500 m de altitude; Floresta Ombrófila Mista gramas de uso público para torná-lo um centro Montana em altitudes de cerca de 1.200 m com de atração turística nacional e internacional. a presença de Araucaria angustifolia (BRASIL, 1983) e Floresta Estacional Semidecidual Montana na vertente continental do parque, aci- 3. O Plano de Manejo ma dos 500 m de altitude. Na parte mais aciden- e o Zoneamento do PNI tada e elevada do planalto, acima de 1.600 m de altitude, começam a surgir os Campos de Alti- De acordo com o IBAMA (1994), o Plano tude (IBDF, 1982; IBAMA, 1994). de Manejo, elaborado em 1982, propôs a ampli- ação da área do parque de 11.930 ha para cerca de 30.000 ha, o que foi posteriormente efetiva- do. Assim, o zoneamento e as demais recomen- 2. Objetivos Específicos do Parque dações do Plano de Manejo restringem-se ao ta- Nacional do Itatiaia manho original do parque. O zoneamento pro- posto indicou a adoção de sete zonas na parte 1. Manter o controle das populações vegetais considerada como Parque Nacional: Intangível, e manter e proteger as áreas representativas dos Primitiva, Uso Extensivo, Uso Intensivo, Recu- diversos ecossistemas encontrados no parque. peração, Uso especial e Uso Conflitante. Recuperar e conservar a diversidade ecológica, suas potencialidades e recursos genéticos. Zona Intangível 2. Proteger espécies raras, ameaçadas ou em Definição/objetivos: Não se tolera qualquer perigo de extinção. Manter o controle das popu- alteração humana. lações animais. Localização: 5 áreas não contínuas 3. Recuperar, conservar e proteger a área do Na porção RJ do Parque: altiplano do Itatiaia. Sudoeste - terras de encosta e de planalto com 4. Conservar áreas de beleza cênica naturais, formações de matas e campos de altitude; representativas da serra da Mantiqueira. limite leste - entre a Serra das Prateleiraseoli- 5. Possibilitar estudos científicos visando mite do parque, abrange as nascentes dos cursos aprofundar os conhecimentos sobre o desenvol- d’água formadores do ribeirão do Pinhal; vimento dos recursos culturais e naturais exis- Leste - parte da serra do Palmital e serra do tentes ou reintroduzidos na área, conhecer as Alambari, próximo ao limite e até as proximida- condições climáticas, bem como as característi- des da formação Cabeça de Leão, chegando às cas sócio-econômicas dos visitantes e sua influ- proximidades das Agulhas Negras. ência no contexto regional, de forma a apoiar o Na porção MG do Parque: manejo da unidade. Norte – duas áreas: campos de altitude, Floresta 6. Promover a recuperação de áreas alteradas Montana com Araucária e Podocarpus. pela atividade humana. Controlar a erosão e con- Normas: Não será permitido captura ou coleta, servar os recursos água e ar. salvo exceções autorizadas. 7. Proteger as nascentes das duas grandes ba- cias hidrográficas do sudeste: bacia do rio Paraná Zona Primitiva e bacia do rio Paraíba do Sul. 8. Possibilitar atividades de uso público dire- Definição/objetivos: Mínima intervenção huma- tamente ligadas aos recursos da área, compatí- na. Preservar o ambiente natural e facilitar as ati- veis com os demais objetivos, e orientar o visi- vidades de pesquisa científica, educação tante em suas atividades para que ele tenha uma ambiental e proporcionar formas primitivas de experiência positiva e agradável. recreação. 9. Proporcionar segurança aos visitantes. Localização: Parte interior do parque, no sentido 10. Proteger os recursos naturais e culturais e as norte-sul. Por sua grande extensão engloba vári-

24 CADERNOS FBDS os ecossistemas representativos do PNI. do Parque. A água servida não poderá ser lançada Normas: O uso público será restrito a passeios a aos rios, nascentes ou cursos d’água. As constru- pé. Não contará com facilidade alguma, nem áre- ções necessárias deverão se harmonizar com a as previamente estabelecidas. Não são permiti- paisagem natural. das quaisquer alterações que venham a interfe- rir na paisagem natural. Zona de Recuperação Definição/objetivos: Áreas consideravelmente al- Zona de Uso Extensivo teradas pelo homem. Espécies exóticas deverão Definição/objetivos: Áreas naturais com alguma ser removidas. Deter a degradação dos recursos interferência humana. Manutenção de um am- e restaurar a área. biente natural com mínimo impacto humano, Localização: Três áreas distintas, apesar de oferecer acesso e facilidades para fins A oeste do Parque educativos e recreativos. Ao longo do limite leste na região de Mauá Localização: Faixa de terras que se desenvolvem Área entre o Rancho do BoiadeiroeaPedra ao longo da estrada que liga Maromba ao topo Cabeça de Leão. do Paredão da Água Branca e ao longo das tri- Normas: Não será permitida a visitação nesta lhas: área. Trilha de acesso aos Três Picos; Trilha entre o abrigo Macieiras e o abrigo Zona de Uso Especial Rebouças; Definição/objetivos: Minimizar o impacto das cons- Trilha que liga Rebouças a Mauá; truções e atividades não relacionadas com os ob- Trilha entre Maromba e o morro Cavado; jetivos do Parque, no ambiente e na paisagem. Trilhas do rio do Ouro, entre Pousada Localização: na área do Parque Natural Massena e Fazenda Palmital. Normas: O uso público será permitido em baixo Zona de Uso Conflitante nível de intensidade. Não serão permitidas ativi- dades recreativas em conflito com os objetivos do Definição/objetivos: Apresenta atividades e estru- Parque. Serão instaladas placas contendo informa- turas não relacionadas com o Parque e incompatí- ções básicas para orientação e interpretação. veis com os objetivos de uma UC. Localização: Três áreas não contíguas, Próxima ao Portão do Planalto, onde está Zona de Uso Intensivo instalada a estação de microondas de Furnas Definição/objetivos: Áreas naturais ou alteradas Centrais Elétricas S/A pelo homem. O ambiente é mantido o mais pró- Área ao sul, na Água Branca, onde estão ximo possível do natural, devendo conter cen- instalados retransmissores de televisão, de tro de visitantes, facilidades e serviços. Propor- propriedade de um consórcio de Prefeituras cionar educação ambiental e a recreação em har- da região monia com o meio. Junto à Pousada Massena, com os Localização: Faixa de terra ao longo da Estrada retransmissores da TV Globo (atualmente do Portão do Planalto até o abrigo Rebouças. Esta desativados) zona encontra-se totalmente situada em área de Normas: Seus ocupantes deverão, no menor pra- campos de altitude. zo possível, providenciar novos locais para ins- Normas: A visitação será incentivada e o uso de talação dos equipamentos fora da área do Par- veículos permitido. Serão desenvolvidas ativida- que. A manutenção destas áreas será de respon- des interpretativas e educacionais com o senti- sabilidade dos ocupantes; só os funcionários po- do de facilitar a apreciação e a compreensão do derão ter acesso a ela. Não é permitida ilumina- parque pelos visitantes. As atividades recreati- ção externa. Tão logo desocupadas, deverão pas- vas serão restritas àquelas voltadas aos aspectos sar para Zona de Recuperação. naturais da área, tais como passeios a pé, pique- nique, fotografia e camping, de modo a não Sobre a situação do zoneamento encontra- conflitar com as metas de proteção dos recursos da em 1994, o Plano de Ação Emergencial descre-

CADERNOS FBDS 25 ve a Zona Intangível como sendo constituída por trutura necessária à administração e situa-se na cinco áreas não contíguas, nas quais vinham ocor- área denominada pelo Plano de Manejo como rendo situações incompatíveis com as característi- Parque Natural. cas e objetivos definidos para essa zona. Em áreas A Zona de Uso Conflitante era constituída por com mata havia casos de caça; as áreas de campo três áreas. A primeira, com as instalações de eram invadidas pelo gado de fazendas vizinhas ou, FURNAS e mais outras 8 empresas. Uma outra mesmo, de propriedades não indenizadas existen- possuía retransmissores de TV,hoje desativados. tes nas terras anexadas ao parque em 1982; há ain- Na Água Branca há uma repetidora da PETRO– da extração de palmito, em alguns locais da área BRÁS e mais nove empresas. Nenhuma medida situada a sudoeste do parque, e de ervas medici- foi tomada no sentido de transferirem-se esses nais, nas áreas situadas na porção norte. equipamentos. A permanência dessas empresas Os objetivos da Zona Primitiva vinham sen- não está regulamentada nem regularizada por do atendidos na maior parte de sua área; porém, instrumento algum atualizado. alguns trechos de sua porção noroeste vinham A porção sul do PNI, denominada Parque sendo invadidos por gado. Natural no Plano de Manejo, foi dividida em cinco A Zona de Uso Extensivo é constituída por zonas: de Preservação Permanente, Uso Restrito, Uso trilhas originalmente percorridas pelos visitan- Intensivo, Uso Especial e Uso Múltiplo. tes, das quais atualmente não é permitido o uso A Zona de Preservação Permanente, pela exis- público. Essas trilhas, de um modo geral, apre- tência de grande número de propriedades parti- sentam-se com graves problemas de erosão em culares, torna difícil de fiscalização para o cum- vários pontos. Não foram instaladas as placas de primento das normas determinadas para essa orientação e interpretação recomendadas, nem zona, as quais referem-se à proibição da substi- implantadas as AD – Áreas de Desenvolvimen- tuição e retirada total ou parcial da vegetação. to previstas, as quais dariam suporte à fiscaliza- A Zona de Uso Restrito, com o Decreto nº ção e controle do uso público. Os moradores das 750 de 1993, tornou-se ainda mais restrita. áreas situadas no planalto costumam cruzar o A Zona de Uso Intensivo engloba as estradas parque através de trilhas que ligam a parte no- do parque e alguns locais usualmente utilizados roeste à região de Mauá (das ADs Vargem Gran- pelos visitantes, como o lago Azul, a cascata da de e do Cavado à AD Maromba), para vender Maromba e o Centro de Visitantes. Entre as nor- produtos como queijo e ervas, estas muitas ve- mas estabelecidas no Plano de Manejo, observa- zes obtidas no próprio parque. se que a sinalização para orientar e informar o A Zona de Uso Intensivo estende-se do Posto visitante é insuficiente; não foram implantados 3 ao abrigo Rebouças, num trecho com cerca de locais para venda de lanches, artesanato e publi- 4 km, recebendo aproximadamente 10% do to- cações relacionados ao parque. As atividades dos tal de visitantes do parque. As péssimas condi- visitantes restringem-se à recreação, pois não foi ções da estrada neste trecho fazem o funcioná- implementado um programa de educação e in- rio aconselhar o visitante a não seguir de carro terpretação ambiental. Através do Projeto Atuar, até o abrigo. Não foram implantados equipamen- estudantes da Universidade de São Paulo elabora- tos para as atividades interpretativas e recreati- ram um projeto para implementação de uma tri- vas. A fiscalização permanente, recomendada nas lha interpretativa, ligando o Centro de Visitantes normas para essa zona, não é feita, pois normal- ao lago Azul. Até o momento, não foram realiza- mente, no Posto 3, permanece apenas um funci- dos estudos para determinar a capacidade de car- onário. ga dos veículos nos locais mais visitados desta Na Zona de Recuperação, pelas dificuldades zona. Entretanto, é muito importante que, mes- existentes para a realização de atividades de fis- mo de forma empírica, sejam adotadas algumas calização (pessoal, recursos materiais e pontos medidas neste sentido, especialmente no que se de apoio), não se tem conseguido impedir total- refere ao número de ônibus estacionados no mente a presença de visitantes. Os estudos para Centro de Visitantes nos dias de visitação mais acompanhar-se a evolução dessa zona não vêm intensa. sendo realizados. A Zona de Uso Especial contém a infra-es-

26 CADERNOS FBDS Dados Oficiais sobre Atividades do PNI foi de 1.551 crianças, com maior movimento no mês de outubro (dia da criança); no ano de A administração do PNI possui dados com- 1998, este atendimento foi de 1.485 visitan- parativos para o período de 1996 a 1998, sobre: tes, com maior movimento no mês de junho embargos; apreensões e depósitos; solturas de (dia mundial do meio ambiente). animais e doações; autos penais; autos adminis- O número de pagantes em 1996 foi 76.431, trativos e seus respectivos valores; projetos de gerando uma arrecadação de R$ 144.328,82. No pesquisa; despesas; fontes de recursos; número ano de 1997, este número caiu para 61.906 de visitantes e arrecadação. visitantes, mas a arrecadação aumentou pa– Segundo esses relatórios, o ano em que hou- ra R$ 270.052,01 em função do aumento do ve mais embargos de obras e ações foi 1996, com preço do ingresso. Em 19981, os visitantes foram 11 registros. O ano de 1997 caracterizou-se como em número de 75.737, gerando a arrecadação de o ano de maior número de apreensões e depósi- R$ 325.382,60. tos, totalizando 21 ocorrências. Neste mesmo Em 1996, o parque teve como recursos ano foram registrados o maior número de soltu- R$ 1.800,00 disponíveis e executados; em ras e de doações de animais, com 47 casos e o 1997, este valor foi para R$ 14.700,00 dis- maior número de autos penais (44) e de autos poníveis e R$ 7.135,00 executados; no ano administrativos (40). O número de laudos téc- de 1998 houve R$ 90.300,00 disponíveis e, nicos, elaborados no ano de 1997, foi de 88; já até o mês de março, R$ 0,00 executado. em 1998, foram elaborados 116 laudos técnicos Em 1996, o parque teve como fonte de re- sobre diversas infrações ocorridas no interior e cursos do PNMA o orçamento de R$ 803.698,00 entorno do PNI. previsto no POA, dos quais R$ 734.000,00 exe- O ano de 1997 também foi o ano de maior cutados. Em 1997, o orçamentado previsto foi número de projetos de pesquisa (posição em de R$ 693.468,20 no POA, sendo R$ 227.554,00 março de 1998) com 16 trabalhos, sendo a executados e R$ 423.150,40 em execução. No ano taxonomia vegetal a área de pesquisa de maior de 1998 o orçamento foi de R$ R$ 154.380,00. atenção. Outras áreas citadas são educação Foram consultados os autos de infração ex- ambiental, ecologia vegetal, genética (zool.), pedidos por cinco agentes de defesa florestal do taxonomia zoológica, anilhamento e taxonomia PNI, referentes aos anos de 1996 e 1997. Neste de aves e recuperação de coleções científicas. período, foram registrados os números apresen- O número de visitantes atendidos pelo tados nas tabelas a seguir: Núcleo de Educação Ambiental no ano de 1997

TABELA 1 Tipos de ocorrências notificadas no entorno do PNI TIPO DE OCORRÊNCIA FREQUÊNCIA Corte de vegetação envolvendo áreas de preservação permanente 22 Abertura de estrada/construção com remoção de vegetação 11 Corte de palmito 8 Queima de pasto sem autorização 4 Apreensão de animais e instrumentos de caça 2 Poluição hídrica 2 Fabricação de carvão 1 Represamento 1 Pesca com instrumento proibido 1 Fonte: Autos de infração de cinco agentes de defesa florestal - ADF - referentes aos anos de 1996 e 1997

1 Cotação do dólar em julho de 1998: U$ 1,00 = RS 1,00. Cotação do dólar em julho de 1999: U$ 1,00 = RS 1,80.

CADERNOS FBDS 27 TABELA 2 Tipos de ocorrências verificadas no interior do PNI TIPO DE OCORRÊNCIA FREQUÊNCIA Acampamento ilegal 3 Entrada clandestina 4 Corte de palmito 4 Fonte: Autos de infração de cinco ADF’s referentes aos anos de 1996 e 1997

Em entrevistas com funcionários foram O atual chefe do parque, recentemente, ela- coletadas as informações de incêndios no PNI borou um trabalho intitulado “Parque Nacional ocorridos nos anos de 1985, 1988 e 1993. No ano do Itatiaia – Onde Estamos? Onde Queremos de 1985 também foi registrada a ocorrência de Chegar?”, em que propõe uma série de ações que neve na região do Planalto. Outra fonte de in- objetivam revitalizar as atividades ligadas ao uso formações a esse respeito foi o Livro de Regis- público (Zikan, 1999). De maneira geral, os prin- tros de Ocorrências da Guarda de Segurança cipais projetos são: Escola Parque, revitalização Invernada de 1999, onde foi registrada a ocor- do centro de visitantes, trilha certa, divulgação, rência de uma queimada no dia 24 de janeiro de centro de informações, alimentação, transporte 1999 em área próxima ao abrigo Massena. interno, venda de lembranças, capacitação do en- As informações mais completas sobre os torno, capacitação em escolas, trilhas inter- incêndios ocorridos dentro do Parque Nacional pretativas, brigadas de incêndio, guarda-parques, do Itatiaia, nos anos de 1995, 1996, 1997 e 1998, guias ecológicos, linhas de pesquisa, observação são relatadas por Zikan e Pitombeira (1999). Se- da natureza, abrigos, acampamentos, novos pon- gundo os autores, um dos maiores incêndios tos turísticos, teleférico, trilhas fáceis, trilhas ocorreu em setembro de 1988, quando 6.000 ha suspensas, trilhas para deficientes, eventos, pes- foram queimados devido a uma estiagem longa, quisa histórica, teatro ecológico e publicação de associada a um inverno rigoroso (muitas geadas boletins técnicos. e uma forte nevasca ocorrida nos campos de al- titude do planalto) que deixaram a vegetação propícia à ocorrência de queimadas. Em 1995, Revisão Atualizada das Proposições realizaram um seminário com participação de di- dos Planos de Manejo e de Ação versas entidades da região para avaliação dos pro- Emergencial cedimentos tomados durante os incêndios. A par- tir de 1996, todas as denúncias de início de in- O Plano de Ação Emergencial-PAE (IBAMA, cêndio passaram a ser feitas diretamente ao PNI 1994) avalia todas as proposições existentes no e, através destas informações, o incêndio passou Plano de Manejo sob o aspecto de sua realiza- a ser classificado quanto aos recursos necessári- ção. O próprio PAE faz, em função desta avalia- os para o combate. Com esta iniciativa, associa- ção, uma série de novas proposições a ser da a diversos procedimentos complementares, os implementada em um determinado período. Es- incêndios passaram a ter duração e áreas atingi- tas duas séries de propostas passaram por uma das cada vez menores. revisão atualizada, em conjunto com o chefe do parque, referente a sua implementação. O intui- to desse trabalho foi o de localizar possíveis en- Projetos Institucionais para traves ao cumprimento dos referidos planos, for- necendo subsídios para o manejo do uso público o Futuro e para o Plano de Co-Gestão do parque. Não existem projetos programados pelo De acordo com esta avaliação, das 129 pro- IBAMA, em Brasília, a curto e médio prazos, es- posições efetivadas pelo PAE, foram plenamen- pecíficos para o Parque Nacional do Itatiaia. A te realizadas 37 delas ou 29%; e parcialmente revisão do Plano de Manejo, que deveria ser uma realizadas 55, isto é, 43% das mesmas. As pro- das prioridades, também não está agendada. posições do PAE foram referentes a:

28 CADERNOS FBDS infra-estrutura e equipamentos; implementação foi o de uso público e de educa- administração; ção ambiental, e a menor, quanto ao de relações proteção; institucionais. As proposições deste último tema pesquisa; referem-se à necessidade de realização de gestões, uso público e educação ambiental; junto a diversas instituições, quanto à relações públicas e implementação de ações como captação de re- relações institucionais. cursos, contratação/disponibilização de pessoal e manutenção do parque e suas infra-estruturas. Com relação às proposições elaboradas pelo A Tabela a seguir traz a taxa de realização refe- Plano de Manejo em 1982, a tabela demonstra rente a cada um dos temas, onde se verifica que que, das 153 propostas, 60 delas, ou 39%, foram o programa que obteve a maior porcentagem de plenamente realizadas e 32, ou 21%, foram par-

TABELA Taxa de implementação das atividades propostas no PAE em 1994 TEMA Nº DE PROPOSIÇÕES % DE REALIZAÇÃO* Infra-estrutura e equipamentos 43 72% Administração 38 79% Proteção 18 72% Pesquisa 8 63% Uso público e educação ambiental 7 86% Relações públicas 6 83% Relações institucionais 8 25% * Atividades plenamente e parcialmente realizadas cialmente realizadas. Esta revisão atual diferiu desatualizadas e até incompatíveis com os pró- da revisão realizada em 1994 pelo PAE em 67, ou prios objetivos de manejo da unidade, não de- 44%, das respostas avaliadas. Vale a pena ressal- vendo ser consideradas como falhas do processo tar que várias proposições encontram-se de implementação.

CADERNOS FBDS 29 A base das Prateleiras. (foto: Teresa Cristina Magro)

30 CADERNOS FBDS Mapeamentos Temáticos GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA

Rosely Ferreira dos Santos (1) Antonio Gonçalves Pires Neto (2) Sonia Maria Csordas (3)

lizados os trabalhos de RIBEIRO FILHO (1967), PENALVA (1967), BISTRICHI et al. (1981) e HASUI et al. (1989), SALVADOR (1994) e o Mapa Geológico do Maciço Alcalino do Itatiaia, 1. Introdução em escala 1: 50.000. Para o relevo foram utilizados os trabalhos de TEIXEIRA (1961) e HASUI et al. (1982), O Parque Nacional de Itatiaia é constituído complementados por interpretação realizada em por rochas intrusivas alcalinas dos maciços de fotografias aéreas na escala 1: 60.000 e imagens Itatiaia, do Cretáceo Superior e por encaixantes de satélite TM- LANDSAT,em escala 1: 50. 000, do embasamento cristalino de idade pré- que serviram de base para a elaboração do Mapa cambriana. Essas rochas sustentam relevo de Geomorfológico preliminar que orientou o levan- montanhas e morros da serra da Mantiqueira e tamento de campo, durante o qual foram descri- do planalto do alto rio Grande. Ocorrem, ainda, tas e caracterizadas as formas de relevo, os seus na área depósitos detríticos coluvionares e condicionantes rochosos, a cobertura detrítica e aluvionares quaternários que caracterizam gran- os processos erosivos e deposicionais atuantes. des corpos de tálus e planícies fluviais. 3. Substrato Rochoso e Cobertura 2. Aspectos Metodológicos Detrítica

Os estudos de geologia e geomorfologia ti- O Parque Nacional do Itatiaia está implan- veram por objetivo delimitar, caracterizar e ava- tado sobre rochas do embasamento cristalino, liar os tipos de rochas e de relevos, quanto às de idade pré- cambriana, rochas intrusivas alca- suas potencialidades e fragilidades, para subsidi- linas dos maciços de Itatiaia e Passa Quatro, do ar o Plano de Manejo do Parque Nacional do Cretáceo Superior, sedimentos terciário- Itatiaia. quaternários da bacia de Resende, e sedimentos Para a realização do diagnóstico da área, aluvionares e coluvionares quaternários, cuja dis- foram compilados dados existentes e executa- tribuição regional está apresentada na Figura 1. dos levantamentos complementares de campo Na área do Parque, ocorrem os seguintes ti- do substrato rochoso, do relevo e da cobertura pos de rocha: gnaisses (gn), nefelina-sienitos- detrítica. foiaitos (λ ns), quartzo sienitos (λ qs), granito Para caracterização do substrato rochoso da alcalino (λ ga), brecha magmática (λ bm), sedi- área e elaboração do Mapa Geológico, foram uti- mentos coluvionares (Qc) e sedimentos

(1) Professora Colaboradora, Dept. de Saneamento e Ambiente da Faculdade de Engenharia Civil - Unicamp (2) Consultor técnico (3) Consultora técnica

CADERNOS FBDS 31 Figura 1: Distribuição das unidades litoestruturais nas vizinhanças do Parque Nacional do Itatiaia. Sedimentos aluvionares e coluvionares (Qc), Formação Volta Redon- da (Qvr), Formação Floriano (Qf), Formação Caçapava (Tc), Rochas intrusivas alcalinas (OC), Rochas básicas (b), Suítes graníticas e rochas granitóides (g), Comple- xo Açungui- Pilar (Psap), Grupo Açungui-Complexo Embu (Psae), Grupo Andrelândia (Psan), Complexo Juiz de Fora (Ajf), Complexo Costeiro (Ac). Compilado e am- pliado de HASUI, Y. et al. (1982).

aluvionares (Qa), cuja distribuição é apresenta- Nefelinas-sienitos-foiaitos (λ ns) da no Mapa Geológico. Os sienitos e foiaitos são as rochas predo- minantes no Parque, constituindo trechos das Gnaisses (gn) escarpas e as serras do Lambari, Palmital, Negra Os gnaisses são predominantes na parte e do Picu. norte do Parque, onde sustentam as montanhas Essas rochas tem granulação variável de fina da serra da Mantiqueira e da serra da Vargem a grossa, textura granular ou granular-traqtóide Grande, ocorrendo ainda faixas estreitas junto e cores claras a cinza. São constituídas por aos limites sudoeste e sudeste do Parque. micropertita, albita, nefelina e sodalita, tendo São rochas de granulação média a grossa, como acessórios hornblenda, biotita, titânita, textura granoblástica e xistosidade nítida. São apatita, magnetita e, raramente, zircão. Foram constituídas por ortoclásio, plagioclásio e quart- incluídas dentro dessa unidade de mapeamento zo, biotita e hornblenda, tendo como acessórios os seguintes tipos petrográficos: sodalita- granada e illmenita. Os gnaisses englobam os nefelina sienito, nefelina-microsienito, seguintes tipos petrográficos: biotita-gnaisses, hornblenda-nefelina sienito, aegirina-sienito, biotita-hornblenda-gnaisses, hornblenda- sienito porfirítico, nefelina-sienito bandado, gnaisses, gnaisses graníticos, gnaisses quartzí– tinguaito, pulaskito, foiaito e microfoiaito. ticos, com inclusões de anfibolitos. A alteração dessas rochas forma solos argilo- A alteração dessas rochas resulta na forma- arenosos, geralmente rasos devido à declividade ção de solos areno-siltosos ou argilo-siltosos e elevada das encostas. É comum a presença de blo- micáceos, sendo que o teor de areia e silte vari- cos e matacões em meio ao material de alteração. am em conseqüência do teor de quartzo e feldspato das rochas. Assim, predominam termos Quartzo Sienitos (λ qs) argilosos e siltosos nas porções mais micáceas, e termos argilo-arenosos e areno-argilosos, com Essas rochas ocorrem na porção central da grânulos e fragmentos de quartzo, nas porções área do Parque, sustentando as serras das Prate- quartzo-feldspáticas. leiras e do Itatiaia, onde se encontra o pico das Agulhas Negras. São rochas claras, de granulação grossa a

32 CADERNOS FBDS média e de textura hipidiomórfica granular. Na milonitizadas estreitas, de direção E-W (leste- sua composição mineralógica encontram-se os oeste) com mergulho para norte, e diques de minerais micropertita e quartzo, tendo como tinguaitos e de microsienitos, geralmente com acessórios titanita, magnetita e apatita. Os ti- direções N-NE. pos petrográficos mapeados nessa unidade fo- ram: quartzo-sienitos e nordmarkito porfirítico, Sedimentos Coluvionares (Qc) equigranular e de granulação grossa . Formam corpos de tálus de grandes dimen- Essas rochas, embora se apresentem bastan- sões, constituídos predominantemente por blo- te fraturadas, são resistentes aos processos de cos e matacões de rochas alcalinas, sendo os de alteração química, ocorrendo na forma de exten- gnaisse menores e menos freqüentes. A matriz sos e imponentes maciços rochosos. que envolve os blocos, é de natureza argilosa ou conglomerática. Granito Alcalino (λ ga) Observa-se na região pelo menos duas ge- O granito alcalino do Itatiaia forma um cor- rações desses depósitos. A mais antiga sustenta po restrito que ocorre próximo ao abrigo morros e morrotes, com muitos matacões nas Rebouças, no maciço das Prateleiras. encostas, sendo mais comum no sopé da serra É uma rocha clara, de granulação média, da Mantiqueira, fora da área do Parque. Nesses equigranular e de textura granofírica, formada a depósitos são comuns blocos de rochas alcalinas partir do enriquecimento em quartzo dos com alteração esferoidal. Os seixos e os peque- nordmarkitos. É constituída, essencialmente, por nos blocos de alcalinas apresentam capa de micropertita e quartzo, tendo como acessórios a bauxitização, chegando a formar depósitos de biotita, magnetita, titânita, siderita e, subordi- bauxito, alguns dos quais são explorados. nadamente, apatita, fluorita, opala e molibdenita. A geração mais recente ocorre ao longo das principais drenagens, formando corpos de tálus, Brecha Magmática (λ bm) sendo os mais extensos, na área do Parque, os depósitos dos rios Campo Belo, Preto, Bonito e As brechas magmáticas do Itatiaia formam Aiuruoca. São depósitos formados por matriz ar- dois corpos distintos que ocorrem na parte cen- gilosa e/ou argilo-silto-arenosa, arenosa arcoseana tral do Parque, mas com características geológi- ou arenosa, de cor ocre a marrom, com seixos, blo- cas e petrográficas semelhantes. Quanto à for- cos e matacões. A presença e a concentração de ma e dimensão dos fragmentos, essas brechas seixos e areia evidenciam a participação de proces- apresentam grande variedade, encontrando-se sos fluviais na formação desses depósitos. desde fragmentos microscópicos até fragmentos com 20 a 50 cm de diâmetro, embora predomi- nemosde1a5cm.Osfragmentos são angulo- Sedimentos Aluvionares (Qa) sos ou sub-angulosos e aproximadamente Nos rios Campo Belo, Aiuruoca e Prêto ocor- equidimensionais. rem planícies fluviais, estreitas e isoladas, pre- A matriz é constituída por uma massa fina enchidas por sedimentos arenosos e areno-argi- microcristalina, podendo apresentar textura gra- losos, ricos em matéria orgânica, e ocasionalmen- nular, traquitóide ou ainda fluidal de natureza te cascalhos, inconsolidados, observando- se áre- feldspática, contendo ainda: clorita, pirita, as alagadiças com sedimentos turfosos. magnetita, calcita, sericita, apatita e biotita. Os fragmentos mais comuns são de grandes cristais de ortoclásio ou de anortosito, e de rochas alca- linas traquitóides ou afaníticas. A alteração dessas rochas forma solos argi- losos e argilo-siltosos rasos, com blocos e matacões, sendo comum a presença de afloramentos e paredes rochosas. Cortando os gnaisses e as rochas alcalinas, ocorrem ainda, na área do Parque, zonas

CADERNOS FBDS 33 GEOLOGIA Sedimentos aluvionares Área: Parque Nacional do Itatiaia Escala original 1:50.000 Sedimentos coluvionares Coordenadas UTM/Fuso 23 Nefelinas-sienitos-foiaitos Quartzo-sienitos Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis Granito alcalino Fundação Brasileira para o Brecha magmática Desenvolvimento Sustentável Gnaisses homogêneos

34 CADERNOS FBDS 4. Relevo

O Parque Nacional do Itatiaia, segundo a divisão de relevo proposta por HASUI et al. (1982), está implantado no maciço do Itatiaia, que é um compartimento de relevo que ocupa a borda do planalto do Alto Rio Grande, no con- tato com a serra da Mantiqueira, Figura 2.

Figura 2: Distribuição regional dos comparti- mentos de relevo segundo HASUI et al. (1982). Pla- nalto do Alto Rio Grande (334): Maciço do Itatiaia (3344); Serra da Mantiqueira (335); Planalto de Paraitinga (336), Planalto da Bocaina (337), Mé- dio Vale do Paraíba (338): Morros Cristalinos (3381) e Colinas Sedimentares (3382); Baixo Vale do Paraíba (339); Serrania Costeira (341): Serra do Mar (3411).

Formação rochosa das Prateleiras.

CADERNOS FBDS 35 O Parque é caracterizado por relevos de montanhas e montanhas rochosas, com altitudes de 2.000 a 2.780 m, que se destacam sobre o planalto do Alto Rio Grande, nivelado a 1.900 a 2.100 m, e que ao sul formam as escarpas da serra da Mantiqueira. Ocorrem ainda, na área grandes Corpos de tálus, desenvolvidos ao longo dos vales e no sopé das escarpas da serra da Mantiqueira, e pequenas Planícies fluviais, cuja distribuição é apresentada no Mapa Geomorfológico e mostrada na Figura 3.

Figura 3: Perfil geológico geomorfológico, de direção nordeste, mostrando as características e desníveis do relevo, os tipos de relevo, e os principais tipos de rocha que ocorrem na área do Parque Nacional do Itatiaia. Relevo: Planície fluvial (Pf), Corpo de tálus (Ct), Montanhas (MH) e Montanhas rochosas (MHr). Substrato rochoso: Gnaisses (1), Nefelinas-sienitos-foiaitos (2), Quartzo sienitos (3), Sedimentos coluvionares (4).

Planícies Fluviais (Pf) nos rios Campo Belo, Preto, Bonito e Aiuiroca, podendo também formar depósitos na meia en- São relevos pouco desenvolvidos na área do costa. Parque, ocorrendo de modo isolado e descon- Esses terrenos são formados por ação tínuo ao longo dos rios Campo Belo, Aiuruoca e gravitacional, fluvial e pluvial, o que resulta em Preto. São terrenos planos, compreendendo a depósitos instáveis, onde é comum a ocorrência planície de inundação e alagadiços, constituídos de rastejo e pequenos escorregamentos. Outros por areia, areia fina argilosa, matéria orgânica e processos freqüentes estão associados à ação dos ocasionalmente cascalhos inconsolidados. Nas rios que provocam erosão vertical e lateral ao áreas alagadiças ocorrem sedimentos turfosos. longo do canal, instabilizando as margens. No Os processos mais comuns nesse relevo são: contato com as encostas de alta declividade ocor- deposição de finos durante as enchentes, por de- re, sobre os Corpos de tálus, a deposição de de- cantação, e de areias por acréscimo lateral, ero- tritos provenientes de movimentos de massa, da são lateral e vertical do canal, formações de erosão laminar e em sulcos. alagadiços, devido ao afloramento do lençol freático, e enchentes sazonais. Montanhas (MH) Corpos de Tálus (Ct) São as formas de relevo predominantes na São rampas deposicionais subhorizontais e/ área do Parque, tem topos desnivelados, estrei- ou convexas, associadas ao fundo de vales e ao sopé tos, por vezes rochosos, formando picos e cris- de vertentes íngremes. São constituídos por tas. O perfil de vertente é descontínuo, com seg- matacões, blocos e seixos com matriz argilosa e/ ou mentos retilíneos e convexos. Os vales são argilo-silto-arenosa, arenosa arcoseana ou arenosa. erosivos, profundos e estreitos, com freqüentes Os depósitos mais significativos ocorrem cachoeiras e rápidos. O padrão de drenagem é

36 CADERNOS FBDS subdendrítico de alta densidade. São sustenta- ram a evolução da região, imprimiram no dos por gnaisses (gn) e nefelinas-sienitos-foiaitos substrato rochoso e no relevo características que, (λ ns). associadas às condições climáticas vigentes, de- Nesses relevos enérgicos ocorrem processos finem processos superficiais específicos para os erosivos de alta intensidade que predominam diferentes tipos de terrenos que ocorrem na área. sobre a alteração química, sendo freqüente: Essas características avaliadas de modo in- ravinamento, reentalhe de drenagem, rastejo e tegrado, segundo a abordagem de terrenos, apre- movimentos de massa. Os movimentos de mas- sentada por AUSTIN e COCKS (1978) – que con- sa, devido à espessura dos solos, podem ser: sideram que os principais atributos do terreno escorregamentos planares, queda de blocos, que são interdependentes e tendem a ocorrer são os mais freqüentes, e escorregamentos correlacionados, de modo que todos os usos do rotacionais, mais comuns nas áreas de sopé e de terreno são dependentes das combinações e solos mais espessos. interações de efeitos destes seus atributos – per- mitem diferenciar no Parque Nacional do Itatiaia Montanhas Rochosas (MH r) quatro tipos de terrenos. Os terrenos diferenciados, na área do Par- Esses relevos ocorrem na parte central e que, correspondem aos relevos identificados que mais alta do Parque e compreende as serras das apresentam características morfológicas, de cons- Prateleiras, Negra, do Lambari e do Itatiaia onde tituição, de cobertura detrítica e de dinâmica su- se encontra o pico das Agulhas Negras, com 2.787 perficial distintas que foram capazes de m de altitude. condicionar a distribuição da cobertura vegetal As Montanhas rochosas são caracterizadas e controlar os tipos de ocupação e uso que ocor- por um acidentado e elevado maciço rochoso que rem na área. deixa a impressão de uma paisagem alpina, cons- tituído por quartzo sienitos (λ qs), nefelinas- sienitos-foiaitos (λ ns), granito alcalino (λ ga)e brecha magmática (λ bm). Cachoeira?????? (foto: Teresa Cristina Magro) As formas rochosas tem topos desnivelados e estreitos, formando picos e cristas. O perfil de vertente é descontínuo com segmentos retilíneos e convexos rochosos. A densidade de drenagem é baixa. São comuns cabeceiras estreitas e rocho- sas, associadas a vales erosivos, profundos e es- treitos, com cachoeiras. Padrão de drenagem subdendrítico. Os processos predominantes nesse relevo são a alteração física e queda de blocos, sendo observado ainda a formação de caneluras e, ra- ramente, pequenos escorregamentos.

5. Considerações Finais

As causas da elevada altitude dessa região tem sido atribuídas à maior resistência das rochas alca- linas aos processos de alteração e erosão, e aos pro- cessos de soerguimento e abatimento tectônico que vem atuando na região desde o fim do Cretáceo, e que foram responsáveis pela formação das serras da Mantiqueira e do Mar, bem como das bacias sedimentares de Resende e Taubaté. Esses processos geológicos que comanda-

CADERNOS FBDS 37 GEOMORFOLOGIA Planícies Fluviais, declividade < 2%, Área: Parque Nacional do Itatiaia altitude 2.300 - 2.400m Escala original 1:50.000 Coordenadas UTM/Fuso 23 Corpos de Tálus, declividade 10 - 35%

Instituto Brasileiro de Meio Montanhas, amplitudes de 300 - 1.900m Ambiente e dos Recursos Renováveis declividade < 47%, 900 - 2.300m Fundação Brasileira para o Montanhas rochosas, amplitudes de 300 - 700m, Desenvolvimento Sustentável declividade > 47%, altitude 2.200 - 2.500m

38 CADERNOS FBDS Bibliografia

Austin, M. P. & Cocks, K. D. 1978. Land use on Penalva, F. 1967 - Geologia e Tectônicada região do the south coast of new south wales. A study in methods Itatiaia. BOLETIM DA F.F.C.L.- USP. São Paulo. of acquiring and using information to analyse regio- (302): 95- 196. (Geologia 22). nal land use options. Australia, v.1 e 2. Commonweath Scientific and Industrial Ribeiro Filho, E. 1967 - Geologia e Petrologia dos Research Organization (General Report). maciços alcalinos de Itatiaia e Passa Quatro. BO- LETIM DA F.F.C.L. - USP. São Paulo. (302): 5- Bistrichi, C.A. et alii. 1981. Mapa geológico do Es- 94. (Geologia 22). tado de São Paulo; escala 1:500.000. In: Almeida, F.F.M. de - Mapa Geológico do Estado de São SAlvador, E.D. 1994 - Análise Neotectônica da Re- Paulo; 1: 500.000, texto. São Paulo, IPT,2v. IPT- gião do Vale do Rio Paraiba do Sul, compreendido Publicação 1184, Série Monografias 6. entre Cruzeiro (SP) e Itatiaia (RJ). São Paulo. Tese de Mestrado. Instituto de Geociências. USP. Hasui, Y. et al. 1982. Geologia, Tectônica, Geomorfologia e Sismologia Regionais de interesse às Teixeira, D. 1961- Relevo e padrões de drenagem na cha- usinas nucleares da praia de Itaorna. São Paulo. miné vulcânica do Itatiaia. BOLETIM PAULISTA DE Instituto de Pesquisas Tecnológicasdo Estado de GEOGRAFIA, 37. São Paulo. p 3-12. São Paulo, IPT. Publicação 1225. Monografia 7. 149p. il.

Hasui, Y. et al. 1989. Compartimentação estrutural e evolução tectônica do Estado de São Paulo. Institu- to de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, . São Paulo. Relatório Técnico n. 27394.

CADERNOS FBDS 39 Mapeamentos Temáticos VEGETAÇÃO, USO E OCUPAÇÃO DA TERRA

Rosely Ferreira dos Santos (1)

As instalações referentes à infra-estrutu- ra, mantida pelo IBAMA no Parque, correspondem às seguintes edificações: Posto 1 (entrada do parque); Posto 2 (uso para seguran- ça); Posto 3 (Agulhas Negras – portão do planal- to para entrada no Parque); sede administrativa; almoxarifado; oficina mecânica; usina hidrelétri- 1. Introdução ca; banheiros públicos (área do camping e lago Azul); chalé dos escoteiros; 3 casas (sítio das Acácias); 18 residências funcionais; 7 abrigos para De acordo com a literatura, uma das ques- um total de 208 pessoas; centro de visitantes; e tões mais sérias enfrentada pelos administrado- 2 áreas de acampamento desativadas. res do Parque Nacional do Itatiaia é a questão Em virtude de casos de incidência de incên- fundiária, bastante complexa e irregular, como dios na área de preservaçã, há, atualmente, um na área sul (antigo Núcleo Colonial de Itatiaia), convênio com o corpo de bombeiros do Rio de ocupada quase que totalmente por propriedades Janeiro que coloca um destacamento em pronti- particulares, sítios de veraneio e cinco hotéis. dão no posto 3 durante o período de risco de in- A área incorporada ao Parque pelo Decreto cêndios, entre junho e setembro. no 87.583 (20/08/1982) também encontra-se ocu- Apesar desses inúmeros indícios de interfe- pada hoje, integral ou parcialmente, por fazen- rência antrópica, deve-se destacar que o Parque das agropecuárias, dois hotéis, um bairro deno- apresenta, em dias atuais, uma grande diversi- minado Vargem Grande com 30 casas, escola, dade em espécies vegetais, muitas endêmicas, igreja e um laticínio. dentro de ecossistemas específicos e com áreas O Parque é atravessado por várias estradas, representativas em bom estado de conservação. caminhos ou trilhas, que são utilizados pelos vi- sitantes, e cuja manutenção e controle são difí- ceis de gerenciar. Na parte norte do Parque, a tri- 2. Aspectos Metodológicos lha existente é utilizada pelos moradores da re- gião de e Campo Redondo como via O procedimento metodológico para a reali- de acesso à região de Mauá. zação do mapeamento compreendeu quatro eta- Outros usos existentes referem-se à torre pas: elaboração do histórico do processo de ocu- retransmissora de TV da Rede Globo e uma es- pação do Parque; interpretação visual de imagem tação repetidora da Petrobrás, instaladas no mor- de satélite; verificação, em campo, das unidades ro da Água Branca. Próximo ao posto 3 (Agulhas de uso e ocupação delimitadas na interpretação Negras), há uma estação de microondas de da imagem de satélite; e elaboração do mapa fi- Furnas. nal e relatório integrado.

(1) Professora Colaboradora, Dept. de Saneamento e Ambiente da Faculdade de Engenharia Civil - UNICAMP

40 CADERNOS FBDS Levantamento do Histórico da Região ção entre as formas de uso e ocupação e as fei- ções de relevo. Dados históricos do processo de uso e ocu- pação do Parque foram obtidos através de levan- Elaboração do Mapa F1inal tamentos bibliográficos realizados nos acervos das bibliotecas da USP (Universidade de São Pau- A elaboração do mapa final compreendeu lo - Institutos de Biociências, Geociências e Geo- uma reinterpretação visual do mapa preliminar grafia e Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) e da imagem de satélite compatibilizada com as e publicações, textos de imprensa e relatórios do observações feitas em campo. Também foram acervo técnico do IBAMA, em São Paulo, Itatiaia utilizados, como critério de definição das cate- e Rio de Janeiro. gorias de mapeamento, dados topográficos (car- tas do IBGE) e classificações da cobertura vege- Interpretação de Imagem de Satélite tal existentes em mapeamentos em escala regio- nal (VELOSO et al., 1991). O produto obtido das Foi feita a interpetação visual de imagem interpretações e integrações foi digitalizado em orbital - satélite TM LANDSAT 5, 1:50.000, ban- AutoCad12 e transferido para um Sistema de das3,4e5,coordenadas S22 o22’, 44 o35’, W Informação Georeferenciado (IDRISI). 21o40’, 44o38’, de 21 de outubro de 1997, obten- do-se a delimitação das áreas de ocupação pelas diferenças tonais e texturais correspondentes às formas de uso da terra e tipos de cobertura vege- 3. Histórico do Processo de Ocupação tal. Complementou-se a interpretação da ima- da Área do Parque gem com as informações existentes nas cartas topográficas do IBGE, na escala 1:50.000, refe- O processo de ocupação da atual área do rentes às folhas Agulhas Negras, Alagoa e Passa Parque Nacional de Itatiaia e de seu entorno Quatro. Dessas cartas foram extraídas informa- imediato iniciou-se no final do século XIX e na ções sobre cotas altimétricas e configuração da primeira década deste século, em consequência topografia das áreas. Também foram utilizados do Núcleo Colonial de Itatiaia e da criação de outros materiais cartográficos da área de estu- atividades agrícolas e da construção da estrada do, que auxiliaram na interpretacão da imagem de ferro na vertente voltada para o Vale do (IBAMA, 1991; IBAMA, 1994; DIVISA, 1995, Paraíba. Os relatos de naturalistas, como ULE IMAGEM, 1996). O resultado dessa interpreta- (1898), DUSEN (1902) e BRADE (1913), atribu- ção foi transferido para um overlay e ajustado íam à ocupação desta época atividades extrema- anualmente na base topográfica das cartas do mente predatórias, como a devastação das ma- IBGE, com coordenadas UTM e toda a rede de tas para a agricultura e uso da madeira na cons- drenagem, a partir do qual gerou-se o mapa pre- trução da via férrea. Além disso, a caça predató- liminar. Esta interpretação tem limitações devi- ria era livre e, segundo GOUVEA (1982), a do à cobertura de nuvens em pontos centrados extinção de espécies animais como anta, da imagem, que não permitiram a identificação inhambu-xororó e jacutinga ocorreu antes da do uso ou da cobertura vegetal. A partir deste criação do Parque. Extinguiram-se, também, de mapa, elaborou-se uma relação de pontos que acordo com este autor, a onça-pintada, o bugio e não puderam ser seguramente interpretados e/ duas espécies de saguis. ou de baixa resolução da imagem de satélite, para Os naturalistas dessa época descreveram tam- serem verificados durante o trabalho de reconhe- bém a ocorrência de incêndios intensos e freqüen- cimento de campo. tes nas áreas de campos de altitude e de florestas de transição. Reconhecimento de campo O processo de ocupação durante a década de O reconhecimento de campo compreendeu 30 e início da de 40 predominou na vertente dos uma verificação dos pontos selecionados na ima- rios Airuoca e Grande, através da criação de ani- gem de satélite, através do caminhamento nas mais nos campos de altitude do planalto. Assim, vias e trilhas de acesso internas do Parque. Nes- esses campos foram alterados pelo homem e pela te reconhecimento, procurou-se verificar a rela- migração pastorial (DEFONTAINES, 1937). Na

CADERNOS FBDS 41 vertente voltada para o vale do Paraíba, a ocupa- 4. Uso e Ocupação Atual ção humana nos anos 30 restringia-se às habita- ções de funcionários do Posto Metereológico do No centro da serra da Mantiqueira, erguem- Parque. se formas particulares de relevo num grande As causas da existência de uma paisagem divisor de águas da rede de drenagem das bacias uniforme dominada pela vegetação de “campos do rio Paraíba e rio Grande. Este conjunto per- de altitude” na área do planato de Itatiaia, entre mite a ocorrência de várias cascatas e represas 2.100 e 2.400 m de altitude, são atribuídas aos naturais de grande atratividade visual e sonora. vários incêndios ocorridos no início do século e Esta composição de relevo e águas, locali- ao desmatamento. zada em uma das áreas de maior altitude do ter- Cerca de 900 ha da área primitiva do Par- ritório nacional, encontra-se em vários níveis que não foi objeto de interesse para aquisição topográficos, propiciando o desenvolvimento de das terras pelo poder público devido à ocupação diversas formas vegetacionais, de campos de al- existente, à alteração antrópica e ao elevado va- titude a florestas densas. Além disso, esta região lor fundiário. Taisáreas correspondem a hotéis e é interpretada como uma área de contacto ou pousadas que se instalaram nas três últimas dé- transição de cobertura florestal, de floresta cadas, em consequência do crescente número de ombrófila densa a florestas ombrófila mista e visitantes, excursionistas e alpinistas dentro do semidecidual. Assim, este cenário compõe-se de Parque. inúmeras paisagens naturais e de extensões va- Nas décadas de 70 e 80, o Parque sofreu riadas, de amplas florestas contínuas a peque- episódios de incêndio drásticos que intensifica- nos refúgios ecológicos. ram impactos pretéritos na cobertura vegetal e Neste local, encontra-se o Parque Nacional fauna. As causas desses incêndios, geralmente, de Itatiaia, em terras dos estados de Rio de Ja- tem como origem queimadas para limpeza de neiro e Minas Gerais, drenado por três princi- áreas de pastagens nos arredores do Parque. Den- pais rios, o Campo Belo situado na vertente do tre esses incêndios, o de maior proporção ocor- vale do Paraíba, e os rios Preto e Airuoca, volta- reu em 1988, atingindo aproximadamente 6.000 dos para o estado mineiro. km da área central do Parque. As terras do Parque possuem longas exten- Nos anos 90, apesar de todas as interferên- sões de áreas naturais, protegidas em grande par- cias no passado, a cobertura florestal e toda a te pelas formas de relevo íngreme e dificuldade transição até os campos de altitude ainda se man- de acesso. São raros os processos intensivos de tém em grandes maciços, representativos dos ocupação na área, apesar das pressões de uso nos ecossistemas locais. limites externos ao Parque. No mapa “Cobertu- A mesma afirmação não pode ser feita em ra Vegetal, Uso e Ocupação da Terra” (Figura relação às áreas circunvizinhas. A área delimita- 1), encontram-se representadas, espacialmente, da como entorno do Parque abrange uma faixa as formas de uso e ocupação atuais dessas ter- de 10 km ao redor do mesmo, conforme Resolu- ras. As categorias mapeadas encontram-se des- ção CONAMA n° 013/90, assim como as sedes critas na Tabela 1. Apesar da escala generalizada dos municípios inseridas nesta faixa. dessa representação cartográfica, pode-se obser- No entorno do Parque encontram-se algu- var uma grande diversidade de formas mas áreas legalmente protegidas, como: Estação vegetacionais. Ecológica do Papagaio, APA da Serrinha com um Ao sul, junto e nas proximidades do Posto trecho sobreposto à área do Parque Nacional de 1, ocorre A Floresta Ombrófila Densa Montana Itatiaia e parte da APA da Mantiqueira. No en- - também denominada por alguns autores de tanto, a ocupação é densa e de difícil controle, Mata Baixo-Montana e Floresta Pluvial Baixo- principalmente onde existem vias de acesso fa- Montana - em altitudes máximas de 1.100 m, cilitadas. sobre substrato rochoso alcalino. Essa floresta caracteriza-se por apresentar um estrato domi- nante com altura aproximada de 25 m, dossel contínuo ou parcialmente interrompido, com eventuais irregularidades de origem natural e

42 CADERNOS FBDS grande quantidade de epífitas e lianas. declividades acima de 47% e amplitudes que va- As florestas que apresentavam estimativa riam entre 300 e 1.900 m. Além disso, as varia- de cobertura maior que 90% foram considera- ções podem ser notadas pela própria amplitude das íntegras. Aquelas com eventuais irregulari- das altitudes. Ao sul, estas florestas estão situa- dades de origem natural ou antrópica, com es- das entre 1.100 e 2.000 m; ao norte, de 1.500 até timativa de cobertura entre 70% e 90%, foram 2.200meaoeste até 2.700 m. As florestas baixas consideradas dentro da categoria alteradas. concentram-se nas maiores altitudes. Tanto ao Os fragmentos de Floresta Ombrófila Den- norte quanto ao sul pode-se registrar a presença sa Montana Alterada ocorrem próximos à en- de araucárias (Araucaria angustifolia) e trada do Parque, ao sul, e são influenciados pelas podocarpus (Podocarpus lambertii), esparsas, es- vias de acesso, propriedades particulares, infra- tando as araucárias, comumente, nos topos de estrutura turística e rede de abastecimento pú- montanhas e os podocarpus, junto aos cursos blico de água. É importante ressaltar que essa dágua. No entanto, ao norte há uma maior con- ocupação antrópica dentro do Parque concentra- centração de indivíduos dessas espécies, o que se nos corpos de tálus, principalmente junto ao origina na literatura uma classificação particu- fundo de vales e, depois, no sopé de vertentes lar de “florestas mistas”. No entanto, não exis- íngremes. A morfodinâmica do tipo de relevo tem limites claros a esse tipo de cobertura vege- associada aos processos construtivos da ocupa- tal. Pelas ferramentas utilizadas neste trabalho, ção estimula rastejo e escorregamentos freqüen- podem-se somente identificar manchas que con- tes, interferindo na cobertura e, provavelmente, centram essa associação. na composição e estrutura da floresta. Esta ocu- De maneira semelhante à Floresta pação está apresentada no mapa como Ocupa- Ombrófila Densa Montana, a Floresta Ombrófila ção Antrópica, representada por hotéis, pousa- Densa Alto-montana é considerada alterada das, camping, residências, e Campos Antrópicos, quando próxima à ocupação humana, preferen- definidos por áreas mais abertas, de cobertura cialmente sobre corpos de tálus. A coincidência herbácea ou herbáceo-arbustivo, cuja descrição da ocupação é quase perfeita com o desenho do está a seguir. relevo, mas seus efeitos sobre a floresta esten- A Floresta Ombrófila Densa Alto-montana dem-se sobre as montanhas. Assim, as pressões - conforme outros autores, estão inclusas nesta mais evidentes estão localizadas sobre tálus próxi- classificação Mata Montana ou Floresta Pluvial mos a Maromba, rio Aiuruoca e Vargem Grande. Montana (até 1.800 m de altitude ao sul e 2.200 m Ainda sobre relevo de montanhas e monta- ao norte), ou Mata Alto-montana, ou Mata nhas rochosas localizam-se os Campos e Nebular, ou Mata de Altitude) - ocorre entre al- Arbustais de Altitude, denominados por titudes de 1.100 a 2700 m, sobre substrato ro- VELOSO & GÓEZ-FILHO (1982) como “refú- choso alcalino e solos litólicos ou cambissolos. A gio ecológico alto montano”, em virtude deles altura do dossel é de, aproximadamente, 20 se apresentarem “dissonantes” à vegetação regi- metros. De acordo com o RADAMBRASIL (1983) onal. Essas estruturas são encontradas em mai- e VELOSO et al. (1991), a florística dessa forma- ores altitudes, de oeste ao centro do Parque, cuja ção é representada por famílias de dispersão uni- fisionomia predominante é herbáceo-grami- versal, mas com espécies endêmicas, o que indi- nóide. De acordo com a literatura, esta cobertu- ca um isolamento antigo de “refúgio cosmopoli- ra vegetal substitui as florestas da região a partir ta”. Na região foi observada a freqüência de tron- de altitudes de 1.600 m, quando as condições cos finos, cascas rugosas, folhas pequenas, coriáceas ambientais não permitem a evolução das formas ou carnosas, além da abundância de líquens e arbóreas e cedem lugar aos arbustos e, depois, às epífitas. Esta paisagem é devida, basicamente, à plantas herbáceas e briófitas. No entanto, deve- incidência de alto teor de umidade relativa do ar, se lembrar que esta área é formada por um con- associado a temperaturas inferiores a 15O C. junto intrincado de combinações de variações Cabe dizer, no entanto, que dentro dessa dentro do mesmo tipo de relevo (como vales ele- categoria existe uma ampla gama de expressões vados, erosivos, encaixados, grotas, vertentes fisionômicas, englobadas pela escala de estudo. descontínuas, movimentos de massa), de gran- Esta Floresta concentra-se nas montanhas com de amplitude de altitude, temperatura e varia-

CADERNOS FBDS 43 ções de pedregosidade. Também deve-se prestar A categoria Capoeira representa uma atenção ao tipo de cobertura vegetal nas planíci- recobertura vegetal com predomínio do estrato es fluviais entre 2.300 e 2.400m, com sedimen- arbustivo, de média a alta densidade, com ou sem tos turfosos, que se diferencia da vegetação espécies arbóreas esparsas entre si ou vegetação circundante. Em campo, observa-se que estas arbórea com dossel descontínuo, entremeada combinações se expressam na cobertura vegetal com vegetação de cobertura bastante variável, como campos, campos alagadiços, campos asso- com redução do primeiro e segundo estratos ciados a arbustais, arbustais, arbustais densos até arbóreos e cobertura inferior a 50%. florestas de pequeno porte. Esta complexidade Os Campos Antrópicos representam áreas não é representável na escala e material de intenso uso antrópico, cobertas predominan- cartográfico selecionados para este trabalho. temente por cobertura herbácea e herbácea- Além disso, ocorrem também os afloramentos arbustiva. Ocorrem predominantemente ligados rochosos e solos pedregosos, sem ou com pouca às planícies fluviais, não mapeáveis na escala de cobertura vegetal, mas que compõem um siste- trabalho adotada, e nas bordas norte-leste-sul do ma com bromélias, líquens, briófitas , orquíde- Parque, junto ou próximo aos corpos de tálus. as, plantas suculentas (cactáceas) ou outras es- Na escala adotada, não se pode mapear ati- pécies adaptadas a essas condições. Desta forma, vidades humanas produtivas, sejam ligadas ao optou-se por uma legenda ampla, mas conside- setor agrícola, pecuário, reflorestamento ou in- ra-se que é de extrema importância um mapea- dustrial. Estas atividades estão bastante eviden- mento de detalhe destas áreas e, se possível, as- tes às bordas do Parque. O reflorestamento é a sociado a levantamentos fitofisionômicos. atividade mais próxima à área de estudo, poden- Objetivando mapear, minimamente, a com- do ser mapeadas pequenas intrusões de plantios plexidade da região, adotou-se uma categoria de puros ou, principalmente, associados à mata. legenda que aponta para as áreas que concen- Não se pode dizer que estes últimos represen- tram outro conjunto de faixa transicional, tem uma atividade produtiva. É mais correto ligá- direcionado às Florestas Ombrófilas Densas Alto- los às atividades de lazer. montanas. As áreas transicionais, seja de campo de altitude a florestas baixas e abertas, ou de flo- restas baixas a florestas densas e de grande por- te ocupam grandes espaços dentro do Parque e 5. Considerações Finais estão longe de representar a simplicidade da clas- sificação literária da vegetação que se baseia, A descrição histórica do uso e ocupação do quase integralmente, na altitude. Parque Nacional do Itatiaia e as visitas de cam- Vários trabalhos apontam estas regiões que po demonstram que não ocorrem ou devem ocor- concentram as faixas transicionais, como áreas rer em lugares específicos (como grotas ou áreas de vegetação secundária. Formações secundári- inacessíveis) cobertura vegetal primitiva. Em as são freqüentes na região, de campos a flores- outras palavras, a maior parte do Parque é cober- tas, conseqüentes da ocupação histórica. No en- ta por vegetação de origem secundária. No en- tanto, estas formações estão bem desenvolvidas tanto, este fato não desmerece a qualidade da ou em franco processo de desenvolvimento, não cobertura vegetal. Como demonstrado em tex- se podendo, por exemplo, compará-las com a área to e mapa, a complexidade de fisionomias e da de entorno, onde as ações humanas sobre o espa- florística na região, associada à localização espa- ço são permanentes. São áreas em recuperação, cial, altitudinal, de relevo e clima, é muito gran- associadas a áreas recuperadas ou primitivas. Por de. Sua flora é particularmente diversificada no esta razão, a legenda definida para este trabalho planalto do Itatiaia, possui um número alto de objetiva destacar a forma dominante de cobertura espécies endêmicas -163 espécies, 94 na região e sua complexidade, em detrimento do grau de al- mais elevada do maciço, conforme IBAMA teração em que ela se encontra. Somente as áreas (1994). Predominam a quinta e quarta fases en- em que ocorre uma ação antrópica efetiva e atual tre os estágios sucessionais naturais de florestas ou em que ocorreram deslizamentos recentes fo- e, com freqüência, encontram-se espécies ram consideradas como Capoeira. indicadoras de qualidade ambiental.

