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O SR. INOCÊNCIO OLIVEIRA (PMDB/PE pronuncia o seguinte discurso.) – Sr. Presidente, Senhoras e Senhores Deputados: Nascido sob inspiração do pioneirismo de Irineu Marinho na alvorada da Revolução Industrial do Brasil em 1925, o jornal O Globo festeja com júbilo os seus 80 anos de existência sob o signo da vanguarda tecnológica, da democracia, da cidadania e do desenvolvimento social. Dos tempos pioneiros de Gutemberg à era da revolução pós-industrial, o legado de Irineu Marinho e de insere-se nos horizontes desta aldeia global eletrônica preconizada pelo comunicólogo canadense Marshall McLuhan na década de 1960. O Globo surgiu como um jornal noticioso, em contraste com o jornalismo partidário e até panfletário que se praticava na época. Esta foi uma antevisão do jornalismo informativo e independente a que se propõem os veículos de comunicação nos tempos atuais. Naquele remoto 19 de julho de 1925, O Globo foi fundado pelo jornalista Irineu Marinho e estreou nas bancas com duas edições diárias, uma matutina e outra vespertina, e uma tiragem de 33.435 exemplares. Assim estava lançada a semente do que viria a ser o maior império de comunicações da América Latina e hoje congrega diversas empresas em torno das Organizações Globo. Por uma fatalidade, o jornalista Irineu Marinho faleceu vinte e um dias depois de ter fundado o jornal. Apesar da sugestão de sua mãe, D. Francisca Pisani Marinho, para que assumisse a direção do jornal, preferiu confiá-la a um colaborador do pai, o jornalista Euricles de Matos. Aos 21 anos, havia estudado na Escola 2

Profissional Sousa Aguiar e nos Colégios Anglo-Brasileiro, Paulo Freitas e Aldridge, onde fizera o curso de humanidades, equivalente ao colegial ou pré-universitário. Então, interrompeu essas atividades escolares para trabalhar com o pai em O Globo. Estava cônscio de suas responsabilidades e da necessidade de adquirir mais experiência profissional. Antes de comandar os destinos de O Globo, atuou nas funções de copidesque, redator-chefe, secretário e diretor. Teve como tesoureiro do jornal o experiente e competente Herbert Moses, futuro presidente da Associação Brasileira de Imprensa (AB). Somente em 1931, com 27 anos, quando Euricles de Matos morreu, assumiu definitivamente a direção do jornal. Costumava dizer que herdou do pai a formação de jornalista. O Globo percorreu a trajetória do chumbo ao silício, das máquinas de linotipo aos chips de computador, das folhas impressas às edições virtuais on line na Internet. Os jornalistas Irineu Marinho e Roberto Marinho e a nova geração dos irmãos , João Roberto Marinho e José Roberto Marinho sempre estiveram na vanguarda do seu tempo ao longo de oito décadas e na perspectiva do futuro. Um dos biógrafos do doutor Roberto Marinho, o jornalista Pedro Bial assinala como marca do fundador Irineu Marinho e do seu filho primogênito “a grande sintonia com o gosto do carioca médio” e por extensão do homem brasileiro. Além de ser um veículo essencialmente noticioso, nas primeiras décadas O Globo dedicou-se à defesa de causas populares e à abertura da economia nacional aos investimentos 3 estrangeiros. Opunha-se, dessa forma, aos discursos demagógicos de falso patriotismo e de xenofobia. Em meio a disputas ideológicas exacerbadas, a defesa de investimentos estrangeiros provocou incompreensões e repercutiu sob a forma de preconceitos doutrinários no correr de décadas. O Brasil assistia ao declínio da Velha República e ao advento da Revolução de 1930 comandada por Getúlio Vargas. O Globo apoiou o Governo provisório instituído pela Revolução dos Tenentes em 1930. Com posição editorial cautelosa, o jornal posicionou-se contrário ao movimento comunista que se propagava no Brasil a partir das décadas de 1920 e 1930 como reflexo da Revolução bolchevique de 1917 na Rússia soviética. Coerente com seu ideário liberal, o doutor Roberto Marinho fez restrições ao golpe do Estado Novo decretado por Getúlio Vargas em 1937. Nessa mesma linha doutrinária é que veio a saudar a chamada Primavera Democrática de 1946, quando o Brasil reconquistou suas liberdades e garantias constitucionais. Na Segunda Guerra Mundial, O Globo posicionou-se firmemente em favor das forças aliadas e contra o eixo nazi- fascista de Hitler e Mussoline responsável pelo holocausto de milhões de criaturas nos campos de concentração e que ameaçava a democracia em todo o mundo. Mesmo sendo o jornal o principal cartão de visita do doutor Roberto Marinho, o crescimento financeiro do grupo acentuou-se a partir dos anos 40 com a publicação de revistas de histórias em quadrinhos, gibis e empreendimentos imobiliários. 4

