PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA

JOSÉ MAURICIO DA SILVA

LEVANTAMENTO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO DE NOVA IGUAÇU, JAPERI, , MESQUITA E BELFORD ROXO

VOLUME ÚNICO

RIO DE JANEIRO 2017

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA

JOSÉ MAURICIO DA SILVA

LEVANTAMENTO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO DE NOVA IGUAÇU, JAPERI, QUEIMADOS, MESQUITA E BELFORD ROXO

Orientador: Profª Drª Claudia Rodrigues-Carvalho

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arqueologia do Museu Nacional, Universidade Federal do , como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Arqueologia. Linha de pesquisa: Povoamento do território brasileiro

Rio de Janeiro 2017

CIP - Catalogação na Publicação

S581 l Silva, José Mauricio LEVANTAMENTO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO DE NOVA IGUAÇU, JAPERI, QUEIMADOS, MESQUITA E BELFORD ROXO / José Mauricio Silva. -- Rio de Janeiro, 2017. 182 f.

Orientadora: Claudia Carvalho Rodrigues. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Museu Nacional, Programa de Pós Graduação em Arqueologia, 2017.

1. Patrimônio Cultural Arqueológico. 2. Arqueologia Urbana. 3. Arqueologia da Paisagem. 4.Arqueologia Pública. 5. . I. Rodrigues, Claudia Carvalho , orient. II. Título.

Elaborado pelo Sistema de Geração Automática da UFRJ com os dados fornecidos pelo autor.

JOSÉ MAURICIO DA SILVA LEVANTAMENTO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO DE NOVA IGUAÇU, JAPERI, QUEIMADOS, MESQUITA E BELFORD ROXO

Orientador: Profª Drª Claudia Rodrigues-Carvalho

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arqueologia do Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Arqueologia. Linha de pesquisa: Povoamento do território brasileiro.

Rio de Janeiro, 05/10/2017

Banca Examinadora:

Presidente, Professora Doutora Claudia Carvalho Rodrigues, Museu Nacional/UFRJ Orientadora

Professor, Doutor Ondemar Ferreira Dias Junior - Instituto de Arqueologia Brasileira-IAB

Professor, Doutor Marcos André Torres de Souza - Museu Nacional/UFRJ

AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha mãe e aos meus irmãos, pelo apoio recebido durante à realização desse estudo, sem o qual, certamente as dificuldades teriam sido maiores, especialmente à Maria Inês pelos livros com que fui presenteado e à Sônia Gondim pelos socorros à gramática da língua portuguesa. Agradeço ao meu amigo Levi Corrêa pela disposição em me acompanhar no campo para a localização de sítios arqueológicos. E à minha orientadora pela aceitação como orientando e pela paciência que teve durante a realização desse estudo.

RESUMO

SILVA, José Mauricio da. Levantamento do Patrimônio Arqueológico de Nova Iguaçu, Japeri, Queimados, Mesquita E Belford Roxo. Dissertação (Mestrado em Arqueologia), Programa de Pós-Graduação em Arqueologia, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2017.

O trabalho proposto visa a descrição do processo de ocupação sociocultural na região referenciada pelos Rios Iguaçu, Guandu e Santana e os Maciços do Tinguá e Mendanha, verificar a percepção da sociedade sobre o patrimônio cultural arqueológico, a partir do olhar de um segmento social específico e buscar despertar, na sociedade ou sociedades, que ocupam o território estudado, o interesse pelo seu patrimônio cultural arqueológico, fazendo difundir uma ideia de patrimônio, enquanto matéria-prima da indústria turística, valorizando seu potencial socioeconômico e cultural, numa categoria que ao ser reutilizada, será capaz de promover o desenvolvimento sustentável. Nessa região fisiográfica assentam-se os municípios de Nova Iguaçu e seus dissidentes Japeri, Queimados, Mesquita e Belford Roxo e uma pequena parcela do Município de Miguel Pereira que margeia o Rio Santana, limite histórico da Sesmaria que deu origem ao Município de Japeri. Este conjunto forma um território com divisão político-administrativa específica, cujo processo de ocupação humana estende-se do período pré-colonial aos dias de hoje. Aborda-se o patrimônio arqueológico sob a ótica dos fundamentos teóricos sobre o patrimônio cultural, a arqueologia da paisagem, a arqueologia urbana e a arqueologia pública. O grupo tupiguarani, segundo se conhece hoje, caracteriza as culturas nativas, da região descrita, no período Pré-Colonial, conforme apontam trabalhos de Arqueologia executados na área. O Período Colonial inicia pela entrada do europeu, representado pelos portugueses, através do Rio Iguaçu no recôncavo da Baia de Guanabara. A área, ainda hoje, se molda pela dinâmica do processo de urbanização e metropolização da Região Metropolitana do Rio de Janeiro que cresce e altera a paisagem local. Saber onde estão os sítios arqueológicos, como se encontram e como se deu esse processo de apropriação do meio pelas sociedades que atuaram na região é o principal propósito desse projeto.

Palavras-chaves: Sítio arqueológico, Rio Iguaçu, Rio Santana, Tinguá e Mendanha.

SUMMARY SILVA, José Mauricio da. Levantamento do Patrimônio Arqueológico de Nova Iguaçu, Japeri, Queimados, Mesquita E Belford Roxo. Dissertação (Mestrado em Arqueologia), Programa de Pós-Graduação em Arqueologia, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2017. The proposed work aims to survey the archaeological cultural heritage inserted in the region referenced by the Iguaçu, Guandu and Santana Rivers and the Tinguá and Mendanha Massifs, to verify the society's perception of the archaeological cultural heritage, from the perspective of a specific social segment and to seek to awaken in the society or societies that occupy the studied territory, the interest for its archaeological cultural heritage, spreading an idea of heritage, as a raw material for the tourism industry, valuing its socioeconomic and cultural potential, in a category that, when reused, will be able to promote sustainable development. In this physiographic region, the municipalities of Nova Iguaçu and their dissidents Japeri, Queimados, Mesquita and Belford Roxo are based, and a small part of the Municipality of Miguel Pereira that borders Rio Santana, the historical boundary of Sesmaria that gave origin to the Municipality of Japeri, that Together they form a territory with specific political- administrative division, whose process of human occupation extends from the pre-colonial period to the present day. It addresses the archaeological heritage from the perspective of the theoretical foundations on the theme of cultural heritage, preservation and location (local), whose search was initiated in the CNSA of IPHAN, followed by the bibliographical survey carried out in the public archives. Documentary information on the process of space occupation and field surveys through walking and interviews with residents and farmers. The Tupiguarani group, as it is known today, characterizes the native cultures of the region in comment in the Pre-Colonial period, as they point out works of Archeology executed in the area. The Colonial Period begins with the entry of the European, represented by the Portuguese, through the Iguaçu River in the Guanabara Bay Recôncavo. The Area is still shaped by the dynamics of the process of urbanization and metropolization of the Metropolitan Region of Rio de Janeiro that grows and changes the local landscape. Knowing where the archaeological sites are, how they are and how this process of appropriation of the environment took place by the societies that acted in the region is the main purpose of this projec.

Keywords: Archaeological site, Rio Iguaçu, Rio Santana, Tinguá and Mendanha.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 9 2 A BAIXADA FLUMINENSE, BREVE PANORAMA 13 3 OS MUNICÍPIOS QUE COMPÕEM O ESPAÇO DO ESTUDO 17 3.1 MUNICÍPIO DE JAPERI 17 3.2 MUNICÍPIO QUEIMADOS 28 3.3 MUNICÍPIO DE MESQUITA 30 3.4 MUNICÍPIO DE NOVA IGUAÇU 32 3.5 MUNICÍPIO DE BELFORD ROXO 35 4 MATERIAL E MÉTODOS 36 5 O PROCESSO DE OCUPAÇÃO DO ESPAÇO 45 6 ARQUEOLOGIA URBANA 57 7 O PATRIMÔNIO CULTURAL ARQUEOLÓGICO 66 7.1 ESTADO DA PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICOS 68 8 A ARQUEOLOGIA DA PAISAGEM 100 9 ARQUEOLOGIA PÚBLICA 121 10 CONCLUSÃO 148 11 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 150 ANEXO 1 168 ANEXO 2 186

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1 INTRODUÇÃO

A idéia de levantar o patrimônio arqueológico de Nova Iguaçu e arredores surgiu em 1987 quando foi criado o Núcleo de Estudos Arqueológicos - NEA1 que logo depois foi transformado em Instituto Fluminense de Arqueologia - IFA. Desde cedo percebeu-se a carência de trabalhos voltados ao desvendamento dos períodos pré-colonial e histórico na sociedade local. Embora trabalhos arqueológicos venham sendo executados, não são suficientes para a difusão e proteção do valioso acervo da categoria existente na região. Como primeira proposta prática, foi apresentado, na Associação de Moradores e Amigos de Japeri - AMOR-JAP, em 1988, a ideia de fazer a comemoração de fundação do então, 6º Distrito de Nova Iguaçu: Japeri, como parte de resgate de sua identidade cultural, visto que se buscava à época combater a falta de interesse e desprezo das pessoas pelo seu local de moradia. Sendo a ideia, aceita, partiu-se para a prática de campo, buscando documentos e representantes físicos sobre a origem do Distrito.

1 Em 1987 um grupo de estudantes orientados pelo Professor Agenor Rodrigues Pinheiro Valle, da Faculdade de Arqueologia da Universidade Estácio de Sá, criaram uma equipe interdisciplinar constituída por alunos de Arqueologia, Museologia, Comunicação Social, Economia, Geografia e História para estudar a memória cultural de Nova Iguaçu e defender a regulamentação da profissão de arqueólogo. O grupo nomeou essa equipe de Núcleo de Estudos Arqueológico - NEA.

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Figura 1. O mapa mostra os municípios de Nova Iguaçu, Japeri, Queimados, Belford Roxo e Mesquita no contexto da região Metropolitana e Unidade Federativa do Rio de Janeiro. Fonte: CEPERJ.

Não precisou ir longe para tomar conhecimento da falta de informações sobre a História das localidades. As dificuldades conduziram à criação de um grupo de trabalho - GT, destinado à organização e execução do evento. Foi elaborado um plano de trabalho com atividades específicas para cada participante do GT. Entre tais atividades, o trabalho foi dividido em duas frentes chamadas de: 1) levantamento e análise de documentos - documentação escrita, arquivos de igreja, cartórios, contos e lendas, traços comportamentais que pudessem sobressair demonstrando importância e gerasse a valorização da história local. e; 2) prática - entrevistas com pessoas antigas, sítios arqueológicos, fotografias, objetos que pudessem representar, de alguma maneira, o processo de ocupação do espaço territorial de Japeri. O trabalho deveria ser o primeiro de uma série que adquiriria uma tradição. Foi um sucesso, atraiu a atenção da imprensa local e foi bastante divulgado, mas não teve sequência, uma vez que a maioria dos militantes da associação era vinculada aos partidos de esquerda e tensões político-partidária inviabilizaram a realização de outros eventos. Mas o levantamento ganhou força e fez perceber que várias pessoas, de forma isolada, faziam estudos sem uma sistematização, sobre a história do Município de Nova Iguaçu. Havia um problema sério, caracterizado pelo fato dessas pessoas guardarem para si o conhecimento adquirido com seus estudos e houve muita resistência em relação à

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proposta de disponibilização dos documentos e fontes pesquisadas. A importância estava no fato de serem vistas como os "detentores do conhecimento" e quem quisesse saber alguma coisa teria que ir a eles. Esse era o charme e quebrá-lo foi impossível. Apenas dois, liberaram informações que puderam ajudar no trabalho: Francisco Costa, conhecido como Costinha que veio a ser o primeiro Presidente da Câmara de Vereadores do Município de Japeri, quando o Distrito foi emancipado e pai do primeiro Prefeito e o Professor Afrânio Peixoto, que sempre se dedicou ao estudo da História regional. Outro aspecto observado, prende-se à origem "histórica" dos municípios da Baixada Fluminense de uma maneira geral e, neste caso, especialmente de Nova Iguaçu e seus distritos dissidentes e, começa, a partir do século XVI, quando a estrutura política do território se fazia representar pelo tipo de organização tribal que, se constituía, em muitos gentios distribuídos pelo perímetro delimitador da área em comento. Isso, de uma forma geral, nos reportou a uma pergunta, até hoje, sem resposta: "e os nativos, onde se encontram nesse novo período, caracterizado pela invasão dos europeus e domínio de uma população que vinha numa sequência sociocultural e político-econômica por milhares de anos"? Não havia, até 2009, qualquer disponibilização, ao público em geral, de informações sobre os nativos da região e que tipo de herança se faz presente, hoje, representando nossa descendência na miscigenação desse povo, com o invasor europeu e o africano, introduzido de forma forçada para o serviço escravo. Tampouco, há uma consciência sobre, costumes e práticas, herdadas do africano que foi o grande responsável pela construção da nova paisagem na região. Então, questões de memória, identidade e patrimônio, foram surgindo de formas tímidas, mas que foram aos poucos se estruturando e ganhando foco. O presente trabalho pretende a realização do levantamento do patrimônio arqueológico e descrição do panorama da ocupação sociocultural da região referenciada entre os rios Iguaçu, Guandu e Santana e os maciços do Tinguá e Mendanha. Tratar o patrimônio arqueológico, enquanto um importante acervo "ferramental" capaz de alicerçar as bases socioculturais da sociedade, com forte ênfase no potencial econômico, está entre os propósitos, deste estudo. Ainda é perspectiva dessa pesquisa, verificar a percepção da sociedade regional sobre o acervo arqueológico do território estudado, através do olhar específico de determinados segmentos sociais, como profissionais da educação e da área cultural. Desta forma, buscar despertar, na sociedade ou sociedades que ocupam o território estudado, o interesse pelo seu patrimônio cultural arqueológico, fazendo difundir uma ideia de patrimônio enquanto matéria- prima da indústria turística, valorizando seu potencial socioeconômico e cultural, numa categoria

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que, ao ser reutilizada, será capaz de promover o desenvolvimento sustentável. Nessa linha, provocar o interesse em órgãos governamentais, como prefeitura, autarquias, e também nas empresas privadas, a importância desse acervo dentro das atribuições que lhe compete a lei. Um exemplo que pode ser citado, é o do Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Rio de Janeiro - ITERJ, que ao reestruturar seu Regimento Interno, incluiu o acervo arqueológico como proposta de avaliação nos projetos de sua jurisdição, e neste momento, tudo indica será aprovado.

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2 A BAIXADA FLUMINENSE, BREVE PANORAMA Na perspectiva Geomorfológica, com caráter amplo, a Baixada Fluminense é a faixa de terra, que forma as planícies costeiras, compreendidas por superfícies planas e de baixa altitude que estendem-se desde a linha de costa até as falésias dos Tabuleiros e as encostas da Colinas e Maciços Costeiros, além de acompanharem os vales fluviais que penetram muitos quilômetros para o interior e formam o litoral do Estado do Rio de Janeiro. Na perspectiva Geopolítica e, com caráter estrito, é definida como uma "microrregião" especificada quanto à organização do espaço, com referência à estrutura de produção, agropecuária, parque industrial, extrativismo mineral e pesca, aspectos socioculturais, compreendida por treze municípios, que se tornam distintos e inseridos na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. A Baixada Fluminense era, em grandes trechos de sua parte, emersa e muito pantanosa, antes da vinda do europeu (BELTRÃO, 2014, 2ª ed. p. 182), o que pode ser confirmado pelo Dicionário Geográfico do Brasil em sua 3ª edição em 18942, quando conceitua Belém, atual Município de Japeri, e pela declaração do governador Manuel de Matos Duarte Silva exaltando a região em apreço em 1930 (SILVA, 1930, p. 31). Foi intensamente ocupada pelo grupo tupiguarani, denominados tupinambá, pelos franceses e tamoios, pelos portugueses que, à época da invasão europeia, ocupava do Cabo de São Tomé, no norte do RJ a , passando pelo Vale do Rio Paraíba do Sul, uma das vias de penetração por ele utilizada (BUARQUE, 2000, p. 310). Se a perspectiva de Gaspar (2004, p. 42) para assentamentos de grupos litorâneos puder ser estendida para assentamentos interioranos da região do atual Estado do Rio de Janeiro, especialmente na área estudada, onde predominaram os terrenos alagadiços e pantanosos, seria possível esperar a presença humana em “[...] áreas de inserção ambiental, próximos de enseada, canal, rio, laguna, manguezal e floresta". Dessa forma podemos deduzir que muitos sítios arqueológicos pré-coloniais, poderão ser descobertos, pois além dos rios e florestas que delimitam a ação desta proposta, muitos outros encontram-se no interior do espaço territorial por ele abrangido. A população nativa é, ainda hoje, negada e subestimada nas páginas da História oficial, conforme pode ser observado no artigo do Professor Gênesis Torres3, publicado na Coluna História da Baixada no Portal baixafacil.com.br, onde narra a expulsão dos franceses, a criação da Cidade do Rio de Janeiro em 1565, a distribuição de sesmarias e o consequente aniquilamento dos índios Tupinambá, ficando as terras liberadas à penetração pelos principais rios e livres dos perigos oferecidos pelas

2 Alfredo Moreira Pinto no " Dicionário Geográfico do Brasil", página 243, 3ª edição, 1894, conceitua cinco localidades no Rio de Janeiro com o topônimo Belém. O atual Município de Japeri era uma delas. 3 Gênesis Torres é professor e pesquisador de História, Presidente do Instituto de Pesquisas e Análises Históricas e de Ciências Sociais da Baixada Fluminense, Coordenador do Fórum Cultural da Baixada e foi Subsecretário de Cultura de São João de Meriti.

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comunidades indígenas. Iniciativas provocadas pela Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional nº 11.645 de 10 de março de 2008 começam a forçar mudanças no currículo escolar inserindo os temas indígena e africano nas atividades pedagógicas. Um fato importante, porque a História oficial dos municípios, também não aborda a importância da presença da população negra, cuja chegada na região se deu de forma forçada e criminosa, porém incorporada e ativa na construção das paisagens verificadas ao logo do tempo histórico com uma contribuição que precisa ser exaltada no espaço e evidenciada no patrimônio cultural arqueológico, cuja apropriação do meio, pelos conquistadores, teve início na segunda metade do Século XVI, segundo o professor Afrânio Peixoto4 em, entrevista pessoal (1988). Durante muito tempo, as terras da área proposta para estudo, ficaram abandonadas até que, com seus rios desembocando na Baía de Guanabara, foram aos poucos penetradas pelos colonos. As primeiras sesmarias datam de 1568, como a cedida a Brás Cuba com 3000 braças de testada pela costa do mar e 9000 de fundos, pelo Rio Meriti, passando pela aldeia do índios Jacutinga (PEREIRA, 1997, p. 11). Esse processo desencadeou uma nova estrutura histórica na região, superando um sistema societário tribal e instaurando um sistema socioeconômico adverso do nativo e resultando em alterações na paisagem que mudaram radicalmente a estrutura sociocultural local fazendo surgir povoados, vilas, "estradas e produção voltada ao mercado exportador onde antes havia apenas uma produção voltada à subsistência. A Sesmaria cedida a Inácio Dias Velho, em 1743, tendo o Caminho Novo das Minas como testada, e os rios Santana e Guandu como confrontantes, teve seu perímetro ocupado por uma estrutura rural, hoje expressa nas ruínas de povoados, engenhos, caminhos, e até, foi sugerido a hipótese de um morgado, o Morgado de Belém, que faz parte, inclusive do hino municipal de Japeri e temas de carnaval local. Porém, a existência desse morgado não foi confirmado por este estudo, mas colabora na demonstração de como se deu a formação da História no espaço considerado. A Baixada Fluminense adquiriu nova configuração geopolítica oficial a partir do início da década de 1990, conforme pode ser constatado no Programa de Ação Integrada da Baixada Fluminense – PAI, da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Regional – SEDUR, de maio de 1990. Estendeu o conceito de Baixada Fluminense a, além, dos municípios de Nova Iguaçu, Duque de Caxias, Nilópolis e São João de Meriti, incorporando os que se formaram pelos plebiscitos que emanciparam vários distritos, como Japeri, Queimados, Belford Roxo, Mesquita, , Seropédica e outros municípios da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, como , Itaguaí e .

4 Professor Afrânio Peixoto foi um historiador que empenhou-se no estudo da História de Nova Iguaçu, cabendo-lhe a autoria de " Imagens Iguaçuanas", descrevendo a História de Nova Iguaçu.

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O mapa a seguir, mostra a região de estudo com os municípios de Japeri, Queimados, Nova Iguaçu, Mesquita e Belford Roxo, a serem tratados aqui, que formam um território com área de 796,016 km², ocupado por uma população estimada pelo, IBGE, para 2016 de 1.707,683 habitantes.

Figura 2 – Municípios do estudo e seus confrontantes representados na Região Metropolitana do Rio e Janeiro, conforme Lei Complementar nº 158, de 26 de dezembro de 2013, altera o Artigo 1º da Lei Complementar nº. 87, de 16 de dezembro de 1997, com a nova redação dada pela Lei Complementar nº. 97, de 2 de outubro de 2001, a Lei Complementar nº 105, de 4 de julho de 2002, a Lei Complementar nº 130, de 21 de outubro de 2009, e a Lei Complementar nº 133, de 15 de dezembro de 2009. Fonte: CEPERJ-2014.

A composição da Baixada Fluminense está vinculada à história de ocupação, através da conquista da terra e da evolução social e econômica do chamado Recôncavo da Guanabara, que fez crescer sua população, principalmente após o Estado Novo que promoveu a industrialização do Brasil, cuja consequência na área comentada, foi o fim do Ciclo Econômico da Laranja e a recepção de grandes massas de população pobre provenientes de várias regiões, ocasionando, nestes municípios, um crescimento demográfico acelerado a partir, principalmente, da década de 1950. No entanto, este crescimento se deu sem as necessárias condições de saúde, educação, saneamento, moradia e infraestrutura urbana e com forte dependência do mercado de trabalho concentrado na Cidade do Rio de Janeiro, gerando um movimento pendular diário entre a metrópole e seu entorno, tendo sido, por isto, denominados “municípios dormitórios”. Em 2005, o Governo do Estado do Rio de Janeiro, através da Secretaria de Estado de Desenvolvimento da Baixada e Região Metropolitana - SEDEBREM, considerava como Baixada

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Fluminense os seguintes municípios: Belford Roxo, Duque de Caxias, Guapimirim, Itaguaí, Japeri, Magé, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu, Paracambi, Queimados, São João de Meriti e Seropédica. Tomando como referência a bibliografia levantada durante a execução desse estudo, conclui-se que a ocupação do território no período histórico, formado pelo polígono constituído nos limites referenciados entre os rios Iguaçu, Guandu e Santana e os maciços do Tinguá e Mendanha, deu-se em duas vias principais de acesso, a primeira: a) formada pelo Rio Iguaçu, que alcançou parte de Nova Iguaçu, Mesquita, Belford Roxo e; b) formada pelo Rio Guandu5, tendo como referência de difusão a Fazenda de Santa Cruz, que foi confrontante com os municípios de Nova Iguaçu, Japeri, Mesquita e Queimados.

Figura 3- Mapa de 1892 mostrando a região com micro bacias direcionadas à Baia de Sepetiba (Rio Guandu) e Baia da Guanabara (Rio Iguaçu). Fonte: memória757.bloot.com

5 Isso pode ser observado com mais detalhes na "Planta Corográfica de Huma Parte da Provincia do Rio de Janeiro na qual se inclue a Imperial Fazenda de Santa cruz de 1848".

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3 OS MUNICÍPIOS QUE COMPÕEM O ESPAÇO DO ESTUDO Nesse capítulo apresento as principais características dos municípios inseridos no perímetro do espaço territorial estudado e tem caráter apenas informativo, com exceção de Japeri, em que me aprofundei mais na evolução da história de formação do mesmo, chegando a levantar fontes primárias, confirmadas pelo registro arqueológico que juntos, contrariam a história oficial em muitos aspectos. Talvez o último e único levantamento de dados históricos tenha se dado por determinação do Decreto-Lei 311 de 02 de março de 1938, já citado anteriormente, quando o Estado Novo ordenou o território nacional. Consultar esse material, hoje, é um grande problema, uma vez que a documentação produzida em 1938 e 1939, em conformidade com as normas estabelecidas para o recebimento, aprovação e exposição dos mapas municipais que as prefeituras apresentaram até o dia 31 de dezembro de 1939, conforme Portaria 60, de 22 de junho de 1939 do Conselho Nacional de Geografia, até agora não foi localizado. Isso confirma o descaso com a História local e da História para com o local, uma vez que esses dados são citado pela História, assim como o é o advento da ferrovia, como um fato de importância nacional, mas que em nenhum momento é visto na especificidade localizada em cada unidade política. 3.1 MUNICÍPIO DE JAPERI

Figura 4 - Mapa do Município de Japeri. Fonte: Prefeitura Municipal de Japeri.

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Das tribos Tupiguarani que ocuparam e interagiram com o espaço, até o momento dos primeiros contatos com o invasor europeu, começam a surgir as primeiras evidências arqueológicas com informações que certamente fornecerão, em breve, um novo texto sobre a História local. Após o contato, veio a nova demarcação da terra com a sesmaria, que deu origem ao povoado, evoluído a distrito e, deste, à categoria de Município, o que transcorreram-se, com referência ao ano de 2017, 274 anos de reocupação do espaço territorial que, conforme, vê-se na bibliografia que começa ser resgatada, segue um protocolo observável no ambiente ecológico criado pelos antigos moradores do Município. Durante esse grande período histórico-social de existência, surgido de uma Carta de Sesmaria doada em 13 de agosto de 1743 a Inácio Dias Velho, filho de Garcia Rodrigues Paes, que abriu a picada da estrada, hoje, conhecida como Real, ou Caminho Novo do Tinguá e neto de Fernão Dias, o Caçador de Esmeraldas, como símbolo de reconhecimento dos serviços prestados pela Família Paes Leme à Coroa Portuguesa, Tratava-se a Carta de doação de duas léguas de Sesmarias em Nome de Sua Majestade e tinha como limites o Caminho Novo das Minas até a passagem pelo Rio Santana que a limitava ao norte, o Rio Santo Antonio e as terras da Real Fazenda de Santa Cruz. Segundo o Professor Rui Afrânio Peixoto, essas terras vieram a formar o "Morgado de Belém", extinto após a morte de Pedro Dias Paes Leme, sobrinho de Ignácio Dias Velho, passando as terras a constituir a Fazenda Belém, com atividades econômicas voltadas ao fabrico de açúcar e aguardente, moinho e engenho de mandioca e de serra, casa de vivenda, teatro, igreja, lavoura, gado vacum, cavalar e mular. Um vasto acervo em ruínas no meio da serra, talvez possa provar as informações prestadas pelo Professor Afrânio Peixoto como as ruínas de um engenho localizado na Serra do Tinguá em sua porção conhecida como Serra da Viúva, na divisa entre Miguel Pereira e Nova Iguaçu. Japeri percorreu a História a partir da segunda metade do Século XVIII, sendo sempre privilegiado em função de obras de grandes vultos que o colocou na confluências das grandes vias nacionais, começando pelo Caminho Novo do Tinguá que ligava o Rio de Janeiro a Minas Gerais e que fazia a testada de seus limites ao Leste. Depois veio a Estrada da Polícia que cortou seu território ao meio, seguido pela Estrada de Ferro D. Pedro II, a estrada de “Presidente Pedreira”, a construção de duas casas de custódias que redefiniram a paisagem urbana, sobretudo, no Bairro Belo Horizonte, onde estão assentados, cuja favelização do entorno e a imigração de parentes de presos para outros bairros do Município, fez um novo retrato da Cidade e, atualmente, o Arco Metropolitano que, de certa maneira, já impactou a estrutura demográfica mostrando um rumo incerto da situação dessa Cidade, cujos hábitos foram alterados e, que demonstra ainda, não estar preparada para gerenciar esse novo contexto. Este conjunto de

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elementos vem condicionando seu espaço e criando as estruturas de urbanização, embora não tenha alcançado um status compatível com essas possibilidades oferecidas indiretamente. Cada estrutura dessa trouxe conseqüências que colocaram o Município em evidência, envolvido num potencial jamais reconhecido. Cada fato definiu momentos históricos que se caracterizam em função das atividades econômicas exploradas ao longo do seu desenvolvimento social e cultural como a cana, a cafeicultura, o rami, a seda, provavelmente em conseqüência da Fábrica Têxtil de Paracambi e depois a laranja que fizeram refletir uma economia agrícola exportadora que se fez presente até 1950, no Século XX , configurando mudanças espaciais do território da Cidade de hoje. No entanto, as pesquisas que avançam no espaço do Município, executadas, principalmente, pelo Instituto de Arqueologia Brasileira - IAB, vem revelando um período pré- colonial com forte atuação na paisagem local e regional, até então desconhecido. São sítios arqueológicos que remontam ao contato do invasor europeu, e talvez, já brasileiros, visto a possibilidade de terem alcançado essa parte periférica do Recôncavo da Baia da Guanabara, algum tempo depois de terem iniciado a faixa marginal e de mais fácil acesso. O Município dispõe de três sítios do período anterior à chegada e domínio forçado pelos europeus, que afirmam a necessidade de conhecer melhor a ocupação sociocultural do espaço da unidade política, considerando o Rio Guandu como importante via favorável de acesso, conforme vem sendo confirmado nas pesquisas do IAB. Como todo município, Japeri é uma organização social, politicamente independente, emancipado de Nova Iguaçu através de um plebiscito, reconhecido pela Lei Estadual nº 1.920 de 02-12-1991. É constituído por dois centros urbanos, densamente povoados, que polarizam 30 bairros, sendo 27 urbanos e 03 rurais, resultado da ocupação coletiva de um espaço compartilhado e segregado em variadas formas de relacionamento humano e atividades econômicas gerando um aglomerado sócio-cultural administrado pela política representada pela Comarca, Prefeitura e Câmara de Vereadores. Está inserida no contexto de urbanização da Região Metropolitana do Rio de Janeiro e reflete as conseqüências desse processo iniciado na década de 40 do Século XX quando mudou o nome de Belém. Localizado na Região Metropolitana do Rio de Janeiro entre as Coordenadas Geográficas de 22º 38`35`` L.S. e 43º 39`12`` L.O. Sua geomorfologia se caracteriza por uma planície costeira com 30 metros de altitude de acumulação fluvial constituído de gnaisses dominantemente tonalíticos, gnaisses granitóides, metatexitos, migmatitos, kinzigitos e de areias, cascalho e argilas inconsolidados, limitada por colinas e pelo Maciço do Tinguá. Possui um território formado por uma área de 82,9 km2 e faz divisa política com Paracambi, Seropédica,

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Queimados, Miguel Pereira e Nova Iguaçu. Junto com Mesquita, Belford Roxo, Nilópolis, D. Caxias e São João de Meriti e Nova Iguaçu forma a Baixada Fluminense politicamente reconhecida. Segundo o IBGE, sua população, com base no censo de 2010 é de 95.492 com estimativa para 2016 de 100.562 pessoas, distribuídas em 28.424 famílias, que se utilizam de um sistema de transporte precário onde 100% dos domicílios têm, no trem, o principal meio de locomoção. É acessado por duas rodovias estaduais, a RJ 093 e a RJ 125, duas ferrovias que estabelecem ligação com MG e SP, uma desativada absurdamente, e uma série de vicinais que cortam o seu território. A produção econômica e a renda do Município são provenientes de pequenas indústrias, comércio, dos convênios e repasses, royalty do petróleo e da agropecuária, desconsiderada, embora exerça importância econômica na região com destaque para a produção da mandioca (principal produto), quiabo e goiaba, gado bovino e aves. O Rio de Janeiro exerce grande influência cultural na localidade, mas algumas marcas se sobressaem como o forró, o artesanato e o patrimônio cultural "material", onde a estação ferroviária inaugurada em 1858 constitui o símbolo do brasão municipal, embora sua integridade física esteja ameaçada pela falta de cuidados básicos pelas autoridades “competentes”. Essa influência no modo de vida do Município de Japeri, principalmente pela facilidade de acesso, estigmatizou sua função sócio-econômica de “Cidade Dormitório”. Apesar da emancipação, continua nas mesmas condições de que quando era distrito iguaçuano. Passou por um intenso processo político administrativo que condicionou sua estrutura espacial que, por vez, marcou sua situação fundiária ao longo de sua história até que a Lei nº 1472 de 28 de abril de 1952, elaborada a partir do Projeto nº 513 de 1951 criou o 5º e o 6º distritos de Nova Iguaçu, representados respectivamente por Mesquita e Japeri. O Município de Japeri sofre as consequências do, ainda hoje, conceito de desenvolvimento vinculado ao acúmulo monetário. Embora seja unânime que, em sua trajetória histórica, tenha alcançado o status de morgado ou morgadio que é uma forma de organização familiar que cria uma linhagem, bem como um código para designar os seus sucessores, estatutos e comportamentos, até agora, nenhuma evidência documental escrita, confirma essa informação. Por outro lado, a documentação gerada pelo registro arqueológico desconstrói essa hipótese. Analisando a configuração da evolução fundiária da sesmaria, apresento a hipótese formulada a partir de uma comparação entre o documento escrito e o vestígio arqueológico de que, um morgado não tenha sido um marco na trajetória histórica do Município, pois não consta em nenhuma relação de

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morgadio visto até o momento. Para essa hipótese também foi considerada a forma como sucedeu a partilha do território da sesmaria doada a Inácio Dias Velho, clara no registro arqueológico, que contradiz a legislação vigente referente ao tema à época do Brasil colonial e, apresenta várias parcelas de terras desmembradas da unidade sesmeira e com destino a proprietários com nomes diferentes do donatário. Contudo, o acervo arqueológico localizado até o momento, tem mostrado uma estrutura fundiária fortalecida e desenvolvida, uma vez observados o tipo e o tamanho de ruínas localizadas. Revela uma composição geoeconômica bastante estruturada, mas que permite supor que estivessem interligadas, mais uma vez, com referência ao registro arqueológico, neste caso, representado pela rede viária que colocava a linha sucessória da Sesmaria em comento, num território caracterizado por uma cadeia produtiva alinhada com uma ideia de interligação e adequação à política econômica da época, porém mostra, também, uma ruptura territorial que perdura até hoje. Acredito que dessa peculiaridade, levou suas características ao enquadramento no conceito de morgado, estabelecido na legislação portuguesa sobre o assunto, conforme instrumento legal de 03 de agosto de 1770. As primeiras instituições de morgadio, em Portugal, datam do início do século XIV e por duzentos anos, não existiu qualquer tradição escrita sobre a sua vinculação. Mas, em 03/08/1770, a Lei Pombalina, regulamentou definitivamente os morgadios ou morgados. Não podia vincular bens quem queria, mas sim quem o Rei autorizava, dentro de exigências bem definidas. Por outro lado, a sucessão dos morgados fazia-se quase sempre em linha reta e só em alguns casos, por extinção da descendência, por linha transversal. Essa prática não se verificou apenas para a conservação de um sobrenome, mas sim para a manutenção da nobreza do filho primogênito e seus descendentes. Mas para vendê-lo ou trocar parte desses bens vinculados, ou mesmo à extinção do morgadio era preciso à expressa autorização real. de que faziam parte, ao longo de sucessivas gerações. Esta instituição 6 vincular, tem origem na legislação castelhana, no Reino de Castela, onde era conhecido como mayorazgo e fez parte das leis daquele reino desde 1505 (Leyes de Toro) até à Ley Desvinculadora de 1820 e, embora seja adotada pelo reino de Portugal antes, só entra na legislação portuguesa com as Ordenações Filipinas de 1603. Por extensão, o termo morgado é também utilizado para designar o possuidor do morgadio em questão. O morgadio consistia num vínculo de terras, rendas ou outros utensílios provenientes de uma determinada profissão, feito pelo respectivo instituidor. Estes bens assim vinculados não podiam ser vendidos nem de outra forma alienados, cabendo ao respectivo administrador (o morgado) o

6 Conforme visto no sitio https://edittip.net/2013/12/28/morgadio, citando os trabalhos de Clavero (1974); Monteiro (2002); Motta (2011); Rosa (1995).