44 CADERNOS FBDS Pelos trabalhos realizados na área, pode-se nal. Cumpre, agora, definirem-se medidas que afirmar que o Parque Nacional de Itatiaia possui garantam a recuperação e preservação dos siste- um excelente patrimônio paisagístico e pode, ain- mas, principalmente, junto às bordas do Parque da, ser considerado testemunho da flora regio- e sobre os corpos de tálus.

TABELA 1 Categorias de mapeamento estabelecidas para o uso e ocupação da terra

CATEGORIA CARACTERISTICAS

Floresta Ombrófila Densa Vegetacão arbórea com dossel contínuo ou parcialmente interrompido, com eventuais irregularidades de Montana origem natural, cuja estimativa de cobertura é maior que 90%. Ocorrem em altitudes menores a 1.100m.

Floresta Ombrófila Densa Vegetacão arbórea com dossel contínuo ou parcialmente interrompido, com eventuais irregularidades de Montana Alte-rada origem natural ou antrópica, cuja estimativa de cobertura é maior que 70%. Ocorrem em altitudes menores a 1.100m.

Floresta Ombrófila Densa Vegetacão arbórea com dossel contínuo ou parcialmente interrompido, com eventuais irregularidades de Alto-montana origem natural, cuja estimativa de cobertura é maior que 90%. Ocorrem em altitudes que variam de 1.100 a 2000m ao sul, até 2.200m ao norte, até 2.700 a oeste.

Floresta Ombrófila Densa Vegetacão arbórea com dossel contínuo ou parcialmente interrompido, com eventuais irregularidades de Alto-montana Alterada origem natural ou antrópica, cuja estimativa de cobertura é maior que 70%.

Áreas de Transição Florestal Regiões predominantemente florestadas, que representam uma transição entre Campos de Altitude e Floresta Ombrófila Densa Alto-montana

Campos e Arbustais de Altitude Áreas com predomínio de campos herbáceo-graminóides e/ou arbustos, com ocorrências de matas baixas em vertentes, planícies ou encraves. Ocorrem em altitudes superiores a 1.600m.

Araucária angustifolia, Presença de agrupamentos de araucária (principalmente), podocarpus e, eventualmente eucaliptos associa- Podocarpus lambertii, dos à Floresta e Floresta

Capoeiras Cobertura vegetal com predomínio do estrato arbustivo, de média a alta densidade, com ou sem espécies arbóreas esparsadas entre si ou vegetação arbórea com dossel descontínuo, entremeada com vegetação de cobertura bastante variável, com reduçào do primeiro e segundo estratos arbóreos e cobertura inferior a 50%.

Afloramentos Rochosos e Afloramentos referem-se as áreas sem ou com pouca cobertura vegetal, predominantemente bromélias, lí- Solos Expostos quens, briófitas orquídeas, plantas suculentas (cactáceas) ou outras espécies adaptadas às condições de afloramentos rochosos ou solos pedregosos. Os solos expostos referem-se à exposição da terra por desmatamento, sem ou com pouca cobertura vegetal.

Ocupação Antrópica Hotéis, pousadas, segundas residências, campings e infra-estrutura de lazer.

Presença de Araucária Áreas que concentram araucárias (ou em alguns casos eucaliptos) porém de maneira esparsa e aleatória, angustifolia sem configurar um polígono.

CADERNOS FBDS 45 COBERTURA VEGETAL Floresta Ombrófila Densa Montanha USO E OCUPAÇÃO DA TERRA Floresta Ombrófila Densa Montanha Alterada Floresta Ombrófila Densa Alto-Montanha Área: Parque Nacional do Itatiaia Floresta Ombrófila Densa Alto-Montanha Alterada Escala original 1:50.000 Campos, Arbustais e Floresta Baixa de Altitude Coordenadas UTM/Fuso 23 Transição entre Campos de Altitude e Floresta Araucárias e Floresta Capoeira Instituto Brasileiro de Meio Afloramentos Rochosos e Solos Expostos Ambiente e dos Recursos Renováveis Campos Antrópicos Ocupação Antrópica Fundação Brasileira para o Presença de Araucárias Desenvolvimento Sustentável Áreas Sombreadas

46 CADERNOS FBDS Bibliografia

Brade, A.C., 1956, A Flora do Parque Nacional do Occhioni, P., 1947, Relatório de excursão botânica Itatiaia, Boletim do PNI, n.5. realizada à Serra do Itatiaia. Rodriguésia, ano IX, n.20:123-127. Divisa, Topografia e Planejamento Ltda., 1995, Planta de Levantamento Fundiário, escala 1:50.000. Pádua, M.T.J.,& Coimbra Filho, F., 1979, Os Par- ques Nacionais do Brasil. IBDF, Brasilia. Dusén, P.K.H., 1955, Contribuições para a flora do Itatiaia. Boletim do PNI, n.4. Pádua, M.T.J.,1983, Os Parques Nacionais do Bra- sil e Reservas Biológicas do Brasil. IBDF, Brasilia. FEDAPAM - Frente em Defesa da Mantiqueira, 1991, Relatório Mantiqueira, São Paulo. RADAMBRASIL - Projeto RADAMBRASIL, 1983, Levantamento de Recursos Naturais, Mapa Gouvêa, E., 1985, Balanço ecológico do Parque Na- de vegetação (escala 1.1.000.000), texto anexo cional do Itatiaia, Boletim FBCN, Rio de Janeiro, vol.32. 20:109-111. Silveira, J.D. 1942, Itatiaia. In: Anais do IX Con- IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente gresso Brasileiro de Geografia, Rio de Janeiro, e dos Recursos Naturais Renováveis, 1991, Vol.II. Mapeamento da organização do espaço do PARNA e seu entorno, escala 1:100.000 Ule, e.h.g., 1898, Relatório de uma excursão botâ- nica feita na Serra do Itatiaia, Revista do Museu IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente Nacional, Rio de Janeiro. e dos Recursos Naturais Renováveis, 1994, Pla- no de ação emergencial para o Parque Nacional de Veloso, H.P., & Góez-Filho, L.,1982, Fitogeografia Itatiaia, (mapeamentos em escala 1:50.000). brasileira, classificação fisionômica ecológica da ve- Brasilia, IBAMA/DIREC/DEUC/DIGER. getação neotropical. Bol. Tec. Projeto.

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CADERNOS FBDS 47 Lago próximo à base das Agulhas Negras. (foto: Teresa Cristina Magro)

48 CADERNOS FBDS Perfil Sócio-demográfico-ambiental e Identificação das Demandas do Entorno PESQUISA SÓCIO-ECONÔMICA DO ENTORNO

Samyra Crespo (1) Leandro Piquet Carneiro (2)

construído a partir da seleção de um conjunto de variáveis que foram consideradas impactantes do ponto de vista ambiental. Esse índice permi- te verificar quais áreas e quais contigentes de po- pulação estão atualmente exercendo maior pres- são sobre o ecossistema local. A pesquisa tam- 1. Apresentação bém cumpriu o segundo objetivo, uma vez que foi possível, não só verificar o nível de conheci- mento/informação da população entrevistada, Esta é a analíse dos dados coletados pelo como estimar o potencial de disposição para par- survey realizado junto aos moradores do entor- ticipação. no do Parque Nacional do Itatiaia, em dezembro O Relatório é constituído por duas partes: de 1998 (305 entrevistas). As tabelas com as (i) um sumário analítico com os destaques da frequências relativas a todas as questões do ques- Pesquisa; (ii) uma parte detalhada, incluindo tionário aplicado na pesquisa podem ser solici- além da análise, os procedimentos adotados, ta- tadas à FBDS. belas e gráficos relevantes. Os objetivos centrais da pesquisa foram: verificar as condições de ocupação humana (moradia e atividade econômica) nas áreas 2. Sumário Analítico do entorno do Parque e daquelas ocupadas pela população local, dentro do Parque; O entorno do Parque é constituído por cin- verificar o nível de conhecimento e infor- co municípios: Alagoa, Itatiaia, Resende, Bocaina mação da população ali localizada, sobre as de Minas e Itamonte. Os dados censitários do restrições próprias de área protegida,eopo- IBGE indicam que a dinâmica de urbanização tencial de participação dessa mesma popu- nesta região, em parte mineira, em parte lação em ações/empreendimentos que vi- fluminense, tem sido intensa nestes últimos 30 sem melhorias no Parque. anos, produzindo mudanças significativas na Para o cumprimento do primeiro objetivo, paisagem, sobretudo da área norte do Parque. a análise aqui encetada propõe a utilização de Ainda assim, dois destes municípios – Alagoa e um Índice de Pressão Antrópica. Esse índice foi Bocaina (ambos localizados em Minas Gerais) –

(1) Coordenadora de Meio Ambiente - Instituto Superior de Estudos Religiosos - ISER (2) Consultor técnico - Instituto Superior de Estudos Religiosos - ISER

CADERNOS FBDS 49 apresentam 50% da sua população vivendo em do Parque têm algum tipo de criação de animais; área rural. 78% dos domicílios do entorno possuem animais Os mesmos dados indicam que, a partir dos domésticos (a maioria possui cachorro). anos 80, todos os municípios do entorno expan- Somente 6% dos respondentes admitiram diram suas fronteiras agrícolas (áreas cultivadas). usar defensivo agrícola ou fertilizante químico; Já a pecuária declina na área sul do Parque (so- o principal produto da lavoura permanente é a bretudo, Resende) e se mantém constante na banana; no cultivo temporário predominam as área norte. Alagoa é o único município que mos- hortaliças. tra expansão recente na atividade pecuária. 28% dos domicílios ainda utilizam a lenha Para efeito do estudo, foram identificados para cozinhar; 35% não têm abastecimento de 18 (dezoito) setores censitários que fazem limi- água e 42% utilizam o esgoto pluvial. A te e/ou que estão dentro do PNI. Estes dezoito destinação do lixo doméstico é outro problema setores fazem parte de quatro municípios: considerável: 21% dos domicílios não têm cole- Itamonte, Bocaina de Minas, Resende e Itatiaia. ta de lixo. 67% destes domicílios queimam ou Dois setores que pertenciam a Alagoa, atualmen- enterram o lixo que produzem; 15% admitiram te, constam no IBGE como fazendo parte de que o jogam em terrenos vazios. Itamonte. Este conjunto dos dezoito setores A migração recente é um fenômeno a ser censitários abriga um total de 14.088 habitantes mais bem investigado na região: quase 60% das (população residente, IBGE, Contagem de 96). pessoas entrevistadas não nasceram naquelas Deste total, 15% estão em Minas, e 85% estão áreas. As análises de correlação mostram que são no estado do Rio de Janeiro. os moradores mais antigos os que têm práticas Considerando dados do IBGE para quinze mais nocivas aos objetivos de conservação do setores, que combinam caraterísticas da popula- Parque. ção, como escolaridade, renda, e infra-estrutura de Quando indagados sobre os motivos que seus domicílios (se possuem esgoto, coleta de lixo determinaram a fixação de moradia nas áreas etc), foi criado um índice de pressão antrópica, isto pesquisadas, somente 4% dos moradores menci- é, um índice capaz de mensurar a pressão atual- onaram a qualidade do meio ambiente (menos mente exercida pela ocupação humana nas áreas poluição). adjacentes ao Parque. Os dados da pesquisa domiciliar indicam Dos quinze setores do entorno considera- que o conhecimento da legislação, o tamanho dos, cinco apresentam alto índice de pressão da família e o tempo de residência aparecem antrópica (Resende, dois setores; Itamonte, dois como os fatores que melhor predizem a ocorrên- setores; Bocaina de Minas, um setor). Os demais cia de práticas agressivas ao meio ambiente. A estão assim posicionados: oito apresentam mé- escolaridade, por sua vez, aparece no modelo dio e dois setores, baixo. Os oito setores que exer- causal construído como o fator que explica o cem média pressão estão assim distribuídos: dois conhecimento da legislação. A média de escola- em Itatiaia, três em Resende, um em Itamonte e ridade da população pesquisada é de 5,8 anos de dois em Bocaina. Os dois setores que exercem estudo e 6% apresentam formação de nível su- baixa pressão encontram-se em Itatiaia. perior, portanto igual à média do sudeste do País. Este mesmo índice foi aplicado aos dados São também os moradores mais antigos os da pesquisa domiciliar realizada nos dezoito se- que apresentam menor nível de conhecimento tores do entorno. Foram realizadas 305 entrevis- da legislação ambiental e das restrições de uso tas domiciliares com homens e mulheres, entre do PNI. 16 e 69 anos, sendo a mostra utilizada represen- 20% da população pesquisada não identifi- tativa da população do entorno. caram problema ambiental algum, no seu local Os dados da pesquisa revelam que entre os de moradia ou próximo, e 30% afirmaram que fatores que exercem elevada pressão sobre o não existe problema ambiental algum naquelas ecossistema do PNI encontra-se a criação de ani- áreas. mais, a existência de lavouras e a presença de Entre os que citaram algum problema, 22% animais domésticos, nos domicílios dentro e no identificaram “desmatamento e queimadas” como entorno do Parque. 47% dos domicílios dentro os principais problemas e um segundo grupo, 15%,

50 CADERNOS FBDS identificou a poluição hídrica (águas e rios). dos sócio-econômicos disponíveis, coletados pelo A responsabilidade de resolver os problemas IBGE em diferentes pesquisas; segundo, para identificados foi apontada como sendo, em pri- classificar os setores censitários conforme o ní- meiro lugar, do poder público. A responsabilida- vel de pressão antrópica. Este conceito, a despeito de comunitária foi lembrada por 17% dos entre- do embasamento científico que o especifica, sig- vistados. A principal instância do poder público nifica no âmbito deste estudo a pressão e/ou mencionada foi a Prefeitura: 47%. impacto que as atividades humanas implicadas Com relação ao envolvimento pessoal na na ocupação, seja para moradia, seja para a so- resolução de problemas ambientais locais, 40% brevivência econômica, causam sobre o disseram estar dispostos a participar de encon- ecossistema local (aqui interessando a área deli- tros com moradores para a solução coletiva de mitada para preservação). Este conjunto de in- problemas; 37% afirmaram, ainda, estar dispos- formações serviu também para efeito do dese- tos a participar de mutirões ou grupos de traba- nho da amostra de moradores do entorno, que lho na comunidade. foi por sua vez estratificada segundo o nível de Embora só 28% tenham sido capazes de ci- pressão antrópica. tar alguma instituição de defesa do meio ambi- Os dados referentes à área do entorno do ente, 73% afirmaram estar dispostos a traba- PNI foram adquiridos junto ao IBGE: dois CD’s lhar como voluntários neste tipo de instituição; ROM com os dados sobre a contagem popula- 39% estariam, também, dispostos a contribuir cional de 1996, disquetes contendo o agregado com dinheiro. de setores do Censo Demográfico do ano de 1991, 48% alegaram que aceitariam um convite um arquivo com os critérios para a compa- do IBAMA para participar de grupos-tarefa para tibilização da malha de 1991 e 1996 e, ainda, os limpeza de trilhas e campanhas diversas que vi- croquis com a descrição dos setores censitários sem a melhoria da infra-estrutura e serviços do da área da pesquisa. PNI. Mais de 50% afirmaram dispor de pelo A demarcação da área do Parque Nacional menos duas horas semanais para tal. de Itatiaia nas folhas cartográficas do IBGE foi Dados nacionais, disponíveis através das feita com base no Decreto no 87.586 de 30 de pesquisas “O que o Brasileiro Pensa do Meio setembro de 1982, fornecido pela DIREC (Dire- Ambiente” (CNPq/MMA/ISER, 1992 e 1997), toria de Ecossistemas do IBAMA) e no Memorial mostram claramente que a disposição da popu- Descritivo de Demarcação de maio de 1995, for- lação local para a participação é alta e que exis- necido pela direção do Parque. Este trabalho per- te na região um potencial animador para defla- mitiu identificar os setores censitários que fazem grar processos participativos de gerenciamento parte do entorno da unidade. dos recursos naturais locais, tendo o PNI como O trabalho final de mapeamento foco. digitalizado da área total do PNI foi realizado pelo ISER, com a assessoria técnica de uma em- presa especializada. Cinco municípios de Minas 3. O Entorno do PNI: Indicadores Gerais e Rio de Janeiro e dezoito setores censi- Sistêmicos de Pressão Antrópica tários foram identificados como parte do entor- (1960-1996) no do PNI. Optamos por representar nos mapas o município de Itatiaia nas décadas de 1960, 70 e Nesta parte do estudo, apresentamos três 80, valendo-nos dos dados de Resende (municí- seqüências de mapas com informações sobre os pio do qual Itatiaia fazia parte). municípios e os setores censitários do entorno do Parque Nacional do Itatiaia – PNI. Analisamos a evolução da população urba- na, da atividade agropecuária e, por fim, o aces- so a diferentes serviços públicos. O trabalho com estes dados foi desenvolvido com o objetivo, pri- meiro, de propiciar uma descrição das caracte- rísticas do entorno do parque com base em da-

CADERNOS FBDS 51 Ocupação Humana

PerPercentualcentual da daPopul populaçãoação Ur urbanabana nosnos municípiosM unicípios - 1960 - 1960

MG

mais de 70% de 60% a 70% SP de 50% a 60% de 35% a 50% Limite do Parque Nacional de Itatiaia de 25% a 35% até 25% RJ

PercentPercentualual da daPopul populaçãoação Ur urbanabana nos municípiosM unicípios - 1970- 1970

MG

mais de 70% de 60% a 70% SP de 50% a 60% de 35% a 50% Limite do Parque Nacional de Itatiaia de 25% a 35% até 25% RJ

52 CADERNOS FBDS Ocupação Humana

PerPercentualcentual da da Popul populaçãoação Ur urbanabana nos nos municípios Municípi -os 1980 - 1980

MG

mais de 70% de 60% a 70% SP de 50% a 60% de 35% a 50%

Limite do Parque Nacional de Itatiaia de 25% a 35% até 25% RJ

PerPercentualcentual da da Popul populaçãoação Ur urbanabana nosnos municípios Municípios - 1991 - 1991

MG

mais de 70% de 60% a 70% SP de 50% a 60% de 35% a 50% Limite do Parque Nacional de Itatiaia de 25% a 35% até 25% RJ

CADERNOS FBDS 53 Ocupação Humana

PerPercentualcentual da da Popul populaçãoação Ur urbanabana nosnos municípios M unicípi -os 1996 - 1996

MG

mais de 70% de 60% a 70% SP de 50% a 60% de 35% a 50% Limite do Parque Nacional de Itatiaia de 25% a 35% até 25% RJ

Os dados sobre a dinâmica da urbanização tos de expansão e contração ao longo das quatro indicam que o percentual da população urbana décadas consideradas. nos municípios do entorno nos últimos 36 anos, A área cultivada apresentou variação nega- segundo ilustra esta primeira seqüência de ma- tiva entre 60 e 75, e a partir de 1980 passou a pas. Embora a mudança tenha sido maior nos crescer continuamente em todos os municípios. municípios da área norte do Parque, em 1996 O indicador de atividade pecuária utilizado (ca- Alagoa e Bocaina apresentam 50% da população beças de gado por 10 ha) mostra que existem ainda vivendo em áreas rurais. Resende apresenta diferenças importantes entre os municípios do o mesmo padrão de distribuição da população entorno: na área norte do PNI a atividade pecu- urbana/rural desde a década de 60. ária á basicamente constante, com o destaque para o aumento da atividade, na década de 90, A próxima seqüência de gráficos apresenta no município de Alagoa. Por outro lado, Rezende dados sobre as atividades agropecuárias nos mu- apresenta declínio contínuo da atividade pecuá- nicípios do entorno do PNI. As atividades ria. agropecuárias na região apresentam movimen-

54 CADERNOS FBDS Atividades Agropecuárias

PercentPercentualual da Ár daea área Cul cultivadativada nos nos municípiosM unicípios do do entorno Entor -no 1960 - 1960

MG

mais de 10% de 8% a 10% SP de 6% a 8% de 5% a 6% Limite do Parque Nacional de Itatiaia de 4% a 5% até 4% RJ

PercentPercentualual da Ár daea área Cul cultivadativada nos nos municípiosM unicípios do do entorno Entorno - 1975 - 1975

MG

mais de 10% de 8% a 10% SP de 6% a 8% de 5% a 6% Limite do Parque Nacional de Itatiaia de 4% a 5% até 4% RJ

CADERNOS FBDS 55 Atividades Agropecuárias

PercentPercentualual da Ár daea área Cul cultivadativada nos nos municípiosM unicípios do do entorno Entorno - 1980 - 1980

MG

mais de 10% de 8% a 10% SP de 6% a 8% de 5% a 6% Limite do Parque Nacional de Itatiaia de 4% a 5% até 4% RJ

PercentPercentualual da Ár daea área Cul cultivadativada nos nos M municípios unicípios do do entorno Entorno - 1985 - 1985

MG

mais de 10% de 8% a 10% SP de 6% a 8% de 5% a 6% Limite do Parque Nacional de Itatiaia de 4% a 5% até 4% RJ

56 CADERNOS FBDS Atividades Agropecuárias

PercentPercentualual da Ár daea área Cul cultivadativada nos nos M municípios unicípios do do entorno Entorno - 1996 - 1996 MG

mais de 10% de 8% a 10% SP de 6% a 8% de 5% a 6% de 4% a 5% Limite do Parque Nacional de Itatiaia até 4% RJ

R ebanhoRebanho Bovi bovinono Muni municípioscípios do do entorno Entorno - 1960 - 1960 MG

Cabeças por 10 ha

mais de 6 de5a6 SP de4a5 de3a4 Limite do Parque Nacional de Itatiaia de2a3 até 2 RJ

CADERNOS FBDS 57 Atividades Agropecuárias

R ebanhoRebanho Bovi bovinono Muni municípioscípios dodo entorno Entorno - 1975- 1975

MG

Cabeças por 10 ha

mais de 6 de5a6 SP de4a5 de3a4 Limite do Parque Nacional de Itatiaia de2a3 até 2 RJ

RRebanho ebanho bovinoBovino municípios Municípi doos entornodo Entor - 1980no - 1980 MG

Cabeças por 10 ha

mais de 6 de5a6 SP de4a5 de3a4 Limite do Parque Nacional de Itatiaia de2a3 até 2 RJ

58 CADERNOS FBDS Atividades Agropecuárias

R ebanhoRebanho Bovi bovinono Muni municípioscípios dodo entorno Entorno - 1985- 1985

MG

Cabeças por 10 ha

mais de 6 de5a6 SP de4a5 de3a4 Limite do Parque Nacional de Itatiaia de2a3 até 2 RJ

R ebanhoRebanho Bovi bovinono Muni municípioscípios do do entorno Entorno - 1996 - 1996 MG

Cabeças por 10 ha

mais de 6 de5a6 SP de4a5 de3a4 de2a3 Limite do Parque Nacional de Itatiaia até 2 RJ

CADERNOS FBDS 59 Os dados da terceira e última seqüência de de iniciado o trabalho de campo (três setores do mapas tem por base os dados do Censo 1991 e a entorno, posteriormente incluídos na amostra). Recontagem da População de 1996 por setor Essas informações foram utilizadas na constru- censitário. As áreas em branco indicam setores ção de um indicador sistêmico (setores sem população (um setor dentro do parque) ou censitários) do nível de pressão antrópica com o setores cuja identificação não foi possível antes qual estratificamos a amostra de domicílios.

Acesso a Serviços Públicos

PopulPopulaçãoação Resi Residentedente nos nos Set Setoresores CensitáriosCensitários do do Entorno Entorno

mais de 2000 de 500 a 2000 de 200 a 500 até 200

Limite dos setores censitários Limite do Parque Nacional de Itatiaia

IIBGE,BGE, Cont Contagemagem 1996

60 CADERNOS FBDS Acesso a Serviços Públicos

DomiDomicílioscílios l ligadosigados aà rede rede geral geral de de água água

mais de 60% de 30% a 60% de 5% a 60% até 5% Limite dos setores censitários Limite do Parque Nacional de Itatiaia

IBGE,IBGE, C Censo enso 1991

DomiDomicílioscílios l ligadosigados a à rede rede geral geral de de esgoto esgoto

mais de 60% de 30% a 60% de 5% a 30% até 5%

Limite dos setores censitários Limite do Parque Nacional de Itatiaia

IIBGE,BGE, Censo 19911991

CADERNOS FBDS 61 Acesso a Serviços Públicos

DomiDomicílioscílios comcom lixo lixo coletado coletado

mais de 60% de 30% a 60% de 5% a 30% até 5%

Limite dos setores censitários Limite do Parque Nacional de Itatiaia

IIBGE,BGE, CensoC enso 1991 1991

DomiDomicílioscílios com com lixolixo queimado queimado

mais de 60% de 30% a 60% de 5% a 30% até 5%

Limite dos setores censitários Limite do Parque Nacional de Itatiaia

IBGE,IBGE, Censo Censo1991 1991

62 CADERNOS FBDS Acesso a Serviços Públicos

PopulPopulaçãoação Anal analfabetafabeta nos nos setoresSetores censitários Censitários do do entorno Entorno

mais de 50% de 40% a 50% de 30% a 40% de20% a 30% Limite dos setores censitários até 20% Limite do Parque Nacional de Itatiaia

IBGE,IBGE, Censo Censo 1991 1991

A leitura deste conjunto de informações tura do mapa a seguir pode ser auxiliada pelos deve ser feita utilizando-se o índice de pressão dados apresentados na última tabela do mesmo antrópica. Na construção deste índice, levou-se anexo. Os setores com baixo nível de pressão em conta o seguinte conjunto de variáveis: antrópica apresentam maiores médias nas variá- Proporção de pessoas por dormitório veis que indicam acesso a serviços públicos e Proporção de pessoas por cômodo menores médias nas variáveis que descrevem Proporção de pessoas com renda até 2 SM condições de moradia precária (elevado núme- Proporção de domicílios com coleta de lixo ro de pessoas por dormitório) e baixa renda Proporção de domicílios com abastecimento de água (baixa proporção de pessoas com renda até Proporção de domicílios ligados à rede geral de esgoto dois salários mínimos). Inversamente, os se- Proporção de pessoas alfabetizadas tores com alta pressão antrópica apresentam mé- dias baixas nas variáveis que indicam acesso a Para construir o índice de pressão antrópica serviços públicos e altas nas variáveis que des- foi realizada uma análise fatorial com estas vari- crevem condições de moradia precária e baixa áveis e, em seguida, uma análise de cluster. A lei- renda.

CADERNOS FBDS 63 ÍndiÍndicece de de pr Pressãoessão Antrópicaantrópica

alto médio baixo

Limite dos setores censitários Limite do Parque Nacional de Itatiaia

ISER,ISER, UPAD UPAD

64 CADERNOS FBDS 4. Pesquisa Domiciliar com os todos os setores censitários do entorno do PNI. Moradores do Entorno Em cada setor, foi selecionado um número de domicílios proporcional à população residente e em cada domicílio foi escolhido, de acordo com Descrição da Amostra Utilizada as cotas de sexo e idade, uma pessoa residente A amostra utilizada é representativa da po- para responder ao questionário. pulação com mais de 16 e menos de 70 anos, re- sidente nos municípios de Itatiaia, Resende, Definição da População Alvo Itamonte e Bocaina. Decidiu-se por um desenho de uma amostra de conglomerados estratificada, O tamanho da amostra foi definido como retirada em três estágios, sendo o critério de se- sendo de 305 respondentes, os quais foram dis- leção dos respondentes nos domicílios definido tribuídos nos 18 setores censitários dos quatro por cotas de sexo e idade, segundo a distribuição municípios do entorno. A tabela abaixo apresen- da população. ta a distribuição da população alvo da amostra No primeiro estágio, foram selecionados segundo o sexoeogrupodeidade.

População de 16 a 69 anos segundo os grupos de idade e sexo (% com relação a população total) GRUPOS DE IDADE SEXO MASCULINO FEMININO 16-24 13,6% 13,4% 25-34 14,1% 13,3% 35-44 10,1% 9,9% 45-54 7,5% 6,1% 55-69 6,3% 5,6% Fonte: IBGE, Recontagem da população 1996

Estratificação dos setores censitários Os setores censitários1 foram estratificados res foram classificados em Baixo, Médio e Alto segundo o nível de pressão antrópica sobre o PNI Nível de Pressão Antrópica (ver mapa na seção (ver Anexo 1 com os procedimentos estatísticos anterior), com base em análises estatísticas adotados). Os dados para esta análise foram ob- multivariadas (Análise Fatorial e Análise de Agru- tidos no arquivo de microdados do Censo pamento). A distribuição da população residen- Populacional de 1991, Recontagem da População te nos setores censitários, classificados segundo de 1996 e Censo Agropecuário de diversos anos, o nível de pressão antrópica, aparece na tabela todas pesquisas realizadas pelo IBGE. Os seto- abaixo.

Nível de pressão antrópica UF MUNICÍPIOS BAIXA MÉDIA ALTA 31 Bocaina 161 264 31 Itamonte 363 530 33 Itatiaia 1608 1010 33 Resende 974 275 Total 1608 2508 1069 (31%) (48%) (21%)

1 Unidade territorial mínima adotada pelo IBGE, que apresenta em média, aproximadamente, 250 domicílios

CADERNOS FBDS 65 A distribuição do número de entrevistas em em cada treze. O primeiro domicílio em cada cada setor foi feita respeitando-se as proporções setor foi escolhido a partir de um ponto inicial relativas às dimensões: (i) tamanho da popu- definido com base em uma tabela de números lação, (ii) nível de pressão antrópica, (iii) sexo e aleatórios especialmente preparada. O número (iv) grupo de idade. Nos setores da amostra de entrevistas por município e segundo as cotas foi entrevistado um morador de um domicílio de sexo e idade aparece nas tabelas a seguir:

Distribuição da Amostra segundo quotas de sexo e idade MUNIC. Nº de 16-24 25-34 35-44 45-54 55-69 SETORES MF MF MF MF MF Bocaina 3 2 3 3 3 2 2 1 1 2 1 Itamonte 3 5 5 4 6 5 4 3 3 4 3 Itatiaia 7 25 24 27 26 19 19 13 11 10 10 Resende 5 9 9 10 7 5 5 4 4 4 2 Total 18 41 41 44 42 31 30 21 19 20 16

Distribuição da Amostra segundo quotas de sexo e idade (totais) MUNIC. M F TOTAL Bocaina 10 10 20 Itamonte 21 21 42 Itatiaia 94 90 184 Resende 32 27 59 Total 157 148 305

Controle da Amostra 5. Características Gerais da População Pesquisada As entrevistas foram divididas em lotes com dois setores cada um, divididos entre os nove Características Demográficas entrevistadores da equipe de campo do Projeto. Para realizar o trabalho de campo, os entre- Dada a natureza da amostra, as distri- vistadores receberam oito horas de treinamen- buições dos grupos de idade e sexo não apresen- to específico com o questionário, um croqui ea tam diferenças significativas com relação à po- descrição (perímetro) do setor, de acordo com o pulação, segundo a Recontagem da População de IBGE (Censo de 1991), e um manual do campo 1996 : 52,5% são do sexo masculino e 54% tem com instruções de como percorrer os setores re- menos de 34 anos. A população do entorno apre- cebidos. senta ainda características educacionais seme- Os supervisores de campo receberam uma lhantes às da população do sudeste do Brasil: cópia de todas as folhas de lote de cada municí- 7,4% são analfabetos (no sudeste a taxa é de 8,75) pio e uma planilha de controle de campo. Foi fi- e uma média de 5,8 anos de estudo (6,0 no su- xada uma taxa de 15% de entrevistas de verifi- deste). Ainda com relação à educação, 6% apre- cação com o objetivo de verificar a qualidade das sentam escolaridade universitária completa ou in- entrevistas realizadas. Nenhum problema signi- completa. ficativo foi detectado no trabalho de realização A migração recente é uma característica da das entrevistas. população estudada; apenas 36,7% do total de

66 CADERNOS FBDS entrevistados nasceram no município onde resi- Entre os fatores que exercem elevada pres- dem atualmente. Indagados sobre os motivos que são sobre o ecossistema do PNI, encontra-se a levaram à escolha do atual local de residência (o criação de animais, o cultivo de produtos agríco- entorno do Parque), os entrevistados indicaram las (a existência de lavouras) e a presença de ani- a família e trabalho como as razões mais impor- mais domésticos nos domicílios situados dentro tantes, ambas com 34,2%. Apenas 4,3% aponta- e no entorno do Parque. Em 38,4% dos domicíli- ram fatores relativos à qualidade do meio ambi- os encontra-se algum tipo de criação de animais, ente (destacando o fator “menos poluição”). destacando-se, em primeiro lugar, a criação de A religião, a cor e a ocupação são algumas aves. Foram encontrados ainda criadores de ca- das características da população do entorno que valos, bois, búfalos, porcos, ovelhas e cabritos. também foram levantadas no estudo. A popula- O percentual de domicílios com criação de animais é ção é hegemonicamente católica (78%), não-bran- maior na área do PNI: 46,7% dos domicílios dentro cos representam 48% da população e 41% dos que do parque têm algum tipo de criação de animais. A tem alguma ocupação estão no setor de serviços. presença de animais domésticos é igualmente indiscriminada: 78,7% dos domicílios possuem Características dos Domicílios algum animal doméstico (a maioria possui ca- chorros). Neste caso, a comparação, entre mora- Os dados sobre abastecimento de água, es- dores na área do Parque e no entorno, mostra goto e coleta de lixo revelam a deficiência do sa- que entre os primeiros 46,7% têm animal domés- neamento básico no entorno do PNI. A tabela tico e entre os segundos, 80,3%. abaixo apresenta os principais dados sobre as ca- Lavouras permanentes ou temporárias fo- racterísticas dos domicílios, coletados na pesqui- ram identificadas em 54,1% dos domicílios, dos sa. Além da deficiência dos serviços de saneamen- quais 6,2% fazem uso de defensivos agrícolas ou to, deve ser destacada a alta proporção de domicíli- fertilizantes químicos. Na área do PNI, o os com situação fundiária precária e a ocorrência percentual de domicílios com lavoura é de 40%. de práticas potencialmente nocivas ao Parque, re- O principal produto da lavoura permanente é a fletidas no elevado percentual de domicílios que banana, enquanto que nas lavouras temporárias utilizam lenha para cozinhar, como primeiro ou predomina o cultivo de hortaliças. segundo combustível (28% dos domicílios).

Características dos Domicílios do Entorno (%) Lavoura e Criação de Animais (%) Domicílios cedidos e alugados 28,9 Tem criação de animais (aves, cavalos, gado, etc) 38,4 Com situação fundiária irregular 28,8 Animais domésticos (cães e gatos) 78,7 Infra-estrutura domiciliar Lavoura Esgoto pluvial 42,5 Permanente 29,6 Sem abastecimento de água (rede geral) 34,7 Banana 32,2 Sem iluminação elétrica 7,2 Laranja/limão 17,8 Destino do lixo Mais de um tipo de lavoura / outros produtos 34,4 Sem coleta de lixo pela prefeitura 20,7 Temporária 43,0 Queima e enterra 53,7 Hortaliças 52,7 Couve 19,1 Joga em terrenos vazios 14,8 Diversos /outros 28,2 Enterra 13,0 Uso de defensivos e fertilizantes 5,8 Outro destino 18,5 Uso de lenha para cozinhar Como primeiro combustível 8,2 Como segundo combustível 20,5

CADERNOS FBDS 67 Indicador Domiciliar de Pressão Antrópica O índice composto com estas oito variáveis1 foi correlacionado a quatro variáveis independen- Os dados coletados nos domicílios permi- tes em um modelo de regressão de tipo OLS. As tem reconsiderar o problema das práticas noci- variáveis selecionadas foram: 1. Tempo de resi- vas ao meio ambiente identificadas no entorno dência no domicílio; 2. Número de pessoas no do PNI, discutidas na primeira parte do Relató- domicílio 3. Tamanho da família e 4. Conheci- rio com base nos indicadores sistêmicos. Nosso mento das normas ambientais. Os resultados objetivo aquiéodeapresentar um indicador aparecem representados a seguir, na forma de um domiciliar de pressão antrópica, o qual será cote- diagrama causal. Os valores representam o coe- jado com o indicador sistêmico apresentado na ficiente beta do modelo de regressão. Foi incluí- primeira parte do Relatório. O Indicador Domici- da, ainda, uma variável exógena, a escolaridade, liar de Pressão Antrópica foi construído com base a qual foi correlacionada ao conhecimento da nas seguintes variáveis: legislação ambiental. A primeira constatação importante do mo- 1. Tamanho da família delo é que o tempo de residência está positiva- 2. Situação fundiária do imóvel mente correlacionado ao nível de pressão 3. Destino do lixo antrópica. Ou seja, são os moradores mais anti- 4. Ligação a rede de esgoto pluvial gos da área que apresentam condutas potencial- 5. Uso de lenha para cozinhar (como 1º e2º combustível) mente agressivas ao Parque (criação de animais, 6. Criação de animais (aves, bois, cavalos, etc.) lavoura, esgoto pluvial etc). O tamanho da fa- 7. Presença de animais doméstico mília – se interpretado como uma proxis da con- 8. Presença de lavouras permanentes e temporárias dição sócio-econômica da família – corrobora a análise feita com base no indicador sistêmico de pressão antrópica: baixos níveis de renda e esco- laridade encontram-se associados à maior inci- dência de condutas potencialmente agressivas ao meio-ambiente. Observa-se, também, uma cor- relação negativa entre tempo de residência e co- nhecimento da legislação: os que vivem há mais Determinantes da Pressão Antrópica tempo na região são os que menos conhecem a (modelo causal estimado com base legislação ambiental. Por sua vez, o conhecimen- nos coeficientes de regressão OLS) to da legislação ambiental atua no sentido de reduzir o nível de pressão antrópica exercido pelo morador. A variável exógena escolaridade con- ESCOLARIDADE tribui significativamente para o maior conheci- mento da legislação ambiental e, por meio desta 0,30 variável, para a redução da pressão antrópica – embora, diretamente, não tenha efeito signifi- CONHECIMENTO cativo sobre a pressão antrópica. DE LEGISLAÇÃO - 0,15

PRESSÃO TAMANHO - 0,19 ANTRÓPICA - 0,16 DA FAMÍLIA

TEMPO DE RESIDÊNCIA 0,21

1 O índice de pressão antrópica corresponde aos scores da análise fatorial (método de regressão) com as oito variáveis selecionadas.

68 CADERNOS FBDS 6. Análise do Potencial da Perguntados se estariam dispostos a assinar Participação um abaixo-assinado solicitando providências às autoridades, 43,3% disseram que sim e 40,3% Um dos objetivos centrais da pesquisa foi o aceitariam participar de reuniões entre morado- de mensurar o potencial de participação da po- res a fim de encontrar uma solução coletiva para pulação residente no entorno do Parque. Os da- o problema. O apoio foi menor quando inquiri- dos coletados permitem avaliar o potencial de mos sobre modalidades que envolvem custos envolvimento dos moradores na solução dos pro- maiores de tempo: 37,4% se disseram dispostos blemas comunitários/ambientais que afetam o a participar de mutirões ou grupos de trabalho PNI. Neste sentido, em primeiro lugar, procura- na comunidade para resolver o problema apon- mos identificar os principais problemas tado. ambientais percebidos pelos moradores nos seus A disposição para participar foi avaliada locais de residência: 20,3% não souberam como também entre aqueles que citaram uma insti- responder a esta pergunta (resposta espontânea). tuição de defesa do meio ambiente. 28,5% cita- Entre os que responderam à questão, 30,5% afir- ram o nome de pelo menos uma entidade de pro- maram não haver problema ambiental ou de qual- teção do meio ambiente, sendo que 73,5% des- quer outro tipo no bairro onde residem; 22,2% cita- tes mostraram-se dispostos a trabalhar como ram desmatamento ou queimadas como o prin- voluntário em instituições desse tipo; 39,4% cipal problema; 15%, a poluição das águas e rios manifestaram-se dispostos a contribuir com di- e 14% citaram problemas não ambientais. nheiro e 71,4% aceitariam tornar-se membro. E a quem deveria caber a responsabilidade Ainda sobre trabalho voluntário, pergunta- de resolver o principal problema identificado? mos sobre a disposição dos moradores para par- Em primeiro lugar, à Prefeitura, apontada por ticipar de trabalhos de limpeza de trilhas e de 47,0% da população como a principal responsá- campanhas de diversos tipos visando a melhoria vel por resolver os problemas ambientais do bair- do PNI, que poderiam ser organizadas pelo ro. A responsabilidade comunitária na resolução IBAMA. O resultado obtido mostra uma clara dos problemas ambientais foi lembrada por ape- inclinação participativa da população: 48,3% nas 17% dos entrevistados. A tabela abaixo apre- aceitariam um convite deste tipo. Entre estes, senta a lista ordenada dos agentes que deveriam 54,8% estariam dispostos a contribuir com até 2 ser os responsáveis pela solução dos problemas horas por semana de trabalho voluntário, 34,2% apontados. com3a7horas e 11% com mais de 8 horas. Os dados comparativos dos quais dispomos, de pesquisas nacionais como “O que o Brasileiro Principal responsável pela solução Pensa do Meio Ambiente”, mostram que a po- do problema ambiental do bairro pulação do entorno do PNI não apenas apresen- Prefeitura 47,0% ta níveis mais altos de potencial de participação, Cada um de nós 17,5% como também maior conhecimento de institui- ções ambientalistas, na esfera governamental e Associação de moradores 13,9% não-governamental. O percentual dos que co- Organizações Ecológicas 7,2% nhecem pelo menos uma instituição chega a ser Governo Federal 6,0% quatro vezes maior do que a média nacional. Empresários (industriais) do local 4,8% Estas evidências somadas indicam um alto po- Governo Estadual 2,4% tencial de participação da população do entor- no, elemento indispensável em qualquer plano Partidos Políticos 1,2% de manejo participativo.

CADERNOS FBDS 69 ANEXO 1: ANÁLISE FATORIAL

O índice de pressão antrópica foi construído com base no seguinte conjunto de variáveis:

PESSDORM proporção de pessoas por dormitório PESSCOMO proporção de pessoas por cômodo PROP_2 proporção de pessoas com renda até 2 SM PROPLIX proporção de domicílios com coleta de lixo PROPAGUA proporção de domicílios com abastecimento de água PROPSANE proporção de domicílios ligados a rede geral de esgoto PROPALFA proporção de pessoas alfabetizadas

Realizamos uma análise fatorial com o objetivo de reduzir as dimensões em análise. O primeiro passo foi obter a matriz de correlação das variáveis, apresentada abaixo:

Matriz de Correlação PROP_2 PROPILIX RENDMED PROPALFA PROPSANE PROPAGUA PESSDORM PROP_2 1,0000 PROPILIX 0,8616 1,0000 RENDMED -0,7777 -08449 1,0000 PROPALFA -0,6751 0,6714 0,6138 1,0000 PROPSANE -0,2922 0,2873 0,2792 0,4820 1,0000 PROPAGUA -0,4900 0,4221 0,3662 0,6307 0,5629 1,0000 PESSDORM 0,6432 -0,6677 -0,6147 -0,6446 -0,3381 -0,5230 1,0000

Utilizou-se o método das componentes principais, visando extrairem-se fatores que representassem grande parte da variabilidade destas variáveis.

FATOR AUTOVALOR % DA % ACUMULADO VARIAÇÃO DA VARIAÇÃO 1 5,9116 59,1 59,1 2 1,3779 13,8 72,9 3 0,8261 8,3 81,2 4 0,7130 7,1 88,3 5 0,4317 4,3 92,6 6 0,2883 2,9 95,5 7 0,1973 2,0 97,5 8 0,1124 1,1 98,6 9 0,0771 0,8 99,4 10 0,0644 0,6 100,0

70 CADERNOS FBDS Consideramos na análise subsequente os dois primeiros fatores, que explicam 73% da variabili- dade do conjunto de variáveis e apresentam autovalores maiores que um. O quadro baixo apresenta os factors loadings para o conjunto das variáveis consideradas.

FATOR 1 FATOR 2 PROP_2 -0,7948 -0,3828 RENDMED 0,8932 0,2661 PROPALFA 0,4908 0,6960 PROPLIX 0,0540 0,7563 PROPSANE 0,0030 0,7929 PROPAGUA 0,1588 0,8330 PESSDORM -0,5905 -0,6156

Como pode-se observar, o fator 1 reuniu as variáveis ligadas à renda e à escolaridade e o fator 2 agrupou as ligadas à infra-estrutura dos domicílios. Usamos esses fatores para analisar e separar, em três estratos, os setores censitários pelo método “k-means clusters”. Este método leva em consideração uma medida de distância entre os setores, calculada a partir dos seus escores fatoriais definidos anteriormente. O objetivo final desta análise é a classificação dos setores em clusters segundo o nível de pressão antrópica..

Centros dos clusters (iniciais) CLUSTER FAC1 FAC2 1 4,8636 -0,9036 2 -0,7492 0,9272 3 0,6704 -4,7355

Alterações nos centros dos clusters ALTERAÇÃO 1 2 3 1 1,8348 0,9639 1,5863 2 0,6457 0,0837 0,5377 3 0,2121 0,0430 0,4383 4 0,0259 0,0445 0,3060 5 0,0000 0,0193 0,1187

Centros dos clusters (finais) CLUSTER FAC1 FAC2 1 2,3609 -0,1538 2 -0,2883 0,2957 3 0,2194 -1,7214

CADERNOS FBDS 71 Análise da variância VARIÁVEL CLUSTER MS DF ERROR MS DF F PROB FAC1 162,2890 2 0,346 494 468,2990 0,000 FAC2 111,9824 2 0,329 494 339,9964 0,000

Número de casos em cada Cluster CLUSTER CASOS % 1 71 14,3 2 364 73,2 3 62 12,5 497

Levando-se em conta as médias das variáveis em cada cluster foi possível classificar o nível de pressão antrópica em três categorias: baixo(3), médio(2) e alto(1).

Médias das variáveis estudadas - por cluster gerado 12 3 PROP 2 0,7705 0,5522 0,1536 PROPLIX 0,0018 0,0034 0,0683 RENDMED 1,3155 2,3499 7,5631 PROPALFA 0,5794 0,7569 0,8717 PROPSANE 0,7503 0,9483 0,9744 PROPAGUA 0,4945 0,9312 0,9750 Médias mais baixas PESSDORM 2,4948 2,1338 1,6622 Médias mais altas

72 CADERNOS FBDS Perfil Sócio-demográfico-ambiental e Identificação das Demandas do Entorno PESQUISA COM LIDERANÇAS

Samyra Crespo (1) Leandro Piquet Carneiro (2)

tável do Parque. Esta sondagem se situa no con- texto maior do projeto FBDS/FUNBIO “Planeja- mento Participativo para Elaboração de Plano de Este Relatório contém a análise de 30 en- Manejo do Parque Nacional do Itatiaia” e se trevistas realizadas durante os meses de setem- complementa com outra pesquisa tipo survey bro, outubro e novembro de 1998, com lideran- (350 entrevistas) realizada no mês de dezembro ças que atuam no Parque Nacional de Itatiaia de 1998 – também pelo ISER – com a população (PNI) e/ou nos cinco municípios do seu entorno residente nos setores censitários que fazem li- (Alagoa, Itatiaia, Resende, Bocaina de Minas e mite com o Parque e pertencente aos cinco mu- Itamonte). Elas compreendem, no seu conjun- nicípios mencionados. to, cinco setores ou segmentos sociais: empresá- A pesquisa orientou a seleção das pessoas a rios/técnicos das empresas das regiões sul-minei- serem entrevistadas, sua inserção relevante nos ra e sul-fluminense; técnicos do IBAMA/PNI; setores considerados chaves para o tema da ges- técnicos governamentais ligados a secretarias ou tão participativa e por serem reconhecidas como aos departamentos de meio ambiente e turismo lideranças locais e/ou atores que importa envol- municipais; cientistas/pesquisadores e ativistas ver no debate sobre gestão. de ONGs locais. As entrevistas foram realizadas A análise aqui encetada procura destacar os por Lílian Seabra e a análise, bem como a elabo- consensos e as divergências de opiniões que exis- ração dos roteiros, ficaram a cargo de Samyra tem entre os entrevistados e, depois, sistemati- Crespo, ambas do corpo técnico do ISER, orga- za o conjunto de ações estratégicas recomenda- nização especialmente contratada pela FBDS das. Para cada segmento foi elaborado um rotei- para desenvolver o trabalho. ro de perguntas. A proporção observada foi de 6 O objetivo desta pesquisa com lideranças é entrevistas por segmento definido. Todas as levantar um primeiro conjunto de opiniões/vi- entrevistas duraram em média uma hora e foram sões que possa subsidiar uma estratégia de ges- gravadas e depois transcritas. A íntegra das mes- tão participativa e de desenvolvimento susten- mas se acha disponível em volume separado.

