Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 11: 55-75, 2001.

DE GUARATUBA A BABITONGA: UMA CONTRIBUIÇÃO GEOLÓGICO-EVOLUTIVA AO ESTUDO DA ESPACIALIDADE DOS SAMBAQUIANOS NO LITORAL

Mário Sérgio Celski de Oliveira* Norberto Olmiro Horn Filho**

OLIVEIRA, M.S.C.; HORN FILHO, N.O. De Guaratuba a Babitonga: uma contribuição geológico-evolutiva ao estudo da espacialidade dos sambaquianos no litoral norte catarinense. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 11: 55-75, 2001.

RESUMO: O trabalho apresenta uma abordagem geológico-evolutiva dos sambaquis da planície costeira de Joinville cujos resultados indicam uma possível rota para deslocamento de sambaquianos entre o litoral sul para­ naense e o litoral norte catarinense. O modelo paleogeográfico proposto e as datações absolutas de sambaquis atualmente disponíveis convergem para o canal do Palmital como região inicial de ocupação de Joinville por aquelas populações de pescadores-coletores.

UNITERMOS: Sambaquis - Planície costeira de Joinville - Paleogeografia - Quaternário costeiro.

No Brasil, há mais de um século tem-se demarcação territorial, dentro de um sistema envidado esforços científicos para dar sentido social bem mais complexo do que se entendia à cultura material herdada da sociedade anteriormente (Gaspar 2000, Lima 1999/2000). sambaquiana. Restos esqueletais humanos, Estudiosos de processos evolutivos da artefatos produzidos em osso, pedra e concha, planície costeira têm identificado uma relação vestígios de cabanas, carvões de antigas direta entre a distribuição espacial dos samba­ fogueiras e a própria estruturação dos sítios, quis e oscilações do nível relativo do mar - levam a supor que os sambaquis teriam sido NRM durante o Holoceno (Krone 1908, espaço multifuncional associado a moradia, a Leonardos 1938, Bigarella 1954, Martin et al. local de enterramento de mortos e até mesmo a 1984, entre outros). Recentemente, tem-se debatido a necessidade de revisão dos critérios utilizados para utilização dos samba­ quis como efetivos indicadores espaço- (*) Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville - temporais fidedignos destas oscilações, MASJ. estimulando a retomada de pesquisas que (**) Departamento de Geociências (Instituição efetiva do Programa de Geologia e Geofísica Marinha melhor explicitem as razões culturais e as - PGGM), Universidade Federal de - técnicas de implantação dos sítios em áreas UFSC. sujeitas a inundação pelas marés (Angulo &

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Lessa 1997, Martin et al. 1998, Lessa & paleogeográfico então proposto possui sobre Angulo 1998). a interpretação de deslocamentos de samba­ Bigarella (1954) e Martin et al. (1984) quianos no litoral norte catarinense. consideraram que quando associados a Geomorfologicamente, o litoral norte estudos paleogeográficos, a determinação do catarinense insere-se no “setor sudeste - substrato pode contribuir para a estimativa costões rochosos, laguna/barreira, man- aproximada de um intervalo de tempo onde guezais” segundo a classificação de Silveira teria sido construído o sambaqui. Como (1964); no “macrocompartimento litoral exemplo, Martin et al. (1984) citaram samba- sudeste - litoral das planícies costeiras e quis sobre depósitos eólicos, que somente estuários” segundo a classificação de Muehe poderiam ter sido construídos após o NRM (1998) e no “compartimento I - litoral seten­ máximo holocênico para aquela região. Obvia­ trional” segundo a proposta para compar- mente tal dedução possui uma resolução timentação do litoral de Santa Catarina de temporal limitada, já que em termos de datação Diehl&Hom Filho (1996). absoluta “sambaquis situados em um só e A área de estudo ocupa aproximadamente mesmo tipo de unidade morfológica ou 230km2, tendo como paralelos extremos espacial, podem ter idades muito diversas” 26°06’47” e 26°20’48” e meridianos extremos (Ab’Saber 1984). 48°50’46” e 48°43’34”, conforme Figura 1. A Este trabalho apresenta resumidamente altitude máxima de 229m é verificada no Morro alguns resultados obtidos em recente disserta­ do Boa Vista. Nesta área, Oliveira & Hoenicke ção de mestrado (Oliveira 2000) cujo objetivo (1994) indicaram o então registro de 27 sítios foi o de caracterizar os sambaquis da planície arqueológicos do tipo sambaqui. costeira de Joinville segundo uma perspectiva A metodologia do trabalho incluiu proce­ geológico-evolutiva e uma abordagem conser­ dimentos específicos da pesquisa em planície vacionista dos sítios. Especificamente, o costeira. A fotointerpretação foi direcionada à trabalho refere-se às implicações que o modelo determinação das características gerais das

Figura 1 - Localização geral da área de estudo.