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cumprimento das determinações do instituidor, o usufruto do morgadio e o gozo dos rendimentos proporcionados pelos bens vinculados. Só com expressa autorização real era possível vender ou trocar parte desses bens vinculados, ou mesmo a extinção do morgadio. Mas era possível acrescentar bens ao morgadio e, por vezes, a instituição do vínculo obrigava, mesmo que, cada administrador lhe acrescentasse a sua terça. A instituição de morgadios estava normalmente associada à instituição de capelas e ao cumprimento dos chamados “bens de alma” definidos pelo instituidor, sendo esta também uma razão para a sua difusão. Existiram, no entanto, outro tipo de morgadio, associado a determinadas profissões, nomeadamente na distribuição do correio e também a algumas profissões mecânicas ou artesanais. O morgadio difundiu-se na idade média como uma forma de contrariar o empobrecimento das famílias ricas devido às sucessivas partilhas, servindo, assim, como um vínculo entre um pai e sua descendência no qual seus bens são transmitidos ao filho primogênito, mantendo, desta forma, o seu ramo principal com o suficiente estatuto econômico-social. No regime de morgadio os domínios senhoriais eram inalienáveis, indivisíveis e insusceptíveis de partilha por morte do seu titular, transmitindo-se nas mesmas condições ao descendente varão primogênito. Assim, o conjunto dos bens de um morgado constituía um vínculo, uma vez que esses bens estavam vinculados à perpetuação do poder econômico da família. As regras de sucessão na administração do morgadio eram definidas pela respectiva instituição. Em geral, sucedia o filho homem mais velho e, à falta de filhos, o parente mais próximo. O filho primogênito na sua maioria das vezes recebia o nome do pai completo, seguido da palavra Filho, Neto. Os outros filhos(as) tinham somente o nome e o sobrenome do pai: a família da mãe (esposa) não existia. O intuito era manter a árvore genealógica. Os demais filhos caíam na desgraça e muitas vezes sujeitos a um primogênito, insensato e carregado de vícios. É certo que o morgado contrariava o princípio da igualdade na partilha dos bens entre os filhos, privilegiando o mais velho e o homem em relação à mulher. Mas, por outro lado, criava obrigações ao primogênito em relação aos irmãos, e muitas vezes estes recebiam os bens móveis livres de foros, vínculos ou ônus dos pais. O direito de herança das filhas era tratado de forma categórica na letra da lei: (...) e concorrendo na sucessão dos Morgados irmão varão e fêmea ordenamos que sempre o irmão varão suceda no morgadio e bens vinculados, e preceda a sua irmã, posto que seja mais velha. E mesmo será nos outros parentes em igual grau mais chegado ao ultimo possuidor, porque sempre o varão precederá na sucessão à fêmea posto que ela seja mais velha. Ainda menos comum do que o morgadio, a exclusão da filha do rol de herdeiros podia ser uma outra forma de a sociedade impedir as mulheres de ter acesso aos bens da família,

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caso o comportamento da filha afrontasse a autoridade patriarcal. Devido ao empobrecimento dos filhos não primogênitos, o Parlamento brasileiro proibiu a instituição do morgadio em 1835, sendo extinto definitivamente em 1837. Em Portugal só foi extinto no reinado de D. Luís I por Carta de Lei de 19/05/1863, subsistindo, no entanto o vínculo da Casa de Bragança, o qual se destinava ao herdeiro da Coroa. Este último morgadio viria a perdurar até 1910. No Brasil existiram vários morgadios, entre eles o do Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco, fundado por João Paes Velho Barreto citado aqui, pela semelhança do sobrenome com o de Ignácio Dias Velho, que era um Paes Leme, posto que existem citações do sobrenome Velho a Inácio Dias Velho Paes, buscando alguma relação da dita sesmaria com morgado ou morgadio. Entre os municípios estudados a referência de morgado até aqui confirmada é o Morgado do Marapicu, que deu origem a Queimados, cuja o espaço do meso deve ser melhor estudado, pela arqueologia a fim de conhecer sua evolução histórica. Enfim, pelas considerações conhecidas sobre o morgadio, sinto-me seguro em afirmar que Japeri nunca foi um morgado, uma vez que, desde de cedo teve suas terras, antes sesmaria, partilhadas e vendidas, de forma diferente da que estabelecia a legislação da época, sobre o assunto. Documentos com referência a Japeri são fragmentados e estão dispersos em arquivos oficiais, mas sem catálogo específico, ou em coleções privadas, sob a guarda de alguém que, toma para si, o registro histórico, acarretando em dificuldade, o acesso a essas fontes, quase um obstáculo à descrição por, via escrita, levando ao foco no registro arqueológico histórico, a perspectiva de criação de uma rede vertical de informação, mostrando os fatos que nortearam a evolução sociocultural do Município. Mesmo assim, já se conseguiu bastantes dados bibliográficos com o levantamento realizado em arquivos e bibliotecas públicos. Como exemplo, cito a compra de uma cachoeira em Belém em 1904 pela Estrada de Ferro Central do Brasil, cujos trâmites documentais tiveram início em 1903, conforme o Ofício 1578 de 104, emitido pela Diretoria Geral de Obras e Viação, autorizando a Estrada de Ferro Central do Brasil a comprar uma cachoeira chamada "Cachoeira Grande", situada em terras da Fazenda de Belém e do terreno necessário à canalização da água, pertencentes à Cia Industrial de Seda e Rami e ao Dr. Pedro Dias Gordilho Paes Leme a uma respectiva despesas de 60:000$000 (sessenta milhões contos de Reis), que deveria ocorrer por conta da consignação do orçamento do atual exercício (ano de 1904): Material 5ª Divisão e Via Permanente e Edifício Obras Novas. Fica assim satisfeita a ordem constante do Ofício Nº 8 de 16 de março de 1904.O documento cita duas plantas do terreno que deveriam acompanhar a escritura, mas não veio neste arquivo, inclusive acompanharam o Aviso Nº 473 do Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas. de 13 de abril de 1904. O documento, faz referência à compra de cachoeira em que cujas margens do

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riacho que a forma, assenta o Sítio Morgado de Belém. Uma data próxima, mas com efeito sensitivo tão longe que impossibilita saber o tamanho do terreno comprado e se quando foi comprado, as ruínas ali existente já se encontravam naquele estado ou fora comprada juntas e funcionando, tendo sido desativada com a aquisição pela Companhia estatal. Uma resposta demandada para complementando a informação. Na Carta topográfica do Rio de Janeiro feita pelo Côde de Cunha (Conde da Cunha), Capital General e Vice Rei do Estado do Brasil, em 1767, mostra o Engenho de Pedro Dias, conforme mostra cópia feita do origina,l em 1911, por Manoel Vieira Leão exibida na Figura 04. Esse mapa esclarece e confirma algumas questões importantes como a hipótese sugerida para a primeira construção da sesmaria ter sido às margens do Caminho Novo. Esta hipótese não contava à época, com informações fornecida pela cartografia histórica, que vem mostrando uma rede viária importante no processo de ocupação sociocultural, provavelmente, desde a época dos tupiguarani. E também, fortalece a ideia de não existência de um morgado, uma vez que, em 24 anos da emissão da carta de doação de sesmaria, ao então Inácio Dias Velho, um outro Paes Leme já ocupava os fundos da sesmaria. A sugestão de uma construção na parte Leste, frontal da sesmaria, com testada para o Caminho Novo, depende de confirmação através do registro arqueológico, o que para tanto, requer um projeto de pesquisa específico a esse fim. A hipótese não está descartada e conta com informações interessantes como cumprimento de uma ordem de colonização de um espaço, anteriormente, ocupado por sociedades tribais. Então, sugiro, aqui que, embora o Caminho Novo tenha sido utilizado como referência para testada da sesmaria e tenha sido considerada sua importância como via de mobilização nacional, outras vias de acesso facilitaram a ocupação do terreno sesmeiro por membros da Família Paes Leme nos limites dessas outras vias. Isso coloca o desenvolvimento histórico de Japeri, vinculado à expansão das grandes vias de circulação nacional ou regional. Já no século XX, no ano de 1911, um Ofício assinado pelo Sr. Albino Alves Ribeiro de nº 81 de 05/09/1911, emitido pela Estrada de Ferro Central do Brasil, enviado pelo Ministério de Viação e Obras Públicas, através da Diretoria Geral de Viação e Obras Públicas, solicitando que seja lavrada na Diretoria do Contencioso do Tesouro Nacional a escritura definitiva de compra de parte do prédio nº 87 em frente à Estação Belém, necessário à Estrada de Ferro Central do Brasil. No documento seguinte, definido pelo Ofício emitido pelo Ministério dos Negócio da fazenda, nº 304 de 16 de julho de 1918, devolve ao Ministro o processo com o aviso do Referido Ministério nº 1.958 de 29 de setembro de 1911 e a que se referem o de nº 1.916 de 23 de julho de 1912 e 3.856 de 27 de outubro de 1913, relativo à aquisição de parte do prédio em frente à Estação Belém, citando como proprietário o Sr. Albino Alves Ribeiro, por um preço de 5:000$

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(cinco mil conto de Reis). Este documento solicita ao Ministro de Estado da Viação e Obras Públicas esclarecimento de dúvida de que trata o parecer da Diretoria do Patrimônio exarado à Fls. 56 e 57 do referido processo. O documento mostra, ainda, o processo de ocupação do espaço japeriense pouco tempo depois da edição do Dicionário Geográfico do Brasil que caracteriza Belém como área anecúmena, imprópria à ocupação, considerando que esse prédio foi implantado na parte baixa da Sesmaria. A aquisição da parte do prédio se deu pelo ajuste entre a Estrada de Ferro e o proprietário aos vinte e um dia do mês de agosto de 1911, quando estiveram presentes na Secretaria da Diretoria da Estrada de Ferro Central do Brasil, como outorgante vendedor o Sr. Albino Alves Ribeiro, representado por seu procurador Dr. Octavio Gonçalves Guimarães, e como outorgada compradora a Estrada de Ferro Central do Brasil, representada por seu Diretor Dr. André Gustavo Paulo de Frontin, pelo outorgante foi dito que como legítimo senhor e possuidor do prédio nº 87, situado em frente ao syphon superior do pátio da estação de Belém, Município de , 7º Distrito de Paz, transmite à outorgada pela "cláusula constituti todo o domínio e posse que tem sobre uma parte do referido prédio demarcado na planta que faz parte integrante deste termo com as letras A-B-C-D medindo a área de 133,6425m² e limitando por dois lados com terrenos da outorgada e pelos dois outros lados com terrenos do outorgante, pela quantia já especificada acima. e vem assim que autoriza a outorgante a assinar perante a Diretoria do Patrimônio Nacional a escritura definitiva da presente cessão e a apresentar por essa ocasião todos os títulos e documentos que provem a sua propriedade, de modo a ficar a venda boa, firme, valiosa, livre e desembaraçada de qualquer onus judicial ou extrajudicial. Pela outorgada, representada por seu Diretor, foi dito que aceita a presente cessão em todas as condições, devendo ser efetuado no Tesouro Nacional o pagamento do preço estipulado, quando ali celebrada a respectiva escritura, correndo a despesa por conta da sub-consignação do orçamento do atual exercício de 1911: material - 5ª Divisão - Via Permanente Edifício - Obras Novas. E para constar lavrou-se o presente termo, que assignam com as testemunhas. Secretaria da diretoria da Estrada de Ferro Central do Brasil, Rio de Janeiro Capital Federal, 21 de agosto de 1911. (Assinados) Dr. André Gustavo Paulo de Frontin, PP. Octavio Gonçalves Guimarães. Testemunhas - Bernardo Rodrigues Gomes, 1º Escriturário - Morato Ignacio de Soyza Valente Amanuense.

Ainda em referencia a esta situação, buscando entender como se deu o processo de ocupação, tem-se a Carta de arrematação emitida pelo Juízo Municipal da Comarca de Vassouras, em 21 de junho de 1897, extraída dos autos de inventário a que se procede por falecimento Francisco de Paula Rangel, passada a favor de Albino Alves Ribeiro, o Dr. Guilherme de Almeida Magalhães, Juiz Municipal na cidade de Vassouras, etc. a todos os senhores Doutores, Desembargadores, Juízes de Direito Municipais, Comerciais de Órfão e de Paz e bem assim mais todas as pessoas de Justiça desta República dos Estados Unidos do Brasil a quem o conhecimento desta haja e devo de pertencer em suas respectivas comarcas e jurisdição. Faz saber que este juízo e cartório do escrivão que esta subscreve em seus devidos

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termos uns autos de inventário que está procedendo pelo falecimento de Francisco de Paula Rangel de quem é inventariante Donato Rangel, pai de Francisco. O falecido, solteiro, deixou uma filha menor de nome Januária, reconhecida por escritura pública. No termo de espécie de bens, o inventariante, disse mais que os bens do espólio consta de efeitos comerciais na Povoação de Belém e um prédio onde está estabelecido o negócio. O Doutor Guilherme de Almeida Magalhães manda aos peritos nomeados e afirmados Silvério de Medeiros Torres e Aníbal Julião Soeiro que em cumprimento dessa, proceder a avaliação e balanço da casa comercial deixado pelo inventariado citado e a avaliação e balanço dos bens deixados por Francisco de Paula Rangel mostra um consumo de "armarinho" variado que ia de Garrafa de óleo de rícino, garrafas de amêndoas doce, vidros de óleo de babosa, vidros de óleo de máquina, vidros de tintura, vidro de anilina, vidros de pelulas catharticas, vidro de extrato, vidro de raspa de veado, vidros de bryovica, vidros de nectranda amara, vidros de água de quinisso, vidros de xarope de alcatrão, vidro de permanganato de potássio, vidro de xarope de vermífugo, vidros de capsulas de taurinas, vidros de pílulas do Doutor Hallan, vidros de extrato Mauá, dúzias de carreteis de linha, Guarnições, dúzias de botões de massa para colete ,dúzia de botões de massa para paletó, guarnições de louça, dúzias de botões de jasper, grosa de botões de mão de pérola, caixa de botões diversos, metros de liga, dúzia de pente preto de alisar, dúzia de dita, pentes transparentes, dúzias de pentes para caspa, pentes para barba, baralhos de cartas, pares de meias, pares de meias de cor, dúzia de pares de meias, pares de sapatinho de lã, peças de fitas de nobreza, caixa de fita de papel, gravatas pretas, gravatas de cor, caixa com diversas peças de enfeite, caixa de renda, porção de cadarço e trancelim, bonecas de louça entre outras muitas coisa do gênero, listadas no inventário que narra o tipo de consumo que havia no final do século XIX e início do XX em Japeri. A importância desse inventário está ligada às transformações provocadas pela implantação e desenvolvimento da ferrovia no território trabalhado, uma vez que junto com fotos antigas que começam a ser recuperadas, está sendo possível compreender a atual paisagem do Município. Esta estrutura fundiária mostra uma casa comercial com oferta de produtos variados e destinado ao consumo doméstico, num momento pós edição de um dicionário técnico oficial que desabona o local para moradia. Parte da estrutura, como visto na documentação, foi adquirida pela Estrada de Ferro para expansão de seu pátio que cresceu pelo lado esquerdo de quem chega na estação, vindo da Central. Essa estrutura precisa ser localizada e isso só será possível pela escavação no extremo do pátio ferroviário, onde hoje existe uma grande ocupação irregular. Em uma observação do balanço dos bens classificados como de armarinho, deixados por Francisco de Paula Rangel em seu armazém em Belém, podemos ter uma noção do tipo de

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produto consumido pela população do povoado que crescia nas margens da Estradas de Ferro Central do Brasil no início do século XX. A aquisição desse prédio mudou, mais uma vez, a paisagem local da antiga sesmaria, e condicionou o espaço à ocupação social. Ainda não está definido, de qual lado foi, uma vez que a estação teve seu espaço ampliado pelos dois lados ao longo dos anos. Do lado direito de quem chega, havia a estrada que abastecia o trem com produtos vindos do interior e vice-versa. Conforme a Procuração na Pública Forma, carimbada pelo Consulado do Brasil no Porto, Imposto do selo no valor de cem Réis, foi estabelecido que:

saibam quantos esse público instrumento de procuração virem, que no ano de nascimento de Nosso Senhor Jesus Crhisto de mil, nocentos e dez aos dez de setembro, nesta Vila da Feira e cartório do quarto ofício, a cargo do escrivão notarial José Vieira de Souza, esteve presente o Sr. Albino Alves Ribeiro e esposa Dona Amélia Ferreira Ribeiro, proprietários do lugar do Ferreiro da Freguesis do Sanguedo, desta Comarca, que fizeram como procurador o Senho Celestino Betleder, viúvo, negociante , morador na rua Coronel Pedro Alves, número trezentos e um (301), na Cidade do rio de Janeiro, Estados Unidos doBrasil, a quem dão poderes, inclusives os de substabelecer, para em nome dos outorgantes, fazer arrendamentos das propriedades que eles possuem nos mesmos Estados Unidos do Brasil, despedindo, quando assim o entenda, os caseiros e admitindo outros, recebendo as respectivas rendas das mesms propriedades, passando os necessários recibos. E, ainda lhe dão poderes, para, em nome deles outorgantes, vender a propriedade que possuem em Belém, Estado doRio de Janeiro, formada de casas terreas e terrenos juntos, para a Estrada de Ferro Central do Brasil, ou vender para outro qualquer fim, ou mesmo vender somente a parte da mesma propriedade que for necessária para a dita estrada de ferro; vendendo a mesma propriedade, ou a parte d`ela pelo preço que puder juntar, que receberá e de que passará quitação, assinando, todos os documentos e escrituras precisas, com as condições que estão entender necessária, dando-lhe ainda todos os poderes forenses, para poder demandar qualquer devedores ou para outro qualquer fim. Sendo testemunhas presentes Eugenio Machado Adillon e João Ayres Ferreira, ambos solteiros, maiores, caixeiros, moradores na rua , desta vila. O Cônsul Geral da República dos Estados Unidos do Brasil na Cidade do Porto, etc. Nicoláo Pinto da Silva Valle reconheceu verdadeira a assinatura retro de Domingos Curado, notário público, nesta cidade, exarada no precedente documento constante de duas folhas pelo Cônsul, rubricadas com a a rubrica N. Valle no Consulado do Brasil na Cidade do Porto em 10 de setembro de 1910. O documento pode ser validado na Secretaria de Estado das Relações Exteriores, na Inspetoria da Alfândega ou na Delegacia Fiscal do Estado do Rio de Janeiro. Foi publicada na Cidade do Rio de Janeiro em 01 de fevereiro de 1911. Esse documento mostra um português com posse de propriedade de terras em Belém, que provavelmente veio para o lugar atraído pela construção da Estrada de Ferro para o trabalho de construção da Estrada de Ferro. A Sesmaria doada a Ignácio Dias Velho em 1743, com um perímetro que abrangia uma área homogênea já está, nessa época, dividida em dois municípios: Vassouras e Nova Iguaçu. A Lei nº 750 de 15 de outubro de 1906 reúne em um só distrito de paz, sob a denominação de 2º, os atuais 2º e 3º do Município de Vassouras. E a Lei n 881 de 11 de setembro de 1909 restabeleceu todos os distritos de paz do Município de Vassouras, com os limites, sede e denominações estaduais no Decreto nº I A, de 04 de junho de 1892 que por sua vez havia retificado o Decreto

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nº I de 08 de maio de 1892. e a Lei 1056 de 31 de dezembro de 1943 Belém passa a integrar o 2º Distrito de Nova Iguaçu - Queimados e pela Lei 1472 de 28 de abril de 1952 promulgada a partir do Projeto nº 513/51 cria no Município de Nova Iguaçu os distritos de Mesquita - 5º e Japeri - 6º, com os limites estabelecidos nos termos da resolução que a Câmara Municipal adotou na Sessão de 29 de março do corrente ano. Com isso Belém caminhou em direção ao processo de urbanização fazendo surgiu como condicionante sócio- espacial fundamental a ferrovia que foi capaz de adaptar a baixada insalubre no novo espaço de ocupação do antigo povoado, ao invés de adaptar o novo ocupante à baixada insalubre. Foi dessa forma que Japeri se inseriu no contexto das grandes vias de circulação, criando uma vocação que, a meu ver, pode ser chamada de ferroviária. O desenvolvimento sociocultural pelo qual passou o espaço que convergiu no território municipal, no período histórico mostra que o fator fundamental que ocasionou a saído de Belém da Serra e ocupasse a baixada foi a ferrovia. Ainda hoje o Município sofre as consequências da desativação da dinâmica ferroviária que havia até a década de 1979. a considerar que o espaço urbano de um município capitalista constitui-se, em um primeiro momento, de sua apreensão, no conjunto de diferentes usos da terra justapostos entre si. É simultaneamente fragmentado e articulado o que o faz reflexo da sociedade, consequentemente mutável e condicionante dessa mesma sociedade (CORRÊA, R. L. 1995). 3.2 MUNICÍPIO DE QUEIMADOS

Figura 5 - Mapa do Município de Queimados. Fonte: IBGE-@Cidades.

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Se por um lado, a lei do morgado serviu para sugerir o desenquadramento de Japeri do status de morgadio, por outro, Queimados foi instituído enquanto tal, conforme documento de vínculo de morgado emitido pelo Ministério da Justiça e Negócio Interiores datado de 06 de janeiro de 1772. Com uma população estimada para 2015 de 143.632 habitantes, segundo o IBGE, Queimados tem uma área de 75,695 km² e uma densidade populacional de 1.822,60 habitantes por km² tem suas origens históricas no Morgado do Marapicu, ainda no século XVIII, porém podemos sugerir que sua História precisa ser melhor estudada, tendo em vista a falta de clareza nos dados históricos. Alguns confirmam e vinculam o Município ao Morgado de Marapicu como o que descreve a solicitação do "Desembargador Procurador da Coroa João Pereira Ramos de Azeredo Coutinho, pede ao Tabelião Manoel Freira Ribeiro por Certidão o teor de uma escritura a mais do suplicante e seus irmãos, fizeram dando consentimento para de todos os seus bens se instituísse um morgado e se vincularem nele todos os ditos bens, sendo administrados dele o suplicante e por que para isso carece de despacho. Pede que seja mandado". O Tabelião toma conhecimento do pedido e cita Manoel Freire Ribeiro, Tabelião público do Judicial e Notas na Cidade do Rio de Janeiro. Certifica que revendo o livro de notas nº 99 daquele cartório fl. 177 à fl.186 se acham escritas a referida petição, procuração e inventário, respectivamente a escritura. A escritura reza do ano de 06-01-1772. Na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Marapicu. No Engenho em que assiste Elena de Andrade Souto Maior Coutinho, viúva do Capitão Mor Manoel Pereira Ramos de Lemos e Faria. Segundo o histórico do Município, disponível no IBGE, existem três versões, mais prováveis, para o nome "Queimados". A primeira diz que, quando o imperador Dom Pedro I passou por aquela região, na ocasião da inauguração da estação de trem e teria visto uma grande queimada que estava sendo feita nos laranjais dos morros e chamou o lugar de "Morro dos Queimados". A segunda versão diz que o nome é referente aos corpos de leprosos queimados, aos montes, que morriam em um leprosário que ali existia, onde hoje fica a Estrada do Lazareto, uma das principais vias do município. Há ainda uma terceira versão, que afirma que o nome da cidade provém dos escravos fugidos das fazendas, que eram mortos e tinham seus corpos queimados pelos seus senhores. Enquanto Distrito, foi criado com a denominação de Queimados, pelos Decretos Estaduais n.ºs 1, de 08-05-1892 e 1-A de 30-06-1892, subordinado ao Município de Iguaçu. Pela Lei Estadual n.º 1.028, de 03-11-1892, ou 1.008, de 11-10-1911 o distrito de Queimados passou a ser grafado Queimado. E pela divisão administrativa referente ao ano de 1911, o distrito de Queimado figura no Município de Iguaçu. Sua antiga sede foi restabelecida

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pela Lei Estadual n.º 1.634, de 18-11-1919, voltando a grafia para Queimados pela Lei Estadual n.º 1.799, de 09-01-1924. Em divisão administrativa referente ao ano de 1933, o distrito de Queimados figura no Município de Iguaçu. Assim permanecendo em divisões territoriais datadas de 31-08-1936 e 31-12-1937. Pelo Decreto-Lei Estadual n.º 392-A, de 31-03-1938, o Município de Iguaçu passou a denominar-se Nova Iguaçu. O distrito de Queimados figura no Município de Nova Iguaçu (ex- Iguaçu). No quadro fixado para vigorar no período de 1939-1943, o Distrito de Queimados figura no Município de Nova Iguaçu. Pelo Decreto-Lei Estadual n.º 1.056, de 31-12-1943, foi anexado ao distrito de Queimados, uma pequena faixa de território do distrito de Tairetá, do município de Vassouras (zona da estação de Belém). Um fato que precisa ser revisto. Em divisão territorial datada de 1-07-1960, o Distrito de Queimados permanece no município de Nova Iguaçu. Elevado a categoria de Município com a denominação de Queimados, pela Lei Estadual n.º 1.773, de 21-12-1990, desmembrado de Nova Iguaçu e constituído do distrito sede e instalado em 01-01-1993. A situação de Queimados em relação ao patrimônio cultural, em especial, o arqueológico, talvez seja a pior, uma vez que o Município é atingido pelos altos impactos do processo de urbanização que alcança áreas, até então, vazias ou ocupadas por atividades agrícolas e que sustentava de forma espontânea, esse acervo. No terreno onde há 27 anos ainda havia as ruínas de um casarão no centro da Cidade de Queimado foi implantado um condomínio residencial destruindo o que havia sem nenhuma preocupação com o bem que se quer era considerado. Uma situação lastimável, considerando a existência de uma legislação e dois órgãos públicos nas esferas federal e estadual, respectivamente, cuja a função de cada um é também a preservação do patrimônio arqueológico. IPHAN e INEPAC, não conseguiram, até hoje, estender suas atribuições a essas terras, ou quando fazem, é de forma específica e mediante a algum tipo de denúncia, mesmo assim, com bastante falhas. Outra questão é a falta de previsão desse acervo, na gestão municipal, cuja preocupação é com o desenvolvimento econômico tradicional, onde o que importa é a geração de dinheiro para o "cofre público" e a preservação patrimonial não é o tipo de empreendimento que, na visão dos dirigentes, possa gerar esse tipo de recurso. 3.3 MUNICÍPIO DE MESQUITA

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Figura 6 - Mapa do Município de Mesquita. Fonte: Mapa do Rio de Janeiro/mapa-dos-municipios/municipio-mesquita

O Município de Mesquita, no Estado do Rio de Janeiro, possui uma área territorial de 41,471 km², formado no antigo Distrito de Nova Iguaçu, criado com a denominação de Mesquita (ex-povoado), pela Lei Estadual n.º 1.472, de 28-04-1952, permanecendo nesta condição após a divisão territorial datada de 1-07-1960, tendo alcançado a emancipação, através de um plebiscito autorizado pela Lei Estadual n.º 3.253, de 25 de setembro de 1999, e instalado em 01 de janeiro de 2001. Com uma população de 168.403 habitantes, segundo senso de 2010, com estimativa para 171,020 habitantes em 2016, de acordo com o IBGE, e uma densidade de 4.310,48 hab./km². Percebo, em sua História, uma demanda de intensas pesquisas em fontes diversas para elencar o processo de ocupação sociocultural. Os portais oficiais (Prefeitura e IBGE) carecem de maiores informações, porém é notório, que os primeiros grupos sociais da área onde está assentado o Município foram os índios Jacutinga (SILVA, 2007, p. 68). Que segundo o Portal da Prefeitura Municipal de Mesquita, dos "índios, infelizmente, sobrou apenas o nome de um dos bairros da cidade: Jacutinga", e descreve que a localização, farta de mananciais de água que desciam do Gericinó, proporcionava a formação de belíssimas cachoeiras e ricas florestas. Segundo o Sítio oficial na Internet, nos locais baixos, as águas produziam uma bacia hidrográfica e desciam em direção ao Rio Sarapuí. Para o IBGE7, o Município teve origem a partir das terras do Engenho da Caxueira, que ficava as margens do rio de mesmo nome – atual canal Dona Eugênia – ao pé do Maciço de Gericinó. Nos arredores deste engenho, cresceu um arraial para fazer frente à demanda de tropeiros e carroceiros que por ali passavam e abasteciam-se na cachoeira que havia nos arredores. Com a expansão do sistema ferroviário, foram implantadas várias estações sendo que uma delas ficou localizada no centro do antigo arraial da Cachoeira, o

7 Segundo está descrito no Portal IBGE- @Cidades- trata-se de uma informação que precisa ser confirmada.

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qual logo mudou de nome para Jerônymo de Mesquita e posteriormente simplificado para Mesquita8. O nome é uma referência ao Barão de Mesquita, proprietário das fazendas que hoje compõem a região central do município. Para o IBGE, a observação dos primeiros habitantes resultou na transformação do barro das regiões alagadas em tijolos e telhas, servindo de base para a instalação da Companhia Material de Construção Ludolf & Ludolf, junto à margem direita da estação de Mesquita, uma história que precisa ser melhor contada. Quanto à margem esquerda, mais precisamente ao longo da rua da Cachoeira, algumas pessoas se estabeleciam, mas o destaque estava no entroncamento das vias que ligavam Cachoeira com a Freguesia de Santo Antônio de Jacutinga (atual Prata), e com Maxambomba (atual Nova Iguaçu), onde cada vez mais pessoas fixavam residência. O desenvolvimento da região deveu-se à implementação da ferrovia e ao declínio da citricultura, o que permitiu o aparecimento de loteamentos, pondo fim aos grandes vazios resultantes da Fazenda da Caxueira e da Companhia Ludolf & Ludolf. 3.4 MUNICÍPIO DE NOVA IGUAÇU

Figura 7 - Mapa de Nova Iguaçu. Fonte: IBGE, @Cidades.