(1) Coordenadora de Meio Ambiente - Instituto Superior de Estudos Religiosos - ISER (2) Consultor técnico - Instituto Superior de Estudos Religiosos - ISER

CADERNOS FBDS 73 1. Visão sobre a Região seletivo “de pessoas que gostam do contato com e sua Vocação Econômica a natureza e procuram repouso”. Foram especi- almente citados Airuoca e Alagoa. As lideranças entrevistadas demonstram, no Em termos da expansão industrial, a preo- conjunto, ter uma visão otimista sobre a voca- cupação pode ser dividida em duas partes: a pri- ção e o potencial econômico da região sul- meira refere-se ao aumento do potencial poluidor fluminense, embora o que se pode chamar de en- e a segunda, à especulação imobiliária. torno do Parque englobe municípios de dois es- Há controvérsias acerca da possível polui- tados: Minas Gerais e Rio de Janeiro, com um ção causada pelo complexo industrial de Resende polo de desenvolvimento industrial (em expan- sobre o Parque. são) localizado em Resende (RJ). Tanto o secretário de meio ambiente de Segundo elas, não se pode dizer que a re- Resende quanto um dos técnicos peritos do Par- gião tenha uma única vocação econômica. A pró- que afirmam que já foram realizados estudos pria presença do Parque Nacional, existente des- neste sentido por duas importantes universida- de a década de 30, somada ao complexo turístico des do Estado do Rio de Janeiro. Ficou demons- representado pelo Circuito das Águas (estâncias trado que as indústrias localizadas naquele mu- hidrominerais de Minas) são um contraste es- nicípio ainda não causam um impacto ambiental trutural e permanente ao desenvolvimento in- relevante sobre o Parque Nacional. Já um antigo dustrial, determinando, então, uma vocação funcionário do Parque, morador e pesquisador múltipla para toda a região. da região há mais de 50 anos, discorda dessa opi- Tomando o conjunto das entrevistas, fica nião e diz que seus estudos demonstram o con- evidente que a região é vista como bastante di- trário: segundo ele, um dos bio-indicadores mais versa internamente, permitindo diferenciar três expressivos para detectar poluição – os sapos pra- principais micro-regiões em termos do desenvol- ticamente desapareceram da região nos últimos vimento econômico: a primeira é espacialmente dez anos, e identificam a poluição industrial concentrada e congrega um forte conglomerado como causa. de indústrias e serviços em Resende; a segunda é Com relação à especulação imobiliária, esta formada pelos complexos turísticos que vão do afetaria sobretudo as áreas próximas ao Parque Circuito das Águas (que muitos vêem como de- por atraírem os técnicos, engenheiros e adminis- cadente) aos municípios de Itatiaia e Resende; a tradores das indústrias que se implantam nos terceira, formada por uma maioria de municípi- municípios do entorno, fazendo o preço da terra os mineiros, concentra pequenas fazendas de subir e provocando o retalhamento das criação de gado extensivo e pequenos laticínios. fazendolas e minifúndios. Os loteamentos são Todasas lideranças ouvidas reconhecem que crescentes e aumentam a pressão antrópica so- o dinamismo da região está localizado tanto no bre o Parque, ao mesmo tempo em que repre- polo industrial de Resende, como no crescente sentam para os municípios um aumento do seu turismo ecológico que vai recortando toda a pai- passivo em termos de saneamento básico. sagem dos municípios próximos ao Parque e das Quanto à atividade turística, predomina a terras altas da Mantiqueira com “pousadas, visão de que os municípios devem se unir e tra- pousadinhas e pousadonas” – segundo enfatizou balhar conjuntamente uma identidade para o uma delas – e uma rede de pequenos negócios turismo da região que deve ser ecológico ou de que se instala por força da demanda turística: eco-lazer. restaurantes, lojas de roupas, souvenirs e alimen- Citam como um possível caminho para tos, bazares diversos, etc. Os polos turísticos mais superar o individualismo de alguns municípios, citados foram Mauá, Penedo, Maromba, Maringá e como exemplo a ser seguido, o projeto e Serrinha do Alambari, considerados em vias de intermunicipal denominado “Terras Altas da saturação (do ponto de vista ambiental). Mantiqueira” (consórcio entre Alagoa, Itamonte, Há um reconhecimento geral de que há ain- Itanhandu, São Sebastião do Rio Verde, Pouso da muitos municípios pequenos, ainda pouco ex- Alegre e Passa Quatro) que promove uma série plorados, que oferecem - por suas belezas natu- de eventos, feiras, etc.. rais - uma série de atrativos a um turismo mais Concluindo, a visão dos entrevistados so-

74 CADERNOS FBDS bre a vocação múltipla da região em que se loca- aérea (Resende já possui vôos diários para liza o Parque é bem fundamentada no conheci- os grandes centros mencionados) mento da evolução histórica das atividades gasoduto da Petrobrás e a usina do Funil econômicas ali desenvolvidas (sucessivamente, (complexo Furnas) café, açúcar, criação de gado leiteiro) e levam em centros universitários de boa qualidade e conta o contexto diversificado dos municípios e boa rede de serviços e equipamentos públi- de seus respectivos estados. Identificam um cos (telefonia, escolas, hospitais, etc.) maior dinamismo na parte sul-fluminense, capi- rede bancária que inclui os principais ban- taneado por Resende e uma relativa decadência cos em operação no País econômica na parte mineira. Com relação à vocação turística, há con- Para Atrair Atividades de senso em torno da idéia de que é preciso renovar Cunho Turístico o conceito de turismo e lazer, que informou no a segunda maior rede hoteleira do estado passado as estratégias do circuito mineiro das es- (em oferta de leitos), depois da cidade do tâncias hidrominerais, e que o eco-lazer ou tu- Rio de Janeiro rismo ecológico é a moeda a ser fortalecida. as belezas naturais da região, onde se des- Outro importante consenso verificado está taca o Parque Nacional na certeza de que o crescimento turístico deve o patrimônio histórico (tido como ainda ser pautado por critérios ambientais que não des- pouco explorado) truam o meio ambiente e que a região não su- a cordialidade da população e a sua falta de portaria um “turismo de massa” . preconceitos para com “os de fora” Praticamente todos mencionaram a neces- a rede de estradas e serviços já mencionada sidade de se cunhar uma identidade para o turis- mo da região e a necessidade de os municípios Como fator humano positivo, foi citado, trabalharem conjuntamente para resolver tanto ainda, o baixo índice de analfabetismo da popu- seus problemas ambientais, assim como para lação local. traçar estratégias comuns de desenvolvimento. Como ponto fraco e principal fator Possivelmente, pelo tipo de função que exer- limitante ao desenvolvimento, foi mencionada cem, são justamente os secretários de turismo e a geopolítica complicada do compartilhamento meio ambiente, dentre todos os entrevistados, da região por três estados que, devido às suas que têm uma visão mais organizada sobre as especificidades e questões de ordem político-par- vantagens comparativas da região – sobretudo tidária, não sentam juntos para discutir nem da parte sul-fluminense – em termos dos fatores planejar estratégias que poderiam resultar em que podem levar ao desenvolvimento. benefício coletivo. A região é vista como altamente competiti- va, mas se fala também na competição “darwi- nista” entre os municípios – na oferta de incen- 2. Vantagens e Desvantagens da tivos para atrair investimentos–enoexcessivo Região à Competitividade individualismo das iniciativas. Também foi apontado que as restrições Foram apontadas como componentes gené- ambientais limitam bastante as localidades que ricos do alto potencial econômico da região: têm menor potencial turístico: “Aquié quase tudo abundância na oferta de água, terras e infra-es- protegido, se não é área do Parque Nacional, é APA”. trutura de energia e estradas. Como específicas, O ICMS-ecológico que visa compensar os muni- foram destacadas: cípios que investem em proteção ambiental exis- te para os municípios de Minas Gerais, mas não para os do Estado do Rio de Janeiro. Para Atrair as Atividades Industriais Na discussão sobre a competitividade, apa- a proximidade com grandes centros urba- rece claramente a contradição entre o desejo de nos como Rio, São Paulo e Belo Horizonte ver a região industrialmente desenvolvida “por- a infra-estrutura rodoviária, ferroviária e até que é o setor que gera mais empregos” e a necessida-

CADERNOS FBDS 75 de de preservar o meio ambiente, que por sua 3. Avaliação do Quadro Ambiental vez é a única via de desenvolvimento sustentá- da Região vel citada em toda a amostra. Pode-se resumir esta contradição em duas falas, ambas de dois O principal problema ambiental de toda a secretários municipais, uma da parte sul- região e comum a todos os municípios do entor- fluminense e outro da parte sul-mineira: no do Parque, independente do tamanho e po- “O nosso grande receio é de que Resende vire pulação, é o saneamento básico. A maior parte um novo ABC paulista e que a degradação ambiental dos municípios não tem rede geral de coleta de aumente assustadoramente”. esgotos, o sistema de fossas é deficiente e pouco “Se formos seguir os critérios ambientais, aqui controlado e a destinação do lixo - em aterros não se pode fazer nada. Contudo, temos que aumen- sanitários ou mediante outras soluções - não está tar a arrecadação do município para desenvolver. O equacionada. jeito é fazer vistas grossas para muita coisa”. Com o incremento do turismo e a prolife- O Parque, no contexto do desenvolvimen- ração de hotéis e pousadas, este quadro se agra- to turístico sustentável, é tido como uma refe- vou nos últimos anos. Como casos graves, onde rência. No entanto, é também alvo de contro- as valas negras correm a céu aberto e já polui os vérsias que vão desde a discussão em torno da pre- cursos d’água foram especialmente citados Mauá tensão (criticada pela maioria) de Itatiaia de e Penedo. Em conseqüência, aumentou8 muito municipalizar o Parque – e, portanto, integrá-lo às na região a ocorrência de doenças por veiculação suas estratégias individuais de desenvolvimento hídrica (desinterias, doenças de pele, hepatite etc) local – até a idéia de que não se pode aumentar a afetando sobretudo a população infantil. visitação ao Parque pois há riscos de destruí-lo. No que respeita às opiniões dos entrevista- As opiniões sobre a visitação ao Parque Na- dos, elas se dividem entre aquelas que acham que cional variam entre duas tendências: uma que o quadro de agravos ambientais vem se ameni- se posiciona a favor de manter a visitação a cer- zando e aquelas que enxergam uma clara ten- tas áreas que não causem maior impacto (partes dência ao aumento destes mesmos agravos. baixas) controlando rigorosamente o acesso a Os mais otimistas alegam que nos últimos outras (partes altas); outro que defende uma seis anos diminuiram os incêndios florestais, ten- moratória do Parque: do aumentado a capacidade dos municípios de “Eu fecharia o Parque por dez anos, botaria a combatê-los – embora não tenha vingado o pro- casa em ordem, e só então, após um criterioso plano jeto da criação de brigadas municipais anti-in- de manejo, eu iria abrindo e determinando as escalas cêndio. Outro fator que vem reduzindo o im- de visitação.” pacto ambiental sobre a região é o declínio da Concluindo este tópico, as falas dos entre- atividade pecuarista e da atividade agrícola de vistados demonstram que, embora o discurso da larga escala. preservação ambiental seja recorrente, quando Também vem aumentando o número de se fala de desenvolvimento, a imageméadaex- áreas protegidas – com a criação de APAS esta- pansão das indústrias. O turismo sustentável é duais e municipais–edeáreas florestadas. Foi uma visão que carece ainda de consistência. A valorizada a paulatina, mas já visível, mudança inserção do Parque nesta visão é ainda contro- de mentalidade da população local que já não versa e pouco definida, embora todos achem im- caça nem desmata como em outros tempos, in- portante integrá-lo às suas estratégias de forta- dicando uma maior consciência ambiental e/ou lecimento do turismo local. uma maior eficácia dos órgãos de controle ambiental. A presença do IBAMA – ainda que todos con- cordem que a fiscalização é insuficiente e deficien- te – é considerada imprescindível para que sejam coibidas ações que possam aumentar os agravos ambientais relativos ao desmatamento, à caça, e à ocupação irregular de áreas próximas ao Parque. Foram citadas ainda a atuação positiva de

76 CADERNOS FBDS ONGs na educação ambiental da população e de 4. Visão sobre o Parque turistas e a crescente profissionalização dos qua- dros técnicos dos municípios que estão finalmen- Todosos setores, indistintamente valorizam te estruturando seus sistemas de controle a existência do Parque, reconhecem a sua impor- ambiental. tância estratégica para a economia através do Os mais pessismistas contabilizam o au- turismo e para a qualidade de vida dos morado- mento da pressão antrópica com a urbanização res dos municípios que estão no seu entorno. Vá- de áreas que eram, até recentemente, rurais – o rios foram os depoimentos - entusiásticos - so- fenômeno do retalhamento de glebas que viram bre a beleza cênica de toda a região serrana que loteamentos de veraneio, sobretudo. Citam ain- ele ocupa com suas cachoeiras “maravilhosas”, da a pressão sobre a rede hídrica, tanto em ter- mata nativa, flora e fauna, além do patrimônio mos de captação desordenada, como do despejo natural rochoso “um dos mais belos do mundo”. das águas servidas: Foram raras as menções que enfatizaram o “cada um bota na nascente o seu cano e cada valor puramente ambiental do Parque - e quan- vez com uma bitola maior, sem pensar que se capta do ocorreram foram feitas pelos ambientalistas. mais do que precisa nas partes altas, vai faltar nas A imagem que predomina em todos os setores é partes baixas, e afetar os cursos ali localizados.” a do Parque como um complexo natural com alto Citam, também, o aumento tendencial da valor turístico e não como a de patrimônio na- poluição industrial pela falta de critério para a tural coletivo, no sentido que os conser- instalação de novas plantas e da decadência do vacionistas costumam atribuir às áreas protegi- patrimônio histórico dos municípios que não têm das. Deste modo, o Parque é um recurso natural uma política de manutenção e preservação do estratégico no contexto do desenvolvimento lo- mesmo: cal. Em outras palavras, qualquer estratégia de de- “Não há um levantamento do que é relevante senvolvimento local sustentável deve integrar o conservar; não há dinheiro para recuperar e o que se Parque e o complexo turístico que ele representa. vê são monumentos históricos desmoronando, sítios Predomina também a visão de que o Parque de grande valor histórico sendo depredados.” é uma área habitada, pois menos da metade tem Por fim, as duas vertentes de opinião se en- situação fundiária regularizada. Sobre a ação contram e mostram consenso na crítica que fa- antrópica (humana), há uma divisão de opini- zem à fiscalização, tanto aquela afeta ao IBAMA ões, pois muitos acham que ela vem diminuin- quanto aquela afeta à FEEMA. De acordo com do, sobretudo porque aumentam as áreas os entrevistados, a efetividade da fiscalização e florestadas e já se pode observar uma maior cons- controle por parte desses dois órgãos, um fede- ciência ambiental da população. Outros acredi- ral e outro estadual, é imprescindível, pois os mu- tam que aumenta, uma vez que o turismo preda- nicípios estão ainda estruturando seus sistemas, dor está crescendo e que o excessivo retalhamento considerados inteiramente incipientes e caren- das glebas tende a afetar o ecossistema. tes de recursos de toda ordem (técnicos, finan- De um modo geral, a atividade gado-leitei- ceiros e humanos). ra na região tem diminuído, o que influi no Também concordam que a presença de ór- declínio da demanda por novos pastos, aponta- gãos hierarquicamente superiores coibem os da como principal responsável pelos incêndios e casuísmos locais. Foram citados, como exemplo, desmatamento. casos de mineração em áreas de preservação, o A visão sobre as condições físicas do Parque é que é expressamente proibido pela legislação, e também dividida entre aqueles que o consideram o aumento de loteamentos irregulares (em en- “abandonado” com um museu “decadente” e meia costas e mananciais) sob a conivência de autori- dúzia de hotéis pouco corretos do ponto de vista dades inescrupulosas. ambiental, e outros que declaram ter observado uma melhoria da situação nos últimos cinco anos, elogiando o empenho da nova gestão, reconheci- da como “competente tecnicamente”. Há consenso entre os setores de que a infra- estrutura que o Parque oferece aos turistas é li-

CADERNOS FBDS 77 mitada e pouco segura. Houve menções a pesso- tação desordenada, despejos de esgotos das ca- as que morrem porque não são orientadas sobre sas e pousadas). as trombas d’água no verão, turistas que se per- Não foi mencionado algum programa desti- dem devido à falta de sinalização nas trilhas, au- nado aos agricultores, voltado para a diminuição sência de equipe de resgate etc. do uso de agrotóxicos ou para a conservação. A visão sobre os gestores do Parque – no Apontam, ainda, a falta de programas sis- caso, o IBAMA–éadeumórgão que não con- temáticos de orientação aos turistas e proprietá- versa com ninguém, que tem uma cultura puni- rios de hotéis, pousadas e casas de veraneio. tiva e que não faz bem o seu trabalho queéode Os poucos programas e projetos de educa- conservar o parque e fiscalizar as atividades ção ambiental que existem são direcionados às poluidoras e/ou danosas ao meio ambiente como crianças e às escolas. Ainda assim, foi apontado um todo. “Faltam recursos”, “faltam funcionários”, que falta uma visão e uma ação mais unificada é a opinião da maioria. Contudo, conforme já dos municípios em termos de educação mencionado anteriormente, é o único órgão que ambiental: “atira-se para todo lado, cada um faz efetivamente exerce o poder de polícia ambiental: uma coisa”. “ruim com ele, pior sem ele”. 6. Reação à Possibilidade de uma Gestão Participativa 5. Avaliação sobre a Consciência da População e a Necessidade de se Ninguém é contra a idéia de gestão parti- Promover Educação Ambiental cipativa, mas todos acham complicado. Cada qual à sua maneira, o consenso é de que a tese é boa, mas a prática não é simples. A engenharia Há, por parte de todos os setores entrevis- social, política e institucional que ela exige é mais tados, consenso em torno da idéia de que a po- sofisticada do que parece. pulação local está mais consciente sobre a ne- “Gestão participativa é perguntar a todo mun- cessidade de preservar o ambiente e que esta do o que acha e respeitar o consenso criado em torno consciência se traduz no fato de que se caça de algum problema, alguma ação”, diz um secretá- menos, se desmata menos e, por isso, animais e rio municipal entrevistado. Para ele, a gestão plantas começam a se multiplicar. O aumento participativa deveria ser efetivada com a instala- das aves e da fauna de pequeno porte é notado e ção de um “Conselho Gestor”. Neste conselho, foi mencionado em várias entrevistas. as cidades do entorno deveriam ter assento, com Técnicos do Parque e ambientalistas crêem um representante de cada pelo menos. Para os que hoje é pequeno o número de pessoas dos mu- representantes das secretarias municipais de nicípios do entorno que extraem recursos da meio ambiente, de desenvolvimento e turismo, mata do Parque, e que os palmiteiros - um dos uma gestão participativa do Parque que não for principais problemas mencionados - vêm de São intermunicipal não tem sentido. Paulo. Foi citada como problema permanente - Predomina, em termos de quem participa por funcionários e pesquisadores-aextração da (quais os atores) uma visão menos municipalista madeira para cercas, móveis, lenha, afetando es- nos demais segmentos entrevistados. Em outras pecialmente algumas espécies como a candeia, a palavras, com exceção dos secretários ouvidos, a pataba e o pinheiro. maior parte dos entrevistados tende a acreditar Apontam, contudo, para o fato de que a re- que a participação deve ser multissetorial - e con- gião carece de programas de educação ambiental gregar, portanto, representantes de todos os mais amplos, sobretudo projetos que conscien- setores relevantes da sociedade. tizem a população em geral, e comerciantes em Um ex-funcionário do Parque, pesquisador particular, para uma agenda ambiental que não bastante conceituado, diz ser totalmente contra é a exclusivamente verde (fauna e flora), mas que a municipalização, mas “a favor da gestão diz respeito ao solo e ao sistema hídrico que participativa, e quanto mais ampla melhor, com em- muitos consideram em vias de degradação (cap- presários, ONGs, o que for. Contudo, não é fácil cri-

78 CADERNOS FBDS ar consenso entre grupos tão heterogêneos” incidentes com a causa da conservação e que A gestão participativa exige uma cultura que “muita flutuação de opinião” pode comprometer a não existe nos municípios que não têm sequer preservação do Parque. conselhos municipais de meio ambiente. No fundo, dizem, não há garantias de que Já os empresários avaliam positivamente a os interesses da conservação serão defendidos. iniciativa da gestão participativa, colocando-se Segundo a opinião de dois dos seis funcionários como interessados “desde que o papel das empre- do Parque ouvidos, a efetivação de um conselho sas seja claramente definido”. Acham que um Con- das cidades seria uma “municipalização branca”, selho Consultivo já seria um bom começo e que com todos os riscos de se aumentar a as empresas têm muito a contribuir em termos vulnerabilidade devido às pressões locais. Con- de passar o seu know-how acerca dos processos cordam, no entanto, que é preciso envolver a co- gerenciais. munidade nas coisas da gestão e que o IBAMA As ONGs, como era de se esperar, são fran- não pode ficar isolado. A fala, a seguir camente a favor da gestão participativa, mas se selecionada, espelha bem a concepção que os téc- dividem quanto a quem e como participa: nicos do IBAMA têm sobre como poderia ser a “Aparticipação é necessária... mas como por todo gestão participativa: mundo numa mesma panela? Eu acho que uma as- “Eu acredito em um Conselho Consultivo, onde sociação independente da administração, onde o as pessoas se juntem a nós dando suas opiniões, IBAMA fosse apenas uma das entidades, funciona- vivenciando conosco os problemas do Parque, porque ria melhor...”. nos criticam sem saber das nossas dificuldades, so- Quando citam os atores que deveriam es- mos conhecidos como aqueles que dizem não, não pode tar dentro dos conselhos, associação, ou outro isso, não pode aquilo.” tipo de institucionalização que expresse uma Em muitos trechos das entrevistas dos fun- gestão compartilhada, privilegiam o papel do es- cionários do Parque fica evidente que a partici- tado e das ONGs, mencionando por último o pação é vista como uma participação de segun- setor empresarial: “é, as empresas precisam parti- do piso (através dos projetos, parcerias, cipar”. envolvimento nas ações) mas não como uma par- Os ativistas das ONGs têm uma idéia de ticipação decisória. O mesmo entrevistado da que a gestão participativa deveria ser fortalecida fala acima, detalha aspectos da engenharia do através da delegação (terceirização) de serviços Conselho: e ações de conservação e manutenção do Parque “ Poderiam estar no Conselho representantes dos para as ONGs que já atuam na região: hoteleiros, das ONGs do entorno, o pessoal das se- “porque são as ONGs que conhecem as comu- cretarias municipais e estaduais de meio ambiente, nidades e que nascem da vontade de cidadãos cons- alguns órgãos das comunidades locais como a APM cientes de fazer alguma coisa. No caso do meio ambi- (Associações de Pais e Mestres), as empresas...” ente, todo o pessoal é ambientalista, então está com- Concluindo este tópico, cabe destacar as prometido com a causa da preservação”. visões diferenciadas que os setores têm do que Em algumas das falas, depreende-se que as vem a ser a gestão participativa e do papel que ONGs gostariam de atuar como o braço comu- desempenham nela. No conjunto das entrevis- nitário do IBAMA, notando-se uma grande afi- tas ficou claro que, a despeito da simpatia que a nidade entre o pensamento de seus militantes e tese causa, há muita dúvida de como opera- o dos técnicos e funcionários do Parque. O con- cionalizar uma gestão aberta. Os formatos tidos ceito que as ONGs têm da gestão participativa é como mais viáveis são os de um conselho con- muito mais o de co-gestão. sultivo multissetorial ou, então, através da co- Curiosamente, são os técnicos e funcioná- gestão, por meio de convênios com as ONGs rios do Parque que vêem com mais cautela a idéia existentes. de se implementar uma gestão participativa; de um modo geral concordam que “quanto mais de- mocracia, melhor”, mas atentam para o fato de que muitas pessoas têm comprometimento po- lítico ou defendem interesses nem sempre co-

CADERNOS FBDS 79 7. Principais Problemas do Parque caso, referem-se ao aumento da fiscalização e à e as Ações Estratégicas criação de programas de educação ambiental Recomendadas mais amplos, dirigidos à população adulta e eco- nomicamente ativa.

Questão Fundiária Não Aplicação de Critérios Rígidos para Considerado o principal e mais grave pro- a Instalação de Pousadas e Hotéis blema do Parque. Há que desapropriar 20.000 dos Foi salientado por diversos entrevistados 30.000 hectares que constituem sua área. A ação que as pousadas que estão no interior do parque estratégica recomendada neste caso é a compra “fazem o que querem, lesam o fisco e degradam progressiva e programada das terras para a regu- sobretudo os recursos hídricos.” São acusadas ainda larização. Dois mecanismos foram especialmen- de passar tratores, abrir trilhas clandestinas e in- te mencionados: o do banco de terras ociosas ou terferir com a fauna/flora (iluminação, lixo, es- públicas que possam ser trocadas, a constitui- gotos etc.). ção de um Fundo Intermunicipal e Interinsti- tucional para a desapropriação. Falta de Guias e de Pessoal para Orientar os Turistas e Assegurar Depredação de Instalações e sua Integridade Equipamentos por Visitantes Vários entrevistados afirmaram que uma Uma possível solução para este problema ação estratégica emergencial é renovar todo o seria a terceirização dos serviços de manutenção quadro técnico do Parque e aproveitar ao máxi- que poderiam ficar a cargo das ONGs. Recente- mo, nos serviços necessários (guias, equipes de mente, o Parque recebeu recursos para melhorar resgate, etc.), a mão de obra local, que deve ser sua infra-estrutura em termos de instalações treinada. (elétrica, hidráulica, sanitários, abrigos), mas os problemas de manutenção continuam. Outras Ações Consideradas Estratégicas Foram Listadas Destinação Inadequada do Lixo Implantar sem demora o Conselho Gestor Houve referências sobretudo ao lixo dos vi- Desenvolver um Programa Unificado de sitantes e das pousadas e hotéis. Além de pro- Educação Ambiental (dividindo custos com gramas de educação ambiental direcionados aos os municípios) visitantes-eanecessidade de estruturar um cen- Criar um Centro Turístico tro de informações turísticas com o envol- Promover seminários com os técnicos do vimento dos municípios – mencionou-se a ne- Parque e técnicos das prefeituras cessidade de se colocar em operação um plano Imprimir qualidade ao turismo atual - sem de gerenciamento do lixo com participação da necessariamente incrementá-lo - diminuin- comunidade (serviço voluntário e remunerado). do o potencial degradador do mesmo Intensificar o contato com as prefeituras, Problemas que Afetam a Fauna comunidades e empresas e a Flora Criar sempre que possível programas de Foram especialmente mencionados: a polui- ação intermunicipal (brigadas contra incên- ção industrial causada por Volta Redonda, com dios, por ex.) efeitos já se fazendo sentir na inibição de floradas Assessorar tecnicamente as prefeituras em e no desaparecimento de alguns animais como o assuntos de planejamento territorial e con- sapo (bio-indicador); presença de animais domés- servação ticos como cães e gatos que predam os pequenos Melhorar os meios e os instrumentos de animais do Parque; gado que invade terras e de- comunicação grada os mananciais; extração predatória do pal- Reformar o Museu de Fauna e Flora atra- mito e de madeiras para lenha, móveis, constru- vés de um Programa de Atualização Cientí- ção. As ações estratégicas recomendadas, neste fica

80 CADERNOS FBDS Elaborar material e palestras para o pessoal de Resende com a INB das empresas turísticas. As próprias empre- Horto para Refúgio de Fauna (INB) sas turísticas precisam ser conscientizadas. Jardim Botânico (XEROX) Programa de Coleta Seletiva de Lixo (XE- ROX, programa interno desde 1992) 8. Parcerias e Projetos Já Existentes Programa dos “Três Erres” nas escolas de Itatiaia e Resende (XEROX) Parceria foi um termo recorrente em todas Projeto Mananciais (levantamento sobre o as entrevistas. Todos os setores crêem que ela é índice de poluição dos recursos hídricos lo- a melhor forma de envolver os atores no proces- cais/GEAN) so de gestão e também de resolver o crônico pro- blema da escassez de recursos. Outros Projetos Assim como ocorre na interpretação da ges- Fábrica de Brinquedos (XEROX e Comuni- tão participativa, cada um entende a parceria dade, envolvendo funcionários) numa lógica própria. Transformação de uma Estação de Tremem Para os gestores do Parque, a parceria é so- biblioteca municipal em Engenheiro Passos bretudo financeira e técnica (quem traz recur- (INB) sos financeiros ou know how para o desenvolvi- Projeto de informatização da Rede Escolar mento dos projetos). (Prefeitura de Resende e INB) Para as ONGs, parceria significa convênios Programa Guardas-Mirim e Estágio (crian- que permitam o desenvolvimento de projetos ças e adolescentes carentes) XEROX e Pre- próprios ou elaborados conjuntamente com o feitura de Resende pessoal do Parque, sendo que elas dificilmente têm condições de entrar com recursos próprios. As empresas queixam-se de que parceria 9. Tendências por Segmento para as ONGs e prefeituras significa assinar che- ques e fazer doações. TÉCNICOS DAS EMPRESAS O que se depreende destas posições é que uma cultura da parceria está ainda se desenvol- vendo e que algumas barreiras de concepção e A Gestão Participativa de prática têm que ser superadas. As seis empresas que foram alvo das entre- No conjunto das entrevistas, verificou-se vistas, através de seus gerentes executivos, mos- que a parceria entre os vários setores existe e se traram-se simpáticas ao Parque Nacional e à idéia materializa em importantes projetos na região. de aderir a um processo de gestão participativa. A Damos, a seguir, a lista daqueles que pareceram preocupação geral das empresas é com a descon- mais relevantes pela escala ou pelo tema: tinuidade política e com a falta de credibilidade do IBAMA, que prejudica um programa de gestão com Projetos com Enfoque Ambiental objetivos de médio e longo prazos. Segundo eles, a Terras Altas da Mantiqueira (consórcio disposição das empresas em colaborar com o Par- intermunicipal que visa o desenvolvimen- que aumentaria muito se houvesse uma política to turístico) bem definida onde as empresas entrassem como Minas Joga Limpo (projeto que tem a par- participantes ou patrocinadoras, mas que apresen- ceria técnica da Universidade de Viçosa e tassem resultados visíveis e que pudessem ser ca- que busca assessorar as prefeituras no esta- pitalizados por todas as instituições envolvidas: belecimento de aterros sanitários ”em primeiro lugar é preciso definir uma políti- Montanha Limpa (projeto do PNI com a ca... sem essa definição as empresas não têm interesse. empresa Dupont) O que o Parque quer, com que objetivo e onde quer che- Pesquisa (APROPANI) com apoio da Fun- gar.... em termos práticos, é o seguinte: vamos supor que dação Boticário o Parque defina uma política para os próximos 4 anos, Recomposição da mata ciliar (margens do então no primeiro ano a prioridade seria melhorar o Paraíba) projeto em parceria da Prefeitura atendimento ao público; no segundo ano, o estado de

CADERNOS FBDS 81 conservação geral do Parque; no terceiro a ênfase seria o tanto 1997, quanto 98, não foram bons anos Parque no cenário de desenvolvimento da região, e as- para o setor. sim por diante... aí os projetos teriam que ser coerentes com as prioridades e teriam que ser definidas metas.” Empresas e Meio Ambiente (gerente de uma montadora recém instalada na re- gião) As empresas entrevistadas alegaram não causar dano ambiental à região (embora façam a O tema da gestão participativa não é mais ressalva de que toda atividade econômica causa estranho para uma boa parte delas, uma vez que algum impacto no meio ambiente). A maior parte o processo de formação dos comitês da bacia do delas (4 das 6) têm programas de controle de re- Paraíba do Sul já tem convocado muitas delas a síduos considerados eficientes e algumas, inclu- opinar e a participar ativamente. sive, têm certificados ambientais importantes, como Selo Verde e ISO 14000. A Volkswagen, A Inserção das Empresas por exemplo, recém-instalada (2 anos apenas) fez no Desenvolvimento Local um EIA-RIMA e o distribui a quem quiser, pois pretende manter uma política de transparência. As empresas locais, algumas delas existen- Segundo seu gerente, “a água que jogamos no tes há mais de 25 anos na região, se julgam Paraíba é mais limpa do que a que se encontra lá”. inseridas no desenvolvimento da região e não Algumas das empresas fizeram questão de vêem em princípio restrições em apoiar projetos dizer que as plantas industriais foram fixadas em que visem a melhoria das condições locais ou a “terra arrasada, de pasto”. No caso da INB (em- preservação ambiental. Queixam-se, contudo, de presa que fabrica pastilhas de urânio) o executi- que os pedidos de apoio são para projetos pon- vo entrevistado disse que no início do empreen- tuais, “um varejo de pequenas propostas”. Como dimento, só se detectava a presença de três pás- são vistas por todas as prefeituras como possí- saros (João de Barro, Tico-Tico e Anu) e que ago- veis financiadoras de projetos e atividades, são ra, com o horto que criaram, já catalogou cerca procuradas para tudo, e procuram atender na me- de 70 espécies de aves. dida do possível. Entre esse apoios e doações fo- Entre projetos grandes que estas empresas ram citados: camisas para time de futebol, coro atualmente desenvolvem, ligados ao meio am- para igreja, rede de basquete, patrocínios de even- biente, foram citados o projeto de recomposição tos culturais etc. Afirmam que raramente apare- da mata ciliar (mais de 200 mil mudas planta- cem projetos de maior envergadura “com começo, das) em Resende, em parceria com a prefeitura, meio e fim”. Também alegam que faltam projetos e o desenvolvimento de um jardim botânico e que vinculem os benefícios também à empresa ou de um horto (respectivamente, XEROX e INB). ao consumidor final dos seus produtos. As empresas também alegaram desenvolver Com relação à expansão industrialeàca- projetos internos, como os “três erres - reduzir, pacidade financeira das empresas, há uma visão reutilizar e reciclar”(XEROX e NOVARTIS) e ou- geral de que a região é um polo em expansão e, tros que visam conscientizar os funcionários so- portanto, com alto potencial de desenvolvimen- bretudo em relação à segurança e redução de des- to. No contexto da atual crise brasileira, crêem perdícios. que a região vem apresentando um quadro posi- A Volkswagen fez menção à existência de tivo, pois uma grande parte das empresas ali lo- um grande projeto de recuperação paisagística e calizadas estão expandindo seus investimentos de espécimes que não saiu ainda do papel por ser (caso de 3 das 6 empresas entrevistadas: XEROX, ambicioso e caro. NOVARTIS, INB). Contudo, várias indústrias, sobretudo do setor químico, desativaram unida- A Vocação Turística des “por causa do processo de globalização e porque algumas empresas reduziram custos, deslocando uni- As empresas reconhecem que, ao lado do dades para outros lugares” (ex: CIBA, SANDOZ, potencial industrial, o turismo é a segunda força CYANAMID, SEAGRAMS, SAKURA/KODAK). econômica a ser desenvolvida. Acreditam, con- A Volkswagenreclama que não atingiu ainda sua tudo, que o turismo de “classe média” é o turis- meta de produzir 15.000 veículos por ano e que, mo mais viável para a região, uma vez que a infra-

82 CADERNOS FBDS estrutura ali existente é limitada e os serviços municípios /comunidades e locais. Uma das ainda são prestados por uma rede amadora. Um empresas (a INB) declarou ter interesse específi- turismo elitizado exigiria investimentos muito co nas questões técnico-científicas e que pode- altos, e popular implicaria em turismo predador. ria contribuir para um livro sobre o parque, des- Dão o exemplo de Penedo que está muito degra- de que houvessem outros parceiros. dado e que segundo um dos entrevistados, “tem A maior parte das empresas têm projetos um rio todo contaminado e em breve ficará sem água na área social e afirmam que um requisito im- para beber, tendo que trazê-la dos distritos vizinhos”. portante a ser preenchido por parte de quem as A maior parte de diretores e gerentes co- procura como parceiras, e não como “simples pro- nhecem a região, fazem turismo local e frequen- vedoras de fundos”, é o conhecimento da filosofia tam o Parque. Valorizam a beleza cênica, os re- da empresa e de suas prioridades em termos de cursos naturais e consideram que o fator aplicação de recursos na área social e/ou ambiental foi decisivo para a implantação das ambiental. Acreditam que este conhecimento empresas na região. Sempre que precisam dar um mútuo, das empresas em relação aos possíveis exemplo de baixa qualidade de vida aliada à má parceiros – e isto concerne ao Parque em parti- qualidade ambiental, citam a CSN, exemplo cular – deve ser estreitado e alimentado através emblemático de “uma situação inadmissível nos de um diálogo que precisa começar e ser mais tempos de hoje”. sistemático. Muitos se queixam dizendo que as visitas do pessoal técnico do Parque são raras e Parcerias: “Gato Escaldado que seus gestores devem publicizar suas políti- Tem Medo até de Fotografia d’Água” cas e ações. Entre todas as empresas, a XEROX se des- Em termos das parcerias, têm uma imagem tacou por ser a que patrocina/participa do maior pouco positiva das ONGs, achando que elas se e mais diversificado leque de projetos (atletis- outorgam o papel de protetoras da fauna e da mo, ciclovias, escolas etc.). A XEROX admitiu flora locais, sem contudo deter informações su- que, no momento, está avaliando um projeto “de ficientes para conversar tecnicamente com as em- educação ambiental” proposto pelo Parque. presas. Acham que os ambientalistas da região constituem até um número expressivo em rela- Comunicação ção à população - um deles chegou a mencionar a Ecolista, onde as organizações existentes estão Em quase todas as entrevistas houve men- cadastradas. Porém, crêem que se trata de um ção à pouca publicidade que tanto o polo turísti- trabalho ainda amador, provinciano, e que o di- co da região quanto o Parque fazem e a ausência álogo entre as empresas e ONGs locais é ainda de campanhas que os promovam. Nenhum dos incipiente, marcado pelo preconceito de parte a técnicos ou gerentes das empresas alvo das en- parte. trevistas diz conhecer o site do Parque . Uma me- Com relação às prefeituras, alegam que nor- dida recomendada foi a distribuição de um folder malmente estas não cumprem suas contra- publicizando esta e outras iniciativas. partidas, além das vinculações político-partidá- rias que devem ser evitadas. Por isso, têm simpa- tia por projetos que gozem de alta legitimidade AS ONGS na comunidade e que tenham como executores As ONGs ou gestores dos recursos outros atores além do Há um número expressivo de organizações poder público. ambientalistas não governamentais locais com uma folha de serviços bastante signficativa em termos de contribuições para a preservação Perfil de Projetos ambiental da região. Todos os setores, exceto o Considerados Atraentes empresarial, reconhecem que as ONGs foram, Todosos “ecologicamente corretos”. São es- em grande parte, responsáveis pela mudança de pecialmente atraentes aqueles dirigidos às crian- mentalidade e comportamento que se observa, ças e ao público escolar, mas também aqueles hoje em dia, em relação ao Parque Nacional e às que geram reconhecimento público, junto aos demais áreas protegidas. O trabalho delas é res-

CADERNOS FBDS 83 peitado, seus militantes são pessoas conhecidas interesse em desenvolver projetos em parceria e e bem vistas não só em seus municípios como atuar, inclusive, como co-gestoras ou prestadoras nos vizinhos. de serviço. Elas pensam o seu papel como o de conscien- Numa visão muito próxima à dos próprios tizadoras e agências de promoção do desenvol- técnicos e funcionários do Parque, acreditam que vimento sustentável. É um setor fortemente os interesses da preservação ambiental têm de ancorado em convicções tipo “ser ambientalista é predominar sobre outros. Daí verem com reti- remar contra a maré.” cências programas que pretendem aumentar a De um modo geral, as ONGs entrevistadas visitação turística “sem antes lançar as bases e as desenvolvem projetos pontuais, pequenos e vivem garantias de que a degradação não vai aumentar”. uma crônica falta de recursos. Quando surge al- gum problema emergencial, atuam como uma rede Papel no Desenvolvimento Local solidária, mas normalmente não se associam en- Todosos entrevistados reconhecem a voca- tre si na condução de projetos ou estratégias de ção econômica múltipla da região; mas afirmam intervenção, atuando isoladamente. que há um “cinturão turístico” em torno do Par- Tememque as grandes ONGs mais profissi- que Nacional que deve ser uma das alavancas do onalizadas, localizadas no Rio, São Paulo e Belo “desenvolvimento sustentável” a ser buscado. Horizonte, venham a desenvolver um trabalho Nesta alavanca, se vêem como atores, parceiros na região “ignorando o que já existe aqui, passando e aliados dos setores que desejam promover uma por cima de muito trabalho, suor e luta”. Em tem- marca de “turismo ecológico” para a região: pos de parcerias, e do discurso que o IBAMA faz “O Turismoé uma economia que cresce no mun- sobre a necessidade de uma gestão participativa, do inteiro e o turismo ecológico é o segmento que mais querem garantir seu espaço de trabalho: cresce. Portanto, eu acho que o turismo aqui no en- “As ONGs da região têm um trabalho de cam- torno do Itatiaia deve ser alvo de estratégias privile- po, conhecem o Parque e a comunidade... porque exis- giadas... Eu não tenho dúvida de quem investir na tem ONGs ambientalistas que estão instaladas em qualidade ambiental nesta região vai atrair turistas seu escritórios ou mesmo em uma sala alugada e fi- do mundo inteiro” (dirigente de ONG de Resende). cam ali, fazendo folders, panfletos, procurando pa- trocínio, fazendo trabalhos copiados dos outros ou tra- Identificando Parceiros duzidos. Mas na verdade, não conhecem as trilhas dentro da floresta, então eu faço uma distinção entre Neste projeto de promover o desenvolvi- essas ONGs de gabinete e as ONGs que têm o pé na mento sustentável na região, pensando o Parque floresta” (dirigente de uma ONG local). como um recurso estratégico, as ONGs identifi- No que se refere a estrutura e quadros, cam como parceiros preferenciais o próprio nota-se um desejo de profissionalização que es- IBAMA, as universidades da região, as prefeitu- barra nos recursos insuficientes. Também ocor- ras locais e as empresas, nesta ordem. No leque re que ambientalistas experientes estão sendo das possíveis parcerias, citaram especialmente recrutados pelo poder público local, que nos úl- outras organizações como a EMATER, o timos anos começou a estruturar seus sistemas SEBRAE, a Rede de Hoteleiros, as Agências de de gestão ambiental. Este fato apresenta o lado Turismo. Vêem também com bons olhos parce- positivo da crescente institucionalização da vi- rias com outras ONGs “de fora”. são ambiental na região e o negativo de descapitalizar as ONGs de seus quadros mais ONGs mais conhecidas atuantes. Estas foram as organizações mais citadas pelos entrevistados dos demais segmentos: AsONGseoParque Crescente Fértil - Resende As ONGs se vêem como aliadas e parceiras GEAN - Grupo de Excursionista das Agu- naturais do Parque e de seus funcionários. Essa lhas Negras (existe há mais de 30 anos e au- relação, altamente regida por uma afinidade xilia o Parque em missões de resgate, trei- eletiva, pode oscilar de acordo com o estilo de namento dos guardas etc.) gestão da direção do Parque. Elas têm grande APROPANI

84 CADERNOS FBDS CMCN - Centro Mineiro de Conservação nhecimento suficiente para ancorar um bom pla- da Natureza no de manejo. IDEAS FEDAPAR - Frente de Defesa da APA da Não Há Controle Sobre os Mantiqueira Estudos que São Realizados MOVER (Resende) Eles fazem referência a uma “época de ouro” no passado científico do Parque, quando o Dr. Wanderbilt de Barros foi o diretor e a área funci- Perfil de Projetos Desenvolvidos onava como uma estação avançada do Jardim Bo- por ONGs tânico. A educação ambiental parece ser o nicho Desde então, o Parque registra a presença principal de sua atuação: todas as ONGs entre- de uma grande quantidade de pesquisadores que vistadas desenvolvem projetos de educação não marcaram, contudo, uma linha mais perma- ambiental, principalmente nas escolas. Os de- nente de pesquisa. Fala-se inclusive na falta de mais projetos têm perfil diversificado e não cons- controle que havia até recentemente sobre o nú- tituem propriamente uma linha de trabalho es- mero de pesquisas e que uma parte expressiva pecífica. A seguir damos a lista dos projetos cita- dos estudos está dispersa, pois não foram entre- dos pelas organizações: gues cópias nem para o IBAMA, nem para o Par- pesquisa sobre aves a partir de anilhamento que. Naquele período, “dependia da simpatia do projeto “Gavião”- centro de recuperação de chefe do Parque”, agora, o IBAMA baixou uma série animais silvestres de normas para controlar as iniciativas de pesqui- assessoria técnica às prefeituras (educação sa nas unidades de conservação sob sua guarda. ambiental, destinação do lixo, proteção de mananciais) Falta Infra-estrutura Física promoção dos princípios da Agenda 21 de Apoio à Pesquisa mobilização comunitária para programa de Os pesquisadores se queixam da falta de saneamento com fossas sépticas infra-estrutura e acreditam que, ao invés de não demarcação e limpeza de trilhas permitir que visitantes pernoitem no Parque, de- monitoramento dos recursos hídricos veria haver áreas de acampamento monitoradas. projeto Kilimanjaro sobre duas rodas A existência destas áreas de acampamento faci- manejo de enchentes no rio Campo Belo litaria a vinda de pesquisadores e estudantes das Planejamento Participativo para manejo do universidades. PNI Alguns Estudos em Desenvolvimento

OS PESQUISADORES Em termos de estudos científicos relevan- tes que estão atualmente em desenvolvimento, nossa pesquisa registrou quatro. Pesquisa Insuficiente e Desatualizada O primeiro diz respeito à ocorrência de aci- Os pesquisadores entrevistados são unâni- dez na água e está sendo realizado por pesquisa- mes em concordar ser o conhecimento científi- dor da área de climatologia da UERJ. Foram ins- co sobre o Parque, seja de solo, ar, água, fauna ou taladas duas estações meteorológicas em diferen- flora insuficiente e carecerem, mesmo as áreas tes partes do Parque e coletadas várias amostras razoavelmente cobertas, de estudos mais atua- de água. Sabe-se que aumentou a acidez da água, lizados, porque o instrumental científico evoluiu contudo, não se sabe se é pela proximidade com muito nos últimos anos. a Dutra, se é Volta Redonda ou se já é o aumen- Portanto, um programa mais sistemático e to da poluição em Resende. monitorado de atualização científica seria uma Foi ainda mencionado um estudo das quei- ação estratégica a ser implementada no curto madas e seus efeitos no microclima. Outro pro- prazo. jeto relevante é o que vem sendo desenvolvido Ainda assim, todos concordam que já há co- no âmbito do programa Mata Atlântica (Jardim

CADERNOS FBDS 85 Botânico) que estuda os remanescentes deste financiadoras. Também mencionaram o fato de ecossistema no Estado do Rio de Janeiro. que algumas prefeituras têm recursos para pes- O terceiro projeto faz mapeamento das ro- quisa, mas que o diálogo com as universidades chas e elabora o perfil da sua evolução. ainda é pouco evoluído. O quarto é coordenado por um pesquisa- Declararam-se, no conjunto, simpáticos à dor, antigo funcionário do Parque (aposentado), idéia da gestão participativa. Vêem com bons atualmente vinculado à APROPANI. O projeto olhos o trabalho das ONGs, mas o consideram está estudando o índice de poluição dos manan- “amador” do ponto de vista da geração de dados ciais. de caráter técnico-científico. Pensando projetos em parceria, consideram que as ONGs são fun- É Necessário Controlar Visitantes damentais para mobilizar a comunidade e que elas têm um poder de combate que as universi- Todosos pesquisadores acreditam que se de- dades não têm: veria diminuir - ou controlar com critérios de- “Faz parte da constituição vital destas organi- terminados pelo plano de manejo - a visitação zações esse poder de combate, de trabalhar com pon- ao Parque. Este controle, segundo eles, deveria tos de vista contrários, de agregar pessoas, quebrar o ser mais estrito na parte alta. Eles fazem refe- pau, tomar posição.”(pesquisadora do Jardim Bo- rência à excessiva visitação e à pressão antrópica tânico) exercida por ela, como o acúmulo de lixo, peque- nos focos de fogo e trilhas clandestinas: Comunicação e Educação Ambiental “Acho que não se trata de fechar o Parque, mas a visitação tem que ser controlada, o visitante tem Por fim, três dos seis pesquisadores entre- que ser educado como é feito nos parques do exterior.” vistados disseram conhecer o site do Parque, que (pesquisadora da UFRJ) foi considerado bom. Somente um afirmou ter Dois dos pesquisadores, com posições mais tido problema de acesso. radicais, afirmaram que no curto prazo o Par- Todos enfatizaram o fato de ser necessário que deveria impedir todo acesso às partes altas. incrementar os programas de educação ambi- ental também para a população adulta, sobretu- A Degradação Aumenta do aqueles dirigidos aos visitantes. Segundo os pesquisadores, a degradação do vale do Paraíba tem aumentado muito, apesar OS SECRETÁRIOS E TÉCNICOS da crescente institucionalização do sistema DAS PREFEITURAS ambiental estadual e local. Isto porque a urbani- zação é crescente e todos os municípios desejam Foram entrevistados secretários de turismo ser industrializados. Com a crescente urbaniza- e de meio ambiente, destacando-se o fato de que ção do vale, aumenta a pressão na região serra- esta junção – turismo e meio ambiente – já é na. Uma pesquisadora fez menção à tristeza que observada na maioria dos municípios, sendo uma sentiu quando, na comemoração dos 60 anos do única pessoa a acumular os dois cargos. Os mu- Itatiaia, o prefeito local disse que a presença do nicípios onde atuam estes secretários são aque- Parque impedia o município de se desenvolver. les que já apresentam razoável estrutura em ter- Foi feita menção ainda à pouca efetividade das mos da institucionalização da problemática ações da FEEMA, que vive uma “crise eterna” e ambiental. Deve-se destacar o fato de que a mai- que não consegue ser eficiente. oria dos municípios da região, sobretudo aque- les mais pobres, não dispõe de uma estrutura Parcerias própria para a parte ambiental que muitas vezes Os pesquisadores fizeram referência à difi- é um divisão ou um departamento sem autono- culdade de financiar pesquisa básica e à necessi- mia ou recursos. dade de se criarem fundos semelhantes ao Fun- Nesse sentido, as cidades em torno do Par- do Nacional do Meio Ambiente que, inclusive, que representam uma pequena, mas expressiva, financia um dos projetos mencionados. Fizeram rede de órgãos municipais que podem ser acio- referência às empresas como possíveis nados para apoiar o Parque ou empreender ações

86 CADERNOS FBDS conjuntas. Outro dado a considerar é que a mai- uma forma, um instrumento, que consegue re- or parte dos entrevistados são profissionais jo- gular a ocupação com os objetivos da conserva- vens, e que trazem em suas trajetórias um com- ção ambiental. É importante assinalar que a pre- prometimento anterior com a causa ambiental. sença dessas outras áreas verdes significa que a preocupação dos municípios é mais ampla, as- Moeda de Dois Lados sim como sua responsabilidade ambiental. Por isso, para os secretários entrevistados, A primeira coisa a destacar é que o lado sul- as ações articuladas ou conjuntas com o IBAMA mineiro é bastante diferente do sul-fluminense são necessárias, mas os municípios têm que cui- e esta diferença é percebida por ambos os lados. dar do seu próprio quintal: Esta diferença é estabelecida tanto em re- “Nós temos aqui um local muito freqüentado lação ao potencial econômico, quanto aos assun- para nadar que se chama Capelinha... toda segun- tos que dizem respeito à questão ambiental. da-feira é um caos, apesar dos latões de lixo que colo- Enquanto os secretários do lado sul-mineiro camos, fica tudo no chão. Temosum outro local que se enfatizam o turismo como a grande opção chama Fragária, onde existem trutas selvagens. Pois econômica da região, o sul-fluminense faz ques- bem, temos notícias de que estão pescando até com tão de reafirmar a “vocação múltipla” da mes- dinamite. Não são mais redes, mas dinamites. En- ma, apontando a expansão industrial como um tão, temos nossos problemas para cuidar.” (secretá- vetor que não pode ser ignorado. rio, lado sul-mineiro). O lado sul-mineiro se vê como um conjun- to de municípios que pouco contribui para a de- A presença expressiva de áreas verdes e de gradação do Parque, enxergando no lado sul- áreas protegidas representa um limite claro à fluminense o foco da pressão antrópica “com a atividade econômica, principalmente aquelas urbanização e a industrialização”. Além disso, associadas a uma economia de corte mais tradi- apoiam-se nas estatísticas recém-divulgadas so- cional (poluentes e/ou intensivas no uso de re- bre o desmatamento que vem sendo feito sobre- cursos naturais). Uma maneira de incentivar e, tudo pelo Estado do Rio de Janeiro. ao mesmo tempo, compensar os municípios que Ainda no rol das diferenças apontam que a conservam áreas é através do ICMS-ecológico, região sul-mineira é pontilhada pelos mini- já em vigor em Minas e em estudos no Estado fúndios de produção gado-leiteira decadente e do Rio de Janeiro. que há pouca presença de indústrias. Conside- ram-se também como uma “região pouco visí- O Turismo Seletivo vel”, quase desconhecida das populações do Rio e de São Paulo. Esse desconhecimento, no mo- É consenso entre os entrevistados que o tu- mento atual, é visto como uma vantagem com- rismo a ser praticado nos municípios do entor- parativa, pois permitiu que os seus tesouros eco- no deve ser seletivo e não de massa. Esta opinião lógicos ficassem salvaguardados da primeira onda é baseada na experiência, na degradação obser- de turismo predador. Por fim, o lado sul-mineiro vada em regiões como a de S. Tomé das Letras enfatiza o sentimento de pouco pertencimento (no lado mineiro) e em Penedo e Visconde de que os municípios têm no que se refere à esfera Mauá (lado fluminense). Água pura, mais de 25 de influência do Parque Nacional do Itatiaia, sa- cachoeiras (só no lado mineiro), clima tempera- lientando que a população conhece muito pou- do, tudo isto é visto como capital a ser explora- co o PNI. do dentro de parâmetros sustentáveis. Foram apontados, como problemas a serem superados para o incremento turístico, a melhoria das es- Tudo é Área Protegida tradas, ampliação da infra-estrtura turística, cam- A maior parte dos municípios do entorno panhas de divulgação e o desenvolvimento de do Parque, considerados os dois lados, é consti- “um conceito sobre o nosso (da região) turismo”: tuída por áreas protegidas. Isto quer dizer que “Estamos evoluindo do conceito de turismo ru- não é só o Parque Nacional, mas os parques esta- ral, para o turismo ecológico, que é bastante diferen- duais, os municipais e as APAS (Áreas de Proteção te. O primeiro atraía qualquer morador urbano, o Ambiental) que estão se multiplicando como segundo atrai um turista mais informado’’ (secretá-

CADERNOS FBDS 87 rio, município sul-fluminense) formas de gestão compartilhada. A noção de que o turismo é uma economia Todos os secretários consideram que as re- a ser fortalecida já é bastante difundida entre os lações atuais com o IBAMA são cordiais, mas a prefeitos e todo projeto que seja proposto nesta parceria não existe. Nenhum deles declarou es- área é bem recebido. tar desenvolvendo algum projeto com o PNI, ou ter cedido técnicos ou equipamentos para o mes- As Parcerias mo. Com exceção do Município de Itatiaia que afirma alocar recursos financeiros no PNI, os de- Há uma abertura para o trabalho com mais não o fazem: quer se queira, quer não “o ONGs, com Universidades e empresas. Parque é um problema do IBAMA”. As parcerias com ONGs são valorizadas, embora haja uma opinião geral de que elas ain- da são poucas e com estrutura bastante amadora; OS FUNCIONÁRIOS (GESTORES) frases como “Às vezes é mais fácil fazer convê- nio com uma ONG de fora”, “elas estão sempre Foram entrevistados o atual chefe do Par- às voltas com a sua sobrevivência”, “elas têm uma que, o seu eventual substituto e também diretor atuação muito ideológica”, pontuam o discurso administrativo, e quatro pessoas diretamente en- dos secretários. Um deles chamou atenção para volvidas com as atividades técnico-científicas ali o fato de que o “boom” e a novidade representada desenvolvidas. pelas ONGs, nos anos 80 e 90, não existe mais. Além das questões relativas ao relaciona- Muitos ativistas se profissionalizaram e, inclu- mento do Parque com as comunidades, empre- sive, se tornaram quadros do Estado: “a questão sas, ONGs e prefeituras do entorno, foram dis- ambiental se tornou por um lado mais técnica e cutidas questões internas do PNI e do IBAMA. de outro, mais difusa”. Os tópicos que se seguem procuram dar conta, A parceria mais valorizada é com outros primeiro, destas questões mais internas. municípios “por que é um salto na escala e é sinérgico do ponto de vista quer ambiental, quer Desconhecimento da Região político”. O exemplo mais destacado pelos se- e do Modelo de Gestão cretários dessa possibilidade de parceria entre os municípios foi o projeto “Terras Altas da Ficou evidenciado, no conjunto de entrevis- Mantiqueira”, voltado para o desenvolvimento tas com os funcionários, que a maioria atua há turístico de sete cidades consorciadas e já men- menos de 5 anos na região, declarando conhecê- cionado em outra parte deste Relatório. Segun- la pouco. De acordo com estes funcionários, não do os secretários, outro projeto que vai na mes- há um programa nem anterior nem durante sua ma direção é o “Minas Joga Limpo” que enfren- atuação, no sentido de capacitá-los com infor- ta o maior problema dos municípios ricos ou po- mações relevantes sobre a região, nem uma apro- bres – o saneamento básico (água tratada, esgo- ximação maior com as comunidades ou o poder to e lixo). Projetos com base em consórcios mu- local. Os salários são baixos e tudo é feito segun- nicipais praticamente não existem no lado sul- do a motivação de cada um – não há incentivos fluminense. para aqueles que se dedicam ou se aperfeiçoam: “Uma pessoa que procura estudar, se capacitar, Participação é Desejada é tratada igualmente àquela que nada faz, que é aco- Todos os secretários ouvidos são simpáti- modada. Não tem avaliação de desempenho, nem trei- cos à idéia da gestão participativa. Dois dos se- namentos regulares, nem plano de carreira.” (biólo- cretários ouvidos ,no entanto, levantaram a ques- go, funcionário) tão da co-gestão. Para dois deles, um Conselho das A maioria não conhece o Plano de Manejo Cidades poderia ser uma forma interessante de co- (elaborado ainda na década passada e considerado gerir o PNI – os municípios com o IBAMA – sem “caduco”), nem o Plano Emergencial que o Parque prevalecer o interesse de qualquer das partes. vem implementando há dois anos. Esse desconhe- De um modo geral, a iniciativa de Itatiaia, cimento leva os funcionários a declarar que não de municipalizar o Parque, não é bem vista pe- sabem “qual é o modelo de gestão em vigor” e que los demais secretários. Eles preferem apostar em tudo o que sabem é que há um chefe do Parque e

88 CADERNOS FBDS que este, por sua vez, tem outro chefe em Brasília, Outra maneira de angariar mais recursos e que tudo o que o PNI faz tem que estar de acor- seria através de parcerias com empresas e ONGs. do com as orientações do IBAMA. Foi destacado o bem sucedido projeto “Monta- Em relação a essa hierarquia “vertical e nha Limpa” com a Dupont que tem efetiva- centralizadora”, vigora um sentimento negativo mente melhorado a coleta e a destinação do lixo de apartamento do processo decisório e um des- no Parque. Foi destacada, ainda, a tese de que o contentamento geral sobre como são feitos os PNI deve estabelecer relações de parceria, prefe- gastos e definidas as prioridades. rencialmente, com organizações que tenham ca- pacidade de trazer ou “casar fundos” (match Falta de Funcionários funds), pois, do contrário, é simples terceirização.