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morfologías deposicionais e de afloramento Guerra e, segundo o próprio (Tiburtius 1996), nas unidades geológicas e respectivos “aborrecido” com a impossibilidade de contatos. Para a amostragem dos afloramentos escavar os sambaquis no Paraná, mudou-se recorreu-se a tradagens manuais e descrição para Joinville onde sua ascendência germânica de perfis. O controle altimétrico deu-se princi­ lhe garantiu ser “bem recebido pelos habitan­ palmente com base nas plantas cadastrais tes e por todos os prefeitos”. 1:2 .000. Tiburtius trabalhou por quase vinte anos A amostragem do substrato dos sítios foi nos sambaquis de Santa Catarina, tendo orientada na maioria das vezes à não tradagem publicado 13 artigos e com pelo menos outros direta sobre os sambaquis, procurando-se 17 ainda inéditos. Em Joinville, escavou os áreas marginais que permitissem visualizar sambaquis Morro do e Cubatãozinho, faixas de contato do sítio com os depósitos além do “sambaqui” Itacoara. Apesar de sedimentares. intitular-se um “individualista” (Tiburtius Foram processadas 91 amostras dos 1996), sua parceria com João José Bigarella, sedimentos coletados em 71 pontos de íris Koehler Bigarella, Alsedo Leprevost e amostragem ao longo da área de estudo. Para a Arnoldo Sobanski, aproximou-o da metodo­ determinação das cores, cálculo dos teores de logia acadêmica. Segundo Beck (1974), o matéria orgânica e de carbonatos e proces­ trabalho de Tiburtius significou uma transição samento granulométrico dos sedimentos, entre os estudos amadores e os profissionais, utilizaram-se os métodos descritos por Suguio “quase uma Arqueologia de salvamento, (1973) e Martins et al. (1978). podendo a contribuição ser colocada ao nível dos primeiros trabalhos profissionais executados em Santa Catarina“. Os Sambaquis da Coube ao Prof. Bigarella a inclusão dos Planície Costeira de Joinville sambaquis de Joinville (Cubatãozinho, Morro do Ouro, Rio Velho I e Rio Velho II e n.° 42, Há mais de 120 anos os sambaquis de este último trata-se provavelmente do Samba­ Joinville vem despertando o interesse de qui Guanabara I), em uma sistemática aborda­ estudiosos de diversas disciplinas. gem geológica e paleogeográfica que, iniciada Atribui-se a Virchow (1872), Wiener (1876) em seus pioneiros estudos na década de 40 no e Steinen (1887) a publicação dos primeiros Paraná, persiste até hoje como referencial ao trabalhos nos quais sambaquis de Joinville estudo da correlação dos sambaquis e evolu­ são referenciados (Fettback, Krelling, Schroe- ção litorânea (Bigarella 1946, 1949; Bigarella et ders Goldberg, Miranda e “Joinville”), ainda al. 1954; entre outros). no final do Século XIX. Piazza (1966) pesquisou o Sambaqui Gualberto (1908) descreveu no início do Espinheiros I em 1964, mesmo ano em que Século XX um grande sambaqui “da lagôa do elabora um mapa intitulado “Área de Joinville Saguassú” ao lado do qual existiria uma - Cadastro dos Sambaquis - Lei n.° 3.924”, estação pré-histórica, fazendo referência ainda onde localiza sítios de difícil acesso e que ao grande número de sambaquis da região: “só somente voltariam a ser “atualizadas cadas- em S. Francisco nós podemos contar para tralmente” 36 anos depois. mais de 150 sambaquis” e a outras estações à No início da década de 70, dentro do margem do rio Pirabeiraba. Programa Nacional de Pesquisas Arqueológi­ Oliveira (1944) informou ter encontrado cas - PRONAPA, Piazza (1974) apresentou vários sambaquis mas nenhum “além de 10 uma nova distribuição dos sítios arqueológi­ quilômetros no vale do Itapocu”, fazendo cos para o litoral norte catarinense, onde referência aos “casqueiros” do rio Cachoeira classifica os sítios em três fases pré-cerâmicas, citados por Backheuser (1918). segundo critérios “ecológicos e arqueológi­ Guilherme Augusto Emílio Tiburtius (1892- cos”. O autor denominou de Fase Saguaçu 1985) conheceu seu primeiro sambaqui em aquela referente a 2 sambaquis com predomi­ Matinhos (PR), no último ano da 2a. Grande nância de Modiulus brasiliensis, ambos

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situados na Ilha do Gado em Joinville, tendo do Município, com fins de subsidiar a preser­ os outros sambaquis do município recebido a vação do patrimônio. Este inventário básico é classificação de Fase Acaraí. posteriormente utilizado para análises da Em balanço sobre a produção científica da morfometria e distribuição dos sítios em Arqueologia Pré-Colonial no litoral norte Joinville (Oliveira & Hoenicke 1994, Oliveira catarinense, Bandeira (1997) informa que 1996a, 1996b). Piazza, com a colaboração de Afonso Imhof, Hom Filho (1997) defendeu tese de pesquisou em 1970 o Sambaqui Rio Comprido doutoramento sobre os aspectos geológicos, (inédito). No final da década de 60, as Profa. ambientais e evolutivos da Ilha de São Fran­ Anamaria Beck, Gerusa Maria Duarte e Maria cisco do Sul e arredores. Sambaquis de José Reis elaboraram pesquisas no Sambaqui Joinville são incluídos sob uma perspectiva Morro do Ouro (Beck et al. 1969). geoevolutiva. O Sambaqui Morro do Ouro foi novamente A Figura 2 apresenta a distribuição escavado em 1979 pelos Profs. Marilandi espacial dos 42 sambaquis mapeados por Goulart, Margarida Andreatta, Afonso Imhof e Oliveira (2000) na planície costeira de Joinville. Guilherme Naue, no Projeto “Tecnologia e Quase 60% dos sambaquis possuem altura Padrões de Subsistência de Grupos Pescado- igual ou inferior a 4m (Tabela 1) e mais de 70% res-Coletores Pré-Históricos”, com financia­ possuem volume igual ou inferior a 7.992,80m3 mento da Prefeitura Municipal, que na época (Tabela 2). construía a Ponte de Trabalhador (Goulart Quanto à composição malacológica dos 1980). sítios, verificou-se que Anomalocardia De 1980 a 1989, o próprio MASJ, então por brasiliana não foi identificada tão somente na iniciativa de seu diretor, Arqueólogo Afonso amostra coletada no Sambaqui Ponta das Imhof, desenvolveu o Projeto “A Pré-História Palmas, enquanto Crassostrea rhizophorae de Joinville: Coletores e Pescadores” (inédito), esteve ausente somente nas amostras coleta­ com escavações no Sambaqui Ilha dos Espi- " das nos sambaquis Espinheiros II, Morro do nheiros II e Guanabara I (Alves 1997). Amaral III e Morro do Amaral IV. A distribui­ O DNPM publicou em 1988 o mapa ção espacial das espécies predominantes Geológico do Quaternário Costeiro dos indicou que cerca de 64% dos sambaquis Estados do Paraná e Santa Catarina, realizados apresentam amostras principalmente constituí­ pelos Prof. Louis Martin, Kenitiro Suguio, das por Anomalocardia brasiliana, enquanto Jean-Marie Flexor e Antonio E.G. de Azevedo. que cerca de 34% apresentam amostras com Na metodologia desenvolvida pelos autores, predominância de Crassostrea rhizophorae. os sambaquis possuem importância como Cerâmica foi observada ou é citada em indicadores das oscilações do NRM, sendo bibliografia nos sambaquis Rio Sambaqui, que 18 sambaquis de Joinville foram por eles Cubatão I, Cubatãozinho, Ilha do Gado II, Ilha estudados sob a perspectiva geológica dos Espinheiros III, Lagoa do Saguaçu, Ilha do (Martin et al. 1988). Mel II e Rio Velho II. Esculturas (’’zoólitos”) Entre 1991 e 1992, a Fundação Cultural de são citadas em bibliografia para os sambaquis Joinville financiou o Projeto “Pesquisa de Cubatãozinho, Rio Comprido, Rio Velho I e Salvamento no Sambaqui Espinheiros II”, Morro do Ouro. No Sambaqui Espinheiros II, coordenados pelos Profs. Marisa Coutinho há registro de fibras vegetais trançadas que Afonso, Paulo De Blasis e Levy Figuti, tendo também foram observadas no Sambaqui subsidiado várias publicações (Afonso & De Cubatão I. Este último ainda apresenta “esta­ Blasis 1994, Afonso 1999, Figuti 1993, Figuti & cas” de madeira ao longo do perfil do sítio e ao Klõkler 1996). longo da margem do rio, paralelo ao sítio. Em 1994, o MASJ em parceria com o Para a compreensão da inserção fisio- Instituto de Pesquisa e Planejamento de gráfica dos sambaquis, a planície costeira de Joinville - IPPUJ promoveu o recadastramento Joinville foi classificada por Oliveira (2000) e divulgação das informações sobre os sítios como costa sedimentar do tipo estuarina. arqueológicos aos órgãos de gestão pública Identificaramu-se nove unidades geológicas

