Opiniões Número: Depoimentos ornalornal Novos Lançamentos 233 dede Mês: Maio Entrevista JJ Ano: 2018 LetrasLetras Literatura Infantil Preço: R$ 5,00 JL ACESSE: digital www.folhadirigida.com.br/ edicoes-digitais/ jornal-de-letras

Falcão Imortal O escritor e jurista Joaquim Falcão foi eleito para a Cadeira número 3 do quadro dos membros efetivos da Academia Brasileira de Letras, vaga com a morte do acadêmico . Concorreu com a escritora Vilma Guimarães Rosa, filha do escritor João Guimarães Rosa (1908-1967). (Por(Por ManoelaManoela FerrariFerrari –– págs.págs. 1010 ee 1111 –– Foto:Foto: GuilhermeGuilherme Gonçalves).Gonçalves). ornalde 2 JLetras

JL Editorial JL Opinião Arnaldo Niskier

A prova de que não andamos bem, em matéria de educação, no acervo JL O sucesso do Canal Futura Rio de Janeiro, por exemplo, é a progressiva extinção do número de escolas nesse importante estado da união brasileira. São 384 fechadas, Numa visita feita ao gerente do Canal nos últimos anos, criando problemas de acessibilidade para os seus Futura, João Alegria, soubemos de alguns alunos. Eles estão sendo remanejados para locais distantes. Alguns até números de programas de relevo, como o desistem de estudar. As desculpas apresentadas não são defensáveis, “Identidade Brasil”. Na segunda-feira, às apesar da evidência da crise econômica em que vive o Rio de Janeiro. 17h30, no Canal 87, quando ele é apresen- Existe agora uma perspectiva de que as coisas vão melhorar, com a tado, há uma audiência de 21 milhões de recuperação da Petrobras e a força do que representa para a economia pessoas, o que dá bem a dimensão do alcance do programa, nessa ver- dadeira escola sem paredes. o famoso pré-sal. Mas até que tudo volte aos eixos, teremos dado uma O que se pode afirmar, com toda segurança, é que 46% da nossa triste demonstração de retrocesso, exatamente no setor mais importan- população conhece essa rica programação, hoje licenciada para ser te da economia do Estado fluminense. Uma pena que isso tudo esteja apresentada em emissoras da Europa, África, América e Ásia, divulgan- acontecendo. do ações de mobilização comunitária. O Canal Futura cresceu muito O Editor. a partir do seu nascimento, no Rio, no dia 10 de setembro de 1997. Estima-se que, hoje, sirva a 60 milhões de brasileiros, com o reforço de uma importante rede de televisões universitárias, o que lhe dá ainda maior dimensão. No caso do “Identidade Brasil”, os temas abordados referem-se, basicamente, a educação, cultura, tecnologia e inovação, servindo, assim, a alunos e professores, além de estagiários atendidos pelo Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), que acaba de criar uma inteligen- te Universidade Corporativa em São Paulo, para um universo de 20 mil estudantes por mês no Saber Virtual. A madrugada não conhece obstáculo para o Canal Futura. Os grandes temas da atualidade são discutidos de modo permanente, como aconteceu outro dia, às 3h da manhã. A TV Futura apresentou um belíssimo programa de discussão sobre as questões de gênero, na Escandinávia, particularmente na Suécia. Os alunos de pré-escola não são chamados de menino ou menina, mas por uma expressão genérica (heren). O significado disso é discutido por pais e professores. Dá um novo sentido ao papel da escola. É uma questão de atualidade. Faz tempo que defendo que a escola não é um espaço onde se aprende somente letras e números. É no ambiente escolar que se promove a cidadania e se aprende a pensar. Falar de gênero na escola é exercitar o reconhecimento da igualdade entre homens e mulheres, estimulando o convívio num espaço democrático e inclusivo, onde estudantes aprenderão as regras mais simples do respeito mútuo. Repito sempre que necessário: a escola é um instrumento poderoso para o exercício da cidadania, onde se formam cidadãos que tenham apreço pela liberdade e pela tolerância, em igualdade de condições para todos. Isso está na legislação brasileira. Um dos artigos A Academia Brasileira de Letras abriu seu ciclo de conferências do mês de abril de 2018, intitulado da nossa Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional dispõe que: As cidades dos poetas, com palestra do acadêmico, professor, poeta e ensaísta Antonio Carlos “A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de Secchin (foto: Guilherme Gonçalves). O tema escolhido foi Caetano Veloso: Londres e São Paulo. liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.” J Silenciarmo-nos sobre essa questão é reproduzir as desigual- L Expediente dades e ignorar a diversidade. Veicular debates sobre o assunto, como Diretor responsável: Arnaldo Niskier faz o Canal Futura, não significa anular as diferenças, nem promover Editora-adjunta: Beth Almeida ideologias. Canais como o 87 nos apresentam um espaço livre de dis- Colaboradora: Manoela Ferrari criminação, com a potência de formar uma audiência sem machismo, homofobia, misoginia ou qualquer outro tipo de preconceito. Secretária executiva: Andréia N. Ghelman Redação: R. Visconde de Pirajá N0 142, sala 1206 — Tel.: (21) 2523.2064 – Ipanema – Rio de Janeiro – CEP: 22.410-002 – e-mail: [email protected] Distribuidores: Distribuidora Dirigida - RJ (21) 2232.5048 Correspondentes: António Valdemar (Lisboa). “Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de Programação Visual: CLS Programação Visual Ltda. Fotolitos e impressão: Folha Dirigida – Rua do Riachuelo, N0 114 muito trabalho” Versão digital: www.folhadirigida.com.br/edicoes-digitais/jornal-de-letras O Jornal de Letras é uma publicação mensal do Instituto Antares de Cultura / Edições Consultor. Clarice Lispector ornalde JLetras 3

O acadêmico Arnaldo Niskier recebe a Medalha da Ordem Mérito judiciário do Mérito Judiciário Militar das mãos do presidente do O diretor responsável do JORNAL DE LETRAS, o acadêmico Arnaldo Superior Tribunal Niskier, recebeu a insígnia da Ordem do Mérito Judiciário Militar, no Militar, José Coelho. grau Alta Distinção. A entrega das medalhas ocorreu na solenidade em que o Superior Tribunal Militar (STM) comemorou os 210 anos de histó- ria da Justiça Militar da União, no Salão de Festas do Clube do Exército, no Lago Sul, em Brasília. Entre os agraciados, o presidente do Senado Federal, Eunício Oliveira, o general de Exército Walter Braga Neto, interventor federal na segurança pública do Rio de Janeiro; o ministro da Justiça, Torquato Jardim; e os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), José Antônio Dias Toffoli e Alexandre de Moraes, além de parlamentares, membros do Judiciário, Ministério Público e Executivo e integrantes da sociedade civil. A organização não governamental Médicos sem Fronteiras está entre as instituições agraciadas. 61 anos de história

A Ordem do Mérito Judiciário Militar (OMJM) foi criada pelo Superior Tribunal Militar (STM), em Sessão de 12 de junho de 1957, para celebrar os 150 anos da Justiça Militar da União, fundada em 1º de abril de 1808. A condecoração contempla pessoas e instituições que tenham prestado relevantes serviços à Justiça Militar da União. Além de ser uma forma de reconhecimento dos trabalhos prestados pelos próprios inte- grantes da Casa, a comenda também é dirigida para membros de outras instituições. O casal Arnaldo e Ruth Niskier, com a senadora Ana Amélia (PP-RS), que também esteve entre os agraciados pelo Tribunal de Justiça do DF com a medalha da Ordem do Mérito Judiciário.

amor”, “Quem é Beta” e a comédia carioca “El justicero”, sem esque- Nelson Pereira dos cer o clássico histórico “Como era gostoso meu francês”. Santos, o pai do Nelson Pereira dos Santos foi fundador do curso de cinema da Universidade de Cinema Novo Brasília e lecionou na Universidade da Cali- fórnia e na Universidade Membro da ABL desde 2006, o cineasta paulista do Brás Nelson de Columbia, em Nova Pereira dos Santos sentava ao meu lado, nas sessões plenárias da Casa York. Como se vê, um de . Era um convívio extremamente amável e, por isso, intelectual de múltiplas inesquecível. qualidades, que o país Seu amigo e admirador, Cacá Diegues afirmou que Nelson inven- perde e lamenta pro- tou um cinema que somente poderia ser feito no Brasil. Levado a fundamente. assistir a longa-metragens por sua mãe, no Cine Teatro Colombo, em São Apesar de ter se Paulo, acostumou-se com as obras de autores como Graciliano Ramos dedicado também ao jornalismo, participou de atividades de cineclubes (levou à telas obras como Vidas Secas (1963) e Memórias do Cárcere), e de teatro amador, além de se envolver com política, tendo se filiado Machado de Assis (Azylo muito louco), (Tenda dos milagres ao Partido Comunista Brasileiro, do qual se desligou em 1956. Em 1949, e Jubiabá), Guimarães Rosa (A terceira margem do rio), Nelson Rodrigues viajou a Paris. Durante dois meses, frequentou a Cinemateca Francesa, (Boca de ouro), Gilberto Freyre (Casa Grande & senzala) e de Henri Langlois. Ao voltar, filmou “Juventude”, média-metragem (Guerra e liberdade). Nelson costumava afirmar que era de uma geração destinado ao Festival da juventude que ocorreria em Berlim. Em 1952, formada por esses e outros escritores do modernismo. foi assistente de Alex Viany em “Agulha do palheiro” e foi acumulando Vindo para o Rio de janeiro, tornou-se pioneiro do Cinema Novo, experiências necessárias. com o seu notável “Rio 40 graus”, de 1955. Foi influenciado pelo neorrea- Extremamente criativo, Nelson Pereira dos Santos filmou, em 1976, lismo italiano, de cineastas como Roberto Rosselini e Luchino Visconti. o seu “Amuleto de Ogum”, quando analisou as religiões afrobrasileiras Mesmo tendo feito o curso de Direito na USP (concluiu em 1953) e e, em 1980, filmou o musical “Estrada da Vida”, baseado na trajetória da exercendo atividades de jornalista no Jornal do Brasil e na Manchete, no dupla Milionário e José Rico. Ganhou muitos prêmios internacionais Rio de Janeiro, estava predestinado a dedicar a maior parte de sua vida e herdou de Humberto Mauro o título de “pai do cinema brasileiro”, ao cinema. Produziu “Rio, zona norte”, filmou documentários sobre até ter a sua vida interrompida por um câncer fatal. Deixou a mulher a seca do Nordeste e, em termos de contracultura, filmou “Fome de Ivelise, quatro filhos e cinco netos, além de uma saudade infinita. ornalde 4 JLetras

JL Breves JL Humor por Manoela Ferrari [email protected] por Jonas Rabinovitch [email protected]

TRÊS EVENTOS importantes CONCRETIZADA na segunda marcam a viagem do Acadêmico metade de 2017, a compra da NO PLANETA DOS ANIMAIS Antônio Carlos Secchin a Lisboa, FENAC pela Cultura fez esta pas- TAPETE DE HOMEM neste mês de maio. Além da sar de 17 para 29 lojas em São palestra sobre sua criação lite- Paulo, tornando-a a maior livra- rária, na Faculdade de Letras da ria do Brasil. A rede completa 70 Universidade de Lisboa, o escri- anos, desde o início comandada tor tomará posse na Academia por Pedro Herz, responsável pelo de Ciências de Lisboa e, por fim, lançamento de O Livreiro, com lançará sua mais recente obra 240 páginas, pela Ed. Planeta, – Desdizer, na Biblioteca da contando ele próprio a sua his- Imprensa Nacional. tória no ramo.