Reduzidos a 30 servidores, quando no pas- Treinamentos Militares são sado já foram mais de uma centena, os funcio- Incompatíveis com a Área nários se sentem impotentes e desmotivados. Não têm como controlar a visitação e nem coi- Discutindo a pressão antrópica sobre o PNI, bir a ação dos palmiteiros e dos capturadores de os funcionários são unânimes em identificar a animais silvestres. Uma solução paliativa para a regularização fundiária como o principal proble- falta crônica de funcionários é a terceirização e a ma. À semelhança dos demais setores, a polui- parceria com ONGs. Um funcionário destacou, ção hídrica, o lixo e o retalhamento das glebas no entanto, que “certas funções, que dizem res- para loteamento no entorno também foram peito à ação exclusiva do Estado, não são apontados. Fora estas, as questões mais terceirizáveis”. Uma destas funções, por exem- enfatizadas foram: a) a pressão exercida pelos plo, é o poder de polícia que o IBAMA exerce na visitantes na parte sul do PNI e a decisão vital região. Segundo eles, a terceirização é um dos de não expandi-la sem um bom estudo sobre a instrumentos; não deve se sobrepor à necessida- capacidade de carga (carrying capacity); b) os in- de de concurso público para novos funcionários cêndios, devido sobretudo ao pastoreio na parte e de capacitação. norte do Parque; c) a presença dos militares que, em manobras de exercícios, entram com cami- nhões, soldados, usam os abrigos, pisoteiam a Falta o Mínimo, Falta o Básico vegetação e abrem trilhas predadoras. É a opinião geral dos funcionários. Consi- Sobre este último problema, os funcionári- deradas modestas e insuficientes, as estratégias os acreditam que deveria haver uma ação espe- apontadas pelos funcionários, para corrigir esta cífica e que o primeiro passo seria envolver esses situação de poucos recursos, é a criação de um militares com o PNI, no Conselho Consultivo e dispositivo legal que permita aos Parques ficar nas brigadas contra incêndio, e quem sabe em com parte da arrecadação – hoje o IBAMA tem ações específicas de fiscalização. um caixa único e a receita deve ser remetida à Há unanimidade na opinião de que os exer- Brasília. Outra estratégia é a melhoria da arreca- cícios nos moldes em que são realizados dação, e aí o alvo não deve ser somente o visi- atualmente não são compatíveis com os tante, tem que haver uma política para arreca- objetivos da conservação ambiental e do desen- dar das prefeituras e da rede hoteleira: volvimento sustentável. “Essa questão dos hotéis dentro e no entorno do Parque, existe uma corrente que acha que eles não deve- O PNI e as Prefeituras riam estar localizados ali. Sob o ponto de vista da con- servação e do desenvolvimento sustentável, eles estão Os funcionários acreditam que uma proxi- ali e devem ficar, contudo é preciso estabelecer uma par- midade maior com as prefeituras poderia ser ceria maior com o PNI. O Parque é o cartão de visita conseguida, e que sem dúvida uma maneira de dos hotéis, essa rede usufrui de todas as belezas natu- envolver as prefeituras é através da sua inserção rais dele, as propagandas que usam tem o Parque como no Conselho Consultivo. Entre as dificuldades centro. E mais, usam a segurança do Parque, e sua infra- para um entrosamento maior estão a falta de pro- estrutura, então eu acho que a contrapartida desta rede gramas direcionados e as questões político-par- hoteleira poderia ser maior.” (biólogo, funcionário) tidárias que dividem os municípios. Foi aponta-

CADERNOS FBDS 89 do, inclusive, que o fato de o atual chefe do PNI 10. Conclusões do Estudo ser também secretário de um dos partidos polí- ticos importantes da região dificulta muito a sua A sondagem realizada junto às lideranças legitimidade diante das prefeituras que têm ou- mostrou-se rica na coleta dos elementos que le- tros partidos no poder. Para os técnicos consul- varam à FBDS demandar o estudo. tados, a ação ambiental exige uma abordagem Ela permite verificar as especificidades dos sistêmica e integrada, “não dá para um municí- municípios que têm áreas limítrofes ao PNI, e pio cuidar direito do seu ambiente e o vizinho, das regiões sul-mineira e sul-fluminense que os não”. A ação estratégica, neste caso, seria o PNI compreendem. atuar como uma assessoria técnica aos municí- Fornece o elenco dos principais problemas pios pobres, ajudando na elaboração do Plano ambientais do PNI e as estratégias sugeridas pe- Diretor. Outra vertente a ser explorada é a ela- los diversos atores ouvidos para enfrentá-los. boração de projetos intermunicipais mais arti- Permite ainda verificar que o Parque ocupa culados, com estratégias de tangenciamento da um lugar central ou de destaque na maioria das problemática político-partidária. políticas de desenvolvimento sustentável que os mesmos vêm formulando, especialmente aque- A Gestão Participativa e las que tomam por base o turismo ecológico. as Incertezas do Futuro Revela, porém, que o PNI precisa melhorar a di- Como já mencionado em outras partes des- vulgação em torno de seus objetivos e atividades. te Relatório, a gestão participativa para os fun- Mostra que há um terreno fértil para par- cionários do Parque é uma coisa desejada e cerias e que a gestão participativa é bem consi- receada. Acreditam que o Conselho Consultivo, derada por todos, cabendo no entanto ao IBAMA já previsto em portaria, deveria ser implemen- tomar as iniciativas devidas para que tanto uma, tado e servir como “teste”. quanto outra possam se efetivar. O formato que A visão predominante é que deve ser uma essa gestão deve ter é controverso, por isso a sua participação ampla, em termos dos setores que implementação deve ser precedida de uma deve incorporar, mas limitada em termos dos consertação maior entre os diversos setores que poderes que deve exercer. Melhorar a gestão é o opinaram. ideal de todos. Há, contudo, muita incerteza so- Demonstra que a possibilidade de as em- bre a transformação do IBAMA em agência exe- presas atuarem com mais efetividade no campo cutiva e as consequências da reforma em curso ambiental e de apoiar projetos no PNI é real e sobre o sistema das unidades de conservação e estratégias neste sentido têm grande chance de sobre as formas de gestão. O depoimento seguin- ser bem-sucedidas. te espelha o estado de espírito dos funcionários Indica que as ONGs se propõem a desen- e gestores do PNI, quanto a este aspecto: volver atividades no PNI, seja por meio de “A criação do IBAMA representou um avanço terceirização, seja por meio de parcerias. Indica para a conservação ambiental no Brasil, mas logo o também que o preconceito contra empresas (ide- sistema foi mostrando seus defeitos e a necessidade ológico) e “as ONGs de fora” (reserva de merca- de reforma ninguém discute. Agora, há um desgaste, do), que as mesmas demonstram, deve ser supe- pois a reforma não sai, e sempre há boatos de que o rado com estratégias agregadoras. IBAMA será extinto e que coisa vai mudar, mas o Finalmente, foi detectado que já existe um rumo ninguém sabe. Então, fica difícil conseguir amplo leque de iniciativas e de projetos que le- credibilidade para ações de médio e longo prazos.” vam em conta os problemas ambientais básicos (engenheiro florestal, funcionário). dos municípios e do Parque, e que é preciso es- tar atento para os possíveis elos e desdobramen- tos, considerando tanto a experiência acumula- da como as oportunidades sinérgicas nos pro- cessos já em curso.

90 CADERNOS FBDS Um dos abrigos disponíveis para excursionistas. (foto: Teresa Cristina Magro)

CADERNOS FBDS 91 Alpinistas na base do ...... (foto: Teresa Cristina Magro)

92 CADERNOS FBDS Uso Público no Parque Nacional do Itatiaia PARTE I: CARACTERIZAÇÃO DO USO PÚBLICO

Teresa Cristina Magro (1) Valéria M. Freixêdas Vieira (2)

Identificação das características dos locais turísticos do PNI e seus fatores limitantes para determinados usos em diferentes épo- cas do ano; Medição do uso recreacional existente nes- tes locais; 1. Introdução Avaliação do impacto ambiental e social destas atividades através de revisão biblio- gráfica de impactos em locais semelhantes, de levantamentos de campo e de entrevis- s termos uso público e recreação, O tas sobre a percepção dos visitantes; “quando relacionados às áreas naturais, são uti- Estabelecimento de uma normalização de lizados para definir o uso e as atividades desen- atividades para cada uma das áreas do PNI; volvidas nestes locais. A recreação consiste em Estabelecimento de um plano de atividades de diversão praticadas durante o tem- monitoramento de indicadores de impacto po livreeéotermoadotado na linguagem técni- biofísicos e sociais. Este estudo teve como ca internacional por especialistas. Uso público é propósito a identificação das atividades re- o termo adotado por órgãos oficiais ligados ao alizadas no PNI e das condições das estru- manejo de áreas naturais protegidas no Brasil, turas disponíveis para a visitação. definido como a utilização destes locais realiza- da por recreacionistas, educadores ou pesquisa- Na Parte I deste estudo, são apresentadas dores (Magro,1999). informações sobre os trabalhos referentes ao O estudo sobre o uso público buscou defi- tema de uso público, realizados anteriormente nir o quadro atual da utilização do PNI e estabe- no Parque. Na Parte II, são apresentados os re- lecer propostas de manejo e monitoramento das sultados das coletas sistemáticas de dados atividades de uso, sempre tendo como pano de efetuadas durante o projeto (1998/99), em for- fundo o Plano de Manejo e o Plano de Ação ma de tabelas, acompanhados de uma breve ex- Emergencial, estabelecidos pelo IBAMA. Especi- plicação e discussão dos valores obtidos. ficamente o estudo sobre o uso público no PNI O Plano de Monitoramento do Uso Públi- abordou: co proposto encontra-se no final deste volume Mapeamento das atividades de uso público (Considerações Finais), contribuindo para que o existentes no PNI e suas características; Parque tenha instrumentos que permitam avali-

(1) Departamento de Ciências Florestais - ESAL/USP (2) Departamento de Ciências Florestais - ESAL/USP

CADERNOS FBDS 93 ar o cumprimento de seus objetivos de conser- Capacitação de funcionários do PNI sobre o Mé- vação e de atendimento do público visitante. todo VIM – Visitor Impact Management, para co- A seguir são relacionada as atividades reali- leta e análise de dados sobre impactos, outubro/ zadas durante o desenvolvimento do trabalho, 99 envolvendo a coleta de dados e a divulgação do projeto: Metodologia Utilizada Atualização das proposições do Plano de Coleta de Dados Manejo e do Plano de Ação Emergencial. O Plano de Ação Emergencial (IBAMA, Quatro viagens de campo (abril, julho e se- 1994) avalia todas as proposições elaboradas pelo tembro/98, fevereiro/99) Plano de Manejo, sob o aspecto de sua imple- Consultas na biblioteca do Parque mentação, e faz, em função desta análise, uma Consultas na administração e fiscalização série de novas proposições que serão realizadas Avaliação de hotéis e moradias dentro de um determinado período. Estas duas Avaliações das áreas de camping no verão e séries de proposições passaram por uma revisão no inverno atualizada do que foi implementado, com o in- Envio de questionários para entidades, vi- tuito de localizar possíveis entraves ao cumpri- sando o mapeamento de atividades mento dos referidos planos e fornecer subsídios Análises de potabilidade de água – julho/98 para o manejo do uso público e para o plano de e fevereiro/99 co-gestão do Parque. Avaliação biofísica e social das trilhas Aplicação de questionários aos visitantes Mapeamento das Atividades Entrevista com Elio Golvea – APROPANI Desenvolvidas no PNI (Associação Pró-Parque Nacional do Itatiaia) Entrevistas com funcionários do Parque Para mapear todas as atividades desenvol- Observações nas portarias vidas no PNI, além das observações de campo e Revisão bibliográfica entrevistas com visitantes e funcionários do Par- que, outras fontes de dados foram consultadas para obtenção de contatos com agências, opera- Divulgação do Projeto doras e guias de turismo, ONG’s, hotéis e outras instituições, prioritariamente dos estados de Apresentação da proposta de trabalho para Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Uma funcionários do Parque, julho/98 breve explicação do projeto e seus objetivos fo- Apresentação da proposta de trabalho para ram enviados via e-mail, fax e correio, pedindo entidades da região, julho/98 que nos contactassem caso desenvolvessem ati- Apresentação de resultados preliminares vidades na área. Para as respostas positivas fo- para funcionários do Parque, julho/98 ram enviados questionários para caracterização Publicação de artigo sobre o trabalho, no destas atividades. Uma listagem desses conta- boletim do GEAN, agosto/98 tos é apresentada para que o Parque possa, ao Relatório parcial enviado para FBDS e PNI, longo do tempo, desenvolver relações cooperati- outubro/98 vas no planejamento e oferecimento de ativida- Workshop de Planejamento da Gestão des e serviços ao público visitante. Participativa: Estudos de Caso PARNA do Itatiaia e PARNA da Tijuca – Apresentação Método de Avaliação do de resultados preliminares, outubro/98 Impacto da Visitação Seminário de Ecoturismo da Região das Agulhas Negras – Apresentação da Dentre os métodos existentes para estudo metodologia de trabalho, junho/99 e avaliação dos impactos provenientes do uso Apresentação de resultados e relatório final público em áreas naturais, optou-se dentro des- enviado para FBDS e PNI, setembro/99 te trabalho pelo método Vim - Visitor Impact Apresentação de resultados finais para fun- Management (Manejo do Impacto da Visitação), cionários e entidades da região, outubro/99 devido a sua objetividade no levantamento de

94 CADERNOS FBDS informações para a escolha de indicadores de Plano de Monitoramento para todos os indica- impacto e para estabelecimento de um progra- dores está sendo apresentado para que o Parque ma de monitoramento. Um outro fator para a possa acompanhar a eficácia da implantação des- escolha deste método é o embasamento científi- sas estratégias ao longo do tempo. co sobre o qual foi elaborado e a importância do relacionamento, em todas as etapas do proces- Proposições so, com a administração do Parque onde o estu- Diversas das sugestões que são apresenta- do foi desenvolvido, pois, sem este relacionamen- das ao longo do relatório estão reunidas no Item to, as sugestões de manejo selecionadas não po- Considerações Finais, onde se percebe que mui- deriam ser implementadas. tas das estratégias de manejo selecionadas po- derão ser implementadas com o pessoal já exis- Identificação dos Objetivos de tente no Parque, como é o caso de uma melhor Manejo e Seleção de Indicadores organização do fluxo de circulação nas portarias de Impacto do PNI. No entanto, uma grande parte das reco- Com base na análise de documentos ofici- mendações somente poderá ser implementada ais como o Plano de Manejo do PNI (IBDF,1982), com a contratação de mais funcionários ou mão- o Plano de Ação Emergencial para o PNI (IBAMA, de-obra temporária e com o auxílio de volun- 1994) e os relatórios anuais administrativos re- tariado. ferentes ao período de 1937 a 1983, foi feita uma As principais sugestões referem-se a: ações revisão dos objetivos de manejo do PNI. Em fun- prioritárias de manejo, concessão de uso, traba- ção desses objetivos e de outras informações dis- lho voluntário e estágios, distribuição e venda poníveis, foram selecionados indicadores de im- de material sobre o Parque, lotação, lixo, cadas- pacto para a realização das avaliações. tros de usuários, pesquisas, qualidade da água, sinalização, informações ao usuário, visitação de Avaliação dos Indicadores estrangeiros, orientação dos visitantes quanto a e Localização dos Impactos no PNI impactos, segurança, campings, infra-estrutura, fiscalização e trilhas. Para avaliar os indicadores de impacto sele- Este trabalho não propõe novas áreas de uso cionados, foram realizados levantamentos público para o Parque Nacional do Itatiaia, uma biofísicos e sociais em todas as trilhas e locais de vez que o documento oficial que define onde as visitação do PNI. Os levantamentos biofísicos atividades devem ser realizadas é o Plano de envolveram avaliação das trilhas, das moradias Manejo. e estruturas do PNI, das áreas utilizadas para camping e da qualidade da água. As avaliações sociais abrangeram questionários sobre a percep- ção dos visitantes, quantificação do número de 2. Descrição do PNI de Acordo com usuários nas trilhas, por horário, e seu compor- Aspectos do Uso Público tamento. Entrevistas com funcionários do Par- que e observações nas portarias fizeram parte da Ações já Realizadas no PNI coleta de dados. Todos os dados obtidos nos le- Quanto ao Uso Público vantamentos foram comparados com padrões es- Os recursos naturais do Parque Nacional do tabelecidos como condições aceitáveis. Os índi- Itatiaia sempre foram reconhecidos como poten- ces que ultrapassaram os padrões foram consi- ciais para o desenvolvimento de atividades de uso derados como impactos existentes nestes locais. público. Isto fica evidente por ocasião da elabo- ração do Plano de Manejo do Parque, publicado Causas dos Impactos, Estratégias em 1982: “no PNI encontram-se protegidas vári- de Redução e Monitoramento as nascentes formadoras dos rios Aiuruoca, Gran- Uma vez localizados os impactos, buscou- de, Preto, Marimbondo, Pirapetinga, Lambari e se averiguar os fatores de causa desses proble- Portinho. A geologia e tectônica do Itatiaia re- mas, para selecionarem-se estratégias de mane- presentam importante patrimônio a ser interpre- jo mais adequadas para sua minimização. Um tado. Por seu clima, relevo e beleza naturais, apre-

CADERNOS FBDS 95 senta excelente potencial para atividades volta- O surgimento do Turismo na Região das para o público, como montanhismo, inter- Serrano (1993) faz uma ampla revisão de pretação, recreação e educação ambiental” (IBDF, documentos históricos em busca dos motivos 1982). que suscitaram a criação do Parque Nacional do O Plano de Ação Emergencial do PNI Itatiaia. Segundo a autora, foi criada, nas áreas (IBAMA,1994) reafirma o valor do Parque pelo dos ex-núcleos coloniais, uma Reserva Florestal seu patrimônio paisagístico. Destacam-se os pi- em 1914 e, depois, uma Estação Biológica em cos e as nascentes de rios, a exuberância da fauna 1927 – ambas subordinadas ao Jardim Botânico e flora, além dos vales e encostas, piscinas natu- do Rio de Janeiro – e finalmente o Parque Nacio- rais e cachoeiras. A região do planalto se destaca nal, em 1937. É da confusão gerada desde a ne- principalmente pela paisagem relacionada ao gociação de compra das fazendas, passando pela maciço das Agulhas Negras e à vegetação de cam- reintegração dos lotes à União, que surgiram os pos de altitude. problemas fundiários enfrentados até hoje pelo As atividades e atrações do Parque descri- Parque Nacional. tas no Plano de Manejo, publicado em 1982, per- O resultado mais marcante da presença de manecem as mesmas permitidas atualmente ao colonos na região, de origem predominantemen- uso público, com exceção das travessias do pla- te alemã, austríaca e suíça, foi o início da ativi- nalto. Outra mudança refere-se aos abrigos dis- dade turística enquanto empreendimento, pois poníveis, que ficaram reduzidos a dois, Abrigo 3 algumas famílias passaram a alugar quartos para e Abrigo Rebouças. viajantes – que já naquele momento procuravam Muitas das atividades citadas em documen- os ‘alpes brasileiros’ – uma vez que estavam ob- tos não oficiais não são permitidas dentro da área tendo pouco ou nenhum lucro com o trabalho de um Parque nacional. Um exemplo pode ser na terra. Esse tipo de negócio evoluiu para a ins- encontrado no jornal O Correio do Picu: “Os talação de pousadas, algumas destas tendo se amantes do denominado bike tour de Itamonte transformado em hotéis que funcionam até hoje. são jovens que se reúnem nos finais de semana Sobre o histórico da situação fundiária, o para subir até o pico das Agulhas Negras numa Plano de Manejo (IBDF,1982) também comenta demonstração de coragem, paciência e, sobretu- que as áreas que não foram adquiridas pelo Po- do, resistência” (Fonseca,1995). Outro exemplo der Público e que compunham os lotes do ex- pode ser encontrado no site www.lsi.usp.br/ núcleo colonial do Itatiaia, transformaram-se em econet/ambienbr/prjita, onde são comentadas as sítios de lazer (250.000 m2/lote), com pequena possibilidades do PNI: “a região como um todo ocupação quanto a benfeitorias, restando exten- se presta ao desenvolvimento do lazer e do tu- rismo de mínimo impacto sobre a natureza. Atu- sas áreas que vem se regenerando, formando hoje almente o Parque é visitado por cerca de 100 mil grandes capoeirões. Outros lotes foram quase pessoas ao ano, em geral nos meses de julho, ja- totalmente subdivididos, restando pouco de co- neiro, fevereiro e abril, que no Brasil bertura florestal e outros, ainda, foram transfor- correspondem a períodos de férias escolares, fi- mados em hotéis. nais de semana e feriados. Possuidora de vasta De acordo com o mesmo documento, na rede hoteleira de excelente nível, a região recebe área do Núcleo Colonial estava localizada a mai- grande quantidade de visitantes, faltando ape- or parte do patrimônio imobiliário do PNI, cor- nas a correspondente adequação da infra-estru- respondente à infra-estrutura de apoio ao visi- tura do Parque para acolhê-los. O local é tam- tante, que era composta de 9 casas de moradia bém de grande atrativo para os praticantes dos de funcionários, 9 casas de hospedagem, três esportes de aventura, como o excursionismo, tra- abrigos coletivos, oficina mecânica, marcenaria, dicional na região, que conta com centenas de Posto 1, Posto 2, prédio onde funcionou uma es- trilhas. Escalada em rocha, ciclismo de monta- cola, sede, almoxarifado, vestiários do lago Azul, nha, descida de corredeiras em botes, canyoning estufa para cultivo de plantas e um galpão junto e vôo livre são constantemente praticados por à área residencial. Além dos prédios, o Parque seus frequentadores” (Dupont, s/d). contava, na época, com duas áreas de camping, uma junto à área residencial e a outra no Planal-

96 CADERNOS FBDS to, junto ao abrigo Rebouças. ra na área, visto o fracasso da colonização. O O Plano de Ação Emergencial, elaborado em bangalô de madeira, a 1.260 m de altitude, nas 1994 sobre este assunto, afirma que, na área do Macieiras, foi mais um ponto de parada para os antigo Núcleo Colonial de Itatiaia, cerca de 700 ha excursionistas (Serrano, 1993). pertencem a particulares e incluem vários sítios A mesma autora afirma que, entre 1925 e de veraneio e cinco hotéis. Na porção anexada 1947, cerca de 2.700 pessoas assinaram um livro ao Parque em 1982 existem, integral ou parcial- de registro, mas não é possível afirmar que este mente, várias fazendas onde se pratica a número reflita a realidade da frequência do pla- agropecuária. Esta área inclui, ainda, o povoado nalto. Deste total, ela verificou a origem ou na- de Vargem Grande e dois hotéis, um deles situa- cionalidade de 50% e a ocupação de 80% deles1 . do na estrada de acesso à região de Agulhas Ne- Este número de visitantes no planalto foi consi- gras, distando 2 km do Posto 3; e o outro, na derado expressivo em relação ao turismo do país estrada para Vargem Grande. O plano relata, ain- na época, e as próprias inscrições nos livros fa- da, práticas de acampamento primitivo às mar- zem referência à popularidade do Itatiaia. Este gens da estrada de acesso ao Posto 3, no local movimento começa a instituir não apenas uma denominado Brejo da Lapa (km 8) e nas proxi- rotina montanhista, mas colocá-lo como um lu- midades do Hotel Alsene (km 11), sendo que gar clássico deste tipo de atividade no Brasil pois, nesta última área os campistas podem utilizar a nas décadas de 10 e 20, os registros apontam uma infra-estrutura do hotel (IBAMA, 1994). prática quase profissional de escalada. Já no iní- SERRANO (1993) afirma que no PNI - ape- cio da década de 30, a busca do Itatiaia por ama- sar de se situar no caminho das minas de ouro, dores e o crescimento da atividade excursionista entre o Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais; entre brasileiros crescem: as visitas são cada vez de estar no horizonte visual da cidade de Resende mais frequentes e com grupos cada vez maiores. (RJ); e da relativa facilidade de acesso à região, Um destes grupos foi o Centro Excursionista depois da chegada da estrada de ferro D. Pedro Brasileiro, do Rio de Janeiro, criado em 1919, ati- II, na década de 70 do sec. XIX - foi somente nas vo não apenas na promoção de viagens, mas tam- primeiras décadas do nosso século que a visitação bém na criação de condições para o acesso de se fez notar de modo expressivo no Itatiaia. outros visitantes menos especializados. Segundo a autora, a visitação nessa época, No ano de 1982, quando da elaboração do ou ao menos seus registros, é esporádica, partin- Plano de Manejo, foi constatado que o PNI era pro- do principalmente de naturalistas ou membros curado por um número razoável de visitantes, pro- da elite com uma preocupação marcadamente venientes principalmente do Rio e de São Paulo. O científica. Na primeira década do sec. XX, um número de visitantes vindos das cidades próximas, novo tipo de rotina começa a se estabelecer no como Resende, Barra Mansa e Volta Redonda vi- planalto, favorecido pela recolonização da área nham aumentando em relação a anos anteriores. com a chegada dos imigrantes aos núcleos colo- A afluência dos visitantes se mostrava sempre niais, pela maior divulgação de informações so- maior nos fins de semana, feriados e férias escola- bre a área e pelo surgimento de uma demanda res. Os locais mais visitados eram o Último Adeus, de lazer nos centros urbanos, em especial no Rio lago Azul, museu, ponte da Maromba e Véu da de Janeiro e em São Paulo. Noiva. Outro local de grande afluência do público Influenciado por esta nova demanda, no ano era a região do planalto, principalmente por de 1926 é construído um outro abrigo, a meio montanhistas que procuravam mais pelas Agulhas caminho entre Mont Serrat e o planalto, junto a Negras, Prateleiras, pedra do Altar, pedras da Maçã um pomar de macieiras e pereiras que Mauá e Tartaruga e Asa do Hermes. Em menor número mandara plantar no final do sec. XIX - talvez a eram os grupos que faziam as travessias Rebouças- única experiência bem sucedida com fruticultu- Mauá, Rebouças-Sede e a caminhada aos Três Pi-

1 Verifica-se uma maioria expressiva de alemães (432), seguida de longe por ingleses (72), norte americanos (61), finlandeses (60), suíços (56), italianos (49), austríacos (47), franceses (39), dinamarqueses (38), poloneses (14) tchecoslovacos e húngaros (11). Outras nacionalidades não ultrapassam uma dezena de visitantes e o número de brasileiros foi de 373. Proporci- onalmente a maior visitação no período foi de estrangeiros, mais de 70% do total. Quanto à ocupação: comerciantes ou funcionários do comércio (533), estudantes e escoteiros (362), bancários (227), profissionais liberais (170), engenheiros (160), professores (121), agricultores (104), funcionários públicos (97), artesãos e trabalhadores urbanos (70), militares (50), artistas (30), diplomatas e funcionários de representações estrangeiras (31), burocratas (28), industriais (14), naturalistas (21), religiosos (17), fazendeiros (15), jornalistas (13), guias (12), aviadores (6) e fotógrafos (2) (SERRANO, 1993).

CADERNOS FBDS 97 cos. Outras trilhas citadas são: Trilha do Rio do nuiu tanto que, hoje, existem apenas 33 funcio- Ouro, Maromba-Morro Cavado e Mauá-Vargem nários para cuidar de 30.000 ha, sendo em sua Grande. Segundo o documento, boa parte dos vi- maior parte responsáveis por funções adminis- sitantes permanecia em média uma semana nas trativas. Aliado a isto, houve pouco investimen- casas, abrigos e áreas de camping oferecidos pelo to em treinamento e atualização destes mesmos PNI ou hospedados em hotéis. Outros ainda pas- funcionários, o que prejudicou ainda mais a efi- savam apenas algumas horas, principalmente aos ciência de manejo da área (Magro, 1999). De acor- sábados e domingos. do com a autora, esta situação está se reverten- do no período atual. Os Efeitos do Uso Público Sobre os Nos relatórios anuais elaborados pelos che- Recursos do PNI fes do PNI, encontram-se registros de problemas enfrentados em relação ao uso público. Segundo Ainda com uma perspectiva histórica, MA- o relatório de 1954, houve uma reclamação do GRO (1999) compilou informações quanto às ações de manejo relacionadas ao uso público, a Grupo Excursionista Pica-pau Amarelo, dirigido partir dos relatórios anuais dos chefes do PNI de por Nilson Lemos Lage, colocando que uma cri- 1937 a 1983. De acordo com a autora, no início ança havia sido abandonada por um guia de tu- das atividades do Parque, este foi dotado de uma rismo no planalto e que havia marcas de vanda- infra-estrutura representativa, com casas para lismo no Pico das Agulhas Negras, com inscri- funcionários, abrigos de grande conforto, restau- ções feitas a óleo nas pedras. Em 1956 ,houve rante, lavanderia, museu e uma rede interna de uma proibição do uso dos alojamentos do Par- caminhos e estradas suficientes para atender à que realizada por João Falcão, em função dos atos demanda dos visitantes. Ressalta ainda que, nos de vandalismo ocorridos naquele ano. primeiros anos de atividades do então recém-cria- Quanto aos impactos sofridos pelo PNI com do Parque nacional, grande parte do tempo dos relação ao uso público, o Plano de Manejo co- funcionários era dedicada a atividades realizadas menta que, com a criação do Parque, as terras do próximo à administração, para manutenção de ex-núcleo colonial, ainda sob domínio particu- jardins, reflorestamento e manutenção geral, em lar, vieram a sofrer certas restrições de uso. Estas função de dois fatores principais: recuperação das restrições acabaram provocando o surgimento de áreas remanescentes do ex-núcleo colonial e novas características de utilização da área pelos manutenção de condições de boa apresentação proprietários que, ao longo do tempo, foram para autoridades e representantes diplomáticos abandonando as atividades agrícolas e se dedican- do Governo Vargas, que considerava o PNI, jun- do à hotelaria e lazer. Em parte, essas transforma- tamente com o Parque Nacional da Serra dos ções foram incentivadas pela prática dos objetivos Órgãos, como um excelente cartão de visitas do de um Parque nacional, aliada à grande aptidão tu- país. rística há muito conhecida na região. Esta situação foi mantida enquanto a capi- O mesmo documento ressalta que, com o tal federal situava-se no Rio de Janeiro, pela desenvolvimento do turismo regional, alguns maior facilidade de obtenção de recursos finan- lotes passaram às mãos de novos proprietários e ceiros. O panorama foi modificado após a trans- alguns outros foram subdivididos, observando- ferência da capital e da instituição gestora para se no local elevada concentração de construções, Brasília, o que afetou significativamente a ad- dentre elas casas de campo e hotéis. Ocorreu ministração do PNI. Um agravante quanto à di- uma grande alteração de suas feições naturais ficuldade de acesso aos recursos financeiros foi a através da introdução de espécies exóticas, con- criação de 12 outros Parques nacionais durante taminação dos cursos d’água e outras formas de o regime militar, fazendo com que os recursos degradação ambiental da paisagem natural. Esta para a manutenção dos 15 já existentes tivessem situação descrita no Plano de Manejo persistiu que ser divididos, e também incluía a contratação por muitos anos, apesar do esforço feito pela ad- de mais funcionários para o órgão central situa- ministração do Parque em melhorar as condições do em Brasília. Durante a Nova República (a de recebimento do público. partir de 1985), os cortes de verbas foram ainda O PNI, segundo o Plano de Ação Emer- mais drásticos. O número de funcionários dimi- gencial, possuía um número elevado de edifi-

98 CADERNOS FBDS cações que, na época, encontravam-se em mau de Janeiro, pensava que a interdição eliminaria o estado de conservação e até mesmo sub-utiliza- impacto do pisoteio, o que poderia favorecer a das, assim como outros componentes da infra- atuação dos agentes naturais e mais rapidamen- estrutura, como trilhas e estradas. Esta situação te conter o avanço das voçorocas existentes. comprometia o bom desempenho das atividades Segundo MAGRO (1999), o histórico do uso do Parque e limitava a execução de suas funções, público no PNI revela que foram poucas as ativi- tornando vulnerável a integridade dos seus re- dades de manejo na região do planalto. A trilha cursos naturais. A infra-estrutura de apoio ofe- Rebouças-Sede (conhecida pelos funcionários recida aos visitantes (instalações e serviços), as antigos como Picada Rui Braga), com 20 km de alternativas recreacionais e os programas de ori- extensão, possibilitava o único acesso ao planal- entação e informação eram considerados insufi- to, e foi mantida com certa regularidade pelo cientes, além de gerar, por vezes, insatisfação no Parque até a abertura pelo DNER da nova estra- usuário, o que fazia com que o Parque não cum- da para as Agulhas Negras, fazendo com que a prisse satisfatoriamente alguns objetivos desta trilha diminuísse de importância para a admi- categoria de UC. nistração. Uma grande voçoroca existente na tri- O Plano de Ação Emergencial (IBAMA, lha, segundo a autora, iniciou-se por volta de 1994) também comenta que, na região de Mauá, 1981. Em 1999, depois das chuvas de verão, esta onde se situam junto aos limites do Parque as voçoroca foi ampliada, resultando na abertura cachoeiras do Escorrega e de Santa Clara, (mui- de várias outras no percurso da trilha, provocan- to procuradas pelos turistas), não existiam pos- do a completa interdição do local (Zikan, comu- tos de vigilância, sendo comum, principalmente nicação pessoal). na cachoeira do Escorrega, a entrada de pessoas no Outro problema do uso público no PNI re- Parque pelas trilhas ou pelo leito do rio, sem que fere-se à utilização das áreas de camping. Sobre houvesse qualquer tipo de controle ou orientação. este tema o Plano de Manejo afirma que “pela MAGRO (1995) afirma que a parte alta re- falta de um trabalho educativo e de maior fisca- cebe cerca de 10% da visitação da parte baixa, lização, ocorrem coletas de plantas, caminhadas em função da dificuldade de acesso e da falta de ou escaladas feitas por leigos, que não raro se infra-estrutura de hospedagem. Apesar disso, perdem e passam a noite ao relento, com tempe- nesta área estão as trilhas mais danificadas pelo raturas quase sempre abaixo de zero, além de uso público, por terem sido usadas durante muito acidentes, por desconhecerem técnicas de tempo sem manutenção, apresentando erosão e montanhismo. Ocorrem também acampamen- oferecendo, inclusive, risco para os visitantes. tos selvagens não autorizados, gerando acúmulo No Plano de Ação Emergencial encontra-se de lixo, destruição e até mesmo fogo” (IBDF, uma breve descrição das trilhas do PNI com o 1982). comentário de que até mesmo o uso para a fisca- BRAGA (1992) coloca que a área de cam- lização estava prejudicado: i) a Trilha Rebouças- ping da AD Agulhas Negras foi suspensa na se- Sede estava interditada desde 1991, por apresen- gunda quinzena de 1991, e o que se podia obser- tar problemas de erosão; ii) as Trilhas Mauá- var era que os usuários desta, e das outras áreas Vargem Grande e Maromba-Morro Cavado es- de camping selvagem existentes às margens da tavam desativadas para uso dos visitantes, mas estrada do Parque, não vinham preparados para eram utilizadas pela população de Serra Negra e superar os possíveis problemas quanto às baixas Campo Redondo no acesso a Mauá; iii) a Trilha temperaturas, aos ventos fortes da região e à fal- do Rio do Ouro estava desativada para visitação; ta de sanitários e de tanques para lavar louças. iv) a Trilha para os Três Picos era pouco procura- “Desta forma impõem evidentes agressões à na- da, mas necessitava de manutenção e sinaliza- tureza ao podar arbustos, defecar ao ar livre e ção (IBAMA, 1994). Esta situação permanece lavar louça com detergente junto às nascentes”. sem alterações no ano de 1999. A autora comenta que esses procedimentos de- BRAGA (1992) comenta que as travessias vem-se a dois fatores principais: falta de infor- estavam fechadas temporariamente devido ao mação do PNI, que não determina áreas nem processo de erosão, pois a administração do PNI, regras claras para serem seguidas, e desconheci- em conjunto com a Universidade Rural do Rio mento dos usuários quanto às consequências de

CADERNOS FBDS 99 certas atitudes no ambiente. nando as Agulhas Negras pela Travessia Ainda sobre a área de camping da AD Agu- Rebouças x Mauá e desviando-se para o Pico da lhas Negras, próximo ao abrigo Rebouças, o Pla- Maromba e montanhas adjacentes. No ano se- no de Ação Emergencial afirma que foi interdi- guinte abrimos uma trilha do Gorilinha até a tada em 1992 devido à poluição da nascente do Serrinha, fazendo assim, a Travessia Rebouças x rio Campo Belo por problemas de vazamento da Serrinha” (Fonseca, 1996). fossa. Outros problemas existentes eram a via Alguns periódicos da região também apon- de acesso para veículos até o abrigo, que estava tam problemas e ações de manejo relacionados em péssimas condições, e a área de estaciona- ao uso público. Segundo o Informativo do Turis- mento que, além de pequena, não estava ta (1995), “a polêmica demarcação das terras da demarcada. ampliação do Parque Nacional do Itatiaia, sem O Plano de Ação Emergencial comenta que, as consequentes medidas que seriam de esperar, nas proximidades do Posto 3, havia uma área coloca clara e urgente necessidade de buscarmos bastante degradada em conseqüência da abertu- um estudo melhor da realidade social local. Fal- ra da estrada para a torre da estação de Furnas, tam alternativas e apoio para que o colono se na qual a Academia Militar das Agulhas Negras torne interessado na preservação ambiental, co- (AMAN) manifestou interesse em preparar uma locando-o como participante direto dos benefí- área de camping para ser utilizada como ponto cios que um meio equilibrado pode proporcio- de apoio durante treinamentos de cadetes, que nar, independente da resolução da situação agrá- ocorrem na região desde 1956, segundo relatos ria. Nunca é demais lembrar que nos meses mais de funcionários. A área, em 1999, ainda não foi secos o perigo dos incêndios retorna, pois as quei- utilizada para este fim, permanecendo em estu- madas que ocorrem podem algumas vezes ser do por parte da administração. espontâneas, mas a maior parte é provocada pelo Quanto às dificuldades para preservação do mau uso de técnicas agro-pastoris antigas, utili- PNI, DUPONT (s/d) cita “a falta de recursos zadas pelos que colonizaram os vales da humanos, as dificuldades financeiras, a baixa Mantiqueira. De baixa produtividade, tal manu- capacidade de manejo e de controle de incêndi- seio provoca prejuízos coletivos imensos, como os, como algumas das causas que vêm desvian- a erosão e o assoreamento de nascentes e cursos do os objetivos originais propostos na criação do d’água, e atraem o sério risco de desastres como Parque Nacional do Itatiaia. “Atualmente o Par- o incêndio do PNI em 1988. Apesar da distância que luta pela preservação do que restou de suas entre as decisões federais e o dia-a-dia dos habi- instalações bem como de todos os seus ricos re- tantes rurais, algumas iniciativas vêm sendo cursos naturais”. implantadas, como o PREVFOGO – Sistema Outros impactos no Parque são evidencia- Nacional de Prevenção e Combate de Incêndios dos através de boletins de clubes de excursio- Florestais, que realiza trabalhos de apoio à for- nismo que relatam a abertura de vias de escala- mação de Brigadas Regionais de Combate a In- da e trilhas sem um planejamento conjunto com cêndios e de educação ambiental, dando cursos a administração, como forma de desbravar ca- como o recentemente realizado na sede do PNI”. minhos inéditos. Sobre a abertura de vias de es- calada, citamos, como exemplo, parte de um ar- Projetos e Ações de Manejo Efetivadas tigo: “Partimos para a pedra (Último Adeus), a Com o apoio de empresas da região foi idéia era fazer os furos, colocar as chapeletas e implementado o Projeto Montanha Limpa em encadenar a nova via (A experiência). Porém não 1992, objetivando a diminuição da quantidade foi nada fácil, a furadeira não funcionou e não de lixo deixada no Parque. Esse projeto envolvia conseguimos nem a metade do primeiro furo, a distribuição de sacolas de lixos aos visitantes aquilo tornou maior ainda a ‘necessidade de con- que entravam no Parque e a sua troca por um quistar’” (Guedes, 1999). Quanto à abertura de brinde na saída. Foram alcançados excelentes trilhas, destacamos um outro artigo: “A história resultados, porém o projeto ficou cerca de seis dessa montanha começa em 1989, quando guia- meses paralisado (IBAMA, 1994). No anos de ram três trekkings no PNI com o objetivo de atin- 1998 e 1999, o projeto continuou funcionando gir a Pedra do Gigante por uma nova via, contor- com apoio da empresa Dupont do Brasil S.A..

100 CADERNOS FBDS O Núcleo de Educação Ambiental do PNI de trilhas, que envolveria habilitação em tarefas vem desenvolvendo, desde novembro de 1992, necessárias à implementação, manutenção e um projeto que previa a realização de cursos e operacionalização das mesmas. O trabalho traz visitas guiadas para professores e alunos de 1º e orientações para intervenções como abertura e/ 2º graus dos municípios próximos ao Parque. Fo- ou fechamento da trilha, clareamento, orienta- ram realizados três cursos para professores, que ção de drenagem, contenção de encostas, cons- tiveram como instrutores, além de funcionários trução de degraus, estrada, tablados, diversos ti- do PNI, professores universitários. Além desses, pos de pontes e pinguelas, implantação de áreas foi também organizado um curso de atualiza- de acampamento e sinalização. O Boletim Am- ção de funcionários para o desempenho de suas biente traz um artigo sobre esse trabalho (SMA, funções (IBAMA, 1994). Estas atividades conti- 1998 www.cetesb.br). nuam sendo realizadas no ano de 1999. Outras publicações apresentam informa- O Mirante Último Adeus, até 1994, era ções sobre: o histórico do PNI (Drummond, muito procurado pelos visitantes para aprecia- 1997), os atrativos turísticos, fluxo e perfil de vi- rem a beleza cênica do Parque e da região, em- sitantes (Braga, 1992) e as trilhas e trajetos exis- bora não tivessem sido efetivadas medidas para tentes (Gasques, 1990). Existem ainda relatóri- melhorar o acesso ao ponto onde seria o mirante os elaborados por diferentes instituições com re- (IBAMA, 1994). Em 1999 este panorama encon- lação ao Parque e que podem ser consultados na tra-se modificado, pois foi construída uma área biblioteca do museu, como o relatório da trilha de estacionamento e um ponto de observação interpretativa do lago Azul, realizado pelo Pro- bastante seguro. jeto Atuar, o relatório de fechamento da traves- sia Rebouças-Sede (Garcia & Pereira, 1990) e o Publicações e Informações Gerais relatório sobre intervenção e melhorias no abri- sobre Uso Público no PNI go Macieiras (maiores informações com Edgar Werblowsky: [email protected]). Infor- ANDRADE (1998) explorou e mapeou as trilhas da região da Mantiqueira desde 1985, prin- mações a este respeito podem ser obtidas também no site do Parque: www.parquedoitatiaia.com.br, cipalmente as relacionadas às sete grandes ele- ou no site do Município de Itatiaia: vações: Pedra do Lopo, Morro do Selado, Pedra do Baú, Pico dos Marins e Itaguaré, Serra Fina e www.itatiaia.org.br. Diversos outros periódicos publicam frequen- Parque Nacional do Itatiaia, onde propõe o pla- temente informações sobre o PNI e a região: o In- nejamento e definição de estratégias para a im- plantação de uma trilha com trabalho voluntá- formativo Itatiaia (publicado pela Associação de Hotéis e Similares de Itatiaia, fax: (24)243-9857); rio, no trecho mais contínuo e expressivo da ser- o Jornal Mares e Matas (publicado por agências de ra da Mantiqueira. A trilha proposta começaria na Pedra do Lopo, iria alternando-se entre as áreas turismo, E-mail: [email protected]); a RDE - Revista das Estradas (publicado pela Em- dos dois estados (SP e MG) e terminaria no inte- preendimentos Publicitários Ltda. E-mail: rior do Parque Nacional do Itatiaia. Para a implantação dessa trilha, o autor co- [email protected]); o jornal O Ponte Ve- lha (Fone: (24)351-1143); o Jornal Serra & Mar (pu- menta que o recrutamento de trabalho voluntá- blicado pela SLN Comunicação e Publicidade Ltda. rio pode ocorrer a partir das organizações ambientalistas e clubes excursionistas localiza- Telefax:(24)354-6040/998-1702); o Informativo do Turista(publicado por Cerros da Mantiqueira Tu- dos nos municípios envolvidos, dos quais forne- rismo Ltda.); a Revista Roteiro Turístico Com- ce uma completa lista de contatos. Fornece tam- bém uma lista de hotéis, pousadas, áreas de cam- pleto (publicada pela Suggest Comunicação e Propaganda Ltda. Fone: (24)999-3245); o Jornal ping e horários de ônibus para as cidades envol- Vitrine Serrana (Cx P. 81815 Resende-RJ cep vidas. O estudo oferece ainda o formato de um curso básico que poderá ser aplicado não só a 27500-000); o Informativo do Centro Excursio- nista Brasileiro (Fone: (21)262-6360); e o Bole- voluntários, como a técnicos das instituições tim do Grupo Excursionista Agulhas Negras selecionadas, para que detenham conhecimen- (Fone: (24)354-0018/352-1734). tos sobre aspectos ligados à conservação, inclu- indo ecoturismo, educação ambiental e manejo

CADERNOS FBDS 101 O PNI e seu Entorno importante segmento na economia, apesar do impacto da emancipação de Itatiaia. Ainda no De acordo com o Plano de Ação Emergencial entorno do Parque estão presentes algumas áre- (IBAMA, 1994), o município de Itatiaia, eman- as protegidas, como a Estação Ecológica do Pa- cipado do município de Resende em 1988, tem pagaio, a APA da Serrinha, que possui um tre- no turismo uma de suas principais fontes de re- cho superposto à área do PNI, e parte da APA da ceita. Possui uma rede hoteleira com cerca de 100 Mantiqueira. estabelecimentos entre hotéis, pousadas e pen- sões, situados basicamente no interior do Parque e em Penedo. Esse município, portanto, pela sua 3. Infra-Estrutura de Visitação proximidade e pela sua infra-estrutura hotelei- ra, é beneficiado pela presença do Parque, que serve como importante polo de atração turísti- 3.1 Áreas de Desenvolvimento ca, ao mesmo tempo que oferece boas alternati- As Áreas de Desenvolvimento (AD) inclu- vas de hospedagem para os visitantes que se di- em os componentes de infra-estrutura e se cons- rigem ao Parque. Para o município de Resende, o tituem na base física utilizada para o desenvol- turismo, com a permanência de parte de Pene- vimento das atividades do Parque. As Tabelas 1 do, a presença da localidade de Visconde de e2listam o tipo de infra-estrutura existente nas Mauá, além de alguns pequenos núcleos urba- ADs, segundo as informações do Plano de Ma- nos na região montanhosa, ainda é considerado nejo e do Plano de Ação Emergencial.