O Município de Nova Iguaçu com população definida em 796.257 habitantes segundo senso de 2010 e com estimativa de 797.435 habitantes, para 2016, segundo o IBGE, com densidade demográfica de 1.527,60 hab./km² tem um espaço territorial formado por uma área de 517,995 km².

8 Maiores informações podem ser obtidas no Livro Das terras de Mutambó ao Município de Mesquita - RJ - Memórias da Emancipação nas Vozes da Cidade da Professora Maria Fatiam de Souza Silva, de 2007.

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Segundo o Portal do IBGE @Cidades e a Prefeitura Municipal, Nova Iguaçu foi elevado à categoria de vila com sua sede instalada às margens do Rio Iguaçu, que serviu de inspiração para o nome dado pelo Decreto de 15 de janeiro de 1833, período em que, Pereira9 (1997, p.13) atenta para uma séries de problemas que tumultuavam a sociedade brasileira, desde a Corte aos extremos do País. Foi desmembrado dos termos de Niterói de Vassouras e Magé tendo sido constituído por seis distritos: Jacutinga, Queimados, Nossa Senhora da Piedade de Iguassu, Mereti, Palmeiras e Pilar, instalado em 27-07-1833. Pela Lei Provincial n.º 14, de 13-04-1835, a vila foi extinta e em seguida, elevada novamente à categoria de vila com a denominação de Iguaçu, pela Lei n.º 57 de 01-12-1836. Pelo Decreto Provincial n.º 813, de 06-10-1855 e Decretos Estaduais n.º s 01, de 08-05-1892 e de 01-A, de 03-06-1892, é criado o distrito de Santana das Palmeiras e anexado à Vila de Iguaçu. Em 1858, com a inauguração da Estrada de Ferro Dom Pedro II, iniciou-se o crescimento do Arraial de Maxambomba. Por conta disso, foi realizada a transferência da sede do município para um novo centro econômico. Pelo Decreto Estadual n.º 204, de 01-05-1891, transferiu a sede do município de Iguaçu para a povoação de Maxambomba. Pelos Decretos Estaduais n.ºs 01 de 08-05-1892 e 01-A, de 03-06-1892, são criados os distritos de Piedade de Iguaçu, Queimados e São João de Meriti e anexados à Vila de Maxambomba. Esta foi elevado à condição de cidade e distrito com a denominação de Maxambomba, pelo Decreto Estadual n.º 263, de 19-06-1891 e Lei Estadual n.º 1.634, de 18-11- 1919. Em divisão administrativa referente ao ano de 1911, o município se denomina Iguaçu e se compunha de 6 distritos: Jacutinga, Queimados, Nossa Senhora da Piedade de Iguassu (ex- Piedade de Iguaçu), São João de Meriti, Santana das Palmeiras e Pilar. Pela Lei Estadual n.º 1.331, de 09-11-1916, a sede do município passou a denominar-se Nova Iguaçu. O distrito criado com a denominação de São Mateus pelas Leis Estaduais n.ºs 1.332, de 09-11-1916 e 1.634, de 18-11-1919 e anexado ao município de Nova Iguaçu, foi transformado em Nilópolis pela Lei Estadual n.º 1.705, de 06-10-1921. Pela Lei Estadual n.º 1.528, de 25-11-1918, o distrito de Pilar passou a denominar-se Xerém. Pela Lei Estadual n.º 1.634, de 18-11-1919, o distrito de Santana das Palmeiras passou a denominar-se Santa Branca, São João de Meriti a denominar-se Pavuna e Xerém para Estação João Pinto. Pela Lei Estadual n.º 1.799, de 08-01-1924, o distrito de Santa Branca passou a denominar-se Bonfim e Cava (ex-Nossa Senhora da Piedade de Iguaçu) a denominar-se Estação José Bulhões. Pelo Decreto Estadual n.º 2.559, 14-03-1931, é criado o distrito de Caxias é anexado ao município de Iguaçu. Pelo Decreto Estadual n.º 2.595, de 28-05- 1931, o distrito de Estação João Pinto voltou a denominar-se Pilar. Pelo Decreto Estadual n.º

Waldick Pereira foi um historiador do Instituto Histórico e Geográfico de Nova Iguaçu - IHGNI que se dedicou à História do Município de Nova Iguaçu.

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2.601, de 28-05-1931, é criado o distrito de Estrela e anexado ao município de Iguaçu, distrito formado com parte do distrito de Pilar. Em divisão administrativa referente ao ano de 1933, o município é constituído 9 distritos: Nova Iguaçu, Bonfim (ex-Palmeiras), Caxias, Estação José Bulhões (ex-Nossa Senhora da Piedade de Iguassu e ex-Cava), Estrela, Nilópolis, Pilar (ex- Xerém e ex-Estação João Pinto), Queimados e São João de Meriti (ex-Meriti). Assim permanecendo em divisões territoriais datadas de 31-XII-1936 3 31-XII-1937. Só que o distrito de São João de Meriti se denomina simplesmente Meriti. Pelo Decreto -Lei Estadual n.º 392-A, de 31-03-1938, altera a denominação de Iguaçu para Nova Iguaçu. Pelo Decreto Estadual n.º 641, de 15-12-1938, é criado o distrito de Belford Roxo e anexado ao município de Nova Iguaçu. Sob o mesmo Decreto é extinto o distrito de Pilar, sendo seu território anexado ao distrito de Estrela do mesmo município de Nova Iguaçu. No quadro fixado para vigorar no período de 1939-1943, o município é constituído de 9 distritos: Nova Iguaçu, Belford Roxo, Bonfim, Cava, Caxias, Estrela, Meriti, Nilópolis e Queimados. Pelo Decreto-lei Estadual n.º 1.055, de 31-12-1943, confirmado pelo Decreto-lei Estadual n.º 1.056, de 31-12-1943, desmembra do município de Nova Iguaçu os distritos de Caxias, Meriti, Bonfim e Imbariê (ex-Estrela) alterado pelas mesmas leis acima citadas, para formar o novo município com a denominação de Duque de Caxias. No quadro fixado para vigorar no período de 1944-1948, o município é constituído de 5 distritos: Nova Iguaçu, Belford Roxo, Cava, Nilópolis e Queimados. Pela Lei Estadual n.º 6, de 11de agosto de 1947, desmembra do município de Nova Iguaçu o distrito de Nilópolis. Elevado à categoria de cidade. Pela Lei Estadual n.º 1472 de 28-04-1952, são criados os distritos de Mesquita e Japeri e anexados ao município de Nova Iguaçu. Em divisão territorial datada de 1 de julho de 1955, o município de Nova Iguaçu é constituído de 6 distritos: Nova Iguaçu, Belford Roxo, Cava, Japeri, Mesquita e Queimados. Assim permanecendo em divisão territorial datada de 1 de julho de 1960.

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3.5 MUNICÍPIO DE BELFORD ROXO

Figura 8 - Mapa de Belford Roxo. Fonte: Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia-Prefeitura

Com uma população formada por 469.332 habitantes segundo dados do senso 2010, com estimativa de 494.141 habitantes para 2016 segundo o IBGE, com densidade demográfica 2010 de 6.031,38 hab./km² inseridos numa área de 78,987 km² Segundo dados no Portal IBGE, o Município teve origem na Fazenda do Brejo, onde havia um engenho de açúcar no início do século XVII. Em1729 havia um porto no Rio Sarapuí por onde se processava o transporte de mercadorias entre a Corte e as fazendas. Entre as várias soluções apresentadas ao governo para solucionar o problema de abastecimento de água, estava a proposta do Engenheiro Paulo de Frontin, que teve como colaborador o Inspetor Geral de Obras Públicas, Raymundo Teixeira Belford Roxo, foi a de, em apenas seis dias, captar 15 milhões de litros de água para a Corte. Belford Roxo foi criado como distrito de Nova Iguaçu pelo Decreto Lei estadual 641 de 15 de dezembro de 1938. e elevado à categoria de Município através de plebiscito respaldado pela Lei 1640 de 03 de abril de 1990 e instalado em 01 de janeiro de 1993

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4 MATERIAL E MÉTODO Essa pesquisa utilizou-se de uma abordagem teórico-metodológica alicerçada num tripé argumentado nas correntes da arqueologia urbana, considerando a rápida expansão urbana pela qual passa a região; da arqueologia da paisagem, enquanto método que permite, além de inferir sobre a escala da unidade, propor, para as estruturas localizadas no espaço, um correspondente temporal e, compreender a apropriação do meio a partir das transformações identificadas e da arqueologia pública, que apresenta sua importância diante de um público formado por uma população que tem sua origem em diversas regiões do Brasil, o que por esse motivo, já demanda informações sobre o local. A Arqueologia Pública, ainda tem a função de buscar mobilizar os diversos tipos de recursos voltados a atrair a atenção dos diversos atores que agem nos locais e provocar a discussão com vistas a um plano de gestão do patrimônio cultural arqueológico evidenciado, garantindo sua preservação. Os principais aspectos da metodologia estão compreendidos em quatro processos descritos em métodos e materiais constituídos por um levantamento bibliográfico, entendido como o mapeamento da informação produzida e preservada pelos grupos do passado e contemporâneo, organizando um conjunto de textos históricos e atuais distribuídos em fontes primárias e fontes secundárias que, além de fornecerem o conteúdo para esse trabalho serão disponibilizados ao público interessado, possibilitando novas análises dos materiais levantados e avaliação desta pesquisa. Desta forma, as fontes primárias se caracterizam por textos manuscritos ou em raros casos, datilografados, mapas e plantas topográficas e fotografias, versando e retratando o espaço em referência no período que se estende do século XVIII ao XX, cujo conteúdo informacional, foi selecionado em função do tema e objetivo do estudo. Foram localizadas nas bases de dados da Biblioteca Nacional, do Arquivo Nacional e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro - IHGB, tendo sido consultados também, o Arquivo da Cúria de Nova Iguaçu, o Serviço Geográfico do Exército, o Arquivo Histórico do Exército e o Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro. As fontes secundárias constituem publicações de pesquisadores que atuaram e/ou atuam na área, abordando algum tema relacionado com esta pesquisa e potencializaram, intelectualmente, o estudo com o conhecimento coletivo produzidos, através de um conjunto de artigos e livros que poderão ser consultados por outros que vierem a ter acesso a esse trabalho. Também foram consultados os bancos de dados do IPHAN, do IBGE e do Instituto de Arqueologia Brasileira - IAB. O levantamento bibliográfico muniu o trabalho com uma perspectiva a médio e longo prazos, capaz de gerar novos estudos arqueológicos sobre o território em comento e trazer novas informações sobre o período histórico, até aqui, historiografado em fatos pontuados com datas

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específicas e isoladas sem uma cadeia temporal constituída de causas e consequências. O material bibliográfico apurado foi capaz de mostrar o processo de ocupação do território abrangido pelos limites físicos estabelecidos acima e fornecer base para que se compreenda, em detalhes, etapas que podem ser definidas em período de tempo. Com esse procedimento, foi recuperada uma cartografia histórica com grande conteúdo informativo sobre o espaço, capaz de, por si só, esclarecer dúvidas e fornecer informações sobre a área estudada. Pela cartografia histórica foi possível identificar espaços que, hoje, constituem-se em sítios arqueológicos históricos a serem localizados e fortalecem a hipótese de que muitos caminhos históricos da região em apreço, foram sobrepostos a uma rede viária construída no período pré-colonial. O mapa foi inserido, no estudo, como uma categoria dentro das fontes iconográficas, pois carregam junto de si, além de informações de localização e descrição do meio, razões que passam despercebidas para a maioria dos leitores, mas que, inseridas no processo histórico das relações entre classes socioeconômicas distintas, imprimem e marcam nos sujeitos em cada período histórico a perspectiva da classe dominante (Scalzitti, 2011, p. 62). Os mapas ocupam um importante lugar entre os recursos de que a civilização moderna pode lançar mão (Rosa, 2004, p. 04). A produção cartográfica analisada sob uma ótica histórico-geográfica, apresenta traços culturais oriundos do pensar e do agir de seus criadores (Scalzitti, 2011, p. 60). Gomes (2004, p. 67) ao citar Jacob10 (1998) aborda o mapa, considerando a dimensão antropológica, atenta à especificidade dos contextos culturais, e teórica, que reflita sobre a sua natureza de objeto e os seus poderes intelectuais e imaginários na história da cartografia. Souza (2002, p. 174) considera a cartografia histórica, além de um exercício metodológico interdisciplinar pelo fato da mesma cumprir uma função de relevância comunitária porque aumenta o conhecimento sobre os territórios. Outro documento localizado com potencial de informação foram os inventários, constituídos por intensas demonstrações do tipo de consumo doméstico praticado e as características dos bens pessoais na área de abrangência desse estudo. Ainda no item levantamento, os decretos e leis publicados, principalmente na segunda metade do século XIX e primeira do XX forneceram conhecimentos sobre os limites do espaço de estudo, antes desconhecido das autoridades locais e do público em geral. A entrevista foi outro recurso utilizado para observar a percepção dos envolvidos na preservação do patrimônio arqueológico no espaço estudado, após ser aprovada pelo Comitê de Ética, através da Plataforma Brasil, conforme comprovante nº 045019/2016, versão: 1, CAAE:

10 JACOB, Christian. “Book review of Mapping an empire”. Imago Mundi, v.50, p.213-214, 1998 .

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56219316.1.0000.5582, e aplicada a partir de duas abordagens, onde a primeira foi caracterizada por um conjunto de perguntas feitas, diretamente ao entrevistado, tendo como referência a atuação do mesmo na área ou entorno dela e visou acrescentar a sua visão, em relação à ocupação do espaço, desde o período pré-colonial. A segunda, feita através de um formulário, cuja cópia encontra-se, anexada, tendo sido eleito como público alvo, profissionais que atuaram e/ou atuam na área da educação, cultura e ambiente com exercício no espaço. Essa etapa teve a função de buscar informações sobre como é percebido o patrimônio arqueológico entre esses grupos e de que maneira entendem a preservação do mesmo. As questões se basearam em três itens básicos, com a finalidade de provocar o discurso do entrevistado sobre o patrimônio arqueológico. Foi considerado o princípio, em função do qual, o questionário é um instrumento de pesquisa constituído por uma série de questões que abordam um determinado tema, definiu-se o mesmo como uma técnica de pesquisa a ser utilizada nesse estudo, considerando sua utilidade na obtenção de informações sobre opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas ou ainda para descrever as características e medir determinadas variáveis (VIEIRA, 2009, p. 118). Teve como categoria o patrimônio cultural arqueológico, inserido na perspectiva de patrimônio cultural e optou-se por um conjunto ordenado de questões abertas, apresentado e respondido por escrito. Procurou-se direcionar a informação desejada em perguntas específicas que fossem padrão, porém flexíveis o bastante para serem adequadas a cada entrevistado, visto que o tema abordado tem um amplo alcance de atividades, e buscou a elaboração do mesmo de maneira a minimizar os erros nas respostas. Dessa forma, chegou-se num formulário base, cuja função foi orientar a abordagem a cada entrevistado ou grupo de entrevistados, considerando que, cada um ou tipo, foi questionado na relação que seu trabalho estabelece com o patrimônio arqueológico. Desta forma, um (a) professor (a) de educação física que desenvolve atividades culturais alicerçadas no patrimônio cultural teve sua entrevista executada a partir do formulário padrão, porém reorganizado de forma específica ao trabalho verificado e buscando saber se o patrimônio cultural arqueológico estava presente no planejamento daquelas atividades ou se era usado de forma inconsciente, ou seja, usava o bem sem saber da importância. Se estava disposta ou disposto a incluir o patrimônio em suas atividades. Visto que, as entrevistas não estruturadas, na qual o entrevistador não possui um conjunto especificado de questões e nem as questões são perguntadas numa ordem específica dando, ao mesmo, grande liberdade de ação para incursionar por vários assuntos e testar várias hipóteses durante o curso da entrevista (OLIVEIRA, 2011, p. 36; LAVILLE e DIONNE, 1999, p. 186-188), optou-se por essa forma de aplicação do formulário. As questões abertas foram

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escolhidas por não sugerirem qualquer tipo de resposta e são dadas pelas palavras do respondente e admitirem respostas diferentes entre os pesquisados, em função de sua experiência e opinião e deixar o entrevistado pesquisado à vontade para responder livremente às perguntas (OLIVEIRA, 2011, p. 35-36), o que permitiu conhecer mais a fundo, ações desenvolvidas pelos agentes pesquisados. Embora, possibilite a obtenção de informações de um grande número de pessoas, mesmo que estejam dispersas numa área geográfica extensa, a proposta do questionário foi alcançar, apenas, os profissionais que atuassem na campo educacional, cultural e ambiental, e decidiu-se, apenas direcionar aos que, de alguma forma, abordassem o patrimônio cultural e não teve fim estatístico. O formulário foi elaborado usando palavras simples e comuns que estejam de acordo com o perfil do vocabulário técnico do entrevistado, evitando complexidade e visando conhecer a identidade e o trabalho do entrevistado. Foi pensado um formulário para permitir liberdade ao desenvolvimento da entrevista em cada situação, desta forma, evitando a possibilidade do entrevistado ser influenciado, de maneira consciente ou não, pelo entrevistador. Selecionou-se dois grupos de pesquisa, um formado por profissionais que atuam na área e outra por instituições que agregam as atividades desenvolvidas pelos profissionais. Assim a educação, a cultura e o ambiente foram escolhidas como instituições e os profissionais associados a elas em função da atividade de cada um. A um grupo de entrevistados foi aplicado diretamente e, a outro, indiretamente, através do envio do formulário que foi respondido sem a interferência do entrevistador evitando a exposição do entrevistado à influência das opiniões e intervenções do entrevistador. Mas, ao mesmo tempo, esse aspecto implica a ausência de ajuda do pesquisador para o entendimento das questões. Os resultados preliminares desta abordagem revelaram o grande potencial da mesma e ao mesmo tempo a necessidade de uma análise mais profunda do que a inicialmente prevista. Dessa forma, optou-se por dar continuidade e maior profundidade a esta atividade em outra pesquisa, motivo pelo qual os resultados iniciais serão apenas brevemente comentados. Uma terceira linha de ação foi executada pelas vistorias realizadas no campo que envolveram a visita, descrição e documentação visual, quando "possível", do patrimônio arqueológico e seu entorno. Foram percorridas todas as áreas do território, sendo algumas dificultadas pelas ações do tráfico de drogas, que atuam criando barreiras de entrada. Para a realização deste trabalho, a agricultura, que de um lado, é uma das atividades de risco ao patrimônio arqueológico, de outro, serviu de apoio à sua preservação, quando as técnicas agrícolas puderam ser compartilhadas com a observação arqueológica. Isso foi possível quando percebi que as atividades agrárias poderiam ser utilizadas pelo trabalho arqueológico através de duas maneiras. Uma, através da utilização das intervenções que as técnicas agrícolas fazem no

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solo na execução de seus projetos. A outra, através do acompanhamento do produtor rural no seu dia a dia e a utilização desta relação para o estabelecimento de um diálogo voltado ao patrimônio arqueológico, em muitas vezes, presente, no meio de suas plantações ou quintal de sua casa. Esse discurso favorece a transferência de conhecimento em duas vias, pois leva informação e traz informações importantes sobre sítios arqueológicos, visto que embora não tenham conhecimento técnico sobre o tema, sabem onde se encontram as estruturas. Nesse momento, as histórias de assombração e outras como "eu sei onde tem mandioca com sementes", sempre levam a um sítio arqueológico. No que tange à técnica agrícola, propriamente dita, a primeira atividade que cito é o teste de infiltração da água no solo, cujo propósito é a irrigação agrícola, através de observações feitas para avaliação simples, sem aparelhos. Tal procedimento envolve a abertura de frinchas; pequenos retângulos, de 40/50cm de comprimento, por 15/20 cm de largura, por 20/30 de profundidade, onde é depositada a água e observada a velocidade de infiltração da mesma no solo. Esse recurso, favorece a procura de vestígio arqueológico, uma vez que nesse processo é possível encontrar o estrato contendo o registro arqueológico pela observação do solo a cada 5 cm, por exemplo. Outro procedimento agrícola compatibilizado com a arqueologia é a abertura de covas para cercamento de área, onde são abertos buracos em torno de 15/25 cm de diâmetro conforme o propósito, por 60/70 cm de profundidade, destinado à implantação de mourões. Nessa atividade é verificado cada estrato de 10 cm visualizado, em busca de vestígio arqueológico. Com esse procedimento, foi possível observar manchas isoladas no solo que sugerem alterações pela ação humana em duas formas, uma positiva, onde o tipo de solo é condicionado à edafogênese, ou seja à rocha matriz, com características peculiares distintas do seu entorno, sugerindo uma técnica agrícola pretérita adequada, e outra negativa, onde as características superficiais do solo são claramente atribuídas às técnicas agrícolas inadequadas, resultando em sua destruição. Esse procedimento foi utilizado em três área dentro do espaço do estudo: na Fazenda São Pedro (Nova Iguaçu), Fazenda Normandia (Japeri), no Projeto de Assentamento Mutirão da Fé (Queimados/Japeri) e Fazenda Paes Leme (Japeri/Miguel Pereira), onde o procedimento teve por fim a localização de sítios arqueológicos do período pré-colonial. Foi considerada, também, a abertura de buracos para construções e instalações rurais destinadas às sapatas de concreto que alcançam 1¹/² (um metro e meio) largura por 1¹/² de comprimento por 2 de profundidade, conforme o caso. Nesse momento, tais atividades, são acompanhadas, rigorosamente, buscando identificar estratos de 15/20 cm em busca de vestígios arqueológicos. Considero importante abordar as observações feitas na abertura de cavas para construção de residências e instalações rurais, como currais e pocilgas, entre outras, nos

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municípios citados. Desta forma, a terraplanagem destinada às residências e instalações rurais, são visitadas com o objetivo de verificar a presença de artefatos. Essa prática é utilizada, também, para observar a abertura de estradas e caminhos, seja por parte dos produtores rurais, seja por parte do Serviço Público.

Fotos 1 e 2. Sítio Fazenda Paes Leme I - Abertura de um buraco de sapata para alicerce de casa sobre o sítio, descobriu a cerâmica histórica utilizada na arquitetura local. Fonte: José Mauricio.

Esse tipo de procedimento é comum em sítios arqueológicos históricos, na região, e exibe o grau de destruição do sítio, que trouxe à tona informações importantes sobre a arquitetura histórica local.

Fotos 3- 4- Sítio Fazenda Paes Leme I - Cerâmica descoberta a partir de uma sapata para construção de casa sobre o sítio. Fonte: José Mauricio. O caso acima, foi uma construção no Lote 63 A-B da Fazenda Paes Leme11 onde se encontra o sítio histórico Fazenda Paes Leme I.

11 A Fazenda Paes Leme é um próprio do Estado do Rio de Janeiro, dividida em 68 lotes, destinada ao Programa Nacional de Reforma Agrária e implantação da Agricultura Familiar e, se localiza entre os kilômetros 13 e 19,5 da RJ 125, que liga a Rodovia Presidente Dutra a Miguel Pereira e .

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Outro exemplo dessa natureza pode ser citado pela construção do galpão multiuso da Fazenda Normandia12, destinado à sede daquela unidade fundiária onde se encontram dois sítios arqueológicos.

Foto 5-6 - Construção do Galpão Multi Uso da Fazenda Normandia. Fonte: José Mauricio.

A área de construção do Galpão Normandia foi até a década de 1980, espaço de cultivo do arroz irrigado e o acompanhamento das obras foi feito com o intuito de localizar sítios arqueológicos do período pré colonial. A metodologia de trabalho contou, ainda, um sistema de caminhamento, caracterizado por caminhadas orientadas em faixas lineares de aproximadamente 50 metros de largura (25 metros de raio) para percorrer os espaços com cobertura vegetal intensa, o que dificulta a visualização de estruturas arqueológicas na superfície do terreno. As caminhadas foram usadas também, nas margens dos corpos d`água existentes o que favoreceu a localização de sítios arqueológicos históricos. Um exemplo pode ser citado na Fazenda Paes Leme, que ao vistoriar mananciais hídricos, localizou-se sítios arqueológicos históricos, fora do perímetro da Fazenda, acima da chamada Cota 100 (100 metros de altitude). Outras caminhadas estão previstas subindo o Rio D`Ouro, onde pela observação da cartografia histórica levantada, sítios arqueológicos históricos serão encontrados. Outro recurso utilizado, foi o questionamento junto a produtores rurais sobre alguma "coisa" encontrada no solo, durante o trabalho agrícola. Essa prática resultou na localização de uma localidade chamada Santa Tereza, e um marco topográfico, retirado durante os trabalhos de implantação das Linhas de Transmissão Elétrica de Furnas, quando atuou na região. Esse exemplo foi acontecido no Lote 46 A-B, localizado na Estrada Jaceruba/Japeri, parcela agrária

12 A Fazenda Normandia é um próprio do Estado do Rio de Janeiro, dividida em 27 lotes, destinada ao Programa Nacional de Reforma Agrária e implantação da Agricultura Familiar, localizada na Estrada das Jaqueiras, Lote 15, Santa Inês, Japeri, RJ. Foi atravessada pelo Arco Metropolitano em 4 de seus lotes, reduzindo seu tamanho e área de cultivo e confronta-se com o Rio São Pedro até a confluência com o Rio Guandu.

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da Fazenda São Pedro, Município de Nova Iguaçu. Essa localidade, ainda não teve um registro arqueológico associado a ela. As caminhadas orientadas, definidas a partir de hipótese elaboradas, com referência na previsão da ocupação sociocultural local, considerando um marco histórico, pode ser exemplificadas pela sesmaria doada a Inacio Dias Velho em 1743, e que tinha o Caminho Novo do Tinguá como testada a Leste, ainda não resultaram na localização da primeira construção edificada em Japeri. No entanto é sugerido que tal construção, daquela unidade fundiária, esteja nas margens do Caminho das Minas, próximo ao Rio Santo Antonio. A área é densamente coberta com vegetação tropical e requer incursões intensas de no mínimo três dias no interior da floresta, o que para o momento, não foi possível executar. A presença de sítios arqueológicos nas vertentes dos rios São Pedro e Santana em direção ao Guandu, confirmam essa ideia. A cartografia histórica, encontrada no levantamento bibliográfico, tem sido outra aliada na localização de sítios arqueológicos históricos. Através de caminhadas orientadas a partir daquela documentação, foi possível identificar a ocupação do espaço em áreas, antes desconsideradas no campo arqueológico e foram testadas em dois lugares, indicados na "Planta Corográfica de Huma Parte da Provincia do Rio de Janeiro na qual se inclue a Imperial Fazenda de Santa cruz de 1848". Uma, em Campo Alegre, Queimados/Nova Iguaçu e, outra no Rio Santo Antonio, Japeri. Campo Alegre é situado na Bacia do Rio Guandu e conforme a planta histórica, em referência, se apresenta, em uma parte, com terras baixas, inundáveis e outra parte, mais elevada em colinas em forma de "meia laranja" onde existiu um engenho com esse nome. Até o momento não foi possível localizar tal estrutura arqueológica em suas terras que formam um projeto de assentamento agrário, desde 1984, voltado ao Programa Nacional de Reforma Agrária, que já teve uma área com 3000 ha. O local sofre uma grande pressão da urbanização manifestada pela criação de espaços de condomínios residencias de diversos tipos, condomínio industrial, no Município de Queimados e área de lazer. Em várias incursões de campo, tentou-se localizar as ruínas do Engenho Campo Alegre, mas até o momento não foi possível. A maioria dos moradores do assentamento rural são recentes e não portam informações antigas sobre a área, o que dificulta a localização. Apontam para uma olaria, como sendo uma construção antiga, mas trata-se de uma área de difícil acesso, considerando o alto grau de violência provocado por ações do tráfico de drogas. O poder político local faz pressão para a retirada de moradores visando a implantação de indústrias. Cumpre lembrar que essa informação sobre a área é de grande valia, principalmente no processo de regularização fundiária do Assentamento Rural de Campo Alegre, conhecido como Mutirão de Campo Alegre, onde o Estado do Rio de Janeiro,

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considera o loteamento da década de 1940 como referência documental para a unidade agrária. O loteamento não mostra a cadeia de propriedade das terras no tempo. Outra referência importante visto na cartografia histórica é a indicação do Morgado do Marapicu, facilitando um local de busca, porém trata-se de uma área que apresenta dificuldades para as caminhadas em função dos motivos já apresentados.

Figura 9 - Planta Corographica da Provincia do rio de Janeiro - Imperial Fazenda de Santa Cruz . Biblioteca nacional - Setor de Cartografia - ARC 025, 07, 16. Fonte: Amauri Telles.

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5 O PROCESSO DE OCUPAÇÃO DO ESPAÇO

Foto 7- Igreja de Nossa Senhora da Piedade. Autor desconhecido e sem referência de data. Sugiro que sua construção tenha se dado sobre uma aldeia. Fonte: Paróquia de Nossa Senhora da Conceição do Tinguá e Amigos do Patrimônio.

A História de ocupação do espaço em destaque está diretamente ligada à ocupação do território sobre o qual se criou o Brasil, especificamente, à faixa litorânea. Trata-se de um ambiente tropical formado sobre um trecho de uma extensa e alongada baixada litorânea e de amplas superfícies aplainadas apresentando áreas de relevo mais movimentado cortada por rios e limitadas por serras íngremes que, por si só, formam uma paisagem que deve ser levada em consideração no estudo das ocupações na área do Rio de Janeiro (BELTRÃO, 2ª ed. 2015, p. 65 citando MAGALHÕES, 1974).