O PRIOR DA ORDEM Equestre MORTA AOS 73 anos, em 2004, do Santo Sepulcro de Jerusalém, Hilda Hilst será a terceira mulher Monsenhor André Sampaio, homenageada numa FLIP-Festa lançará este mês uma das mais Literária Internacional de Paraty, importantes obras sobre a insti- este ano na 16ª edição, confirma- tuição. Trata-se de um livro com díssima entre 25 e 29 de julho. A a história da Ordem que há mais escritora acumulou premiações de 1000 anos é uma das guardiãs como Jabuti e APCA, havendo da tradição católica. Monsenhor sido traduzida para o inglês, Sampaio faz parte do Corpo francês, alemão, espanhol, ita- Diplomático da Santa Sé, já tendo liano e japonês. Antes dela, servido em várias Nunciaturas Clarice Lispector, em 2005, e Ana Apostólicas do mundo. É um Cristina César, em 2016, foras as ATÉ O MÊS de junho deverão ser UMA HISTÓRIA ÚNICA, último dos mais preparados Sacerdotes escolhidas. concluídas as reformas no prédio romance do laureado escritor Católicos da atualidade. da Biblioteca Nacional, no Rio, britânico Julian Barness, aterris- N OVO ESPAÇO de arte no cen- estendidas durante os últimos sa em junho no Brasil pelas mãos A SESSÃO DE autógrafos do tro da capital paulista, o Farol sete anos. Foram financiadas da Editora Rocco. novo livro do rabino Nilton Santander, majestosa sede do por recursos do Ministério da U Bonder – Alma & Política – Um antigo Banespa, reabriu após Cultura. M DOS NOMES da atualida- regime para seu partidarismo, longas e cuidadosas reformas de literária mundial, Margaret lançado pela Editora Rocco, con- com atrações em 18 de seus 35 REÚNE 20 CONTOS o novo Atwood terá publicado no tou com a leitura de trechos da andares, ficando aberto ao públi- livro do escritor mineiro Luiz Brasil, pela Ed. Morro Branco, obra por Mateus Solano e Joice co de terça a domingo, das 9 às Ruffato, edição da Companhia HagSeed. Niskier, na Livraria da Travessa 19 horas. das Letras: A cidade dorme. Em A de Ipanema. 2016, ele sagrou-se o primeiro DQUIRIDA NOS EUA pela E MBORA O centenário de João não europeu a faturar o Prêmio Avery Press, a autobiografia E NCOMENDADA ao jornalis- Cabral de Melo Neto só aconteça Internacional Hermenn Hesse, de Gisele Bündchen para os ta Paulo Roberto Pires, com o em 2020, a Ed. Todavia já fechou da Alemanha. brasileiros ficará sob a responsa- aval da família, a Editora Todavia com Ivan Marques, professor de bilidade da Editora Record. prepara a biografia completa do literatura brasileira da USP, para COM MAIS UM título lançado S saudoso escritor carioca Millôr publicação da biografia do poeta na praça, História dos Crimes ERÃO CONHECIDOS, em junho, Fernandes, que foi casado com a no início daquele ano. e da Violência no Brasil, com os vencedores do Prêmio SESC querida Cora Rónai. 485 páginas, pela Editora Unesp. 2018. Sempre incentivando o U M NOVO SELO de quadrinhos Este em associação com Angélica aparecimento de novos valores, T ÍTULOS BRASILEIROS da psi- será entregue ao público pela Müller, da Universidade Federal a entidade recebeu este ano a canalista Maria Rita Khel, da Editora Rico, com foco em auto- Fluminense, Mary del Priore, inscrição de 1.540 originais: 820 urbanista Raquel Rolnik e da res brasileiros. da Universidade Salgado de para romances e 720 para con- autora de obras infantis Tatiana tos. N Oliveira, atinge 48 livros de Tokitaka, pertencentes à Editora O SEGUNDO semestre, a História. F Bom Tempo, foram negociados Globo Livros coloca nas livrarias ICOU ACERTADA a data de 31 para a Inglaterra, Argentina, a biografia da grande estrela do EM 2017, conforme a União de maio para o lançamento de Chile, Espanha e Uruguai. cinema francês Brigitte Bardot, Brasileira de Compositores, Hippie, livro mais recente de responsável por inserir a praia as mulheres obtiveram renda (Ed. Paralela / M ARCANDO 20 anos da série fluminense de Búzios no cenário média 28% inferior aos homens Companhia das Letras). “Música no Museu”, responsá- internacional, através das provo- em direitos autorais, pela execu- SAI, ainda este ano, pela Ed. vel só no ano passado por cerca cantes fotos com ela feitas pela ção pública de suas músicas. de 420 concertos no país, Sérgio imprensa do mundo inteiro em Zahar, Dicionário amoroso da Costa e Silva prepara livro come- suas areias. COUBE À Editora Ter-60 os psicanálise, escrito pela francesa morativo para publicação ainda direitos da publicação na Itália mundialmente famosa no setor C neste semestre. OMPLETANDO 30 anos, Virando do livro Sonata em Auschwitz, da Elisabeth Roudinesco. a própria mesa – uma história escritora brasileira Luize Valente. N SEMPRE na frente, nasce, em O MOMENTO em que se pro- de sucesso empresarial made in Na França, a escolha recaiu sobre São Paulo, o Espaço Cultural cura fortalecer o mecanismo de , escrito pelo empresário a Ed. Les Escoles. incentivo cultural, a Lei Rouanet, Ricardo Semler, com mais de Cerverbaria, primeira cervejaria- desde a sua instituição, há 26 500 mil livros, teve edições em BASEADA EM livro do português -editora do mundo. Nos rótulos anos, até ao fim da última tem- 36 países. Impresso pela Nova Norberto de Morais, Patrícia das garrafas, textos inéditos e porada, injetou mais de R$ 16 Cultural, a obra foi antes recusa- Andrade está produzindo para a eventos diários em happy-hours, bilhões no setor em projetos de da em variadas editoras nacio- TV Globo a série “O pecado de reunindo bate-papos com os todas as ordens. nais. Porto Negro” em dez episódios. autores. ornalde JLetras 5

Malcriado “A criança é malcriada porque foi mal criada.” Perfeito! Veja: Malcriado (adjetivo): descortês, mal-educado (aliás, adjetivo for- Na ponta mado por mal somente é hifenizado quando a palavra seguinte começar com vogal ou h. Ex.: mal-humorado). da Língua Mal criado (advérbio de modo): de modo imperfeito, de modo rude. Por Arnaldo Niskier – Ilustrações de Zé Roberto Não me beije! “Quando eu ver você na rua, vou dar um beijo.” Suspensão justa Esse beijo não será bom! A conjugação do verbo ver no futuro do subjuntivo é vir. Período correto: “Quando eu vir você na rua, vou dar um beijo.” “O atraso constante da funcionária implicou em suspensão por dois dias.” A punição seria mais justa se o complemento do verbo implicar estivesse certo. Uma questão de princípios Este verbo no sentido de acarretar é transitivo direto, logo o seu complemento – objeto A princípio de tudo devemos ter em princípio que poderemos ganhar essa Copa direto – não admite preposição. do Mundo. Ótimo! Esperamos que sim. Construção correta. Observe: a princípio – no Frase correta: “O atraso constante da funcionária implicou suspensão por dois início / em princípio – em tese, antes de qualquer coisa. dias.” Torcida duvidosa Ainda os homônimos “Jogaremos um futebol muito bom, mas contando com os fluídos positivos envia- “Cansei de apressar meus funcionários para apreçar dos pelos torcedores.” os produtos”, disse Jorge ao irmão. Assim, ficará difícil! Fluído é o particípio do verbo fluir. O que os brasileiros man- Novamente, cuidado com os homônimos homófonos darão para o nosso time serão fluidos, sem acento. (mesmo som, grafias diferentes). Período correto: “Jogaremos um futebol muito bom, mas contando com os fluidos Apressar: dar pressa, agilizar. positivos enviados pelos torcedores.” Apreçar: dar preço, dar valor. Sério engano Encontro “O menino pediu ao pai que o levasse para conhecer a sala “Luciana disse que vai ao Méier encontrar Flávia.” de troféis do seu clube.” Perfeito! Embora Méier seja uma palavra paroxítona com ditongo tônico – Méi-er, Que tristeza! Ninguém pode falar assim. O plural de troféu a nova regra do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa não se aplica nesse caso, pois é troféus. a mesma termina em r. Período correto: “O menino pediu ao pai que o levasse a sala Outra exceção: destrói-er. de troféus do seu clube.” Protagonismo Quando devo usar “te” ou”ti”? “Gabriel será o protagonista principal da peça de teatro do bairro.” Não há coração apaixonado que não se desencante com Não será destaque, escrevendo assim. O protagonista, já é personagem principal, uma declaração de amor do tipo “Eu ti amo”. portanto protagonista principal é uma expressão redundante. Não se enganem mais ao empregar os pronomes oblíquos te e ti. Devemos evitar as redundâncias, pois elas consistem em repetir uma ideia que já A forma ti, com “i”, é tônica, já a forma te, com “e”, é átona. está explícita no discurso, fazendo com que ele fique cansativo e comprometa a qualida- Não ajudou muito, não foi? Vamos tentar esclarecer de outro modo. de da mensagem. Ti sempre é acompanhada de preposições (a, contra, de, em, por etc.). O mesmo Frase correta: “Gabriel será o protagonista da peça de teatro do bairro.” não ocorre com te. Exemplo: Eu te amo é Eu amo a ti. ornalde 6 JLetras

é condenado, mas ele não vai preso. As pessoas estão muito desacreditadas, então quando vou passar uma mensagem J positiva, de que seria possível modificar esse estado educa- L Entrevista de Arnaldo Niskier cional no Brasil, as pessoas são muito céticas, acham que eu sou uma louca. Já acham que sou uma louca porque eu estou na favela, enfim, tento passar de que nós não podemos ser Yvonne Bezerra de Mello mais só espectadores, nós temos que fazer parte do processo. E é essa a maior dificuldade, porque é muito mais fácil você defender o status quo que lhe é favorável. Na classe mais alta, o status quo é favorável de uma certa maneira. Então para que você vai mudar? O que isso vai trazer para você? Vai trazer satisfação. Em defesa das Arnaldo Niskier: Por que isso entrou na sua cabeça? Porque você só tem sido prejudicada pessoalmente. Você quer entrar no clube, não deixam, porque você é avançada demais. Por que você resolveu abraçar essa causa? Yvonne Bezerra: Eu vou dizer a você. A Lucy Barreto crianças vai fazer um filme sobre a minha vida, e eu comecei a escre- ver minhas memórias. Voltei muito atrás, assim quando eu tinha 4, 5, 6 anos, e fiquei muito impressionada de ver como, com 6 anos de idade, já era eu, porque eu fui uma criança que Arnaldo Niskier: A Yvonne Bezerra de Mello é uma sas diferentes: você instrui e você educa, então a escola tem sofri muito bullying na escola. Então eu me sentia injustiça- heroína, eu diria, porque tem feito um trabalho notável em que contemplar os dois. Aqui você não instrui nem educa, da. Perto da minha casa já tinha crianças na rua, e eu olhava defesa das crianças, dos povos, dos desvalidos. Nem sempre você tem uma escola curricular onde você vai depositan- aquelas crianças e as achava parecidas comigo, porque elas tem sido bem compreendida, mas isso é da vida. Yvonne, do conteúdo e as crianças cuspindo matéria sem saber se também eram injustiçadas. Desde muito pequena, tanto que como vai o seu trabalho? aquela matéria realmente vai ser compreendida, entendida. eu comecei a fazer trabalho voluntário com 12 anos de idade. Yvonne Bezerra: Meu trabalho está ótimo, e eu só E você tem uma grande parte dos brasileiros que vivem em Arnaldo Niskier: Você foi influenciada pelos seus tenho a agradecer de estar aqui com você, um dos ícones condições básicas terríveis, e que os núcleos familiares se pais, irmãos? da educação no Brasil. O trabalho está indo bem, a minha deterioram cada vez mais, então você não tem nem lá nem Yvonne Bezerra: Eu fui influenciada pela minha mãe, escola, o Projeto UERÊ no Complexo da Maré. Mas ela já se cá. O que dá? Crianças que não aprendem e não conseguem porque meu pai, infelizmente, aparecia só de vez em quan- expandiu para 253 escolas no Brasil e cinco na Europa, que se desenvolver corretamente. do, e esse foi o motivo do bullying, porque a minha mãe era lidam com crianças refugiadas. Arnaldo Niskier: Outro dia, no jornal O Estado de desquitada. Na época, filho de desquitada... Arnaldo Niskier: É uma metodologia que você criou. São Paulo saiu uma matéria incrível, que dizia: o Brasil, do Arnaldo Niskier: Isso não pode. Yvonne Bezerra: É uma metodologia que eu tenho jeito que está, precisa de 260 anos para recuperar a leitura Yvonne Bezerra: Não pode, filho de desquitada não de ensino, uma gestão de sala de aula diferenciada para nas escolas, para botar num nível compatível com as neces- pode. E eu tive, não foi um contato muito grande, mas foi um crianças que vivem em zonas de risco, em zonas de guerra, sidades. Você acredita nisso? contato muito bom, com meu avô, que era judeu, e aí come- porque elas não conseguem aprender esse ensino tradicional Yvonne Bezerra: Acredito, porque, nos últimos anos, cei a ler toda a filosofia judaica, Spinoza e outros, com 12, 13 vivendo sob violência constante, e isso é uma coisa que todos as crianças terminam a escola, os jovens terminam a escola anos de idade, e me dediquei muito a esses estudos. Tanto sabem. sem ter as capacidades específicas da faixa etária. Elas não que esse ano fui dar aulas na Polônia em duas universidades Arnaldo Niskier: Qual é a fórmula que você utiliza conseguem entender o que é aquilo, e aí você viu os desas- e fui a Auschwitz-Birkenau, e tenho que dizer a você que para superar isso? tres por aí. Mas sou uma pessoa otimista, acho que talvez fiquei muito emocionada. Yvonne Bezerra: As crianças que vivem em trauma nós tenhamos um dia gestores nesse país que possam com- Arnaldo Niskier: Em Auschwitz ficaram três milhões constante têm uma memória curta, diminuída. Essa pas- preender isso e que nós possamos começar a ajeitar as coisas, de judeus. Pode uma coisa dessas? sagem memória curta/memória longa do armazenamento porque a educação não pode ser posto político; educação Yvonne Bezerra: E aquela visita mudou alguma coisa de informação não se faz, então o que se tem que fazer é tem que ser posto de pessoas que entendem. Mas aqui não, em mim. Resolvi ser mais lutadora ainda, porque não quero trabalhar em sala de aula com exercícios específicos. Essas aqui é o amigo do amigo do amigo que vai para esse posto e que aquilo aconteça mais com ninguém. Acho que a minha sinapses têm que ser refeitas para que as crianças comecem a não sabe. vida foi uma sucessão de fatos que fazem com que eu acre- pensar e armazenar tudo o que elas têm que armazenar para Arnaldo Niskier: Yvonne, que lembrança você tem dite que não quero nenhuma criança sofrendo. Então o que poder compreender os diversos conteúdos pouco a pouco. da tragédia da Candelária? Você participou disso ativamen- eu puder fazer para melhorar isso... Não vou dizer que vou Então, basicamente, é isso que eu faço, e na minha metodolo- te na recuperação daquela garotada que superou o trauma, acabar. Estive agora na Suécia com aqueles meninos refu- gia não existe aula de 50 minutos: as aulas são de 15 minutos. dos que sobreviveram, oito morreram, infelizmente. Que giados completamente traumatizados. Disse: nós temos que Podem ter o mesmo conteúdo; porém, a cada 15 minutos, ou lembrança você tem dessa tristeza? fazer alguma coisa, dar a essas crianças uma possibilidade 12 minutos, se muda a maneira como se vai ensinar a criança Yvonne Bezerra: A lembrança que eu tenho é que foi acreditar que pode. com diversos exercícios, então a escola fica muito mais ativa, um turning point da minha vida. Aquilo ali foi uma ruptura Arnaldo Niskier: São muitos na Suécia? fica muito mais engraçada, as crianças participam muito de pensamentos meus, de ações minhas, e vai fazer 25 anos Yvonne Bezerra: São muitos, inclusive meninos sozi- mais, e aí se tem a certeza de que o aprendizado vai ser feito, em julho o que aconteceu na Candelária, e eu posso dizer nhos, que chegam lá com 15 anos. porque não existe criança burra, existe criança ou traumati- tranquilamente que nada aconteceu. Eu estava revendo Arnaldo Niskier: Vêm da onde? zada ou cujo método não atinge, então nós temos que pensar semana passada todos os textos que escrevi. Artigos de jornal Yvonne Bezerra: Vêm do Paquistão, do Afeganistão, nisso. Tenho professores que são formados quando vêm para de 25 anos atrás, eu os poderia escrever hoje. principalmente da Somália, e eles passam três anos, e nem mim e que depois capacito na metodologia. Aqui no Brasil, já Arnaldo Niskier: E o exemplo dos pais, Yvonne, como sabem mais quem são os pais, onde moram os pais, não foram, nos últimos dez anos, 15 mil professores capacitados, é que funciona isso? sabem mais nada, não têm mais identidade. Eles vão ter que e, na Europa acho que são mil agora. Yvonne Bezerra: Tenho que dizer que, na minha ter uma identidade, e aí fui capacitar esses professores para Arnaldo Niskier: Já tem mil na Europa? escola, de 450 alunos, 80% das crianças não têm pai. Teve um começar a lidar com eles. Yvonne Bezerra: Alemanha e Suécia, porque lá você pai para procriar, mas são mulheres sozinhas que sustentam Arnaldo Niskier: Você faz isso em inglês? tem as crianças refugiadas que chegam mil vezes mais uma família, quer dizer, é a paternidade irresponsável. É uma Yvonne Bezerra: Faço em inglês, exatamente. Então traumatizadas que as nossas, crianças de 12 ou 13 anos que coisa que tem que ser trabalhada nesse país. O pai ninguém eu vou dizer a você: isso me faz continuar, isso me faz pensar andaram três anos saindo do Afeganistão, do Paquistão ou da sabe quem é, então você tem mães sozinhas que trabalham o que é uma luta da minha vida e que eu não vou terminar Síria, chegamnum campo de refugiados, depois elas vão para dia inteiro, mas não tem o pai na família. É uma coisa muito nunca, até o último dia, até o dia que eu puder ficar em pé, os países, Alemanha e Suécia principalmente. Chegando lá, impressionante. As mães têm que deixar os filhos, é muito mas acho que todos nós temos obrigação de fazer um pouco não é possível colocá-las numa escola tradicional;elas têm complicado. E depois também tem o problema da gravidez isso. que ter um ensino diferenciado para começar a se adaptar, precoce, porque hoje acho que 36% dos partos no país são Arnaldo Niskier: O seu livro é para quando? então é isso que eu tenho feito na Europa. de crianças de 10 a 15, 16 anos. Então, uma geração que seria Yvonne Bezerra: O meu livro da pedagogia já lancei Arnaldo Niskier: E o que é exatamente o Projeto da nossa época, por exemplo, 18, 20 anos, que era quando em novembro do ano passado, mas não consegui editora, UERÊ? casávamos e começávamos a ter filhos, hoje começa aos 12 então eu mesma editei. Nenhuma editora se interessou. Já Yvonne Bezerra: O Projeto UERÊ é um formato de ou 13 anos. É impossível elaborar políticas públicas com esse é o segundo livro da pedagogia. Tenho cinco livros escritos, escola, é uma ONG especializada em crianças com dificulda- número: é uma Frankfurt por ano que nasce no país, e sem e infelizmente não houve grande interesses, mas continuo de de aprendizado devido à violência ou traumas dentro do estrutura nenhuma. Então, não tem prevenção, porque não escrevendo, estou escrevendo mais dois. Complexo da Maré. Só tenho uma escola, que é a escola-mãe, pode ter prevenção porque as igrejas não deixam, não pode Arnaldo Niskier: E o livro da sua vida? que é a escola-modelo, e esses professores capacitados no fazer isso, não pode fazer aquilo, e as meninas estão aí, parin- Yvonne Bezerra: O livro da minha vida estou escre- mundo todo que aplicam a metodologia em sala de aula. do sem orientação nenhuma. E isso é muito triste. vendo agora para ajudar a Lucy Barreto nesse filme que vai Arnaldo Niskier: Você é fã das possibilidades, das Arnaldo Niskier: Yvonne, é uma batalha. Fico ima- ser feito. virtualidades da educação? Você acha que através da edu- ginando como você trabalha para que essas coisas se Arnaldo Niskier: Ela só faz coisa boa. cação é possível recuperar essa meninada toda? modifiquem e como você precisa da solidariedade de todo Yvonne Bezerra: Eu acho que vai ser coisa boa com Yvonne Bezerra: Acho que só pela educação. Diria mundo. Você conta com essa solidariedade ou você vai sozi- certeza. que 80% a educação e os outros 80% vamos ajeitar o Brasil nha mesmo? Arnaldo Niskier: Olha, querida, peço a Deus que e as famílias brasileiras. O problema é que o Brasil ainda é Yvonne Bezerra: Conto com uma solidariedade par- proteja o seu trabalho, que você continue a fazer essa coisa um dos piores países de educação no mundo. Não avança- cial, vou dizer por quê: porque chegamos a um ponto no bonita que é a defesa das crianças, sobretudo das crianças mos no ranking do Pisa, no ranking da Unesco. Estamos no Brasil, especialmente depois desses últimos anos, Lava Jato que têm necessidade desse tipo de ajuda. Nós aqui estamos octogésimo oitavo lugar, octogésimo nono lugar, é uma coisa e tal, onde as pessoas estão muito desacreditadas, as pessoas a sua disposição para ajudar no que couber. Parabéns, impressionante. Porque ninguém consegue definir dentro acham que nada mais vai acontecer, porque você tem leis Yvonne Bezerra de Mello. dos governos o que é educar. Educar e instruir são duas coi- lenientes, porque as coisas não acontecem, porque o sujeito ornalde JLetras 7