TABELA 1 Infra-estruturas existentes nas AD’s da parte alta do PNI AD Portão Rio do Ouro; AD Vargem Grande; AD Morro Cavado; AD Maromba; AD Fazenda das Cruzes; AD Rancho do Boiadeiro – Nenhuma Instalação AD Portão do Planalto – Posto 3 – Alojamento; Portão; Estrada; Área de camping; Estacionamento AD Agulhas Negras - Área de camping/sanitários/lava-pratos; Abrigo Rebouças; Estacionamento; Trilha Prateleiras; Trilha Agulhas Negras; Trilha da Tartaruga e da Maçã; Trilha do Paredão/Panorâmica; Trilha Rebouças-Sede; Trilha Rebouças-Mauá; Estrada AD Pousada Massena; AD Lamego; AD Macieiras – Abrigos; Área de camping AD Visconde de Mauá - Cachoeiras Escorrega e Sta Clara; Outros locais de divisa

TABELA 2 Infra-estruturas existentes nas AD’s da Parte Baixa do PNI AD Portão do Parque – Posto 1 – Portão; Guarita; Sanitários; Estacionamento; Ponto de ônibus AD Último Adeus - Estacionamento; Mirante AD Mont Serrat - Posto 2 – Residências; Estufa; Administração; Núcleo de Vigilância AD Bandeirantes - Estacionamento; Área de camping; Abrigos1e3;sanitário/ Depósito; Residências AD Lago Azul – Estacionamento; Lanchonete; Sanitários; Trilha do Lago Azul; Acesso às Churrasqueiras AD Pinheiral – Estacionamento; Casa e Chalé Escoteiros; Residências AD Itaoca – Residências AD Centro de Visitantes – Estacionamento; Centro de Visitantes; Residências AD Acácias – Estacionamento; Residências AD Ponte Maromba - Vestiário/Sanitário; Estacionamento; Trilha Véu Noiva; Trilha Itaporani; Trilha da Piscina do Maromba; Trilha Poranga

102 CADERNOS FBDS TABELA 3 Situação das infra-estruturas de visitação no PNI

BENFEITORIA SITUAÇÃO EM 1994 SITUAÇÃO EM 1999 Banheiros públicos (Lago Azul) Em funcionamento Em funcionamento Banheiros Públicos (Mont Serrat) Almoxarifado Almoxarifado Chalé dos escoteiros Em funcionamento Casa de funcionário Sítio das Acácias (3 casas) Em funcionamento Depredado Abrigo nº 1 (48 pessoas) Em funcionamento Abandonado Abrigo nº 3 (48 pessoas) Em funcionamento Em funcionamento Abrigo nº 4 (24 pessoas) Em funcionamento Demolido Abrigo Lamego (12 pessoas) Em funcionamento Abandonado Abrigo Massena (70 pessoas) Abandonado Depredado Abrigo Macieira (12 pessoas) Em funcionamento Depredado Abrigo Rebouças (21 pessoas) Em funcionamento Em funcionamento para pesquisadores e grupos especiais Área de acampamento na AD Agulhas Negras: Desativado Em funcionamento para Sanitários públicos e lava-pratos pesquisadores e grupos especiais Área de acampamento na AD Mont Serrat: Desativado Desativado Sanitários públicos, Lava-pratos e Cobertura com mesas e bancos Centro de Visitantes Em funcionamento Em funcionamento Lanchonete (na Trilha Lago Azul/Centro de Visitantes) Desativada Desativada

A Tabela 3 mostra as condições das infra- da pela estrada em outra direção, até o local onde estruturas de uso público relatadas pelo Plano se encontra uma repetidora de TV, no topo do de Ação Emergencial (IBAMA, 1994) e sua con- paredão da ‘Água Branca’. Desse local, a 1.800 m dição atual. de altitude, tem-se uma visão ampla da vertente do rio Campo Belo e do vale do Paraíba. Seguin- do das Macieiras, em direção à Pousada Massena, 3.2 Descrição das Trilhas e dos Locais de nota-se a substituição gradual da floresta montana, por aquela representante dos campos Visitação do PNI altimontanos, com sua natureza exclusiva. Se- “Em locais como o Lago Azul, Maromba e guindo ao Abrigo Rebouças, já nas grandes alti- Véu da Noiva, o observador se coloca como in- tudes, surgem elevações rochosas e os aspectos tegrante da paisagem, desfrutando da variabili- do conjunto geológico seduzem aos admirado- dade das formas vegetais, do seu colorido, da di- res da natureza. O acesso ao Planalto, pela estra- nâmica das águas encachoeiradas, dos encontros da Rio-Caxambu que se desvia na Garganta do com a fauna, da agradável temperatura e dos ru- Registro, seguindo pela estrada Registro-Agulhas ídos silvestres. Ao se deslocar da Ponte do Negras, está localizado em belas paisagens, ter- Maromba, em direção ao abrigo das Macieiras, o minando na base das Agulhas Negras. Outro visitante tem a oportunidade de perceber a mo- ponto importante é a caminhada para Mauá, dificação gradual dos elementos florísticos, pela contornando a Pedra do Altar, Agulhas Negras, variação da altitude, além das belas vistas, como atravessando os brejos formados pelas nascen- a que se pode vislumbrar no km 10 dessa estra- tes do Rio Aiuruoca” (IBDF, 1982). da. Das ‘Macieiras’ pode dirigir-se, por picada, As Tabelas4e5resumem as característi- rumo ao Planalto até a Pousada Massena ou ain- cas das trilhas do PNI. As trilhas neste capítulo

CADERNOS FBDS 103 TABELA 4 Descrição dos locais de visitação do PNI e suas características CARACTERÍSTICAS VEGETAÇÃO ATIVIDADES ATRATIVOS SERVIÇOS

Locais de Visitação Caminhada Escalada Área de camping Extensão (m) Tempo de Percurso (Ida) Grau de Dificuldade Altitude (m) Campos de altitude Floresta Cachoeira Piscina Natural Vista Panorâmica Ponto Histórico-Cultural Churrasqueira Água Potável Interpretação Sanitário

Itaporani 500 15' 2 - tt tt Véu da Noiva 340 15' 2 1.150 tt tt Piscina Maromba 120 5' 1 1.100 tt tt t t Lago Azul 460 10' 1 750 tt t t t Acesso 200 1 750 tt tt t às Churrasqueiras Museu - - - 855 ttttt Poranga 400 12' 3 1.000 tt tt Ultimo Adeus - - - 750 ttt Três Picos 5.554 2-3 h 3-4 1.700 tt t t Prateleiras (base) 2.190 30' 3-4 2.430 ttttt Agulhas 1.298 20' 3-4 2.375 ttt Negras (base) Paredão 150 5' 2 - tt t Pedra Maçã/ 306 10' 2-3 - tt Tartaruga Aiuruoca 6.000 3-4 h 2-3 - tt tt

TABELA 5 Distâncias e altitudes dos principais pontos atrativos do PNI em relação à AD Mont Serrat (administração) LOCAIS DISTÂNCIAS INTERNAS ALTITUDES Abrigo 1 350 m 800 m Abrigo3 450 m 760 m Abrigo 4 800 m 750 m Lamego 9.6 km 1.500 m Macieiras 14.5 km 1.950 m Massena 19 km 2.200 m Abrigo Rebouças 24 km 2.350 m Cachoeira Poranga 2.7 km 1.000 m Cascata Véu de Noiva 4.9 km 1.150 m Hotel Repouso Itatiaia 1.5 km 950 m Hotel Simon 3 km 1.100 m Lago Azul 1 km 750 m Maromba 4.5 km 1.100 m Museu 800 m 855 m Três Picos 7 km 1700 m Último Adeus 1.7 km 750 m Fonte: Relatório Anual de 1952

104 CADERNOS FBDS serão descritas com relação ao seu potencial e de nascente e implantados alguns caminhos de características para a visitação, mas também pedra pela administração do PNI. objetivando identificar os problemas advindos Mesmo sendo uma das trilhas mais procu- de seu uso contínuo. Algumas das observações radas do Parque, falta sinalização indicando o referem-se a parâmetros analisados na Parte II início da mesma, próximo ao Abrigo Rebouças. deste relatório. Existe uma publicação de O tempo médio de percurso até a base das Agu- GASQUES (1990) que fornece indicações de tri- lhas Negras é de 20 minutos e o horário de mai- lhas do PNI e mapas para sua localização. or visitação é bem definido, ocorrendo das 9:00 às 10:00 h (ida) e das 15:00 às 16:00 h (volta), pois são poucos os visitantes que se dirigem ape- Trilhas da Parte Alta nas até a base das Agulhas. Em geral as pessoas chegam pela manhã e retornam à tarde, após ter Além de todo o potencial paisagístico refe- subido ao cume. rente às características do relevo, flora e fauna As Agulhas Negras possuem 17 vias de es- das trilhas da região do planalto já comentado calada, mas nem todas levam ao ponto culmi- nos capítulos anteriores, foram notados alguns nante, o pico do Itatiauçu, com 2.787 m de alti- problemas comuns às trilhas da parte alta: não tude. As vias mais procuradas são a Normal e a há um sistema de drenagem, o que faz com que Pontão, por serem fáceis e permitirem o acesso a água percorra o leito das trilhas formando ca- ao livro de registro de visitantes (Gean, 1998). nais e provocando a ocorrência de erosão lateral. Nesta trilha existe a necessidade de guias Isto, em geral, ocasiona as chamadas trilhas de durante o trajeto, pois grande parte de seu per- inverno (trilhas bastante profundas utilizadas curso é feito sobre pedras, existe um grande nú- apenas na época seca) e as trilhas de verão (tri- mero de bifurcações e falta sinalização. Porém, é lhas mais recentes utilizadas na época das chu- freqüente grupos ficarem perdidos neste local por vas). Em lugares onde a água forma poças, é tam- estar sem guias e sem equipamentos básicos de bém comum acontecer de o visitante ser obriga- segurança como cordas e lanternas. do a desviar-se do caminho para não encharcar Esta trilha necessita de um plano de recu- os pés, o que aumenta o número de áreas degra- peração que leve em conta um novo traçado, a dadas pelo pisoteamento e ocasiona desorienta- escolha adequada de materiais para recuperação ção dos demais visitantes por haver mais de um de determinados trechos e uma sinalização ade- caminho aberto. Muito papel higiênico foi en- quada. Nesta região do planalto o exército cos- contrado no caminho, pois a infra-estrutura sa- tuma realizar treinamentos, também criando nitária existente está fechada ao público, devido uma série de trilhas não oficiais. A área a ser uti- a depredações ocorridas no passado. lizada por este grupo necessita ser demarcada e realocada, pois desenvolve estas atividades no AD Agulhas Negras interior da Zona Intangível e da Zona Primitiva segundo o zoneamento vigente (Magro, 1995). Trilha Rebouças-Base das Agulhas Negras Trilha Estrada-Base das Prateleiras A Trilha das Agulhas Negras inicia-se no abrigo Rebouças e possui 1.298 m até o córrego A Trilha das Prateleiras é a mais utilizada Agulhas Negras. Nela são encontradas um gran- da área do planalto por apresentar as melhores de número de bifurcações que são provocadas, condições e um menor grau de dificuldade. O em geral, pelos visitantes que tentam desviar-se primeiro trecho não oferece risco para os visi- das áreas alagadas. Existem charcos de até 141 m e tantes, já o trecho final é feito sobre pedras. O no total são cerca de 480 m de trilha onde se evita percurso possui 2.190 m de extensão e, em al- pisar na água, causando impactos na vegetação. guns pontos, apresenta até 20 bifurcações, ne- Com o intuito de evitar a criação de novos cami- cessitando de um plano de recuperação que su- nhos por parte dos visitantes devido aos problema gira um novo traçado, levando em consideração de má drenagem nas trilhas, foi construída, em a segurança dos visitantes. O leito principal deve 1998, uma ponte pênsil localizada sobre uma área ser recuperado desde a estrada, sendo os demais

CADERNOS FBDS 105 fechados e recuperados. Alguns trechos mais Travessia Rebouças-Sede erodidos da trilha principal devem ser recupera- O percurso total desta trilha, do Abrigo dos, devendo assumir como principal uma das Rebouças até a sede do Parque, é de aproxima- bifurcações em melhor estado. Existe a necessi- damente 22 km, com altitudes variando de 2.325 dade de guia e de sinalização indicativa. a 1.100 m. Essa distância inclui 1.009 m de uma Essa trilha possui mais sinalização do que a antiga estrada, iniciando-se no Abrigo Rebouças; Trilha das Agulhas, ainda que provisória. Devi- 8.354 m de trilha em campos de altitude e mata; do ao tempo de escalada ser menor para se atin- e, em sua parte final, 12 km de estrada no interi- gir o cume e muitos visitantes só irem até a base, or de uma área de Floresta Ombrófila Densa de onde já é possível ter uma visão panorâmica (Magro, 1999). da região, o horário de maior visitação é das 11:00 Por ser uma trilha de longo percurso neces- às 13:00 h. As pessoas se detêm na base, desen- sita de um planejamento especial em termos de volvendo atividades como fotografia, contempla- traçado e manutenção. As condições do leito ção e alimentação. Outras duas trilhas iniciam- desta trilha encontravam-se em estado precário se próximo à base das Prateleiras: a Trilha da Pe- e, apesar de ter sido fechada em 1990, não houve dra da Maçã, Pedra da Tartaruga e Pedra Senta- indícios de recuperação, pois a água das enxur- da,eaTrilha do Paredão ou Panorâmica. radas continuaram correndo pelo seu leito, dan- O cume das Prateleiras está a 2.539,50 m de do continuidade ao processo erosivo. Nesta tri- altitude e existem 18 vias de escaladae2dedes- lha encontrava-se inclusive uma voçoroca de 7 m cida em rappel com 50 m livres. A face noroeste de profundidade. Desde 1995, a trilha teve seu é mais procurada pelos visitantes comuns que trajeto até o Abrigo Macieiras mapeado, e levan- passeiam com suas famílias ao redor da base. A tadas diversas informações sobre vegetação e face sudoeste-sul é mais procurada pelos alpinis- atributos físicos, visando medir seu grau de re- tas que praticam os lances mais difíceis, pois os cuperação em relação ao fechamento ao público paredões verticais oferecem vias de “chaminés, (Magro, 1999). agarras e oposições”. A via sul, sob a passagem à direita da Pedra do Elefante, é do tipo “trepa-pe- Travessia Rebouças-Mauá dra” acessando o cume (Gean, 1998). Na trilha que conduz ao sopé das Agulhas Trilha do Paredão/Panorâmica Negras há uma bifurcação à esquerda, a partir da qual tem início o caminho que atravessa o Esta trilha possui 150 m e inicia-se na parte Parque e leva ao distrito de Visconde de Mauá. final da Trilha das Prateleiras, não havendo sina- Esta travessia, de 28 km pode durar 12 horas, se lização. É visitada basicamente por excursões o passo for acelerado, ou 3 dias com dois pernoi- com guia. Permite uma boa visão do vale do tes, um no vale do Aiuruoca e outro no Rancho Palmital e se encontra com a vegetação pouco do Boiadeiro (edificação que não existe mais, pisoteada. embora permaneça o nome de referência (Braga, 1992). Detalhes sobre esta travessia podem ser Trilha da Pedra da Maçã, Pedra da encontrados em GASQUES (1990). Tartaruga e Pedra Sentada

Esta trilha inicia-se na parte final da Trilha OUTROS ATRATIVOS EXISTENTES das Prateleiras, do lado oposto ao da Trilha do Paredão ou Panorâmica. Após 306 m, chega-se Segundo BRAGA (1992), com exceção da aos atrativos através de um caminho com vege- cachoeira Camapuã, formada pelas águas do tação muito pisoteada. As três formações são córrego Simon, todos os demais atrativos do PNI alcançadas pela trilha que chega a uma altitude ocorrem no rio Campo Belo. A autora faz uma de 2.390 m. Abaixo da laje que dá suporte a es- descrição pormenorizada de todos os atrativos tas atrações, existe um lago raso cujo espelho de do PNI, classificados por ela como naturais e his- águas límpidas reflete a paisagem ao redor (Braga, tórico-culturais, dos quais listamos abaixo alguns 1992). deles.

106 CADERNOS FBDS Pedra do Altar feito por um terreno de alta declividade, pedre- goso e com vegetação de médio porte (Braga, Caminhada de cerca de uma hora, com aces- 1992). so pela trilha que parte da bifurcação do cami- nho para Agulhas Negras. Do local, avista-se o Cabeça de Leão Vale do Aiuruoca e as formações Asa de Hermes e Ovos de Galinha (Braga, 1992). No início da descida encontrada próximo ao abrigo Massenas, começa a trilha que leva até Asa de Hermes a base deste atrativo, situado a 2.483 m de alti- tude. Do topo avista-se o vale do Paraíba e tre- A trilha de acesso segue paralela à da Pedra chos do lado mineiro do PNI (Braga, 1992). do Altar, mas o terreno é mais úmido e deve-se atravessar um riacho para chegar até a base des- Pico Dois Irmãos ou Gêmeos ta formação (Braga, 1992). Localiza-se a cerca de 12 km do abrigo Cachoeira do Aiuruoca Rebouças, compreendendo dupla formação rocho- sa, separada por um vale. A altitude é de 1.623 m Trilha com cerca de 6 km de extensão. (Braga, 1992). BRAGA (1992) coloca que, após passar a Pedra do Altar e atravessar o charco do Vale do Aiuruoca, segue-se por uma variante à esquerda TRILHAS DA PARTE BAIXA que leva à margem do rio que dá nome ao vale. AD Ponte do Maromba Ovos de Galinha As trilhas dessa área de desenvolvimento Este atrativo, devido ao seu formato incon- não possuem sinalização do ponto de chegada, fundível de rochas arredondadas e sua localiza- fazendo com que as pessoas caminhem um pou- ção, serve como referência aos visitantes que fa- co mais para ver se esse era o local aonde elas ziam (e continuam fazendo) a travessia para pretendiam chegar. Não há sinalização indican- Mauá, quando um charco após a cachoeira do do o vestiário/sanitários, estacionamento, lixei- Aiuruoca esconde o caminho certo. No rumo ras e o início da trilha da Piscina da Maromba. desta formação é possível encontrar a trilha que Há dúvidas sobre a potabilidade da água, a ex- contorna os Ovos de Galinha pelo lado direito tensão e o grau de dificuldade das trilhas. Exis- (Braga, 1992). tem muitos trechos escorregadios,eolixoau- menta conforme a proximidade do horário de Morro do Couto maior visitação. Muitos visitantes caminham no Localizado à margem direita da estrada do início da estrada que liga o abrigo Rebouças à Parque, é formado por uma série de rochas dis- Sede por curiosidade, pois, apesar da sinalização tribuídas desde a portaria até próximo à base das de proibição, não há indicações sobre o destino Prateleiras, por quase 3 km. Existem inúmeras da mesma. Neste trecho existe uma mangueira vias de pequena extensão com diferentes graus de onde bebem água. de dificuldade (BRAGA, 1992). Trilha Itaporani Cachoeira das Flores A trilha Itaporani não é muito conhecida, Constitui a primeira queda d’água do rio uma vez que sua divulgação é feita apenas atra- Campo Belo dentro do PNI, apresentando dois vés do folder entregue na portaria e possui como pequenos saltos e um terceiro, com7mdealtu- indicação uma pequena placa já desgastada, lo- ra, formando um lago próprio para banho. Pode calizada no alto de um tronco. Seu comprimen- ser avistada da margem esquerda da estrada do to total é de aproximadamente 500 m (119 m Parque, pouco depois da entrada para o abrigo em um trecho comum com a trilha do Véu da Rebouças. O acesso é bastante difícil, pois loca- Noiva e 370 m até a cachoeira). O tempo médio liza-se no ponto mais profundo de um vale de en- de percurso é de 15 minutos e o horário de mai- costas íngremes, cujo percurso de quase 500 m é or visitação vai das 10:00 às 14:00 h. O percurso

CADERNOS FBDS 107 apresenta muitas trilhas não oficiais devido à AD Centro de Visitantes falta de sinalização do caminho a ser percorrido Centro de Visitantes - Museu Wanderbilt e a muitas raízes expostas. Para acesso à cacho- Duarte de Barros eira, existe uma escada de madeira em mau esta- O Centro de Visitantes abriga o museu da do, sem corrimão, faltando degraus e com alto Fauna e Flora, que engloba o herbário, o insetário risco de escorregamento. e a seção dos vertebrados. A foto existente no folder atual é da parte de trás do museu e como não há Trilha Véu da Noiva sinalização do local, o visitante dificilmente tem É uma trilha íngreme, parcialmente cimen- certeza de que encontrou realmente o Centro de tada e com corrimão em parte dos seus 340 m de Visitantes. Falta indicação do estacionamento extensão. Aos 119 m inicia-se uma bifurcação que maior, localizado em frente à entrada do museu. leva até a Cachoeira Itaporani. Possui uma gran- de quantidade de raízes expostas e trechos com AD Lago Azul pedras lisas e escorregadias. Há várias trilhas não Trilha do Lago Azul oficiais que visam chegar à água. O horário de Dos seus 460 m de extensão, boa parte é maior visitação é das 10:00 às 14:00 h e seu tem- cimentada. Entretanto, as laterais da trilha en- po médio de percurso é de 15 minutos. Em feve- contram-se pisoteadas em locais mais estreitos, reiro de 1999, houve uma enchente que provo- provocando erosão lateral e exposição de grande cou danos de grande extensão na vegetação, in- quantidade de raízes. A construção da trilha re- clusive com movimentação de pedras. sultou em algumas áreas degradadas, geralmen- te nos barrancos por onde o material de cons- Trilha Piscina da Maromba trução foi transportado. Ela pode ser percorrida Durante o percurso de 120 metros, a trilha em 10 minutos. Possui um “mirante” improvisa- é cimentada, tem degraus e corrimão. Muitos vi- do que oferece um alto risco ao visitante e não sitantes reclamam que os degraus são muito al- possui nenhuma sinalização de proibição. O ho- tos. Seu horário de maior visitação é das 10:00 rário de maior visitação depende basicamente das às 14:00 h. excursões que chegam. A sinalização da trilha Uma escadaria de cimento leva à piscina do lago Azul na estrada principal está voltada natural do Maromba onde, apesar de os banhos na direção de quem retorna da AD Maromba e, serem permitidos, algumas placas advertem so- portanto, é nesse momento que as pessoas a vi- bre a presença de correnteza, da inexistência de sitam. Os sanitários e as churrasqueiras não são salva-vidas e do fenômeno da “cabeça d’água” sinalizados. (Braga, 1992). Acesso às Churrasqueiras Trilha Poranga O percurso, de 200 m, até as cinco churras- Tem uma extensão de cerca de 400 m com queiras é uma continuação da trilha do lago Azul. grande declividade. Apresenta problemas de dre- Possui sanitários e lava-pratos. nagem em todo o seu percurso, é muito escorre- gadia e possui muitas raízes expostas. Faltam AD Último Adeus faixas orientando a melhor maneira de estacio- Mirante do Último Adeus nar, para que não se estacione paralelo à guia ocu- pando a vaga dos demais carros. Não há sinali- As pessoas permanecem pouco tempo nes- zação para a entrada da trilha e muitas pessoas se mirante: em média 2 minutos por visita. Há só tomam conhecimento desse percurso pela pre- reclamações sobre a falta de uma placa indican- sença de outros carros parados no local. O tem- do o nome dos morros e serras da região. O esta- po de percurso é de aproximadamente 15 minu- cionamento deve ter faixas orientando as pesso- tos. Seu horário de maior visitação é das 11:00 as para que não estacionem ao longo da guia, às 13:30 h. O acesso à cachoeira é feito por den- aumentando o espaço para outros carros. Geral- tro de área de particulares. mente as pessoas que chegam ao Parque, vêem carros estacionados no local e fazem um retor-

108 CADERNOS FBDS no perigoso na curva existente. portanto, encontram-se desativados. Existem algumas vias de escalada no fim de Com o intuito de prover mais opções de uma trilha não oficial de 60 m de comprimento, lazer ao público, a administração construiu re- que tem sido utilizada como “campo-escola de centemente cinco churrasqueiras, com sanitári- alpinismo” (Gean, 1999). os e lava pratos na AD Lago Azul; reformou o centro de vivência da AD Bandeirantes, destina- do a comemorações e exposições do Parque e re- 3.3 Outras Estruturas e Serviços Existentes formou o Museu. BRAGA citava em 1992, como locais de ven- BRAGA (1992) faz uma análise de todos os das de produtos, apenas as boutiques dos hotéis; equipamentos e serviços existentes no PNI, tan- comenta sobre a loja chamada Aporaoca que to da parte baixa como da parte alta, em termos vende artesanatos e souvenirs. Em 1999, são en- de meios de hospedagem hoteleiro e extra-hote- contrados, além destas, outros estabelecimentos leiro, alimentação, recreação, entretenimento e como o Cantinho dos Esquilos, o Ateliê Vivart e lazer. A autora faz, ainda, menção à infra-estru- uma venda de salgados e refrescos na ponte do turas de apoio, como transporte, meios de aces- lago Azul. so, comunicação, rede elétrica, condições sani- Na parte alta, BRAGA (1992) classifica nos tárias, equipamento médico-hospitalar, contro- meios de hospedagem hoteleiros apenas o Hotel le e segurança do visitante das duas regiões do Alsene. Hoje existe também a Pousada dos Lo- PNI. bos. Como meios extra-hoteleiros, a autora cita Na parte baixa, a autora comenta que den- as áreas de camping do abrigo Rebouças, na época tre os meios de hospedagem hoteleiro estão os desativadas, mas reabertas em 1999, para uso de hotéis Cabanas de Itatiaia, Aldeia da Serra, pesquisadores e instituições. Cita também o abri- Donati (antigo Repouso de Itatiaia), Simon e Ipê. go Rebouças, aberto para pesquisadores e insti- Do extra-hoteleiro, cita os abrigos do Parque (I, tuições, reformado em 1999. Como áreas de III e IV, Lamego, Macieiras e Massenas – com “camping selvagem”, cita o Brejo da Lapa, locali- exceção do Abrigo III, todos os outros encon- zado no km 8 da estrada do Parque, e as proxi- tram-se abandonados ou em ruínas), uma anti- midades do Hotel Alsene. Quanto à alimenta- ga área de camping desativada na AD Bandei- ção, cita na época apenas o Hotel Alsene, mas rante, a Pousada do Elefante e o Camping do Jor- atualmente existe também a Pousada dos Lobos. ge Spani. Atualmente, a Pousada do Elefante tam- Sobre lazer, informa que as opções são ainda bém permite acampar em suas dependências. menores que na parte baixa, apesar de contar Sobre alimentação, cita os restaurantes do Ho- com uma variedade de vias de escalada e de tri- tel Simon, Hotel Ipê, Pousada do Elefante, Casa lhas para caminhadas que justificam a atração do Chocolate e a lanchonete na trilha do lago que este local tem sobre os visitantes que bus- Azul que nunca chegou a funcionar. cam um contato íntimo com a natureza. Quanto ao lazer, BRAGA (1992) afirma que Alguns dos hotéis da parte baixa oferecem o PNI oferece poucas opções sobre este tema, aos hóspedes diversos passeios, estando o servi- classifica as trilhas do Parque como equipamen- ço de guia já incluído no preço da diária. Estas tos de recreação e coloca que as poucas áreas de atividades têm início por volta das 10:00 h da prática de esportes no Parque localizam-se nos manhã. Em julho de 19981 , as diárias dos cinco hotéis, destinadas apenas aos hóspedes. Cita, hotéis (Hotel Simon, Hotel Ipê, Hotel Donati, também, algumas antigas áreas para piqueni- Hotel Cabanas e Hotel Aldeia da Serra) e de uma ques, como na AD Bandeirantes, que se situam pousada (Pousada dos Elefantes) variavam de em frente à antiga área de camping, com sanitá- R$ 20,00 a R$ 119,00 por pessoa, alguns apenas rios, um quiosque abandonado e um quiosque com café da manhã e outros com pensão com- em pedra, próximo à administração. Estes equi- pleta. pamentos ficam situados na hoje Zona de Uso Os hóspedes destes hotéis também têm a Especial aonde os visitantes não tem acesso e, oportunidade de conhecer cachoeiras que não são

1 Cotação do dólar em julho de 1998 (U$ 1,00 = RS 1,00). Cotação do dólar em julho de 1999 (U$ 1,00 = RS 1,80)

CADERNOS FBDS 109 abertas ao público, como a de Itupi (antes do lago que vêm sendo utilizadas atualmente: Azul), Piturendaba (antes da cachoeira Poranga) a) Placas de regulamentação azuis com e cachoeira do Sol, entre outras, por estarem lo- cabeçalho do PNI e da Dupont; calizadas em propriedades particulares. Estes b) Placas de indicação verdes com cabeçalho mesmos hotéis preparam excursões de um dia do PNI e da Dupont. ao planalto, e o preço variava entre R$ 20,00 e c) Placas provisórias azuis sem cabeçalho R$ 25,00 por pessoa. Essas excursões costumam para as trilhas do planalto; levar os hóspedes até a base das Prateleiras, até a No Posto 1, observou-se que não existe si- trilha do Paredão ou Panorâmica e à trilha da Pe- nalização indicando sanitário, e que, em função dra da Tartaruga e da Maçã. Em geral, o trans- disso, é pouco utilizado, pois está localizado na porte dos hóspedes é realizado por transporta- lateral do prédio da guarita. As excursões são as doras particulares. As refeições à parte nestes que mais utilizam o sanitário e acabaram fazen- hotéis, procuradas por muitos visitantes no ho- do uma trilha no gramado que leva ao estacio- rário do almoço, variam entre R$ 10,00 e R$ 14,00 namento. A placa que existia em julho de 1998 por pessoa. Os hóspedes desses hotéis pagam não deixava claro o preço a pagar por pessoa e apenas um dia de entrada no PNI, diferentemen- por veículo, o que gerava muitos conflitos com te dos outros visitantes do Parque. O ticket deve o público. Muitas pessoas paravam para ler a pla- ser carimbado pelo hotel e passa a ser válido por ca localizada antes da guarita e estacionavam toda a estadia do hóspede. próximo ao ponto de ônibus. Alguns tiravam fo- Já na parte alta, os dois hotéis existentes tos da entrada do Parque, outros não saíam do car- (Pousada dos Lobos e Hotel Alsene) possuem ro enquanto conversavam sobre o preço de entra- uma diária que varia de R$ 25,00 por pessoa com da e muitos retornavam sem ter realizado a visita. café da manhã até R$ 40,00 com café da manhã Em julho de 1998, no Posto 3, havia uma e uma refeição (geralmente o jantar, pois duran- placa precária informando sobre o horário do te o dia as pessoas estão no Parque). As refeições Parque das 8:00 às 17:00 h. A placa também ad- variam de R$ 8,00 a R$ 10,00. Na pousada dos vertia sobre a proibição de acampamentos, das Lobos é oferecido o serviço de cavalgada a R$ 10,00 caminhadas abrigo Rebouças-Mauá; Abrigo a hora. Para quem deseja guia para caminhadas, Rebouças-Sede do PNI e visitas com animais no Hotel Alsene existe um. Anúncios de outros domésticos. Esta placa, em fevereiro de 1999, foi guias da região também são encontrados, inclu- substituída por uma placa do tipo a (azul) já co- sive fazendo propaganda das travessias proibi- mentada. Porém, nota-se nas placas de regula- das pelo Parque como a de serra Negra, a do mentação que foram colocadas nos Portões I e AiuruocaeadeMauá. O Hotel Alsene tem ainda III e nas áreas de camping Pedra do Camelo e uma área de camping, onde o preço é de R$ 5,00 Brejo da Lapa, um exagero de frases proibitivas: por pessoa/dia. Banhos, toalhas e ligações são “Leve o lixo para fora do Parque cobrados à parte, uma vez que muitas pessoas Use som com moderação acampam em outras áreas localizadas até o km Não faça fogueira 8 e podem utilizar estes serviços do hotel. Não retire plantas, animais ou pedras Não é permitida a entrada de animais do- mésticos Não é permitida a entrada de armas 3.4 Sinalização Não piche pedras, árvores, prédios, etc. Nos anos de 1998 e 1999, as placas de sina- Não lave utensílios nos rios lização no PNI foram produzidas pela Empresa O infrator destas normas será autuado e Dupont do Brasil S.A. Não existe um projeto multado” específico de sinalização do PNI e a elaboração As trilhas e locais de visitação também ne- das mesmas é feita pela chefia do Parque, que cessitam de melhor sinalização, como já comen- através de um ofício solicita novas placas quan- tado no item 3.2 – Descrição das Trilhas e Locais do necessário. de Visitação do PNI e no item 4.2 – Satisfação Consultando um ofício enviado em agosto do Usuário no PNI. de 1998, notam-se algumas categorias de placas Ainda sobre sinalização, existe um projeto

110 CADERNOS FBDS de programação visual para o museu já elabora- amente das 8:00 às 17:00 h. Nos Postos1e3é do pela arquiteta Doris Rollemberg Cruz e que cobrado ingresso (de R$ 3,00) por pessoa e uma contempla: galhardete e totem de sinalização de taxa de estacionamento (de R$ 5,00) para ôni- entrada, painel de localização das estruturas exis- bus e automóveis e (R$ 3,00) para motos (julho/ tentes no Museu, placas de orientação, plaquetas 98 ). O ingresso dos hóspedes dos hotéis existen- para as portas, totens explicativos para exposi- tes no Parque é válido durante todo o período de ção, totens para exposições temporárias, teatro sua permanência, em um tratamento diferencia- infantil, sala de biblioteca infantil, painéis e plan- do do visitante comum. Os ingressos são cobrados ta baixa da sala de memória viva. Este projeto, para maiores de 7 anos e menores de 70. ainda não executado, possibilitará uma melhor O trabalho de campo do Projeto de Manejo localização e utilização das dependências do do Uso Público do PNI não envolveu a caracteri- Museu por parte dos visitantes que, hoje, ficam zação do perfil do usuário do Parque, mas sim a bastante desorientados na sua visita ao Parque. compilação de levantamentos anteriores realiza- dos no local, com este objetivo. Segundo dados fornecidos pela APROPANI 4. Caracterização da Visitação no PNI – Associação Pró-Parque Nacional do Itatiaia (Cunha et al., 1990), as informações a esse res- 4.1 Perfil do Usuário do PNI peito foram coletadas em fevereiro e abril de 1990, em um total de 753 questionários aplica- O Parque Nacional de Itatiaia conta com dos no Posto 1. Os gráficos a seguir apresentam três locais onde é feito o controle de entrada e esses resultados quanto à procedência dos visi- saída de pessoas: AD Portão do Parque – Posto 1, tantes, além de outros ligados à percepção des- onde é feito o controle de ingressos; AD Mont tes em relação ao PNI. Um trabalho similar foi Serrat – Posto 2, onde é feito só o controle da elaborado pela mesma instituição em 1988. circulação em geral, do uso dos abrigos e do aces- Além dos trabalhos citados, outros levan- so ao lago Azul por dentro da área administrati- tamentos no PNI procuraram traçar o perfil do va; AD Portão Planalto – Posto 3, onde é feita, usuário do Parque, como o realizado por BRAGA também, a cobrança de ingressos. em 1992 e pelo SEBRAE/RJ em 1996. O Parque é aberto à visitação pública diari- BRAGA (1992) realizou sua pesquisa duran-

CidadesCidades de Procedênci de procedênciaa dos visitant doses visitantes Estados de procedência dos visitantes

4% São PauloPaulo 3% RJ 18% 22% VoltaVolta Redonda MG BarraBarra MansaM ansa 31% SP 5% RioRio dede JaneiroJaneiro Outras BeloBelo HorizonteHorizonte Não responderam 57% 19% 3% NiteroiNiteroi R esende Resende 5% 3% 25% OutrasOutras 3% 2% Não responderamresponderam

PaíPaíss de deprocedênci procedênciaa NaciNacionalidadeonalidade ChiChilenoslenos CorCoreanoseanos EEspanhóis spanhóis Argentinos 3% 7% Argentinos BelBelgasgas Thecos BrasileirosBrasileiro s Sul Af Africanosricanos EstrangeirosEstra n g e iro s AlAlemãesem ães Não respoderamresponderam IItalianostalianos FrFrancesesanceses 90% Suecos 0% 5% 10% 15% 20% PorPortuguesestugueses FreqüênciaFrequência

CADERNOS FBDS 111 Freqüência de visita Veículo de informação Frequência de Visita Veículo de Inform ação

5% 7% 3% 5% AmAmigos igos 11% RadiRádio,o, TV PrPrimeiraimeira vez vez ReviRevistasstas MaiMaiss de de um uma a vez vez EmEmpresas presas 40% Não responderam 55% Não respoderam 3% JorJornalnal 71% OutOutrosros

Época de preferência Objetivo da visita Época de preferência Objetivo da Visita

9% 28% OutOutonoono 37% 38% RecrRecreaçãoeação 20% PriPrimaveramavera EstEstudoudo IInvernonverno DDescanso escanso VerVerãoão R econheimento 2% Reconhecimento 2% Sem preferênciapreferência TurTurismoism o 18% Não responderamre s p o n d e ra m 14% 25% 7%

Proporção de gênero Faixa etária Proporção de gênero Faixa Etária

10 a 19 anos 9% 3% 7% 42% 20 a 29 anos anos 13% 30 a 39 anos 34% 30 a 39 anos Homens 40 a 49 anos anos 55% MulheresMulheres 50 a 59 anos anos Não responderam Não responderam AcimaAcima de 60 anos anos 34% 3%

Como fo foi i atendi atendidodo ImpressõesIm pressões sobre sobre a visitaa visita

3% 1% 7% 6% 6%

Bem ÓtÓtimaima Mal Boa R egular Regular Regular 50% Regular Ruim Não responderamresponderam 38% Ruim

89%

Pontos PontosFracos da fracos Visita da visita PontPontosos Fort fortees da Vi dasita visita FalFaltata de de orient orientaçãoação LiLixoxo S anitários 4% 11% Sanitários 29% A bandono abrigos 2% 6% 3% abandono de abrigos 1% Propriedades particulares 11% BelezaBeleza NaturalNatural 8% Propriedades particulares ViasVias de acesso Má conser conservaçãova ç ã o OrganizaçãoOrganização ViViasas de de acesso acesso 4% MuseuM useu EExcesso xcesso de de visi visitantestantes Outros 15% 8% Outros 19% Outros Outros 61% 2% 16% Não responderamresponderam NNão ão responder responderamam

112 CADERNOS FBDS O que o Parque deve oferecer Sugestões

O que o Parque deve oferecer Não responder responderamam Sugestões RestRestauranteaurante PlPlacasacas indi indicativascativa s InfInfra-estruturara-estrutura EstEstudosudos de de fauna fauna e flor ea flora EstEstacionamentoacionam ento GuiGuiasas e elanchonet lanchonetee PostPostoo médi médicoco ÁrÁreaseas de de lazer lazer PlPlacasacas indi indicativascativa s CConservação onservação e limpeza e limpeza RefReformaorma do M do useu museu IInfra-estruturanfra-estrutura PlPlacasacas educat educativasiva s ConfConfortoorto e segur e segurançaança CConservação, onservação, limpeza limpeza OrOrientaçãoientação e sani e sanitáriostários GuiGuiasas especi especializadosalizados E ducação am biental 0% 5% 10% 15% 20% BelBelezaeza Nat naturalural Educação ambiental 0% 5% 10% 15% 20% 25% Folheto informativo PrPreservaçãoeservação Folheto informativo Frequência C onservação de vias Frequência FrequênciaFrequência Conservação de vias

te cinco meses, onde foram aplicados 431 questio- No trabalho desenvolvido pelo SEBRAE/RJ nários, correspondendo a 0,48% do total de visi- (1996), a coleta de dados foi feita com sete pes- tantes do ano de 1990. A amostragem utilizada foi quisadoras em um final de semana prolongado determinada a partir do tamanho da população, (7 de setembro) totalizando quatro dias, no sendo analisados a proporção do fluxo semanal e portão do Parque e nos hotéis. Maiores informa- mensal, visando a compreensão da sazonalidade ções podem ser obtidas com Laura Knoch característica do PNI. A amostragem utilizada foi, ([email protected]). As perguntas fei- portanto, representativa, retratando, com fidelida- tas aos visitantes foram: motivo da viagem, como de, a realidade da demanda turística do Parque. A aproveitou o seu tempo livre, faixa etária, meio aplicação de questionários obedeceu a critérios de de transporte, hospedagem, procedência , pro- proporcionalidade quanto aos horários e épocas de fissão, quanto pretende gastar nesta cidade, o que maior fluxo de visitação, incluindo a diferença en- induziu a vir para Itatiaia, viagens organizadas tre os dias da semana e férias, e da região do pla- por agências, expectativa quanto à oferta turís- nalto em relação à parte baixa. Foram escolhidos tica, qualificação da oferta turística, veículo de dois pontos de intensa visitação para a aplicação propaganda. Algumas das informações deste le- dos questionários: a ponte do Maromba e o estaci- vantamento podem ser visualizadas abaixo. onamento do Abrigo Rebouças.

OriOrigemgem dos Vi dossita visitantes n te s ViagemViagem organizada O rganizada porpor Agênci agênciasas

1 67 42 EstEstrangeirosrangeiros 390 224 OutOutrosros EstadosEstados Sem respostasResposta 311 SãoSão PauloPaulo 121 Não RiRioo de JaneiroJaneiro SiSimm

0 100 200 300 400 0 100 200 300 400 Freqüência FrequênciFreqüênciaa Frequência

Local de H ospedagem Profissão dos Visita n tes Local de hospedagem Profissão dos visitantes

FunciFuncionárioonário Público público 87 17 AAdvogado dvogado 8 Não respondeuR espondeu 18 EmEmpresário presário 20 Estudante 20 Casa amigosAm igos 25 Estudante 70 Pousadas MMédico édico 131 Casa própriaPrópria 37 ComerComercianteciante 42 Professor 308 Passeio Professor Passeio 54 HotHotéiséis EEngenheiro ngenheiro

0 100 200 300 400 0 102030405060 FrequênciFreqüênciaa FrequênciFreqüênciaa

CADERNOS FBDS 113 Quanto pretende gastar nesta cidade

NÚMERO DE ENTREVISTADOS VALOR 554 Média R$ 265,00 24 não responderam - Total 578 Total R$ 153.185,00

4.2 Satisfação do usuário no PNI 1 e na Tabela 6 correspondem aos meses de mar- No Parque existe uma caixa de sugestões lo- ço a outubro de 1998. É possível verificar que a calizada no Centro de Visitantes. O Chefe do Par- maior parte das sugestões referem-se ao tema uso que, a partir do mês de março de 1998, passou a público. A Tabela7 especifica o assunto referente analisá-las. Os resultados apresentados na Figura a cada um dos temas. FIGURA 1 Freqüência de sugestões deixadas pelos visitantes no Museu

ADMINISTRAÇÃO ED. AMBIENTAL

OUTROS PESSOAL USO PÚBLICO

0 25 50 75 100 125 150 175 200 225 250 275 300 325 350 375 400 425

TABELA 6 Temas e assuntos referentes às sugestões dos visitantes TEMA ASSUNTO Nº SUGESTÕES Administração Taxa ingresso 58 Recursos 1 Ed. Ambiental Lixo, poluição 20 Informações 16 Vida silvestre 14 Palestras 5 Cx. sugestão 2 Outros Elogios 86 Outros 9 Pessoal Vigilância 15 Servidores 2 Uso Público Museu 182 Estradas 56 Sinalização 37 Banheiros 31 Lanchonete 18 Pontos turísticos 14 Transporte 13 Guias turísticos 12 Água 9 Trilhas 9 Proteção 7 Orelhão 5 P.vendas 5

114 CADERNOS FBDS Baseado nas sugestões analisadas, o Chefe à caixa de sugestões, visando monitorar e acom- do PNI elaborou e implantou uma ficha, que panhar a opinião do público a respeito dos servi- substituirá os papéis em branco deixados junto ços e estruturas do PNI.

Pesquisa de satisfação do visitante

CÓD SERVIÇO PERGUNTA SIM NÃO A1 taxa de visitação o valor é justo? A2 taxa de estacionamento o valor é justo? E1 o material informativo é adequado, suficiente? E2 os sacos de coleta de lixo são adequados, suficientes? E3 os latões de lixo são adequados, suficientes? O1 o parque gostou do parque como um todo? P1 o pessoal do parque é atencioso, educado? U1 as estradas são adequadas? U2 as trilhas são adequadas? U3 as placas de sinalização são adequadas, suficientes? U4 os pontos turísticos gostou dos pontos turísticos? U5 o museu gostou do museu? U6 os sanitários são adequados, suficientes? U7 locais para alimentação deveria existir, faz falta? U8 venda de produtos deveria existir, faz falta? U9 transporte interno deveria existir, faz falta? U10 a limpeza é adequada, suficiente? U11 a manutenção é adequada, suficiente? U12 a segurança é adequada, suficiente?

4.3 Fluxo de Visitação no PNI gráficos sobre a visitação nas décadas de 40 e 50. Diversas informações sobre fluxo de A Figura 5, abaixo, apresenta o crescimento do visitação foram coletadas na administração, nos fluxo de visitação em alguns anos referentes ao relatórios anuais e no trabalho de MAGRO período de 1937 a 1998, que passou de 285 para (1999). Na biblioteca do PNI existem registros e cerca de 85.000 visitantes.

Fluxo de Visitação no PNI Fluxo de visitação no PNI

84.514 90000 72.332 80000

70000 56.947 1937 60000 42.746 1947 50000 1957 40000 1967

Nº de visitantes 1987 30000

No de Visitantes 1998 20000 10.000 285 10000

0 AnosAnos

CADERNOS FBDS 115 4.4 Uso de Estruturas de Uso Público do PNI Os dados indicam um pequeno número de solici- tações para uso das estruturas do Parque com a As Tabelasa seguir mostram os tipos de pedi- finalidade de desenvolvimento de estudos. Não dos para uso de infra-estruturas do PNI e as insti- existem dados a respeito das solicitações efetiva- tuições requerentes, nos anos de 1998, 1984 e 1958. mente autorizadas pelos chefes do PNI.

TABELA 7 Número de pedidos de uso de estruturas e total de usuários. Tipo de atividade para cada local de uso público do PNI em 1998

LOCAL TIPO DE ATIVIDADE Nº DE PEDIDOS Nº TOTAL DE USUÁRIOS Abrigo 3 Pernoite/pesquisa 5 31 Abrigo Rebouças Pernoite/pesquisa 9 97 Acampamento Rebouças Pernoite/instruções salvamento 15 229 Planalto Reconhecimento/fotos/coleta/visita/ 14 34 filmagens/retirada equipamentos/ pesquisa/pouso de helicóptero Estrada da Água Branca Roçada/observação de aves 2 11 Planalto e parte baixa Visitas de 2 dias 11 178 Parte baixa Visitas 3 367 Centro de Vivência Ginástica 1 40 Estrada de Furnas Manutenção de equipamentos 12 33 de rádio comunicação Fonte: Ofícios endereçados ao PNI em 1988

116 CADERNOS FBDS TABELA 8 Número de pedidos de uso de estruturas por instituição no ano de 1998

INSTITUIÇÕES Nº DE PEDIDOS Não identificadas/particulares/pesquisadores 11 Empresa Bandeirante de Energia 9 Eletropaulo 5 BYR (Cidade do Aço) 3 Clube Alpino Paulista 3 ESALQ/FBDS 2 UFRJ 2 UGGI Educação Ambiental 2 Academia Militar de Agulhas Negras 1 ATV Atibaia 1 Batalhão de Operações Especiais de Fuzileiros Navais 1 BOPE – Batalhão de Operações Especiais 1 Centro de Ensino Moderno 1 Centro de Instruções de Aviação do Exército 1 Cine Cinematográfica S/C Ltda 1 Colégio Integrado Rio Pardense 1 Colégio Progresso Campinas 1 CRAVAP 1 EEPG Oswaldo Cruz 1 E. M. Macaé 1 Expedição Agulhas Negras de Radio amadorismo 1 GEAN 1 Grêmio de Assistência Estudantil 8 de Abril 1 Grupamento de Socorro Florestal e Meio Ambiente 1 Grupo Excursionista Pedra Branca 1 PMERJ 1 Prefeitura Municipal de Itatiaia 1 Prefeitura Municipal de Resende – Secr. Saúde 1 Primeiro Batalhão de Forças Especiais 1 Projeto Mata Atlântica – Jardim Botânico do RJ 1 Projeto Qualidade de Vida 1 SESC Consolação 1 Superestúdio Brasil Produção Executiva 1 TV Rio-Sul 1 UERJ 1 União dos Escoteiros do Brasil 1 UNICERJ 1 Universidade Brás Cubas e Mogi das Cruzes 1 VII Congresso de Ornitologia 1 Fonte: Ofícios endereçados ao PNI em 1998

CADERNOS FBDS 117 TABELA 9 Número de pedidos de uso de estruturas e total de usuários e tipo de atividade, para cada local de uso público do PNI em 1984 LOCAL TIPO DE ATIVIDADE Nº DE PEDIDOS Nº TOTAL DE USUÁRIOS Abrigos 1,2,3,4 Estadia 7 51 Casas 1,5,12,13,18,19,21,22 Estadia 10 73 Acampamento Rebouças Estadia 16 Não consta Fonte: Relatório Anual de 1984

TABELA 10 Número de pedidos de uso de estruturas por instituição no ano de 1984 INSTITUIÇÕES Nº DE PEDIDOS IBDF 4 Pesquisa 1 Particulares 3 Fonte: Relatório Anual de 1984

TABELA 11 Número de pedidos de uso de estruturas e total de usuários, tipo de atividade para cada local de uso público do PNI em 1958 e 1959 LOCAL TIPO DE ATIVIDADE Nº DE PEDIDOS Nº TOTAL DE USUÁRIOS Abrigo Rebouças (ponta da Estrada) Estadia 2 - PNI Palestra e excursão 2 25 Abrigo Macieiras Estadia 1 6 Abrigo Excursionistas Estadia 1 - Fonte: Relatório Anual de 1958 e 1959

TABELA 12 Número de pedidos de uso de estruturas por instituição nos anos de 1958 e 1959

INSTITUIÇÕES Nº DE PEDIDOS Clube Excursionista Jaraguá 1 Clube de Geografia da UB 1 Clube Excursionista da Serra do Mar 1 Escola Nacional de Agronomia – Universidade Rural 1 Fonte: Relatório Anual de 1958 e 1959

118 CADERNOS FBDS Uso Público no Parque Nacional do Itatiaia PARTE II: RESULTADO DAS AVALIAÇÕES DE IMPACTO

Teresa Cristina Magro (1) Valéria M. Freixêdas Vieira (2)

facilitando a identificação dos principais proble- mas encontrados e as prioridades de ação. As sugestões de estratégias de manejo a serem adotadas pela administração, em relação a cada um dos impactos apontados, podem ser consul- tadas na Parte 2. Segundo as Tabelas 14 e 15, as trilhas avali- adas apresentaram em sua maior parte verificadores do leito de trilha, indicando neces- sidade de manutenção, sinalização e recupera- ção da vegetação em caminhos não oficiais. As trilhas da parte baixa evidenciaram, ainda, gran- qui são apresentados os resultados das A de quantidade de verificadores de vegetação, coletas sistemáticas de dados, efetuadas nos anos danos e segurança, apontando prioridades quan- de 1998 e 1999, sobre impactos biofísicos e sociais. to à implantação de estruturas e rondas.

1. Resultados dos Impactos 1.2 Avaliações das Áreas de Camping no PNI Biofísicos 1.1 Avaliações Biofísicas das Trilhas Em 1999, foi identificada apenas uma área oficial de camping dentro do PNI, localizada na A Tabela 13 mostra a extensão das trilhas parte alta, próxima ao abrigo Rebouças. Duran- avaliadas, a época da avaliação e a forma de te vários anos, esta área esteve desativada devi- amostragem utilizada para a avaliação biofísica do a problemas de vazamento da fossa e conta- de cada uma. O número de pontos amostrados, minação dos recursos hídricos do planalto. Du- algumas vezes, é superior ao esperado, pois fo- rante o período de fechamento que ocorreu em ram contabilizadas as avaliações de trilhas não 1991, o único usuário deste local foi a AMAN – oficiais no número de pontos totais de cada tri- Academia Militar das Agulhas Negras - que pro- lha. move treinamento de cadetes nesta área no mês As Tabelas 14 e 15 apresentam os resulta- de julho. A partir do início de 1999, a área de dos, em termos de porcentagem de percurso de camping do Rebouças foi reaberta para o uso de cada trilha, referentes a cada um dos indicado- outras entidades. Existem, nesta mesma área, sa- res de impacto avaliados. Estas duas tabelas per- nitários (os únicos disponíveis na parte alta) que mitem uma visualização comparativa entre as foram reformados no ano de 1998, mas, por pro- trilhas da parte alta e as trilhas da parte baixa, blemas de depredação, são destinados apenas ao

CADERNOS FBDS 119 TABELA 13 Época de avaliação e forma de amostragem para cada uma das trilhas dos PNI

LOCAIS EXTENSÃO DIST. ENTRE PONTOS Nº DE PONTOS DATA

Parte Baixa Trilha no Mirante Último Adeus 60 m 10 m 6 18.07.98 (não oficial) Trilha do Lago Azul 460 m 10 m 46 17.07.98 Acesso às Churrasqueiras 200 m 10 m 33 17.07.98 Trilha Poranga 400 m 10 m 47 16.07.98 Trilha Véu da Noiva 340 m 10 m 43 15.07.98 Trilha Itaporani 370 m 10 m 43 15.07.98 Trilha Piscina do Maromba 120 m 10 m 12 15.07.98 Trilha dos 3 Picos 5.554 m 200 m 30 11.02.99 Parte Alta Trilha das Agulhas Negras (base) 1.298 m 50 m 29 23.07.98 Trilha das Prateleiras (base) 2.190 m 50 m 23 24.07.98 Trilha do Paredão/Panorâmica 150 m 50 m 3 24.07.98 Trilha da Tartaruga e Maçã 306 m 50 m 6 24.07.98

TABELA 14 Porcentagem do percurso que apresenta os indicadores, verificadores e descritores de impactos biofísicos avaliados nas trilhas da parte alta do PNI PARTE ALTA LOCAIS INDICADORES VERIFICADORES DESCRITORES PR AG TM PA Vegetação Pisoteio da veg. fora da trilha % da trilha 100% 97% 100% 100% Incêndio % da trilha - - - - Solo nu fora da trilha % da trilha - 3% - - Veg. degradada fora da trilha % da trilha 4% 14% - - Leito da Trilha Canal % da trilha 78% 69% 33% - Sulco % da trilha 17% 24% - - Erosão lateral % da trilha 83% 72% 33% - Má drenagem % da trilha 70% 86% 67% 67% Trilhas não % da trilha 96% 93% 83% 100% oficiais Nº Total 178 200 49 16 Profundidade % da trilha 13% 28% - - >50 cm Prof. máxima 0,92 m 1,25 m - - Segurança Risco escorregar % da trilha 30% 48% 17% - Risco Fatal % da trilha - - - - Danos Vandalismo % da trilha - - - - Inscrições rochas % da trilha 4% - 17% - PR – Prateleiras; AG – Agulhas Negras; TM – Tartaruga e Maçã; PA – Paredão ou Panorâmica

120 CADERNOS FBDS TABELA 15 Porcentagem do percurso que apresenta os indicadores, verificadores e descritores de impacto avaliados nas trilhas da parte baixa do PNI PARTE BAIXA LOCAIS INDICADORES VERIFICADORES DESCRITORES 3P UA PO PM VN IT LA CH Vegetação Galhos quebrados % da trilha 10% 33% 47% 7% 12% 21% 4% 6% Árvores c/danos % da trilha - 17% 13% 21% 21% 30% 17% 6% Exp. superf. de raízes % da trilha 53% 91% 7% 65% 81% 35% 30% Exp. profunda de raízes % da trilha 33% - 62% - 42% 65% 7% 9% Incêndio ------Solo nu fora da trilha % da trilha - 33% - 7% 9% 7% 4% 27% Veg. degradada fora da trilha % da trilha 10% 67% 49% 7% 37% 21% 52% 33% Leito da Canal % da trilha 10% - 38% - 9% 14% 17% - Trilha Sulco % da trilha 7% - 9% - - 2% - - Erosão lateral % da trilha 30% - 2% - 3% 14% 9% 12% Exposição pedras % da trilha 23% 17% 47% - 21% 65% 4% 3% Má drenagem % da trilha 50% - 85% - 52% 67% 4% - Trilhas não oficiais % da trilha 3% 17% 9% - 19% 16% 7% 9% Profundidade % da trilha ------2% - >50 cm Prof. máxima ------0,80 - Segurança Risco escorregar % da trilha 30% - 63% - 7% 44% 4% - Risco Fatal % da trilha 17% - 9% 14% 7% 7% - - Danos Vandalismo % da trilha - 17% - - 3% - - - Inscrições rochas % da trilha 3% 83% - 7% 49% 7% - 3% 3P – Três Picos; UA – Último Adeus; PO – Poranga; PM – Piscina do Maromba; VN – Véu da Noiva; IT – Itaporani; LA – Lago Azul; CH – Churrasqueiras

uso dos campistas. O Plano de Manejo do PNI locais são mais esporádicos e menores, sempre relata a existência de uma área oficial de cam- próximos a cursos d’água e suficientes para não ping na parte baixa, junto à área da administra- mais que 3 ou 4 barracas. Também em algumas ção, mas esta foi desativada em função de con- áreas afastadas da estrada principal, formam-se flitos de uso gerados junto aos moradores e por pequenos trechos de estrada para que os carros estar localizada dentro da Zona de Uso Especial cheguem até a área do camping e estacionem (IBAMA, 1994). próximo às barracas. Até fevereiro de 1999, uma placa escrita Em praticamente todas as áreas de camping, manualmente, no Posto 3, advertia sobre a proi- verificou-se a existência de fogueiras, em geral bição de realizar acampamentos dentro da área montadas com pedras ao redor. A lenha para no Parque, sendo nessa data substituída por ou- muitas delas é retirada de arbustos da prórpia tra, em conformidade com o padrão já encon- área. Já o capim seco das touceiras é retirado para trado no PNI. Apesar disso, existem diversos re- forrar o chão onde as barracas são montadas. latos de acampamentos na Pedra Selada, na tra- Verificou-sepapel higiênico espalhado em trilhas vessia Alsene Serra Negra, no Aiuruoca e na tra- mais fechadas, que provavelmente são usadas vessia para Mauá. como “sanitários”. As áreas de camping passam Além destas, outras áreas são utilizadas para a maior parte do dia vazias, pois os usuários cos- camping; embora fora do limite da portaria, en- tumam passear no Parque e na região, regressan- contram-se localizadas dentro da área do Parque, e do à noite. Houve reclamações sobre o compor- se estendem desde o km 8 da estrada de acesso tamento de grupos grandes que fazem barulho (localidade chamada de Brejo da Lapa), até 200 m e bagunça durante a noite. Houve também quei- antes da guarita de entrada, concentrando-se xas sobre roubo de barracas na antiga sede da principalmente próximo ao Hotel Alsene. Estes Fazenda, localizada no km 9.