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______LJ------1______Jã - . " ^ T ______Figura 2 - Distribuição espacial dos sambaquis na planície costeira de Joinville (adaptado de Oliveira, 2000)

1 - Rio Pirabeiraba 15 - Rua Guaíra 29 - Ipiranga 2 - Rio Bucuriúma 16 - Ilha do Gado I 30 - Morro do Amaral IV 3 - Rio Ferreira 17 - Ilha do Gado III 31 - Lagoa do Saguaçu 4 - Rio das Ostras 18 - Ilha do Gado II 32 - Morro do Amaral I NM 5 - Rio Sambaqui 19 - Ilha do Gado IV 33 - Rio Velho I * 6 - Tiburtius 20 - Ilha dos Espinheiros III 34 - Morro do Amaral II 7 - Rio Fagundes 21 - Rio Comprido 35 - Ilha do Mel II 8 - Ribeirão do Cubatão 22 - Ilha dos Espinheiros IV 36 - Morro do Ouro 9 - Ponta das Palmas 23 - Espinheiros II 37 - Ilha do Mel III 10-Cubatão II 24 - Gravata 38 - Rio Velho II 1 1 -C ubatão I 25 - Ilha dos Espinheiros I 39 - Ilha do Mel I 1 2 -C ubatão III 26 - Ilha dos Espinheiros II 40 - Guanabara II 1 3 -C ubatão IV 27 - Morro do Amaral III 41 - Rio Riacho 01234 5 km 14 - Cubatãozinho 28 - Fazendinha 42 - Guanabara I esodagranca-piqeçaouTM

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TABELA 1 depósitos paludiais estuarinos holocê­ Freqüência da altura dos 42 sambaquis em Joinville nicos e depósitos eólicos do Holoceno Ponto Freqüência Freqüência e do Pleistoceno. Altura (m) médio absoluta relativa Depósitos paleoestuarinos foram identificados em altitudes inferiores a 1,00 1—1 4,00 2,50 24 57,14 2,5m com maior concentração na região 4,00 —1 7,00 5,50 5 11,90 ao sul do rio Cubatãozinho e ao norte 7,00 —1 10,00 8,50 8 19,05 do rio Comprido, constatando-se 10,00 —1 13,00 11,50 1 2,38 recorrente presença de bancos conchí­ 13,00 —1 16,00 14,50 1 2,38 feros naturais. 16,00 —1 19,00 17,50 3 7,14 Os depósitos eólicos apresentam-se na forma de cobertura pouco espessa Fonte: Oliveira (2000). principalmente no conjunto de ilhas da porção sudeste da área de estudo, em ______TABELA2______sua maioria recobrindo depósitos Freqüência da dimensão volumétrica (MDS) dos 42 sambaquis em Joinville paleoestuarinos. Dois corpos sedimen­ tares na Ilha dos Espinheiros e outra , r , 3 Ponto Freqüência Freqüência o ume (m ) médio absoluta relativa área contínua na Ilha do Mel foram classificados como depósitos eólicos < 1.100,00 10 23,81 pleistocênicos. 1.100,00 1—1 7.992,80 4.546,40 20 47,63 Quanto ao substrato geológico dos 7.992,80 —1 14.885,60 11.439,20 2 4,76 sambaquis, 14% dos sítios foram 14.885,60 —1 21.778,40 18.332,00 3 7,14 edificados sobre o embasamento 21.778,40 —1 28.671,20 25.224,80 3 7,14 cristalino, 12% sobre depósitos flúvio- 28.671,20 —1 35.564,99 32.118,10 1 2,38 lagunares, 34% sobre depósitos de > 35.564,99 3 7,14 leques aluviais e 40% dos sambaquis de Joinville foram construídos sobre Fonte: Oliveira (2000). depósitos eólicos, sendo que nestes Obs.: MDS - Maior dimensão observável em superfície. últimos há recorrente associação com depósitos paleoestuarinos. (Quadro 1) subdivididas em três grupos principais, sendo o primeiro constituído pelo Considerações evolutivas sobre o Embasamento Cristalino Pré-Camhriano e Quaternário Tardio na área de estudo elúvios associados, praticamente representado por associações litológicas (gnaisse granu- lítico e gnaisse bandado) do Complexo Granu- Após a Transgressão Cananéia que teria lítico. Verificou-se um sistema principal de alcançado o máximo de 8±2m há 120.000 anos falhas e fraturas com orientação preferencial AP, ocorreu uma fase regressiva marinha até N20-30W, influenciando a rede de drenagem. 17.500 anos AP (quando o nível relativo do No Sistema Deposicional Continental mar - NRM encontrar-se-ia 120-130m abaixo do identificaram-se depósitos coluviais, de leques atual, segundo Corrêa et al. 1996) resultante aluviais e fluviais, atribuindo-se estes últimos da última glaciação. A emersão da área de ao Holoceno e os demais ao Quaternário estudo deu-se a partir de uma sucessão de Indiferenciado. Destacam-se os depósitos de depósitos marinhos praiais recobertos por leques aluviais que ocorrem ao longo de toda depósitos eólicos que mesmo bastante a área de estudo, constituindo-se na principal dissecados pela rede de drenagem, provavel­ cobertura sedimentar ao norte do rio Cubatão. mente não permitiu a individualização de No Sistema Deposicional Transieional identifi­ corpos lagunares de grandes dimensões. caram-se depósitos flúvio-lagunares holocêni- Remanescentes desta regressão foram cos (restritos à desembocadura do rio Cuba­ mapeados como depósitos eólicos pleisto­ tão), depósitos paleoestuarinos holocênicos, cênicos na Ilha do Mel e na Ilha dos Espinhei-