JL Livros e Autores por Manoela Ferrari [email protected] Da Locomotiva à máquina de escrever

Da locomotiva à máquina de escrever (Ed. Chiado, 2018) Curso de Direito Constitucional foge ao padrão das biografias tradicionais, repleta de datas Contemporâneo e minuciosas descrições sobre a vida da celebridade home- nageada. Esta obra sobre Francisco Ignácio do Amaral Gurgel, Editado pela Saraiva, a 6ª edição do livro Curso de Direito precursor da radionovela, considerado o maior novelista brasi- Constitucional Contemporâneo: os conceitos fundamentais leiro de todos os tempos, foi escrito a quatro mãos por dois dos e a construção do novo modelo, de autoria do ministro do seus maiores fãs: José Sergio do Amaral Gurgel e Sergio Ricardo Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, apre- do Amaral Gurgel, filho e neto do escritor. senta uma exposição didática e crítica dos grandes temas e Ao longo de 168 páginas, ilustradas por raras fotografias e das principais transformações ocorridas nos últimos anos recortes de matérias divulgadas pela imprensa, além da histó- no Direito. ria das radionovelas brasileiras, o leitor encontrará os mais ínti- A obra apresenta uma introdução abrangente à teoria da mos relatos. Com uma linguagem simples e sensível, os autores Constituição e ao Direito Constitucional, com o olhar de escreveram sobre um tema estranho às suas atividades pro- um autor reconhecido nacional e internacionalmente. De fissionais. Sergio Ricardo, o neto, é advogado, atuando na área criminal desde 1994. maneira didática, expõe principalmente as transforma- Professor de pós-graduação em Direito Público, possui seis obras publicadas na área ções na área ao longo dos anos. O texto traz os conceitos fundamentais da teoria da jurídica. Em Brasília, além de prestar assessoria jurídica junto ao Congresso Nacional, Constituição, que teve seu objeto ampliado, e do direito constitucional, que assumiu representa a Amaral Gurgel Advogados no âmbito do Direito Penal Econômico. José definitivamente o seu caráter normativo, procurando conformar a realidade social e Sergio, filho de Amaral Gurgel, é arquiteto formado pela UFRJ. Prestou serviços de dando nova dimensão à jurisdição constitucional. tradutor de romances estrangeiros para a Editora Bruguera. Por mais de 30 anos, ocu- Desde junho de 2013, ministro do Supremo Tribunal Federal, Luis Roberto Barroso pou diversos cargos públicos, entre eles, a presidência da FUNDREM (Fundação para é mestre pela Yale Law School, nos Estados Unidos, doutor e livre-docente pela o Desenvolvimento da Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro). Sempre se Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, bem como professor e pesquisador dedicou a atividades artísticas em geral, como pintura, música e poesia. A sensibilida- visitante em diversas instituições, no Brasil e no exterior. É autor de livros clássicos, de da narrativa dos autores, sem deixar de lado os registros históricos que marcaram como O controle de constitucionalidade no direito brasileiro, e de numerosos artigos uma época de intensa produção cultural no país, resulta numa obra de amplo inte- publicados no Brasil e no exterior, incluindo França, Estados Unidos, Espanha e resse e altamente recomendável. México. O poeta Carlos & outros Drummonds Janela O escritor e jornalista cearense Edmílson Caminha relem- Ao atravessar as 58 crônicas reunidas em Janela (Ed. bra a convivência com Carlos Drummond de Andrade Bagaço, 1997), segundo livro de crônicas da acadêmica (1902-1987), reunindo em O poeta Carlos & outros pernambucana Marly Mota, o leitor percebe, neste resgate Drummonds (Ed. Thesaurus, 2017) 37 artigos e crônicas memorialístico, delicados flagrantes que evocam vultos e sobre o autor do Poema de Sete Faces. cenas comuns a todos nós. Nos 30 anos da morte do poeta, os textos relembram De acordo com o prefácio, assinado pelo escritor Daniel Dona Dolores, o porto seguro do companheiro com quem Lima: “O livro de Marly Mota é realmente uma janela que foi casada por 62 anos; Maria Julieta, a filha que morreu se abre para o tempo, não, porém, para se assistir a um doze dias depois do pai; o genro Manolo, também poeta desfile de sombras, pois não é uma ancoragem num tempo morto. Muito ao contrário, e tradutor para o castelhano da poesia do sogro; os netos pessoas e coisas nele evocadas tornam-se vivas, familiares, e a distância, dissolvida, Carlos Manuel, Luis Mauricio e Pedro Augusto, herdeiros poeticamente, torna-se presença.” que mantêm viva a presença literária do avô. Marly de Arruda Ramos Mota nasceu no Engenho São Francisco, em Ipojuca (PE), em O cearense Edmilson Caminha é Membro do PEN Clube do Brasil, da Academia 1926. Nos anos 1940, transferiu-se para o Recife, onde cursou Magistério da Escola Brasiliense de Letras e Academia de Letras do Brasil, com diversas obras publicadas, Normal, e conheceu o poeta, jornalista e professor Mauro Mota, com quem se casou entre elas: Palavra de escritor (1955), Inventário de crônicas (1997); Villaça, um noviço e teve quatro filhos. Estreou na atividade literária com o livro de crônicas Pátio da na solidão do mosteiro (1998); Lutar com palavras (2001); Drummond, a lição do poeta Matriz, em 1965, mesmo ano em que produziu as primeiras telas, em estilo naif. Em (2002); Pedro Nava, em busca do tempo vivido (2003); , a senhora do 1997, lançou este segundo livro de crônicas, Janela. No ano seguinte, foi eleita para a Não me Deixes (2010); Em memória de Drummond (2012); Dos rios do Pará aos ver- Academia de Artes e Letras de Pernambuco. Artista plástica, sua primeira exposição des mares do Ceará (2013); Com a mala na cabeça (2014) e O professor, Beethoven e o de quadros foi em 1967. Em 1995, pintou a coleção de 12 telas Cenas Ecianas, sobre ladrão (2016), entre outras. textos do escritor português Eça de Queiroz, que integram o acervo da Biblioteca Década perdida municipal Rocha Peixoto, da Póvoa de Varzim. Pelas mãos dos avós No livro Retrato de uma década perdida (Editorial Abaré, 2017), o senador Cristovam Buarque mostra um retrato do Pelas mãos dos avós (2018) é uma narrativa de memória, futuro do Brasil se perdendo na década entre 2005-2015, onde o autor Francisco Aurélio Ribeiro relembra, com liris- através da vida de uma menina de seis anos chamada mo, sua infância e sua convivência com os avós. Taciana, em 2005, e de seu filho Ângelo, em 2015. No livro, são narradas as histórias do avô, imigrante que De acordo com o senador e ex-ministro da educação, saiu da Itália com os pais, aos seis anos de idade, e sua dura devido à ausência do Estado nos rincões do País, Brasil luta pela sobrevivência no Brasil, passando pela união com não rompeu a tragédia da educação. O livro revela também uma brasileira, neta de índios e negros. as tentativas feitas junto aos ex-presidentes Lula e Dilma, A leitura encontrará o caminho da leveza, com uma lin- diante da apresentação de propostas para, por meio da guagem bem conduzida e alinhavada ao longo de toda a educação, quebrar o círculo vicioso da pobreza que une narrativa. a mãe adolescente a seu filho criança e os conecta a seus Presidente da Academia Espírito-Santense de Letras, avós e antepassados, repetindo-se no futuro. Francisco Aurélio Ribeiro nasceu em Ibitirama, na Serra No final, o autor acrescenta uma mensagem aos colegas políticos, com uma proposta do Caparaó, em 1955. Escritor e professor de Literatura de fazerem o que não fizeram os antecessores: “mudar a cara do futuro, mudando a Comparada, há mais de 45 anos é pesquisador de Literatura cara de nossas escolas. Porque o futuro de um país tem a cara de sua escola no pre- e História do Espírito Santo, tendo atuado em todos os níveis de ensino. Possui mais sente.” de 50 livros publicados, sendo vinte e um de literatura infantojuvenil e os demais de Engenheiro mecânico, economista, educador, professor universitário, o senador crônicas, historiografia e crítica literária. Entre os títulos publicados, estão Era uma Cristovam Buarque é filiado ao Partido Popular Socialista (PPS). É o criador da Bolsa- vez uma chave, Leve como a folha, O ovo perdido, A casa mal assombrada, Frajola e Escola, que foi implantada pela primeira vez em seu governo no Distrito Federal. sua paixão, Mistérios de lá e de cá, A gralha e a tralha, Ora, pombas!, Circe e Ricardo, Reitor da Universidade de Brasília (1985 a 1989), governador do Distrito Federal (1995 Seu Miséria e Dona Pobreza, Nos passos de Anchieta, O menino e os ciganos e Clarissa e a 1998), foi eleito senador pelo Distrito Federal em 2002. Ministro da Educação entre o beija-flor. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do ES, é cronista e articulista 2003 e 2004, no primeiro mandato de Lula. Foi reeleito nas eleições de 2010 para o do jornal A Gazeta. Senado pelo Distrito Federal, com mandato até 2018. ornalde 8 JLetras