Esse espaço está inserido na Planície Fluviomarinha (Baixada) que compõe o litoral fluminense, palco de diversas ocorrências culturais por milhares de anos. Essa planície tem um ecossistema diversificado, onde a restinga e o mangue, são exaltados em função da importância que tiveram para as populações do período pré-colonial. A restinga é uma planície arenosa costeira, de origem marinha, incluindo a praia, cordões arenosos, depressões entre-cordões, dunas e margem de lagunas, com vegetação adaptada às condições ambientais (CAMPOS, 2017, p. 01). Com feição linear subparalela à linha de praia, formada pelo acúmulo de sedimentos decorrente da ação de processos marinhos, constitui-se num tipo de barreira costeira que se restringe apenas ao cordão litorâneo que fecha parcialmente as embocaduras de rios, as angras, baías ou pequenas lagunas. Ocorre nas planícies litorâneas de contorno irregular, nas proximidades de desembocaduras de rios e falésias que possam fornecer sedimentos arenosos (IBGE, Manual Técnico de Geomorfologia, 2009).

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Esse meio favorece um aspecto importante no cotidiano de grupos do período pré- colonial referente à obtenção de sua dieta alimentar. Para Prous (1992, p. 199): As culturas litorâneas, apresentam uma certa unidade em razão da adaptação a um meio ambiente muito particular e do aparente isolamento em relação às terras interioranas, das quais são separadas por uma barreira montanhosa quase contínua. Em consequência de uma geologia e de uma ecologia homogêneas, a economia e a tecnologia básicas evidenciam numerosos pontos de convergência, o que não impede que fácies culturais diversas tenham se desenvolvido no espaço e no tempo.

A ocupação foi iniciada pelos sambaquieiros que costumavam se instalar na restinga, nas proximidades de outras formações vegetais, especialmente o mangue e as florestas costeiras ( SCHEEL-YBERT, 2003, p. 02). O mangue esta localizado na sua linha da costa, que sobe alguns kilômetros desde a boca dos rios até a altura em que as águas salgadas do mar deixam de invadir as águas doces dos rios (Heredia e Beltrão, 1979, p. 04). É o principal ecossistema da fisiografia regional onde assentam os sambaquis. O Manguezal é um ecossistema costeiro, de transição entre os ambientes terrestres e marinho, sujeito ao regime de marés. Pode ser definido como exposto em "Registro de mangue em um sambaqui de pequeno porte do litoral sul de Santa Catarina, Brasil, a cerca de 4.900 anos cal BP, e considerações sobre o processo de ocupação do sítio Encantada III" (SCHEEL-YBERT, BIANCHINI e DE BLASIS, 2009, p. 104; e SCHAEFFER-NOVELLI, 2000, p. 562): Uma floresta de árvores xerófilas adaptadas a um substrato lamoso constantemente úmido, pouco oxigenado, com forte taxa de salinidade e periodicamente inundado, que ocorrem em regiões costeiras abrigadas e apresenta condições propícias para alimentação, proteção e reprodução de muitas espécies animais, sendo justamente isto o que o torna tão importante para diversas populações humanas. Atualmente os manguezais se distribuem essencialmente na zona intertropical. Nas costas orientais da América, sua área de ocorrência se estende das ilhas Bermudas (32º 25' de latitude norte) a Laguna, no Estado de Santa Catarina (28º 30' de latitude sul). As principais espécies de mangue pertencem aos gêneros Rhizophora, Avicennia e Laguncularia.

Se o litoral do Rio de Janeiro foi ocupado pelos sambaquieiros há milhares de anos, com datas que remontam há 4.250 anos BP (GASPAR; KLOKLER; SCHEEL-YBERT; BIANCHINI, 2013 p. 11, citando PINTO, 2009) para o Sítio Amourins, localizado a 5 km do fundo Baia da Guanabara, na Fazenda Santa Rita de Cássia, na margem esquerda do rio Guapimirim (SOUZA, LIRYO, BIANCHINI e GASPAR, 2012, p. 86), ainda há que se estabelecer uma data para o início da ocupação da região fisiográfica referenciada no polígono formado pelos rios Iguaçu, Santana, Guandu e os maciços do Tinguá e Mendanha. Não é minha pretensão discutir o sambaqui, mas reconhecê-lo, enquanto um bem patrimonial arqueológico e descrevê-lo com base nos resultados das pesquisas que vêm sendo feitas, e que trazem cada vez mais, informações que tornam esse patrimônio comparável a todos os outros existentes no mundo, até mesmo com as

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pirâmides do Egito. Entre os sambaquis próximos, e pesquisados recentemente, retorno ao sambaqui do Amourins, cujo estudo inicial se deu final da década de 1970 e à época foi interpretado como um acúmulo de refugos alimentícios, tendo recebido pouca atenção na associação entre sepultamentos e artefatos ósseos e líticos (GASPAR, KLOKLER, SCHEEL- YBERT e BIANCHINI, 2013, p.07). Em 2010 iniciou novas pesquisas de campo, comparando os resultados com os dados levantados em 1980, percebendo a ocorrência de um padrão construtivo relacionado ao tratamento dos mortos que confere grande semelhança com os monumentais sambaquis do sul do Brasil (GASPAR, KLOKLER, SCHEEL-YBERT e BIANCHINI, 2013, p.17). O estudo do sambaqui do Amourins integra o projeto de pesquisa "Sambaquis médios, grandes e monumentais: estudo sobre dimensões dos sítios arqueológicos e seu significado social" - Sambaquis MGM, (SOUZA; LIRYO; BIANCHINI e GASPAR, 2012, p. 86). Outros sítios do tipo sambaqui na região do recôncavo da Baia da Guanabara já vêm sendo estudados desde as décadas de 1980 e 1990, como o Sernambetiba, Vale das Pedrinha, Arapuan e Saracuruna (SOUZA, LIRYO, BIANCHINI e GASPAR, 2012, p. 86). Trata-se de sítios vizinhos à área desse estudo que apresenta, até agora, apenas um sambaqui, identificado como fluvial, considerando que estes sítios, podem ocorrer, também, nas margens de rios, embora de proporções menores, compostos por conchas de gastrópodes terrestres do gênero Megalobulimus spp. (PLENS, 2013, p. 03-04). Temos um localizado em Belford Roxo, pesquisado na década de 1970, porém, a exemplo do Amourins, precisa ser pesquisado com a ótica que se tem hoje sobre esses monumentos arqueológicos. Não descarto a possibilidade de ocupação do espaço por parte desses povos caçadores- coletores-pescadores, porém a depredação ambiental provocada pela urbanização da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, sobretudo, nas últimas décadas, destruiu grandes extensões da camada superficial e sub superficial do solo, destinadas à construção civil, o que pode ter levado à destruição desses sítios arqueológicos. Sem dizer da própria ação de ocupação do espaço pelos europeus a partir do período histórico. Acredito que a intensificação dos estudos na área aqui tratada, será capaz de produzir maiores informações sobre o período pré-colonial nesse espaço físico. Silveira (2001, p. 6), chama a atenção sobre a preservação desse patrimônio arqueológico, no Rio de Janeiro, onde a especulação imobiliária tem sido uma das principais causas de destruição dos sítios arqueológicos, principalmente por se situarem no litoral com forte apelo turístico. A região não guarda, praticamente nada, na memória de sua população sobre esse primeiro processo de apropriação do meio por parte dos grupos sociais. Os sambaquis não são conhecidos da grande maioria da população que não tem como dimensionar seu valor em função desse desconhecimento. Por outro lado, as pesquisas têm mostrado que a vegetação teve peso,

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muito importante, na economia daqueles povos, tendo sido a coleta de produtos vegetais muito mais importante para a alimentação dos sambaquieiros do que o considerado até o final da década de 1990 (SCHEEL-YBERT, 1999, p. 56), o que considero, em função da proximidade, o espaço compreendido pelos rios Iguaçu, Santana e Guandu e os maciços do Tinguá e Mendanha, no mínimo, como palco de exploração vegetal por aquela gente.

Desde o final do século XIX os sambaquis têm despertado grande interesse e gerado muita discussão sobre seu papel, como indicadores de flutuações do nível médio do mar, pois seu posicionamento no litoral, potencialmente, permitiria uma correlação com antigas linhas de costa, de onde foram coletados os moluscos que os compões (SCHEEL-YBERT; AFONSO; BARBOSA-GUIMARÃES; GASPAR; YBERT, 2009, p. 3). O meio ambiente no qual viviam as populações pré-históricas e sua dieta sempre estiveram entre as principais preocupações dos arqueólogos, mas a má conservação dos restos vegetais na maioria dos sítios arqueológicos não permitia uma abordagem direta destes aspectos (SCHEEL-YBERT, 2003, p. 01). Os homens dos sambaquis, do mesmo modo que outros povos caçadores-coletores, viveram em comunhão com seu ambiente e possuíam uma percepção aguda (e vital) dos recursos naturais em uma interação dinâmica com seu meio (FIGUTI, 1993, p. 67). No Brasil os vestígios vegetais eram pouco considerados junto à pesquisa arqueológica, até 1990:

A possibilidade de uso dos recursos vegetais no cotidiano de grupos pré-históricos era deduzida indiretamente de inferências baseadas em artefatos líticos funcionalmente associados ao processamento de vegetais (BIANCHINI, SCHEEL-YBERT E GASPAR, 2007, p. 224).

Coquinhos, sementes e fragmentos de tubérculos estão entre os vestígios encontrados. Todos os tubérculos são de monocotiledôneas e embora não sejam abundantes, ocorrem em todos os sítios pesquisados (SCHEEL-YBERT; EGGERS; WESOLOWSKI; PETRONILHO; BOYADJIAN; DEBLASIS; BARBOSA-GUIMARÃES; GASPAR, 2003, p. 119). Conforme SCHEEL-YBERT (2003, p. 04, 05): A grande diversidade de tubérculos encontrada, os solos pobres da restinga e a ausência de indícios claros da existência de plantas domesticadas nos incitam a excluir a hipótese de uma agricultura bem estabelecida na sociedade sambaquieira. No entanto, os dados atuais são coerentes com a prática de manejo ou de horticultura. A verificação destas hipóteses depende de um maior investimento em pesquisas arqueobotânicas. Somente um aprofundamento das análises antracológicas e de macro-restos vegetais, e especialmente o estudo de grãos de amido e fitólitos, poderia fornecer dados suficientes para esclarecer esta questão.

É cada vez mais admitido que as plantas tiveram grande importância na dieta dos sambaquieiros, (SCHEEL-YBERT, 2013, p.64-65), também o uso de madeira, seja para as atividades cotidianas, seja para o fogo, considerando a importância que esse elemento tinha para esses povos.

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A principal atividade de subsistência dos sambaquieiros era a pesca, complementada pela coleta de vegetais e moluscos, sendo o cuidado com os mortos um aspecto da vida social de suma importância (GASPAR; BUARQUE; CORDEIRO E ESCÓRCIO, 2007, p. 170). A Antracologia é a especialidade científica que tem como objeto de estudo os restos vegetais carbonizados e conservados no sedimento, cuja importância se faz pela capacidade de reconstituição da paisagem do entorno de áreas de habitação, do paleoambiente e da área de captação de recursos (SCHEEL-YBERT, 2013, p. 195). Conforme diz SCHEEL-YBERT (1999, p. 43): A antracologia foi aplicada pela primeira vez à arqueologia brasileira no estudo de sete sambaquis do litoral sudeste do Estado do Rio de Janeiro. Nossos objetivos principais foram: 1) a reconstituição da evolução paleoambiental e paleoclimática da região e a avaliação das interrelações entre ocupação humana e meio ambiente, procurando uma eventual influência antrópica sobre o meio e/ou uma possível influência do ambiente sobre populações; e 2) a obtenção de informações paleoetnológicas referentes à utilização de vegetais pelos sambaquieiros.

Pelos estudos antracológicos desenvolvidos no litoral brasileiro, em especial no fluminense, concluo que a apropriação do meio pelas populações humanas decorre de longas datas e que o domínio do cultivo não se deu na ruptura de um sistema sociocultural por outro, mas através de um aprendizado conquistado durante milhares de anos e transferido entre as gerações e populações. Assim, as pesquisas que vêm sendo executadas na faixa de terra litorânea podem colaborar na elaboração de hipóteses para o espaço territorial deste estudo. Considerando a bibliografia lida sobre o tema, posso dizer que o sambaqui é um monumento arqueológico, cuja base construtiva é a concha de moluscos, o que implica no fato de que as diversas camadas que o compõem, representam, não apenas ocupações sucessivas do local (GASPAR; DE BLASIS, 1992, p. 813), que tradicionalmente foram considerados vestígios da alimentação de grupos humanos, mas que, atualmente, são considerados edificações intencionalmente construídas e de forma monumental. Tratam-se de estruturas coliniformes, apresentando-se, semi-esféricos, cônicos, alongados, achatados (LIMA, 1999/2000, p. 271), de dimensões variadas, tendo em média de dois a três metros de altura mas, podendo alcançar até trinta metros de altura por 400 de comprimento (Silveira, 2001, p.05), cujo sedimento apresenta mais de 80 por cento de seu conteúdo composto por conchas de moluscos bivalves (FIGUTI, 1993, p. 67, citando GARCIA, 1972), podendo ter areia ou terra em sua composição. A origem da palavra é tupi-guarani: tamba - conchas e qui - monte. Tem como sinônimo o termo Sernambi, que significa, segundo o autor, casqueiro, ostreiro, (SOUZA, 1997).

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Barbosa (2000, p. 205) considerou que os grupos de caçadores-coletores-pescadores tivessem sua própria maneira de pensar e ordenar o espaço desde o residencial até o ambiental, o que para a autora, seria um marcador cultural, distinguindo-os enquanto sistema sociocultural.

Durante tempo foram considerados similares aos sítios dinamarqueses denominados kökkenmöddingers, tidos, inicialmente, como formados naturalmente, mas que após escavações ficou constatada a ação antrópica naquele tipo de sítio, o que teria levado Peter Lund, no Brasil, declarar evidente que as acumulações de conchas existentes no litoral brasileiro serem produzidos pela presença humana ( LANGER, 2001, p. 36).

Até as décadas de 1970 e 1980 eram interpretados como consequência do descarte alimentar, particularmente, conchas e os povos que os formavam tratados como grupos coletores de moluscos, pescadores e caçadores secundários que formaram, através do tempo, montículos com os refugos de comida, particularmente, conchas (HEREDIA e BELTRÃO, 1979, p. 01). Nessa concepção de causalidade, reside a ideia de desordem espacial, de empilhamento a partir de um processo de descarte, onde sambaqui é sinônimo de lixo, primordialmente de rejeito de restos alimentares, sujo, desordenado e unifuncional (GUIMARÃES, 2003, p. 03). Posteriormente, foram utilizadas novas abordagens embasadas por teorias provenientes da Ecologia Cultural e da Antropologia que possibilitaram a elaboração de outros modelos interpretativos para entender o povoamento do litoral brasileiro (TENÓRIO, 2004, p. 169). Os sambaquis passam a ser interpretados não mais como, apenas acúmulo casual de restos arqueológicos, mas como resultado de um processo intencional de construção de uma estrutura, para a qual podemos perceber múltiplos usos (GASPAR; DE BLASIS, 1992, p. 811). A ideia de que o sítio seja consequência acidental de atividade humana sem considerá-lo em si mesmo, como produto da ação cultural, foi descartada e o sambaqui passa a ser pensado enquanto um artefato, construído paulatinamente pelos indivíduos que o ocuparam (GASPAR e DE BLASIS, 1992, p. 813). Para Silveira (2001, p. 5), a cultura sambaquieira no Brasil não se constitui em fenômeno isolado, visto que testemunhos semelhantes são encontrados também em diversas partes do mundo como Europa, Ásia, América, África e Austrália. O projeto de construção de sambaquis estava intrinsecamente relacionado com o ritual funerário. Para o mortos foi criado local especial que se destaca na paisagem e distingue de todos os outros (GASPAR; BUARQUE; CORDEIRO E ESCÓRCIO, 2007, p. 177). Segundo Mendonça (2010, p. 163), baseado em evidências arqueológicas: Os montes de conchas brasileiros (sambaquis) foram, geralmente pensados para representar uma transição demográfica que se seguiu à expansão da população pescadora-coletora ao longo da costa, depois do Holoceno Médio, movendo-se em direção a uma pré-agricultura de subsistência e mais sedentária. Segundo a autora, alternativamente, isto pode ser considerado como o resultado, tanto do aumento da visibilidade proporcionada por este tipo de montículo de sepultamento, como pela preservação proporcionada pela matriz das conchas.

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O sambaqui representa uma tradição cultural pré-histórica bem sucedida da costa sul- sudeste brasileira que durou milênios (MENDONÇA, 2010, p. 163). A prática de sepultar o morto entre restos de conchas e cinzas, ajuda a preservação de centenas de esqueletos humanos. Segundo Madu Gaspar (2004, p.p. 09-11):

Os sambaquis são construídos basicamente com restos faunísticos como conchas, caranguejos, ouriços, ossos de peixe e mamíferos e artefatos diversos feitos de ossos, pedras e conchas, como pontas de flechas, dentes perfurados machados de pedra, martelos, lascas de pedras, entre outros objetos feitos para a facilitação do cotidiano dos grupos. Ocorrem também frutos e sementes, tipo coquinhos, sendo que determinadas áreas dos sítios foram espaços dedicados ao ritual funerário e lá foram sepultados homens, mulheres e crianças de diferentes idades. Contam, segundo a autora, com inúmeros artefatos de pedra e de osso, marcas de estacas e manchas de fogueira, que compõem uma intricada estratigrafia. Os restos que mais sobressaem na composição dos sambaquis são as conchas de berbigão ou vôngole, cujo nome científico Anomalocardia brasiliana, diferentes espécies de ostras, a almejoa ou Lucina pectinata e os mariscos. Os Sambaquis são as evidência do modo de vida da população caçadora, coletora e pescadora que os produziu. Os sambaquieiros foram o grupo que deixou a maior quantidade e diversidade de testemunhos de sua permanência no território brasileiro. Os materiais estão bem preservados porque, diferentemente de alguns grupos que estavam sempre mudando de um lugar para outro ou limpando, sistematicamente o local de moradia, os sambaquieiros habitavam durante muito tempo o mesmo local e tinham o hábito de acumular os restos faunísticos.

Os estudos sobre a morfologia craniana, desenvolvida entre os anos de 1960 e 1980 do século passado, foram responsáveis pelos principais resultados na reconstrução dos sambaquis e na reconstituição física dos povos sambaquieiros (CARVALHO, LESSA, SOUZA, 2009, p. 16). Os homens e as mulheres sambaquieiros foram baixos, mas com braços e penas fortes e inserções musculares marcadas. As pesquisas mostram que os homens eram, pelo menos, sete cm mais altos que as mulheres (CARVALHO, LESSA, SOUZA, 2009, p. 16). Mudanças na estratigrafia de alguns sambaquis, com a presença de matriz terrosa, de cor marrom escura e poucas conchas de moluscos que se sobrepõe a uma matriz conchífera começam a ser observadas por vários pesquisadores (GASPAR; BUARQUE; CORDEIRO e ESCÓRCIO, 2007, p. 173). Segundo os autores, por volta de 2000 anos BP, a mudança no hábito de construir sambaquis começam a ocorrer, período em que uma ebulição cultural ocorreu na região Amazônica, o que teria levado a deslocamentos populacionais na Amazônia e Brasil Central, ocasionando um rearranjo dos grupos sociais no território que veio a ser o Brasil, o que trouxe forte impacto na vida dos sambaquieiros (GASPAR; BUARQUE; CORDEIRO e ESCÓRCIO, 2007, p. 171, 173). O espaço territorial formado pelo litoral fluminense, foi, então, ocupado e dominado pelos Tupi e Macro-Jê (Idem, p. 169). Segundo Gaspar; Buarque; Cordeiro e Escórcio, (2007, p. 170): O Rio Paraíba do Sul, uma das rotas de acesso privilegiadas, posteriormente, pelos ceramistas para sua dispersão pelo território fluminense, parece ter funcionado como uma barreira natural para os caçadores que iniciaram a colonização do Brasil, embora

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haja cadastro de alguns poucos sítios líticos que ainda não foram objeto de escavação e que podem estar associados aos caçadores ou aos grupos ceramistas.

O Tronco Tupi é eminentemente amazônico, estando nove das famílias integrantes localizadas na Amazônia, ao sul do Rio Amazonas e apenas a Família Tupi Guarani, estende-se para fora desses limites [...], alcançando a costa brasileira (CORRÊA-DA-SILVA, 2010, p.63) e outras áreas. O avanço das pesquisas vem demonstrando uma nova realidade para o período pré colonial brasileiro, visto que Buarque (2000, p.312), atentou para o número limitado de datações radiocarbônicas que impedia que tivéssemos dados mais consistentes quanto às primeiras manifestações no atual Estado do Rio de Janeiro. Uma datação de Carbono 14, conseguida a partir de uma mostra de carvão, para a Aldeia da subtradição Tupinambá de Morro Grande13, deu um resultado de 1.740 ± 90 anos AP. Porém, em 2008, a mesma autora publica em conjunto com outros, novas datações para o mesmo sítio, com alcance de 3000 BP (SCHEEL-YBERT; MACARIO; BUARQUE; ANJOS; BEAUCLAIR, 2008, p. 765), período em que o Sítio Amourins estava em atividade, conforme datação radiocarbônica calibrada feito por Pinto em 2009 (4250-3970) e Mendonça e Godoy em 2004 (3610-3260), (GASPAR, KLOKLER, SCHEEL-YBERT e BIANCHINI, 2013, p.11), isso mostra a ocupação do espaço litorâneo por um outro sistema sociocultural que fez sua manifestação em todos os aspectos inerentes a uma sociedade, dentro do território. Os Tupinambá eram populações agricultoras e ceramistas (GASPAR; BUARQUE; CORDEIRO e ESCÓRCIO, 2007, p. 181) e filiada ao Tronco linguístico Tupi, conforme classificação proposta por Rodrigues (RODRIGUES, 1964 p.p. 101- 103). O modo de ser Tupi baseia-se numa organização social flexível, um poder político baseado no prestígio e na importância religiosa do indivíduo, e que compartilham um mundo espiritual e ritual onde o xamanismo, a guerra e o canibalismo são noções extremamente importantes para a construção de sua identidade.14 A guerra, o canibalismo e características tecnológicas inovadoras parecem ter sido elementos decisivos na invasão e controle do território sambaquieiro (Gaspar; Buarque; Cordeiro e Escórcio, 2007, p. 175, 181, citando Silva, 2004).

A ocupação Tupiguarani foi extremamente densa em certas regiões, como a Baia de Guanabara, de onde tinham expulsado ou absorvido as populações anteriores (PROUS, 2007, cap. 5, p. 98). A guerra, a captura do inimigo e o posterior festim canibal não se davam em virtude de saciar a fome, mas para vingar os familiares e amigos mortos por outro grupo (GASPAR; BUARQUE; CORDEIRO e ESCÓRCIO, 2007, p. 179). No Programa Funerário dos

13 O sítio arqueológico Morro Grande esta situado em , Região dos Lagos do Estado do Rio de Janeiro.

9SILVA, Andréa Fabíola; NEVES, Eduardo Góes; BLASIS, Paulo Antonio Dantas de; et al. Brasil Tupi: beleza, rigor e dignidade : a cultura material tupi no tempo e no espaço [catálogo de exposição]. [S.l: s.n.], 2004.

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Tupinambá em Araruama, RJ - Sítio Bananeiras (BUARQUE, CARVALHO-RODRIGUES e SILVA, 2003, p. 40) descrevem que: A principal evidência arqueológica desse grupo é uma cerâmica com decoração geométrica e policrômica, ou com motivos plásticos, com variados tipos de tigelas e urnas que serviam a funções cotidianas coletivas, como preparo e armazenagem de alimentos, estando vinculadas também a atividades específicas relacionadas a rituais ou troca de bens.

Cabe lembrar que, embora, constituída de elementos naturais, a cerâmica, exige, para o seu fabrico, a existência de argila apropriadas e elementos para, nelas, serem adicionados, com vistas a aumentar a resistência ou a plasticidade (ONDEMAR DIAS, 1998, p. 418). No entanto, se as datações já alcançam 3000 anos para assentamentos tupi guarani, a defesa de que essas mudanças iniciaram no começo da era cristã, precisa ser revista. A ocupação do território dos pescadores-coletores-caçadores por volta do início da era Cristã, a diferença tecnológica dos agricultores-ceramistas, a organização social destes grupos com forte valorização da guerra, a prática do canibalismo e o modo de vida dos Sambaquieiros, que não parece ter privilegiado o combate corporal para resolver os seus conflitos, são aspectos que formaram um contexto social que tornou inviável a manutenção do hábito de construir sambaquis (GASPAR; BUARQUE; CORDEIRO e ESCÓRCIO, 2007, p. 182).

Os Tupinambá e Goitacá apoiavam a sua expansão na conquista do "outro" sendo a guerra e o canibalismo a melhor expressão desse modo de vida [...] (GASPAR; BUARQUE; CORDEIRO E ESCÓRCIO, 2007, p. 184). O Professor Ondemar Dias Junior (12-07-2017), em exposição pessoal, atentou, para o fato de que os Goitacá não faziam guerra, mas a usavam para a defesa do território localizado no norte fluminense. No entanto ao falar de canibalismo, entre os Tupinambá, é importante diferenciar o tratamento dado aos de dentro do grupo, daquele oferecido ao inimigo, cujo processo se daria no domínio simbólico, ou seja, a ingestão do inimigo (GASPAR et al., 2007, p. 184). Em "Evidências Arqueológicas para a Origem dos Tupi- Guarani no Leste da Amazônia, Almeida e Neves (2015, p. 503), abordando a citação de Métraux15, expõem que a economia desse grupo era baseada na agricultura e que a mandioca era a principal planta cultivada. Chamando a atenção para os grandes pratos planos para assar mandioca de base diferente das demais que apresentam essa parte do vasilhame de forma convexa ou ovalada. A mandioca, Manihot esculenta Crantz, é cultivada em todo o território nacional (EMBRAPA, 2016) e, é a quarta mais importante cultura de produção de alimentos do mundo e a principal na região tropical, sendo consumida por mais de 800 milhões de pessoas, segundo a FAO (NASSAR, 2006, p. 31). Constitui-se na principal cultura agrícola explorada no espaço estudado, com forte peso na economia doméstica, seguida pelo cultivo da batata doce, do

15 MÉTRAUX, Alfred. Migration historiques des Tupi-Guarani. Journal de la Société des Américanistes, nº 19, p. 1- 45 1927.

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inhame e do quiabo, herdado dos africanos trazidos forçados e submetidos à escravidão. Estudos apontam a origem da mandioca na Região Amazônica brasileira. A domesticação de plantas e animais constituiu um dos mais importantes passos dados pela humanidade (DIAS JUNIOR, 1998, p. 411). Os Tupinambá, também se especificavam no tratamento aos mortos, sempre associado, embora de formas diferentes, à cerâmica (RIZZARDO e SCHMITZ, 2015p. 140). A habitação se caracterizava, conforme bibliografia histórica, consultada, especialmente, Staden (1557, p. 135-139), pela edificação de uma cabana de mais ou menos 14 pés de altura (4 metros) por mais ou menos 150 pés de comprimento, (45,72 metros), conforme o número de pessoas, possui três portas, uma em cada extremidade, coberta com folhas de palmeiras e não apresenta divisão interna. Essas cabanas, num número, raramente, superior a sete, formam uma aldeia. Entre essa deixam pátio livre, fazem em volta das choças (cabanas) uma cerca que funciona como fortificação. Tal cerca é feita de estacas de tronco de palmeiras rachados, cada estaca tem mais ou menos uma braça e meia de altura. É tão cerrado (a cerca) que nenhuma flecha pode atravessar. Porém aí existem pequenos buracos por onde atiram. Em torno dessa estacada existe ainda outra cerca. Uma paliçada de paus grossos e compridos. Não os colocam, entretanto, junto um do outro, mas a uma distância pela qual não pode passar um homem. Pesquisas feitas pelo Instituto de Arqueologia Brasileira, entre 2007 e 2016, sob a coordenação do Professor Ondemar Dias, vem mostrando que a ocupação do território estudado, também se deu pelo Rio Guandu, provavelmente através de sua vinculação à Bacia do Rio Paraíba do Sul. Do exposto, defendo que a ocupação do território da chamada Baixada Fluminense, onde está incluída a área deste estudo, se deu pela apropriação e adequação ao ambiente natural, desde a chegada dos primeiros povos, o que certamente levou à construção de paisagens que foram sobrepostas por outros grupos que continuaram a se apropriar do ambiente e convertê-lo em meio de vivência. A área de estudo tem um potencial arqueológico representado pela existência de estruturas arquitetônicas do passado local que, só no período colonial, representa uma grandeza quantitativa que certamente resultará em outra, de mesma intensidade, qualitativa. Esse propósito poderá constituir novas etapas de pesquisas, focalizadas em um espaço e tempo específicos, o que pode ser exemplificado pela ideia de um levantamento arqueológico intenso na sesmaria doada a Ignácio Dias Velho em 1743. Analisando os sítios arqueológicos cadastrados no IPHAN, os sítios que estão para ser cadastrados e os que poderão ser localizados a partir da documentação histórica levantada, tem- se uma visão do processo de apropriação do meio e adaptação, pelas sociedades, ao ambiente regional, sobretudo, no período histórico, provocando o surgimento dos traços de várias culturas

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que, fizeram chegar, até os dias atuais, sua produção material que precisa ser resgatada, interpretada e visualizada entre a população que ocupa, de forma complexa, o local iniciado há milhares de anos atrás, conforme tem mostrada as pesquisa atuais. Os trabalhos bibliográficos que fazem referência ao desenvolvimento local, no período colonial, partem de três etapas econômicas, constituídas pela cana, café e laranja e restritas a documentos que tratam o assunto de forma genérica, omitindo as diversas maneiras de manifestações socioculturais, dessas etapas no espaço e no tempo, como pode ser visto em Waldick Pereira, em seu trabalho intitulado Cana, Café e Laranja de 1977. Nesses trabalhos, pouco ou nada falam sobre o tempo pré-colonial, deixando de fora, processos de ocupação, que dominaram o espaço por milhares de anos. Em que pese a importância dos trabalhos, a ênfase é dada a uma elite que não representa a grande maioria da população que agia sobre os lugares, criando os testemunhos das atividades cotidianas que ocasionaram os artefatos e os sítios arqueológicos, que nos dias atuais, buscamos descobrir, no espaço descrito, e que muitos, já foram destruídos e, outros encontram-se, ameaçados. Esse vasto acervo forma um patrimônio que precisa ser localizado, identificado e reconhecido por moradores e autoridades, com vistas à sua valorização, estabelecendo um sistema eficaz de proteção coletiva desse conjunto de bens culturais, de excepcional valor local, regional e, até nacional, organizado de modo permanente e segundo métodos científicos e modernos, conforme estabelece a Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, organizada pela Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura, reunida em Paris, em 17 de outubro de 1972. Dando sequência à ocupação, vieram os europeus, como invasores do território que já possuía grupos sociais organizados e trouxeram a seguir, de forma forçada, os africanos, que embora contrariados, se adaptaram ao espaço e agiram sobre ele, introduzindo um novo cenário à paisagem sociocultural até então formada pelos nativos que moldaram o ambiente natural à sua própria ideologia. O Professor Ondemar Dias Jr. (2014), em entrevista pessoal, informou que trabalhos de salvamento na área do Arco Metropolitano, recuperaram material cerâmico no território japeriense que remontam à chegada dos europeus no Brasil. Acervo que ainda está em análise e que merecem ser pesquisados intensivamente, disse. A partir da década de 1960 foram realizadas pesquisas na região dando início ao desvendamento das épocas Pré-Colonial e Histórica colonial. Após 1986, com a edição da Resolução CONAMA 01/86, os empreendimentos passaram a ter obrigatoriedade na execução do estudos e relatórios de impactos ambientais (EIA/RIMA), cujo resultado foi a descoberta e o

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registro no Cadastro Nacional de Sítios Arqueológico - CNSA de um acervo relevante, mas que representa, apenas uma pequena parte do processo de ocupação territorial em comento, totalizando 41 sítios identificados em levantamento prévio nos arquivos do IPHAN em quatro dos cinco municípios a serem estudados. Mesquita não tem sítios arqueológicos registrados em seu território. Os municípios que margeiam o Arco Metropolitano encontram-se no meio de dois pólos importantes para o desenvolvimento regional e até nacional: o Pólo Petroquímico de Itaboraí e o Porto de Itaguaí. Em consequência disso é uma região em intenso processo de metropolização e urbanização aceleradas. Nesse contexto, o acervo arqueológico precisa ser visto com outra ótica preservacionista, valendo-se, principalmente da fiscalização intensa e efetiva. Outros inúmeros sítios serão descobertos nos próximos anos e precisarão de atenção especial. Em Japeri, observa- se no Bairro Vila Conceição a construção de 800 unidades habitacionais sem nenhuma referência ao estudo arqueológico. Saber onde estão os remanescentes da pré-história e história é antes de um objetivo, um direito de cidadania. Em Queimados, no Centro da Cidade, um sítio arqueológico histórico foi destruído sem nenhum escrúpulo para dar lugar a um condomínio residencial. Com o avanço da urbanização e industrialização da região, centenas de outros sítios estão ameaçados, o que pode ser observado diariamente nos municípios abordados aqui e seus vizinhos limítrofes. Por um lado, percebo que o ambiente sobre o qual os grupos sociais assentaram, foi alterado ao longo de sua chegada e permanência, o que modificou bastante a fisiografia local. Como referência paisagística, criada e transformada, os caminhos serão tomados como exemplos de transformação antrópica com grande potencial de ocupação e mudanças na natureza, e serão abordados na linha da arqueologia da paisagem. Por outro lado, o processo de ocupação urbana absorvendo o espaço rural e transformando-o em ruas, asfalto, prédio e outras edificações típicas da cidade numa velocidade impressionante, marca uma etapa importante no consumo negativo do patrimônio arqueológico e será visto na ótica da arqueologia urbana. Desta forma, pretendo compreender o processo que envolve o acervo arqueológico e apresentar uma proposta que possa colaborar e até mesmo, desencadear sua preservação. Um exemplo a ser exposto, é o Projeto Corredor Cultural Paes Leme, cujo propósito é associar à questão agrária, o acervo arqueológico levantado, atribuindo-lhe uma função social, econômica e cultural, capaz de gerar renda e como efeito, a preservação. A proposta, embrionária, envolve, a comunidade rural, a Prefeitura de Miguel Pereira e o ITERJ, e chegou a ser discutido com o Instituto da Biodiversidade Chico Mendes, mas as mudanças inferidas pelo golpe parlamentar, impediram o avanço das discussões com aquele órgão.