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______QUADRO 1______Coluna Estratigráfica Simplificada Era Período/ Época Unidade Geológica Caracterização Lito-Sedimentológica Depósito paludial Lamas ricas em matéria orgânica. Correspondem, de maneira geral, estuarino às áreas ocupadas pelos manguezais. Areias finas, bem selecionadas, de coloração esbranquiçada. Ocorrem Depósito eólico na forma de lençóis de reduzida espessura, recobrindo principalmente depósitos paleoestuarinos. Sedimentos síltico-arenosos, pobremente selecionados, normalmente D epósito apresentando matéria orgânica. Apresentam-se na forma de terraços flúvio-lagunar com altitudes normalmente inferiores a 3m. H oloceno Q Areias e sedimentos síltico-argilosos, com cores tendendo ao c U D epósito cinzento-amarelado. Ampla ocorrência de bancos conchíferos E A paleoestuarino naturais. Observam-se recorrentes afloramentos de depósitos paleoestuarinos e bancos conchíferos naturais sotopostos por outras N T unidades geológicas superficiais. O E Sedimentos variando de argila à cascalhos, predominando lamas. z R Depósito fluvial Areias finas soltas ou semi-consolidadas (eventualmente formando ó N Pleistoceno piçarras), de coloração bruno-amarelada, normalmente apresentando Depósito eólico I Á Superior minerais pesados. Afloramento na forma de terraços, com altitudes c R normalmente superiores a 4,5m. AI Quaternário Depósito Areias e lamas resultantes de ação de processos gravitacionais de encosta O Indiferenciado de leque aluvial e retrabalhamento fluvial. Os leques apresentam-se coalescidos. Depósitos incoerentes (normalmente síltico-argilosos) que sofreram Depósito coluvial deslocamento na vertente por efeito da gravidade. Inclui eventuais depósitos de tálus. Gnaisse granulítico com intercalações de rocha meta-ultramáfica e Embasamento anfibolito; PRÉ-CENOZÓICA cristalino Gnaisse bandado com intercalações de quartzitos, formação ferrífera, rocha meta-ultramáfica e anfibolito; Diques de diabásio.

Fonte: Oliveira (2000).

ros. A datação (TL) de 20.950 ± 2.000 anos AP de 10.200 ±100 anos AP, a partir de fragmentos para o depósito da Ilha dos Espinheiros é de madeira imersos em lentes de cascalho e significativa na medida em que confirma o areia (camada 2), pouco abaixo de inconformi-. caráter remanescente daqueles sedimentos, dade erosiva que separava uma seqüência retrabalhados, em fase terminal de um longo inferior rudácea-arenácea (camada 3) de uma período de clima mais seco e de denudação superior constituída por camadas síltico- intensa. argilosas (camada 1). Bigarella et al. (1975) A partir de 17.500 anos AP, a elevação do consideraram que aquela madeira representaria NRM variou a taxas de 0,6 a 2,0cm/ano, a idade de transição entre o regime de drena­ influenciado por alterações abruptas de gem semi-árido e o úmido, e que a parte temperatura, principalmente entre 13.000 e superior da camada 3 corresponderia ao limite 10.000 anos AP, período conhecido como entre o Pleistoceno e o Holoceno. Última Deglaciação e que poderia demarcar a De maneira geral, esta transição entre as transição do Pleistoceno para o Holoceno épocas do Quaternário foi marcada por um (Ab’Saber 1980, Roberts 1998, Suguio 1999). evento paleoclimático denominado de Ótimo Aproximadamente 20 km ao norte do Climático (Idade Hipsitérmica), quando a centro de Joinville (fora da área de estudo), temperatura média no planeta teria sido de 1 a Bigarella (1971) descreveu um terraço no rio 2 °C superior a atual, e que Suguio et al. (1985) Pirabeiraba, onde obteve a idade radiométrica e Suguio (1999) associam à glacioeustasia cujo