através do modo como avalia a cidade. Falará desse afeto ambíguo, dessa “alguma coisa”, que ele ainda não sabe bem o que é, e, para tentar descobrir, vai atravessar a avenida que liga o seu coração ao Centro, o coração da cida- Passeando por de. Só quem admite nada ter entendido é que estará desarmado e disponível para tudo tentar entender. O caminho da compreensão de uma realidade a princípio feia, hostil, passa pela dissolução do maniqueísmo, pela relativiza- ção dos juízos condenatórios, muitas vezes taxativos e preconceituosos. “Sampa”, de Caetano A Parte 1, dos versos 1 ao 11, é a confissão do desconhecimento e da consequente recusa dessa estranha realidade urbana, marcada pela predomi- nância de verbos no passado: cheguei, [nada] entendi, havia, encarei, [não] vi, chamei. Veloso Na Parte 2, dos versos12 ao 18, o poeta questiona a recusa e admite que o problema pode estar não no objeto, mas no observador, não na realidade Por Antonio Carlos Secchin que é vista, mas no ângulo restrito pelo qual ela era captada. Na Parte 3, do verso 19 em diante, com os verbos no presente, surge sua 1 Alguma coisa acontece no meu coração relação atual e amistosa com o espaço urbano, fundamentada na aceitação que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João, antinarcísica das diferenças desse outro-cidade. É seu retorno à mesma cida- é que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi de, mas que se tornou diferente pela mudança de olhar a ela dirigido. Haverá, da dura poesia concreta de tuas esquinas, portanto, na parte 3, a desconstrução da recusa inicial da parte 1, após essa da deselegância discreta de tuas meninas. recusa ter sido posta em xeque na parte 2. Ainda não havia para mim Rita Lee, No final da parte 1, os versos 10 e 11, “Quando eu te encarei frente a a tua mais completa tradução, frente não vi o meu rosto / chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau alguma coisa acontece no meu coração gosto” corresponderiam ao momento da eclosão do incômodo resistente que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João. face à força do real. Estabelece-se uma relação de causalidade: encarar a Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto, cidade, não ver o rosto – logo, aquilo que não me espelha necessariamente chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto, eu desqualifico como mau gosto. O problema parece situar-se lá, o mau gosto 12 é que Narciso acha feio o que não é espelho, aparenta ser uma categoria externa eobjetiva, estou certo disso. e à mente apavora o que ainda não é mesmo velho, Só que não. nada do que não era antes quando não somos mutantes. Terei certeza? Por que, se afirmo que aquilo é mau gosto, preciso tanto E foste um difícil começo, afasto o que não conheço, insistir? “Mau gosto” por 3 vezes – quem sabe até para que, à custa da repe- e quem vem de outro sonho feliz de cidade tição, eu acabe me convencendo de que é verdade aquilo em que eu quero aprende depressa a chamar-te de realidade, acreditar. Para tentar dissolver o incômodo, é necessário desconfiar dessa porque és o avesso do avesso do avesso do avesso. proclamação do mau gosto, essa pedreira no meio do caminho, atrapalhando 19 Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas, a fluência de minha transa e de meu trânsito em direção à cidade. Tenho de da força da grana, que ergue e destrói coisas belas, justapor à minha convicção a pergunta: “Por que?” da feia fumaça que sobe apagando as estrelas, Na parte 2, o poeta desmonta o mecanismo protetor, de defesa, que eu vejo surgir teus poetas de campos e espaços, consiste na desqualificação do outro para não ter que reprocessar os próprios tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva. valores, para não ter que arduamente dissolver suas autoverdades cristali- Pan-Américas de Áfricas utópicas, túmulo do samba, zadas. Caetano formulou um “por que?” implícito, ao fim do verso 11, tanto [mas possível novo quilombo de Zumbi, que se segue, no verso 12, uma resposta explícita: “é que Narciso acha feio o e os novos baianos passeiam na tua garoa, que não é espelho.” O verso “e à mente apavora o que não é mesmo velho” 26 e novos baianos te podem curtir numa boa. corresponde ao ponto central da canção: literalmente, é a linha ou a pedra lan- çada no meio do caminho do texto: verso 13, de um total de 26. Momento de (Disco Muito, 1978) movimento para o segundo lado. Desafio a ser vencido na passagem, ou ultra- passagem, de uma realidade a outra, da negação à aceitação de São Paulo. E se trata de um verso sintomática e sintaticamente perverso, cuja forma, num Proponho uma divisão em 3 partes: versos 1 a 11 – relação inicial com a primeiro momento, nos espanta e incomoda, uma construção pouco usual, cidade; versos 12 a 18, questionamento dessa visão inicial; verso 19 em dian- que tenderíamos a repelir: a anteposição repentina de um objeto direto pre- te, relação atual com São Paulo, ou melhor, com Sampa. É uma letra-mosaico, posicionado: “à mente.” De modo intuitivo, nossa leitura busca a segurança composta de numerosas referências e alusões à cultura paulistana em fins da da ordem convencional, em que o sujeito antecede o objeto. E, ao “corrigir” década de 1960, no campo do urbanismo, da MPB, da poesia, da ficção, do a sintaxe, caímos na armadilha e constatamos a força do que ali se diz: real- teatro. mente, tudo que não é velho, logo, tudo que é novo, apavora, até mesmo um A referência é mecanismo de caráter explícito: avenidas São João e objeto direto fora do lugar. O apego ao que já se encontra consolidado nos Ipiranga (o centro velho de São Paulo), a cantora e compositora Rita Lee, o leva a não querer “nada do que não era antes” – o mundo é normativamente mito de Narciso, a figura histórica de Zumbi dos Palmares. repetitivo, a menos que tenhamos a coragem de sermos mutantes. A alusão é velada, oblíqua: um palimpsesto, em que uma palavra con- O poeta efetua o salto, ele, que veio lá de Santo Amaro com um pacote tém um referente embutido para além do referente imediato dela própria. pronto com a receita de seu antigo sonho “feliz de cidade”, de plena felicida- Exemplo claro: a “dura poesia concreta de tuas esquinas”, verso 4: o cimento de. frio da urbe, ainda assim portador de certa – dura – beleza – e, numa segunda Essa realidade indomável, em mutação, em que de uma coisa ele vê camada, a da alusão, o movimento da poesia concreta. Outras alusões: verso outra surgir, ocupa a parte 3, continuamente desfazendo imagens estáti- 14, o conjunto musical Os Mutantes; verso 16: Santo Amaro, que correspon- cas, em prol do “avesso do avesso do avesso do avesso”. Mas não se trata da deriam ao sonho feliz da cidade de origem do compositor; verso 22: poetas de aceitação pacífica do “vale tudo”. Trata-se, ao contrário, da compreensão da campos, os irmãos Augusto e Haroldo de Campos; verso 23, o Teatro Oficina, tensa coexistência das contradições inerentes à dinâmica da vida. Exemplos: grupo dirigido por José Celso Martinez Correia que, em 1967, encenou O rei o dinheiro, capaz de gerar e destruir beleza; a fumaça, que compete com as da vela, de Oswald de Andrade; verso 23, deuses da chuva: alusão a Jorge estrelas, mas não consegue bloquear o brilho que emana dos poetas, mesmo Mautner, que, em 1962, publicou Deus da chuva e da morte; e provavelmente no espaço da escuridão; a negritude, que, se de um lado se associa a túmulo aos “Demônios da Garoa”; verso 24, três alusões: Pan-América, romance de do samba, de outro tem potência para trazer à tona a utopia libertária de José Agripino de Paula, publicado em 1967, “túmulo do samba”: “São Paulo é Zumbi; e o poeta, que, sendo antigo, se apresenta, no fim do texto, como o túmulo do samba”, frase infeliz de Vinicius de Moraes, e peça “Arena conta um novo baiano, porque conseguiu modificar-se, a ponto de se tornar outro Zumbi”, de Augusto Boal e Gianfrancesco Guarnieri, com música de Edu baiano. Lobo; verso 25: Os Novos Baianos, grupo musical que surgiu em 1969. Sabiamente, ele aprendeu que, se Narciso desviar-se da projeção Retornemos à letra, em sua parte 1. “Alguma coisa acontece no meu obsessiva de seu próprio rosto, aí então, dentro de um espelho acolhedor e coração”. Tanto ou mais do que a cidade, o poeta vai falar de sua reação, vazio, pode caber uma cidade inteira. refratária ou amistosa, frente a São Paulo. Vai tentar avaliar-se e entender-se ornalde JLetras 9 Tais ações têm sido fundamentadas em bandeiras oportunistas, sob o falacioso argumento de que a qualidade dos cursos de gradua- ção ofertados no país somente seria assegurada caso conseguissem, DemagogiaDemagogia nono definitivamente, usurpar a alçada do Ministério da Educação e órgãos correlatos. Ora, políticas públicas para o desenvolvimento da educação não se faz com discursos demagogos e soluções inventivas motivadas por caminhocaminho dada interesses classistas. Educação precisa ser tratada com técnica, estudos, competência acadêmica, discussões colegiadas, construções com a par- ticipação da sociedade, tudo de forma harmoniosa, organizada, ordeira e educação de com claras competências definidas e repartidas entre os órgãos técnicos. educação de Por óbvio, tem-se a clareza de que intercorrências acontecem, falhas podem se apresentar, mas não se constrói nada a partir de pos- turas belicosas e de apartamento dos atores envolvidos na educação. qualidadequalidade Especialmente a Constituição, e ainda toda a legislação vigente, defi- nem com clareza as competências atribuídas a cada ministério, órgão e setor. Tais entidades devem ser fortalecidas com a participação colabo- Por Janguiê Diniz* rativa da sociedade, não com discurso de enfraquecimento para então querer ditar unilateralmente as regras. A experiência internacional mostra que não há desenvolvimento É preciso que cada cidadão e cada instituição, governamental ou social e econômico senão pelo caminho a ser trilhado na vereda da edu- não, reafirme seu compromisso de apoiar verdadeiramente a educação, cação de qualidade, condição somente alcançada com a existência de rechaçando qualquer iniciativa motivada por interesses dissociados das órgãos responsáveis pela pauta educacional, fortalecidos e respeitados metas traçadas em um dos mais importantes documentos para o setor em suas atribuições. que é o Plano Nacional de Educação (PNE). O país tem uma tarefa a Este é um cenário que não se conquista sem ampla colaboração cumprir e é essencial a atuação daqueles que queiram contribuir. da sociedade e de governos, que devem trabalhar incansavelmente na construção de mecanismos capazes de garantir uma efetiva atuação das instituições envolvidas na esfera educacional, além de suportá-las por meio da constante demonstração de confiança e respeito. *Janguiê Diniz é mestre é doutor em Direito – Reitor da UNIVERITAS – Os últimos acontecimentos, contudo, revelam um cenário Centro Universitário Universus Veritas – Fundador e presidente do Conselho perigoso de constantes tentativas de usurpar a competência de órgãos de Administração do Grupo Ser Educacional. como o Ministério da Educação (MEC), o Conselho Nacional de Educação (CNE) e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (Inep) – um escárnio ao trabalho sério e responsável desenvol- vido por essas instituições.

Diretoria 2018: Presidente: Marco Lucchesi Secretário-Geral: 1ª Secretária: 2º Secretário: Merval Pereira Tesoureiro: José Murilo de Carvalho

Leituras dramatizadas 17 de maio 15h | 23 de maio Teatro R. Magalhães Jr. Não Consultes Médico 17h30min | Ciclo de Conferências Machado de Assis LITERATURA E LOUCURA 3 de maio O ABISMO E O OBSTÁCULO: observações pontuais de Clarice Lispector, Virginia Woolf 17h30min | Ciclo de Conferências e Jacques Rivière sobre a [lou][cura] Petit Trianon LITERATURA E LOUCURA Coordenação: Acad. Antônio Torres O romance de Maura Lopes Cançado Conferencista: Roberto Corrêa dos Santos Visitas guiadas Coordenação: Acad. Antônio Torres 14h | Segundas, quartas e sextas

Livre para todos os públicos Conferencista: Gilberto Araújo Agendamento: (21) 3974-2526 L [email protected] 24 de maio 10 de maio 17h30min | Ciclo de Conferências 17h30min | Ciclo de Conferências LITERATURA E LOUCURA 17 de maio LITERATURA E LOUCURA Horacio Quiroga e seus contos de amor, Antonin Artaud, o exemplo anômalo de loucura e de morte 14h30min | Lançamento Dicionário Coordenação: Acad. Antônio Torres Coordenação: Acad. Antônio Torres , um Homem do Pampa Conferencista: Ana Kiffer Conferencista: Eric Nepomuceno Ed. Mecenas, organização de Luiz Coronel ornalde 10 JLetras FalcãoFalcão imortalimortal

Por Manoela Ferrari [email protected]