CADERNOS FBDS 121 A avaliação de áreas do PNI utilizadas como A Tabela16 mostra os resultados gerais para locais de camping pelos visitantes do Planalto as duas épocas de avaliação, evidenciando as con- ocorreu no inverno de 1998 (dias 23 e 24 de ju- dições em que se encontravam as referidas áre- lho) e no verão de 1999 (dia 16 de fevereiro). Em as. Os indicadores de danos à vegetação e de pro- julho foram avaliadas 16 áreas, totalizando blemas de saneamento ficaram em evidência, 14.680 m2. Em fevereiro foram avaliadas 19 áre- demonstrando necessidade de maiores cuidados as com um total de 21.332, 64 m2. em relação a esta atividade.

TABELA 16 Percentual de ocorrência dos indicadores de impacto nas avaliações biofísicas de áreas de camping no inverno e verão ÁREAS DE CAMPING JULHO/98 FEVEREIRO/99 (16 áreas (19 áreas avaliadas) avaliadas) INDICADOR VERIFICADORES DESCRITORES Vegetação Área de solo nu % de áreas 53% 53% Área total geral (m2) 1.147 1.094 Área de vegetação % de áreas 88% 95% degradada Área total geral (m2) 13.434 19.517 Arbustos com % de áreas 29% 42% galhos quebrados Nº máximo/área 100 30 Indícios de fogo % de áreas 53% 74% Nº máximo/área 12 8 Saneamento Dejetos % de áreas 6% 58% Lixo espalhado % de áreas 19% 47% Insetos no lixo % de áreas 6% 21%

Vegetação de campos de altitude e abrigo na alta montanha. (foto Valéria M. F. Vieira)

122 CADERNOS FBDS 1.3 Avaliação de Infra-estruturas do PNI truturas de visitação do PNI. Na parte alta, fo- Na parte baixa do PNI, foram realizadas 24 ram realizadas 4 avaliações. A Tabela 17 apre- avaliações, correspondentes a 28 estruturas que senta os indicadores de impacto analisados e os compreendem moradias de residentes e funcio- percentuais correspondentes à freqüência de nários, estabelecimentos comerciais e infra-es- ocorrência em cada uma das regiões do Parque.

TABELA 17 Percentual de ocorrência dos indicadores nas avaliações de moradias e estruturas

MORADIAS E ESTRUTURAS PARTE BAIXA PARTE ALTA (24 avaliações) (4 avaliações)

INDICADORES VERIFICADORES DESCRITORES OCORRÊNCIA OCORRÊNCIA

Saneamento Cheiro de lixo % de áreas 24% 25% Lixo fora dos latões % de áreas 36% 25% Lixo ao redor das construções % de áreas 60% 75% Insetos no lixo % de áreas 16% 25% Dejetos % de áreas - - Problemas na fossa % de áreas - 25% Cheiro de urina % de áreas 4% - Cheiro de esgoto % de áreas 16% 25% Entulho % de áreas 64% 75% Danos Vandalismo estruturas % de áreas 20% 25% Inscrições em rochas % de áreas 4% - Conflitos de uso Barulho % de áreas - 25% Música alta % de áreas - - Manifestos religiosos % de áreas - - Brigas % de áreas - - Fauna Mudança comportamento animal % de áreas 24% - Animais domésticos % de áreas 16% 25% soltos Nº máximo/área 5 2 Animais silvestres % de áreas - - presos Animais atropelados % de áreas - - Vegetação Coleta de plantas % de áreas - - Derrubada de árvores % de áreas 24% 25% Indícios de fogo % de áreas 12% 75% Nº máximo/área 2 1 Árvores danificadas % de áreas - - Presença sp exóticas % de áreas 100% 25%

A partir destes dados biofísicos, foram selecionadas estratégias para cada um dos impactos avaliados e que são apresentados no Item III.3

CADERNOS FBDS 123 2. Resultados dos Impactos Sociais Tempo de Espera nas Trilhas Analisando-se as respostas obtidas nos A seguir estaremos indicando resultados questionários por local de visitação, verificou- obtidos na avaliação dos impactos sociais. Em se que, na parte alta, o local onde as pessoas mais geral, cada uma das trilhas possui um atrativo esperaram para andar foi a trilha das Agulhas Ne- que se situa em sua parte final. As trilhas e seus gras, chegando a 60 minutos de espera. Na tri- atrativos foram analisados separadamente quan- lha das Prateleiras não houve congestionamen- to ao comportamento dos usuários. to, segundo a percepção dos visitantes. Já na par- te baixa, as trilhas da AD Maromba (trilha da 2.1 Percepção dos Visitantes sobre Piscina do Maromba e trilha do Véu da Noiva) Congestionamento ou Lotação foram as que mais apresentaram tempo de espe- ra, chegando a 30 minutos. O mirante do Últi- Com o objetivo de verificar a percepção do mo Adeus fica em segundo lugar, seguido da tri- visitante quanto ao congestionamento das tri- lha do lago Azul. lhas e demais locais de visitação, foram aplica- Já quando se analisam os dados por época dos 438 questionários durante o período de de aplicação dos questionários (Tabela 219), os 15.07.98 a 14.02.99. As épocas de aplicação refe- resultados encontrados mostram que, das épo- rem-se a períodos em que o Parque teve maior cas avaliadas, a de maior quantidade de conges- fluxo de visitação, como: férias de julho, feriado tionamento nas trilhas, foi o carnaval de 1999, de sete de setembro e feriado de carnaval. A for- com 17% das respostas, mas o maior tempo de ma de aplicação foi de um questionário por gru- congestionamento encontrado foi em julho, po ou por veículo, buscando-se abranger o máxi- onde o tempo de espera chegou a 60 minutos. mo em diversidade de experiências e opiniões. Nas três épocas de avaliação, a AD Ponte do Os locais de aplicação dos questionários, suas Maromba foi citada como a mais congestiona- respectivas épocas e quantidades podem ser da, seguida da trilha Poranga. A trilha das Agu- visualizados na Tabela 18. lhas Negras só foi citada como congestionada em julho, ocasião em que a parte alta é mais procu- rada para as práticas de escalada e caminhada.

TABELA 18 Questionários aplicados, respectivos locais e épocas de aplicação quanto à percepção dos visitantes sobre lotação no PNI LOCAIS ÉPOCA DE APLICAÇÃO Nº QUESTIONÁRIOS PARTE BAIXA JUL/98 SET/98 FEV/99 Portaria (Portão 1) 17 a 19 - - 27 Último Adeus 18 a 19 - 13 a 15 35 Centro de Visitantes 17 a 19 6 a 8 13 a 17 105 Poranga 18 a 19 8 14 a 17 43 Maromba 15 a 19 6 13 a 17 124 Sub total 334

PARTE ALTA Portaria (Portão 3) 25 a 26 - - 73 Trilha das Agulhas Negras 23 - 13 a 15 18 Trilha das Prateleiras 24 - 14 a 15 13 Sub total 104 TOTAL 263 32 143 438

124 CADERNOS FBDS Número de Encontros nas Trilhas percebe-se que os principais motivos de reclama- e Atividades Praticadas ções foram com relação à lotação, barulho e dis- O número máximo de pessoas encontradas posição inadequada de lixo e dejetos. A Tabela nas trilhas da parte alta foi de 150 pessoas. Na 19 aponta que o comportamento dos outros vi- parte baixa este número elevou-se para 300. Na sitantes interferiu negativamente sobre a quali- parte alta, o único lugar onde encontraram-se dade da visita, com maior intensidade na época pessoas tomando banho de cachoeira foi no ca- do carnaval, seguido do feriado de setembro, épo- minho para a trilha das Prateleiras (cachoeira das cas de maior quantidade de pessoas no Parque. Flores). É comum na parte alta encontrar pesso- Na parte alta, apenas 3% do público afir- as fazendo lanche, principalmente nesta trilha. maram que o Parque estava extremamente Na parte baixa, o lugar mais comum para se fa- lotado. Na parte baixa, esta resposta obteve de 3 zer lanche é na área das churrasqueiras, cujo aces- a 9% de frequência. Quanto à lotação, o Parque so é feito pela trilha do lago Azul. foi considerado extremamente lotado por maior O carnaval foi a época onde os visitantes quantidade de visitantes no feriado de setembro, perceberam o maior número de encontros nas seguido do carnaval. trilhas, chegando ao número de 300 pessoas, e Sugestões e Comentários também o maior número de pessoas tomando O Anexo B apresenta os comentários e su- banhos. O maior número de pessoas que se ali- gestões mais frequentes obtidos nos questioná- mentaram nas trilhas foi percebido pelos usuários rios, em relação a infra-estrutura e serviços ofe- no mês de julho, seguido do feriado em setembro. recidos no PNI por local de aplicação. Os comen- tários mais frequentes sobre a infra-estrutura do Comportamento e Lotação Parque foram quanto às condições da estrada, Na parte alta, apenas de6a8%dosvisitan- sinalização do Parque e das trilhas, com infor- tes que responderam ao questionário julgaram mações sobre as condições e características das que o comportamento dos outros visitantes pi- mesmas. Sobre os serviços, as respostas mais fre- oraram a qualidade de sua visita, enquanto que quentes foram sobre: o preço do ingresso e da de 46 a 55% afirmaram que os outros visitantes taxa de carro em função do que é oferecido; mai- melhoraram sua visita. or número de fiscais e vigilantes e melhor ma- Quando analisamos a parte baixa, vemos nutenção das trilhas. que de 9 a 14% dos visitantes julgaram que ou- tros usuários interferiram negativamente em sua Entrevistas ou Questionário? visita, e 12 a 29% afirmaram que os outros me- lhoraram a qualidade de sua visita. A Tabela 21 A maioria dos que responderam ao questio- mostra a frequência de respostas em relação à nário (de 50 a 89%) prefere respondê-lo sozinho qualidade da visita frente aos outros usuários e a ser entrevistado.

CADERNOS FBDS 125 TABELA 19 Respostas dos questionários quanto à percepção de lotação por época de aplicação

LOCAIS JULHO/98 SETEMBRO/98 FEVEREIRO/98 PERGUNTAS RESPOSTAS RESPOSTAS RESPOSTAS (263 questionários) (32 questionários) (143 questionários) Você teve que esperar Não: 93% Não: 83% Não: 71% para andar nas trilhas? Sim: 7% Sim: 17% Sim: 29% Quanto tempo teve que esperar? 1 a 60 min 1 a 20 min 1 a 45 min Quantas pessoas encontrou 1 a 150 2 a 200 4 a 300 nas trilhas? Média: 22 Média: 36 Média: 47 Quantas pessoas encontrou 1 a 60 1 a 70 2 a 100 tomando banho? Média: 1 Média: 7 Média: 13 Quantas pessoas encontrou 1 a 100 0 a 70 2 a 30 fazendo lanche ou churrasco? Média: 1 Média: 2 Média: 1 Qual a nota para a visita ao PNI? 3 a 10 5 a 10 4 a 10 Média: 8,5 Média: 8,7 Média: 8,3 Como os outros visitantes Não afetou: 67% Não afetou: 67% Não afetou: 58% afetaram minha visita? Melhorou: 28% Melhorou: 23% Melhorou: 24% Piorou: 5% Piorou: 10% Piorou: 18% O parque estava lotado? Não: 45% Não: 23% Não: 18% Pouco: 36% Pouco: 27% Pouco: 30% Moderado: 17% Moderado: 30% Moderado: 41% Extremamente:2% Extremamente: 20% Extremamente: 11% Você prefere: Entrevista: 21% Entrevista: 36% Entrevista: 44% Responder sozinho: 68% Responder sozinho: 57% Responder sozinho: 48% Ambos: 11% Ambos: 7% Ambos: 8%

TABELA 28 Número total de encontros com pessoas por trilha do PNI e respectivos números de encontros por tamanho de grupo, nos três períodos avaliados

NÚMERO TOTAL DE ENCONTROS POR TAMANHO DE GRUPO LOCAL PESSOAS GRUPOS GRUPOS GRUPOS GRUPOS Nº TOTAL DE ISOLADAS DE 2 DE 3-5 DE 6-15 > 45 ENCONTROS/TRILHA Véu da Noiva 9 76 81 44 0 1064 Prateleiras (base) 10 74 73 43 0 867 Lago Azul 5 97 104 26 0 862 Agulhas Negras (base) 6 61 39 27 0 650 Itaporani 10 71 41 13 0 426 Museu 6 50 53 16 0 363 Piscina 10 34 31 6 0 238 Poranga 8 31 14 9 0 212 Churrasqueiras 7 11 10 5 0 101 Último Adeus (acesso) 0 6 5 0 0 32 Total 71 511 451 189 0 4815

126 CADERNOS FBDS TABELA 21 Frequência de opinião dos visitantes quanto ao motivo de perda ou ganho de qualidade da visita em relação aos outros usuários PORQUE OS OUTROS VISITANTES FREQUÊNCIA DE RESPOSTAS MELHORARAM MINHA VISITA Tornaram o passeio mais agradável 2 Ajudaram a encontrar o caminho 1 PIORARAM MINHA VISITA Lotação nas cachoeiras, trilhas e caminhos mais difíceis 18 Falta de educação, lixo 10 Comportamento, barulho 9 Muitos carros e lotação do parque 5 Comportamento e barulho no camping 4 Pessoas despreparadas para andar nas trilhas 3 Falta conhecimento sobre conservação 3 Dejetos em locais inadequados 2 Pessoas não tem paciência para esperar 1 Jogaram pedras no lago 1 Entraram com cachorro 1 Cigarro 1

2.2 Avaliações Sociais ram realizadas, em todos os atrativos e trilhas do Parque com uso público, avaliações sociais conten- As avaliações sociais das trilhas do PNI fo- do os indicadores citados. O método utilizado foi ram realizadas com o intuito de verificar o nível de o de percorrer as trilhas a cada hora, marcando na impacto existente relacionado aos indicadores: ficha correspondente os indicadores de visitação visitação (número de encontros nas trilhas), no percurso de ida e, no retorno, os outros indica- condições de saneamento, dores existentes. Maiores detalhes sobre a coleta e comportamento dos visitantes e condições de análise destes dados podem ser consultados no segurança oferecidas. Plano de Monitoramento. A Tabela 22 mostra o Para tanto, em três épocas do ano com gran- número total de avaliações realizadas em cada uma de fluxo de visitação (julho, feriado de sete de se- das trilhas e o número total de avaliações realiza- tembro de 1998 e feriado do carnaval de 1999), fo- das no PNI.

TABELA 22 Número de avaliações e época de realização em cada uma das trilhas do PNI LOCAL Nº DE AVALIAÇÕES ÉPOCA Trilha das Agulhas Negras 28 Jul/ Fev Trilha das Prateleiras 29 Jul/ Fev Mirante Último Adeus 37 Jul/Set/Fev Trilha do Véu da Noiva 44 Jul/Set/Fev Trilha da Poranga 32 Jul/Set/Fev Trilha da Piscina do Maromba 37 Jul/Set/Fev Trilha de Itaporani 40 Jul/Set/Fev Centro de Visitantes 47 Jul/Fev Trilha do Lago Azul 49 Jul/Set/Fev Acesso às churrasqueiras 36 Jul/Set/Fev Total 379 -

CADERNOS FBDS 127 Visitação frequência encontra-se entre os horários de 12:00 às 14:00 h. Todas as classes de grupos acompa- A Tabela 20 demonstra que as trilhas mais nham este mesmo comportamento. visitadas nos períodos avaliados foram: Véu da Quando se observa o “número total de en- Noiva, Prateleiras, lago Azul e Agulhas. A trilha contros por trilha” e “por atrativo”, por época de menos visitada foi o acesso às Churrasqueiras. avaliação, percebe-se que o feriado do mês de Na parte baixa, as trilhas mais conhecidas e fevereiro (carnaval) superou os outros dois perí- sinalizadas são justamente a trilha do Véu da odos (julho e setembro), assim como o número Noiva e a trilha do Lago Azul. A sinalização para de pessoas nos atrativos nesta época foi pratica- a trilha do Itaporani e para o acesso às mente o dobro do número de pessoas encontra- Churrasqueiras necessita de melhorias. Na parte das nas trilhas. As temperaturas mais elevadas alta, a trilha das Prateleiras é considerada como do mês de fevereiro provavelmente fez com que mais fácil que a das Agulhas, sendo bastante as pessoas se concentrassem nas piscinas natu- utilizada. rais. A Figura 7 apresenta as diferenças entre o Dentre os tamanhos de grupos mais fre- número de pessoas nos atrativos e nas trilhas quentes que se formam na caminhada nas tri- para as três épocas de avaliação. lhas, os de duas pessoas e os de3a5visitantes Quando se considera cada um dos atrati- ficam em destaque. Grupos maiores de 45 pes- vos, e não mais as trilhas, os que alcançaram soas e visitantes isolados foram os menos fre- maiores aglomerações de pessoas foram: Centro quentes nas avaliações realizadas. de Visitantes, lago Azul e cachoeira do Véu da Quando se avalia o fluxo de visitação por Noiva. Os locais menos frequentados foram a horário (Figura 6), percebe-se que a maior base das Agulhas e as churrasqueiras.

FIGURA 6 – Horários de maior visitação nas trilhas do PNI.

FluxoFluxo do númerodo núm ero total total de de encontros encontro s nas nas trilhastrilhas do do PNI PNI

976 1000

800 730 627 672 561 600 495 445 EEncontros/horário ncontros/horário 400

Número total 210

Número total 200 99

0 09:00 10:00 11:00 12:00 13:00 14:00 15:00 16:00 17:00

FIGURA 7 – Época de maior número de encontros nas trilhas do PNI.

FrequênciaFrequênci de encontrosa de encont porro s por período período de de avaliação avaliação

5498 6000

5000

4000 2718 Encontros/trilha 3000 Encontros/trilha Pessoas/Pessoa/atrativoatrativo Nº Tot 1400 1515 2000 697 821 Número total 1000

0 julho/98julho setsetembro/98em broffevereiro/98evereiro

128 CADERNOS FBDS Saneamento em 18%, na trilha Poranga em 16% e na trilha da Piscina da Maromba em 8% das avaliações. Es- Dentro do Indicador Saneamento, o tes resultados indicam que a sinalização de loca- verificador “cheiro de lixo” foi observado em lização dos sanitários na Maromba precisa ser apenas duas trilhas: lago Azul e Véu da Noiva. melhorada. Já nos locais onde não existe infra- Já o verificador “lixo transbordando” teve uma estrutura de saneamento, como a trilha Poranga incidência maior, sendo detectado em 3 locais: e a parte alta do PNI, o oferecimento deste tipo Último Adeus (16% das avaliações), acesso às de serviço precisa ser repensado, visando um churrasqueiras (11%) e lago Azul (2%). Quanto maior conforto do usuário e conservação dos re- a “insetos no lixo”, o indicador foi observado no cursos. museu (36% das avaliações), no Último Adeus Quando se observam as condições gerais das (14%) e nas Prateleiras (10%). Por último, foi trilhas, fica evidenciado que a trilha do Véu da constatado que o indicador “lixo espalhado” ocor- Noiva e o Último Adeus foram os dois locais que reu em todas as trilhas, variando de 17% das ava- mais apresentaram condições inadequadas de liações, realizadas no museu, a 69% das avalia- saneamento. Em relação aos verificadores, per- ções realizadas na trilha Poranga. Estes dados de- cebe-se que a maior incidência de condições ina- monstram uma necessidade de maior atenção dequadas de saneamento foi quanto ao “lixo es- por parte da administração quanto à freqüência palhado”, que foi observado em 47% das avalia- de recolhimento do lixo nos locais de maior flu- ções realizadas no Parque. Em segundo lugar, com xo de visitação e uso (museu, Último Adeus, 8% de ocorrência, ficou o “cheiro de urina”. churrasqueiras), ou de maior orientação para que Quando se avaliam quais as condições ina- os visitantes recolham o próprio lixo no caso de dequadas mais frequentes em relação às épocas não haver infra-estrutura, como na trilha de ocorrência (Figura 8), tem-se que a época de Poranga. avaliação com maior incidência foi no mês de No caso do verificador “dejetos”, a maior fevereiro de 1999, quando ocorreu grande incidência ocorreu na região da ponte do visitação na parte baixa e pouca na parte alta. Maromba, nas trilhas do Véu da Noiva (7% das Isto indica que a administração do Parque deve- avaliações) e na trilha Itaporani (3%). Na parte rá intensificar a coleta de lixo nos períodos de alta, este indicador foi verificado apenas na tri- férias e feriados de verão na parte baixa, e de in- lhas das Prateleiras. Já o indicador “cheiro de uri- verno, na parte alta, sobretudo nos locais já men- na” foi localizado em 4 das 10 trilhas avaliadas. cionados acima, pelo maior fluxo de visitação que Na trilha das Prateleiras ocorreu em 45% das recebem. avaliações realizadas, na trilha do Véu da Noiva

FIGURA 8 – Ocorrências de condições inadequadas de saneamento nos três períodos avaliados.

CondiçõesCondições de saneam saneamento ento

35% LiLixoxo EspalhadoE spalhado 30% C heiro Urina 25% Cheiro Urina 20% LiLixoxo TransbordandoTransbordando 15% IInsetosnsetos 10% DejDejetosetos 5% CCheiro heiro lixolixo 0% jul/98Julset/98 S etfev/98 F ev TOTOTAL TA L

Comportamento e Segurança realizadas. Quanto ao verificador “pessoas em áreas proibidas”, em 7 das 10 trilhas analisadas, Dentro do Indicador Comportamento e observou-se este comportamento, variando de Segurança, o verificador “coleta de plantas” foi 6% no museu a 33% no acesso às Churrasquei- observado apenas na trilha das Prateleiras com ras. Acidentes foram localizados em 4 das tri- 3% de freqüência, de acordo com as avaliações lhas, com incidência variando de 3% nas Prate-

CADERNOS FBDS 129 leiras a 19% na trilha Poranga. Os acidentes pre- trilhas não oficiais que provêem acesso à água. senciados referem-se, na sua maioria, a torções de Nenhum dos verificadores descritos foi encon- pé e escorregões nas trilhas. Os verificadores “bus- trado na trilha do lago Azul e na trilha até a base cas” e “problemas de relacionamento entre usuári- das Agulhas Negras. os” não foram localizados em trilhas alguma. Analisando os verificadores em conjunto, Uma forma de se evitarem futuras buscas é percebe-se que os que apresentam problemas no a orientação rigorosa sobre os horários de entrada Parque são “pessoas em áreas proibidas” e “aci- dos grupos, a assinatura de um termo de res- dentes”, demonstrando a necessidade de melhor ponsabilidade, vistoria obrigatória dos equipa- sinalização e orientação aos visitantes, assim mentos trazidos ao Parque e checagem se os como de manutenção do leito das trilhas. Anali- grupos estão sendo acompanhados por um guia sando-se estes verificadores por época de avalia- experiente. ção, tem-se o maior número de pessoas fora de A trilha que apresentou maior frequência áreas permitidas ocorrendo no mês de julho. No de problemas foi o acesso às Churrasqueiras, re- mês fevereiro, sendo a época de maior freqüên- lacionados ao verificador “pessoas em áreas proi- cia de chuvas, houve a maior freqüência dos aci- bidas”, em decorrência de um grande número de dentes já citados.

Figura 9 – Ocorrências de comportamento inadequado, segurança e conflitos de uso nos três períodos avaliados.

ComportamentoCom portam ento e esegurança segurança

Coleta de plantas 6% Coleta de plantas 5% PPessoas essoas em em áreas áreas proibidas 4% proibidas AciAcidentesdentes 3% 2% BBuscas uscas 1% BrBrigasigas 0% Jul S et F ev TotTotalal

Impacto à Fauna de maiores estudos para sua comprovação. Os Dentro do Indicador Impacto à Fauna, a resultados analisados por época da avaliação (Ta- visão e a audição de aves com e sem visitantes bela 23) confirmam as informações de que no apresentaram diferenças para todos os locais de verão existe maior abundância de aves pela mai- avaliação, evidenciando que pode existir uma in- or disponibilidade de alimento do que no inver- terferência da visitação no comportamento des- no. Para as três épocas, repete-se a interferência te grupo de fauna; mas este resultado necessita da visitação na visão e audição de aves.

TABELA 23 Frequência total das ocorrências de influência da visitação na audição e visão de aves nas trilhas do PNI das 9:00 às 17:00 h nos períodos avaliados ÉPOCA

VERIFICADORES JUL/98 SET/98 FEV/99 TOTAL Visão de aves sem visitantes 44 26 89 159 Visão de aves com visitantes 21 1 63 85 Audição de aves sem visitantes 86 56 100 242 Audição de aves com visitantes 36 14 81 131

130 CADERNOS FBDS 3. Informações Complementares Posto 1, Posto 2, Posto Móvel e Centro de Visi- tantes. 3.1 Segurança Em fevereiro de 1999, ocorreram dois inci- dentes no planalto durante a última viagem de Segundo relatos de funcionários da fiscali- campo do projeto. No primeiro, um grupo de zação, vigilância e moradores do PNI, atividades religiosos japoneses caminhava do Posto 3 para de salvamento são comuns durante o verão na o abrigo Rebouças. Em função das pedras do ca- parte baixa, quando ocorre o fenômeno conhe- minho e das condições de temperatura e umida- cido como “cabeça d’água”. Atividades de busca de, duas garotas tiveram problemas nos joelhos são mais comuns na parte alta durante a época e apresentaram sinais de exaustão. No mesmo de inverno, quando grupos despreparados e im- dia, um casal retornava do vale do Aiuruoca, prudentes se perdem nas trilhas. No inverno, é quando a garota teve cãibra nas pernas e braços comum acontecer um nevoeiro (também chama- apresentando paralisia no corpo todo, tendo que do de ruço) por volta das 17:00 h, não permitin- ser carregada até o abrigo Rebouças, onde pas- do que as pessoas localizem os caminhos. Se- sou a noite. gundo os funcionários, existem ocorrências com Os acidentes mais comuns na parte alta são morte, tanto na parte baixa quanto na parte alta. as torções de pé, pela condição do calçamento Nunca houve atropelamentos dentro do com pedras. Na parte baixa, os escorregamentos Parque, porém, já ocorreram batidas de carro em são mais frequentes nas trilhas onde o leito é de rochedos, carros que caíram em buracos e coli- terra, principalmente na época de chuvas. Nas são de veículos. trilhas existentes, o indicador segurança, avalia- Existem equipamentos de Primeiros Socor- do no levantamento biofísico, indica que são ros no Núcleo de Vigilância (Posto 2) e na porta- necessárias reformas e implantações de estrutu- ria da parte alta (Posto 3). O Posto 3 possui, além ras de segurança, para evitar-se que ocorram aci- de alguns medicamentos, uma maca, mas os re- dentes desnecessários. latos dos funcionários indicam que estes equi- Outras informações a respeito de seguran- pamentos não se encontram em boa localização ça, no ano de 1998, puderam ser obtidas nos re- para situações de emergência nas trilhas. O mes- latórios de ocorrências e boletins elaborados pelo mo ocorre com os equipamentos de busca, pois GEAN – Grupo Excursionista Agulhas Negras. o Posto 3 possui apenas lanternas. De acordo com ZIKAN (1998) e GEAN (1998), O PNI não possui nenhum registro oficial as ocorrências daquele ano foram: sobre acidentes. A atual empresa de vigilância do Parque, a Guarda de Segurança Invernada, Abril possui Livros de Registros de Ocorrências que No dia 10 de abril, três visitantes tiveram são recolhidos em seu escritório central. Consul- dois pneus de sua caminhonete cortados, por seu tas realizadas neste livros, que continham infor- veículo estar impedindo uma das duas saídas do mações correspondentes ao ano de 1998 (janei- Hotel Alsene. No dia 11 de abril uma visitante, na ro a setembro), acusaram apenas uma ocorrên- descida das Agulhas Negras, fraturou o tornozelo cia envolvendo visitantes: 16/09/98 (14:30 h) – no final da via Pontão por volta das 13:30 h. Foi menino de 16 anos que foi levado pela corrente- resgatada com uma maca improvisada com paus za, ficou preso em pedra e foi resgatado por alpi- secos, blusas de frio, cordas e fitas de alpinismo. nista, tendo sido acionado o corpo de bombeiros O término do resgate aconteceu às 17:00 h. No sem necessidade. Este mesmo acidente foi rela- mesmo dia, dois rapazes iniciaram a descida das tado por escrito pelo Chefe da Unidade. Outra Agulhas ao entardecer. Já na base, na bifurcação consulta realizada nos Livros de Ocorrências re- do córrego Agulhas Negras, os visitantes, que não ferentes ao período de abril a junho de 1999, não tinham conhecimento das trilhas, seguiram notificou nenhuma ocorrência. A Invernada pres- rumo à Pedra do Altar e passaram a noite com ta vigilância diurna ao Parque nos seguintes lo- fome e frio embaixo de uma pedra, apesar das cais: Centro de Visitantes, Posto 1, Maromba, buscas efetivadas até as 23:00 h, e suspensas por lago Azul, Posto2ePosto Móvel (veículo). No não haver respostas aos chamados. Os visitan- período noturno, os postos com vigilância são: tes retornaram na manhã do dia seguinte.

CADERNOS FBDS 131 Maio do pelo alpinista Guilherme Rocha. Este projeto visa a colocação de setas metálicas fluorescentes No dia 1 de maio, um grupo de 23 jovens com cores diferentes fixadas em rochas que ori- iniciou a trilha para escalada das Agulhas Ne- entarão os visitantes nas trilhas. Outras facili- gras pela via Normal. Uma garota do grupo es- dades, como placas de indicação, de bifurcação e tava com o pé machucadoeogruposeatrasou, cartão de entrada, também são previstas no pro- iniciando a descida às 15:40 h. Por não conhecer jeto que foi discutido com a direção do Parque e a via Pontão, acabaram descendo a Via Normal está aguardando apoio financeiro para sua e, na pedra da Coroa, a garota não conseguiu mais implementação. andar. Quatro pessoas desceram para tentar lo- calizar o abrigo Rebouças e pedir ajuda, enquan- to quatro permaneceram no córrego Agulhas Ne- 3.2 Instituições que Desenvolvem Atividade gras, pois somente três tinham lanterna. O resga- de Uso Público no PNI e Região te começou às 19:10 h e terminou às 20:35 h com a chegada do grupo. O grupo estava acampado no Com o intuito de caracterizar as atividades camping do Camelo. No dia 2, outra visitante desenvolvidas no PNI, foram realizadas obser- torceu o pé na estrada para as Prateleiras e se vações de campo, entrevistas com visitantes e dirigiu ao abrigo Rebouças para esperar o resto funcionários e consultas a agências de ecoturismo do grupo descer da escalada. Ainda no mesmo e instituições ligadas ao Parque. Diversas fontes dia, um senhor que fazia parte de um grupo de de dados foram consultadas para obtenção de escalada para as Agulhas Negras deslocou o om- contatos com agências, operadoras e guias de bro ao elevar o corpo em uma passagem na base ecoturismo, ONGs, hotéis e outras entidades das Agulhas, logo no início da subida. Também prioritariamente dos estados de Minas Gerais, encaminhou-se ao abrigo e esperou o retorno do Rio de Janeiro e São Paulo. Uma breve explica- grupo, que era formado por hóspedes de um ho- ção do projeto e seus objetivos foram enviados tel do PNI. via e-mail, fax e correio, pedindo que nos contactassem caso desenvolvessem atividades na área. Para as respostas positivas foram enviados Junho questionários para caracterização destas ativida- No dia 12 de junho de 1998, 7 adolescentes des. De 101 contatos realizados para envio dos se perderam no retorno das Agulhas Negras via questionários, 25 responderam, das quais 12 de- Pontão (que necessita de corda e materiais para senvolvem algum tipo de atividade (Tabela 24). rappel) e foram resgatados pelo GEAN às 21:30 h Das respostas positivas, percebeu-se que, (tinham apenas 2 lanternas e um guia ainda que a parte baixa receba o maior fluxo de inexperiente). Um outro grupo desorientado no visitantes, não é o principal destino dos usuári- mesmo local também é relatado. No dia 13 de os que tem suas viagens organizadas por agênci- junho, 10 pessoas de um grupo de 17 foram res- as de turismo, uma vez que estas direcionam suas gatados às 21:15 h na 2ª placa de marcação da atividades, com maior frequência, para a parte trilha das Prateleiras (este grupo tinha 3 pessoas alta. Na parte alta, os locais mais visitados são que diziam conhecer a via Norte e estavam com as Prateleiras, seguido das Agulhas Negras, e, na apenas uma lanterna). parte baixa, as cachoeiras ficam em primeiro lu- Ainda no mês de julho, houve relato, de um gar. As atividades mais realizadas pelas entida- dos guardas do Posto 3, de 9 perdidos nas Agu- des são as caminhadas, seguido das escaladas. Ins- lhas. No mesmo mês, ocorreram roubos em mo- tituições da região relacionam-se com o Parque chilas de barracas no camping da sede da Fazen- de forma a contribuir com ações de manejo, da (km 9). como prevenção e combate a incêndios e repres- Em geral, os visitantes não seguem o desti- são aos palmiteiros. no anunciado aos guardas na entrada do Parque, As épocas de realização de atividades mais o que, segundo o próprio GEAN e relato dos guar- citadas foram: ano todo, em primeiro lugar, e pe- das, dificulta sua localização em uma eventual ríodos de seca, em segundo. As freqüências mais busca. Com o intuito de reverter esta situação praticadas são a cada 15 dias, e de2a3vezes ao no PNI, o projeto “Na trilha Certa” foi elabora- ano. Os tamanhos de grupo mais frequentes den-

132 CADERNOS FBDS TABELA 24 Instituições que responderam sobre o desenvolvimento de atividades no PNI INSTITUIÇÃO CATEGORIA Companhia Trekking Expedições Ecológicas Agência Turismo Crescente Fértil ONG CRI - Centro de Recuperação de Itatiaia Órgão Governamental Freeway Trilhas e Natureza Viagens e Turismo Agência Turismo Fundação Matutu - Ed. e Conservação Ambiental ONG GEAN - Grupo Excursionista Agulhas Negras ONG Grupo de Usuário Usuário IBAMA/PNItatiaia/Núcleo Educação Ambiental Órgão Governamental Mundo Aventura Agência Turismo The Quest/ The Best Agência Turismo Trilharte Turismo, Fotografia e Eventos Culturais Ltda. Agência Turismo UFRJ – Ecologia Universidade tro das atividades praticadas são de2a4pessoas observou-se que alguns carros estacionam antes e de 10 a 35. A faixa etária predominante foi de da portaria, outros param em diferentes pontos 16 a 45 anos, sendo a maioria do sexo feminino. da estrada e alguns seguem até o final do percur- Os locais de hospedagem citados foram: pousa- so com caminhonetes. A maior parte dos grupos das da região, campings, hotéis localizados den- segue a pé. Estes, em sua maioria encontram-se tro do Parque e Hotel Alsene. acampados ou alojados em um dos dois estabe- Outras informações, referentes ao PNI e lecimentos próximos: Hotel Alsene ou Pousada entidades relacionadas, podem ser consultadas dos Lobos. O preço e a proximidade da entrada no site http://www.Parquedoitatiaia.com.br. do Parque fazem com que o Hotel Alsene seja o mais procurado. De modo geral existe muita reclamação so- 3.3 Observações de Campo bre o preço de entrada no Parque. Na parte bai- xa, os visitantes da região com freqüência, Em julho de 1998, foram feitas observações retornam para suas cidades sem visitar o Parque. nos Postos1e3,relativas ao uso público, descri- Outros perguntam se existem hotéis e pousadas tas abaixo. dentro do Parque, mas não chegam a entrar. Vi- sitantes que ficam hospedados nos hotéis exis- tentes dentro do Parque recebem um ticket como Comportamento os outros, mas precisam ser carimbados nos ho- O fluxo de visitantes no planalto é maior téis para ter entrada livre nos outros dias, rece- no inverno. Os usuários costumam entrar no bendo, como já mencionado, um tratamento Parque entre 8:00 e 13:30 h, sendo a maior aflu- diferenciado dos visitantes comuns. ência de entrada percebida entre 9:00 e 11:00 h. O horário de saída inicia-se a partir das 16:00 h. Informações Na parte baixa, o maior fluxo de visitantes ocor- re durante o período de verão. Chegando às portarias, os visitantes rece- No Posto 1, muitos carros, em horário de bem informações sobre preço, horário de perma- grande movimento, permanecem em fila com os nência no Parque, e normas básicas, como proi- motores ligados; outros estacionam antes e após bição de retirada de plantas e entrada de animais a guarita para pedir informações sobre a visita e domésticos. Recebem, também, um folder do fotografar-se na entrada do Parque. No Posto 3, Parque (1 por grupo) e sacos de lixo do Projeto

CADERNOS FBDS 133 TABELA 25 Bibliografia utilizada pelas instituições que responderam ao questionário

BIBLIOGRAFIA UTILIZADA SOBRE O PNI FREQUÊNCIA Livro, folders e cartazes do PNI 2 Registros Biblioteca fauna e flora Itatiaia 2 Boletins PNI, parques nacionais Brasileiros 1 Brasil Aventura (Roberto Linsker) 1 Cartas Geográficas 1 Guia de Ecoturismo (Joco Meireles Filho) 1 Guia Turístico do RJ cidade e estado 1 Livro do PNI (W.D. Barros) 1 Livro Drummond (1997) sobre parques RJ 1 Publicação IBDF (Pádua, 1983) 1 Revista Terra 1

Montanha Limpa. Atividades Como forma de controle de entrada no Pos- Em geral, na parte baixa, são desenvolvidas to 1, são preenchidas fichas pelos guardas da atividades que não requerem muito preparo físi- portaria, onde constam as seguintes informações: co, tais como: caminhadas leves (hiking) nas tri- placa do veículo e estado de procedência; núme- lhas de acesso à piscina do Maromba, Véu de ro de pagantes; número de não pagantes (que Noiva, Itaporani, lago Azul e até mesmo Poranga, são visitantes e moradores autorizados a ter isen- embora esta apresente maior dificuldade; nadar ção); horário; destino (visitante comum é ano- em piscinas naturais e cachoeiras (dependendo tado como “estacionamento”; hóspedes como das condições climáticas); lanchar; fazer chur- “hotel”; ou o nome do morador que o usuá-rio rasco na trilha do lago Azul e visitar o museu, visitará). No Posto 3, o formulário de entrada principalmente a sala dos vertebrados. As visi- contém informações como: horário de entrada e tas ao insetário e ao herbário vêm em segundo e de saída (para averiguar possíveis ausências), pla- terceiro lugar, provavelmente pelo sistema de ca, estado, número de pessoas, número da car- fechamento das portas em função do teira de identidade de uma pessoa do grupo e desumidificador, e pelo fato de haver uma sina- destino. lização destinada às visitas monitoradas. Isto No Posto 3, observou-se que diversos gru- deverá ser resolvido com a implementação do pos pedem informações mas não entram no Par- projeto de Programação Visual do Museu, con- que, por se sentirem despreparados para as con- forme relatado no item 2.4 – Sinalização. dições oferecidas: falta de vestuário adequado ou Na parte alta do Parque, as caminhadas são horário avançado de chegada ao local para per- na sua maioria consideradas pesadas, a não ser correr as trilhas. Outro motivo de retorno é o que se vá apenas até o abrigo Rebouças, até a preço de entrada do Parque. O fator preponde- base das Prateleiras ou a base das Agulhas Ne- rante, portanto, que motiva a não visitação ao gras. Outras atividades realizadas com freqüên- Parque Nacional do Itatiaia, é a falta de infor- cia são as escaladas e o rappel (descida de pare- mação sobre o local e suas características bási- des através de cordas). O local também é utili- cas. Na parte baixa, é frequente a pergunta so- zado para atividades de treinamento militar, que bre local de venda de filmes fotográficos e locais apesar de serem permitidas, não são considera- de almoço e hospedagem. Também são frequen- das como adequadas pelo alto grau de impacto tes as perguntas sobre localização de residências que provocam e por estarem localizadas em áre- de amigos e parentes. as definidas como impróprias pelo zoneamento. Existem, porém, outras atividades que, ape-

134 CADERNOS FBDS sar de proibidas na área do PNI, não são mencio- guarda enquanto ele almoça e, portanto, quem nadas na legislação relativa a parques nacionais. entra nesse período deve pagar na volta, o que Este fato dificulta aos agentes de defesa florestal nem sempre ocorre. e vigilantes justificarem aos visitantes o seu im- No Posto 3, também existe a necessidade pedimento. Estas atividades são: escaladas no de mais um guarda e/ou voluntário, principal- Último Adeus; prática de mountain bike nas tri- mente nos finais de semana, quando o fluxo de lhas; acampamentos em locais proibidos e vôo visitação é mais intenso. O único guarda no lo- com asa delta. No mês de julho de 1999, duas cal tem a incumbência de anotar os dados dos pessoas de mountain bike foram vistas descendo visitantes, cobrar a entrada, dar informações, as escadarias da trilha do Véu da Noiva, na parte abrir a cancela, dar baixa nos grupos que já saí- baixa. Na parte alta, o alpinista Guilherme Ro- ram e distribuir adesivos. Apenas os agentes flo- cha já subiu o Pico das Agulhas Negras levando restais lotados no Núcleo de Vigilância do PNI uma bicicleta, descendo em seguida de rappel. fazem revezamento no Planalto. Atualmente, Existem especulações a respeito de um patrocí- cada um deles tem permanecido por uma sema- nio para a realização desse evento. Houve, tam- na no turno. bém, duas tentativas de entrada com asa delta, Outra observação refere-se aos não pagantes mas os visitantes foram advertidos pelo guarda na parte baixa. Na placa de entrada2, os não na entrada sobre a proibição da atividade no in- pagantes são todos aqueles com menos de sete terior do Parque. anos e mais de setenta, porém, entram outros como: policiais, juízes, parentes e amigos de fun- Portaria cionários e moradores, hóspedes e locadores das quadras de futebol dos hotéis, taxistas em servi- A portaria pode ser vista como o começo de ço (mas, às vezes, também com a família), fun- todas as percepções do visitante em relação à cionários do Centro de Recuperação de Itatiaia área, já que passando por ela entra-se no Parque. (CRI), e às vezes até famílias de turistas. Forne- Desta forma, informações importantes sobre as cedores dos estabelecimentos passam todos pela atividades que podem ser desenvolvidas e locali- entrada lateral, assim como moradores; estes úl- zação das trilhas e locais de visitação podem ser timos em alta velocidade. Não há controle sobre fundamentais para muitos visitantes. Atualmen- entrada e saída desses veículos. te, no Posto 1, são distribuídos aos visitantes al- Nesse levantamento de campo, observamos guns materiais, como o Informativo Itatiaia, o que não existem procedimentos únicos, com re- folder do Parque, o folheto do Projeto Montanha lação a uma série de atividades realizadas no Par- Limpa e uma sacola plástica para a coleta de lixo. que, por parte de seus funcionários, quanto ao Os visitantes que trazem seu lixo na sacola, no uso público. Existem diferenças: retorno de sua visita, podem trocá-lo por um ade- sivo do Parque1. No posto 3, são distribuídos ape- nos apontamentos da ficha de entrada de nas o folder, a sacola e o adesivo. visitantes, quanto à procedência dos veícu- No Posto 1, o número de guardas nos horá- los (município e estado ou só estado); rios de pico é insuficiente para desempenhar to- nas anotações quanto ao número de não das as funções de que são incumbidos. Quando pagantes; há um número excessivo de carros em fila, al- na validade de entradas do mesmo dia na guns visitantes seguem os moradores e passam parte baixa e na alta (foram localizadas di- pela cancela da esquerda que é livre e, portanto, versas reclamações a esse respeito); não pagam a entrada. No verão, a fila de carros no material distribuído aos visitantes que chega até o CRI – Centro de Recuperação de entram no Parque (nem todos recebem os Itatiaia, que fica a cerca de 600 m da portaria. sacos de lixo e o folheto do Projeto Monta- Existem dias em que não há quem substitua o nha Limpa e alguns sequer recebem o folder

1 Existem dois adesivos do parque: um com o desenho do pássaro trinca ferro, que está sendo atualmente distribuído, e outro, com desenho de esquilo. Este último é o preferido dos visitantes que fazem muitas solicitações para que o parque volte a distribuí-lo. 2 Os preços em julho de 1998: R$ 3,00/pessoa; Menores de 7 e maiores de 70 são isentos; churrasqueira R$ 10,00; R$ 5,00/automóvel;R$ 10,00/ônibus/micro; ônibus/micro escolar são isentos; R$ 3,00/moto. Cotação do dólar em julho de 1998: U$ 1,00 = RS 1,00. Cotação do dólar em julho de 1999: U$ 1,00 = RS 1,80.

CADERNOS FBDS 135 do Parque), tes, os maiores geradores de tumultos são os quanto à proibição ou não de algumas ati- ônibus de excursão, pois ao estacionar antes da vidades (como acampamentos, asa delta, guarita para preenchimento de cadastros e pa- mountain bike e as travessias); gamento de entradas (enquanto os demais a respeito das idades dos não pagantes3 ; veículos aguardam sua vez), todos os passagei- quanto a pagantes e não pagantes; ros descem para tirar fotos junto ao nome do quanto à entrada de animais domésticos. Parque, subindo na grama e jogando lixo no chão. Uma vez pago, o ônibus recebe o “kit” de entra- Lixo da e passa pela entrada lateral. Enquanto tudo isso acontece, o ônibus permanece com o motor Em diversos locais no Parque existem latões ligado. Os ônibus são orientados a ir até o mu- de diferentes cores para a coleta seletiva; porém, seu e proibidos, devido à capacidade de estacio- em todos eles o lixo encontra-se misturado. namento e de manobra, de seguir para a área do Muitos desses latões estão enferrujados e as co- Maromba. res algumas vezes não correspondem às infor- Em momentos de grande movimento, ocor- mações escritas nos cartazes, que precisariam de rem transtornos também com ônibus de linha adequações, assim como as informações conti- que passam no meio dos carros parados e esta- das no folder distribuído na portaria. Em diver- cionam antes da guarita, para um período de es- sos locais do Parque, como no Posto1enomu- pera de 10 minutos. Esses ônibus transportam seu, pode-se encontrar também lixo espalhado os visitantes que vêm ao Parque a pé. pelo chão. Além disso, a Prefeitura recolhe todo o lixo com o mesmo caminhão, não fazendo distin- Serviços Diferenciados para ção entre os diferentes materiais, desestimulando Hóspedes de Hotéis qualquer tentativa de educação do visitante. As observações mostraram que são poucos Diversos hotéis da parte baixa promovem os visitantes que deixam as sacolas de lixo para excursões noturnas dentro do PNI, guiam os vi- pegar o adesivo do Projeto Montanha Limpa, pois sitantes nas travessias (hoje proibidas), abrem em geral o guarda está ocupado com os veículos picadas próprias para observação de pássaros na que estão entrando no Parque. Muitos desistem área do PNI, além de passeios para cachoeiras e de esperar e vão embora. No caso do lixo ser tro- poços ao longo do rio Campo Belo em áreas par- cado pelo adesivo, em geral é o guarda que o co- ticulares. loca no latão. Visitantes Estrangeiros Excursões Não há registros de estrangeiros nos dados Segundo informações dos funcionários do oficiais do Parque. Eles, em geral, entram em car- PNI, as excursões escolares são mais freqüentes ros alugados, excursões ou a pé. Os levantamen- nos feriados durante o período letivo, enquanto tos realizados sobre perfil de usuários do PNI que as de turismo vêm ao Parque em maior quan- acusam uma pequena porcentagem de estrangei- tidade durante as férias. ros em relação ao número total de visitantes; Cada excursão que chega ao Parque deve, porém, percebeu-se que o Parque não se encon- através de seu responsável, preencher um cadas- tra preparado para recebê-los: o folder atual exis- tro onde constam as informações de data da ex- te apenas na versão em português; para os que cursão, turno, posto de entrada, hora de chega- chegam a pé não existe nenhum tipo de transpor- da, responsável, CPF, RG, endereço completo, te coletivo além do ônibus que os deixa no Pos- telefone, empresa, placa do ônibus, nome e RG do to 1; nas portarias não existem funcionários que motorista, número de pessoas e assinatura do res- saibam falar outras línguas; e as informações que ponsável. Além disso, há uma observação sobre constam nos guias nacionais e internacionais não infrações cometidas no Parque e seu regulamento. deixam claras estas condições, e o visitante es- Nos horários de maior afluência de visitan- trangeiro chega bastante despreparado.

3 Os grupos de terceira idade fazem inúmeras reclamações a respeito do limite de 70 anos para isenção, pois é diferente de outros locais de lazer onde o limite é de 65 anos.

136 CADERNOS FBDS Segurança a) parâmetros físicos: cor, odor, sabor, turbidez, temperatura, pH, condutividade, Em geral, os visitantes perguntam sobre os dureza, alcalinidade, sólidos totais dissolvi- roteiros existentes, sobre a disponibilidade de dos, oxigênio dissolvido; guias e sobre as possibilidades de se dirigir para b) parâmetros químicos: referentes à presen- os caminhos existentes. A maior parte dos gru- ça de elementos, íons e substâncias em so- pos aventura-se sem guia, equipamentos de se- lução na água; gurança e vestimenta adequados. c) parâmetros biológicos: presença de Não é verificado nas portarias, sobretudo microorganismos. do Posto 3, se os grupos trazem equipamentos O autor coloca, porém, que “a qualidade da de segurança, ou mesmo se encontram-se acom- água como tal, tem significado relativo, pois deve panhados por guias. Apenas são alertados sobre estar associada ao seu uso. O conhecimento dos a dificuldade dos passeios e sobre o horário tar- danos fisiológicos e psicológicos que podem ser dio em que alguns grupos chegam para fazer ca- causados pela presença de constituintes, medi- minhadas. Visitantes que não retornam são con- dos pelos parâmetros de qualidade da água, per- siderados como perdidos apenas após 24 h. Nos mite o estabelecimento de critérios de qualida- finais de semana, a administração da parte bai- de da água para um dado uso”. xa encontra-se fechada, sendo necessário pedir Em julho de 1998, foram coletadas 15 amos- ajuda do Hotel Alsene (único telefone na locali- tras de água para avaliação de potabilidade nos dade) ou de pessoas da região. Algumas vezes, locais citados abaixo, pois todos esses pontos de liga-se para Furnas para pedir ajuda, ou, em últi- coleta localizam-se em áreas onde o público visi- mo caso, para o Corpo de Bombeiros de Resende. tante tem contato direto com a mesma. Nos dias de semana, as providências são toma- das pela administração. Parte Alta 1. Rio Campo Belo antes do abrigo Rebouças Infrações (rio) Quando um grupo entra com mochilas pe- 2. Rio Campo Belo depois do abrigo Rebouças sadas, apesar das advertências do guarda, anota- e fossa (rio) se o endereço completo de todos os visitantes 3. Camping Alsene (rio) envolvidos, pois, se o grupo não voltar, é elabo- 4. Camping Sede da Fazenda (rio) rada uma notificação para a chefia e encaminha- 5. Camping Brejo da Lapa (rio) da uma multa aos componentes do grupo consi- derado infrator. Em fevereiro de 1999, ocorreu Parte Baixa um acampamento proibido, por 3 pessoas, no 6. Véu da Noiva (rio) vale do Aiuruoca. 7. Itaporani (rio) 8. Maromba (torneira) 9. Maromba (piscina natural) 10. Poranga (rio) 5. Qualidade da Água 11. Museu (bica externa) 12. Museu (bebedouro interno) Com o intuito de verificar o cumprimento 13. Lago Azul (bica) de um dos objetivos de manejo do PNI, que é o 14. Lago Azul (piscina natural) de proteger as nascentes de duas grandes bacias 15. Estrada do Último Adeus (bica) hidrográficas do sudeste, procedeu-se à avalia- ção da qualidade da água quanto à potabilidade A análise físico-química dessas amostras foi nos locais de uso público. realizada pelo Laboratório de Ecologia Aplicada A qualidade da água deve ser definida por do Depto. de Ciências Florestais da ESALQ/USP meio de suas características físicas, químicas e (vide Tabela 26). De acordo com a Portaria nº biológicas. Segundo LIMA (s/d), a descrição 36, de 19 de janeiro de 1990 do Ministério da quantitativa destas características é feita atra- Saúde, todas as amostras coletadas estão dentro vés dos parâmetros de qualidade como: do padrão exigido de qualidade química. Porém,

CADERNOS FBDS 137 com relação às características físicas e organo- 2. Camping Alsene (rio) lépticas, todas as amostras estão muito acima 3. Maromba (piscina natural) do VMP (ValorMáximo Permitido) quanto à cor, 4. Lago Azul (piscina natural) que é de 5 (un PtCo). As análises físico-químicas e bacteriológi- Segundo LIMA (s/d), a potabilidade da água cas dessas amostras foram realizadas na envolve aspectos sanitários e estéticos. A cor e a ESAMUR – Empresa do Saneamento do Muni- turbidez são parâmetros que limitam o uso da cípio de Resende S/A (vide Tabela 26). água para beber, mais por natureza psicológica O Projeto Água Pura, uma empresa da re- do que fisiológica. O autor coloca que a cor é um gião, disponibilizou uma análise de água reali- parâmetro físico que não guarda relação direta zada pela ESAMUR, coletada por eles em no- com a composição química da água. Parte da cor vembro de 1998, em três pontos do Parque onde ou coloração das águas naturais pode ser devida instalaram bicas de concreto. Esses dados são à presença de partículas orgânicas e inorgânicas comparados conjuntamente com as análises an- em suspensão. teriores na Tabela 31 (vide Tabela 26). Outra coleta de água foi realizada em feve- Comparando-se os parâmetros físico-quími- reiro de 1999, nos pontos abaixo: cos das três análises, podemos observar que o 1. Rio Campo Belo depois do abrigo parâmetro cor encontra-se fora do valor máxi- Rebouças e fossa (rio) mo permitido (VMP) para todas as amostras.