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principal efeito na maior parte do litoral distais dos depósitos de leques aluviais brasileiro teria sido uma elevação do NRM com (incluindo depósitos fluviais dos cursos ápice há aproximadamente 5.100 anos AP. inferiores das bacias dos rios Cubatão, Para Bigarella (1954), a construção dos Cachoeira, Pirabeiraba e Canela), encontravam- sambaquis está estreitamente ligada à fase final se submersos. A Figura 3 constitui uma da máxima transgressão holocênica, já que tentativa de representar esta espacialidade. grandes áreas foram inundadas permanecendo, Deve-se salientar que aproximadamente há contudo, uma condição batimétrica favorável ao 500m ao sul do Sambaqui Rio Riacho fotointer- desenvolvimento da população malacológica pretou-se uma sucessão de tênues alinhamen­ nos extensos baixios em formação. Ab’ Saber tos W-E. Embora o reconhecimento em campo (1980) afirmou que o “páleo-índio terminar do seja dificultado pelo uso atual do solo (reflo- litoral paulista já estava “associado a uma restamento por pinus), tais feições são passí­ geografia costeira em que havia restingas e veis de corresponderem a cristas praiais campos de dunas, muitas barras livres e muitas indicativas das prováveis linhas costeiras da águas livres marinhas, mas não existia man­ paleobaía em sucessão regressiva a partir do gue zal”. Mais tarde, (Ab’Saber 1984) refere-se a máximo pós-glacial. esta paisagem “como reflexos da Transgressão Considerando-se unicamente a altitude da Flandriana e ou uma pequena fase de regres­ base dos sítios (excluindo-se a possibilidade são pós-Flandriana". de movimentos verticais crustais neotectô- Segundo a curva proposta para o litoral nicos), é possível afirmar que há 5.100 anos catarinense por Martin et al. (1988), o NRM AP todos os sambaquis mapeados na área de ultrapassou o nível atual pela primeira vez no estudo que eventualmente existissem, cuja Holoceno há cerca de 6.500 anos AP, elevan- base se assentasse em altitudes inferiores a do-se até o máximo pós-glacial de 3,5m (há 3,5m, teriam sido afogados total ou parcialmen­ 5.100 anos AP). Este máximo da Transgressão te, implicando provável abandono temporário Santos (anteriormente denominada Transgres­ ou definitivo dos sítios (Figura 4). são Flandriana) invadiu o Canal do Palmital, Na planície costeira de Joinville, 6 samba­ que ainda mantém herança paisagística na quis (Rio das Ostras, Tiburtius, Ponta das forma de ria. Palmas, Rua Guaira, Lagoa do Saguaçu e Ainda sobre o Canal do Palmital, mencio- Morro do Ouro) edificados sobre embasa­ na-se a possibilidade apresentada por Angulo mento cristalino poderiam, em tese, ter sido (1992) de que ainda no Quaternário este braço iniciados antes de 5.100 anos AP sem terem norte da Baía da Babitonga fosse o curso sido posteriormente submetidos aos efeitos médio/inferior do rio São João (PR). Com erosivos da transgressão marinha pós-glacial. orientação inicial NW-SE na Serra do Mar, o Além destes seis sítios, somente dois outros rio São João executa uma radical mudança de (Ribeirão do Cubatão e Guanabara I) tiveram quase 90° (SW-NE) para desaguar no litoral seus substratos atribuídos a altitudes superio­ paranaense, na Baía de Guaratuba. Para res a 3,5m e somente três sítios (Ilha dos Angulo (1992) o desvio do curso original do Espinheiros II e Ilha do Mel I e III) apresentam rio São João pode ter sido ocasionado por altitudes com possível implantação sob condi­ sobreposição dos depósitos de encostas da ções especiais anteriores há 5.100 anos AP. Serra do Quiriri, que interromperam sua Tais avaliações não significam necessaria­ possível drenagem para a Baía da Babitonga. mente que os sítios citados sejam contemporâ­ Quanto ao máximo da Transgressão neos ou constituam-se nos mais antigos de Santos em Joinville, é possível ainda inferir Joinville, já que poderiam também ter sido submersão e retrabalhamento da maior parte edificados em outros momentos após o máximo dos depósitos pleistocênicos então remanes­ transgressivo pós-glacial (desde que as centes da fase regressiva anterior. As áreas condições ambientais permitissem acesso a hoje ocupadas por depósitos paludiais fontes de subsistência e de material construti­ estuarinos, eólicos holocênicos, paleoes- vo), então em fase de emersão da planície tuarinos, flúvio-lagunares e as partes mais como conseqüência da regressão marinha.

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Figura 3 - Configuração espacial hipotética da paleobaía da Babitonga na planície costeira de Joinville, em época próxima ao NRM máximo pós-glacial (aproximadamente há 5.100 anos AP).

Esta fase seguinte é descrita por Suguio et 4.000 - 3.800 e entre 3.000 - 2.700 anos AP. al. (1985), Martin et al. (1988) e Hom Filho Para Angulo & Lessa (1997) e Lessa et al. (1997) a partir de uma descida do NRM com (2000) o declínio do NRM a partir do máximo duas oscilações secundárias de alta freqüência pós-glacial deu-se de maneira suave e gradual, (Martin et al. 1999) aproximadamente entre sem tais oscilações de alta freqüência.

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Esta fase regressiva é a responsável mentar na região de desembocadura do rio principal pela formação das atuais feições Cubatão. geomorfológicas da planície costeira de O meandramento do rio Cubatão acen­ Joinville. A descida do NRM deve ter se tuou-se e seus sedimentos e migração lateral processado a partir de um eixo geral NE-SW, ampliaram sua área de desembocadura, sendo como sugere o alinhamento aparente da maior os atuais depósitos flúvio-lagunares herança parte dos depósitos paleoestuarinos na deste processo. Em algumas áreas foi também porção centro-sul da área de estudo. O possível identificar depósitos paleoestuarinos promontório e península da região da Vila da (e bancos conchíferos naturais em áreas mais Glória (município de São Francisco do Sul) restritas, observáveis atualmente em situação certamente influenciaram o transporte sedi­ de baixa-mar) sotopostos por depósitos

64 OLIVEIRA, M.S.C.; HORN FILHO, N.O. De Guaratuba a Babitonga: uma contribuição geológico-evolutiva ao estudo da espacialidade dos sambaquianos no litoral norte catarinense. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 11: 55-75, 2001.