Foi eleito para a cadeira número 3 do Durante a redemocratização, Falcão foi Suas publicações incluem Democracia, quadro dos membros efetivos, vaga com a membro da Comissão e chefe de Direito e terceiro setor e A favor da democracia, morte do acadêmico Carlos Heitor Cony, o gabinete do Ministério da Justiça (1985-1986), ambos de 2004, além de Pesquisa Científica jurista e escritor Joaquim Falcão. Concorrendo com o ministro Fernando Lyra. e Direito (1983) e Conflitos de Propriedade: com a escritora Vilma Guimarães Rosa, filha Ex-diretor da Faculdade de Direito da Invasões Urbanas (1984), Mudança Social e de João Guimarães Rosa (1908-1967), Falcão PUC-Rio, tem um longo histórico de participa- Reforma Legal: Estudos para uma nova legisla- venceu a disputa com 32 dos 35 votos possíveis. ção em organizações do terceiro setor, incluindo ção do terceiro setor (1999), como organizador. Houve três votos nulos. a Fundação Pró-Memória e a Fundação Joaquim Outros livros de destaque: O Supremo (Edições Carioca, com fortes ligações com Nabuco, onde, junto com Gilberto Freyre, fun- de Janeiro, 2015); Reforma Eleitoral no Brasil Pernambuco, o mais novo acadêmico é advo- dou o Departamento de Ciência Política. (Grupo Editoria, Record, 2015); O imperador gado, professor de Direito Constitucional e Na década de 1980, convidado a dirigir das ideias – Gilberto Freyre em questão; Quase diretor da Escola de Direito do Rio de Janeiro a Fundação , permaneceu até todos; Mensalão – Diário de um Julgamento; da Fundação Getúlio Vargas. Mestre em Direito 2000. Na época, criou o pioneiro Globo Ecologia Fundamentos de Direito Constitucional; pela Universidade de Harvard (EUA) e doutor e o Futura, além do Telecurso 2000, que, até Administração Pública Gerencial; Novas em Educação pela Universidade de Genebra, hoje, permitiu que mais de sete milhões de Parcerias entre os Setores Público e Privado; na Suíça, o conhecimento e a formação de brasileiros concluíssem a educação básica. Tributação Internacional e Planejamento Joaquim Falcão foram importantes em muitos Participa ativamente de conselhos de Tributário; Ordem Constitucional Econômica e projetos dos quais participou. várias organizações da sociedade civil, como Normas Gerais de Direito Tributário. “Nós estamos muito felizes porque Viva Rio, Instituto Itaú Cultural, Instituto É autor de diversos artigos sobre ensi- Joaquim Falcão é um pensador do Brasil, é Hélio Beltrão, Centro de Liderança da Mulher, no jurídico, direito constitucional, reforma do um homem que tem a responsabilidade com Associação de Amigos do Museu Histórico judiciário, democracia e patrimônio cultural os desafios do presente, portanto, é uma força Nacional. Ex-membro do Conselho Nacional em revistas especializadas, além de colabo- muito vigorosa para a cidade, para o Brasil e, de Justiça (2005 a 2009), além de secretário-ge- rador do Correio Braziliense, da Folha de São naturalmente, para a Academia Brasileira de ral da Fundação Roberto Marinho, presiden- Paulo e da revista Conjuntura Econômica. É, Letras”, afirmou o presidente da ABL, Marco te da Fundação Pró-Memória, e membro do ainda, colaborador do jornal O Globo, escre- Lucchesi. Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio vendo sobre temas relacionados ao Supremo Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Tribunal Federal.

Fotos: Guiherme Gonçalves

Joaquim Falcão recebe os cumprimentos do acadêmico Antônio Carlos Secchin.

O acadêmico Joaquim Falcão é recebido pelos colegas imortais. ornalde JLetras 11 “Costumo dizer que a Academia é um conjunto de pluralidades, sincréticas, como o Brasil. Coincidiu que eu me especializei no Supremo. A Academia representa a autoestima do brasileiro, do brasileiro que pensa sobre si mesmo, do brasileiro que interpreta sobre si mesmo, liberdade de expressão, independência dos intelectuais. Muito necessário nos dias de hoje”, declarou o novo acadêmico.

Em momento de descontração, a família do novo imortal registra a alegria pelo celular.

O novo acadêmico, entre o presidente da Academia Brasileira de Letras, Marco Lucchessi e o acadêmico Antonio Cicero. ornalde 12 JLetras O edital afirma que o Manual é parte integrante da aqui- J sição das obras literárias, conforme especificações e, além L Literatura InfantilPor Anna Maria de Oliveira Rennhack disso, deverá estar em consonância, conforme o caso Visite a nossa página na internet: annarennhack.wix.com/amor (sic), com a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) ou as Diretrizes e Orientações Curriculares para o Ensino Médio e ser composto por Material de Apoio que:

1. Contextualize o autor e a obra; LiteraturaLiteratura ee 2. Motive o estudante para leitura/escuta; 3. Justifique a pertença da obra aos seus respectivos temas, categoria e gênero literário; DidáticaDidática 4. Incluam subsídios, orientações e propostas de atividades para a abordagem da obra literária com os estudantes. 5. Prepare os estudantes antes da leitura das respectivas obras Mestre em educação, pedagoga, editora de livros infantis e didáticos — e-mail: [email protected] (material de apoio pré-leitura), assim como a retomada e proble- matização das mesmas (material de apoio pós-leitura). A pedido da Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura 6. Inclua orientações gerais para aulas de outros componentes ou Infantil e Juvenil – AEILIJ, fiz uma breve análise do novo edital do áreas para a utilização de temas e conteúdos presentes na obra, Governo para a aquisição de obras literárias para crianças e jovens. Ao com vistas a uma abordagem interdisciplinar. mesmo tempo em que o mercado editorial comemora o retorno das compras, que injetam recursos nas editoras e devolvem aos alunos As editoras que dispuserem de recursos também poderão produ- da rede pública o acesso à literatura, nos deparamos com exigências zir um programa audiovisual tutorial, tipo vídeo-aula, com as mesmas que não são pertinentes aos livros literários, descaracterizando-os orientações acima, com cerca de 5 minutos de duração. Bem sabemos na qualidade primordial de liberdade e descobertas. A obrigação de da complexidade e custos da produção desse material que, apesar de transformar obras literárias em projetos didáticos retoma preceitos anti- facultativo, caso aprovado em avaliação pedagógica, será incluído como quados da literatura utilitária, com normas de boa conduta e conselhos, recurso para os professores. ressuscitando temas transversais e tutelando as atividades do professor. Os Anexos II e III apresentam as características técnicas (formato, Destaco alguns pontos do texto da AEILIJ: papel etc.) e os critérios para a avaliação das obras literárias, ancorada em quatro dimensões: Como ponto negativo mais grave, a didatização da Literatura 1. Qualidade do texto; Infantil e Juvenil, atrelada a temas (quem não se lembra dos temas 2. Adequação de categoria, de tema e de gênero literário; transversais?). A Literatura é livre e criativa. Exigir um manual para o 3. Projeto gráfico-editorial; professor com orientação para trabalhar a obra em sala de aula é um 4. Qualidade do manual do professor digital. retrocesso de muitos anos. Para o PNLD Literário 2018, estão previstas seis Categorias, des- critas em quadros com Temas e Enfoque da Obra. O enquadramento das obras de literatura a temas pré-defini- Fica claro que autores e editores, para se adequarem às exi- dos (com apresentação de justificativa para os que não se enquadrem gências do Edital, vão precisar trabalhar com equipes pedagógicas e aos temas propostos) e a obrigatoriedade de serem acompanhadas multidisciplinares para a confecção dos manuais, enquadrando suas por um Manual do Professor digital (para os anos iniciais do Ensino obras às Categorias propostas pelo MEC e à BNCC. A complexidade da Fundamental e para o Ensino Médio – PNLD 2018 Literário – e para os elaboração de atividades pré e pós-leitura e de interdisciplinaridade exi- anos finais do Ensino Fundamental – PNLD 2020 , representa um retro- gem conhecimentos didáticos, motivacionais e curriculares. O mesmo cesso à leitura literária e à sua aplicação na sala de aula. acontece para a preparação do material audiovisual facultativo, que, O Edital prevê a inclusão de informações, a nosso ver, didáticas, apesar de não ser obrigatório, certamente contará pontos positivos para incluídas no próprio volume da obra literária, descaracterizando o que a avaliação da obra. entendemos como obra literária e a liberdade temática e criativa ineren- O saudoso autor Bartolomeu Campos de Queirós sempre destacou tes à literatura. a promoção da leitura literária como instrumento de aquisição da cida- dania (Movimento por um Brasil Literário), ao mesmo tempo em que “Cada obra literária inscrita deverá incluir, no próprio volume, reafirmava a liberdade da literatura. Seria bom que o MEC considerasse informações paratextuais que: (1) contextualizem o autor e a obra; (2) a afirmativa do Bartô, deixando a literatura livre e não a enquadrando motivem o estudante para leitura e (3) justifiquem a correspondência em esquemas limitantes. entre a obra, a categoria, o(s) temas(s) e o gênero literário, exceto para as obras da educação infantil. “...o que a escola pretende é menor do que a arte possibilita. A escola As informações paratextuais são critérios de avaliação das obras empobrece a literatura quando interrompe o voo permitido por ela em dos anos iniciais do ensino fundamental e do ensino médio.” detrimento da formalização.” (PNLD 2018 Literário - 4.20 e 4.20.1 – p.5) (In: Bartolomeu Campos de Queirós – Uma inquietude encantadora. Org. ABL – Associação de Leitura do Brasil – FNLIJ. É importante ressaltar que nem sempre os detentores dos direitos São Paulo: Moderna, 2012, p. 77) autorais permitem qualquer alteração na obra original, principalmente no caso de obra estrangeira que, muitas vezes, incluem a proibição em Uma última palavra, o professor não é um indivíduo tutelado, contratos de edição, o que dificulta atender a essa exigência. limitado em sua iniciativa e criação, prisioneiro de manuais e planos. Quanto à elaboração do Manual do Professor para as obras lite- Conhecedor de seus alunos e possibilidades, amplia as perspectivas e rárias, entendemos, pelo exposto no referido Edital, que não se coadu- propõe novas oportunidades para crianças e jovens a quem se dedica. na ao aspecto libertário e criativo que a literatura reflete. Lembramos Se isso não ocorre, há que se propor novos cursos, treinamento, emba- texto da educadora mineira Maria Antonieta Cunha, à época dos temas samento para o desempenho da sua função, e não alterar a proposta transversais, que afirmava que, ao enquadrarmos os livros de literatura máxima da literatura e enquadrá-la em situações limitantes. infantil e juvenil aos parâmetros curriculares e a este ou aquele tema transversal, muitas vezes deixávamos de perceber aspectos muito mais É desumano o pássaro preso na gaiola. Ele é livre! ricos trazidos na própria obra. Liberdade é a palavra base da Literatura. ornalde JLetras 13

JL BibliotecaBiblioteca Básica Básica Brasileira Brasileira BBBO Jornal de Letras apresenta mais três autores cujas obras não podem faltar numa Biblioteca Básica Brasileira. acervo JL acervo JL acervo JL Antonio Houaiss Nélida Piñon Tarcísio Padilha

Professor, diploma- Quinta ocupante da Nasceu no Rio de Janeiro (RJ), ta e filólogo, nasceu no Rio de Cadeira 30, eleita em 27 de julho em 17 de abril de 1928. Sua forma- Janeiro, RJ, em 15 de outubro de 1989. Em 1996-1997, tor- ção fundamental principiou no Grupo de 1915 e faleceu no dia 7 de nou-se a primeira mulher, em Escolar D. Pedro II, em Petrópolis, tendo março de 1999, na mesma cida- 100 anos, a presidir a Academia estudado no Colégio Santo Inácio até de. Perito-contador pela Escola Brasileira de Letras, no ano do concluir o curso clássico. É bacharel em de Comércio Amaro Cavalcanti seu I Centenário. Formou- Filosofia e Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio (1933); curso secundário de se no curso de Jornalismo, da de Janeiro; diplomado em Ciências Sociais pelo Instituto de madureza (1935); bacharel (1940) Faculdade de Filosofia da Direito Comparado da Pontifícia Universidade Católica do Rio e licenciado (1942) em letras clássicas pela Faculdade Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Em sua de Janeiro; diplomado pela Escola Superior de Guerra; licencia- Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil. Foi vice- trajetória, pode-se destacar aquelas em que figura como o do em Filosofia pela Universidade Federal Fluminense; doutor -cônsul do Consulado Geral do Brasil em Genebra (1947 a primeiro escritor de língua portuguesa, ou ainda a primei- em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. 1949), participou de assembleias gerais das Nações Unidas, ra mulher, ou a primeira brasileira, tais como: Premio de É professor titular de Filosofia da Universidade do Estado do da Organização Internacional do Trabalho, da Organização Literatura Latinoamericana y del Caribe Juan Rulfo. Prêmio Rio de Janeiro; professor de História da Filosofia da Pontifícia Mundial da Saúde e da Organização Mundial de Refugiados. Ibero-Americano de Narrativa Jorge Isaacs. Em 2005, recebe Universidade Católica do Rio de Janeiro; vice-presidente Colaborou na imprensa do Rio de Janeiro e de São Paulo, o Prêmio Príncipe de Astúrias – Letras. Recebeu o título da Union Mondiale des Sociétés Catholiques de Philosophie; tendo sido redator do Correio da Manhã (1964-1965). Doutor Honoris Causa da Universidade de Santiago de vice-presidente da Asociación Interamericana de Filosofia; Membro da Comissão Machado de Assis e da Academia Compostela, Espanha, 1998. Primeira mulher a receber vice-presidente da Metaphysical International Society; mem- Brasileira de Filologia, eleito em 1960. Editor-chefe este título em 503 anos. Em dezembro de 2013, Nélida bro do Comité Directeur e presidente da Academia Brasileira de da Enciclopédia Mirador Internacional. Exerceu o cargo Piñon foi a primeira mulher e primeiro autor de língua Letras (2000-2001). Membro e depois presidente do Conselho de Delegado do Governo Federal para proceder nos países portuguesa a receber o prêmio Cátedra Enrique Iglesias, Editorial da revista Communio, Rio de Janeiro, e do JORNAL de língua oficial portuguesa (Angola, Cabo Verde, Guiné- outorgado pelo BID, USA. Recebeu prêmios nacionais e DE LETRAS. Membro fundador do Collegium Academicum Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe); par- internacionais, e condecorações, entre elas: Ordem do Universale Philosophiae, Atenas; membro da Academia ticipou do Encontro para a Unificação Ortográfica da Língua Cruzeiro do Sul, – Brasil; Comenda do Barão do Rio Branco, Brasileira de Educação e da Academia Fluminense de Letras; Portuguesa (janeiro-fevereiro de 1986), foi membro da dele- – Brasil; Lazo de Dama, de Isabel La Católica, da Espanha; membro do Pontifício Conselho para a Família, Vaticano; gação brasileira no Encontro para a Unificação Ortográfica é Doutor Honoris UNAM, México. Ganhou prêmios: Prêmio membro da Delegação Brasileira à XIV Conferência Geral da Língua Portuguesa, em maio de 1986. Ministro da José Saramago (Lisboa, Portugal, 1999, 2001, 2003, 2005, da UNESCO, Paris (1966). Membro ativo do I Colloquium Cultura do Governo Itamar Franco (1993); foi membro do 2007, 2009, 2011, 2013 e 2015), Prêmio Guimarães Rosa Romanum, Vaticano (1979). Recebeu a Medalha da Ordem Conselho Nacional de Política Cultural, do Ministério da (Paris, França, 1992-93); Membro do PEN Clube do Brasil; Nacional do Mérito Educativo; Medalha por Serviços Relevantes Cultura (1994-1995). Foi presidente da Academia Brasileira Membro do International Pen Women Writer’s Committee prestados ao Estado da Guanabara; Chevalier de l’Ordre des de Letras (1996). Quinto ocupante da cadeira 17, foi eleito (Kathmandu, Nepal); Membro do Conselho Deliberativo da Arts et des Lettres, Paris; Benfeitor da Fundação Cesgranrio; em 1º de abril de 1971, na sucessão de Álvaro Lins, e rece- Sociedade de Amigos da Biblioteca Nacional (Rio de Janeiro, Cavaleiro da Ordem do Santo Sepulcro de Jerusalém, Vaticano; bido pelo acadêmico Afonso Arinos de Melo Franco em 27 Fundação Biblioteca Nacional, 1996). Medalha do Mérito Cultural da República Helênica, 2002. de agosto de 1971. Presidiu a Academia Brasileira de Letras em 2000 e 2001. ornalde 14 JLetras mulheres, incluindo ela, unem arte com humor, cuja aber- tura foi no Museu de Arte Contemporânea de Campinas, MACC. Em 2017, publicou o Sketchbook Custom, pela Editora Criativo e ilustrou a capa do livro Batom, Lápis & TPM – Mulheres em tra- ços, de Camila Lelis, da Coleção AHA de Humor Gráfico. A partir de abril de 2018, a artista passou a colaborar com a ASN – Agência Social de Notícias (agenciasn.com.br/), tornando-se colunista do site. Sua estreia foi marcada por uma bela ilustração em homenagem à Marielle Franco, vereadora assassinada no Rio de Janeiro. A desenhista participou da exposição “Nair de Teffé – a Primeira Dama da caricatura”, em março de 2018, even- Por Zé Roberto [email protected] to que aconteceu na Sala de Cultura Leila Diniz, em Niterói. Para conhecer mais sobre a artista, Synnöve Hikner mantém o site synno- veartist.com para exibição de seu portfolio e contatos com internautas.