TABELA 26 Comparação entre as análises físico-químicas de água realizadas em julho e novembro de 1998 e fevereiro de 1999 nos locais de uso público do Parque Nacional do Itatiaia. COR TURBIDEZ PH AlCALINIDADE Nº LOCAL PtCo4 UH5 UH6 FTU4 UJ5 UJ6 PH4 pH5 PH6 mg/L4 mg/L5 mg/L6 1 Rebouças 14 - - 1 - - 6,8 - - 0,8 - - (antes fossa) 2 Rebouças 14 15 - Nc 0,56 - 7,1 6,62 - 0,5 7,0 - (pós fossa) 3 Camping Alsene (rio) 10 10 - 1 0,27 - 6,5 6,56 - 0,6 7,0 - 4 Sede Fazenda (rio) 13 - - 1 - - 6,9 - - 0,7 - - 5 Brejo da Lapa (rio) 16 - - Nc - - 6,6 - - 0,8 - - 6 Véu da Noiva (rio) 18 - - 2 - - 6,7 - - 0,6 - - 7 Itaporani (tio) 11 - - 1 - - 7,1 - - 0,5 - - 8 Maromba (torneira) 16 - - Nc - - 7,4 - - 0,6 - - 9 Maromba (piscina) 12 17,5 - Nc 0,42 - 7,1 8,03 - 0,6 120,0 - 10 Poranga (rio) 13 - - Nc - - 7,0 - - 0,5 - - 11 Museu (bica) 11 - 12,5 Nc - 0,25 6,9 - 7,0 0,4 - 5,0 12 Museu (bebedouro) 11 - - Nc - - 7,3 - - 0,8 - - 13 Lago Azul (bica) 13 - 7,5 Nc - 1,2 6,7 - 7,0 0,6 - 4,0 14 Lago Azul (piscina) 12 15 - Nc 0,49 - 7,2 6,86 - 0,4 8,0 - 15 Último Adeus 15 - 7,5 Nc - 0,93 7,0 - 6,92 0,6 - 6,0 (bica na estrada) Nc - não consta 4 Amostras coletadas em julho de 1998 e analisadas pelo Laboratório de Ecologia Aplicada do Depto. de Ciências Florestais da ESALQ/USP. 5 Amostras coletadas em fevereiro de 1999 e analisadas pela ESAMUR – Empresa de Saneamento do Município de Resende S/A. 6 Amostras coletadas em novembro de 1998 pelo Projeto Água Pura e analisadas pela ESAMUR – Empresa de Saneamento do Município de Resende S/A.

138 CADERNOS FBDS Quanto aos parâmetros bacteriológicos, o cais de coleta de água (bicas) existentes. laudo apresentado pela ESAMUR para as amos- Outro laudo apresentado pela ESAMUR tras coletadas em novembro de 1998 (Tabela para as amostras coletadas em fevereiro de 1998, 27), indica água imprópria para consumo in indica todas as amostras como impróprias para natura na bica do museu e na bica da estrada pró- consumo in natura, devido à presença de xima ao mirante Último Adeus. Na bica do lago coliformes fecais. Apesar disso, os locais são con- Azul, a análise demonstrou que a água estava siderados em condições de balneabilidade pelo isenta de microorganismos patogênicos de laboratório. Os valores de coliformes encontra- veiculação hídrica. dos são apresentados na Tabela 28. Esta análise indica que é necessário avisar Esta tabela acima demonstra que o rio Cam- ao público visitante sobre a potabilidade dos lo- po Belo, que se inicia no planalto, à medida que

TABELA 27 Análise bacteriológica de amostras de água de locais de uso público do PNI coletadas pelo Projeto Água Pura (novembro/98) AMOSTRA LOCAL COLIFORMES FECAIS COLIFORMES (ecvb) Totais (ec) 1 Bica do Museu 3,6 93 2 Bica do lago Azul 0 2.400 3 Bica do Último Adeus 150 210 (estrada)

TABELA 28 Análise bacteriológica de amostras de água de locais de uso público do PNI (fevereiro/99) AMOSTRA LOCAL COLIFORMES FECAIS COLIFORMES (ecvb) TOTAIS (ec) 1 Rebouças (pós fossa) 43 3,6 2 Camping Alsene (rio) 11 11 3 Maromba (piscina) 460 460 4 Lago Azul (piscina) 2.400 150 se direciona para a cidade de Itatiaia, que é o lago Azul. Vale ressaltar que o ponto de capta- abastecida por suas águas, vai sendo contamina- ção de água para a cidade de Itatiaia fica abaixo do por efluentes e lançamentos de resíduos. A do mirante do Último Adeus, onde existe uma amostra 1 foi tomada no rio Campo Belo, após o quantidade ainda maior de residências e estabe- camping e o abrigo Rebouças, local considerado lecimentos, sendo fornecida para o abastecimen- relativamente próximo a sua nascente, onde exis- to público. tem problemas com vazamento das fossas das Segundo LIMA (s/d), os organismos duas infra-estruturas citadas. A amostra 3 foi coliformes podem contaminar a água através de tomada no mesmo rio, na piscina da Maromba, várias fontes: onde as taxas de coliformes aumentam, demons- a) excreção por seres humanos, mamíferos, trando uma contaminação dez vezes maior. Já a anfíbios e pássaros; amostra 4, coletada ainda no rio Campo Belo na b) enxurradas; altura da piscina do lago Azul, apresenta-se im- c) multiplicação de formas não fecais de próprio, inclusive para recreação, em função de coliformes, em substratos adequados, presen- sua contaminação. Muitas residências e estabe- tes na água, principalmente material vegetal lecimentos estão localizadas entre a Maromba e fibroso.

CADERNOS FBDS 139 No que diz respeito ao uso recreacional da 1.250 coliformes totais por 100 ml, em 80% ou água, alguns estudos produziram informações a mais de amostras obtidas em cada uma das 5 respeito das possíveis consequências do contato semanas anteriores. recreacional com águas contaminadas. “Águas com Muito Boas: máximo de 500 coliformes fecais densidade de coliforme inferior a 180/100 ml, por ou 2.500 coliformes totais por 100 ml em 80% exemplo, parecem não apresentar problemas para ou mais de amostras obtidas em cada uma das 5 a saúde pública. Nadar em águas de rio e lagos semanas anteriores. com índice médio de 2.300 coliformes/100 ml, por outro lado, pode resultar em infecções gastro- Regulares: máximo de 1.000 coliformes fecais intestinais”. ou 5.000 coliformes totais por 100 ml em 80% Segundo a Resolução CONAMA nº 20, de ou mais de amostras obtidas em cada uma das 5 18 de julho de 1986, as águas do Parque Nacio- semanas anteriores. nal do Itatiaia estão classificadas como: Impróprias: entre outras condições, quando não se enquadram nas categorias anteriores; por ocor- Classe Especial - Águas Destinadas: rência, na região, de incidência relativamente elevada ou anormal de enfermidades ao abastecimento doméstico sem prévia ou transmissíveis por via hídrica; sinais de poluição com simples desinfeção; por esgotos, perceptíveis pelo olfato ou visão; à preservação do equilíbrio natural das co- recebimento regular, intermitente ou esporádi- munidades aquáticas. co, de esgotos por intermédios de valas, corpos d’água ou canalizações, inclusive galerias de Classe 1 - Águas Destinadas: águas pluviais, mesmo que seja de forma diluí- ao abastecimento doméstico após tratamen- da; presença de resíduos ou despejos, sólidos ou to simplificado; líquidos, inclusive óleos, graxas e outras subs- à proteção das comunidades aquáticas; tâncias, capazes de oferecer riscos à saúde ou à recreação de contato primário (natação, tornar desagradável a recreação. esqui aquático e mergulho); Às águas de Classe Especial, não são tolera- à irrigação de hortaliças que são consumidas dos lançamentos de águas residuárias, domésti- cruas e de frutas que se desenvolvem rente cas e industriais, lixo e outros resíduos sólidos, ao solo e que sejam ingeridas cruas sem re- substâncias potencialmente tóxicas, defensivos moção de película; agrícolas, fertilizantes químicos e outros à criação natural e/ou intensiva (aqui- poluentes, mesmo tratados. Caso sejam utiliza- cultura) de espécies destinadas à alimenta- das para o abastecimento doméstico, deverão ser ção humana. submetidas a uma inspeção sanitária preliminar. Para as águas da Classe1a8,sãotolerados De acordo com esta resolução, para as águas lançamentos de despejos, desde que, além de de Classe Especial, os coliformes totais deverão atenderem às condições estabelecidas no Artigo estar ausentes em qualquer amostra. Para as 21 da resolução citada, não ultrapassem os limi- águas de Classe 1, materiais flutuantes, óleos e tes de teores máximos de substâncias poluidoras graxas, substâncias que comuniquem gosto ou para cada classe. odor, corantes artificiais e substâncias que for- De acordo com a Portaria nº 36 de 19.01.90, mem depósitos objetáveis, devem estar virtual- para o consumo humano de água não canaliza- mente ausentes. Teores máximos de substânci- da, usada comunitariamente e sem tratamento as potencialmente prejudiciais são estabelecidos (poços, fontes, nascentes, etc.), desde que não para esta categoria no Artigo 4º da Resolução haja disponibilidade de água de melhor qualida- citada. de, 95% das amostras devem apresentar ausên- Para o uso de recreação de contato primá- cia de coliformes totais. Nos 5% restantes, são rio, a mesma Resolução, no Artigo 26, estabele- tolerados até 10 coliformes totais, desde que isso ce que águas destinadas à balneabilidade são en- não ocorra em duas amostras consecutivas no quadradas em 4 categorias: mesmo ponto. Neste caso, deve-se providenciar Excelente: máximo de 250 coliformes fecais ou a melhoria desta condição ou a utilização de água

140 CADERNOS FBDS que apresente melhor qualidade bacteriológica, Barreto, Portinho e rios como o Pirapetinga, acompanhada por inspeções sanitárias freqüen- Marimbondo, Pavão e outros (IBDF, 1982).” tes e coleta de dados epidemiológicos. Devido à importância do Parque Nacional Considerando que os diferentes rios do PNI do Itatiaia quanto à proteção dos recursos encontram-se, muitas vezes, próximos a fossas hídricos, vale ressaltar que apenas duas análises (caso do abrigo Rebouças), e por vezes recebem bacteriológicas não são suficiente para estabele- efluentes de estabelecimentos e residências sem cer a proibição dos usos que vêm sendo feitos da infra-estrutura adequada, de acordo com o ex- água de seus mananciais. Recomendamos, por- posto na legislação, não deveriam ser destinados tanto, uma inspeção periódica. BATTALHA e ao consumo humano nem à balneabilidade, PARLATORE (1977) fornecem detalhadas bases como vem ocorrendo atualmente. Os visitantes conceituais e operacionais para controle da qua- devem ser alertados, através de placas indi- lidade da água para consumo humano, incluin- cativas, sobre as condições dos locais. A curto e do diversas tabelas comparativas de padrões de médio prazos, as fontes de contaminação devem qualidade de água de diversas entidades e paí- ser eliminadas. ses, assim como o número mínimo de amostras A estes referenciais, somamos um dos obje- por mês em função da população servida. tivos estabelecidos no Plano de Manejo do Par- O Projeto Água Pura, coordenado por Eduar- que Nacional do Itatiaia, queéodeproteger as do Guerreiro, instalou bicas com estrutura de cabeceiras das duas grandes bacias hidrográficas cimento em áreas onde o público se abastece de do Sudeste: bacia do rio Paraná e bacia do rio água. Até julho de 1998, as bicas haviam sido Paraíba do Sul. “Do alto do Itatiaia descem as instaladas no Centro de Visitantes, no lago Azul águas correntes dispersas por este divisor, e que e antes do Último Adeus. Segundo Carlos Eduar- buscam duas bacias distintas: a do rio Paraíba e do Mayer, também responsável pelo projeto, foi a do rio Grande. O rio Preto drena a área NE do realizada apenas uma análise nestes pontos de maciço e deságua no rio Paraíba. No rumo SE, coleta de água e, em dois deles, o consumo in desce o mais importante deles, o rio Campo Belo, natura se mostrou impróprio. Outro contato so- cujo formador principal é o ribeirão das Flores bre análises de qualidade de água no PNI refere- que acompanha o Vale dos Lírios. Já no setor SW se ao Instituto de Geoquímica da Universidade destaca-se a bacia do rio do Salto, cuja drena- Federal Fluminense do Rio de Janeiro, que cole- gem abrange desde as Prateleiras e Pedra do ta água da parte alta periodicamente para avali- Couto até a Garganta do Registro e partes do ação de chuva ácida. O GEAN – Grupo Excursi- corpo do maciço do Passa Quatro. Este curso onista Agulhas Negras, a partir de 1999, iniciou demarca a fronteira Rio de Janeiro – São Paulo e, um projeto para mapeamento e localização de como os demais citados, desemboca no rio todos os mananciais de água dentro do Parque e Paraíba do Sul. Na região NW,o rio Capivari dre- as localidades servidas por eles. Somado a estes na grande parte do “esporão” da Capelinha e se trabalhos, a avaliação permanente da qualidade dirige para o rio Verde, formador do rio Grande. da água, por parte da administração, se faz ne- O rio Aiuruoca nasce na várzea do mesmo nome cessária para garantir tanto a proteção das nas- e dirige-se para o rio Turvo, formador do rio Gran- centes dos recursos hídricos, quanto a saúde dos de. Ao sul, também podemos encontrar os ribei- usuários do Parque Nacional do Itatiaia. rões Palmital, Itatiaia, Carrapato, Água Branca,

CADERNOS FBDS 141 P1, P3 Média: 2 estionários mente: 6% evista: 30% Maromba Agulhas Portaria Poronga Véu Noiva Poronga Responder Responder Responder Responder Responder Responder Responder Responder Responder Ambos: 6% Ambos: 15% Ambos: 13% Ambos: 4% Ambos: 5% Ambos: 14% Ambos: 13% Ambos: 7% Ambos: 10% sozinho : 56% sozinho: 62% sozinho: 69% sozinho: 89% sozinho: 60% sozinho: 66% sozinho: 50% sozinho: 57% sozinho: 60% PARTE ALTA PARTE BAIXA Moderado: 11%; Moderado: 23%; Moderado: 19%; Moderado: 23%; Moderado: 21%; Moderado: 29%; Moderado: 26%; Moderado: 32%; Moderado: 25%; 18 questionários 13 questionários 73 questionários 27 questionários 43 questionários 35 questionários 105 questionários 124 questionários 438 qu Extremamente: 0% Extremamente: 0% Extremamente: 3% Extremamente: 0% Extremamente: 7% Extremamente: 3% Extremamente: 9% Extremamente: 8% Extrema O 1 – Respostas dos questionários quanto à percepção de lotação em cada uma das trilhas dos PNI Você prefere: Entrevista: 38% Entrevista: 23% Entrevista: 18% Entrevista: 7% Entrevista: 35% Entrevista: 20% Entrevista: 37% Entrevista: 36% Entr LOCAISPerguntas AGULHAS Respostas PRATELEIRAS PORTÃO 3 Respostas PORTÃO 1 Respostas PORONGA ÚLTIMO Respostas ADEUS C. VISITANTES Respostas MAROMBA Respostas GERAL Respostas Respostas Respostas Você teve que esperar paraandar nas trilhas?Em que locais? Não: Sim: 89% 11%Quanto tempo?Quantas pessoas Não: 100%encontrou nas trilhas? -Quantas pessoas encon- 20 atrou 45 tomando min banho? Não: 93% Média:Quantas 22 pessoas encon- 3trou a fazendo 50 lanche ou Sim: 7%churrasco? 2 a - Não: 5 96% Média:Qual 31 a nota para -a 2 visita a ao 7 PNI? Média: 1 2 a Sim: 80 Não: 4% AgulhasComo 86% os outros 3 Média: a 15 60 36visitantes a afetaram 60 minminha visita? Média: 5 Média: 4 6 Sim: a Maromba Não: 30 2 14%O 83% a 5 parque 150 a estava Média: 10 Melhorou: 8,2 39% Média: Ñ 26 afetou:lotado? 55% 3 a 7 2 min Melhorou: 46% Véu Média: Noiva 6 Não: Ñ Sim: 85% afetou: 17% 6 46% a Média: 100 Piorou: 8,5 6% 5 Média: a 20 100 5 Melhorou: a 43% 10 Não: 28%; 3 Ñ a afetou: 11 49% min 2 a 50 Não: Melhorou: Média: Sim: 77% Piorou: 12% 8,1 15% 8% Pouco: 61%; Média: 21 Ñ Média: afetou: Não: 4 88% 23%; 2 - a 3 70 a Melhorou: 1 10 21% - a 15 min Piorou: 8% Pouco: Média: Não: 54%; 8,6 85% Sim: Ñ 23% 2 afetou: a 65% 50 Média: Melhorou: Não: 33 39%; 17% Média: 12 Maromba Pouco: 2 5 39%; a a Piorou: 30 100 Ñ 0% min afetou: 5 72% Média: Melhorou: a 8,7 10 16% Sim: 15% Não: - Média: 53%; 2 39 a 100 Média: Pouco: Ñ 24%; 4 Melhorou: afetou: Piorou: 29% 75% 14% 1 a 30 min Média: 2 8,9 a 200 - 4 Não: Melhorou: a 37%; 27% Ñ 10 Média: Pouco: afetou: 35%; 31 60% Piorou: 1 11% a Média: 10 1 8 a 70 1 a Média: 60 8,4 min Ñ Véu afetou: Noiva 64% Pouco: 1 Não: 26%; a 42%; 300 Piorou: 9% 5 a 10 Média: 5 Média: 1 1 8,5 a a 70 100 Pouco: 33%; Não: 32%; Piorou: 11% 1 a 300 Pouco: Média: Média: 29%; 4 8,4 5 a 10 Não: Piorou: 31%; 1 9% a 60 - Pouco: 34%; Não: 35%; 3 a 10 1 a 100 3 a 10 ANEX

142 CADERNOS FBDS Frequência de Respostas por Local (435 questionários) 1 2 17 6 9 8 18 38 100 O 2 – Comentários gerais dos visitantes sobre o parque ComentáriosInfra-Estrutura Estrada ruimMaior quantidade e melhor sinalização no parqueMelhor sinalização nas trilhas (aclive, condições, etc.)Mais latas de lixoDar acesso a banheiros fechadosInfra-estrutura de banheiros, água e lanchesFalta informação (ex: água potável)Abrir Rebouças ao públicoReconstruir MassenasReabrir travessiasReabrir campingColocar cordas nas - - trilhas íngremesPonte com parapeito sem segurançaBanheiros muito longe AgulhasRuim para estacionarCamping sem infra-estrutura sanitária prejudica PNIFalta infra-estrutura de - modo geral PrateleirasTamanho e lugar 1 - da janela do banheiro femininoServiços - -Ingresso e - taxa de carro caros Portão pelo 3 queMais é fiscais oferecido e vigilantes -Cuidar melhor das trilhasFalta de experiência - dos - funcionários/informações erradas 2 -Banheiros sem Portão condições 1 de higieneMelhor - 1 orientação 1 sobre - lixo -Parque muito - limpo -Falta - filme para câmera - PorangaBom serviço de - escoteiros - 1Promover o parque - em - - outros estadosRecolocar - o livro - nas Agulhas 2 - 6 Ú.Faltam Adeus - guias - - para - - orientação de grupos -Melhor organização - das visitas -Facilitar - para a terceira idadeEspera na Portaria - (Portão C. 1) - - Visitante -Parque muito sujo - 1Pousadas - mais 3 - acessíveis - - - - 1Locais - - de visitação - - abandonados - - Maromba -Outros 1 -Véu da Noiva e parque muito lotado 1 -Proibir ônibus - no parque - e - multas Geral altas paraCasas infrações e - hotéis 1 demais dentro - do parque - -Implantar 2 - taxa 1 maior - para - - melhorar - a - estrada - -Proibir - piquenique e - - bebidas - - - -Parque maravilhoso - - -TOTAL ------1 - - 2 - - - - - 1 ------2 3 - 7 - 1 ------10 - 6 1 1 - - 1 - - 2 ------5 ------1 2 - - 1 2 ------2 1 - 1 - - 18 - - 1 2 1 1 - - - - 2 - - 1 1 2 ------2 ------1 ------1 - - 2 1 - 1 ------1 - - 1 - - - 1 - - 1 - - 2 - 11 1 - 1 - - 2 - - 1 1 1 4 - 2 1 1 3 - 1 - - 1 1 1 - - 2 - - 4 1 2 4 1 - - 1 - - - - 1 - - - - 1 - 1 - 1 1 1 - 1 1 - 1 1 - 1 1 - - - 1 1 - 1 - 2 1 1 1 3 1 2 2 - 1 1 ANEX

CADERNOS FBDS 143 ANEXO 3 Local de realização de atividades das instituições que responderam ao questionário LOCAL DE REALIZAÇÃO FREQÜÊNCIA Parte Alta 8 Parte Baixa 5 Prateleiras 5 Agulhas Negras 4 Cachoeiras da parte baixa 2 Pedra Altar 2 Reserva Natural Matutu (Microb. Rib Água Preta) 1 Lago Azul/Museu 1 Pedra Sentada 1 Morro do Couto 1 Pedra Selada 1

ANEXO 4 Atividades desenvolvidas pelas instituições que responderam ao questionário

ATIVIDADES DESENVOLVIDAS FREQÜÊNCIA Caminhadas 8 Escaladas 4 Combate e prevenção a incêndios 2 Acampamentos 1 Atividades de lazer e de caráter cultural 1 Atividades de caráter científico 1 Passeio para fotógrafos 1 Pesquisa de ecofisiologia 1 Palestras e atividades educativas 1 Repressão aos palmiteiros 1 Monitoramento da área 1

ANEXO 5 Equipamentos utilizados pelas instituições que responderam ao questionário EQUIPAMENTOS UTILIZADOS FREQÜÊNCIA Cordas, boudrie, mosquetões, freios para escalada 5 Lanches, mochila, tênis para caminhada 1 Vídeo, guache, fantoches 1 Medidores portáteis de variáveis fisiológicas plantas 1 Walk-talk, abafadores, ferramentas e mat. segurança 1

144 CADERNOS FBDS ANEXO 6 Época de desenvolvimento de atividades realizadas pelas institui- ções que responderam ao questionário

ÉPOCA DE REALIZAÇÃO FREQÜÊNCIA Ano todo 6 Períodos de seca (maio a outubro) 2 Período letivo (3ª e 5ª) 1 Feriados e Férias 1 Julho 1 Junho e Julho 1 Março e Julho 1

ANEXO 7 Freqüência de desenvolvimento de atividades realizadas pelas instituições que responderam ao questionário FREQÜÊNCIA DE REALIZAÇÃO OCORRÊNCIA A cada 15 dias 2 2 a 3 vezes por ano 2 2 vezes no mês de julho 1 De acordo com a necessidade 1 Periodicamente 1 Mais concentrado no segundo semestre 1 4 a 6 vezes por ano 1 5 dias por mês 1

ANEXO 8 Número de pessoas por grupo referente às atividades desenvolvi- das pelas instituições que responderam ao questionário NÚMERO DE PESSOAS/GRUPO FREQÜÊNCIA 2a4 2 10a35 2 6a12 1 10 a15 1 12 1 45 1

ANEXO 9 Faixa etária dos grupos que participam das atividades desenvolvidas pelas instituições que responderam ao questionário

FAIXA ETÁRIA/GRUPO FREQÜÊNCIA 16 a 45 anos 2 30 a 45 anos 2 11 a 17 anos 1 14 a 60 anos 1 25 a 35 anos 1

CADERNOS FBDS 145 ANEXO 10 Gênero dos grupos que participam das atividades desenvolvidas pelas instituições que responderam ao questionário

GÊNERO/GRUPO FREQÜÊNCIA 70-75% mulheres 2 Ambos 2 60% mulheres 1 70% homens 1 Predominância de mulheres 1

ANEXO 11 Local de hospedagem dos grupos que participam das atividades desenvolvidas pelas instituições que responderam ao questionário LOCAL DE HOSPEDAGEM FREQÜÊNCIA Pousadas da região 1 CRI 1 Fora do parque 1 Reserva e ranchos 1 Camping Alsene 1 Pousadas ou barracas 1 Hotéis do parque 1 Camping ou Hotel Alsene 1

Visitantes no Parque Nacional do Itatiaia. (foto Valéria M. F. Vieira)

146 CADERNOS FBDS Programa de Gestão Participativa no Parque Nacional de Itatiaia

Gisela Hermman (1) Cláudia Costa (2)

pré-definidas tem evoluído, desde então, para a busca de ações de co-gestão ou de Gestão Participativa, envolvendo diferentes níveis de participação da comunidade em tomadas de de- cisão. No passado, a carência de pessoal capacita- do e de recursos financeiros, associada à presen- 1. Planejamento e Gestão ça de um Estado forte e centralizador e ao baixo Participativa - Bases Conceituais nível de organização da sociedade, levaram à adoção de modelos de gestão de UCs que conso- lidavam o domínio do Estado. A gestão de áreas As discussões sobre a necessidade do protegidas contava com o financiamento de fun- envolvimento das comunidades no processo de dos patrimoniais, empréstimos e doações, sem planejamento e implantação de UCs tomaram contemplar a participação das comunidades vi- um grande impulso após o IV Congresso Mun- zinhas. Por outro lado, à medida que o tema avan- dial de Parques Nacionais e Áreas Protegidas, re- çava, verificava-se uma tendência à privatização alizado em Caracas em 1992, no qual foi estabe- das áreas protegidas, abrindo licitações públicas lecido o conceito de que nenhuma Unidade de para transferir o patrimônio a instituições pri- Conservação é uma ilha e que seu manejo de- vadas (Girot e Rey 1998). Essas duas opções, no manda a participação de residentes locais. De entanto, apresentam desvantagens de tal porte acordo com esse conceito, os Planos de Manejo que reforçaram a urgência de se estabelecer uma devem ser desenvolvidos sob a ótica da terceira alternativa. A co-gestão de áreas prote- integração inter-institucional e cooperação en- gidas surge como uma nova opção, permitindo tre a unidade e seu entorno. Embora a Gestão potencializar as capacidades, os conhecimentos Participativa não seja uma novidade, as dificul- e a vontade da sociedade civil de contribuir para dades que os órgãos públicos, encarregados da a conservação e uso sustentado dos recursos na- administração das áreas protegidas, estão enfren- turais. tando para assegurar a conservação e os objeti- O termo “Gestão Participativa em Uni- vos das diferentes UCs trouxeram de volta as dades de Conservação” é usado para descre- discussões sobre o tema, verificando-se hoje a ver situações onde alguns ou todos os interessa- busca de conceitos e metodologias para a dos, pertinentes a uma unidade, estão envolvi- implementação da participação nos processos de dos de forma substancial com as atividades do gestão. O estabelecimento de parcerias em ações manejo. Nesse processo, a instituição que tem

(1) Superintendente técnica - Fundação Biodiversitas (2) Supervisora de projetos - Fundação Biodiversitas

CADERNOS FBDS 147 jurisdição sobre a UC desenvolve acordos entre definir a melhor estratégia, de acordo com as interessados, onde são especificados as funções, especificidades de cada área: direitos e responsabilidades com respeito à área informar os interessados sobre os assun- (Borrini-Feyerabend, 1997). Valeressaltar que no tos e decisões importantes; planejamento participativo a sociedade deve dis- consultar ativamente aos interessados so- por de mecanismos para influenciar a condução bre determinados assuntos ou decisões; da máquina pública, ter acesso aos meios de co- buscar consenso; municação e dispor de informações. Não existe negociar com os interessados, envolvendo- participação sem um trabalho intenso de os ativamente nas tomadas de decisão; disponibilização de informações por parte daqueles que estão conduzindo o processo. compartilhar responsabilidades e autoridade; Embora, de uma maneira geral, o Manejo transferir parte ou toda a responsabilida- Participativo envolva benefícios para a área, nem de e autoridade. sempre a Co-gestão é a melhor opção. A forma- ção de comissões de manejo ou delegação direta O Quadro I apresenta de forma esquemática de autoridade e responsabilidades específicas as diversas opções de participação. As situações podem não ser a melhor estratégia, dependendo dos dois extremos devem ser evitadas, uma vez das condições de cada área. No entanto, a con- que a falta de envolvimento da comunidade tem sulta e a busca de consenso entre os interessa- se mostrado um empecilho à sobrevivência da dos no manejo da UC devem ser objetivos a ser unidade. Da mesma forma, a situação oposta, sempre perseguidos. onde se verifica o completo afastamento do po- Sob essa ótica, Borrini-Feyerabend (1997) der público sobre a gestão da UC, compromete sugere diferentes níveis de participação, caben- a responsabilidade do estado perante a conser- do ao órgão responsável pela gestão da unidade vação dos seus recursos naturais.

QUADRO I Níveis de Participação no Manejo de Unidade de Conservação* Controle completo da Controle compartilhado pela instituição responsável Controle completo instituição responsável pelos interessados MANEJO PARTICIPATIVO DE UMA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO

informar os consultar buscar negociar e compartilhar transferir interessados sobre os ativamente consenso desenvolver autoridade e autoridade e assuntos e decisões acordos responsabilidade responsabilidade importantes específicos Nenhuma interferência ou Nenhuma interferência contribuição por parte do responsável pela dos interessados gestão da UC

* Extraído de “Manejo Participativo de Áreas Protegidas: Adaptando o Método ao Contexto”. Grazia Borrini-Feyerabend. Temas de Política Social. IUCN. 1997.

É preciso lembrar que diferentes interessa- pio norteador do manejo participativo. Ou seja, a dos possuem diferentes capacidades, e uma ali- participação no processo decisório deve, necessari- ança de manejo não só enfatiza como se baseia amente, implicar na adoção de compromissos por na complementariedade de seus distintos papéis. parte dos interessados. A Gestão Participativa ofe- A ligação conceitual existente, entre o direito de rece muita flexibilidade e adaptabilidade para atri- opinar e modificar uma situação e a responsabi- buir direitos de uso aos legítimos interessados, em lidade com essa nova situação, deve ser o princí- troca de responsabilidades com a conservação.

148 CADERNOS FBDS Conforme os interessados se envolvam no planejamento de UCs não pode ser definido por manejo da UC, verifica-se um crescimento de uma fórmula única, especialmente devido às expectativas, o que deve ser seriamente conside- especificidades de cada área. Deve-se buscar uma rado pela instituição responsável pela jurisdição orientação metodológica e construir, a partir de da unidade antes de iniciar o processo de partici- experiências anteriores, a estratégia que melhor pação. Um cuidado fundamental é com a gera- se aplica à unidade em questão. Para isso, alguns ção de expectativas junto à comunidade, que não parâmetros devem ser previamente estabelecidos. sejam técnica e institucionalmente possíveis de Uma vez estabelecido que a participação é ser correspondidas (IBAMA, 1996). Outro aspec- a melhor forma para garantir a manutenção e to a ser considerado ao se iniciar um processo conservação da UC a longo prazo, os seguintes participativo são os altos “custos de transição” passos devem ser considerados: (Borrini-Feyeranhende 1997). É preciso avaliar se sistematizar e compartilhar informações, a instituição responsável pelo desenvolvimento experiências e métodos de trabalho e suces- do processo participativo possui pessoal habili- sos e fracassos obtidos; tado e os recursos financeiros necessários. Além envolver os interessados no desenho das disso, a preparação e desenvolvimento da parti- estratégias e das metodologias a serem uti- cipação requer um tempo mais amplo do que lizadas no processo; consideram as agências de financiamento, que reconhecer e validar as formas de participa- em geral enfocam projetos de curto prazo. A tí- ção propostas por parte da comunidade. tulo de exemplificar o custo do tempo, o Projeto Todoarranjo institucional de co-gestão con- Doces Matas, fruto de cooperação técnica entre o templa a delimitação de atividades e responsa- IEF, IBAMA, GTZ e Fundação Biodiversitas na bilidades a serem assumidas pelos envolvidos busca de integração interinstitucional e envol- com relação a uma dada área. Nesse arranjo se vimento das comunidades do entorno de três UCs, identificam: os interessados em participar da definiu um horizonte de dez anos para que essas gestão compartilhada; a delimitação de funções metas sejam realmente atingidas e consolidadas. e responsabilidades de cada parte envolvida; os Na maioria das vezes, a efetividade de um benefícios e direitos conferidos a cada interessa- Plano de Manejo, seja ele participativo ou tradi- do; um conjunto acordado de prioridades de ma- cional, não depende da metodologia utilizada nejo e um Plano de Manejo; os procedimentos para a sua elaboração, mas das condições institu- para tratar dos conflitos e negociar as decisões cionais, legais e políticas para implementá-lo, coletivas a respeito do Plano de Manejo; os pro- fortemente potencializadas pela participação. A cedimentos para que essas decisões entrem em incorporação do componente participativo no vigor; e as regras específicas para o moni-

QUADRO II Condições prévias para o Manejo Participativo*

l estabelecer os alcances dos processos participativos;

l definir procedimentos, estratégias e políticas de participação das comunidades com os setores envolvidos;

l estabelecer espaços contínuos de participação comunitária;

l compartilhar informações e benefícios equitativamente;

l estabelecer muito claramente as vantagens e desvantagens do processo participativo para a conservação da UC e para a população do entorno antes de estabelecer os níveis de participação a serem adotados;

l esclarecer alternativas de uso e benefícios reais para a população, com o fim de potencializar a participação;

l selecionar os diferentes atores e os níveis de participação a serem estabelecidos com as diferentes instâncias, levan- do em conta os fatores e níveis cultural, social, etário, organizacional e econômico;

l criar condições institucionais adequadas para construir uma relação de confiança com a comunidade.

* = adaptado de “Manejo Participativo de Áreas Protegidas: Adaptando o Método ao Contexto”. Grazia Borrini-Feyerabend. Temas de Política Social. IUCN. 1997.

CADERNOS FBDS 149 toramento, a avaliação e a revisão do acordo. para usos sustentados dos recursos; Conforme já mencionado, experiências an- d) a co-gestão requer uma articulação es- teriores têm demonstrado que o Manejo treita entre direitos e responsabilidades de ma- Participativo não deve ser aplicado em todos os nejo e busca reforçar a relação entre a autorida- contextos. De uma maneira geral, o processo de do governo e as responsabilidades de manejo; participativo deve ser buscado nas seguintes si- e) a co-gestão se origina no reconhecimen- tuações: to de que o desenvolvimento sustentável é im- 1. quando a colaboração dos interessados é es- possível sem a participação ativa e co-responsá- sencial para o manejo da área (em casos da exis- vel da sociedade civil na gestão dos recursos na- tência de moradores dentro da UC ou em situa- turais e na administração de áreas protegidas; ções em que as desapropriações não foram efeti- f) a co-gestão não se constitui apenas em vadas); e um processo, mas em um fim, requerendo me- 2. quando o acesso aos recursos naturais que canismos de monitoramento e avaliação perma- se encontram dentro da UC é essencial para as- nentes, englobando a correção de erros, o forta- segurarem-se os meios de vida locais ou a sobre- lecimento de acertos, e a sistematização e divul- vivência cultural. gação de experiências exitosas (Girot e Rey, Entre as condições favoráveis para um processo 1998). de Gestão Participativa, Borrini-Feyerabend Sintetizando as principais etapas para o es- (1997) ressalta as seguintes: tabelecimento de acordos de co-gestão, Girot e os interessados locais têm desfrutado his- Rey (1998) identificam quatro passos, a partir toricamente de direitos tradicionais ou for- das análises de processos participativos instala- mais sobre o território em questão; dos em diversos países: os interessados locais se vêem seriamente afe- 1. reconhecimento mútuo do problema - mui- tados pela forma como a UC é manejada; tas iniciativas de co-gestão têm surgido de situ- as decisões relativas à gestão da área são ex- ações difíceis, resultantes de conflitos de inte- tremamente complexas e controvertidas; resses e de perspectivas para os quais se busca o manejo realizado pela entidade responsá- um entendimento mútuo; vel não tem favorecido a conservação e ma- 2. construção de pontes de comunicação me- nutenção da área; diante a busca de um consenso para construir os interessados mostram disposição para co- agendas comuns e negociar os arranjos laborar e solicitam a participação; institucionais; existe tempo e espaço para negociar, não se 3. estabelecimento do acordo, do plano e das verificando situações urgentes, seja por ameaça estratégias de co-gestão, delimitando a área de direta aos recursos naturais, seja pela existência ação, listando os interessados e definindo as res- de conflitos armados. ponsabilidades, as obrigações, os direitos e os li- Uma vez verificada a existência de condi- mites de ação de cada parte envolvida; ções favoráveis para a Gestão Participativa, é fun- 4. seguimento e monitoramento do acordo, damental ter em mente a necessidade de algu- definindo instituições/pessoas encarregadas de mas premissas, antes de promover uma iniciati- avaliar criticamente os processos em marcha e va desse tipo: os resultados obtidos. a) a co-gestão deve ser guiada por princípi- Os Quadros III e IV, extraídos das discus- os claros, sendo que o seu êxito depende em gran- sões dos grupos de trabalho reunidos no workshop de parte da transparência do processo; “Metodologias Participativas em Planos de Mane- b) por ser um arranjo entre atores com dis- jo” (GTZ & IUCN 1998), apresentam os problemas tintas competências e mandatos, a Gestão a serem considerados no processo de gestão Participativa deve buscar necessariamente a participativa e as características propícias à im- complementariedade entre os distintos papéis e plantação do Manejo Participativo. A análise cui- funções que serão repartidos; dadosa desses quadros oferece um volume de infor- c) a co-gestão se fundamenta no princípio mações muito interessante para todos aqueles que do bem comum, onde as soluções devem contri- optaram pelo envolvimento da sociedade civil no buir e harmonizar interesses e garantir condições manejo e gestão de Unidades de Conservação.

150 CADERNOS FBDS 2. Gestão Participativa no Brasil tão, aprovado pelo CONAMA ou, no caso das uni- dades estaduais ou municipais, pelos respectivos As dificuldades de elaboração e imple- Conselhos de Meio Ambiente”. De acordo com o mentação dos Planos de Manejo e as novas dire- SNUC, o Plano de Manejo de todas as categorias trizes, para um maior envolvimento das comu- de UC “deve abranger a área da Unidade de Con- nidades vizinhas no planejamento das UCs, evo- servação, sua zona de amortecimento e os corre- luíram para discussões de metodologias que con- dores ecológicos, incluindo medidas com o fim de templassem não apenas a UC, mas também o promover sua integração à vida econômica e social seu entorno, de forma transparente e articula- das comunidades vizinhas”. Surge, assim, uma da. Surgiram, assim, os processos participativos, nova era na gestão das Unidades de Conservação, reflexo da constatação de que os Planos de Ma- cabendo aos responsáveis pela sua administração nejo, até então realizados não eram imple- o estabelecimento de diretrizes que orientem os mentados em grande parte por não refletir os processos de participação. interesses dos diversos atores envolvidos com a A deficiência qualitativa e quantitativa de re- unidade. cursos humanos e os problemas de natureza A carência de metodologias era o principal fundiária, sérios entraves ao gerenciamento das empecilho para a busca desses novos objetivos. Unidades de Conservação pelo IBAMA, foram os Ciente da urgência de se redefinir conceitos e principais fatores que levaram ao modelo de co- formas de planejamento da gestão das UCs, o gestão como alternativa de avanço no processo de IBAMA elaborou, em 1996, um Roteiro implantação das Unidades de Conservação (WWF, Metodológico para o Planejamento de Unidades 1994). O subprojeto de Co-gestão de Unidades de de Conservação de Uso Indireto, contando com Conservação foi desenvolvido no âmbito do Com- a participação de especialistas e ambientalistas. ponente de Unidades de Conservação do Progra- A percepção de que uma Unidade de Conservação ma Nacional de Meio Ambiente (PNMA), com o não poderia subsistir a longo prazo, enquanto as objetivo de “buscar a melhoria e até mesmo a so- comunidades das áreas adjacentes não estivessem lução de alguns problemas estruturais e inseridas no processo do seu planejamento, foi sen- conjunturais de áreas protegidas federais atra- do incorporada nas políticas ambientais (McNelly, vés da Gestão Participativa”. 1994). Como resultado, o novo Roteiro propõe uma No entanto, são ainda incipientes os exem- metodologia mais leve e flexível, sendo o Plano de plos concretos e efetivos de gestão compartilhada Manejo elaborado em etapas complementares, de das nossas unidades. Na maioria das vezes a parti- acordo com o volume e complexidade das infor- cipação aparece apenas como o envolvimento dos mações, e com forte enfoque participativo (ver indivíduos num processo onde a decisão formal Quadro V). ocorre em outras instâncias, externas aos “fóruns O SNUC também adota uma abordagem de participação”. Essa postura está refletida na ten- participativa na gestão de UCs, estabelecendo que dência de estabelecerem-se Conselhos Consultivos “as Unidades de Conservação do grupo de Prote- de Gestão, e quase nunca Conselhos Deliberativos. ção Integral disporão de um Conselho Consulti- Além disso, pouca ênfase é dada ao fato de existir vo, presidido pelo órgão responsável por sua admi- participação e, mais especificamente, tomada de nistração e constituído por representantes de ór- decisões, sem um repasse sistemático de informa- gãos públicos, de organizações da sociedade civil, ções. Dessa maneira, no planejamento partici- por proprietários de terras localizadas em Refúgio pativo, todos os envolvidos devem ter acesso às de Vida Silvestre ou Monumento Natural, quan- informações para que realmente exerçam seu pa- do for o caso, e, na hipótese prevista no § 2o do art. pel na melhoria da qualidade da gestão das Unida- 46, das populações tradicionais residentes, confor- des de Conservação. Sem informações adequadas, me se dispuser em regulamento e no ato de cria- a participação torna-se mais um procedimento bu- ção da unidade”. Além disso estabelece que “as rocrático. Unidades de Conservação podem ser geridas por Embora comece a ser largamente aceita a idéia organizações privadas, sem fins lucrativos, com de que é necessário envolver a sociedade nos pro- objetivos afins ao da unidade, mediante convênio cessos de planejamento e gestão de Unidades de ou contrato com o órgão responsável por sua ges- Conservação, ainda não está muito claro o concei-

CADERNOS FBDS 151 QUADRO III Problemas a Serem Considerados no Processo de Gestão Participativa de Áreas Protegidas*

CARACTERÍSTICAS GERAIS l em geral as propostas de manejo não se implementam considerando os regimes de administração das Ucs l custos incompatíveis com o projeto inicial l tempo necessário X tempo planejado no projeto l maior necessidade de tempo l envolve volume maior de recursos l em geral os planos não são documentos ágeis e flexíveis para se adaptar a imprevistos e mudanças necessárias COORDENAÇÃO COM OUTROS NÍVEIS DE PLANEJAMENTO l pouca relação do plano de manejo com o planejamento regional l a elaboração dos planos de manejo de UCs deve envolver além de atores locais, atores regionais l em geral, na elaboração do plano de manejo não é considerado o planejamento da zona de influência da UC METODOLOGIAS/INSTRUMENTOS DE GESTÃO PARTICIPATIVA l inflexibididade dos procedimentos não permite verdadeira participação l falta de aplicação de metodologias e procedimentos racionais para a resolução de conflitos l falta de continuidade dos processos participativos e DRP l o processo metodológico de participação é pouco claro l metodologias ainda na fase experimental l utilizam-se seminários como sinônimo de participação l falta de mecanismos de monitoramento e controle tanto no planejamento quanto na implementação l o planejamento do plano de manejo nem sempre envolve os responsáveis pela sua execução l composição do grupo gestor incompatível com as necessidades EXPERIÊNCIAS EM MANEJO PARTICIPATIVO l desinteresse e insegurança de participar por parte dos atores envolvidos l os participantes muitas vezes não possuem conhecimentos essenciais ao manejo l falta de pessoal capacitado para a implementação do plano de manejo l falta de preparação para a participação l falta de experiência para discutir com vários atores ao mesmo tempo l Não se reconhece que os atores se baseiam nos seus interesses, e a conservação raramente faz parte dos interesses das comunidades locais ASPECTOS CONCEITUAIS DOS PLANOS DE MANEJO PARTICIPATIVO l falta de clareza sobre denominadores e critérios comuns aos planos de manejo l limites e custos da participação não estão claros O PLANO DE MANEJO E SUA IMPLEMENTAÇÃO COMO PROCESSO l o planejamento não inclui os processos de implementação l falta de implementação dos planos de manejo l o plano de manejo nem sempre é visto como um processo dinâmico l os resultados não são imediatos COMUNICAÇÃO PARA A GESTÃO PARTICIPATIVA l a divulgação para uma participação ativa não chega a todos envolvidos l faltam meios de comunicação adequados l criação de expectativas não realizáveis entre atores locais * = extraído de Metodologias Participativas em Planos de Manejo (GTZ & IUCN, 1998)

152 CADERNOS FBDS QUADRO IV Características Propícias à Implantação do Manejo Participativo de Áreas Protegidas* Vantagens da Participação l a participação permite a construção de processos socialmente sustentáveis l permite a capacitação dos atores l possibilita maior aceitação l a gestão da UC se converte em trabalho de todos l fortalece organizações locais l uma vez que os acordos refletem o consenso, estes deverão ser respeitados por todos os envolvidos l o planejamento responde às reais demandas do grupo alvo l inclui as particularidades da região no planejamento l favorece a continuidade independente das mudanças políticas l constitui o respaldo necessário da comunidade à UC l permite a incorporação de conhecimentos tradicionais dos recursos naturais A Importância da Participação é Reconhecida l já existe a consciência de que a gestão e o manejo de UCs seja participativa l está ampliando o reconhecimento das capacidades das instituições locais por parte das administrações competentes l existe o reconhecimento de que as peculiaridades de cada área conduzem à busca de novas alternativas para a gestão e manejo das UCs l a participação permite uma gestão mais eficiente das áreas protegidas l os planos de manejo participativos indentificam e correspondem às necessidades dos interessados l a participação permite identificar interesses institucionais comuns l interesse das comunidades em participar dos planos de manejo l reconhece-se a necessidade da participação para o êxito do plano Avanços de Metodologias e Instrumentos l existência de métodos e instrumentos com resultados positivos l os comitês de gestão são um instrumento do processo participativo l existem procedimentos inovadores l a prática tem trazido forte impulso às metodologias participativas l as experiências existentes já possibilitam a formalização e “legalização” da gestão participativa l reforço da necessidade da integração da UC no planejamento regional Conclusões Gerais l em muitas insituições existe vontade institucional de autoridades competentes para trabalhar de forma participativa l incorporar o componente sócio-econômico possibilita às UCs converter-se em experiências piloto de desenvolvimento sustentado l a conservação requer apoio político

CADERNOS FBDS 153 QUADRO V Síntese da Metodologia para Elaboração de Planos de Manejo* O Plano de Manejo deverá ser realizado como um processo gradativo onde os conhecimentos vão sendo aprofundados e ampliados ao longo do tempo. O planejamento será estruturado em três fases. Cada fase deverá apresentar um enfoque principal e as ações necessárias para o manejo da área: Fase 1 - iniciará as ações objetivando a minimização dos impactos, o fortalecimento da proteção da unidade de conservação e a integração da mesma com as comunidades vizinhas. Fase 2 - contemplará as ações orientadas ao conhecimento e à proteção da diversidade biológica da unidade e ao incentivo a alternativas de desenvol- vimento das áreas vizinhas. Fase 3 - objetivará ações de manejo específicas para os recursos naturais, assegurando sua evolução e proteção. Como trata-se de um planejamento contínuo, cada fase estará alicerçada na anterior e dará seguimento às ações já iniciadas. O Planejamento deverá ser participativo, envolvendo vários setores da sociedade. A participação será viabilizada através dos seguintes mecanismos: Reuniões Técnicas - objetivarão estabelecer os objetivos específicos de manejo da unidade de conservação e propor seu zoneamento e seus sub- programas de Manejo dos Recursos e de Pesquisa e Monitoramento Ambiental. Contará com a equipe de planejamento e pesquisadores. Oficinas de Planejamento - irão dar subsídios para a definição de uma estratégia para a solução dos problemas. Participarão os diferentes grupos que estejam envolvidos com a unidade de conservação. Conselhos Consultivos - atuarão como um canal de diálogo para resolver e antever os problemas. Será composto pelos diferentes atores ligados à unidade. Não terá caráter deliberativo. O zoneamento da unidade deverá seguir as definições contidas no Regulamento de Parques Nacionais Brasileiros (Decreto no 84.017, de 21 de setembro de 1979, artigo 7o).