fluviais e flúvio-lagunares, representando a Nas ilhas principais da planície costeira progressiva dissecação dos depósitos sedi- de Joinville a indisponibilidade de testemunhos mentares da paleobaia pela ação fluvial. de sondagem dificulta perspectivas paleogeo- O perfil topogeológico na Figura 5 apre­ gráficas em detalhe. Com base na descrição dos senta simplificadamente uma associação afloramentos analisados (com recorrente vertical entre os sambaquis Ribeirão do observação de depósitos paleoestuarinos Cubatão, Cubatão I e Cubatão III, e as unida­ sotopostos por areias sedimentologicamente des geológicas existentes nesta área. associadas ao ambiente eólico, em grande parte Mesmo não havendo datações absolutas, da porção centro-sul e sul da área de estudo e chama a atenção uma possível co-visibilidade onde não foram constatados depósitos mari­ entre os sítios, condição esta importante para nhos praiais típicos), tentativamente vislumbra­ as relações sociais daquelas populações pré- se que os depósitos identificados estejam coloniais, caso os três sítios arqueológicos relacionados em sua geogênese ao modelo estivessem sendo ocupados simultaneamente. barreira de estuário / bacia lamosa proposto por O isolamento espacial (Oliveira 1996b), altura Woodroffe (1992). (18m) e altitude do Sambaqui Ribeirão do No litoral paranaense, Angulo (1992) Cubatão parecem remetê-lo ao conceito de propôs que a maior parte dos depósitos landmark apresentado por Gaspar & De Blasis sedimentares das ilhas da Cotinga e Rasa da (1992), Fish et al. (1997), entre outros. Cotinga (interior da Baía de Paranaguá) é Na porção central da área de estudo, o conseqüência da descida do NRM quando período regressivo no Holoceno Médio “extensas áreas de fundos rasos transforma­ (caracterizado por uma grande variabilidade do ram-se progressivamente em planícies de clima e pela ocorrência de climas geralmente maré e áreas emersas”. Tal mecanismo pode mais secos que o atual, relacionados a uma ser também concebido para parte do substrato ainda fraca insolação do verão no hemisfério das ilhas do Gado e dos Espinheiros, e mesmo sul, segundo Turq et al. 1999) da mesma para o Morro do Amaral e Ilha do Mel. Consi­ maneira permitiu uma intensificação nos derando a herança da área de estudo como processos de denudação com avanço dos interior de estuário onde o afogamento de leques aluviais sobre as margens paleoes- vales fluviais foi processo importante no tuarinas então em recuo. desenvolvimento das morfologias ao longo do

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tempo, não se descarta que estes “fundos associados, sugerem uma “paleo-ilha” de rasos” tenham deltas em sua origem, comuns sedimentos continentais ou fluviais onde em estuário de micro e mesmo de meso marés inclusive poderiam ter sido edificados os (Petchik 1984). sambaquis Espinheiros I e II (Piazza 1966), Em uma primeira aproximação, é possível posteriormente dissecada por depósitos conceber nesta fase de regressão marinha do paludiais estuarinos holocênicos, a exemplo Holoceno Médio/Superior, a emersão gradual do que ocorre na região do Palmital. de tais ilhas pela descida do NRM em proces­ A construção de sambaquis nesta fase so de sedimentação acelerado pela influência estaria favorecida, embora haja dificuldade em do embasamento cristalino, o qual funcionava especificar tal momento já que o mapeamento como armadilha para os sedimentos elásticos do substrato dos sítios não incluiu técnicas terrígenos alimentados pelo sistema de adequadas para excluir a possibilidade de que drenagem Velho/Cachoeira/Comprido/Iririú, e nesta área os sambaquis tivessem sido os provindos por ação eólica dos depósitos construídos diretamente sobre depósitos pleistocênicos remanescentes das ilhas dos paleoestuarinos. Parece recorrente, no entan­ Espinheiros e do Mel, os quais não foram to, que a base inicial tenha se processado sob afogados pelo último máximo pós-glacial há depósitos eólicos mais interiorizados e tendo 5.100 anos AP, embora submetidos a intensos havido posterior avanço dos sítios em direção processos erosivos. aos depósitos paleoestuarinos herdados da Neste sentido, menciona-se o modelo paleobaía. evolutivo regional proposto por Horn Filho A distribuição dos sítios nestas áreas de (1997), uma vez que mesmo havendo alteração maior influência marinha remete à concepção na litologia e cronologia dos depósitos das de Bigarella (1954) sobre a evolução da ilhas de Joinville em relação aos mapeamentos paisagem e a situação dos sambaquis sobre os anteriores, a paleogeografia ora proposta bancos de sedimentos. Estes sambaquis confirma a ausência de retrobarreira lagunar de edificados sobre depósitos eólicos possuem idade pleistocênica na área de estudo. como principal característica paleogeográfica A granulometria dos depósitos mapeados uma espacialidade controlada pela morfologia nas ilhas indica retrabalhamento eólico dos dos depósitos em relação aos paleoníveis da sedimentos disponibilizados pelo sistema preamar e da baixa-mar, onde há época prolife­ regressivo (em cujas fontes devem ser incluí­ ravam bancos de moluscos. A configuração dos os terraços pleistocênicos ao sul da área atual da distribuição dos sítios no limite entre de estudo, no município de ). Nesta depósitos eólicos e depósitos paludiais condição de progradação da planície, barras, estuarinos, à época de edificação inicial dos tômbolos e esporões orientados pela deriva sítios representaria (grosso modo) o limite (possivelmente de sul para norte) devem ter entre os terraços arenosos e prováveis dunas permitido ligações físicas (efêmeras ou não) incipientes com bancos areno-argilosos e entre as ilhas. baixios síltico-argilosos da zona inter-marés da As atuais “lagoas” do Saguaçu e do paleobaía. Varador poderiam funcionar como estuários A altitude (3,5m) da provável base inicial “cegos”, similarmente ao que ocorre com a sobre a qual teria sido construído o Sambaqui Lagoinha do Leste, na Ilha de Santa Catarina Ilha dos Espinheiros II (próxima a depósitos (Horn Filho et al. 1999). Entre estas ilhas e o pleistocênicos), bem como a datação mais “continente” joinvilense, em pelo menos duas antiga disponível para o sítio (3.015+130 anos áreas possíveis conexões estariam favoreci­ AP), sugerem que o mesmo represente a fase das: a principal delas na região dos morrotes e inicial de ocupação da Ilha dos Espinheiros, leques aluviais associados ao sistema de embora por critérios exclusivamente topográfi­ drenagem Santinho/Velho (ao sul da Lagoa do cos todos os sambaquis da ilha teriam condi­ Saguaçu), e uma possível ligação na região ções de serem construídos a partir de 3.600 dos Espinheiros, onde a presença de aflora­ anos AP, quando o NRM permitiria que suas mentos do embasamento cristalino e depósitos bases inferidas pudessem estar emersas.