Marielle Franco por Synoöve.

Synnöve

Synnöve Dahlström Hilkner nasceu na Finlândia, mas, aos 7 anos, veio com a fa- mília para o Brasil. Nascida no dia 26 de abril de 1963, a artista reside em Campinas, no estado de São Paulo. A intimidade com o papel e as artes surgiu na infân- cia, e, ainda na adolescência, fez diversos trabalhos de retratos, caricaturas, cartuns, em papel e escultura. Synnöve formou- se publicitária pela PUC – Pontifícia Universidade Católica Autocaricatura de Synoöve. de Campinas, em 1991. Ela tam- bém trabalhou como professora e tradutora de inglês e sueco. Como artista, Synnöve sempre ramificou seus interesses, usando técnicas de pintura diversas e transitando por ateliês de artistas como Paulo Branco, Vera Ferro e Gonzalo Cárcamo, entre outros. Participou de várias exposições individuais, entre elas “Solitude em Movimento” e coletivas, no Brasil e no exterior, dentre as quais se Maria Bethania destacam a “Troyart”, no MuBE – Museu Brasileiro de Esculturas, SP, por Synoöve. em janeiro de 2011; e GAIA – Galeria de Artes do Instituto de Artes da Unicamp, Campinas. Também tem trabalhos na Suécia e Finlândia. O humor sempre foi marcante na vida da artista e, a partir de 2013, pas- sou a participar de salões do gênero no Brasil e no exterior. Desde então, tem trabalhos selecionados em todas as edições do Salão Internacional de Humor de Piracicaba, com caricaturas e charges, sendo que, no 43º Salão, em 2016, foi agraciada com Menção Honrosa, na categoria charge, com uma interessante escultura. Também está presente no Sa- lão “PortoCartoon”, na cidade do Porto, Portugal, desde 2015 e no Salão “Batom, Lápis e TPM”, de Piracicaba, SP, desde a edição de 2014, entre outros. Em março passado, idealizou o projeto e fez a cura- doria da 1ª edição da exposição “Humorosas”, em que 20 artistas, ornalde JLetras 15

sem nenhum sentimento de vaidade, senti que ele representa bem a claridade do meu crepúsculo vital. Um homem de 78 anos, como eu, sente-se consolado dos lados escuros da existência humana, quando percebe que a mensagem fixada Afonso Arinos e o de sua vida pode ajudar os leitores a viver. Recolhido à paz do casal (nos dois sentidos desta palavra portuguesa), percebo que o homem idoso não é solitário se se acompanha, pois a solidão – que tanto atinge aos jovens – no fundo não é senão a ausência de si mesmo. Sua carta provoca-me esta presença de mim den- fantasma de Getúlio tro de mim, do que vivi no que vivo, e, talvez, no que outros viverão. Não pense que estou me isolando nesta posição. Penso em outros [ilegível] e companheiros Por Edmílson Caminha de [ilegível], como Drummond ou Nava, que deverão sentir a mesma impressão. Vejo que você é professor da Uni-Rio e sei que a sede dela é próxima à minha Entre os grandes escritores que, ao longo da história (e até recentemen- casa, pois fica em Voluntários da Pátria. Se um dia – ou mais de um dia – lhe te), dignificaram a política brasileira, mencionem-se quatro, pela inteligência aprouver, telefone para esta velha casa de Dona Mariana e venha conversar um e pelo saber que lhes eram comuns: José de Alencar, , Rui pouco. Desculpe o descoordenado desta carta não [ilegível] e aceite o abraço do Barbosa e Afonso Arinos de Melo Franco, o mineiro ilustre que me concedeu, colega agradecido em 1986, substanciosa entrevista para o Diário do Nordeste, de Fortaleza. Afonso Arinos. No ensaísta do Espelho de três faces, no sociólogo de O índio brasileiro e a Revolução Francesa, no historiador de Um estadista da República, notam- A segunda carta é datilografada: -se o conhecimento da língua e o apuro literário do memorialista de A alma Rio de Janeiro, 12 de julho de 1984 do tempo, A escalada, Planalto e Alto-mar/maralto, primores do gênero em Ilmo. Sr. nossa literatura. Diretor do Instituto de Direito Público e Ciência Política da Professor Xavier Placer Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, recebeu-me em seu escritório para Niterói – RJ. a conversa em que falou de literatura, mas, principalmente, dos trabalhos da Meu caro Xavier, Comissão de Estudos Constitucionais que presidia, encarregada de estabelecer Tive grande satisfação em receber suas palavras amigas de adesão às opi- os parâmetros da Constituição Federal que viria a ser promulgada em 1988. niões que manifestei na recente entrevista ao Jornal do Brasil. Deu-me respostas comedidas, ponderadas, em que, diferentemente de Concordamos em que os atuais acontecimentos políticos são de tal gravi- tantos fanfarrões, não buscou reescrever o passado, para atribuir-se importân- dade que nenhum brasileiro consciente pode quedar-se insensível. E acredito, por cia maior do que verdadeiramente tivera. Perguntei-lhe: “O ministro Hermes isso mesmo, que grandes mudanças estão por vir. Lima, seu companheiro de Itamarati, costumava dizer que política é uma Enquanto isso, sem cultivar a presunção de realizar esforço notável, pro- atividade para pecadores. Como o senhor fez para conciliar a honradez e a curo contribuir, dentro de minhas limitadas possibilidades, para sensibilizar o dignidade com os conchavos próprios de um mandato parlamentar? As transi- povo e o governo no sentido de superar a inquietante crise que ora tumultua a gências da função política não o incomodavam?” Com franqueza e elegância, nação. respondeu: Suas palavras de confiança e solidariedade são para mim o melhor estí- – Não, porque nunca tive prestígio político, propriamente. Eu era o homem mulo. Agradeço-lhas de coração. que falava, me mandavam para a tribuna. Dos acordos partidários, lutas, Na expectativa do próximo encontro pessoal, abraça-o cordialmente o paixões, ambições, não participava muito. O que eu fazia era falar, dizem que colega e amigo melhor do que os outros. Então era o homem que ia para a tribuna: eles resol- Afonso Arinos. viam e eu expunha, às vezes com excessiva veemência, reconheço. Nunca pre- tendi influir decisivamente no meu partido: resistia a certas tendências que me Esse, o pensador, o jurista, o escritor, o político sobre quem Luiz Viana pareciam incorretas e eles respeitavam minha posição. Isso sempre aconteceu. Filho afirmou, no encerramento do seminário com que a Universidade de De vez em quando, não aceitava a decisão já tomada, e o fato de eu não aceitar Brasília homenageou o colega, em 1981: “É muito difícil que outra personalida- era suficiente para que revissem o assunto. Mas, em geral, nunca exerci liderança de do Brasil tenha, com a mesma grandeza, com a mesma luminosidade, com a política; quando muito tive liderança oratória, era o porta-voz da UDN, um par- mesma intensidade, essa multiplicidade de facetas. Ele não é o historiador, não tido importante. Mas sempre defendi um princípio que observo até hoje, aos 80 é o orador, não é o poeta. Ele é tudo!” anos de vida: sou muito capaz de fazer coisas de que me arrependa, mas nunca de que me envergonhe. Essa é a diferença, e muito clara. Tempos depois, visito-o no gabinete de senador da República, em Brasília, e lembro-lhe o discurso que proferira na Câmara, como líder da oposição a Getúlio, em 13 de agosto de 1954; no dia 24, o presidente se matava com um tiro no peito, tragédia para a qual contribuíra, acusavam alguns, a Sob o Sol da Esperança violenta manifestação do deputado Afonso Arinos. E ele, em surpreendente confissão: “Pois é, sempre me angustiou a ideia de que eu possa ter concorrido, Por Peilton Sena* embora involuntariamente, para a morte de Vargas. Hoje, não faria aquele dis- curso, em que talvez tenha pecado por excesso, diante da turbulência política que então nos assustava. Acontece que só o distanciamento histórico permite Não diga que o nosso País está na lama. essa avaliação; no calor da hora, fazemos o que nos obrigam as circunstâncias, Na lama está o caráter desses políticos corruptos e corruptores. e eu era o líder da minoria, a quem coube falar em nome dos colegas, não só Não diga que o Brasil é uma vergonha. em 13 de agosto, mas também onze dias depois, quando voltei à tribuna agora Ele ainda é e sempre será um país de milhões de honestos trabalhadores. para lamentar, respeitosamente, o suicídio que traumatizara o Brasil. Pudesse Estamos sem direção, mas, não estamos perdidos. voltar no tempo, preferiria não pronunciar aquele primeiro discurso, mas Somos maiores do que a ambição desses vorazes bandidos. assim não haveria a história como testemunho do que, bem ou mal, ocorreu no Debaixo do tapete havia muita sujeira... A casa está sendo limpa. passado, pois seria continuamente reformada, refeita pelos personagens que Toda tempestade provoca estragos, mas ainda assim é passageira. sobreviveram ao tempo, e assim não apenas envelheceram, se tornaram mais Não nos afastemos, sigamos de mãos dadas e corações em preces. sábios, mais experientes, mais precavidos, mas também mais inseguros, mais Que a violência não nos alcance nem o ódio nos abrace. hesitantes, mais medrosos...” Deus não nos abandonou nem deixou de ser brasileiro. Amigo do poeta e prosador fluminense Xavier Placer (1916-2008), Afonso Vamos alimentar nossa Fé no Bem Maior que ainda nos resta. E per- Arinos escreveu-lhe duas cartas até este momento inéditas, presentes gene- manecer ao lado da Justiça agindo sempre com honestidade de princípios do rosos que recebi do destinatário ao saber da minha admiração pelo autor do pequeno ao maior dos nossos atos. Roteiro lírico de Ouro Preto. A primeira manuscrita, sem data (com o carimbo Eles pensaram que pisando nas flores matariam a primavera das nossas dos correios, no envelope, de 30 de abril de 1984): Esperanças. Ledo engano. Cometeram o maior de seus erros. Mexeram com grandes seres humanos: nós, o povo brasileiro! Rua Dona Mariana 63 – Botafogo Em outubro rasgaremos esse véu que envolve o nosso Brasil numa noite Meu caro Xavier Placer, soturna. O Sol da Liberdade há de brilhar de novo! É só cada um de nós agir Fiquei muito sensibilizado com sua carta pascal. Recebi-a nesses dias de com consciência diante das urnas. repouso e meditação. Há tempos que não passava os olhos em A alma do tempo. Provocado pelas observações da sua carta, com ela em mão, percorri esse livro e, *Peilton Sena é poeta e membro da Academia Santista de Letras. ornalde 16 JLetras