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6 ARQUEOLOGIA URBANA O espaço territorial onde ocorre esse estudo, inserido na Baixada Fluminense, que considero uma micro região dentro da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, sofre a intervenção de várias obras, de interesses diversos, criando impactos de diversas categorias, entre os quais encontra-se os que incidem sobre o patrimônio cultural arqueológico. Importante considerar que, se por um lado não há observância da legislação pertinente, por outro, onde as leis são aplicadas, essas obras têm trazidos à tona um número grande de descoberta de sítios arqueológicos, através dos estudos de impactos ambientais que, embora mostrem a riqueza do acervo, não garantem, a proteção do patrimônio arqueológico deixado no campo, após a conclusão do Relatório de Impacto Ambiental. Nessa linha, entra uma grande quantidade de obras de infra-estruturais urbanas, principalmente destinadas à habitação, como prédios, condomínios residencias e até industriais, estradas, que revolvem o solo, sem nenhum cuidado com o com sítios e materiais arqueológicos. Venho verificando isso em diverso pontos dos municípios abrangidos por esta pesquisa, o que me leva a dar importância a um estudo mais aprofundado, que ultrapasse os limites de domínios das obras em execução. Até porque, considerando que a degradação ou o desaparecimento de um bem cultural e natural acarreta o empobrecimento irresistível do patrimônio de todos os povos do mundo (UNESCO, 1972). A Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural em seu Artigo quarto estabelece que cada Estado-parte da Convenção reconhece que lhe compete identificar, proteger, conservar, valorizar e transmitir às gerações futuras o patrimônio cultural e natural situado em seu território. A urbanização acelerada vem comprometendo intensamente o patrimônio cultural da Região, em especial o arqueológico, que nem sempre é visível na superfície, o que facilita bastante sua destruição, considerando apenas, o objetivo da obra que leva em conta, o fator econômico como justificativa para tolerar qualquer impacto negativo. Aliás, esse impacto negativo não é considerado diante do volume de dinheiro gerado pela obras em execução. Por uma questão conceitual, a urbanização está entendida, nesse estudo, como um processo intergovernamental, direcionado à promoção das vocações da cidade, principalmente à moradia, com seus equipamentos comunitários de apoio, às atividades comerciais, industriais, agrícolas e turísticas, sem prejuízo de outras que podem ser consideradas e provocadas, aproveitando de forma racional a potencialidade do município e garantindo qualidade de vida para a população residente e população ocasional. Ainda que os municípios não possuam um planejamento, embora alguns já têm um plano diretor, está em curso alterações no direcionamento das políticas públicas que, acredito, resultarão a médio prazo, na aplicação de condutas que possam impactar

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positivamente a proteção do patrimônio em discussão. Talvez, no sentido em que, a prática política se manifestou até aqui, a urbanização tenha se confundido com saneamento e definido um modo de vida pretendido, uma vez que, morar numa cidade significa ter acessos facilitados pela tecnologia e novidades. O processo de urbanização é uma realidade constatada em todo o mundo e tem ocorrido de forma intensa, modificando rapidamente a dinâmica das cidades (ABIKO; MORAES, 2009, P. 06) e o espaço agrícola tem cedido, cada vez mais, à construção civil, parcelas de seu território voltadas à construção de moradias, indústria e comércio, conforme pode ser observado na área em estudo. Por urbanização podemos chamar o fenômeno de ocupação do espaço da cidade e da agricultura por um grande contingente populacional no seu território. Nesse fenômeno há um processo de afastamento das características rurais de uma localidade ou região, para características urbanas, ou seja, a disponibilização das zonas rurais para assentamentos urbanos, motivadas pelo desenvolvimento da civilização e da tecnologia, e isto pode ser observado em vários pontos dos municípios abordados e, em especial no Município vizinho de Seropédica, onde o espaço da Fazenda Nacional de Santa Cruz foi cortado pelo Arco Metropolitano do Rio de Janeiro e as unidade fundiárias rurais cederam o espaço para a construção de galpões logísticos voltado ao comércio internacional em função do Porto de Itaguaí. A urbanização ligada à Primeira Revolução Industrial e inserida no desenvolvimento do tipo de produção capitalista é um processo de organização do espaço que repousa sobre dois conjuntos de fatos fundamentais (CASTELL, 1995, p. 45): 1) A decomposição prévia das estruturas sociais agrárias e a emigração da população para centros urbanos já existentes, fornecendo a força de trabalho essencial à industrialização; 2) A passagem de uma economia agrária para uma economia de fábrica o que quer dizer ao mesmo tempo concentração de mão-de-obra, criação de um mercado e constituição de meio industrial.

Os municípios de Japeri, Mesquita, Nova Iguaçu, Queimados e Belford Roxo integram a Região Metropolitana do Rio de Janeiro e segundo Louis Wirth (1967, p. 89), a característica marcante do modo de vida do homem na idade moderna é a sua concentração em agregados gigantescos em torno dos quais está aglomerado um número menor de centros e de onde irradiam as idéias e as práticas que chamamos de civilização. À medida que as grandes cidades e seus entornos ofereciam um trabalho garantido pela CLT, os agricultores e seus descendentes abandonaram o FUNRURAL e buscaram no sítio urbano o novo espaço de assento familiar. Paralelo a isso, o transporte ferroviário de passageiro, principal meio de mobilidade nacional, sobretudo no interior do Rio de Janeiro, era suprimido pelos efeitos do lobby e clientelismo políticos das empresas rodoviárias, que não atendiam as

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necessidades dos moradores rurais próximos e distantes que buscavam emprego na cidade e passavam a ocupar, o que os promotores imobiliários, conjunto de agentes que realizam parcial ou totalmente a incorporação das terras, o financiamento do terreno, o estudo técnico da área, a construção e a comercialização dos terrenos, ofereciam (CORRÊA, 1995, p. 19), porém indiretamente. Nesse tempo, ocorreu a decadência do Ciclo da Laranja e os laranjais da Baixada Fluminense acabaram. Os sítios e granjas foram sendo transformados em vários loteamentos implantados na região, muitos de forma clandestinas. Isso, ainda hoje, traz problemas de ordem fundiária para todas as cidades metropolitanas, em especial Japeri. O Estado, que também atua na organização espacial da cidade de forma complexa e variável, refletindo a dinâmica da sociedade da qual é parte constituinte (CORRÊA, 1995, p. 24), nada fez para impedir seu crescimento desordenado e orientar uma proposta através da urbanização. Em Japeri, o densamento demográfico provocado pela imigração da família rural de cidades vizinhas e distantes fez surgir bairros formados, quase que, exclusivamente, por moradores desses municípios e, todos de zonas rurais. Segundo Rolnik (1994, p.27) a organização da produção baseada na divisão do trabalho entre campo e cidade e entre diferentes cidades, cria-se a economia urbana. A Cidade tem um crescimento endógeno manifestado de quatro maneiras: a) pela ocupação do próprio terreno familiar, no chamado “puxadinho”; b) pela ocupação de áreas destinadas ao uso comum, como margem de ferrovias, espaços livres nos centros urbanos, áreas de aptidão à preservação, beiras de rios, entorno de presídios; c) pela ocupação de terrenos em loteamentos mal feitos no passado e; d) pela construção em terrenos comprados pelos poucos que podem pagar. Em Japeri, um impulso a ser considerado ao crescimento imigratório se deu com a implantação do Complexo Penitenciário Estadual, em 2006, constituído por três unidade prisionais, sendo uma cadeia pública, uma penitenciária e um presídio, que atraem parentes de presos para próximo deles, inserindo-os no contexto da Cidade de várias formas, onde a mais comum é buscar assentamento em lugar indicado por algum amigo do detento. A população foi contra, uma vez que não foram considerados os impactos sócio- culturais provenientes dessas implantações e nada foi feito para o controle da situação, ou seja, não teve um projeto de urbanização enquanto cuidados arquitetônicos e de saneamento no desenho do bairro sobre o qual foram assentados os presídios e tão pouco enquanto modo de vida, considerando os aspectos morais de quem já estava e os de quem estavam chegando. Observa-se um choque entre as duas maneiras de comportamento urbano. É comum ouvir dizer que Japeri é uma Cidade de transição rural-urbana. Segundo Kingsley Davis (1972, p. 15), a urbanização e o crescimento das cidades ocorrem conjuntamente, o que ocasiona certa confusão.

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Uma questão comum é definir um índice conveniente de urbanização, isto é, um número X de habitantes vivendo nas cidades. Ainda considerando como exemplo Japeri, que nasceu do rural, é, apenas urbano, segundo o IBGE, porém tem uma considerável produção agrícola, conforme pode ser visto no próprio órgão (@Cidade), e confirmado com dados oficiais da Prefeitura, EMATER-RJ e ITERJ que contestam a afirmação do IBGE, e mostram o Município com uma agricultura de peso na economia doméstica e forte tradição agrícola, com intensa resistência à urbanização. Para Louis Wirth (1967, p. 92) a urbanização já não denota meramente o processo pelo qual as pessoas são atraídas a uma localidade intitulada cidade e incorporadas em seu sistema de vida. Ela se refere, também, àquela acentuação cumulativa das características que distinguem o modo de vida associado com as mudanças de sentido dos modos de vida reconhecidos como urbanos que são aparentes entre povos, sejam eles quais forem que tenham ficado sob o encantamento das influências que a cidade exerce por meio do poder de suas instituições e personalidades através dos meios de comunicação e transporte. Segundo Castells, (2000, p.39) podemos distinguir nitidamente dois sentidos extremamente distintos do termo urbanização. O primeiro trata-se da concentração espacial de uma população, a partir de certos limites de dimensão e de densidade e o Segundo, da difusão do sistema de valores, atitudes e comportamentos denominado “cultura urbana”. Analisando a caracterização da urbanização por H. T. Eldridge16, como um processo de concentração da população em dois níveis, onde o primeiro é a proliferação de pontos de concentração e o segundo é o aumento do tamanho de cada um destes pontos, diz que urbano designaria uma forma especial de ocupação do espaço por uma população, a saber, o aglomerado resultante de uma forte concentração e de uma densidade relativamente alta, tendo como correlato previsível uma diferenciação funcional e social maior. Mas, a partir de que nível de dimensão e de densidade uma unidade espacial pode ser considerada como urbana? A fórmula mais maleável para responder consiste em classificar as unidades espaciais de cada país segundo várias dimensões e vários níveis e em estabelecer entre eles relações empíricas teoricamente significativas, ou seja, distinguir a importância quantitativa dos aglomerados, sua hierarquia funcional, sua importância administrativa, combinando, em seguida, várias destas características para atingir tipos diferentes de ocupação do espaço. Assim a dicotomia rural/urbano perderia toda sua significação e na visão dele poderíamos opor urbano a metropolitano e parar de pensar

16 ELDRIDGE, H.T. ‘The process of urbanization’, in Social forces. Vol. 20, nº 3, 1942.

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em termos de passagem contínua de um pólo a outro, para estabelecer um sistema de ligações entre as diferentes formas espaciais historicamente dadas. Para Kingsley Davis (1972, p.15), a diferença entre um vilarejo e uma comunidade urbana é evidentemente, condicional e seria arbitrária uma distinção precisa, uma vez que ela varia de acordo com o país. Uma vez que existe dados disponíveis de comunidades de diversas dimensões, um ponto de referência deverá ser adotado Acrescenta, o problema mais difícil não é determinar a área urbana, mas delinear os limites urbanos. Já para Corrêa (1995, p.11), o espaço da cidade ou urbano, fragmentado, articulado, reflexo, condicionante social, cheio de símbolos e campo de lutas é um produto social, resultado de ações acumuladas através do tempo e engendrado por agentes que produzem e consomem espaço. Louis Wirth (1973, p. 92), quando diz que a urbanização não corresponde a uma atração à cidade, defende que a urbanização: se refere, também, àquela acentuação cumulativa das características que distinguem o modo de vida associado com as mudanças de sentido dos modos de vida reconhecidos como urbanos que são aparentes entre povos, sejam eles quais forem que tenham ficado sob o encantamento das influências que a cidade exerce por meio do poder de suas instituições e personalidades através dos meios de comunicação e transporte.

O processo de atração que envolve as pessoas e as cidades são vinculadas a uma ideia de prosperidade, isto é, as pessoas mudam considerando que nesse novo lugar as coisa serão melhores. A partir de sua chegada, não deixam vínculos com seu espaço de origem, nada trás para o seguinte, onde chegam sem nada encontrar, vinculando, o presente ao passado. Esse processo gera uma massa sem referência de identidade, solta no espaço e sem nenhuma memória no tempo. Observamos isso, em Japeri, quando o Município passou por um processo de transformação sociocultural intenso a partir da construção do Arco Metropolitano do Rio de Janeiro. As pessoas chegaram para trabalhar, conheceram outras, acasalaram e muitos já tem filhos, mas a obra acabou, deixando como legado uma população aumentada e desvinculada de sua própria história, sem falar da acessibilidade móvel, observada e utilizada pelo tráfico, que junto a outros fatores, alteraram completamente o estilo e o rítmo de vida municipal. A identidade cultural é a consequência do vínculo entre o patrimônio cultural, o que ele representa e a população que o envolve. Esse processo é de extrema importância na criação e manutenção de uma outra dimensão, a memória, que ao ser isolada no passado deixar de deixa de exercer uma força viva no presente. O registro arqueológico estático, nada vai poder fazer para recuperar a dinâmica do passado, num processo de construção do tempo antigo. Com base em Wirth (1967, p. 90), podemos observar que o crescimento das cidades e a urbanização do mundo é um dos fatos mais notáveis dos tempos modernos, e isso requer uma

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diferenciação entre o que é urbano e o que é rural. O rural no Brasil, vem desde 1930, sofrendo a saída de pessoas em busca de melhores condições de vida na cidade. Japeri é um exemplo desse processo. Até 1940, a agricultura caracterizava o espaço territorial, mas com o declínio dos laranjais, último ciclo econômico da Região, passou por intenso parcelamento de suas terras por loteamentos, reconhecidos como criminosos, mas que significou na época uma grande fonte de renda para substituir a falência da laranja. Em vários municípios da Baixada Fluminense, essa ocupação se deu de forma não prevista, no planejamento dos apropriadores do espaço, como exemplo os diversos loteamentos urbanos executados e falidos, após o declínio da citricultura e posterior reocupação do solo por pessoas do interior que ao chegarem, tomavam posse dos lotes e retornavam com as atividades agrícolas. Nesse contexto, observando Corrêa (1995, p.12), podemos definir como agentes produtores e consumidores do espaço urbano: a) os proprietários dos meios de produção; b) os proprietários fundiários; c) os promotores imobiliários; d) o Estado e; e) os grupos sociais excluídos. Esses agentes agem dentro de um marco jurídico que regula a atuação deles e denominadores que os unem a exemplo da renda da terra, suas ações servem também à reprodução das relações de produção, implicando na continuidade do processo de acumulação e a tentativa de minimizar os conflitos de classes, cabendo esse aspecto ao Estado. Desta forma, o processo de urbanização consume grande parte do acervo arqueológico pela destruição e se coloca como principal risco ao patrimônio arqueológico na região trabalhada. Como solução está a obrigatoriedade do desenvolvimento de trabalho arqueológico no espaço a ser transformado por qualquer empreendimento econômico e que leve em consideração a sensibilização da sociedade diante do acervo arqueológico contido no subsolo e a importância do estudo sobre esses bens, ainda que essa importância não seja compartilhada por todos os agentes entorno do tema. Considerando a arqueologia urbana enquanto uma disciplina arqueológica habilitada a procedimentos de intervenção através da elaboração de uma programação de investigação e promoção de um diagnóstico arqueológico urbano com vistas à preservação do acervo comentado, há uma clara e urgente demanda para institucionalizar o profissional arqueólogo, enquanto um profissional indispensável nessas atividades, assim como são o engenheiro e o pedreiro. Segundo o arqueólogo estadunidense Edward Staski, (1982, p. 97), citado em Dode (2015, p.2) a Arqueologia Urbana pode ser definida como “O estudo das relações entre cultura material, comportamento humano e cognição num assentamento urbano”. Para Dode: Antes de ser entendida como o emprego de técnicas arqueológicas na cidade, podemos pensar a Arqueologia Urbana como uma Arqueologia da Cidade, onde o arqueólogo questiona-se justamente sobre os processos de urbanização e suas consequências na vida em sociedade. Nenhum local ou vestígio pode ser pensado isoladamente.

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Este tipo de Arqueologia é capaz de trazer à tona indícios da complexidade de construção de uma cidade, onde diferentes etnias, grupos socioeconômicos, políticos e religiosos, onde diferentes ideias e ideais conviveram ao longo do tempo. É, assim, capaz de despertar nos indivíduos que habitam a cidade uma reapropriação de sua própria história e de seu patrimônio, proporcionando uma nova relação com espaços cotidianos.

A arqueologia urbana é capaz de complementar o conceito de cidade difundido, entre os urbanistas, que se debruçam ao estudo dessa forma de organização sócio-política em uma perspectiva atual envolvida com problemas que atingem milhares e até, milhões de pessoas, sem contudo, considerar que estes problemas podem e quase sempre estão ligados a fato genéticos do espaço urbano que segundo Silva (2012, p. 3) pode ser: [...] (entendida como casco urbano antigo integrado num Centro Histórico) deve ser, no plano gestão, o ponto de partida, já que é o laboratório das experiências, no tempo presente, de gestão, reabilitação, recuperação e revitalização. O “Ponto de Partida: Conhecimento da Cidade Pretérita”, é justificado pelo facto de precisamente ser nosso entendimento que o conhecimento que temos da cidade é a base de todos os trabalhos científicos que queremos desenvolver nela, e o termo “pretérito” pode, na nossa perspectiva, ser entendido como um passado que não está fechado em si mesmo e que com frequência está ligado ao nosso presente, uma vez que estes núcleos são habitados no tempo atual.

A arqueologia urbana pode introduzir, ao conceito de cidade, a noção de um composto formado por estratos (camadas) culturais que são alterados pela dinâmica da sociedade alicerçada nele, onde o primeiro é o assento atual sobre o qual ocorrem a centralização das instituições políticas e administrativas, importantes espaços de culto ou com cargas simbólicas, economias complexas com especialização do trabalho e estratificação social e esta disciplina arqueológica pode recuperar informações sobre estes e outros aspectos das comunidades passadas através de métodos de trabalho de campo e de laboratório cada vez mais em crescente especialização e desenvolvimento (Madeira, 2011, p.5). Para Lemos & Martin (1992, p.148) a arqueologia urbana implica na aplicação de métodos próprios que derivam da complexidade dos subsolos e outros aspectos das cidades históricas, onde os sucessivos níveis de ocupação sobrepõem-se, recortam-se, formando um "puzzle" complexo, que exige registros muito rigorosos e um conhecimento profundo dos materiais de diferentes épocas. Os autores atentam para a distinção feita por Fabião (1994, p.148) ao abordar a Arqueologia no processo da urbanização em Portugal: [...] Arqueologia Urbana, isto é, a investigação das cidades que se sobrepõem e interpenetram no sítio onde hoje se encontra Lisboa (o aglomerado pré-romano, o romano, o da «antiguidade tardia», o medieval muçulmano, o medieval cristão, o moderno, os contemporâneos), e Arqueologia e Espaços Urbanizados, ou seja, o estudo das realidades humanas que utilizaram este espaço em épocas anteriores ao fenómeno urbano e as áreas habitadas nas proximidades das antigas cidades e com elas estreitamente relacionadas.

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O estudo e conhecimento do avanço da urbanização e do próprio sítio arqueológico da cidade, constitui um vetor fundamental do processo de desenvolvimento da sociedade atual, devido ao crescimento exponencial dos centros urbanos que torna indispensável uma reflexão sobre o seu passado e evolução presente e uma compreensão aprofundada sobre os elementos dinâmicos que podem assegurar a sua continuidade futura em termos harmoniosos (MARTINS & RIBEIRO, 2009/2010, p.149). A forma como esta sendo conduzida a expansão do espaço urbano, na área dessa pesquisa, esta desvinculando, ainda mais, o cidadão de sua identidade cultural, estabelecida pelo patrimônio, numa relação simbólica a que é sobreposto obras de interesses restritos, com um número mínino de beneficiários diretos, que detém os lucros do empreendimento. Isso deixa de fora o grande contingente demográfico que situa no espaço e age numa reprodução de impactos negativos sobre bens de grandes valores culturais, porém em estado despercebido. Despertar, numa classe, economicamente dominante, que vê nos empreendimentos, uma forma de multiplicar lucros e gerar acúmulo de riqueza, não é uma tarefa fácil, principalmente, considerando que, para essa classe, o dinheiro não tem fronteira, e tão pouco nacionalidade, e o que dizer de municipalidade ou localidade? No entanto, se observarmos os países europeus que, embora acordassem tarde, para o reconhecimento da importância da arqueologia na recuperação do potencial informativo das suas cidades históricas, datando, apenas dos anos 60 do século XX, as primeiras experiências consequentes de intervenção arqueológica, que fizeram nascer a arqueologia urbana. Neste âmbito cabe destacar o protagonismo inglês no estabelecimento das bases teóricas e do modelo de gestão da arqueologia urbana, bem como na introdução de novos métodos de escavação, de registro e de representação da complexa sedimentação dos solos urbanos (MARTINS & RIBEIRO, 2009/2011, p.150). Essa função deve pautar as iniciativas de outro segmento importante da Arqueologia, a Arqueologia Pública a ser tratada no capítulo seguinte. Todos os municípios aqui abordados, estão sofrendo a intervenção de obras urbanas que aglomerarão mais pessoas dentro desse espaço que se torna cada vez mais denso e despreparado para recepcionar tanta gente. Os conjuntos habitacionais, já citados antes, e os galpões de entrepostos comerciais, estão entre os mais difundidos geradores de riscos e causadores de destruição. Não havia nenhuma informação sobre a execução de trabalhos arqueológicos nessa categoria de empreendimento. Como dito antes, alguns municípios começam a mostrar preocupação com a questão, mas ainda em fase embrionária, consequência, apenas de um quadro qualificado de

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funcionários conscientes e ativistas. Assim, atribuo à arqueologia urbana, a definição de ser uma corrente teórico-metodológica da Arqueologia, cujo propósito é intervir no processo da urbanização e metropolização das sociedades, garantindo-lhes o vínculo entre o presente e o passado através do acervo arqueológico contido na estratigrafia localizada.

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7 O PATRIMÔNIO CULTURAL ARQUEOLÓGICO O conjunto de bens constituído por vestígios de ocupações pré-coloniais, estruturas arquitetônicas históricas, objetos fabricados a partir das mais variadas matérias-primas, que retratam as ações de grupos sociais no ambiente, transformando-o em paisagens e alterando-as em função de novas atividades acionadas, num processo dinâmico e contínuo no território estudado, compreendem o acervo arqueológico na ótica deste trabalho. Foi iniciado com o levantamento no Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos - CNSA do IPHAN com a finalidade de saber o que já havia localizado até a data da proposta deste estudo, considerando a execução de obras de grandes vultos, como são as linhas de transmissão elétrica, gasodutos e rodovias. O cadastro do IPHAN, mostra que a quantidade de sítios não é coerente ou proporcional com o tempo de ocupação do espaço territorial em apreço. Abaixo, estão listados os sítios registrados até 2014, os que foram registrados entre 2015/2016 e uma lista de sítios que serão registrados após a realização dessa pesquisa e os que podem ser localizados com base na documentação histórica inventariada, principalmente a cartografia histórica que se mostrou de grande valia à arqueologia histórica e mesmo pré- colonial, visto que indica locais onde viviam "índios bravos". É apenas uma amostragem do que se percebe ao tomar conhecimento sobre o local ou locais. O cadastramento terá que ser em caráter efetivo sem data de conclusão, pois a cada momento um novo sítio pode surgir e em função de uma atividade qualquer que o evidencia. Trata-se de uma área de grande potencial arqueológico, onde o histórico se confunde com o pré-colonial numa clara visão ou sugestão de sobreposição. Merecem ser citados, embora não estejam evidenciados, conforme lembrou o Professor Marcos André Torres de Souza (12-07-2017), em exposição pessoal, os sítios arqueológicos consequentes das ações da população afro descendente, responsável pela construção de uma nova era no Brasil, em especial na região estudada. Porém, a evidenciação desse grupo, presente no espaço trabalho, evolveriam intervenções no solo, o que não foram previstas aqui. No entanto, essa preocupação está reconhecida e caberá numa etapa futura da pesquisa arqueológica em curto prazo. Desta forma, quilombos, senzalas e as ações que resultaram, ou na criação de uma paisagem, ou na alteração de outras, poderão ser conhecidas e interpretadas na ótica de sua importância para a região. Contudo, muito importante se torna a observação feita pelo Professor Ondemar Dias (12-07-2017) sobre o conceito de sítio arqueológico, sobretudo o histórico, uma vez que ainda não existe uma definição compartilhada universal, clara e objetiva sobre o que é arqueologia histórica ou o que é sítio arqueológico histórico (SOARES, BASTOS, COIMBRA,

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OOSTERBEEK, 2010, p. 321). Os autores atentam para as discussões no Congresso da Sociedade de Arqueologia Brasileira nos anos de 1999 e 2001, cujo objetivo principal era definir sítio arqueológico histórico e/ou discutir a importância ou não, dessa conceituação, especialmente para a preservação patrimonial. O sítio arqueológico é unidade fundiária que contém as evidências das atividades do comportamento humano ocorridas no passado, representadas principalmente por artefatos, monumentos e restos ambientais envolvidos num contexto, ou seja numa perspectiva de espaço- tempo-objeto. Considerando o objeto a coisa material que pode ser percebida pelos sentidos. Artefatos e monumentos, definidos por Jones (1996, p. 01), respectivamente, como qualquer objeto portátil feito e/ou usado por humanos e como evidências não portáteis do comportamento, da atividade e da tecnologia produzida por grupos sociais, são os dois tipos de evidências que indicam um sítio arqueológico. Já os restos ambientais podem ser os vestígios ou os próprios recursos naturais produzidos pelos sujeitos sociais que assentaram no terreno e ali se desenvolveram. Desta forma, sementes queimadas, carvão, estaca de madeira, uma espécie vegetal introduzida para fins agrícolas e que permaneceu e se adaptou ao local, sendo útil ainda hoje, compõem essa fonte ambiental capaz de produzir informações sobre o passado. Como exemplo cito a mandioca, o quiabo e a mangueira na Baixada Fluminense. Numa classificação cronológica dos sítios arqueológicos, encontro três momentos importantes para a região desse estudo: um período pré-colonial, em que os sítios são caracterizados pelas evidências do nativo (DIAS e NETO, 2017, p. 104), o momento do contato estabelecido entre o invasor europeu e o nativo, onde as evidências se caracterizam por um conteúdo misto entre o período anterior e o momento da chegada do novo povo que impõe sua presença com a força e, para fechar, tem-se momento em que a miscigenação inicia e acrescenta- se, mais um grupo étnico, nesse caso o negro, introduzido de forma cruel e criminosa, mas que somou, potentemente, à da Nação Brasileira, e estende-se aos dias de hoje, denominando período histórico em que, o sítio arqueológico correspondente, se caracteriza por um acervo constituído por material colonial ou recente. Os sítios arqueológicos históricos é aqui entendido como a unidade fundiária que traz evidências da ocupação sóciocultural a partir da criação do Brasil, enquanto colônia portuguesa. São estruturas de diversas características físicas que perderam a função inicial para a qual foram construídas, conforme exposição do Professor Ondemar Dias (12-07-2017). Desta forma, como exemplo, um conjunto de vestígios de ocupação de um grupo de colonos agrícolas de uma fazenda no período histórico, compreendido, entre 1960/1975, que possibilite o estudo do comportamento dos agricultores, naquela faixa de tempo, constitui sítios arqueológicos históricos.