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Na região do Morro do Amaral, à época de Supõe-se que a continuidade da regressão edificação inicial dos sambaquis Morro do marinha e ativação da sedimentação fluvial Amaral I e II e do Sambaqui Rio Riacho, teria gradualmente permitiram o desenvolvimento de havido condições para a existência de um manguezais sobre os bancos e baixios, estimu­ paleocanal entre a Lagoa do Saguaçu e o canal lando os sambaquianos à conquista de novos do Ipiranga (onde atualmente observa-se o Rio territórios menos paludosos, então em emersão Riacho e manguezais associados), significando na porção centro e sul da área de estudo. uma hidrodinâmica favorável a uma ligação por Como tratado anteriormente, Angulo depósitos arenosos menos efêmeros entre a (1992) concluiu que durante o máximo da Ilha do Mel e o Morro do Amaral, em situação Transgressão Santos, a paleobaía de Guara­ de inexistência ou insipiência do Canal do tuba avançava no vale do rio São João, Ipiranga. Esta deposição arenosa provavel­ formando junto com o rio Cubatãozinho (PR) mente teria geogênese relacionada a remanes­ um eixo transversal à atual Baía de Guaratuba. centes dos terraços pleistocênicos, hoje Martin et al. (1988) identificaram extensos inexistentes nas áreas circunvizinhas ao Canal depósitos de sedimentos holocênicos poden­ do Ipiranga na área de estudo. do conter conchas de moluscos ao longo do A partir de 2.500 anos AP, Hom Filho (1997) curso inferior do rio São João. Reitera-se atribuiu o início da deposição intensa de também a alteração radical do curso do rio São sedimentos paludiais em ambientes de baixa João a partir de um “cotovelo de falha” energia que permitiram a formação de mangue­ (Bigarella et al. 1961), sendo que Angulo zais. A individualização das ilhas do Gado e dos (1992) não descartou a possibilidade de que o Espinheiros e das ilhotas do Canal do Palmital referido rio drenasse para a paleobaía da está relacionada a esta última fase regressiva, Babitonga através do que hoje corresponde ao também caracterizada pela ampliação da disse­ Canal do Palmital. cação da rede fluvial sobre os depósitos Hom Filho (1997) cartografou amplo paleoestuarinos e flúvio-lagunares como é afogamento do Canal do Palmital durante o observado nos rios Iririú-Guaçu e Cubatão- máximo holocênico, evidenciando depósitos zinho, respectivamente, além da esculturação estuarinos (correspondentes a depósitos das planícies de maré pelos canais de maré paleoestuarinos) atualmente existentes como existentes ao longo da área de estudo. resultado da regressão pós-glacial, na maior parte da margem esquerda do Canal do Palmital. A região entre o rio São João (PR) e o A paisagem como herança: Canal do Palmital (SC) teria, portanto, condi­ Eixo São João / Palmital ções de oferecer em época holocênica caracte­ rísticas fisiográficas favoráveis ao desloca­ As considerações preliminares efetuadas mento de populações sambaquianas entre as sobre alguns aspectos da evolução geológica e baías de Guaratuba e Babitonga, justificando paleogeográfica da planície costeira de Joinville as possibilidades anteriormente levantadas indicam que o sentido geral de regressão sobre o Canal do Palmital como área emissora marinha após o máximo pós-glacial teria se inicial para a expansão da produção do territó­ processado preferencialmente a partir de um eixo rio “joinvilense” pelo Homem do Sambaqui. principal geral N-S/O-E, e na porção sul da área Neves (1988) e Neves & Blum (1998) de estudo uma tendência S-N/O-E (Figura 6). concluíram que os sambaquianos do Paraná e Sobressai nesta tendência a possibilidade os do norte de Santa Catarina formariam um de que o desenvolvimento das planícies de “bolsão” biológico, ou seja, haveria uma marés com seus extensos bancos arenosos e homogeneidade genética entre aquelas socieda­ síltico-argilosos propensos ao desenvolvimen­ des, justificando tal similaridade por uma to de bancos de moluscos tenha da mesma “lógica geográfica'” diante da contigüidade forma se processado, sugerindo áreas prefe­ espacial das planícies costeiras “que realmente renciais para ocupação antrópica no mesmo poderia ter facilitado a troca gênica entre os sentido. grupos humanos” (Neves & Blum op. cit.).

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Figura 6 - Direção hipotética regressiva preferencial da linha de costa após o máximo transgressivo pós-glacial na planície costeira de Joinville (Oliveira 2000).

A Figura 7 apresenta esta rota “facilitado- Oceano Atlântico, sendo que o vale do rio Saí­ ra de troca gênica”, denominada aqui de Eixo Guaçu (embora com alteração de curso médio e São João / Palmital, o qual é sugerido comple- inferior durante o Holoceno), poderia ter mentarmente à mais óbvia rota ao longo do servido de elo entre os dois eixos principais.

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Figura 7 - Mapa geológico simplificado da planície costeira entre a Baía de Guaratuba (PR) e o norte da Baía da Babitonga (SC), com ênfase a uma possível rota (Eixo São João / Palmital) para deslocamento de populações sambaquianas entre estes dois complexos estuarinos do litoral sul-brasileiro. O percurso “foz do rio São João (PR), , foz do rio Cubatão (SC)”, é inferior a 40km. Figura produzida a partir da sobreposição dos mapas em escala 1:200.000 produzidos por Martin et. al. (7988) e informações de ROHR (1984), os quais subsidiaram a indicação dos sambaquis, com exceção àqueles em território joinvilense.