JL Novos Lançamentos

Para cinéfilos Filho de Deus

Na antologia A experiência do cinema, Ismail Xavier Escrito pelo autor laico brasileiro que mais vende livros reúne textos de teóricos, críticos, filósofos e cineastas de temática religiosa no país, Jesus – O homem mais das tradições francesa, anglófona, russa e alemã, pro- amado da História (Editora Leya Brasil) é a obra mais duzidos entre 1916 e 1980. Assim, apresenta as princi- atual sobre a vida daquele que ensinou a humanidade pais teorias e uma abrangente reflexão sobre o cinema, a amar e dividiu a História em antes e depois. O revelando a diversidade de análises que têm marcado escritor e jornalista Rodrigo Alvarez recorreu às fontes o pensamento sobre a experiência cinematográfica – bibliográficas mais recentes, investigou as mais antigas desde as explicações básicas dos cineastas do princípio (entre elas diversos manuscritos originais) e viajou do século até as sínteses e novas propostas estéticas pelos mesmos lugares percorridos por Jesus em seu do pensamento contemporâneo. Com textos de André tempo. Fartamente ilustrado, o livro é resultado de uma Bazin, Béla Balázs, Dziga Vertov, Edgar Morin, Hugo pesquisa que buscou a informação em estado bruto – o Mauerhofer, Hugo Munsterberg, Jean Epstein, Jean- mais livre possível dos interesses políticos e religiosos Louis Baudry, Laura Mulvey, Luis Buñuel, Mary Ann que sempre manipularam a História. O autor foi aos Doane, Maurice Merleau-Ponty, Robert Desnos, Serguei evangelhos, aos Atos dos Apóstolos, às cartas de Paulo, M. Eisenstein, Stan Brakhage e Vsevolod Pudovkin, a obra aos tratados de patriarcas, aos livros judaicos, às profe- retorna às livrarias pela editora Paz & Terra. “Publicado cias, aos pergaminhos que os primeiros bispos da Igreja originalmente em 1983, A experiência do cinema tentaram apagar na fogueira e aos livros gnósticos, com prolongava a durável contribuição teórica de Ismail suas visões místicas, para reapresentar o leitor a uma Xavier aos estudos de cinema no Brasil, inaugurada nos figura histórica que, ao mesmo tempo Deus e humano, seus livros O discurso cinematográfico: a opacidade e a transparência (1977) e Sétima arte: foi humilhado, traído, quebrou regras, desafiou e foi desafiado. Rodrigo viveu três anos um culto moderno (1978). Se não foi a primeira nem seria a última antologia brasileira de em Jerusalém, de onde partiu para visitas ao Sepulcro de Jesus, à Gruta da Natividade em teoria do cinema (J. L. Grunewald organizara, em 1969, A ideia do cinema, e Fernão Ramos Belém, a Nazaré, à Turquia, à Jordânia, ao Chipre, ao Mar Morto e, claro, ao rio Jordão. viria a organizar, em 2005, Teoria contemporânea do cinema), esta tem sido, porém, a mais Caminhou pelos mesmos desertos que Jesus, meditou no alto das mesmas montanhas, presente e longeva em nosso debate, como atesta a frequência invariável com que aparece pisou nas mesmas pedras, entrou nas cavernas de Jericó, tomou banho no Mar da Galileia na bibliografia dos livros da área...”, ressalta Mateus Araújo na orelha do livro. e subiu ao monte onde a tradição afirma que Jesus fez seu sermão inaugural.

Garças Nossa realidade

O poeta Lasana Lukata lança mais uma de suas garças. Em O sol na cabeça (Companhia das Letras Editora), Em a Garça sem voz (livro rápido) o autor trás mais uma Geovani Martins narra a infância e a adolescência de vez seu amor pela ave, que o acompanha por outros garotos para quem às angústias e dificuldades próprias livros: Meu Cartão Vermelho (crônicas), Multifoco, 2010, da idade soma-se a violência de crescer no lado menos Caçada ao Madrastio (crônicas, 2010), Exercício de Garça, favorecido da Cidade partida, o Rio de Janeiro das pri- Íthacas, 2011 (poesia); Separação de Sílabas, 2011 (poe- meiras décadas do século XXI. Em “Rolézim, uma turma sia) Virtualbooks; Urdume (poesias), editora Multifoco, de adolescentes vai à praia no verão de 2015, quando a 2013; Homem ao Mar (contos), editora Livros Ilimitados, PM fluminense, em nome do combate aos arrastões, 2014, Setênfluo (Poesias), editora Livros Ilimitados, 2014, fazia marcação cerrada aos meninos de favela que Garça na janela (poesias), editora Livros Ilimitados, pretendessem chegar às areias da Zona Sul. Em “A his- 2015; Pássaros sem pressa, 2016 (poesias), Mergulho (lei- tória do Periquito e do Macaco, assistimos às mudanças tura silenciosa para peixes), editora Livro Rápido (2017). ocorridas na Rocinha após a instalação da Unidade de Júnia Azevedo na orelha assim descreve o autor e o livro: Polícia Pacificadora, a UPP. Situado em 2013, quando a “Esqueça tudo que você ouviu sobre garças. Na poesia de maioria da classe média carioca ainda via a iniciativa do Lasana Lukata, elas surgem como seres mitológicos, que secretário de segurança José Beltrame como a panaceia nos tiram do chão para um voo redentor, do desamparo contra todos os males, o conto mostra que, para a popu- ao aconchego, do lodo ao céu, do lixo ao luxo. Em meio lação sob o controle da polícia, o segundo “P” da sigla a lembranças de uma infância dura às margens poluídas não era exatamente uma realidade. Em “Estação Padre da Baía de Guanabara aos dias de marinheiro num navio que afundou ao ser rebocado Miguel”, cinco amigos se veem sob a mira dos fuzis dos para desmanche, as garças de Lasana são aparições de bom augúrio.” Seu destino hoje traficantes locais. Nesses e nos outros contos, chama a atenção a capacidade narrativa do voa através das asas de suas garças, nelas Lasana Lukata vive, come, dorme e faz poesia. escritor, pintando com cores vivas personagens e ambientes sem nunca perder o suspense Poderia ser uma pessoa amarga por tudo que passou, mas nos transmite em seus poemas e o foco na ação. Na literatura brasileira contemporânea, que tantas vezes negligencia a a liberdade da ave ciconiforme que habita áreas próximas a rios, lagos, praias marítimas, trama em favor de supostas experimentações formais, O sol na cabeça surge como uma manguezais e estuários. mais que bem-vinda novidade.

Ensaios compactos Vida de publicitário

Umberto Eco publicou seu primeiro romance, O nome Washington Olivetto lança sua biografia Direto de da rosa, em 1980, quando tinha quase 50 anos. Nestas Washington - W. Olivetto por ele mesmo (Estação Brasil/ Confissões de um jovem romancista (Editora Record), Sextante). Olivetto é criador de algumas das mais mar- escritas trinta anos depois de sua estreia na ficção, o cantes e divertidas campanhas da propaganda nacio- autor rememora sua longa carreira como teórico e seus nal. Nesta biografia ele conta algumas histórias que trabalhos mais recentes como romancista e explora ajudam a compreender como criou o seu melhor per- essa bem-sucedida interseção. Originalmente, os qua- sonagem: ele próprio. Ganhou o primeiro Leão de Ouro tro ensaios deste livro foram palestras do programa do Brasil em Cannes, conquistou todos os prêmios da Palestras Richard Ellmann sobre Literatura Moderna, na publicidade mundial, entrou para o Guinness Book of Universidade Emory, em Atlanta, Estados Unidos. Eco Records, inspirou personagem de novela, virou letra de começa explorando a fronteira entre ficção e não ficção músicas de sucesso, nome de pratos em restaurantes – passeando por esse limite de forma ao mesmo tempo famosos, selo do correio no Brasil, vice-presidente do divertida, sincera e brilhante. Uma boa não ficção, acre- seu time do coração, o Corinthians, cidadão carioca dita, é estruturada como um romance policial, e um sendo paulista, commendatore italiano sendo brasilei- romancista habilidoso pode construir mundos extrema- ro. “Este livro é uma tentativa de contar um pouco da mente detalhados por meio de observação e pesquisa. minha trajetória e das influências e circunstâncias que A mistura entre real e ficcional se estende também aos me ajudaram, direta ou indiretamente, a realizar o que habitantes desses mundos inventados. Por que nos tenho feito. Quando minha mulher me perguntou por emocionamos tanto com a jornada de um personagem? que eu finalmente tinha decidido aceitar o convite para escrever essas histórias, respondi Em que sentido Anna Karenina, Gregor Samsa e Emma Bovary “existem”? Levando o leitor com uma frase de efeito: ‘Cansei de ler inverdades a meu respeito; agora resolvi contar as por uma viagem através de seu método criativo, relembra como elaborou seus ambientes minhas próprias mentiras.’ A frase é divertida; parece do Grouxo Marx, mas é minha. E não ficcionais: começou com imagens específicas, determinou o período, a ambientação e as é verdade”, brinca. A biografia tem 21 capítulos e não tem ordem cronológica – Olivetto vozes, e compôs histórias que atrairiam tanto leitores sofisticados quanto os mais popula- resolveu escrever de acordo com o que foi lembrando, entre outubro de 2016 e dezem- res. Em ensaios compactos e ainda assim excepcionais, este “jovem romancista” mostra-se bro de 2017. Foto da capa é de Sebastião Salgado e o texto de orelha, do jornalista Luis um mestre que tem muito a ensinar sobre a arte da ficção e o poder das palavras. Fernando Silva Pinto. ornalde JLetras 17

Virgílio. Para Manguel, “O ato de ler uma única linha, de modo profundo e abrangente, trazia para Santo Agostinho o eco de todas as nossas bibliotecas, passadas, presentes e futuras, com cada palavra remontando a Babel e antecipando a última trombeta. Significava um constante deslocamento de uma experiência adquirida para a seguinte, Sua majestade o leitor uma leitura nômade através da memória em direção ao desejo, consciente da estrada percorrida e da estrada ainda a percorrer”. (Pág. 60) Para o renomado romancista Por Vera Lúcia Oliveira holandês Caes Nooteboom, a viagem da leitura é um meio mais rico de estar em casa consigo mesmo. Experiência compartilhada por Montaigne quatro séculos antes. E os Alberto Manguel já nos encantou com a história da leitura, do livro e agora nos viajantes ilustres são muitos... encanta novamente com a história do leitor. Em O leitor como metáfora – o viajante, Mas o melhor do livro são os leitores da torre. Os que escolheram o isolamen- a torre e a traça (SP: Ed. Sesc, 2017), representações do sujeito louco por livros, temos to para refletir sobre o mundo. Desde os primeiros cristãos que se isolaram para uma belíssima edição em que tudo atrai os loucos por livros: as ilustrações, a cor do encontrar Deus, passando por Demócrito, que se retirou do convívio dos homens papel, a diagramação, mostrando o capricho, tornando o livro uma obra de arte. porque não queria fazer parte do mundo, por São Jerônimo, que formou uma grande Não bastasse o autor ser um renomado bibliófilo, possuidor de memorável biblioteca que ele amava acima de tudo e na qual se isolava, Manguel lembra que “Na biblioteca com mais de trinta mil exemplares escolhidos a dedo, é também editor e, tradição judaico-cristã, a torre aparece como símbolo de força protetora ou de beleza atualmente, diretor da Biblioteca Nacional de Buenos Aires, sua cidade natal. E foi perfeita. O livro dos Provérbios diz: ‘O nome do Senhor é torre fortíssima: o justo corre nessa Biblioteca que, durante quatro anos, ainda jovem, foi também guia e luz dos para ela, e nela encontra refúgio’.”(Pág. 79) Mas a expressão “torre de marfim”, como olhos de outro leitor: Jorge Luís Borges. Portanto, sua intimidade com os livros vem de a conhecemos e utilizamos modernamente, foi empregada pela primeira vez, talvez, longa data. Seu gosto pelo objeto livro e pela imaterialidade da leitura sempre foram pelo crítico francês Sainte-Beuve para contrastar a poesia abstrata de Alfred de Vigny à os seus assuntos preferidos. Em Uma história da leitura, A biblioteca à noite, Os livros e politicamente mais engajada de Victor Hugo: “É Vigny, mais discreto,/ Como que para os dias, e agora neste O leitor como metáfora, viajamos com ele no tempo e no espaço sua torre de marfim, retornava antes do meio-dia.” (Pág. 79) E o ponto alto do leitor – o livro com viagem, e o leitor como viajante, desde os primeiros grandes leitores do da torre ficou reservado para Hamlet, o príncipe intelectual de Shakespeare, analisado ocidente, como Santo Ambrósio e Santo Agostinho, relembrando o que disse São João aqui por grandes especialistas. Ser ou não ser intelectual, eis a dúvida do príncipe da em seu evangelho que “no princípio era o Verbo” em que “estava definindo tanto sua Dinamarca. Agir ou encerrar-se na sua casca de noz, eis a questão. Há ainda a torre de tarefa de escriba como a de Autor em Si.” (Pág. 22) Gramsci, oposta à de Hamlet, que deve ser um território crítico, já que todos podem ser O que mais impressiona em Manguel é a sua capacidade de trocar em miúdos leitores levando a sua experiência a campo aberto, ao mundo. Esse leitor reflexivo da os temas mais eruditos de maneira a torná-los simples, acessíveis a todos os leitores, torre se vê hoje confrontado com a dificuldade de ler um só texto, pois é tentado pelo levando-os em sua viagem. A sua escrita é clara como a luz da lua. Para justificar o demônio dos meios eletrônicos a apenas mordiscar um pedacinho de cada leitura... seu tema, a metáfora, lembra que Cícero disse que a metáfora surgiu para suplantar O último tipo de leitor, assim como o minúsculo inseto, a traça, só vê graça na a pobreza da língua, ineficiente para nomear de maneira exata a nossa experiência vida se estiver mergulhado nas páginas de um livro. Ele vive tão intensamente o prazer concreta. A metáfora diz mais e melhor. Sempre. Assim, para caracterizar os três tipos da leitura, que se apaixona por personagens, tornando-as muitas vezes reais. Outros, principais de leitores, Manguel pensa no viajante, aquele que conhece o universo por como o Louco dos Livros, Dom Quixote (livro que Flaubert sabia de cor antes de apren- meio da palavra escrita. Ou seja, viaja sentado no sofá. Desde a Bíblia, “o Livro é o der a ler), assim chamado pelo autor Cervantes, geraram desconfiança quanto à sua único veículo que permite que a palavra de Deus viaje pelo mundo, e os leitores que sanidade mental. E outros ainda, considerados perigosos por “devorar” livros, atestan- o seguirem tornam-se peregrinos no sentido mais profundo e verdadeiro”. (Pág. 20) A do o temor e a “desconfiança que as sociedades sempre tiveram, perante o que pode leitura reproduz a experiência do mundo a esse leitor viajante. Santo Agostinho conta ser criado com palavras, uma desconfiança do próprio ato intelectual”, diz Manguel, que chorou quando leu a morte da apaixonada Didi. Ele “viajava” com a Eneida, de que disse ainda: “Somos os livros que já lemos.” Viajante, torre, traça.