Em dezembro de 1944, Roberto Marinho comprou a rádio Transmissora, da RCA Victor, e inaugurou a primeira emissora do grupo, a Rádio Globo, que assim veio a ser o embrião do seu império de comunicações. Na década de 1950, O Globo investiu em campanhas populares e mobilizou a opinião pública do , o que resultou em sucesso editorial e crescimento econômico, consolidando a sua marca. A antiga redação da Rua Bethencourt da Silva tornou-se pequena e o jornal transferiu-se para o atual endereço na Cidade Nova. As décadas de 1960 e 1970 trouxeram novos suplementos, diversificação de produtos editorais e lançamento de jornais de bairros. Na apresentação da ampla reforma gráfica de O Globo em 1995, quando o jornal completou 70 anos, o doutor Roberto Marinho definiu a importância do empreendimento: “Hoje vocês estão lendo hoje as primeiras páginas dos 70 anos que virão”. Era sua visão de futuro. Nos anos 90 o jornal lançou os cadernos de Informática Etc. e do Globo On, ingressando na era da Internet. A modernidade sempre foi o lema de Roberto Marinho. Ao falar sobre a prosperidade dos seus negócios, revelou: “Nenhuma empresa prospera sem planejar. Para a empresa jornalística, trabalhar pensando nos dias que virão é também teste de competência em sua área específica. De fato, nós que temos os fatos do presente como matéria-prima, faríamos triste papel se nos revelássemos ineptos na preparação do futuro”. 5

Ao festejar os seus 80 anos, O Globo hoje dispõe do mais moderno parque gráfico da América Latina e excelência em qualidade editorial. Nomes os mais brilhantes do jornalismo e da cultura nacionais marcaram presença nas páginas de O Globo nesse período, a exemplo de Nelson Rodrigues, Oto Lara Resende, Mário Filho, José Lins do Rego, Tiago de Melo e Antônio Maria, nas décadas passadas, enquanto atualmente profissionais os mais qualificados enriquecem suas colunas e editoriais, não sendo necessário citar nomes para não cometer omissões. O Estudo Anual Barômetro de Confiança da Edelman, apresentado no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, revela que O Globo é o jornal de maior credibilidade entre os meios de comunicação brasileiros. Este, certamente, é um dos mais importantes legados de Irineu Marinho e de Roberto Marinho aos que os sucederam.

O jornalista Roberto Marinho já foi descrito como um liberal por temperamento, um democrata por natureza, um empreendedor por vocação. Mas, a modéstia era também uma de suas virtudes e costumava negar metade do poder que lhe atribuíam.

Em memória dos jornalistas Irineu Marinho e Roberto Marinho, na pessoa do presidente das Organizações Globo, Roberto Irineu Marinho, vice-presidentes João Roberto Marinho, José Roberto Marinho e Rogério Marinho, do diretor-executivo de O Globo, 6

Agostinho Vieira, da editora-chefe do Globo On Line, Joyce Jane, dos colaboradores, jornalistas, técnicos e administrativos que fazem o jornal, rendo minhas homenagens aos 80 anos de trabalho profícuo em favor do Brasil e dos brasileiros. Obrigado às senhoras e aos senhores parlamentares!

Sala das Sessões, em 09 de agosto de 2005.

Deputado INOCÊNCIO OLIVEIRA Primeiro Secretário