* = extraído do Roteiro Metodológico para o Planejamento de Unidades de Conservação de Uso Indireto. IBAMA, 1996. to de participação. O IBAMA define co-gestão passe de informações e capaci-tação deve ser em- como “participação de uma ou mais entidades qua- pregado para o público externo, ou seja, cada par- lificadas no gerenciamento de Unidades de Con- ticipante na gestão da UC deve ter bem claro qual servação, compartilhando com o órgão governa- é o seu papel e o dos demais, e conhecer as princi- mental competente as decisões gerenciais e o pla- pais potencialidades e limitações de cada partici- nejamento operativo das mesmas, conforme pro- pante e do processo como um todo. cedimentos especificados nos instrumentos de pla- A evolução da temática sobre participação, no nejamento (Planos de Manejo e Planos de Ação Brasil, pode ser observada nos diversos seminários Emergencial) aprovados pelo órgão governamen- realizados para discutir e avaliar essa questão. O tal competente” (IBAMA 1994 em Funatura, 1996). workshop “Diretrizes Políticas para Unidades de Ainda que o conceito aqui definido pressuponha a Conservação”, realizado em 1994, já estabelecia participação real na administração das unidades, o novos paradigmas para a gestão e criação de UCs, que se vê em sua maioria são exemplos de parceri- considerando a necessidade da integração das po- as, estabelecidas para o desenvolvimento de ações pulações vizinhas. específicas, em geral relacionadas com pesquisa, Essa nova postura pressupunha a adoção de educação ambiental e vigilância. Jorge Pádua e Es- novos mecanismos para a criação e imple- pírito-Santo (1996) ressaltam a importância de os mentação de Unidades de Conservação, passan- órgãos governamentais, ao decidirem estabelecer do o planejamento a ser processual, participativo a Gestão Participativa de uma UC, estar totalmente e estratégico. Naquele momento, a co-gestão vi- seguros sobre essa nova política, além de investir nha sendo realizada, apenas, como uma alterna- na formação do público interno quanto a todos os tiva para suprir carências do órgão responsável, aspectos que cercam esse trabalho. A internalização sem a existência de uma política institucional dos conceitos e valores é extremamente importan- clara e precisa que, de fato, possibilitasse a te, uma vez que, dentro de uma mesma institui- melhoria qualitativa do exercício de ção pública, freqüentemente é possível registrarem- gerenciamento das UCs. Outro ponto discutido se atuações divergentes. O mesmo esforço de re- durante o workshop foi o conceito de co-gestão,

154 CADERNOS FBDS QUADRO VI Paradigmas para a gestão e criação de UCs* MODELO TEMA ESTILO MODELO PRONTO ESTILO PARTICIPATIVO Ponto de partida Diversidade da Natureza e seu valor comercial Diversidade da natureza e dos processos sociais envolvidos Metas Pré-determinadas Abertas e adaptáveis ao processo deenvolvimento Palavra-chave Planejamento Estratégico Participação Nível decisório Centralizado Descentralizado Abordagem Reducionista Sistêmico Método Padronizado Diverso, adaptado às condições Base tecnológica Pacote pronto Opções variadas a escolher Relação com as pessoas Controlar, induzir, motivar Possibilitar, suportar, capacitar Perceber as pessoas como: Beneficiários Parte ativa do jogo * = extraído do documento para discussão workshop “Diretrizes Políticas para Unidades de Conservação”. 1994.

considerado pelo IBAMA como a participação da não se verifica um monitoramento e avali- sociedade civil em ações específicas, dentro de ação dos processos participativos um horizonte de tempo determinado. Em 1996, implementados; foi realizado um segundo seminário, coordena- problemas de comunicação entre IBAMA e do pela Funatura e pelo IBAMA, para discutir comunidade, e IBAMA central e Superin- “Parcerias e Co-Gestão em Unidades de Conser- tendências e instituição gestora; vação”. Nessa ocasião, foram relatadas as expe- competitividade gerada pela falta de clare- riências realizadas no Parque Nacional Grande za entre as competências governamental e Sertão Veredas, Parque Nacional da Serra da da sociedade civil. Capivara, Santuário de Vida Silvestre do Riacho Uma questão permanece sem ser respondi- Fundo e Parque Nacional da Chapada dos da: a abertura de um espaço para a participação Veadeiros. De acordo com os relatos das entida- do poder público reflete uma tentativa de diluir des envolvidas em processos de co-gestão ou e resolver os problemas emergenciais da insti- parceria dessas unidades, embora as atividades tuição ou reflete a adesão do estado às tendênci- exercidas tenham beneficiado as UCs em maior as mundiais de buscar o envolvimento das co- ou menor grau, de uma maneira geral, o IBAMA munidades vizinhas para uma gestão mais mo- não se mostrou devidamente preparado para a derna e mais eficiente das UCs? participação. Em quase todos os casos verifica- Em 1996, Ramos e Capobianco publicaram ram-se conflitos com a entidade gestora no que os resultados do Seminário “Unidades de Con- se refere ao repasse de responsabilidades, servação no Brasil: aspectos gerais, experiências burocratização dos processos e desarticulação na inovadoras e a nova legislação (SNUC)”. Esse tomada de decisão, entre outros. Os sucessos encontro envolveu discussões sobre os proces- obtidos resultaram mais da boa vontade das pes- sos de Gestão Participativa da Reserva de Desen- soas do que da estruturação do órgão para assu- volvimento Sustentável de Mamirauá, Parque mir uma postura participativa. Entre os princi- Nacional do Jaú, Floresta Nacional do Tapajós, pais problemas levantados, ressaltam-se: Reserva Extrativista do Alto Juruá, Reserva Bio- falta de posicionamento claro e institucional lógica de Una e Parque Estadual da Serra do Bri- por parte do IBAMA sobre o que seja parce- gadeiro. ria ou co-gestão; Enfocando apenas as experiências que en- falta de regras claras sobre a atuação das volvem co-gestão das UCs de uso indireto, a par- instituições e sobre a autonomia e compe- ticipação verificada entre o IBAMAeaFunda- tências das mesmas. Como conseqüência, ção Vitória Amazônica no Parque Nacional do

CADERNOS FBDS 155 Jaú objetivava a elaboração e implantação do interesses da comunidade, especialmente porque Plano de Manejo da unidade, envolvendo a rea- muitas vezes esses são contrários à conservação lização de pesquisas científicas, diagnósticos só- dos recursos naturais, mas oferecer a oportuni- cio-econômicos, fornecimento de infra-estrutu- dade de abertura para o diálogo, o melhor cami- ra e educação ambiental. Como o Parque abriga nho para a viabilização de consensos. um grande número de moradores, o Plano de O IBAMA define ainda que os processos Manejo só poderia ser efetivo se elaborado com participativos devem ser incorporados em três forte enfoque participativo. Um dos maiores pro- momentos diferentes: durante o planejamento, blemas enfrentados pela Fundação Vitória Ama- durante a implantação do Plano de Manejo ou zônica com relação à co-gestão foi a falta de en- do PAE e no monitoramento do planos: tendimento, por parte do IBAMA, sobre o con- 1. Planejamento Participativo - objetiva pro- ceito e as metodologias envolvendo a participa- mover a contribuição de pessoas e entidades en- ção, fator considerado essencial para a manuten- volvidas com a unidade, incentivando a coloca- ção do PN Jaú. ção de opiniões e de sua ótica em relação aos pro- No Parque Estadual do Brigadeiro, a parti- blemas existentes. O Planejamento Participativo cipação foi direcionada para o processo de cria- está inserido nas Oficinas de Planejamento e ção do Parque, envolvendo a discussão e Audiências Públicas previstas no “Roteiro readequação de limites. Esta experiência foi ex- Metodológico para o Planejamento de Unidades tremamente positiva, tanto para as comunida- de Conservação de Uso Indireto” (IBAMA, 1996). des locais quanto para a UC. A mobilização da Após colher os subsídios da comunidade, o pla- comunidade gerou uma forte expectativa de par- nejamento da UC deve ser desenvolvido pela ticipação mais efetiva na gestão da área a ser equipe técnica de planejamento, uma vez que implantada, o que se contrapõe à proposta do envolve questões muitas vezes desconhecidas Estado de estabelecer apenas instâncias consul- pelos interessados. Dessa maneira, o processo é tivas. considerado participativo consultivo, caben- A análise dos processos de gestão das áreas do ao IBAMA as decisões finais. de uso direto e indireto consideradas no Semi- 2. Execução Participativa ou Parceria - refere- nário demonstrou que a Gestão Participativa con- se à integração de uma ou mais entidades quali- tinuava a ser mais um discurso teórico do que ficadas no gerenciamento das Unidades de Con- uma prática incorporada aos órgãos públicos, servação federais, compartilhando com o IBAMA sendo que as atividades exercidas resultaram as decisõeseaexecução objetiva das mesmas, mais das iniciativas de ONGs ou de associações conforme procedimentos especificados nos ins- comunitárias ou de pesquisa, do que das deman- trumentos de planejamento (Plano de Manejo e das criadas pelos órgãos gestores. Plano de Ação Emergencial). A Diretoria de Em 1997, o IBAMA publicou o “Marco Ecossistemas incentivará a execução de ativida- Conceitual das Unidades de Conservação Fede- des em parceria com outras instituições sempre rais do Brasil”, estabelecendo o compromisso de que seja do interesse da UC e que esta seja envolver as comunidades na gestão das Unida- favorecida por essa integração. des de Conservação. De acordo com o documen- 3. Monitoramento e Acompanhamento to, o Manejo Participativo é um instrumento Participativos - deverão ser realizados através da fundamental para proteger, de modo mais efeti- implantação de um Conselho Consultivo que as- vo, os ecossistemas inseridos nas UCs, sendo segurará a participação dos cidadãos nas ativida- uma “maneira de resolverem-se conflitos exis- des da unidade, tendo por finalidade zelar pelo tentes entre a sociedade local e as Unidades de cumprimento dos seus objetivos de manejo. O Conservação e, assim, obter-se maior aproxima- Conselho deve integrar os diferentes interessados ção e cooperação entre os administradores da uni- da comunidade, além de representantes de órgãos dades, comunidade acadêmica, ONGs, autorida- públicos envolvidos com a unidade, que se posi- des regionais, grupos da sociedade civil organi- cionarão sobre os diversos temas, cabendo ao zada e, particularmente, as comunidades vizi- IBAMA a palavra final na tomada de quaisquer nhas.” Nessa perspectiva, o objetivo da partici- atitudes. pação não é buscar sempre o atendimento dos Embora o Marco Conceitual já estabeleça

156 CADERNOS FBDS os momentos de participação propostos pelo neira, achou-se por bem incluí-las com as devi- IBAMA, a deficiência de uma unidade de con- das adaptações: ceitos e metodologias sobre a gestão de UCs, es- 1. O Brasil carece de um marco jurídico que pecialmente no que se refere ao Manejo permita ou favoreça os arranjos interins- Participativo, levou os executores do Projeto Do- titucionais de co-gestão. Embora o SNUC esteja ces Matas (Fundação Biodiversitas, IEF/MG, evoluindo para a inclusão de processos de parti- IBAMA e GTZ) a organizar, em 1998, uma “Ofi- cipação na gestão de Unidades de Conservação, cina sobre Gestão Participativa em Unidades de não estão sendo definidos instrumentos jurídi- Conservação”. Essa oficina reuniu as experiênci- cos adequados para respaldar essas iniciativas. as verificadas no Projeto Doces Matas - que en- Alguns estados estabeleceram decretos regula- volve o Parque Estadual do Rio Doce, o Parque mentando os processos de gestão colegiada para Nacional do Caparaó e a Estação Biológica da Áreas de Proteção Ambiental, mas o mesmo não Mata do Sossego - no Parque Estadual Intervales; se verifica para as UCs de uso indireto. Esse tema na Estação Ecológica Juréia-Itatins; na Reserva deve ser cuidadosamente avaliado, especialmente de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá; no frente ao processo de reestruturação do IBAMA, Parque Estadual da Serra do Brigadeiro; no Par- onde tem sido sinalizada a tendência da adoção que Estadual da Ilha do Cardoso; na Floresta do contrato de gestão para as áreas protegidas. Nacional do Tapajós e na Gestão de Reservas Recomenda-se o estudo minucioso do tema e a Extrativistas. criação de um marco jurídico que favoreça a Um dos primeiros consensos da Oficina re- descentralização da gestão ambiental, a partici- feriu-se à necessidade de se estabelecer um con- pação localeaco-gestão. ceito claro e amplamente aceito de participação, 2. Embora a participação tenha sido incorpo- abrangendo métodos de levantamento sobre rada ao discurso dos órgãos responsáveis pela ges- necessidades de mudanças e envolvimento de tão de áreas protegidas, verifica-se muita resis- interessados. Entre as conclusões da Oficina in- tência por parte do pessoal alocado nos órgãos clui-se o receio, quanto à perda do poder de au- governamentais em ceder o “poder” e suas com- toridade, dos funcionários das instituições res- petências a setores locais. A co-gestão tem se ve- ponsáveis pela administração das unidades em rificado como uma forma de concesão na qual o processos participativos, especialmente no que estado conserva o direito de veto e de cancelar, se refere à instalação de Conselhos Gestores, de forma unilateral, os acordos institucionais re- como um entrave que desgasta as iniciativas de alizados. Recomenda-se fomentar processos de Gestão Participativa. A identificação de metodolo- descentralização das agências públicas a cargo gias adequadas ao planejamento e à articulação po- da gestão de recursos naturais e fortalecer os or- lítica é imprescindível para suprir as falhas no pro- ganismos locais de administração descentraliza- cesso de implementação dos Planos de Gestão. da do patrimônio natural. O Quadro a seguir apresenta a síntese de 3. Muitos dos conflitos gerados nas UCs se ins- algumas sugestões e comentários selecionados talam devido a distorções nos processos de cria- sobre os temas discutidos nos grupos de traba- ção dessas áreas, e na definição de categorias de lho e em plenária, durante a Oficina sobre Ges- manejo, algumas inadequadas para as suas con- tão Participativa. Foram selecionadas as recomen- dições, muitas vezes ocupadas por populações dações que mais se aplicam ao processo de pla- residentes. Recomenda-se revisar as categorias nejamento aqui discutido. de manejo de áreas onde se verificam conflitos, De uma maneira geral, o processo de Ges- como é o caso do Parque Nacional do Itatiaia. tão Participativa no Brasil apresenta as mesmas 4. O manejo de zonas de amortecimento cons- características dos demais países da América La- titui uma estratégia importante para apoiar e tina, sendo que as recomendações internacionais consolidar as áreas protegidas, devendo ser par- sobre o tema, resultantes do Workshop sobre Co- te integrante do processo de zoneamento, ma- gestão (Girot e Rey 1998), realizado durante o I nejo e gestão das UCs. A Gestão Participativa Congresso Latino-americano de Parques Nacio- nas zonas de amortecimento constitui a única nais e Outras Áreas Protegidas, aplicam-se às maneira de desenvolver essas zonas de acordo Unidades de Conservação brasileiras. Dessa ma- com os objetivos para os quais elas foram defini-

CADERNOS FBDS 157 das. Dessa maneira, é imprescindível considerar sobre experiências de manejo participativo, re- a democratização dos níveis de participação nas comenda-se o estabelecimento de redes que per- tomadas de decisão. A proposta de desenvolvi- mitam aos atores institucionais, aos atores lo- mento para essas zonas deve basear-se em esfor- cais, aos pesquisadores e aos funcionários, ter ços concentrados dos diferentes atores envolvi- acesso a uma base de dados sobre experiências dos, uma vez que propostas definidas sem a par- de co-gestão, literatura teórico-prática sobre o ticipação não têm alcançado êxito. tema, metodologias de participação e marcos 5. Como forma de disponibilizar informações jurídicos adaptados às iniciativas de co-gestão.

TEMA* SUGESTÕES

Criação de UCs l Desenvolver diagnósticos prévios à criação de UCs

l Considerar as UCs como parte integrante de um planejamento regional

Método de planejamento participativo l Levantar as experiências existentes

l Formar grupos de estudo/discussão para análise de metodologias, selecionando as mais adequadas ou realizando adaptações para a realidade da unidade alvo.

l Capacitar a equipe e outros interessados

l Registrar e divulgar experiências

TEMA* SUGESTÕES

Diagnósticos l Executar diagnósticos sócio-econômicos participativos visando situar as UCs nos con textos local e regional e identificar interessados no manejo participativo (inclui-se mapeamento comunitário, uso e ocupação da unidade de conservação e seu entorno, diagnóstico rural participativo e perfil sócio-econômico)

l Identificar as atividades desenvolvidas nas UCs e entorno e potencialidades, visando a nortear seu planejamento

Informação e comunicação l Adequar linguagem para o trabalho com a comunidade

l Incorporar profissionais da área de comunicação no planejamento e gestão da UC

l Incorporar a análise do perfil sócio-cultural da comunidade às atividades do programa de comunicação

l Identificar e trabalhar as diferenças conceituais sobre o processo participativo dentro da equipe técnica responsável pelo desenvolvimento do plano de gestão e entre a equipe técnica e os outros interessados

l Esclarecer a comunidade sobre objetivos e conseqüências do processo participativo

l Estabelecer mecanismos de informação, para a comunidade, sobre os trâmites institucionais ligados à gestão de UCs, visando a dar conhecimento e garantir o cum- primento dos planos de gestão

l Divulgar as experiências em gestão participativa dentro das instituições que as execu- tam e entre diferentes instituições

Legislação l Identificar leis, normas e regulamentos pertinentes a todas as atividades da UC

l Identificar conflitos entre as atividades propostas no plano de gestão e a legislação vigente

l Buscar junto aos órgãos competentes a elaboraração de legislação pertinente à parti- cipação na gestão de UCs

158 CADERNOS FBDS TEMA* SUGESTÕES

Capacitação l Identificar necessidades de capacitação em todos os níveis funcionais, para que sejam pro- piciados treinamentos

l Cadastrar centros, órgãos e outros para a capacitação / treinamento sobre gestão partici- pativa, estimulando o intercâmbio de experiências

l Capacitar a comunidade e suas organizações em temas ligados à implantação de atividades econômicas compatíveis com o objetivo da UC (após definição das alternativas econômicas desejáveis)

l Capacitar as equipes técnicas das instituições envolvidas no planejamento de UCs na área gerencial (por ex., planejamento estratégico)

Formação de equipes e l Traçar o perfil desejável para integrantes das equipes institucionais de planejamento representação de interesses

l Definir critérios para a seleção de interessados e selecioná-los de acordocom os critérios preestabelecidos

l Promover mecanismos de integração entre a UC e os demais interessados

l Implantar e definir forma de atuação dos Conselhos Gestores (Consultivo ou Deliberativo) e formalizar suas competências através de estatutos

Conflito de interesses na l Sensibilizar os políticos quanto à gestão ambiental participativa (divulgando benefícios gestão participativa provenientes da UC, apoiando a comunidade para sua organização etc.)

l Identificar e analisar os conflitos entre os diferentes atores sociais e seus interesses, bus- cando sua conciliação e o estabelecimento de acordos

TEMA* SUGESTÕES

Representação de interesses l Convocar os diferentes interessados para discussão, visando o estabelecimento de no grupo gestor critérios transparentes de representatividade

l Cumprir acordos estabelecidos e manter a comunidade informada sobre o andamento dos processos, visando resgatar ou criar crédito entre as partes envolvidas

l Comprometer efetivamente os membros do grupo gestor na tomada de decisões

l Estimular a organização da comunidade, para garantir sua representatividade no grupo gestor

Entraves institucionais na l Desenvolver programas de informação, dentro e fora das instituições, visando amenizar as implementação de grupos resistências ao processo participativo de gestão

l Analisar as capacidades institucionais, evitando causar expectativas irreais à comunidade

l Avaliar o andamento dos processos nas instituições, efetuando correções

l Buscar a agilização dos trâmites administrativos para a formalização dos comitês partici- pativos

l Adequar os projetos de gestão de UCs aos processos participativos, em termos de tempo e custos

* = extraído dos Anais da Oficina sobre Gestão Participativa em Unidades de Conservação, Fundação Biodiversitas, 1998.

CADERNOS FBDS 159 3. A Gestão Participativa do Parque PNI participem do desenho da gestão da Nacional de Itatiaia unidade, o que é fundamental frente à es- trutura fundiária do Parque. O Parque Nacional de Itatiaia (PNI) já so- O PNI possui um papel fundamental nas freu dois processos de planejamento, um em atividades e, mesmo, na sobrevivência de algu- 1982, quando foi elaborado o Plano de Manejo mas das comunidades vizinhas que têm no tu- da unidade e outro em 1994, quando da elabora- rismo uma das principais fontes de renda, como ção do Plano de Ação Emergencial. No entanto, se verifica nos municípios de Resende e Mauá. nenhum desses instrumentos foi efetivamente Assim, a participação se configura na melhor al- implementado, cabendo a pergunta sobre a ternativa para o Parque. No entanto, algumas efetividade de um novo planejamento sem an- questões devem ser previamente respondidas, tes assegurarem-se os arranjos políticos e quais sejam: institucionais para a sua implementação. Qual o Plano de Manejo desejado? Por quê? O fato de os Planos de Manejo serem, de Qual o nível de participação desejado? uma maneira geral, muito ambiciosos, implica O órgão gestor está preparado e disposto a em um montante de recursos que raramente es- assumir e aceitar interferências e contribui- tão disponíveis; não incluírem claramente os res- ções sobre a gestão do PNI? ponsáveis para a execução das ações propostas; O esquema apresentado a seguir, retirado envolverem um prazo extremamente longo para do documento “Metodologias Participativas em o planejamento, o que implica algumas vezes na Planos de Manejo” (GTZ e Comitê Boliviano da necessidade de se trabalhar com realidades dife- IUCN, 1998), apresenta sugestões para as res- rentes daquelas identificadas pelos diagnósticos; postas às perguntas acima. e não se desenvolverem sob a ótica da participa- As seguintes atividades ou sub-passos de- ção – são alguns fatores responsáveis pela não vem ser considerados na definição da implementação dos mesmos. Na maioria das metodologia a ser adotada no PNI, baseada no vezes, a implementação é considerada como um workshop internacional sobre “Metodologias passo desvinculado do planejamento, não sendo Participativas para Elaboração e Implementação assumidos como um processo único e interativo. de Planos de Manejo em Áreas Protegidas” (GTZ As características do PNI, como a situação & IUCN, 1998): fundiária não regularizada, indicam que a co-ges- 1. Organização: deve incluir a organização dos tão ou a Gestão Participativa configura-se na recursos humanos locais e externos e a organi- melhor alternativa para assegurar a sua conser- zação do processo. vação a longo prazo, bem como para lidar com 1.1. organização dos recursos humanos locais - os conflitos de uso do solo verificados não ape- envolve a identificação de atores; informação e nas no entorno, mas dentro do próprio Parque. comunicação inicial com os atores; formação de A Gestão Participativa tem, ainda, a vantagem um comitê de monitoramento; e a formação da de suprir a deficiência de pessoal verificada no equipe técnica de planejamento; Parque, que passará a contar com a ajuda de 1.2. organização do processo - envolve definição ONGs, universidades, prefeituras e da iniciativa das necessidades de capacitação para todo o pro- privada. Conforme descrito anteriormente, a cesso e a definição da metodologia a ser adotada. abordagem participativa: 2. Diagnóstico: envolve cinco componentes: permite a construção de processos social- 2.1. levantamento de informações setoriais (só- mente sustentáveis e duradouros, uma vez cio-econômica, relações institucionais etc), de- que o Plano de Manejo assim elaborado res- vendo ser definida a melhor forma de aborda- ponderá às reais reivindicações dos interes- gem da população local, metodologias, transfe- sados; rência de informações ou de conhecimentos e permite a criação de mecanismos de gestão capacitação de técnicos locais para levantamen- que sejam menos afetados pelas mudanças to de informações; políticas, especialmente por contar com o 2.2. identificação de pontos críticos e aspectos respaldo da sociedade civil; negociáveis e não-negociáveis; assegura que os proprietários presentes no 2.3. levantamento de informações técnicas da

160 CADERNOS FBDS área – englobando a elaboração de mapas Da mesma forma, os conceitos que envol- temáticos, avaliação histórica da gestão da área, vem o Manejo Participativo possibilitarão uma características físicas e biológicas; discussão sobre o tema e o delineamento de pro- 2.4. apresentação das informações para serem postas para a revisão da gestão do PNI. A esse validadas pelos atores identificados; respeito, embora as informações sobre o Parque 2.5. descrição do estado atual e relação dos pro- não estejam atualizadas, algumas propostas já blemas da área. podem ser delineadas e submetidas à discussão 3. Elaboração do Plano: envolve os seguintes nesse fórum. Para a condução do planejamento sub-passos do PNI com enfoque participativo é imprescin- 3.1. sistematização, análise e avaliação das in- dível, primeiramente, a definição da sua gestão formações pela equipe de planejamento; estratégica. Alguns pontos devem ser esclareci- 3.2. análise da categoria da área, seus limites e dos antes de prosseguir-se com a elaboração de sua situação legal; um Plano de Manejo: 3.3. revisão dos objetivos da área e definição dos necessidade de discutir e definir os objeti- objetivos do plano; vos do Parque, considerando, inclusive, a re- 3.4. elaboração do zoneamento, discussão e re- gião que está ocupada por hotéis e proprie- visão após discussão com os envolvidos; dades particulares; 3.5. definição de programas, com estabelecimen- necessidade de estabelecer uma gestão mais to de prioridades de implantação; empreendedora; 3.6. definição das estruturas de participação dos rever e, se necessário, readequar e replanejar atores nas diferentes instâncias do manejo da área; as ações propostas pelo PAE (prioridades, 3.7. elaboração de pré-propostas técnicas, deba- objetivos, missão); te sobre as pré-propostas e realização de ajustes; melhorar a qualidade dos serviços prestados; 3.8. geração de mecanismos que produzam be- melhorar os instrumentos de comunicação nefícios e incentivos para os atores. e informação; 4. Consenso, revisão e aprovação do Plano com estabelecer claramente a estratégia de par- os interessados: a busca de consenso deve dar-se ticipação que norteará o planejamento e nos níveis local, regional e nacional, de acordo gestão do PNI; com a jurisdição da UC. buscar a melhoria contínua. 5. Aprovação formal: no âmbito da participa- Os pontos levantados, acrescidos da impor- ção, esse passo engloba o envolvimento da soci- tância do PNI para a manutenção da diversidade edade civil na discussão do plano, já definidos os biológica da região, indicam a urgência de se tra- critérios sobre o que pode e o que não pode so- balhar na sua gestão estratégica. A partir desse frer modificações radicais. momento espera-se que sejam detalhados os pla- 6. Implementação: é a etapa que pressupõe o nos de ação e programas específicos para aten- maior nível de participação, que se dá nos seguin- der às necessidades do Parque. As seguintes ati- tes momentos: vidades devem ser priorizadas: 6.1. incorporação dos atores na execução dos realizar o planejamento estratégico do PNI, programas, projetos e atividades específicas; estabelecendo objetivos e metas e elaboran- 6.2. formulação participativa dos planos do um instrumento de planejamento para operativos anuais. apoiar a gerência; 7. Monitoramento e ajuste: envolve dois sub- fortalecer a proteção do PNI; passos: minimizar os impactos decorrentes do en- 7.1. manutenção de uma equipe de revisão, ava- torno, através da integração da UC com as liação e ajuste, na qual deve participar o grupo comunidades vizinhas; gestor da área, a autoridade nacional competen- conhecer e proteger a biodiversidade do PNI; te e os técnicos convidados que participaram da rever o zoneamento do PNI, a partir do estu- elaboração do plano de manejo. Esse grupo iria do do uso público apresentado nesse Semi- avaliar os progressos através de reuniões perió- nário e realizar o zoneamento do entorno; dicas. estabelecer as diretrizes do processo 7.2. atualização do plano. participativo, promovendo a integração en-

CADERNOS FBDS 161 tre os diferentes interessados nas instânci- estabelecer planos de ação para o PNI e defi- as do planejamento e manejo da unidade nir os programas e sub-programas a serem de- que tenham relação direta com a comuni- senvolvidos, incluindo o planejamento dos dade, a partir do levantamento sócio- mesmos; ambiental das comunidades do entorno e capacitar os responsáveis pelo processo de dos visitantes do Parque, apresentado nes- gestão da Unidade de Conservação para o se Seminário; desenvolvimento e atualização dos progra- mas constantes no Plano de Manejo.

Estruturação do Plano de Manejo Participativo (GTZ / IUCN - Bolívia) O que é Plano de Manejo? Instrumento básico de planejamento técnico, regulador e propositivo para a gestão de uma área protegida Quais são os principais objetivos de um plano de manejo participativo? l Que harmonize as necessidades de conservação da diversidade biológica com os interesses locais e regionais l Que seja consensual ou acordado com os atores envolvidos l Que seja flexível l Que seja baseado em informação técnica, científica e de conhecimento local do lugar l Que o investimento em sua preparação seja coerente com o tamanho da área, com sua complexidade ecológica e social, e com o momento de seu desenvolvimento l Que contemple seu planejamento estratégico l Que seja gradual, como um processo de aproximação sucessivo no qual o nível de detalhe vá aumentando gradualmente l Que seja participativo (que os níveis de interação estejam vinculados aos atores definidos) l Que seja claro para todos usuários (devendo se necessário elaborar versões adequadas aos diferentes usuários) l Realista e aplicável, com um componente forte de capacitação l Estratégico Quem participa da implementação do plano de manejo? l Todos os atores envolvidos que assumiram responsabilidades na gestão da UC l Os encarregados da gestão da UC Em que se apoia a gestão? Apoia-se em: l definição de objetivos l estabelecimento do zoneamento l identificação de atividades e normas. Passos da elaboração e implementação de um plano de manejo participativo l Organização l Diagnóstico l Sistematização e análise da informação l Elaboração de propostas: zoneamento e solução de problemas l Consenso, revisão e aprovação de propostas com os envolvidos l Aprovação formal l Implementação l Seguimento e ajuste

REVISÃO AVALIAÇÃO AJUSTE CAPACITAÇÃO PARTICIPAÇÃO INFORMAÇÃO

162 CADERNOS FBDS Bibliografia

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CADERNOS FBDS 163 Represa ao lado do Abrigo Rebouças. (foto Teresa Cristina Magro)

164 CADERNOS FBDS Considerações Finais

Traçar as estratégias para solucionar esses problemas, ou aqueles considerados mais imedi- atos pela gestão atual, deve ser uma atividade prioritária. Paralelamente, deve se estabelecer uma estratégia mais abrangente para a gestão do 1. Gestão Participativa PNI, incluindo a criação do Conselho Consulti- vo. No caso da criação do Conselho, é importan- te definir, desde o início, qual será o seu campo Os problemas enfrentados pelo Parque de atuação e quais serão os grandes temas que Nacional do Itatiaia, no tocante à sua gestão e serão abordados, estabelecendo-se uma estraté- manejo, não são novos ou desconhecidos. No gia para o mesmo. O Conselho não deverá inici- PAE, último documento oficial de planejamen- ar suas ações sem que essas premissas estejam to do Parque, estão descritas várias ações para claras, sob pena de tornar-se um fórum para re- solução de problemas identificados. Segundo o solver problemas emergenciais que irão surgin- documento, o PNI vem enfrentando problemas do no varejo. Dessa maneira devem-se conside- cuja origem pode ser atribuída fundamentalmen- rar: te a questões de ordem político-insti-tucional, As pesquisas realizadas indicaram os inte- as quais são freqüentemente citadas nos diag- ressados em participar de um conselho des- nósticos, estudos e artigos produzidos na área se tipo, inclusive assumindo algumas res- ambiental. Afirma, ainda, que o PNI não vem ponsabilidades sobre a gestão do PNI? atendendo satisfatoriamente aos objetivos de sua Quais serão as atribuições desse Conselho? criação, colocando em risco parcela significativa Como a formação de um Conselho irá fa- de seus recursos naturais, além de não oferecer vorecer a gestão do PNI? as condições necessárias para as atividades de uso Quais as perspectivas futuras do PNI em público. termos de conservação, administração e As prioridades de ação identificadas pelo arrecadação? Plano de Ação Emergencial do PNI, definidas a Quem estará gerindo o PNI num futuro pró- partir da análise dos problemas e necessidades ximo? O IBAMA? Uma organização soci- do Parque naquele momento, estavam direcio- al? Um grupo de organizações? O governo nadas para a estrutura administrativa, recursos estadual? humanos, recursos materiais, estrutura opera- Um cuidado extra deve ser tomado com o cional e recebimento de visitantes. Esses temas esforço empenhado no planejamento, que não foram considerados fundamentais para o bom deve ser tão complexo e exigir tantos requeri- funcionamento da estrutura operacional admi- mentos que o tornem inexeqüível. Várias expe- nistrativa do Parque e para sua conservação a riências têm demonstrado que o esforço de atu- longo prazo. Dessa maneira, a análise compara- ação termina ao final do planejamento, sendo tiva das necessidades identificadas pelo PAE, em que os documentos produzidos, embora relati- 1994, com o que foi realizado, e uma readequação vamente completos, são, muitas vezes, de pou- com base nas necessidades atuais devem ser bus- ca ou nenhuma aplicabilidade. Esse esforço con- cadas como forma de reorientar as atividades centrado e a não aplicação dos modelos criados emergenciais. têm gerado uma alta dose de frustração entre

CADERNOS FBDS 165 aqueles que trabalham com a gestão de unida- Manejo do Parque. des de conservação. Uma vez que os recursos financeiros, desti- Acreditamos que sem um posicionamento nados à manutenção das áreas protegidas públi- e um direcionamento dos responsáveis pela ges- cas, são cada vez mais escassos, acreditamos que tão do PNI, seria improdutivo sugerir o melhor muitos dos problemas enfrentados atualmente caminho a ser tomado. O esforço atual de criar- pela administração do PNI são consequência da se uma base de dados e estudar o perfil do públi- falta de definição objetiva das atividades neces- co e da comunidade tornar-se-á pouco produti- sárias para que o PNI cumpra seus objetivos e vo se não estiverem inseridos nas necessidades e metas, da desatualização do zoneamento do Par- na realidade do PNI. que e da necessidade de implementação de es- Outro aspecto a ser considerado é a viabili- tratégias alternativas que viabilizem a manuten- dade de se sugerir um modelo de gestão inde- ção da unidade. pendente, sem a participação institucional dire- Parte desses problemas poderão ser soluci- ta dos responsáveis pela gestão da Unidade de onados com a revisão do Plano de Manejo, com Conservação. Além disso, é necessário saber um novo zoneamento e com um planejamento quais as instituições/pessoas que irão dar conti- adequado, baseado em critérios técnicos, das nuidade aos trabalhos iniciados. ações a serem tomadas no PNI, a curto, médio e Finalmente, devem ser direcionados esfor- longo prazos. Entretanto, enquanto a revisão do ços para a definição e integração da zona de Plano de Manejo não for efetivada, algumas amortecimento na revisão do zoneamento e no ações podem ser tomadas pela administração do planejamento do PNI, lembrando mais uma vez Parque para solucionar parte dos problemas re- as diretrizes do SNUC para essa zona e sugerindo lacionados ao manejo do uso público, pois, du- a inclusão de medidas com o fim de promover a rante a execução deste trabalho, observamos que sua integração à unidade. Nesse sentido é preciso grande parte do tempo do pessoal do Parque é lembrar que o PNI está inserido em uma Área de utilizada para atender às demandas dessa área. Proteção Ambiental, a APA da Mantiqueira, o que configura-se em um cenário muito mais positivo Ações Prioritárias de Manejo para sua a integração com o entorno. Houve uma pequena taxa de realização das propostas do tema relações institucionais, refe- rente à gestão junto a outras instituições para 2. Manejo do Uso Público efetivação de ações como captação de recursos, contratação e disponibilização de pessoal, ma- As avaliações biofísicas e sociais realizadas, a nutenção do Parque e de suas infra-estruturas, revisão da implementação de ações propostas pelo como estradas e abrigos. Plano de Manejo e de Ação Emergencial e as análi- Houve, também, pequena taxa de imple- se das sugestões dos visitantes, elaboradas em di- mentação do sub-programa Recreação e Lazer versas instâncias, evidenciam o uso público como apresentado no Plano de Manejo, relacionados à uma das maiores demandas do PNI, atualmente. manutenção e sinalização de trilhas e implemen- As conclusões aqui inscritas foram agrupadas de tação de facilidades como lanchonetes, estacio- cada um dos estudos desenvolvidos. namentos, abrigos e áreas de piquenique, entre Muitas das estratégias de gestão e manejo outras. recomendadas pelo estudo podem ser imple- Apesar de várias das proposições desses pla- mentadas com o pessoal já existente no Parque, nos encontrarem-se desatualizadas e até incom- como é o caso da organização do fluxo de veícu- patíveis com o próprios objetivos de manejo da los e pedestres nas portarias. Outras somente unidade, os resultados expostos acima foram poderão ser implementadas com a contratação confirmados por todas as análises complemen- de mais funcionários e/ou mão-de-obra tempo- tares realizadas neste trabalho, indicando que rária e com o auxílio de voluntariado. Neste es- essas são as ações identificadas como prioritárias tudo não propomos novas áreas de uso público, no manejo do PNI. uma vez que o documento oficial que define onde Outras ações prioritárias referem-se à cap- as atividades devem ser realizadas é o Plano de tação de recursos para implementação de proje-

166 CADERNOS FBDS tos que já estão disponíveis no Parque, como a pro- Trabalho Voluntário e Estagiários gramação visual do museu e a interpretação e re- Considerando a impossibilidade de contra- cuperação de trilhas. As iniciativas de tação de novos funcionários a curto prazo, o aten- implementação de brigadas de incêndio e de edu- dimento ao público poderá ser melhorado atra- cação ambiental, no entorno, devem ser intensifi- vés de trabalho voluntário e de estagiários, prin- cadas, uma vez que a principal causa de incêndios cipalmente nos períodos de férias escolares e fe- no PNI e na região é proveniente da pecuária. riados prolongados. Os locais mais indicados são o Posto1eo Concessão de Uso de Prestação de Posto 3, para entrega de folder e esclarecimento Serviços ao Público de dúvidas, e o museu, para atendimento e apre- O número de funcionários do Parque atual- sentação de palestras e programas interpretativos mente não é suficiente para atender a todas as nas trilhas. Algum trabalho irá requerer um trei- demandas existentes, e a eficiência dos serviços namento prévio que poderá ser oferecido pela fica ainda mais prejudicada pela dificuldade de equipe do Parque ou através de cursos periódi- acesso a recursos financeiros. Assim, algumas das cos realizados por professores, técnicos do atividades ligadas ao uso público poderão ser IBAMA ou pesquisadores que desenvolvem tra- conduzidas por particulares, mediante um con- balhos na área. trato de concessão de uso que estabeleça condi- KANIAK apresentou um estudo detalhado ções claras sobre a forma como a atividade deve caracterizando a situação dos Parques nacionais ser conduzida. O Programa de Monitoramento brasileiros com relação a disponibilidade e ne- aqui proposto poderá ser utilizado para cessidade de recursos humanos e demonstrando monitorar os possíveis impactos causados pelas as potencialidades e benefícios do trabalho vo- atividades e infra-estruturas mantidas pelos con- luntário. O autor apresenta uma estratégia clara cessionários. de implementação de um programa de volun- Com o intuito de testar o efeito da conces- tariado, envolvendo entidades civis sem fins lu- são de uso no Parque, a administração poderia crativos, e afirma que o Parque Nacional do apresentar duas propostas prioritárias: Itatiaia possui condições plenas e imediatas de reforma e uso do abrigo 1; absorvê-lo, juntamente com os parques da implementação e uso de uma área de cam- Tijuca, Iguaçu e Brasília. ping na parte alta do Parque. A atual área ANDRADE, sobre o trabalho voluntário de camping situada ao lado do Abrigo para a implantação de uma trilha de longa dis- Rebouças não deve ser utilizada para este tância que se inicia na Pedra do Lopo e termina fim, devido a sua proximidade com o rio no interior do Parque Nacional do Itatiaia, co- Campo Belo, pela fragilidade da área e por menta que esse recrutamento pode ocorrer a estar localizada na área de passagem para a partir das organizações ambientalistas e clubes trilha das Agulhas Negras. Para esse fim, po- excursionistas localizados nos municípios envol- deria ser destinada uma das áreas já exis- vidos, dos quais fornece uma lista de contatos. tentes antes da portaria ou, mesmo, uma O autor coloca, também, que os voluntários de- outra localizada próximo ao Posto vem ser coordenados por instituições estaduais Meteorológico. e federais já identificadas. O estudo oferece, ain- É importante ressaltar que o Parque não da, o formato de um curso básico que poderá ser deverá ter todas as suas áreas de camping ou aplicado não só a voluntários, como a técnicos abrigos designados para o uso de concessionári- das instituições selecionadas, para que detenham os. Ao menos um abrigo e uma área de camping conhecimentos sobre aspectos ligados à conser- deverão ser mantidos pelos concessionários, mas vação incluindo ecoturismo, educação ambiental, destinados a um uso diferenciado. A área de pes- e manejo de trilhas, que envolveria habilitação quisa não deverá ser prejudicada por essas inici- em tarefas necessárias à implementação, manu- ativas, devendo ser mantida a oportunidade de tenção e operacionalização das mesmas. uso dos abrigos durante a permanência dos pes- O programa de estágio e voluntariado pode quisadores no PNI. ainda receber apoio do SENAC e SEBRAE, exis- tentes na região, assim como ser patrocinado por

CADERNOS FBDS 167 empresas e instituições locais. Algumas das áre- ASPANIT – Associação dos Servidores do Parque as naturais protegidas brasileiras já utilizam esse Nacional do Itatiaia, a partir de 1999, começou a tipo de programa e vêm alcançando resultados produzir camisetas diversas com temas do Par- muito satisfatórios. que, canecas, chaveiros, canetas, bonés e outros souvenirs, com uma qualidade superior a que se Consistência nos Procedimentos encontrava na região e que já se encontram à Adotados disposição dos visitantes. Essa iniciativa deverá ser incentivada. Existem melhorias que necessitam ser efe- Filmes e outros materiais básicos, como pi- tivadas quanto aos procedimentos dos funcio- lhas e lanternas, também apresentam demanda nários do Parque. Uma vez definidas normas cla- por parte dos usuários e, associados aos materi- ras sobre isenção da taxa de entrada, deverá ser ais de promoção do Parque, deveriam ser postos instituído no Parque um procedimento único a à venda próximo às portarias e no museu. ser seguido nas duas portarias por todos os fun- cionários, incluindo o tipo de informação que será apresentada aos usuários. Da mesma forma, Lotação as atividades que não são permitidas devem ser O aumento da visitação é desejado pela atu- bem justificadas e, para aquelas que apresentem al administração do PNI e do IBAMA como for- uma alta demanda, poderão ser elaborados fo- ma de melhor cumprir os objetivos de um Par- lhetos explicativos para distribuição nos casos que nacional, quanto ao uso público, mas tam- de insistência e/ou horários e períodos de gran- bém pelo aumento da arrecadação das taxas de de afluência de visitantes. entrada e prestação de serviços. Algumas das for- Outro ponto refere-se aos ingressos que não mas de se evitarem a congestão dos pontos mais podem ser utilizados, no mesmo dia, nas duas visitados do Parque e a conseqüente percepção portarias. Esse procedimento tem gerado cons- de lotação, por parte dos visitantes, são infor- tantes conflitos com os visitantes. Ainda sobre mar sobre todas as opções existentes no Parque o ingresso, fazemos referência a sua validade por e abrir acessos a outros locais, como estratégia mais de um dia para hóspedes de estabelecimen- de dispersão do público. A cachoeira Véu da Noi- tos situados dentro do PNI, o que não acontece va e a piscina do Maromba têm sido motivo de para os hóspedes de outros locais, caracterizan- incômodo para os visitantes em relação a esse do um privilégio que os visitantes não compre- tema. endem com facilidade. Esse mesmo tipo de pro- blema tem sido verificado quanto às autoriza- Lixo ções de acampamento, o que estimula à realiza- ção de práticas clandestinas no interior do Par- O atual programa existente no Parque, de- que. nominado Montanha Limpa, promove informa- ções aos usuários em relação à disposição do lixo de forma seletiva e à retirada do lixo do Parque Distribuição e Venda de Material por parte do visitante. A administração informa sobre o Parque que o nível de lixo no interior do Parque foi bas- Durante o trabalho de campo, também ob- tante reduzido com a implantação desse progra- servamos que existe uma demanda para a com- ma. Listamos, aqui, alguns ajustes que necessi- pra de material sobre o PNI, como postais, cami- tam ser implementados: setas e publicações específicas sobre fauna e flo- as informações contidas no folheto distri- ra locais. Na cidade de Itatiaia encontram-se pou- buído precisam ser revisadas, pois fazem re- cos locais com venda de postais que, em geral, ferências a materiais que o visitante não possuem baixa qualidade de impressão. As ca- recebe; misetas vendidas na estrada de acesso tem o os latões existentes em 3 locais do Parque nome do Parque, mas, no entanto, as estampas também não correspondem às informações em sua maioria são de paisagens e animais exó- disponíveis nas placas informativas; ticos, onde é importante acrescentar que este é o usuário precisa ser orientado, pois, dentro um tipo de uso indevido da “marca” do PNI. A dos latões, encontram-se todos os tipos de re-

168 CADERNOS FBDS síduos misturados, independente da cor do tração do Parque, o que demonstra uma defasa- latão; gem entre as pesquisas realizadas e seu potenci- a coleta final precisa ser levada a sério, pois al de aplicação. Isso pode estar ocorrendo por dois o caminhão de lixo da Prefeitura não faz dis- motivos: ou os pesquisadores não fornecem in- tinção entre os resíduos, misturando-os. formações suficientes para que isso seja realiza- Foi evidenciada maior quantidade de lixo do ou as administrações não demonstram a de- exposto ou transbordando em épocas de feriado vida atenção para esses trabalhos, que em muito e férias no PNI, o que implicaria em um acordo poderiam ajudar o manejo da área. com a Prefeitura para maior frequência de reco- O número de pesquisas cadastradas, que lhimento nestes períodos, sobretudo nos locais vêm sendo realizadas no PNI, pode ser conside- de maior afluência de visitantes: Véu da Noiva, rado pequeno. Esse panorama pode ser modifi- Último Adeus, Churrasqueiras, lago Azul e mu- cado através de convênios formais com univer- seu. sidades e instituições de pesquisa, onde ocorram Em locais onde não existe a coleta munici- incentivos mútuos. pal de lixo, como no caso do planalto, deve ha- A relação entre o conhecimento do ambi- ver uma séria orientação para que o visitante leve ente do Parque com programas de uso público é seu lixo para fora do Parque. bastante frutífera, pois gera subsídios para os programas de interpretação e de educação Cadastros de Usuários ambiental. Além disso, fornece importantes in- formações a respeito de indicadores que devem Visando maior facilidade de comunicação e ser utilizados no monitoramento do impacto da informação ao visitante e em caso de implanta- visitação. ção de normas de uso/horários etc, seria bastan- Dois trabalhos que deveriam ser incentiva- te desejável que o Parque efetivasse um cadastro dos a curto prazo são o mapeamento das trilhas de agências que operam no Parque de maneira com GPS, uma vez que a base digital já existe, e sistematizada. o estudo atualizado do perfil do visitante, com Um cadastramento de guias capacitados técnicas adequadas de amostragem contemplan- para conduzir visitantes nas partes baixa e alta do as partes alta e baixa. Esses dois trabalhos po- do PNI deve ser realizado, visando disponibilizar derão ser importantes instrumentos para o mane- estas informações ao usuário. A administração jo do Parque e do uso público, viabilizando diver- do Parque realizou, em conjunto com outras ins- sas das propostas apresentadas neste relatório. tituições da região, um curso de capacitação de guias com este objetivo, iniciativa que deve ser apoiada e ampliada. Sugestões dos Visitantes Constatamos que grupos de montanhismo, As maiores frequências de sugestões dos que utilizam o Parque, promovem continuamen- visitantes nos questionários aplicados foram: te abertura de novas vias de escalada e trilhas de manutenção das estradas; acesso. Seria interessante criar um cadastro de sinalização indicativa no Parque; grupos com vínculos formais com o Parque, onde sinalização indicativa e informativa sobre haja a possibilidade de um planejamento con- as características das trilhas; e junto das atividades realizadas dentro do PNI, pedidos de mais vigias, para maior seguran- levando-se em conta a minimização dos impac- ça do visitante e controle de comportamen- tos gerados. tos inadequados. As principais reclamações referem-se aos Pesquisas preços das taxas de ingresso e de carros, pois con- BRAGA faz uma aprofundada análise do sideram que a infra-estrutura disponível, quan- PNI em termos do uso público. Coloca aspectos to à qualidade e quantidade, não justifica o va- favoráveis e desfavoráveis da parte baixa e da lor cobrado. parte alta e recomenda uma série de ações corre- Na caixa de sugestões do Centro de Visitan- tivas a curto, médio e longo prazos. Esse traba- tes, o uso público também foi o tema principal lho, porém, não é de conhecimento da adminis- dos comentários dos usuários do Parque, referen-

CADERNOS FBDS 169 tes à exposição do Museu, manutenção das estra- uso público; das, sinalização, maior disponibilidade e limpeza avaliação permanente da qualidade da água de banheiros e implantação de uma lanchonete. através de convênios com empresas de sa- neamento; Organização do Fluxo de Usuários nas eliminação, a curto e médio prazos, das fon- Portarias tes de contaminação. Todas estas medidas visam garantir tanto a proteção dos recur- O Parque pode promover uma melhor or- sos hídricos, quanto a saúde dos usuários ganização no Posto 1, quanto à circulação, na do PNI. guarita e estacionamentos dos ônibus de excur- são, dos ônibus de linha, dos demais veículos e Sinalização dos pedestres, para garantir a segurança dos vi- sitantes e uma melhor impressão e eficiência dos Alguns impactos detectados no Parque po- serviços oferecidos pelo Parque. Orientações tam- deriam ser evitados ou diminuídos com uma si- bém podem ser direcionadas aos passageiros de nalização adequada. Como exemplo, temos a pre- ônibus de excursão para não descerem enquan- sença de dejetos na trilha do Véu da Noiva, mui- to estiver sendo pago o ingresso, pois esta ação tas vezes próximos a cursos d’água, que poderi- gera tumultos na guarita, principalmente nos am ser evitados com a orientação de que o único dias de grande fluxo de visitação. O mesmo tipo sanitário existente está no início da trilha. Ou- de planejamento deve ser feito para o Posto 3, tro exemplo refere-se à sinalização e orientação, onde o número de funcionários é ainda mais res- nas trilhas, sobre o caminho correto, o que evi- trito. taria pessoas em áreas não permitidas, assim como a criação de novos caminhos não oficiais. Qualidade da Água Em caráter emergencial, muitas dessas placas po- deriam ser confeccionadas com a ajuda de esta- Os resultados de análises de qualidade de giários ou voluntários, com materiais de custo água realizadas no PNI demonstram que o rio reduzido, enquanto são solicitadas as placas no Campo Belo, que se inicia no Planalto, à medida padrão já existente no Parque. que se direciona para a cidade de Itatiaia, abas- Alguns pontos que necessitam de melhor tecida por suas águas, vai sendo contaminado por indicação para os usuários: efluentes e lançamentos de resíduos. Em uma churrasqueiras e sanitário próximo à Trilha primeira amostra coletada próximo à nascente do Lago Azul; deste rio, já foi evidenciado a presença de Trilha Itaporani; coliformes fecais. Na amostra coletada ainda no início da Trilha do Lago Azul; rio Campo Belo, na altura da piscina do ago Azul, sanitário da Maromba; a água apresentou-se imprópria inclusive para Trilha Poranga; e recreação, em função de sua contaminação. Vale Mirante do Último Adeus. Maiores infor- ressaltar que o ponto de captação de água para a mações sobre sinalização podem ser consul- cidade de Itatiaia fica abaixo do mirante do Últi- tadas no Item I.2.3. mo Adeus, onde existe uma quantidade ainda maior de residências e estabelecimentos. Uma vez que um dos objetivos estabelecidos Informações ao Usuário no Plano de Manejo do Parque Nacional do Itatiaia A visitação no Parque pode ser melhorada é o de proteger as nascentes da bacia do rio Paraná quanto à qualidade ambiental e à qualidade da e da bacia do rio Paraíba do Sul, propomos: experiência, através de informações ao usuário realocação da fossa do Abrigo Rebouças para sobre o que o Parque oferece em termos de am- local distante dos corpos d’água existentes; biente e sobre equipamentos básicos que devem fiscalização sobre limpeza periódica pelos mo- ser trazidos. radores do Parque e lançamentos clandesti- A portaria pode ser vista como o começo de nos; todas as percepções do visitante em relação à informação aos visitantes sobre as condições área, já que passando por ela entra-se no Parque. de potabilidade e balneabilidade dos locais de Desta forma, informações importantes sobre

170 CADERNOS FBDS atividades que podem ser desenvolvidas e locali- Algumas formas de se evitar futuras buscas zação das trilhas e locais de visitação podem ser na parte alta são: a orientação rigorosa sobre os fundamentais para muitos visitantes. Um posto horários de entrada dos grupos; assinatura de um de informações junto às portarias do Parque tor- termo de responsabilidade; vistoria obrigatória naria a circulação nesses locais mais organizada, dos equipamentos e vestimentas de frio trazi- uma vez que muitos visitantes, para sanar suas dos ao Parque; e checagem de acompanhamento dúvidas, dirigem-se aos vigias que estão cobran- de guia experiente. do os ingressos e controlando as saídas de visi- Equipamentos de primeiros socorros e de tantes. Informações sobre locais de visitação, ali- busca necessitam de um maior investimento e mentação e hospedagem são as mais requeridas de uma melhor localização para casos de emer- pelos usuários. Um mapa detalhado das trilhas gência. Funcionários devem ter treinamento existentes é bastante procurado. Atualmente é constante sobre esses assuntos, através de con- distribuído um folder do Parque contendo infor- vênios com instituições da área, com patrocínio mações gerais sobre a área. de empresas da região.

Estrangeiros Campings A visita de estrangeiros ao PNI, mesmo sen- O fato de as áreas de camping não serem do pequena, deve ser mais bem atendida, pois atu- regularizadas faz os visitantes buscar áreas ge- almente os usuários que chegam a pé, apenas com ralmente próximas a corpos d’água ou com mai- informações de guias, ficam bastante desorienta- or facilidade para deslocamentos. A delimitação dos na sua visita ao Parque. A confecção de folders de áreas em locais mais adequados e mais resis- em inglês e em espanhol ajudariam a sanar esse tentes ao uso, com a instalação de infra-estrutu- problema, uma vez que o número de funcionários ra adequada de saneamento e de locais para rea- que poderiam fornecer informações a esses visi- lização de fogueiras, irá diminuir consideravel- tantes é pequeno. Outra iniciativa necessária é uma mente os efeitos negativos desta atividade na parceria entre o Parque e órgão oficiais de turismo, parte alta do Parque. para que se preparasse melhor o turista estrangei- Como diretrizes gerais citamos o incentivo ro para as condições existentes hoje no Parque. ao uso de fogareiros, orientação para enterrar fezes a 60 m de corpos d’água, trilhas e áreas de Orientação aos Usuários quanto a uso, incentivo para o visitante retirar seu pró- Impactos prio lixo e orientação para evitar barulho, sobre- Informações simples devem ser repassadas tudo quando em grupos grandes. A administra- ao usuários sobre ética e técnicas de mínimo im- ção pode colocar latões em locais estratégicos, pacto em áreas naturais. O Centro Excursionis- promovendo uma coleta periódica. ta Universitário tem trabalhado diretamente com esses conceitos, buscando implementar, em Infra-estrutura conjunto com outras instituições, um programa Na parte alta deve haver uma coleta mais que possa ser aplicado em todo o país. Folhetos frequente do lixo por parte da administração, a esse respeito, assim como palestras, podem ser pois foram observados diversos latões com lixo realizados com patrocínio de empresas e parce- transbordando e exalando mau cheiro. Quanto rias com ONGs da região. ao lixo espalhado pelo visitante, deve haver maior orientação para que o mesmo recolha seus resí- Segurança duos. Foram localizados animais domésticos nas Alguns acidentes identificados na parte alta moradias e estabelecimentos, derrubadas de ár- do PNI, como torções de pé, podem ser evitados vores, indícios de fogo, acúmulo de entulho, chei- com orientação sobre calçados adequados e cui- ro de esgoto e plantas exóticas, fatos que devem dados ao caminhar. Outros acidentes relaciona- ser mais bem orientados por parte da adminis- dos a escorregões nas trilhas podem ser evitados tração do Parque. com melhoria dos leito das trilhas, principalmen- Na parte baixa a situação se repete, deven- te se realizada antes das épocas de chuva. do haver maior frequência de coleta de lixo por

CADERNOS FBDS 171 parte da Prefeitura e colocação de maior número retirada do gado, que acaba provocando ca- de latões de lixo. Nesta área também foram lo- minhos não oficiais e contribuindo para a calizados problemas como animais domésticos, compactação e desestruturação do leito; danos e derrubadas de árvores, indícios de fogo, desvio da água de enxurradas que vêm pro- acúmulo de entulho e cheiro de esgoto que de- vocando sérios problemas de erosão; vem ser eliminados por esclarecimentos pela ad- realocação do leito, onde a declividade for ministração do Parque. Foram ainda observadas muito acentuada; casas abandonadas que incentivam a depreda- manutenção periódica, para que problemas ção e pichação por parte dos usuários, e mudan- como profundidade e exposição de raízes e ça de comportamento animal, por alimentação de pedras sejam evitados; indevida da fauna pelos moradores da região. Es- estruturas de drenagem, melhorando as pécies exóticas na parte baixa foram localizadas condições de caminhada pelo leito; em 100% das moradias avaliadas devendo rece- fechamento e recuperação de trilhas não ber da parte da administração uma boa orienta- oficiais, que confundem os visitantes e pro- ção e um planejamento de erradicação das espé- vocam a degradação da vegetação local. cies com maior poder de disseminação. MAGRO (1995) comenta que no planalto a trilha até a base das Agulhas Negras necessita Fiscalização de um plano que leve em conta um novo traça- do, a escolha adequada de materiais para recu- Diversos impactos identificados no PNI es- peração de determinados trechos e uma sinali- tão relacionados ao comportamento inadequa- zação adequada. Nesta região do planalto, o exér- do e/ou desinformação dos usuários. Parte dos cito costuma realizar treinamentos, causando temas a ser mais bem esclarecida pela adminis- uma série de trilhas não oficiais. A área a ser uti- tração já foi comentada. Contudo, muitas vezes, lizada por esse grupo necessita ser demarcada e apesar da informação estar disponível, os proble- realocada, pois atualmente essas atividades vêm mas são recorrentes. Para estes casos, recomenda- se desenvolvendo no interior da Zona Intangí- mos maior ação de fiscalização, sobretudo nos lo- vel e da Zona Primitiva. cais onde já existem postos permanentes, através A mesma autora alerta para alguns pontos de rondas periódicas nos locais de visitação, como da trilha das Prateleiras que apresentam até 20 as trilhas da Maromba e do lago Azul. bifurcações, necessitando de um plano com um Muitas das ações que necessitam ser fisca- novo traçado, que leve em consideração a segu- lizadas referem-se à presença de animais domés- rança dos visitantes e a estética do local. O leito ticos, lançamento de esgotos clandestinos, der- principal deve ser recuperado desde a estrada, rubadas e danos a árvores, indícios de fogueiras, sendo os demais fechados e recuperados. Alguns depredação de estruturas e pichações. Os pró- trechos da trilha principal mais erodidos devem prios visitantes sentem a necessidade de maio- ser recuperados e fechados, devendo assumir-se res segurança e controle do comportamento dos alguma das bifurcações em melhor estado. Exis- demais usuários das trilhas. te a necessidade de guia e de sinalização indicativa. Trilhas Na parte baixa, a situação é semelhante. As A administração precisa repensar os locais trilhas necessitam de: sem infra-estrutura sanitária (planalto e trilha melhorias em determinados locais para que Poranga) para um maior conforto do usuário e os visitantes não se segurem em galhos, da- proteção dos recursos. De maneira geral, as tri- nificando a vegetação; lhas da parte alta do Parque, em função dos im- endurecimento do leito em determinados pactos detectados, necessitam de: pontos, evitando o desgaste demasiado, com recuperação do leito em praticamente toda exposição de pedras e raízes; sua extensão; acessos oficiais à água e a locais com vista sinalização que evitaria que muitos grupos panorâmica, para que os visitantes não se perdessem e também a abertura de ca- abram caminhos por conta própria; minhos não oficiais; implantação e manutenção de infra-estru-

172 CADERNOS FBDS tura de segurança; da região. Este mirante e a trilha do Véu da Noi- orientação de funcionários sobre roçadas que va foram os locais mais visitados segundo as ava- provocam erosão e exposição de raízes; liações realizadas, e que se encontram nas piores sinalização sobre risco de enchente e afoga- condições de saneamento, apresentando os maio- mento. res índices de lixo espalhado e cheiro de urina. Quanto a locais específicos, comentamos sobre a trilha do lago Azul que os grupos de ex- cursão devem ser orientados para andar com maior espa-çamento entre si, evitando congesti- onamento e alargamento da trilha por pisoteio 3. Plano de Monitoramento para o da vegetação ao lado da mesma; para a manu- Uso Público do PNI tenção da trilha dos Três Picos, é necessária uma definição formal quanto à responsabilidade, que No “Relatório Final, vol. I, do Eestudo de hoje está dividida entre o Parque e o Hotel Simon. Manejo do Uso Público”, as pesquisadoras Tere- Nesta trilha, um registro dos visitantes que a sa Magro e Valéria Freixêdes Vieira fazem uma utilizam seria interessante para o caso de haver proposta metodológica para o monitoramento acidentes; na trilha Poranga é necessário um acor- do uso público através de indicadores sociais e do com o proprietário para maior manutenção e biofísicos. Esta proposição bastante detalhada e implantação de infra-estruturas, como sinaliza- voltada para auxiliar a administração do PNI no ção e lixeira no início da trilha, degraus e drena- monitoramento foi retirada desta presente pu- gem; o mirante do Último Adeus é bastante uti- blicação. Pode ser solicitada à FBDS por aqueles lizado e os visitantes sentem falta de um painel que se interessem pelo desenvolvimento deste que indique o nome das montanhas e das serras assunto.

Cachoeira da Maromba. (foto Teresa Cristina Magro)

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