ao cinema, da pintura ao teatro, da História à psicologia, da literatura clássica à contemporânea, do seu Pantanal e do seu Mato Grosso a São Paulo, metrópole apressurada que adotou por alguns anos, revisita dos mitos ancestrais que nos habitam aos totens e tradições que constroem identidade e formação. Enfim, um poutpourri Uma autora com o delineando a singela aferição de uma observadora atenta às experiências individuais e coletivas e às demandas existenciais, que sabe transformar o corriqueiro e o banal em matéria e circunstância para o refinamento literário, extrai poesia do inaudito, consti- tuindo-se num mergulho nesse mosaico que constitui a nossa crônica diária, povoada sentimento do mundo de nuances e mistérios, iluminando tudo que aí está e poucos são capazes de captar ou reconhecer suas verdades ou enganos, seja no multifacetado das cidades e dos Por Ronaldo Cagiano* homens, seja no familiar, no sagrado, no profano, nos pequenos atos heroicos, seja na ação anônima ou silenciosa dos que trabalham na artesania do tecido social, e, ao mesmo tempo, no surreal, insólito e absurdo da nossa própria trajetória, muitas vezes Em seu novo livro O avião invisível (Ed. Ibis Libris, Rio, 2017), Raquel Naveira invisível como o avião que dá título ao livro. oferece ao leitor um caleidoscópio de visões e sensações estéticas sobre o mundo e seu O avião invisível, como atesta Mafra Carbonieri na apresentação da obra, tempo, em 78 narrativas que panoramizam sua aguda percepção crítica. coloca a autora, sem dúvida e sem favor algum, na galeria dos grandes escritores bra- São textos que nos remetem (ou nos fazem resgatar) os tempos de ouro da sileiros. Sua bibliografia, que contempla um amplo espectro criativo – poesia, crônica, crônica no Brasil, vertente em que pontificaram, desde os primórdios, mestres como conto, ensaio, crítica, resenhas, seminários, palestras – nada deve aos nomes bafeja- , Machado de Assis e João do Rio, Cecília Meireles, Clarice dos pela grande mídia. Esta mídia sempre ausente, silenciosa, negligente e criminosa Lispector, Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, José incensa a mediocridade e valoriza o lixo literário (com suas panelinhas, guetos, gru- Carlos de Oliveira, Fernando Sabino e . Raquel abrange ao mesmo pelhos, máfias, gangues e altares de pseudosumidades) em detrimento de verdadeiros tempo o questionador e filosófico, discutindo temas e questões presentes no nosso escritores – como Raquel – que, com a perícia e ourivesaria dos genuínos estilistas, cotidiano, transcendendo o mero flagrante ou registro dos acontecimentos para escrevem sobre o que é essencial e profundo, com um inegável responsabilidade esté- inserir-se na categoria de uma narrativa densa e reflexiva sobre tudo que nos cerca, tica e ética, porque está sintonizada com os sentimentos e valores universais. A autora pois nada escapa ao seu sensível radar de arguta observadora da alma e da condição contempla em suas crônicas um amplo espectro com a mesma profundidade e senso humanas. de investigação, mesmo quando trata de temas que muitas vezes canalizam uma visão Essa obra de Naveira realiza um meticuloso rastreamento do próprio sentido da mais personalista, o faz com independência crítica, isenção e sem sectarismo, tratan- existência, num itinerário que transita do lírico ao social, do histórico ao geográfico, da do de aspectos que interessam mais a uma discussão dialética que ao maniqueísmo literatura à filosofia, do onírico ao mitológico, do tangível pelos olhos ao místico tatea- ideológico, como nos temas da religiosidade e da política, por exemplo, fruto de sua do pelo espírito. Enfim, um delicado, sofisticado e poético panorama das re(l)(a)ções versatilidade e do seu modo holístico e eclético de considerar ou manusear os assuntos da autora com o universo e com as pessoas, suas influências literárias e referências cul- que lhe são caros. turais, em que valores e sentimentos são visitados com ternura e expansão espiritual, Essas crônicas radiografam o mundo, o tempo, as pessoas, registro afetivo para num movimento de percepção sobre a vida e seus contornos. perenizar seu sentimento sobre esse mundo em que “a todo momento, tudo muda, Suas crônicas, mais que revelar o homem real e a cidade viva, o ser em transição cai ao chão, esfacela-se, apodrece, restaura-se, constrói-se, como um mapa decadente e a história em mutação, a realidade com suas dores, delícias, sonhos, frustrações e sem fim, apagando-se e redesenhando-se continuamente”, mas que só um escritor, metamorfoses, nesse tempo de tamanha dissolução, de tanta perplexidade, dissolução um bom escritor como Raquel, detida no essencial e profundo, é capaz de captar e e paradoxos, é um convite à reflexão e ao desnudamento do humano em suas diversas perenizar. projeções e representações. Ao sairmos dessas páginas, temos aquela agradável sensação e o prazer da Em cada crônica, Raquel deslinda, como se retirasse palimpsestos, como numa leitura, pois, como diria Mallarmé, “no fundo, o mundo é feito para acabar num belo imersão em universos e ambientes desconhecidos, para aclarar outras dimensões, livro”, como neste O avião invisível, de deliciosa viagem entre mundos e instâncias que além da geográfica e aparente. Numa interpretação sobre a variada linguagem e os só a boa literatura é capaz de nos levar, como nos levaram, pelas suas asas, as crônicas signos que habitam seu inconsciente de escritora e de humanista, vamos encontrar de Raquel Naveira. um percurso sobre as ideias e sobre a arte em suas diversas manifestações: do livro *Ronaldo Cagiano é escritor. ornalde 18 JLetras sário de belas artes, em Vitebsk. Criou uma aca- demia, onde se inscreve- A forma poética de ram 900 alunos. Em 1920, o teatro judeu de Moscou lhe encomendou nove imensos painéis decorati- Marc Chagall vos. Estava com 33 anos e muitos o consideravam no Por Manoela Ferrari seu apogeu artístico. Foi aí que nasceu “O violinista no telhado”, logo transforma- O compromisso com do em obra-prima. a alma judaica pode ser Em 1923, Chagall percebido em toda a traje- deixou a Rússia, voltou a tória de Marc Chagall, um Paris e passou a se dar com dos maiores pintores do os intelectuais da época. Surrealismo do século XX. Chegou, por momentos, Em nenhum momento da a se encantar pela poesia. vida, o artista russo arre- Fez a sua primeira retros- feceu o orgulho da sua ori- pectiva, em 1924 e, dois gem religiosa. Suas obras anos mais tarde, a primeira apresentam, de forma poé- exposição em Nova Iorque. tica, a beleza do cotidiano Mas é em Paris que ele se numa unidade entre a rea- sentia livre e feliz. Tanto “A noiva” (1950). lidade e a fantasia. Escrita que se propõe a pintar as no início da década de fábulas de La Fontaine, o que fez com muito sucesso. Da mesma forma como deu 1920, a obra “Minha Vida” vida a palhaços, animais e acrobatas do circo, outra das suas fixações. é uma autobiografia poéti- A leitura da Bíblia acompanhou Chagall desde a sua primeira infância. Foi ca em que Chagall tenta se à Palestina, em 1931, e visitou os lugares sagrados do judaísmo. Procurou expri- reconciliar com sua infân- mir o sofrimento do seu povo. Interpretou a Torá, onde se encontra a doutrina cia difícil e com o início judaica. da vida adulta no Império Naturalizado francês, em 1937, não se conformou com as perseguições aos Russo. Este ano marca o judeus na Europa. A família Chagall embarcou para Nova Iorque, em 1941, justo 131º aniversário de nasci- no dia em que a então União Soviética foi atacada pela Alemanha, cujas auto- mento do pintor. ridades nazistas haviam embargado suas obras das coleções públicas. Sua arte Chagall nasceu em foi considerada “degenerada”. Em Nova Iorque, juntamente com a mulher Bella, uma pequena aldeia russa, “Eu e a Aldeia” (1911). conheceu artistas e poetas judeus que não ignoravam os atos de barbarismo per- no dia 7 de julho de 1887. petrados pelos nazistas. Guerra, perseguições, êxodo e povos em chamas habitam Filho de uma família judaica, era o mais velho de nove irmãos. Morreu quase os quadros dessa época e seus trabalhos passaram a apresentar matizes sombrios. centenário, em 1985, tendo passado por uma revolução, duas guerras e o exílio. O tema da crucificação, símbolo do sofrimento humano, se repetiu na obra Vivendo tempos de guerra e de paz, retratou tudo com uma qualidade ímpar. de Chagall. O tema clássico dos cristãos é acompanhado de objetos rituais do Transgrediu regras e códigos e nutriu-se do pensamento modernista, tornando- judaísmo, numa associação que procura harmonizar as duas grandes religiões. -se pioneiro do Cubismo e do Surrealismo. São correntes, nos seus trabalhos, as Depois de perder a esposa Bella nos Estados Unidos, o que lhe valeu a tradições judaicas hassídicas (o seu rabino de Vitebské antológico), além de epi- depressão de um ano, sem pintar, em 1948, Chagall voltou definitivamente à sódios bíblicos e aspectos de família, a que ele era muito chegado. França, dedicando-se a temas solares, marítimos e mitológicos. Em Nice, foi cria- Em 1910, Marc Chagall partiu para a França. Em Paris, entrou em contato do o Museu Nacional Marc Chagall, com as preciosidades da sua obra imortal. com vários artistas da vanguarda modernista, entre eles, os pintores Amadeo Casou-se novamente com Valentina Brodsky e recuperou a felicidade. Modigliani e Robert Delaunay e o poeta Blaise Cendrars, que viria batizar gran- O paralelo entre as imagens da guerra e as imagens da paz revelam a com- de parte de suas obras. As tendências do Fauvismo e do Cubismo são visíveis plexidade da sua obra. Assim, segundo as circunstâncias, Chagall visita e revisita nos quadros que realizou em seus primeiros anos na capital francesa. Nos anos certos temas, sempre com uma dimensão pessoal, em que é possível perceber as seguintes, pintou dois dos seus quadros mais conhecidos: “Eu e a Aldeia” (1911) diversas fases da sua vida. e “O Soldado Bebe” (1912). Apesar das dificuldades e da discriminação que Chagall enfrentou, em sua Em 1917, a Rússia estava em plena revolução e ele foi nomeado comis- autobiografia, fica evidente que ele não nutria uma imagem negativa em relação à Rússia. Seu maior apego era a sua cidade natal, Vitebsk. O livro Minha vida se encerra com seus últimos pensamentos, antes de partir para Paris. “E talvez a Europa vá me amar, e, com ela, a minha Rússia”, escreveu.

“O judeu rezando” (1923) “A crucifixação branca” (1938). “O aniversário” (1915). ornalde JLetras 19 A informação da morte da escritora foi divulgada via Facebook pela família e por colegas, entre eles o poeta e membro da Academia Brasileira de Letras, Antônio Carlos Secchin: “Com muito pesar comunico a morte de Edla OO adeusadeus aa Van Steen, uma grande ficcionista, uma batalhadora incansável em prol da literatura brasileira, que tanto divulgou através das centenas de títulos que editou na coleção Melhores (poemas/crônicas/contos) da Global.” “Linda, inteligente, humor afiadíssimo, a escritora e dramaturga Edla EdlaEdla vanvan SteenSteen van Steen nos deixa hoje. Viúva do saudoso Sábato Magaldi, mãe de três talen- tos de brilho próprio – Anna Van Steen, Lea Van Steen e Ricardo Van Steen – era Por Maria Cabral a anfitriã perfeita. O segredo talvez estivesse no fato de ter genuíno prazer em receber – nem que fosse para depois arrancar humor das situações e tipos. Foi musa de Glauber e outros cineastas à época, e só não seguiu carreira de atriz Nome onipresente na discussão intelectual e literária do Brasil, a escri- porque as circunstâncias de vida não permitiram. Mas está lá, imortalizada, tora catarinense Edla van Steen, radicada em São Paulo há 40 anos, morreu, nas cenas de ‘Na Garganta do Diabo’ de Walter Hugo Khoury. Sua memória na capital paulista, após um infarto, aos 82 anos. perdurará em sua obra e na lembrança dos que tivemos a sorte de entrar em Viúva do crítico teatral Sábato Magaldi (1927-2016), autora e organiza- sua órbita”, escreveu Aimar Labaki. dora de dezenas de livros, entre ficção, peças teatrais, publicações críticas e “Edla é a grande colaboradora, o principal eixo cultural, na implantação jornalismo, Edla recebeu diversos prêmios ao longo da carreira, e foi, durante desde o início da década de 1980 da linha editorial da Global Editora, hoje muito tempo, colaboradora do jornal O Estado de S. Paulo. com suas bases totalmente fincadas na Literatura brasileira”, disse o editor Nascida em Florianópolis em 1936, Edla viveu alguns anos em Curitiba Luiz Alves Júnior, em nota. “Uma vida dedicada a promover e valorizar a inte- antes de se mudar definitivamente para São Paulo. Seu primeiro emprego foi lectualidade do país. A qualidade da editora se confunde com a qualidade do numa rádio, em que lia e encenava cartas de amor e outros relatos de ouvintes. trabalho dela.” Seu primeiro livro de contos, Cio, foi publicado em 1965. De lá para cá, foram cerca de três dezenas de livros de sua autoria, e, pelo menos, outros 300 edita- A escritora dos ou organizados por ela. Edla van Com a Editora Global, organizou as séries Melhores Poemas, Melhores Steen mor- Contos, Melhores Crônicas, que conta com pelo menos 100 autores. Dirigiu, reu aos 82 também, entre outras, a coleção Roteiro da Poesia Brasileira, com 15 volumes, anos, após e publicou diversos romances e contos, como Corações Mordidos, No Silêncio um infarto, das Nuvens, O Gato Barbudo, e A Revolta. em São Entre as incursões em outras carreiras do campo artístico, foi atriz (seu Paulo. papel mais lembrado é em “Na Garganta do Diabo”, de Walter Hugo Khouri, em 1960), roteirista, redatora publicitária, tradutora e galerista. O crítico de teatro Sábato Magaldi foi seu terceiro e definitivo casamen- to, que durou 37 anos, até a morte do autor. Em 2015, ela organizou o livro Amor ao Teatro: Sábato Magaldi, coletânea de 1,2 mil páginas que reúne a produção crítica de Magaldi.