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7.1 O ESTADO DA PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICOS O patrimônio arqueológico situado nos Municípios da área de estudo sofre alto impacto ocasionado pela urbanização, em consequência de obras civis, onde áreas rurais foram ocupadas por condomínios e loteamentos residenciais, industriais, comerciais e rodovias, principalmente. Esse fato concentrou os sítios arqueológicos em duas áreas no território de cada município, uma agrária e outra urbana. Os sítios localizados na área urbana estão sob riscos intensos em função da rápida transformação do espaço, provocada pela financeirização do solo. Os sítios localizados em áreas rurais, embora sob riscos, se apresentam em menor intensidade e são caracterizados, principalmente, pelo aproveitamento de uma estrutura histórica, ou parte dela, para construção de uma nova. Pedras e alicerces são os mais visados para este tipo de construtor que, ou retiram as pedras de uma estrutura histórica, ou constroem sobre uma base pré-existente. A principal força, de impacto negativo, que age sobre os sítios arqueológicos é provocada pela inexistência de uma política pública de preservação que envolva a fiscalização efetiva e a educação patrimonial. Essa ausência torna o risco ao patrimônio, mais ou menos ameaçador. Trata-se dos diversos interesses que caracterizam a intenção humana e se projetam no espaço transformando-o, seja através da implantação material da ideia, no ambiente natural, seja através da sobreposição à paisagem construída pelos antepassados. Esses interesses com repercussão sobre o patrimônio arqueológico, podem ser classificados em dois grupos principais: 1) o sujeito empreendedor que se manifesta de várias formas, como imobiliário, agricultura, residencial, incluindo nesse grupo o morador que quer, simplesmente, ampliar sua casa, o Estado e; 2) o sujeito preservador, que se faz representar pelos pesquisadores, organizados ou não em pessoa jurídica, as associações de moradores, quando têm consciência sobre o sítio arqueológico, grupos formados por pessoas interessadas na preservação e instituições estatais. Parto do princípio de que, o patrimônio arqueológico, enquanto uma categoria de patrimônio cultural, é um bem resultante da materialidade ideológica em formas e funções específicas no tempo e no espaço, na constituição do qual, está investida a memória social, é o reflexo das atividades de nossos antepassados, em uma dada época, ocupando um determinado ambiente. Define-se na expressão do trabalho realizado por grupos sociais ao longo dos tempos, determinando a dinâmica da cultura, quando atores sociais, se apropriam e transformam a natureza em algo que satisfaça suas necessidades, num constante processo de aperfeiçoamento, que deixa no espaço o registro de seu comportamento. Como participante ativo em um ambiente, expressa esta dinâmica através da transfiguração observada no curso de sua existência, caracterizada por, pensamentos e ideias comuns, em diferentes períodos.

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As origens da concepção de patrimônio possuem inúmeras raízes e todas se firmam na idéia de preservação da memória coletiva por critérios valorativos, estéticos, históricos, culturais, sempre em atenção aos riscos que a modernidade impões às tradições (PAES, 2009, p.2). O conceito de patrimônio cultural na forma como conhecemos hoje surge na aurora da Revolução Industrial, ao final do século XVIII, no bojo da Revolução Francesa, instituidora de uma nova ordem política, jurídica, social e econômica, que consolida o conceito de nação e de nacionalidade e reconhece os direitos fundamentais do homem (TORELLY, 2012, p. 65). O significado de patrimônio cultural é diversificado, incluindo produtos do sentir, do pensar e do agir humanos. O termo vem da palavra latina, patrimonium, que quer dizer, tudo que pertence ao pai, pater familias, ou seja, pai de família e a família compreendia tudo que estava sob o domínio do senhor, inclusive mulher e filhos, escravos, os bens móveis e imóveis e animais (CARLAN e FUNARI, 2010, p.16). A palavra patrimônio tem vários usos e significados (Brusadin, 2015, p. 2). O Mais comum é o conjunto de bens que uma pessoa ou entidade possuem, mas que, transportado a um território, o patrimônio passa a ser o conjunto de bens que está dentro de seus limites de competência administrativa. Em outro sentido, o patrimônio pode ser classificado em duas grandes divisões: natureza e cultura (BRUSADIN, 2015, p. 66). Para Choay (1999, p. 11) a palavra patrimônio é muito antiga e ligada às estruturas familiares, econômicas e jurídicas de uma sociedade estável, enraizada no espaço e no tempo. Surgiu na Europa, com referência ao patrimônio histórico, mas adquiriu dinâmica que lhe atribuiu uma requalificação a partir de diversos adjetivos como genético, natural, histórico, etc. fazendo, hoje um percurso diferente e notório (CHOAY, 1999 p. 11). Segundo Brusadin (2015, p. 67) a conceitualização de patrimônio cultural no Brasil, é de data recente. O desenvolvimento do conceito se envolve com fatos políticos e culturais marcantes da História do Pais, tais como, a Semana de Arte Moderna de 1922, o Estado Novo e a criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico - SPHAN em 1937 (Brusadin, 2015, p.67). Segundo Tomaz (2010, p. 3), o patrimônio cultural compreende três grandes categorias que englobam elementos pertencentes à natureza, conhecimento e as coisas construídas, resultantes da relação entre o homem e meio ambiente. E, a concepção de patrimônio em um progressivo deslocamento da ideia de patrimônio formado, apenas por bens históricos e artísticos, conduz na totalidade de um conceito mais completo e amplo e, apesar de sua aproximação com a indústria cultural, com a fragmentação das identidades dentro das tendências globais da vida moderna, sua função coesa permanece (TEIXEIRA e VIEIRA, 2007, p. 302).

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A noção de patrimônio confunde-se com a de propriedade [...], mas esses bens nem sempre possuem atributos estritamente utilitários, servem a propósitos práticos, mas possuem, significados mágico-religiosos e sociais (GONÇALVES, 2003, p.23). A categoria patrimônio cultural evoluiu do patrimônio histórico, e o próprio termo patrimônio tem sua evolução marcada pela dinâmica do conceito de cultura. Para Tomaz (2010, p.7), o chamado patrimônio cultural, entendido como conjunto dos bens culturais, referentes às identidades coletivas, enriqueceu a noção de patrimônio: [...] englobando sob a mesma perspectiva as múltiplas paisagens, arquiteturas, tradições, particularidades gastronômicas, expressões de arte, documentos e sítios arqueológicos, os quais passaram, a partir daí, a ser valorizados pelas comunidades e organismos governamentais nas esferas local, estadual, nacional e até mesmo internacional.

A partir dessa contextualização do termo patrimônio, buscou-se adequar o seu conceito à realidade da região estudada a fim de inserir nesse conceito, tanto os sítios arqueológicos do período pré-colonial, como os históricos e as demais expressões oriundas do comportamento dos povos pretéritos. Assim o conceito de patrimônio utilizado foi buscado na origem do termo latino, na Europa do século XVIII, no Brasil do início do século XX e os dias de hoje, aproveitando-se da dinâmica do próprio termo para adequá-lo ao espaço trabalhado. Nessa ótica, o patrimônio é abordado considerando a definição estabelecida pelo Artigo 1 da Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural de 1972:

1- os monumentos: obras arquitetônicas, esculturas ou pinturas monumentais, objetos ou estruturas arqueológicas, inscrições, grutas e conjuntos de valor universal excepcional do ponto de vista da história, a arte ou da ciência;

2- os conjuntos: grupos de construções isoladas ou reunidas, que, por sua arquitetura, unidade ou integração à paisagem, têm valor universal excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência;

3- os sítios: obras do homem ou obras conjugadas do homem e da natureza, bem como áreas, que incluem os sítios arqueológicos, de valor universal excepcional do ponto de vista histórico, estético, etnológico ou antropológico. Através do patrimônio cultural arqueológico é possível conscientizar os indivíduos, proporcionando aos mesmos, a aquisição de conhecimentos para a compreensão da história local, adequando-os à sua própria história. Daí a sua importância para a região constituída pelos municípios citados nesse trabalho. É nessa perspectiva que o vasto acervo arqueológico conhecido na região, no entanto, ainda desprovido de um sentimento de pertencimento, por parte das comunidades que o cercam e ausente na pauta política, fatos que impedem a sua

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configuração em um inventário de bens culturais, que o insira e faça demandar a execução do que está estabelecido no Artigo 4, da Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, onde cada Estado-parte da referida Convenção, reconhece que lhe compete identificar, proteger, conservar, valorizar e transmitir às gerações futuras o patrimônio cultural e natural situado em seu território. Dessa forma entendo que, o levantamento do patrimônio arqueológico do espaço abordado, não será, apenas um instrumento de estudo, mas também de preservação e compreensão do processo de ocupação local e regional, produzindo conhecimento e divulgando informações a respeito dele. A questão do patrimônio cultural, em especial o arqueológico, nos remete à ideia de memória coletiva, constituindo, esta, num dos fenômenos culturais e políticos mais surpreendentes dos anos recentes, colocando-a, como uma das preocupações culturais e políticas centrais das sociedades ocidentais (HUYSSEN, 2000, p. 09). Percebo esse trâmite como um processo, pelo qual os povos se conhecem no presente, estudando o passado, cabendo à memória cultural, oferecer o conteúdo deste conhecimento. Esta é, também, responsável pela identidade cultural de uma população, enquanto povo, bando, organização social, tribo, nação, aqui entendida como um “corpo” constituído por uma origem, desenvolvimento e objetivo. Isto faz com que a população atual se sinta constituída por partes identificadas, onde a representação material, carregada de significados, que desencadeia o sentimento de pertencimento, passa a ter um grande valor e função, digno de proteção, pois se apresenta como parte integrante de uma nação organizada. Se o passado é permanente, por não podermos alterar o que, realmente aconteceu, e mutável, por adequarmos o que realmente aconteceu, conforme as ansiedades do presente (PERALTA, 2007, p. 17.), o patrimônio cultural arqueológico surge como um bem, inserido na teia cultural, regulador, limitante da instrumentalização do passado, manifestada na ideia de um passado construído e/ou de sua manipulação político-ideológica (PERALTA, 2007, p. 17) em função de algum grupo de interesse. O patrimônio cultural arqueológico é, talvez, o principal vínculo físico entre as pessoas de uma comunidade ou sociedade e sua trajetória dos tempos pretéritos aos dias atuais. A memória é sempre transitória, notoriamente não confiável e passível de esquecimento, ou seja, ela é humana e social (HUYSSEN, 2000, p. 37). [...] a cultura da memória preenche uma função importante nas transformações atuais da experiência temporal, no rastro do impacto da nova mídia na percepção e na sensibilidade humanas.

Segundo Choay (1999, p.22), todo artefato humano pode ser deliberadamente investido de uma função de memória e que as diferentes relações que os monumentos e monumentos

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históricos mantém, respectivamente, com o tempo, a memória e o saber, impõem uma diferença maior relativa à sua conservação. Essa hipótese é confirmada, no Município de Japeri, constituído de dois centros urbanos e uma área rural. Em um dos centros Urbanos: Japeri, conseguiu-se preservar patrimônios culturais arqueológicos e arquitetônicos históricos com o saber e a legislação incidentes sobre eles. A ruptura com a memória faz com que o próprio patrimônio seja esquecido e desvinculado do cotidiano do cidadão ou cidadã, levando essas pessoas a agirem como atores da depredação patrimonial, a partir de diversas ações conhecidas. Considerando que, ao desvincular-se de sua Memória Cultural, uma população, perde também, os elementos básicos necessários para o seu auto conhecimento ou promoção, desnorteando sua identidade, perdendo a noção de seu valor, seu objetivo e, consequentemente, passa a se auto destruir, seja através dos artifícios criados pelas culturas ou através da destruição do seu patrimônio, o que caracteriza a busca de uma identificação através de atos de irreverência, vandalismo, etc. Não tem consciência de seu papel e responsabilidades sociais. Nesse sentido, atento para a importância do acervo arqueológico à preservação e resgate da Memória Coletiva. Para tanto, esse projeto se volta à valorização do referido acervo nos municípios de Nova Iguaçu, Belford Roxo, Queimados e Japeri, onde a população perdeu o contato com seu passado, enfraquecendo o presente e comprometendo o futuro, somando-se às pesquisas e ações implementadas pelo Instituto de Arqueologia Brasileira - IAB, desde o final da década de 1950. As pesquisas executadas pelo IAB, na região vem evidenciando uma grande história que remonta aos diversos povos nativos que primeiro, ocuparam e exploraram o espaço, seguidos dos europeus, que invadiram o território e os povos africanos, trazidos de forma cruel, submetidos à escravidão, mas com firme propósito na resistência e luta pela liberdade, servindo-se do lugar para ações de diversas naturezas que resultaram em traços, que hoje caracterizam o comportamento das pessoas do cultivo de plantas como o quiabo até a existência de quilombos que precisam ser localizados, resgatados e divulgados e comunidades quilombolas que, ainda hoje, lutam pelo seu espaço e direitos. Se observarmos a população desse território nos últimos 50 (cinquenta) anos é fácil perceber que, com a implantação do Estado do Bem Estar Social, ou pelo menos, com a adesão a algumas de suas instituições, direcionado apenas, ao povo da cidade, a população rural, que em 1930 constituía mais de 70% dos habitantes do País, migrou para as cidades. A Baixada Fluminense foi um grande receptor dessas levas migratórias que tiveram o fluxo impulsionado por obras de vulto como a ponte Rio Niterói e o Metro Rio. Chegaram num espaço empobrecido pela desatenção política e com um intenso processo de capitalização do solo rural, cultivado pela citricultura, em decadência e transformado em loteamentos urbanos falidos durante as décadas de 1940 e 1960.

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O patrimônio cultural arqueológico dos municípios abrangidos por este trabalho, constituído por remanescentes pré-coloniais e históricos está, cada vez mais, sob o risco de ficar distante da população a quem deveria interessar. Esse acervo arqueológico vem ampliado conhecido, seja por novos sítios arqueológicos descobertos na superfície, seja por trabalhos de escavação implementados na área de estudo pela arqueologia de contrato que tem evidenciado estruturas de assentamentos pré-coloniais nos quais foram encontrados artefatos como ruínas de igrejas, fazendas, vilas, residências, quilombos, sítios pré-coloniais, tachos, diversos utensílios cerâmicos, como urnas funerárias, tigelas, vasos e outros utensílios típicos das populações nativas, como também, por estruturas de pedras alinhadas em perímetros e formas que representam desde uma residência, até um engenho de grandes proporções, caminhos e objetos domésticos e industriais compatíveis como o período histórico. Esse conjunto de bens patrimoniais, precisa ser, além de localizado, cadastrado, identificado, inventariado, processado, inserido numa perspectiva de convivência pública, como a criação de áreas de visitação, opção de lazer e aprendizagem para a população dessas unidades políticas, para que desta forma, seja preservado às gerações futuras numa relação de função social. Cabe lembrar que trata-se de um trabalho contínuo e com demanda efetiva, onde uma localização de sítio arqueológico implica na descoberta de outros. Isso reforça o patrimônio, enquanto um termo dinâmico, que designa um bem, classificado em diversas categorias em que o cultural denomina artefatos decodificados em edificações, monumentos com diversas características arquitetônicas e peças inteiras ou em fragmentos, comportamentos humanos típicos, repetidos, cultivos milenares de vegetais domesticados, como o aipim, quiabo, a batata doce, entre outros, que trazem impregnados em suas estruturas a expressão da criação humana. Os grupos sociais que agregam os atores ou sujeitos das ações no meio, não são os mesmos sempre, e isto pode ser visto nas transformações que realizam no “habitat” que compartilham. Mudam sua maneira de ser, agir e reagir e projeta isso em sua literatura, arte, religião, educação, arquitetura, enfim, em tudo quanto constitui sua cultura material. Neste contexto, cultura está conceituada, aqui, por simplesmente, a transformação do real e expressão do mecanismo pelo qual o homem se caracteriza como ser social, sobrevive na natureza, perpetuando-se no tempo. O homem, enquanto um ser social, e portador de cultura, se organiza em grupos que tomam diversas dimensões, como bandos, tribos, cidades, países, associações, sindicatos, etc. Gera ideias e as concretiza nos objetos de sua criação que vão constituir os de estudo da Arqueologia. Muni-o numa perspectiva de povo, sociedade e nação, com atributos específicos que promovem a identidade, também específica.

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No Município de Belford Roxo as pesquisas em Belford Roxo tiveram início sistemático a partir de 1960, evidenciando vários sítios arqueológicos, a exemplo, do Sítio D. Laura - RJ- LP - 43 descoberto acidentalmente, no momento em que o proprietário do terreno, localizado na Rua Belo Horizonte, 160 no bairro Vilar Novo, Belford Roxo, ao cavar o morro com vistas à construção de uma escada, evidenciou um sítio tupiguarani. Este sítio arqueológico, cujo salvamento e análise do material foi realizado pelo Instituto de Arqueologia Brasileira - IAB, sob a coordenação do Professor Ondemar Dias, foi vistoriado por José Neto do IAB em 2016, que conversou com os atuais moradores que não mantinham nenhuma informação sobre o mesmo. O sítio Túnel I, situado no Bairro Shangrilá Rosa, constituí um túnel construído na base de uma colina, bem desenhado, indicando que havia em sua entrada, uma estrutura, provavelmente de madeira com a função de um portal. Havia no entorno um poço d`água tipo cacimba, hoje aterrado. Descoberto pela equipe em 1995, através da Jornalista Claudia Maria, que desenvolve trabalho de educação patrimonial na região e fez uma matéria sobre o local, publicada no Jornal O Dia. A boca do túnel, na época tinha uma abertura maior, suficiente para passar uma pessoa. O interior foi acessado até o local onde havia um desmoronamento, que indicou riscos para prosseguir na busca de uma história com muitas versões. Para Salvador Alegria Pontes, 61 anos, conhecido no Bairro, por Dodô, residente e domiciliado no Caminho da Glória, o túnel foi feito na época da II Guerra para fuga dos combatentes. Uma informação que pode estar associada ao golpe de 1964, quando a Baixada Fluminense foi ponto de resistência à Ditadura e o túnel, já existente, pode ter sido usado como esconderijo. Já Wellington Rogério, 39 anos, criado no Bairro, sugere que foi construído pelos escravos, informação essa compartilhada por outros. Embora, enriqueçam a História e a paisagem locais, ainda não refletem sua importância na pauta política do Município, numa clara manifestação de ausência total do Estado sobre o bem. O Município sedia um dos maiores laboratórios de arqueologia do Brasil, porém esse fato é pouco explorado pelo Poder público local. O Instituto Arqueologia Brasileira - IAB, vem estabelecendo contato com o Município de Belford Roxo, buscando essa inserção, numa mudança de rumo no tratamento concedido a esse bem patrimonial. A unidade política passa por intenso processo de urbanização e, ainda, sofre a ação da violência pública que reflete sobre o estado de preservação dos sítios, uma vez que a organização criminosa constitui-se em uma barreira de acesso ao local de assento do patrimônio arqueológico. Fato confirmado em todos os municípios que compõem a área de estudo. Contudo em algumas áreas do Município, ainda se conservam lugares que, mesmo com a expansão urbana, permanecem com os aspectos verificados na década de 1990. O Município de Nova Iguaçu, também sinaliza alteração no

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tratamento concedido às manifestações culturais. Japeri vem realizando evento significativos na forma de agir sobre o patrimônio cultural.

Foto 8 - Entrada do Sítio Túnel I, bastante assoreada em função da erosão, e coberta pela vegetação. Fonte: José Mauricio. Foto 9 - Vista frontal do terreno onde está o Sítio Túnel I, no Bairro Shangrilá Rosa, Belford Roxo. Fonte: José Mauricio.

O conjunto de vias de comunicação terrestre e fluvial como as estradas do Comércio, Polícia, de Belém/Cacarias, do Aljezus, do Daniel, entre outras, constitui por si só, um acervo que teve grande importância, enquanto condicionante sócio espacial, pela facilitação do acesso aos lugares, o que favoreceu a expansão da ocupação. Cumpre lembrar que, apesar de constituírem em sítios arqueológicos, não constavam no Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos - CNSA/IPHAN até 2016. A meu ver, esse cadastro deveria ser direto na Rede de Computadores com posterior oficialização pelo IPHAN, após confirmação de campo por sua equipe de fiscalização. O Caminho Novo do Tinguá, que constitui parte da titulada Estrada Real, cuja picada de abertura é creditada a Garcia Rodrigues Paes, filho Fernão Dias Paes em 1567 e que teve um atalho construído para Iguaçu (Porto) pode ter percorrido um caminho preexistente no período pré-colonial, não foi possível, até agora, localizar evidencias arqueológicas do seu trecho inicial, em Pilar, conforme Mapa de 1767 mandada fazer pelo Conde Cunha Capitram. Teve seu curso ligeiramente modificado por Conrado Jacob Niemeyer (Peixoto, 1988, p.16). Ribeiro e Telles (2016) fizeram uma sobreposição do mapa histórico ao atual demonstrando o seu trajeto do ponto zero. Convidei os dois pesquisadores para uma caminhada de localização, do ponto zero do Caminho Novo, mas até setembro de 2017 não foi possível ir ao campo com esse propósito. Já a Estrada do Comércio, inicialmente, Caminho do Comércio, por ter sido construído por sugestão da Real Junta do Comércio, partia da planície de Iguaçu, passando pela Vila Santana das Palmeiras no alto da Serra do Tinguá até alcançar o Rio Paraíba do Sul em direção a Ubá. Com calçamento de pedras, encontra na entrada da Reserva Biológica do Tinguá, o trecho mais preservado. Porém à medida que avança para o interior da Rebio Tinguá deparamos com o

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lastimável estado de preservação da via histórica, cujo calçamento, está se soltando e, aos poucos, dominado pela vegetação. O acesso é difícil até mesmo por carros tracionados, onde há 29 anos, a Petrobras fazia a manutenção da via por cortar a Reserva com um oleoduto/gasoduto. Tem obras de contenção voltadas à proteção da tubulação. Essa estrada precisa ser discutida em relação à sua importância arqueológica.

Figura 10 - Mapa de Manoel Vieira Leão - Cópia feita do original em 1911. Fonte: Biblioteca Nacional - Setor de Iconografia - BNDigital. A Estrada da Polícia, mandada fazer pela Intendência Geral da Polícia em 1814 e concluída em 1827, após várias interrupções, tem seu trajeto, hoje desconhecido e ao que tudo indica, já o era em 1902 quando a Secretaria de Obras Públicas do Rio de Janeiro publicou um relatório descrevendo seu curso. Com vários paredões que foram construídos para servirem de contenção de barreiras formam um patrimônio ameaçado pelo avanço da urbanização e ignorância dos moradores vizinhos que acabam se utilizando de sua pedras para alicerçarem suas casas. Alguns trechos, ainda são utilizados hoje, como é o caso do que confronta a Fazenda São Pedro com a Fazenda Saudade, chamada de Normandia II, cuja propriedade é reclamada pelas Fazendas Reunidas Normandia, por conta de um processo administrativo de desapropriação/regularização fundiária, que se arrasta desde 1963. Ela liga a Fazenda São Pedro na vertente do Rio São Pedro à Fazenda Paes Leme, na vertente do Rio Santana. É utilizada por grupo de motociclistas que percorrem trechos do seu percurso na mata. É um importante

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patrimônio que ainda não consta no CNSA do IPHAN e pode ser convertido num projeto visando a integração do patrimônio arqueológico num projeto público de gestão patrimonial. Importante citar a observação do Professor Ondemar Dias (12-07-2017) sobre a utilização dessas vias por grupos de motocicletas para fins de eventos desportivos, o que torna urgente, observar qual a percepção e responsabilidade que essas pessoas têm sobre o patrimônio. O Porto de Iguaçu com a Vila do mesmo nome que originou Nova Iguaçu está se perdendo no meio de uma explosão demográfica expandida pela metropolização desenfreada do Rio de Janeiro, que tem como consequência o apagamento da história pela destruição do patrimônio cultural arqueológico que estabelece vínculo entre as comunidades que ali existem e seu meio, através do tempo e o espaço socialmente ocupado. Existe uma informação de que há um barco do período de exploração do Rio Iguaçu com uma hidrovia, enterrado em seu leito. Essa possibilidade existe, como também a intenção de uma incursão para comprovar tão versão popular. A Fazenda São Bernardino de 1875 que se tornou símbolo na Baixada Fluminense e foi até elaborado um parque cultural para sua sede e adjacência está em lamentável estado de conservação ao lado da Vila e Porto de Iguaçu. Recentemente, uma operação da CEDAE, retirou parte de uma das paredes do prédio para tampar um buraco de vazamentos. Embora tenha ocorrido denúncia por parte de grupos de defesa do patrimônio cultural, até março de2017 nenhuma consequência foi conhecida. O Morgado do Marapicu do Século XVIII, no Mendanha e a Sesmaria doada a Inácio Dias Velho Paes, neto de Fernão Dias Paes e filho de Garcia Rodrigues Paes, em 13 de agosto de 1743, nas margens do Caminho das Minas, tendo como limites os rios Santana e Santo Antonio, no interior da qual surgiram vários engenhos, que constituiu um parque industrial que ocasionou uma ocupação com perfil próprio, representam dois dos fatos que nortearam a História da região em apreço e hoje encontram-se em franco processo de ruínas perdidas ou ameaçadas por atividades econômicas. As ruínas da sede do Morgado do Marapicu, representado na cartografia histórica, ainda não foram localizadas, mas a busca continua.

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Figura 11 - Planta Hydro-Topographica da Estrada do Comércio entre os rios Iguassú e Parahiba. Fonte: Biblioteca Nacional- Setor de Cartografia- CART 534304- BNDigital.

Foto 10 - Estrada do Comércio na entrada da Rebio-Tinguá, em Nova Iguaçu. Fonte: Instituto Amigos do Patrimônio - IAPAC. O Estado Novo, instaurado em 1930, trouxe alterações territoriais que reconfiguraram o espaço político administrativo local, provocado pelo Decreto Lei 311 de 02 de março de 1938, que dispõe sobre a divisão territorial do país e chegou a editar mais de 60 (sessenta) resoluções, normatizando o trabalho. Hoje, o acesso aos mapas produzidos pelos municípios, em decorrência, daquele instituto legal, conforme Portaria 60, emitida em 22 de julho de 1939, pelo Conselho Nacional de Geografia, seria depositado na Secretaria do Diretório Regional de Geografia, até o dia 31 de dezembro de 1939, não foi, ainda, possível, em função do IBGE, não saber onde se encontra esse material elaborado, ou seja, esse material está perdido ou destruído. A partir deste marco, principalmente a toponímia local, teve mudanças consideráveis, importantes à compreensão da história dos lugares, hoje.

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Em 1964 com a Ditadura Civil-Militar implantada através de um golpe à Sociedade brasileira, fez surgir em algumas regiões da Baixada Fluminense focos de resistência, com destaque para os fatos ocorridos em Japeri, provocados pelo movimento de reforma agrária existente em Pedra Lisa, Bairro Rural do Município. A área havia passado por várias desapropriações, por parte do Governo do Estado do Rio de Janeiro, a partir de 1958. Foi criada uma comunidade rural, hoje, conhecida por Comunidade Tradicional, que foi, duramente, atacada pela ditadura, cujos vestígios do conflito, apagados dos registros escritos, encontram-se, supostamente, depositados sob o solo da região que aliados à morte dos que participaram e testemunharam o fato, ameaçam a memória e a história. São vestígios de um episódio social que pode ser recuperado e confirmado pela Arqueologia. A relação ditadura civil-militar/sociedade rural japeriense está sendo publicada em vários trabalhos que começam a surgir na Região. Ainda temos alguns sobreviventes desse período que narram o que lembram em descrições constituída por ações de horror, praticadas pelo Exército Brasileiro, onde a queima de casas de taipa e sapê dos produtores rurais, constitui um fato memorizado por todos, que viveram na época. Josimar Fausto, filho de um produtor rural daquele período, luta pela regularização fundiária, até hoje e afirma que existe um túnel construído para esconderijo de guerrilheiros. No entanto, não lembra exatamente onde é, mas essa história me reporta a Belford Roxo, quando o Sr. Dodô, fala que o túnel de lá serviu de esconderijo.

Fotos 11 e 12 - Sítio São Pedro 73 - Fazenda São Pedro - ITERJ. Fonte: José Mauricio. Estas ruínas são grandes e testemunham o momento de expansão da Sesmaria que originou o Município de Japeri em cumprimento das obrigações legais sobre o povoamento da área. A

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Fazenda São Pedro17 dispõe de várias ruínas dentro do seu perímetros e estão localizadas nas partes mais altas da área, na base da Serra de Santana, na localidade rural de Jaceruba, nas margens do Rio São Pedro, que nasce na Serra do Tinguá. O Sítio Arqueológico São Pedro - 83 corresponde à parcela do Lote 83 da Fazenda São Pedro já mencionada acima. Fica próximo à área do Sítio Arqueológico São Pedro- 71, na mesma unidade fundiária. As ruínas são parecidas, porém com sugestão de função diferente, provavelmente uma estrutura dentro da mesma unidade produtiva da Sesmaria em períodos de tempo diferentes. Essa área é cortada pela Estrada da Polícia, através da qual se comunica com a Fazenda Paes Leme, abaixo da chamada "Vila Tereza Cristina", atravessada pelo Estrada do Comércio no Tinguá.

Fotos 13 e 14 - Sítio São Pedro 71- Fazenda São Pedro - ITERJ. Fonte: José Mauricio. Um pouco acima dessa área, na margem esquerda do Rio São Pedro, tem-se um abrigo que esta sendo considerado o Sítio Abrigo 001, em função de ser o primeiro de uma série que sabemos existir na área de estudo. Trata-se de afloramentos rochosos sobrepostos que formam uma estrutura com capacidade para abrigo. O Sítio São Pedro Abrigo I, que tem aproximadamente 4 X 5 metros, está localizado na Reserva Biológica do Tinguá, acima da área de coleta e água pela CEDAE, nas vertente do Rio São Pedro no meio da Serra. Existem relatos de objetos encontrados no interior, mas não foi possível visualizar nenhum e fica indicado uma escavação arqueológica futura para esse sítio.

17 A Fazenda São Pedro é um próprio do Estado do Rio de Janeiro, localizada no território de dois municípios: Japeri e Nova Iguaçu. Foi adquirida pelo Decreto 7.214 de 02 de dezembro de 1960 e da Carta de Sentença extraída dos Autos da Ação de Desapropriação, proferida pelo Juízo da Vara dos Feitos da Fazenda Pública de Niterói, Registro nº 7.681, Livro 07, fls. 06, publicada no Diário Oficial em 23 de janeiro de 1971 e reconhecida pelo INCRA, através da Portaria 35, de 16 de setembro de 2005. Esta dividida em 100 Lotes destinados ao Programa Nacional de Reforma Agrária.

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Fotos 15 e 16 - Sítio São Pedro Abrigo I - localizado na vertente do Rio São Pedro dentro da Rebio - Tinguá. Fonte: Eduardo Paiva.

Partindo para o outro lado da serra, mais próximo do topo ainda na Micro Bacia Hidrográfica do Rio São Pedro, na encosta do morro da Serra de Santana ou Bandeira, como preferem alguns, tem-se uma ruína, que segundo os mais antigos chama, "Vila Tereza Cristina" e, até o momento, não foi localizado nenhum documento com referência a essa estrutura representada por alicerceis de pedras sobrepostas, escadas de pedra, ferro e telhas de barro e outras estruturas arquitetônicas mostrando um conjunto de obras pretéritas com referência ao período Histórico do Município de Japeri. Trata-se de uma área grande construída na encosta do morro dentro da Reserva Biológica do Tinguá, com acesso através de uma trilha que parte do Sítio do Dr. Luiz Paes Leme em Jaceruba, ou pela Estrada da Polícia, por um trajeto mais longo e difícil. Fica próxima ao local conhecido como Terra Fria. Na superfície, encontra-se com facilidade, frascos de vidro em diversos tamanho e forma, despertando a ideia de uma casa comercial chamada de "venda" que comercializava, entre outros gêneros, algum tipo de tônico ou remédio, por conta do tipo de frasco encontrado em grande quantidade. Outra característica que chama a tenção são os amontoados de pedras em canteiros regulares, simetricamente elaborados, que ora reporta à limpeza do terreno para fins agrícola, ora deixa dúvidas sobre essa prática, que é observada em outro ponto da região da pesquisa, já na Serra de Madureira (Mendanha), subindo pelo Cruzeiro de Nova Iguaçu em direção à Gleba Modesto Leal, próxima ao "Gericinó". Outro fato importante dessa estrutura trata-se do reforço à ideia de que Japeri teve sua origem na serra.