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No que se refere à cronologia de desloca­ duras. No posterior período regressivo, o rio mento, fundamental informação para o eixo Saí-Mirim teve sua desembocadura progressi­ proposto são as datações efetuadas por vamente deslocada para norte, até atingir sua Martin et al. (1988) para o Sambaqui Saí-Guaçu posição atual. (n.° 1) que em coleta de superfície apresentou Por outro lado, como segunda rota 5.040+210 anos AP e, principalmente, o possível para a ocupação inicial da Ilha de São Sambaqui Palmital (n.° 2, no mapeamento dos Francisco do Sul, o intervalo de tempo entre as referidos autores), cuja amostra da base foi datações dos sambaquis Palmital, Rio Pinhei­ datada em 5.420+230 anos AP, este último ros/8 e Forte Marechal Luz (superior a 1.000 correspondendo ao registro mais antigo até anos), permite também supor que a migração agora disponível para todo o litoral catari­ poderia ter sido iniciada a partir da planície nense. costeira de Joinville, servindo-se então de Na Figura 8 são indicadas as datações eventual estreitamento no paleocanal do disponíveis para o litoral norte catarinense. Linguado. Estas poucas datações sugerem tendência de Considerações finais ocupação norte-sul. As datações referentes Não obstante estar limitada pela escassez aos sambaquis Forte Marechal Luz, 59, de datações absolutas ou análises geológicas Conquista/B e Rio Pinheiros/8 permitem em detalhe, a perspectiva evolutiva que se conceber pelo menos duas rotas para ocupa­ apresenta para a planície costeira de Joinville ção inicial da Ilha de São Francisco do Sul. sugere os sambaquianos como uma sociedade A primeira delas corresponderia a um altamente especializada no ambiente do percurso pela faixa litorânea de Itapoá, cujo interior do Complexo Estuarino da Babitonga, limite extremo sul (Figueira do Pontal) é coexistindo com extensos bancos arenosos e separado da região de Capri na Ilha de São baixios síltico-argilosos, que devem ter Francisco do Sul, atualmente, por um canal de orientado as ocupações iniciais dos samba­ profundidades máximas de lOm e extensão quis. Por este prisma, as últimas gerações inferior a 2km (Kinak et al. 1999). sambaquianas possuíam práticas espaciais Aquele canal seria uma limitação fisiográ- diferenciadas de seus antecessores “joinvi- fica teoricamente transponível pelo Homem do lenses”, onde a intensificação dos bosques de Sambaqui. Hom Filho (1997) destacou que manguezais é processo importante a ser desde o Holoceno até hoje, na região norte da considerado. Ilha de São Francisco do Sul, na interface baía/ Finalmente, considera-se oportuno que oceano, tem sido recorrente a formação de seja retomada a pesquisa arqueológica nas esporões arenosos devido à dinâmica das bacias do rio Piraí (afluente do rio Itapocu), correntes de maré e atuação das ondas e dos onde há registros de sítios arqueológicos ventos. Não obstante, deve-se destacar que por aparentemente diferenciados em relação aos volta de 5.000 anos AP, o NRM encontrava-se sambaquis aqui mapeados (ora denominados alto e as características do canal certamente de sambaquis fluviais, ora de jazidas paleoet- estariam modificadas (Hom Filho op. cit.). nográficas; atribuídos aos Tupiguarani ou à Na planície costeira de Itapoá, Souza et al. Tradição Itararé), que potencialmente podem (1999) identificaram que no máximo da trans­ indicar área de transição mais recente entre as gressão holocênica existiam também esporões ocupações planalto/litoral, ou território ou ilhas-barreira ao norte e ao sul de Itapoá e, cronologicamente associado à tendência ao norte, pelo menos três grandes desemboca­ norte-sul mais antiga.

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Datação mais antiga Sambaqui (anos AP) Referência

Saí-Guaçu 5.040+210 Martin et al. (1988) Palmital 5.420+230 Martin et al. (1988) Forte Marechal Luz 4.290+130 Bryan1 apud Bandeira (1997) Rio Comprido 4.815+130 Prous & Piazza (1977) Espinheiros II 2.970+60 Afonso & De Blasis (1994) Ilha dos Espinheiros II 3.015+130 MASJ" Morro do Ouro 4.030+40 MASS Guanabara II 2.350+120 MASS 59 3.850+200 Martin et al. (1988) Linguado/B 2.830 Prous & Piazza (1977) Linguado/A 2.590 Prous & Piazza (1977) Conquista/B 4.070 Prous & Piazza (1977) Rio Pinheiros/8 4.580 Prous & Piazza (1977) Rio Perequê/53 2.760+180 Martin et al. (1988)

1 Bryan, A. L. (1993) The Sambaqui of Forte Marechal Luz, State o f Santa Catarina, Brazilian Studies, pp. 1-114. Center for the Study of the First Americans, Oregon State University. 2 Conforme cópia de resultado de análise radiomètrica elaborada por iniciativa de Afonso Imhof e de Walter Alves Neves.

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OLIVEIRA, M.S.C.; HORN FILHO, N.O. From Guaratuba to Babitonga: a geologic- evolutionary contribution to the study of the spatial distribution of the shell mound builders on the northern coast of Santa Catarina. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 11: 55-75, 2001.

ABSTRACT: The paper presents a geologic-evolutionary approach to the shell mound along the coastal plain of Joinville, whose results indicate a possible route for the displacement of the shell mound builders between the Paraná southern coast and the Santa Catarina northern coast. The paleogeo- graphic model proposed and the absolute dating of the shell mounds curren­ tly available converge on the Palmital Channel as the region where the occupation of Joinville by those fishers-gatherers first started.

UNITERMS: Shell mounds - Joinville coastal plain - Paleogeography - Coastal Quaternary.

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Recebido para publicação em 1 de dezembro de 2000.

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