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Foto 17 - Escada indicando acesso à estrutura superior, na vertente do Rio São Pedro - Rebio Tinguá - Jaceruba. Fonte Marcos Torres. Foto 18 - Amontoado de pedras alinhados, comuns na área e arredores e em outras regiões. Fonte Marcos Torres

Estão num contexto que lembra um conjunto arquitetônico que teria funcionado até a seca que atingiu a Capital do Império na segunda metade do século XIX e com base na referência bibliográfica histórica apurada, mais especificamente a Planta Geral dos rios São Pedro, Santo Antonio e D`Ouro, de 1889, indicando terrenos para desapropriação no local a partir de estudos que reconheciam o Tinguá como fonte de recursos hídricos para o abastecimento do Rio de Janeiro. Foram feitas várias obras, algumas inacabadas e como principal legado desse processo foi a Floresta Protetora da União que em 1989, se tornou Reserva Biológica do Tinguá que guarda um valioso acervo arqueológico. Num primeiro momento, a indicação de uso do solo é para o cultivo agrícola canavieiro, considerando os achados de superfície, constituídos de tachos, ferragens e restos de moendas, principalmente. Cumpre mencionar, que a escavação não faz parte dos objetivos desse trabalho que pretende conhecer o acervo patrimonial arqueológico visando seu inventariamento e caracterização. O Material abaixo encontrado disperso na superfície do terreno é constantemente revirado por pessoas que moram na redondeza e passam por ali, através de trilhas no interior do mato. O fundo branco é o reflexo da camisa de um dos pesquisadores, para facilitar visualização. Após as fotos o material mostrado foi deixado no mesmo lugar.

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Foto 19 - Telhas de cerâmica dispostas em grande quantidade na superfície - após as fotos o material foi deixado no local. Vertente do Rio São Pedro, Rebio Tinguá, Jaceruba. Fonte: Marcos Torres.

Foto 20 - Frascos de vidro encontrados na superfície em abundância. Vertente do rio São Pedro, Rebio Tinguá, Jaceruba. Fonte: Marcos Torres.

Passando para o outro lado da Serra de Santana, tem-se a vertente do Rio Santana, onde são encontradas diversas ruínas, semelhantes às já apresentadas anteriormente. Esses ruínas mostram um complexo de sítios arqueológicos do período Colonial/Imperial. O tamanho e forma das ruínas nos reportam à função operacional que tiveram no passado e somadas às existentes na vertente do Rio São Pedro, sugerem a existência de um complexo agroindustrial de peso na economia da época. A primeira informação a considerar é a sumptuosidade das construções, feitas com requintes o que demonstra o poder aquisitivo dos antigos proprietários e a valorização que davam aos edifícios, que eram ostentados com material de excelente qualidade. O tamanho das construções, também impressionam, pelas técnicas de sobreposição das pedra, rigorosamente alinhadas e muito bem assentadas.

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Figura 12 - Planta Geral dos rios São Pedro, Santo Antonio e Ouro indicando terrenos para desapropriação. Existem várias ruínas nesse polígono. Fonte: GIFI 4B401 - MT- Maço 231-A - Arquivo Nacional As ruínas da vertente do Rio Santana estão sob a influência do Assentamento da Fazenda Paes Leme18, instituído em 1988 pelo movimento da reforma agrária, o que provocou o

18 O Assentamento da Fazenda Paes Leme, reconhecido pelo INCRA em 30 de setembro de 1998, é formado pelo conjunto de produtores rurais familiares e foi instituída a partir das terras remanescentes de duas outras fazendas na área onde está situada: a Fazenda Pedras Azuis e a Fazenda Marimbas, conforme consta nos Decretos 16.276 de 01 de fevereiro de 1991, alterado pelo Decreto 16.394 de 05 de março de 1991 e 16.277 de 01 de fevereiro de 1991, que declararam as terras descritas acima de utilidade para fins de desapropriação destinada à instalação de um projeto de fazenda experimental do Estado, cuja tramitação se deu em função do Processo Administrativo E-28/3296/90.

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repovoamento da área, antes ocupadas por poucas famílias descendentes dos antigos empregados das fazendas do local. Isso ampliou os riscos a que está submetido o patrimônio na área, despertando a necessidade, urgente do exercício de ações destinadas à capacitação das pessoas do lugar em lidar com esse bem compartilhado com elas no espaço e alcançar, um estágio que garanta sua preservação. Esse tema será melhor abordado no capítulo sobre arqueologia pública, onde será detalhado o plano de ação sobre esse local. Tomando por referência Rubino (1996, p. 97), quando escreveu que, em 1961, após quase três décadas à frente do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rodrigo Melo Franco de Andrade, afirmou não ser o Brasil constituído, apenas de seu território, de sua configuração no mapa do Hemisfério Sul. Para identificarmos a nação brasileira, dizia, teríamos de considerar a obra da civilização realizada no país: a produção material e espiritual que herdamos. Associando isso ao município em destaque, podemos reproduzir e aplicar as palavras de Rodrigo Melo Franco de Andrade quando o município só é visto pelo seu território e arrecadação fazendária. As necessidades da população, na ótica da gestão política, se restringe ao "atendimento imediato" de dois direitos: "educação e saúde" e assim mesmo oferecidos de forma bastante precários. A cultura só serve para negociar acordos de apoio a campanhas eleitorais e também é vista com bastante restrição, direcionada a eventos de apresentações de artistas de fora da cidade como cantores, a quem pagam fortunas, em festas comemorativas. Como disse Harvey (2001, p. 221), não se pode negar que a cultura se transformou em algum gênero de mercadoria e que, há a crença, muito difundida de que algo muito especial envolve os produtos e os eventos culturais, estejam eles nas artes plásticas, no teatro, na música, no cinema, na arquitetura, ou mais amplamente, em modos localizados de vida, no patrimônio, nas memórias coletivas e nas comunhões afetivas, sendo, portanto, preciso pô-los à parte das mercadorias normais, como camisas e sapatos. O patrimônio citado aqui, que representa o território num ciclo de produção econômica de abrangência nacional - o ciclo da cana-de-açúcar, passa despercebido diante dos olhos das autoridades e sociedade, sejam do local, seja do regional. Mostra que a criação do SPHAN em 1937, embora tenha representado, para uma pequena parcela da população, constituída de funcionários e correligionários, uma ruptura em relação a uma tradição anterior que consideravam amadora no trato de assuntos relativos ao passado tradicional brasileiro, para o grande público brasileiro, isso não significou nenhum avanço. A prova está aqui, nos limites da atuação desse levantamento. Se por um lado houve um descobrimento do país que se inventou e inventariou um Brasil histórico e artístico, etnográfico, arqueológico e geográfico (RUBINO, 1996, p. 97), por outro lado, ficou de fora, um Brasil que

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se encontrava além dos limites físicos de uma elite de intelectuais bem intencionados, mas restritos a uma pequena realidade.

Foto 21 - Parte de uma moenda feita de ferro fundido, encontrada no alto da Serra de Santana sobre uma estrutura de pedra em forma de muro de arrimo. Fonte: Ivo Almico.

Foto 22 - Parte da moenda encontrada na Serra de Santana na vertente do Rio Santana, acima da Fazenda Paes Leme. Fonte: Ivo Almico.

A peça nas fotos 19 e 20, retratam uma moenda de cana, feita de ferro fundida, bastante pesada, localizada junto com outros objetos de ferro e vidro. Foram encontradas sobre uma estrutura terraplanada arrimada com pedras num alinhamento retangular em 1997. Após as fotos, as peças foram deixadas no local. Alguns anos depois, ao retornar ao local, soube que a mesma havia desaparecido. A área é bastante circulada por moradores e, em alguns casos, isso tem convergido em risco ao patrimônio cultural arqueológico. Essas ruínas sugerem pertencer à Fazenda Santana, cuja propriedade foi de um dos herdeiros de Ignácio Dias Velho, no cumprimento das determinações da legislação de Sesmaria.

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Foto 23 - Barragem de pedras arrimadas em alinhamento retangular cercando o terreno terraplanado sobre o qual estava a parte da moenda. Fonte: Ivo Almico. Foto 24 - Detalhes de uma pedra cortada e furada encontrada no espaço do terreno. Fonte: Ivo Almico.

As fotos 21 e 22 detalham o terreno sobre o qual foi encontrada a peça da moenda de cana localizado nas margens da Estrada da Polícia, na virada do topo da Serra de Santana, quando a Estrada sai da vertente do Rio São Pedro, alcançando e atravessando o Vale do Rio Santana na localidade de Paes Leme19.

Foto 25 - Barragem localizada na Serra de Santana, acima da Fazenda Paes Leme. Fonte: José Mauricio. Foto 26 - A saída de água da barragem localizada na Serra de Santana, vertente do Rio Santana. Fonte: José Mauricio.

Situada no contexto da Sesmaria doada a Inacio Dias Velho, esta barragem construída com pedras sobrepostas e cortadas propositadamente a esse fim, cuja afirmação tem origem na simetria dos blocos, e destinada à captação de água de um córrego, hoje, com vazão, bastante

19 Não confundir a Localidade de Paes Leme, com a Fazenda Paes Leme, ambas situadas no Distrito de Conrado no Município de Miguel Pereira-RJ, com acesso pela RJ 125, que liga a Rodovia Presidente Dutra a Paty do Alferes.

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reduzida, chegando, praticamente, secar em janeiro de 2013, com a estiagem imprevista daquele ano e agravada no local em função do desmatamento e práticas agrícolas impróprias. Foi encontrada quando, em função do abastecimento de água para os produtores rurais, consequência da seca comentada, foi iniciada uma vistoria nos mananciais hídricos da área de abrangência da Fazenda Paes Leme. Quando seguia o curso de um dos córregos, deparou-se com essa estrutra de pedra, desconhecida dos sitiantes. Até maio de 2017, não foi possível compreender a função dessa barragem de captação de água, uma vez que não foi localizada, ainda, uma ruína que pudesse indicar beneficiamento de algum produto agrícola, ou mesmo abastecimento doméstico com a água captada por ela. Percorreu os produtores próximos para entender a origem da água consumida por eles, mas ninguém sabia informar sobre a existência de tal estrutura e, tão pouco, tinham informações sobre alguma ruína (construção da época dos escravos), maneira como entende o registro arqueológicos. As fontes d'água que abastecem os produtores rurais são as mesmas que abasteciam a barragem localizada, porém, a captação é feita abaixo. Em Junho de 2017, um Produtor Rural assentado no Lote 07 da Fazenda Paes Leme, informou conhecer as ruínas de um engenho de farinha abaixo da barragem e se comprometeu em acompanhar até o local. As estruturas abaixo mostram o conjunto de sítios arqueológicos situados na Serra de Santana, na vertente do Rio Santana e exibe um caminho interno, ainda com seus pontos de origem e destino desconhecidos.

Foto 27 - Mostra uma ruína na Serra de Santana com as mesmas características das demais. Fonte: José Mauricio.

Foto 28 - Muro de arrimo num caminho localizado próximo à ruína exibida na foto 25, apresentando vários A trechos arrimado. Fonte José Mauricio. direção que tomou indica o topo da Serra com virada para Japeri. No entanto, sugere a existência de uma rede viária, que pudesse ligar as diversas estruturas do local à Estrada da Polícia, um pouco acima e mais tarde à estrada construída a partir do Decreto 1018 de 22 de outubro de 1857 para ligar a do Comércio, na Serra da Viúva à Estação de Belém, e esta a Cacarias, em Piraí.

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Foto 29 - Mostra o trecho do Vale do Rio Santana, visto da serra do mesmo nome. Fonte: José Mauricio.

Ainda nesse espaço, entre os rios São Pedro e Santana, com referência ao material bibliográfico apurado pelo estudo, em especial o Relatório do Presidente da Província do Rio de Janeiro, em virtude da Lei do orçamento provincial nº 2.095 de 24 de dezembro de 1871, que entre outras determinações, fundou em Belém e Macacos (Paracambi), 2º Distrito da Freguesia de Sacra Família do Tinguá, Município de Vassouras, uma sociedade denominada - Amante da Instrucção- com o fim de fornecer roupas e calçados aos meninos pobres de ambos sexos para poderem frequentar as escolas existentes naquelas localidades. A importância dessa informação está relacionada ao fato de não se saber onde foi implantada essa sociedade e, possivelmente, está na parte alta da Serra de Santana em situação de ruínas. Essa estrutura deve ser localizada e incluída no acervo do patrimônio cultural arqueológico do Município. Outra informação extraída do relatório é a que comunica a existência de duas barreiras em Belém, sendo uma filial, que arrecadou 2:800$000 (dois Contos e oitocentos mil Reis) e tinha como coletor o Sr. Sabino Antonio Damasceno. A localização e o cadastramento desses sítios será importante ao enriquecimento do conteúdo da memória do Município de Japeri. Na confluência do Rio Santana com o Ribeirão das Lajes, nasce o Rio Guandu, no Município de Japeri, sempre tido como limites entre a sesmaria de Inacio Dias Velho e a

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Fazenda de Santa Cruz, dos Jesuítas, hoje conhecida como Fazenda Nacional de Santa Cruz. A bibliografia levantada sobre a região, mostra que os rumos topográficos das terras dos padres atravessavam o Rio Guandu e vinham confrontar as do Engenho de Fernando Dias, na Fazenda Belém, hoje em ruínas, registrada no IPHAN como Morgado de Belém, no pé da pedreira no Bairro Chacrinha. Hoje, a área do sítio, pertence à Pedreira e é cercada por um muro construído com tijolos de blocos de cimento e a entrada é restrita aos proprietários. No capítulo Arqueologia Pública serão abordados os detalhes da transferência da propriedade do Sítio Morgado de Belém, no início da década de 1990, mais precisamente, 1991. A planta abaixo, mostra os limites da Fazenda de Santa Cruz, e como se configurava em Japeri.

Figura 13 - Planta da Fazenda Santa Cruz. Fonte: Biblioteca Nacional-Setor de Cartografia - CART 1330583- BNDigital

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O Rio Guandu, além da linha de limite do estudo, serviu de base para diversos assentamentos sociais, desde a época pré-colonial, em função de um espaço favorável à ocupação sociocultural. Trata-se de uma extensa área formada por terras baixas alagáveis, mas com elevações de colinas que tiram uma considerável faixa de terra da linha de inundação, favorecendo a ocupação sociocultural, num perímetro fundiário com facilidade de caça, pesca e coleta. Nesse território, dividido entre os municípios de Nova Iguaçu e Queimados, tem-se o projeto de assentamento rural destinado ao Programa Nacional de Reforma Agrária conhecido por Mutirão de Campo Alegre, onde foram descobertos, no início da década de 1980, pelo Instituto de Arqueologia Brasileira - IAB, dois sítios arqueológicos tupiguarani, denominados de Campo Alegre e Bosque, que somados às informações bibliográficas levantadas, potencializa o lugar com a expectativa da localização dos sítios arqueológicos referentes aos engenhos de Campo Alegre e Marapicu, entre outras estruturas mencionadas nas cartas históricas. O Rio Guandu mostra ter sido uma via de penetração territorial, no período histórico, atraindo os ocupantes da Baia de Sepetiba para o interior. Embora o Mutirão Campo Alegre já tenha sido percorrido desde 1984, quando a área se tornou bastante difundida pela ocupação do MST, nunca foi localizada nenhuma estrutura que possa reportar ao engenho descrito na cartografia histórica. Outro fato ocorrido recentemente nas margens do Rio Guandu, são as pesquisas arqueológicas em decorrência das grandes obras de infraestrutura civil, a serem tratadas na parte Arqueologia urbana e que tem aumentando a quantidade de evidências sobre a presença de grupos sociais no local, desde longas datas. Seguindo os rumos do Rio Quebra-Coco, atravessado pela Estrada Velha de Aljezus, na divisa do Município de Queimados e Japeri, tem-se os testemunhos de um período histórico, muito importante para a Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Refiro-me ao Ciclo da Laranja, cujos os sítios arqueológicos que representam esse período, estão cada vez mais ameaçados pela urbanização. Os vestígios desse, importante ciclo econômico, são, principalmente, representados por um sítio agrícola, onde está sendo implantado um "porto seco" pela Concessionária ferroviária MRS Logística S.A. confrontado pelo Mutirão da Fé20 e a Estrada Rio D`Ouro, a casa sede do Mutirão da Fé e a conhecida sede da Fazenda Fanschem, registrada no IPHAN, mas que foi, na verdade, o último projeto de uma casa de embalagem de laranja, a ser implantada em Queimados e não chegou a ser concluída.

20 Projeto de Assentamento Rural criado em 1988 e reconhecido pelo ITERJ em 2015, localizado nos municípios de Queimados e Japeri, atravessado pelo Rio Quebra-Coco, e cortado pela Estrada velha de Aljezus e D`Ouro.

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Fotos 30 e 31 - Retratam o tipo de porto (atracadouro) existente no Rio Iguaçu. Fonte: historiabaixadablogspot.com O Rio Iguaçu, referência de limite físico desse estudo, igualmente ao Rio Guandu, corta uma larga faixa de terras baixas limitadas por colinas ora mais elevadas, ora mais baixas, onde tiveram início a ocupação colonial através dessa unidade hidrográfica e, esse processo está representado, principalmente pelo atracadouro do Rio Iguaçu, conhecido como Porto de Iguaçu e a Vila de Iguaçu, o sítio histórico de Nova Iguaçu, conhecido por Iguaçu Velho. Em função das características ambientais, apresentada por uma hidrografia com capacidade de navegação e fornecimento de alimentos que serviu de via de comunicação com a Baia de Guanabara, considero que este conjunto esteja sobreposto a um sítio arqueológico do período pré-colonial, uma vez que está localizado nas margens do Rio Iguaçu, principal rio desse rede hidrográfica. Existem histórias contadas no local e bastante difundida entre os pesquisadores que conhecem o espaço, sobre um barco enterrado no canal aberto para ligar o Rio Iguaçu ao atracadouro, no período histórico, mas ainda não confirmado, embora a ideia de localizá-lo seja compartilhada por vários profissionais que atuam ali. O Porto e a Vila de Iguaçu junto com a Fazenda São Bernardino, de 1875, formam um perímetro fundiário para o qual foi elaborado um parque cultural com o propósito de preservação e lazer e acabou caindo no esquecimento, estão em lamentável estado de conservação e se perdendo no meio de uma explosão demográfica expandida pela metropolização desenfreada do Rio de Janeiro, apagando e isolando a memória no passado e destruindo o patrimônio cultural que estabelece vínculo entre o grupo social e seu meio através do tempo, no espaço culturalmente ocupado, quando poderia contribuir com o presente, numa perspectiva de desenvolvimento local.

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O transporte do café mineiro, bem como outras mercadorias em direção ao porto de embarque do Rio de Janeiro exigia longo, cansativo e perigoso percurso pela , margeando precipícios onde, de vez em quando, a tropa assustada por qualquer motivo caía, com prejuízo total dos animais e carga. Principalmente na descida, em tempo chuvoso, as pedras molhadas da Estrada do Comércio, que era seu mais importante meio de comunicação com a corte e nascia na Vila de Iguaçu, eram repetidos perigos para as mulas que transportavam uma média de oito arrobas de café. O atracadouro de Iguaçu junto com o de Estrela era dos mais importantes. Cumpre lembrar, o que diz o Professor Paulo Leopoldo, em entrevista pessoal (2015), sobre o canal onde está o porto: _ "é antrópico e não comportava grandes embarcações, portanto, tratando, apenas de atracador para pequenas embarcações que abasteciam as grandes". A Vila de Iguaçu (abaixo), cujos restos são representados por uma torre sineira e um cemitério, foi tombada provisoriamente, em 08 de abril de 1983, quando o Diário Oficial do

Figura 14 - "Vila de Iguaçu" levantada pelo Coronel Engenheiro Conrado Jacob Niemeyer no ano de 1837. Fonte: Professor Afrânio Peixoto.

1- Morro da Cadeia; 10- Largo dos Ferreiros 19- Moro Demetriano

2- Caminho da Serra; 11- Armazém Soares Melo 20- Brejo Cambambé

3- Porto do Pinto; 12- Porto de Iguaçu 21- Marambaia

4- Porto do Viana; 13- Morro da Pessoa 22- Caminho dos Velhacos

5- Porto Soares Melo; 14- Morro do Marinho 23- Para Tinguá

6- Porto de Passageiros; 15- Morro do Vítor 24- Estrada do Comércio

7- Porto dos Saveiros; 16- Largo Lava-Pés 25- Estrada do Cambambé

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8- Câmara Municipal; 17- Igreja N. S. Piedade 26- Córrego Mangangá

9- Cadeia; 18- Morro M. Lima 27- Estrada da Olaria

Estado do Rio de Janeiro, publicou na página 24, parte II o Edital de Tombamento editado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural - INEPAC, autuado no Processo Administrativo E- 03/02453/78, nos termos do Decreto 5.808 de 13 de julho de 1982, Artigo 5º, Inciso II e descreve também, a área onde se insere, às folhas 32 e fixada em mapa às folhas 34 do P.A. citado, conforme copiado abaixo:

_ " a partir do canal Tinguá com o canal Iguaçu, continuando por este por cerca de 430 , 40 metros até encontrar o limite da Fazenda Barão de guandu; descendo em linha reta por sobre os morros Lavrado, M. Lima, até encontrar a estrada da Grama no local do marco da Grama; segue pela Estrada da Grama por cerca de 140,00 metros; deste ponto sobre uma reta com cerca de 682,00 metros até atingir a Estrada do Cambambé no local do marco do monumento próximo aos bambus; prossegue o perímetro pela Estrada do Cambambé até atingir um largo, onde existiu a Igreja de Nossa Senhora da Piedade e doiscemitérios. deste ponto segue umma Estrada sem nome entre o morro do Vitor e Morro Marinho até atingir o Largo do Lava Pés, que fica junto à atual estrada federal para Tinguá; do Largo segue a antiga Estrada do Comércio passando pelo largo dos Ferreiros continuando pela estrada até atingir o canal de Iguaçu, a 261,10 metros do seu encontro com o canal Tinguá, ponto inicial, fechando assim o perímetro".

As fotos abaixo, mostram a situação do cemitério, em péssimo estado de conservação, e é utilizado por religiosos do candomblé para cultos. Existe um cemitério acima, ainda utilizado, cujos coveiros fazem a manutenção do antigo.

Foto 32 - Cemitério de Iguaçu datado de 1875. Fonte: Amigos do Patrimônio Cultural.

Foto 33 - O Cemitério de Iguaçu em 2016, mostra que todas as cercas e portão foram arrancados. Fonte: José

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Como descrito antes, dentro desse contexto, encontra a Fazenda São Bernardino que se tornou símbolo da Baixada Fluminense demonstrando em sua arquitetura o apogeu do período cafeicultor e marcando a época de um ciclo econômico que atingiu o Brasil inteiro e deixando na região em estudo, as sequelas daquele período, cujas consequências sofremos ainda hoje, mas que, está cada vez mais, esquecido na memória da população.

Foto 34 - A Fazenda São Bernardino vista da estrada principal cercada por palmeiras. Fonte: fotografiabarragem.com.br

Foto 35 - A Fazenda São Bernardino no ano 2000, após vários incêndios e atos de vandalismo. Fonte: fotografiabarragem.com.br

Construída pelo Comendador Bernardino José de Souza e Melo, em 1875, para o engenho e fabrico de polvilho, constitui-se no conjunto arquitetônico da Fazenda São Bernardino, composto por casa grande, senzala e engenho, representa um exemplo de construção neoclássica na região. Na década de 1980, vários incêndios arruinaram o que restava da propriedade, que já havia sido saqueada e abandonada por seus últimos donos. Foi tombada pelo IPHAN em 26 de fevereiro de 1951 através do Processo 432T, e inserida, juntamente com o acervo descrito anteriormente, na proposta do Parque Metropolitano de Múltiplo Uso São Bernardino pela Fundação para o Desenvolvimento da Região Metropolitana do Rio de Janeiro - FUNDREM em 1975. Esse projeto, hoje, faz-se extremamente necessário, num momento em que se confirma o que já se dizia em 1988, quando da primeira proposta de estudo dessa região (Silva e Lemos, 1988, p.p. 04), "o patrimônio arqueológico dos municípios abordados por este Projeto, passa despercebido diante da sua população e autoridades, seja qual for o nível cultural ou escolaridade. Isso acarreta sua depredação desenfreada, descaracterizando a cultura local através

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do corte do vínculo com sua história, pelo bem destruído, pois a população não o reconhece, enquanto parte do seu passado." Muitos conhecimentos populares estão perdidos ou esquecido ou, ainda, limitados à memória de alguns, que embora tenham o interesse e a consciência, não dispõem dos recursos demandados à execução de um trabalho intensivo. Esses recursos são de ordem política, social e financeiro que somados a uma série de fenômenos, onde o avanço do neo pentecostalismo, a urbanização e a metropolização do Rio de Janeiro configuram como os principais fatores limitadores da preservação cultural, especialmente o patrimônio arqueológico na região. Hoje, pouco ou nada se conhece sobre a população nativa nos municípios base desse estudo. Restos que expressam as atividades cotidianas dos grupos pré-coloniais, estão perdidos e precisam ser encontrados para uma melhor compreensão da atual sociedade regional. Um bom resultado tem sido alcançado com a arqueologia de contrato, que ao desenvolver pesquisa de salvamento no espaço, tem contribuído com a produção desse conhecimento. Essa pesquisa encontrou dificuldade para localizar sítios arqueológicos pré-coloniais, uma vez que, estão fora do alcance das vistas e sua localização exigiu intervenções no solo para as quais não estava autorizado. A localização de sítios desse período foi feito por trabalhos de terceiros. O levantamento do patrimônio arqueológico propiciará, mediante estudos e planejamento, o surgimento de áreas turísticas pela sua importância histórica e social, favorecendo assim o desenvolvimento de opções de lazer e divertimento, bem como o surgimento de “unidades econômicas”. Daí a defesa para resgatar o projeto da Fazenda São Bernardino e reavaliá-lo, o que com certeza será capaz de gerar preservação, renda e emprego e principalmente, desenvolvimento humano. A seguir, tem Santana das Palmeiras nas margens da Estrada do Comércio, na Serra do Tinguá, que segundo o Professor Afrânio Peixoto, em entrevista pessoal em 27-07-1989, foi um povoado próspero, que em 1881 teve restabelecida a escola para meninas, fundada em 1869 e tinha como professores, em 1876 Leoldino Honorato Lopes e Luzia Maria de Lima Rabelo. E que em 1857 foi instalada uma agência postal considerando o desenvolvimento socioeconômico do povoado que chegou até o século XXI representado por documentos e as ruínas da igreja.

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Foto 36 - Mostra a lateral da Igreja de Santa das Palmeiras, na Serra do Tinguá, margens da Estrada do Comércio. Fonte historiabaixadablogspot.com

Foto 37 - Mostra a parte frontal da mesma Igreja. Fonte: historiabaixadablogspot.com

Figuras 15 e 16 - Folha de rosto e folha de registro de um livro de batismo em Santana das Palmeiras. O Original está na Diocese de Nova Iguaçu. Fonte: historiabaixadablogspot.com

O antigo povoado se localiza no meio da Reserva Biológica do Tinguá, criada em 23 de maio de 1989, pelo Decreto 97.780, com 26. 260 hectares, o que lhe garante proteção de um lado, mas de outro, não há nenhum programa que aborde o acervo arqueológica existente.

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Figura 17 - Mostra a parte frontal da Igreja de Santana das Palmeiras no alto da Serra do Tinguá. Fonte: historiabaixadablogspot.com

Foto 38 - Ruína da torre da Igreja de Santana, exibindo o resto da parte frontal mostrada na figura 11. Fonte: José Mauricio.

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Foto 39 - Parte lateral da Igreja de Santana em janeiro de 2016. Fonte José Mauricio. Foto 40 - Coluna do portão do cemitério localizado na parte de trás da Igreja de Santana. Fonte: José Mauricio.

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8 A ARQUEOLOGIA DA PAISAGEM

Diante do extenso tratamento dado ao tema, julguei oportuno antes de abordar a Arqueologia da Paisagem, considerar a trajetória e os diversos conceitos de paisagem, definida, por alguns, como o espaço da ação humana, seja através da atividade física, seja pela concepção mental atribuída ao meio, dando lhe significados e valores, o que Mataloto (2007, p. 123) "entende como o resultado da interação estreita e unificadora entre a componente natural e o elemento humano, numa dimensão material e imaterial, essencialmente perceptiva e conceitual, numa dinâmica constante de interação e vivência". Com posição diferente, Ingold (1993, pp. 154, 156), considera a paisagem qualitativa e heterogênea distinguindo-a dos aspectos fisiográficos, enquanto natureza, que é quantitativa e homogênea. Para o autor, o conceito de paisagem, coloca ênfase sobre a forma, da mesma maneira que o conceito de corpo, enfatiza a forma ao invés da função da vida de uma criatura e, é sempre produto da ação cultural. Já Valera (2000, p.114), diz que paisagem é a realidade englobante, resultado da interação orgânica entre o todo social e o meio ambiente. Incluída na diversidade conceitual da questão, Sousa (2004, p. 67), ao citar Rubertone21 (1989), faz uma análise das paisagens nos anos 80, até então, vistas como configurações resultantes apenas de mudanças ou eventos aleatórios, desprovidos de qualquer significado ideológico e atributos de participação ativa, passaram a ser entendidas "como uma força ativa na criação da ordem social, legítimando-a e causando-lhe mudança". Já para Salgueiro (2001, p.37), a paisagem surge na pintura em consequência da ruptura com a visão teológica medieval, integrando-se numa série de acontecimentos que vão dar corpo ao projeto da Modernidade. Ainda considerando Salgueiro (2001, p. 38), onde a autora diz que, até o século VXIII, a paisagem era sinônimo de pintura e foi nessa mediação com a arte, que o sítio ou lugar adquiriu estatuto de paisagem, o que a fez atribuir ênfase na: Fruição da natureza como espetáculo estético, implícita à invenção da paisagem, implica o afastamento entre o sujeito e o objeto de contemplação (a natureza), a mobilização dos sentidos e a aprendizagem de códigos de seleção, apreciação e valorização, os quais fazem parte de um modelo cultural, pois a paisagem é uma maneira de ver o mundo e só se vê o que se tem na cabeça (Piveteau, 1989)...... que a nova relação da sociedade com seu espaço não é portanto, um dado mas, um produto construído por um processo cultural e social. Requer aprendizagem. É necessário preparar o olhar para descobrir a beleza da natureza através de um processo cultural de aprendizagem de códigos e modelos a que Roger (1989 e 1991) chama articulação in vitu que consiste na inscrição do código artístico na materialidade do lugar, na sua transformação de modo a torná-lo belo [...]

21 RUBERTONE, Patrícia. 1989. Landscape as Artifact. Comments on "The Archaeological use of Landscape Treatment in Social, Economic and ideological Analysis." In Historical Archaeology, 23 (1): 50.4

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Como diz Mataloto (2007, p. 123), a paisagem, enquanto resultado da interação homem- natureza, surge-nos, hoje, como um verdadeiro repositório de existências e vivências que se desenrolaram ao longo de milhares de anos. É esta paisagem construída, trabalhada, conceitualizada que, ainda hoje, nos acompanha pejada de simbolismos, códigos e significações, que procuramos decifrar com a atividade arqueológica, numa ânsia de criação/preservação da memória coletiva: A paisagem é, no fundo, a percepção cognitiva da envolvente exterior pelo elemento humano,constituindo a memória a tomada de consciência da ação cognoscente. Assim, na realidade, paisagem e memória resultam num binômio inseparável, de total complementaridade, cuja construção corre em paralelo. Por outro lado, julgo ser da construção e partilha de uma paisagem, e logo de uma memória, pelo grupo ou pelo indivíduo, que surge a noção de identidade, enquanto sentimento de inclusão/pertença; isto é, a identidade é a partilha de uma memória coletiva. Deste modo, a construção da paisagem faz-se não apenas pela adição ou transformação de um conjunto de realidades fisiográfica e arquitetônicas, mas igualmente, e principalmente, pela inclusão, muitas vezes ritualizada, de novas conceitualizações, que geram uma nova semântica da paisagem. Assim, a sua profunda transformação poderá ser gerada sem uma alteração radical do contexto físico e material das pré-existências, “apenas” com a sua reconceitualização. Será entre este binômio, paisagem e identidade, que acabará por se desenrolar o conjunto de reflexões que se pretende desenvolver em seguida, através de um “fio condutor”articularmente marcante nos horizontes alentejanos, o Megalitismo, aqui entendido em largo espectro, e logo funerário e não-funerário. Por outro lado, o Megalitismo pode também ser entendido como o conjunto das práticas funerárias próprias do IV/III milênio a.C. (Gonçalves, 1992), afastando-se de um entendimento exclusivamente arquitetônico, justificando então o subtítulo utilizado.

Para Corrêa (1995, p.p. 03, 04), a paisagem articula o saber sobre a natureza com o saber sobre o homem, sendo de um lado o resultado de uma dada cultura que a moldou e, de outro, constitui-se em uma matriz cultural. Lino (2012, p. 60) aborda o aspecto imaginado, simbólico, cognitivo, que também deve ser considerado, para além da materialidade, que eu considero mais importante de todos, pois é onde se manifesta o processo educativo da sociedade como um todo, e na brasileira, não somos preparado para perceber o valor o patrimônio cultural arqueológico. Para Branton (2009, p. 51), as paisagens são espaços limitados nos quais se manifestam o comportamento humano, indo além de uma questão de escala e alcançando a natureza e o contexto do espaço e o comportamento humano desencadeado. Com a exposição anterior, busquei mostrar as diversas abordagens relacionadas ao tema paisagem sem que, contudo, haja qualquer exclusão entre elas. A meu ver são pensamentos diferentes sobre a mesma coisa que se somam trazendo contribuições de alguma forma. Chamam atenção no momento em que direcionam o conceito de paisagem ao trabalho que está sendo relatado, através de uma definição. Nessa linha, as abordagens ganham foco com a apresentação de palavras que nominam, de forma específica, o que está sendo coberto aqui. Assim a expressão paisagem cultural, se aproxima do tema tratado, sem negar que as demais formas não sejam

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importantes ou apontar divergências entre elas, mas apenas dar ênfase à transformação desencadeada pelos grupos sociais no meio e possíveis de serem observadas no espaço. Nessa direção tomo Costa e Gastal (2010, p. 2)22, quando abordam o conceito de Paisagem Cultural, atribuindo-lhe uma trajetória ao mostrarem que o mesmo se afirma na Escola de Berkeley, na Califórnia (EUA), no início do século XX. Segundo as autoras a adoção do conceito de Paisagem Cultural por órgãos responsáveis pela preservação do patrimônio em nível nacional e internacional é recente, evidenciando uma nova lógica em relação ao patrimônio cultural e, nesta fala, acrescento, em especial ao arqueológico. Para Corrêa (1995, p. 4), paisagem cultural é constituída pelo conjunto de formas dispostas e articuladas entre si no espaço como os campos, as cercas vivas, os caminhos, a casa, a igreja, entre outras, com seus estilos e cores, resultante da ação transformadora do homem sobre a natureza. Assim, a paisagem é direcionada aos interesses desse estudo que, diante das diversas considerações apresentadas e, outras tantas podem ser enumeradas usarei, por adesão, o conceito de paisagem proposto por George Bertrand (1971, 2004, p. 141), citado por Schier (2003, p. 80), como uma porção do espaço, resultado da combinação dinâmica, portanto instável, de elementos físicos, biológicos e antropológicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem um conjunto único e indissociável, em perpétua evolução. Não vejo, nas exposições sobre os conceitos de paisagem, incompatibilidade entre si, mas complementação que tornaram possíveis estabelecer uma definição e atribuição para a Arqueologia da Paisagem tendo como referência teórica Honorato (2009, p. 127), que a define, enquanto uma linha de pesquisa que considera, não apenas, os artefatos arqueológicos encontrados nos sítios arqueológicos, mas também todo um contexto ambiental, utilizando os geoindicadores arqueológicos, que podem fornecer uma série de informações e de evidências sobre as ocupações pré-coloniais: A arqueologia da paisagem possui como estratégia de pesquisa, a mínima intervenção no registro arqueológico, na tentativa de inferir sobre o modo de ocupação das populações que habitaram o território onde se insere o sítio arqueológico, analisando, além de artefatos arqueológicos, os vestígios e intervenções encontrados no entorno do sítio.

A Arqueologia da Paisagem propõe um modelo alternativo para a abordagem da relação Homem/Espaço, cujos fundamentos filosóficos são centrais na evolução das ciências sociais (VALERA, 2000, p. 116).

22 Trabalho publicado no Anais do VI Seminário de Pesquisa em turismo do MERCOSUL, Saberes e fazeres no turismo: Interfaces, nos dias 9 e 10 de julho de 2010. Neste trabalho, as autoras citam o artigo "A Morfologia da Paisagem", escrito pelo geógrafo estadunidense Carl Ortwin Sauer, em 1925, que segundo elas, viria a se tornar um dos maiores expoentes na defesa do caráter científico da paisagem dentro da Geografia.

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Na arqueologia, a paisagem é o espaço visível pelo pesquisador, onde ele concentra seus estudos na busca de entender as sucessivas ocupações humanas em uma mesma paisagem e como ocorreu essa transformação (HONORATO 2009, p. 147). Para Copé ( 2012, p.p. 92-121) trata-se da: Orientação teórica metodológica de médio alcance aplicada ao estudo de sociedades pretéritas e contemporâneas dentro do contexto de suas interações no ambiente natural e social em que habitam. A origem do uso desta abordagem na arqueologia remonta às décadas de 1950 e 1960 quando começam as preocupações com estudos de âmbito regional. O conceito de paisagem, assim como, a utilização desta abordagem na interpretação do registro arqueológico evoluiu muito no decurso do século passado. A paisagem foi, e é, considerada por muitos como sinônimo de meio ambiente físico. Ao longo do século XX, percebemos basicamente três linhas mestras de interpretação da relação Homem versus Ambiente: 1. o ambiente como condicionador ou como mero cenário das ações humanas, 2. a interação entre homem e natureza (necessitando métodos de mensuração dos níveis de adaptação) e 3. o homem construindo, economicamente, socialmente, simbolicamente, o seu espaço.

Para José Luiz de Morais (2007, p. 102), a abordagem da paisagem ou dos entornos de ambientação de sítios e locais de interesse arqueológico vem se firmando cada vez mais com o uso das tecnologias hoje disponíveis: sistema de sensoriamento remoto (imagens de satélites, fotografias aéreas e fotografias terrestres), sistema de informação geográfica, sistema de posicionamento global, sistema de gerenciamento de bancos de dados, tecnologias não invasivas de terreno e construções, etc. O autor define a arqueologia da paisagem como: a linha de pesquisa que melhor sustenta os estudos de arqueologia preventiva. Enquanto subcampo, ela estuda o processo de artificialização do meio, na perspectiva dos sistemas regionais de povoamento. Seu tema central é a reconstrução dos cenários das ocupações humanas, com foco na dispersão das populações pelo ecúmeno, episódio que gerou paisagens específicas.

Pode-se observar isso com muita facilidade no espaço territorial dos municípios aqui tratados, o que nos leva a concordar com Diniz (2000, p. 21) quando diz: que a ocupação do espaço geográfico brasileiro e a formação do espaço econômico passaram por várias etapas que foram, fundamentalmente guiadas pelas possibilidades de cada região se inserir no comércio internacional, a exemplo do açúcar no Nordeste, do ouro em Minas Gerais e Goiás, a borracha no Norte, do café no Sudeste, da pecuária no Sul, etc. A infra-estrutura era muito limitada, resumindo-se a um precário sistema de transportes ligando as regiões produtoras aos portos de exportação, em torno dos quais se formaram as mais importantes cidades.

Segundo Torres (2007, pp.77), a Arqueologia da Paisagem é hoje um componente importante dos estudos realizados por arqueólogos para a compreensão dos povos e culturas do passado: [...] a paisagem tem sido analisada por uma variedade de abordagens que têm se colocado além da ideia de que ela constitui-se apenas em um recurso para abrigo, aquisição de matéria-prima e práticas de subsistência.

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Esse discurso me chamou a atenção, uma vez que o patrimônio arqueológico faz parte da natureza do lugar, logo da paisagem e, enquanto povo, não estamos treinados a vê-lo. As diversas transformações pelas quais passou a Baixada Fluminense, em especial os municípios de Nova Iguaçu, Queimados, Mesquita, Belford Roxo e Japeri, principalmente com a criação das diversas vias de acesso, construção de diques para represamento de água, instalação de tubulações para o abastecimento da Capital do Império e um sistema de dragagem que drenou os pântanos que afloravam no meio físico local, me reportou ao conceito de paisagem e consequentemente me levou a uma abordagem arqueológica paisagística. Tais transformações ocorridas nas paisagens da região, ganharam um novo elemento, localizado e caracterizado pelas ondas migratórias que fizeram crescer a sua população num ritmo muito acelerado que, por si só, foram suficientes para criar uma paisagem urbana característica e com peso para impactar a zona rural que ainda existe. Nessa direção, considerar o espaço territorial constituído por uma área de 796,016 km², parcelada em cinco municípios, ocupados por uma população estimada pelo, IBGE, para 2016 de 1.707,683 habitantes, como já mencionado anteriormente, provocando a artificialização do meio, de forma, nunca visto antes, e colocando-se, como fundamental e urgente, na pauta das discussões e propostas de trabalhos arqueológicos, uma vez que esse contingente age sobre a paisagem confirmando sua dinâmica, posto que, o ser humano, não só vive no lugar, mas cria e recria o seu próprio lugar de viver. Vejo no crescimento demográfico, desordenado, uma situação agravada, por exemplo, em uma comunidade, onde o cidadão comum, que vive as mais diversas experiências cotidianas, relacionadas com a integridade física ameaçada pelos problemas de moradia, segurança pública, saúde, emprego e renda, entre outros, forma o conjunto habitacional que entorna o patrimônio cultural arqueológico. É comum ouvir como argumento de um morador que destruiu parte ou toda a ruína em pedras, a alegação de que precisa construir sua casa. Me reporto também à experiência com as escolas da rede particular, que em sua maioria, com poucas exceções, treinam seus alunos à uma visão de mundo além das fronteiras locais, regionais e, até nacionais, na qual o lugar de vivência, não é mostrado ou, tratado pelo seu potencial e consequente tratamento recebido por parte do poder público, lhe atribuindo características, que "neste momento", apresenta-se com aspecto bastante maltratado e considerado feio, consequência da ausência de uma política de atuação efetiva. Outro fator a considerar é a urbanização na vertente da capitalização do solo urbano onde o espaço se transforma numa fantástica fonte de capital e o patrimônio arqueológico ali existente é visto como entulho a ser retirado ou aproveitado no aterro da terraplanagem para construção de casas ou outras instalações, que serão vendidas a

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preços enriquecedores. Esse assunto será abordado com mais detalhes no Capítulo Arqueologia Urbana. O processo de ocupação do território em apreço, se tornou viável a partir do momento em que os grupos sociais se apropriam do meio e o adequaram às suas pretensões. Tal processo teve um papel importante nas alterações locais definindo espaços e lugares que se tornam nítidos pelas mudanças efetuadas. Essas alterações se dão num plano amplo ou reduzido, isto é, um simples objeto inserido num contexto sociocultural, ou um caminho formado por um longo percurso com função de mobilidade. Quando teve início a produção industrial brasileira, na segunda metade do século XIX, ela se realizou de forma descentralizada e fortemente vinculada aos mercados regionais, conforme diz Furtado (2009, p.p.159-163 ), citado em Diniz (2000, p. 21). Isto certamente ocasionou transformações que reestruturaram a paisagem do setor produtivo nos locais, retratando um patrimônio cultural arqueológico com características próprias vinculadas a essa nova fase. Essa fase pode ser identificada, tanto na representação da Fazenda São Bernardino, como na estrutura do registro arqueológico histórico nos domínios da Sesmaria doada a Inacio Dias Velho, onde podemos identificar um acervo arqueológico que sugere um parque agroindustrial com forte marca na paisagem do passado. Isso demanda o uso da Arqueologia da Paisagem enquanto um método que permite ampliar a escala da unidade arqueológica para uma perspectiva de conjunto e até região. Desta forma, percebo a utilidade da arqueologia da paisagem como suporte para lidar com vários sítios arqueológicos disposto em contexto (tempo, espaço, artefato-monumento) formando uma unidade. Isto lhe atribui uma visão holística pela qual o cientista pode ser levado a ter em mente várias escalas de análise espaciais e temporais, conforme visto em Clark e Scheiber (2008, p.p. 03 a 09). Ao falar do patrimônio cultural do espaço territorial limitado pelos municípios abordados, é importante observar o que disse Lago (2000, p.207) em que faz referência às transformações observadas à partir de 1980: [...] os impactos sociais e espaciais da crise e da reestruturação econômica, no qual a ideia de dualidade alcançou relativa hegemonia, seja no âmbito da estrutura social, seja no da nova desigualdade espacial ou, mesmo, por novas formas de segregação...... as macrotendências econômicas, vistas através das mudanças nos perfis socioocupacionais das diferentes área que conformam o espaço metropolitano e as microtendências da dinâmica urbana, marcadas pelo comportamento dos submercados imobiliários, pela ação do poder público sobre o espaço construído e pela mobilidade residencial dos diferentes segmentos sociais no interior da metrópole [...]

Hoje, observamos no local, e mesmo na região, uma associação entre o poder público nas diversas esferas, o que entendo no que Lagos (2000, p. 208) chamou de submercado, processo no qual verifica uma expansão criminosa da ocupação e capitalização do solo urbano e

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rural comprometendo entre outras coisas ali inserido, e de forma especial, o patrimônio arqueológico. Esse manejo político-criminoso, altera a paisagem local, numa velocidade quase impossível de conter, pelos interesses da preservação e valorização dos traços culturais característicos. Verificando o que disse Filho (1998, p. 02), as questões ambientais, em geral, extrapolam as áreas de atuação de várias ciências, posto que a compreensão das relações do meio ambiente e sua dinâmica requer uma visão integrada de ambos os aspectos físicos e ecológicos de sistemas naturais e de suas interações com os fatores sócio econômicos e políticos. Nesse trabalho que visa o estudo do processo de ocupação do território correspondentes ao espaço referenciado pelos rios Iguaçu, Santana e Guandu e os maciços do Tinguá e Mendanha, a partir do levantamento do patrimônio arqueológico que corresponde ao testemunho da presença humana na área desde o primeiro momento da chegado dos primeiros grupos sociais, condiz com as etapas de ocupação e desenvolvimento das atividades antrópicas que alteraram o meio natural e condicionaram o espaço. Isso nos remete à ideologia, que segundo Leone (1984, p. 371), arqueólogos históricos tem buscado no campo da teoria da ecologia cultural e padrão de assentamentos dados para o estudo de regiões remanescentes do período colonial, o que é o caso deste projeto. Diz que a ideologia não constitui, nem uma visão de mundo e, tão pouco um tipo de crença, mas ideias sobre a natureza, causas, tempo, e pessoas ou aquelas coisas tomadas por uma sociedade como "dadas certas" e que estas ideias servem para naturalizar e, portanto, mascarar as desigualdades na ordem social, onde ideias, como a noção de pessoas, quando acriticamente, aceitas, servem para reproduzir a ordem social.

Com isso, busco entender se, de alguma maneira, o espaço transformado na atual paisagem parte, antes, de um planejamento, ainda que inconsciente dos ocupantes de certa época e se isso pode ser visualizado através do acervo arqueológico. A partir deste momento a paisagem começa a ter um significado diferenciado, deixando de ser apenas uma referência espacial ou um objeto de observação. Ela se coloca num contexto cultural e discursivo, principalmente nos discursos das artes e, pouco depois, nas abordagens científicas que rompem com a ideia da Idade Média de que, o mundo inteiro, seja a criação de Deus e por isso santificado e indecifrável (SCHIER, 2003, p. 81). Nessa corrente, temos como representante arqueológico, os caminhos, entendidos, aqui, como as vias de acesso destinadas ao deslocamento humano, seja dentro do lugar de assentamento, neste caso traçados de curto percurso, seja para interligar assentamentos diferentes e regiões, onde os traçados são para percorrer médias e longas distâncias, respectivamente. Pela área da pesquisa pode se ser verificada uma rede viária de alcance nacional, regional e local, que possivelmente, muitos de seus caminhos, remontam ao período pré-colonial, tendo sido

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originado pelos nativos que se utilizariam deles para a dinâmica do dia a dia e apropriação do território. Necessitam de maiores investigações, com prospecção e escavação em locais específicos a fim de confirmar tal hipótese. Entre os caminhos merece destaque aqui, o Caminho Novo, cuja picada é creditada a Garcia Rodrigues Paes, neto de Fernão Dias, o caçador de Esmeraldas.

Figura 18 - Fachada da Igreja Santana das Palmeiras que se localiza nas margens da estrada do Comércio, no interior da Rebio-Tinguá - Nova Iguaçu-RJ. Fonte: Amigos do Patrimônio.

Os caminhos foram condicionantes sócio espaciais para a implantação de sesmarias, como as que foram doadas a Inácio Dias Velho, em especial, a de 13 de agosto 1743, cuja principal vantagem foi ter como testada a Leste, o Caminho das Minas. Isto, certamente, colocou o Donatário em posição privilegiada diante da ocupação territorial. Sugeri, num primeiro momento, que a primeira construção desta unidade fundiária, tivesse sido erguida nas margens dessa via de circulação nacional e sua exploração nos limites estabelecidos pela carta de doação, tivesse se dado a partir desta estrada de acesso de importância nacional e pelo facão das serras da Viúva e da Bandeira, principalmente, considerando que a baixada era inundada, inundável e tida por anecúmena. No entanto, novas informações decorrentes dessa pesquisa, apontam uma outra possibilidade de ocupação, pela existência de outras vias, já existente naquela dada. Teve como desdobramento final, o Município de Japeri, após vários ordenamentos do seu território. Cabe ressaltar que a localização de sítios arqueológicos nesse trecho vem confirmando tal hipótese. Os caminhos foram, também, responsáveis pelo surgimento de diversas formas de ocupação às suas margens, com funções que variavam de roças, onde se cultivavam produtos agrícolas para o fornecimento de alimentos destinados à alimentação humana e animal. Nestas roças, além da plantação de milho, cana, batata doce, feijão, abóbora, cará, arroz, mandioca, inhame, legumes, algodão e da criação de bois, cavalos e porcos, foram erguidos engenhos de

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açúcar e engenhocas de aguardente. Várias roças foram estabelecidas entre os rios Preto, Paraibuna, Paraíba e Piabanha que se transformaram posteriormente em povoações. Outra forma de ocupação do espaço ao longo das passagens, foi a implantação de ranchos com estalagens para os tropeiros, além de postos de fiscalização do ouro. Santana das Palmeiras, hoje em ruínas, foi uma vila próspera, que se localiza às margens do caminho Novo do Tinguá, de frente às terras da sesmaria doada a Inácio Dias Velho. A fachada da Igreja de Santana das Palmeiras simboliza essa prosperidade verificada no topo da "Serra" do Tinguá. Vários caminhos podem ser identificados no espaço citado, sem que ainda tenhamos uma definição sobre sua função. Muitos foram utilizados até a década de 1970, para o transporte de banana e outros produtos agrícolas secundários, como o inhame, batata doce e arroz, que era feito por tração animal onde o burro era a principal força motora. Insisto na ideia de que os principais caminhos tenham sido construídos sobre antigas vias pré-coloniais, utilizadas pelos nativos para a exploração territorial. Muitos nomes foram localizados, convertendo trechos dessas vias em uma apropriação local face sua utilização, fazendo com que parecessem caminhos diferentes. Foi o caso, durante muito tempo, na localidade de Mário Belo, hoje, bairro rural do Município de Paracambi, onde um trecho de uma variante da Estrada do Rodeio que liga esta à Estrada da Polícia, foi chamado de Estrada do Boqueirão. Hoje, a Estrada do Boqueirão é lembrada, apenas, pelos moradores mais antigos, ou o Caminho/Estrada do Ronco, na mesma localidade, fazendo referência a outro segmento daquela variante da Estrada do Rodeio. De acordo com o percurso e destino do caminho, tornava-se uma via de intenso fluxo de pessoas e animais, que geravam demandas de apoio logístico, fazendo com que muitos moradores, ao perceberem nessas demandas um negócio a ser explorado, empreendessem-se em uma atividade fim. Estes caminhos foram responsáveis por profundas alterações na paisagem marginal e arredores dessas vias, confirmando estas unidades culturais, enquanto artefatos vetores de relações sociais e econômicas (SOUSA, 2004, p. 69). Os caminhos que levavam a Minas Gerais, por exemplo, chegaram a ser responsáveis por crise de abastecimento no Rio de Janeiro, ao mesmo tempo em que causavam "desenvolvimento" de atividades econômicas locais, atuando como propulsores no processo de expansão territorial conforme diz Novaes (2004, p. 53): Parte significativa da história de nossa colonização foi escrita ao longo e através desses caminhos e, quando sobre eles nos debruçamos, trazemos à tona acontecimentos que abrangem desde a expulsão dos índios nativos de suas terras, ao transporte do ouro e o abastecimento das Minas Gerais, chegando ao estabelecimento da cultura do café, ao surgimento e enriquecimento das famílias dos “barões do café”, e às modificações socioeconômicas e culturais por que passou esta região, e o país como um todo, nesse período de tempo que é objeto de nosso estudo.

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Saber o grau de desenvolvimento experimentado pelo espaço formado pelos municípios em destaque a partir desses caminhos é um desafio que pode classificar a história local em seguimentos temporais com reflexos no registro material. Os caminhos que cortam o território estudado, devem ser avaliados à luz da Toponímia, que embora não seja objeto desse trabalho, se mostra bastante importante no seu contexto histórico, uma vez que ajudará esclarecer dúvidas ocasionadas pelos nomes de lugares, como é o caso de Japeri, sobreposto a Belém, mas que, até aqui, ninguém soube explicar a origem e significado desse nome. Originado do Engenho de Pedro Dias Paes, cujas ruínas são registradas como Morgado de Belém, desenvolveu-se na serra e veio para a baixada trazido pela estrada de ferro, outro caminho que atuou como condicionante sócio-espacial importante para a Região Metropolitana, em especial a Baixada Fluminense, onde encontram-se inserido os municípios tratados aqui. A ferrovia foi responsável pela mudança de sedes de localidades para suas margens, como foram os casos de Nova Iguaçu e Japeri. O primeiro à margem do Rio Iguaçu e o segundo na Serra da Bandeira. O processo de implantação da ferrovia oficial, teve início com o Decreto Imperial 101 de 31 de outubro de 1835 que autorizou o governo imperial a conceder a uma ou mais companhias, que fizerem uma estrada de ferro da Capital do Império, para as de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Bahia, com carta de privilégio exclusivo por espaço de 40 anos, para o uso de carros para transporte de gêneros e passageiros, sob as condições que se estabelecem. As companhias tiveram um prazo de dois anos para o início das obras. Na verdade, isso foi o início de um processo de ocupação do espaço que se estendeu por longo tempo e conflito entre o Governo Imperial e as companhias, até à inauguração. A questão que chegou, inclusive a comprometer a inauguração da estrada foi a que se caracterizou entre Cristiano Benedito Ottoni e o representante da Companhia inglesa contratadora das obras da estrada no trecho Queimado a Belém, Samuel Bayliss, conforme a carta enviada ao Marques de Olinda, por ocasião da entrega da referida obra, em 1857, pelo Presidente da Diretoria da Estrada de Ferro D. Pedro II, o próprio Cristiano Ottoni. O fato, que teve grande repercussão na imprensa da época, foi responsável pela edição do Regulamento 1930 de 28 de abril de 1857, que narra a desavença entre os dois citados. O representante da companhia inglesa reclama não ter recebido a quantia de 12000 libras esterlinas para a conclusão das obras do trecho. O Governo Imperial afirmou ter concluído contrato firmado legalmente. Em represaria ao Governo imperial brasileiro, Bayliss destruiu uma ponte em Caramujo e colocou obstáculos à passagem do trem até Belém. Caramujo é, hoje, Engenheiro Pedreira, Bairro de Japeri. e a única ponte na localidade é a que corta o Rio dos Poços, formado pela confluência dos Rio Santo Antonio e D`Ouro, a pouca

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distância da ponte. Esse conflito atrasou a inauguração da Estrada de ferro, que em Belém ocorreu em 08 de novembro de 1858, com duas partidas de trem, uma às 6:00 horas e outra, às 15:50 com o ponto de encontro em Machambomba (Nova Iguaçu). Uma carta de Cristiano Benedito Ottoni, enviada ao Marques de Olinda, aborda um acidente envolvendo duas locomotivas que se chocaram sem fazer vítimas fatais. Passageiros, tiveram apenas ferimentos leves. Fala que abriu um inquérito para apuração dos fatos, e justifica o fato de ainda não ter sido enviado o relatório:

[...] foi que sendo muito crônica (?) a partir do Inspetor geral do tráfego, a Diretoria mandou proceder a um inquérito, de que não recebeu, ainda o resultado. Posso, por ora, affirmar a V. Sa. 1º que nosso trem tinha sido retardado por foça maior; 2º que Bayliss o soube em Queimados e reconheceo o perigo de partir para a cidade com o seo trem de modo que expedio adiante um empregado, a cavalo, com uma bandeirola encarnada, signal de perigo; 3º que alcançando um caminho esse empregado, dispensou-o do serviço: sendo este a falta que em verdade causou o abalroamento. Houve alguma contensões, pelo choque das cabeças dos viajantes contra os carros e, não me consta que se desse ferimentos graves.

Ainda na construção da Estrada de Ferro D. Pedro II, nos limites de Belém, após a travessia do Rio Santana uma carta de 24 de junho de 1858, Cristiano Otoni ao Marques de Olinda, dizendo que: "[...] na data de ontem (23-06-1858), o Engenheiro em Chefe, informou que 300 trabalhadores estão parados na Fazenda do Machado, pertencente a uma sobrinha do Desembargador Venancio José Lisboas, porque o feitor lhes nega licença de se servirem do caminho particular, que dá acesso ao lugar do serviço, não podendo ir pela linha do traço por causa de brejos profundos e falta de ponte sobre o Rio Sant`Anna. Queixa-se o desembargador de estragos feitos em plantações e beifeitorias, estragos que a existirem serão pagos, mas que precisam verificar, partindo eu para esse fim no dia 29, mas sendo no entanto um grave prejuízo sustentarem os empreiteiros 300 homens em ócio, recorro à benevolência de V. Exa, pedindo a interção do seu valimento, para que o desembargador dê ordem que se deixem trabalhar os nossos homens, embora tomando todas as cautelas contra danos possíveis e mandando comigo uma pessoa de sua confiança para avaliar as plantações destruídas, que serão pagas logo depois. Eu sou testemunha do exemplo com que os engenheiros da Companhia evitãodannosinuteis, e quanto aos empreiteiros, tenho dados para crer que são immensamente exageradas as notícias a que se refere o desembargador. Em todo caso a intervenção de V. Exa. a vista do exposto julgará da urgência do caso."

Essa área é, hoje, onde tem-se um viaduto da Estrada de Ferro logo depois que atravessa a Estrada Belém/Cacarias. A Fazenda do Machado, localizada no Município de Paracambi, constitui-se em outra unidade fundiária, que explora gado bovino de corte, dela restando as ruínas que mostram o tamanho da casa e provavelmente tem muita informação a fornecer para o processo de ocupação do espaço no período histórico e ainda não foi registrado no IPHAN. Existem os caminhos de importância local, mas com grande capacidade integrativa, a exemplo da planta da Fazenda Santa Barbara, de 1876 que mostra as estruturas rurais unidas e o

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tipo de utilização feita naquela via, vinculada entre dois caminhos de importância regional e/ou nacional. A questão dos caminhos também exige uma reavaliação por parte dos pesquisadores que se dedicam ao assunto, uma vez que, considero as mesmas, coisas tratadas de formas diferentes. O mapa abaixo foi extraído do trabalho de Adriano Novaes, denominado "Os Caminhos Antigos no Território Fluminense", uma iniciativa muito importante, mas que mostra uma questão igualmente importante ligada à Toponímia. Vários nomes foram alterados no curto espaço de tempo histórico de 100/150 anos.

Figura 19 - Os Caminhos Antigos do Território Fluminense - PRESERVALE. Fonte: Adriano Novaes.

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Outro importante patrimônio arqueológico, hoje despercebido da população em geral, até mesmo, daquela parcela que, em alguns curtos trechos, ainda se utiliza da chamada "Estrada da Polícia" como principal via de acesso. Essa estrada, foi iniciada no Período Colonial e concluída no Imperial. Consumiu um grande volume de recursos do tesouro e teve pouca duração, deixando como legado um rico acervo impregnado de fatos que marcaram a sua trajetória no espaço. Cortou a Sesmaria de Ignácio Dias Velho ao meio, promovendo alterações na paisagem, trazendo mudanças no espaço sóciocultural e econômico da região, que até a presente data, não foram interpretados. Trata-se de uma estrada, cujo projeto partiu da Real Junta do Comércio, sendo inicialmente chamada de Estrada do Rio Preto, cujo início se deu em 11 de junho de 1812 por aviso da Secretaria "d`Estado de 11 do mes ... e continuou athe 31-10-1821. Foi uma estrada que levou muito tempo para ser construída. O documento de 08-10-1814 encaminha três mapas mensais da Estrada do Rio Preto e ofícios originais do Engenheiro (Sargento Mor- Francisco Jose de Souza Soares de Andrêa datado de 2-10-1814 falando das instruções necessárias relativas à largura que deve ter a Estrada nos seus diferentes lugares em consequência da Portaria "deste" Regio tribunal de 14-12-1813 q. manda nos lugares planos (?) tenha trinta palmos, vinte nas cavas (?) das serras e morros e vinte e cinco nos ângulos das subidas. O Sargento Mor diz em seu documento que vinte palmos não são bastantes para se encontrarem duas quesquermachinas em sentidos opostos sem se embaraçarem nas rodas ou sem o perigo de se precipitarem. [...]Diz ainda que nas voltas ou reitrantes não será praticável adoptar humaso medida devendo regular-se o trabalho à fução do terreno que exige sem dúvida maior largura nos reitrances formados por angulos mais agudos. Fala ainda que já ian principiar os paredões e que portanto, devia V. Alteza determinar o salário que devem vencer os pedreiros não faltando nos que servirem de mestres ... Este documento foi assinado pelo Sargento Mor Francisco José de Souza Soares d`Andrêa no Quartel do Tinguá. Ele foi nomeado a partir de um comunicado de José Pedro Francisco Leme solicitando a nomeação de um novo diretor para a Estrada do Rio Preto à Corte em função do atual ter pedido demissão a pretexto de doença. Com a ordem doe pagamento de 17-10-1812 paga em 21-10-1812 a Antonio José de Mattos Nogueiras pela compra de vestuário de vinte escravos para a Real Estrada do Rio Preto. Em 30-09-1814 foi pago a quantia de 252$000(duzentos e cinquenta e dois Contos de Reis), conforme dados do segundoContador Francisco Dias das Chagas, foi para pagar a folha dos vencimentos do Sargento Mor Engº Francisco José de Souza Soares de Adrêa, encarregado de examinar o terreno para a abertura da Estrada do Rio Preto à Corte, desde o dia 09-05-1814 athe o de 30 de setembro de 1814 acima, em conformidade da immediata Resolução da Consulta de 27-11-1811 ou 1812."

Através de um documento emitido em 18-06-1816 é comunicado à V. Alteza a fuga de nove pretos da Real Junta do Comércio em trabalhos na Estrada Real do Rio Preto por se queixarem de dureza e maus tratamento dos feitores a que estavam entregues. Se recolheram no armazém donde estão outros pretos que também pertencem à Junta do Comércio. O documento solicita o que fazer e contém a carta do Diretor da Estrada que repassa o comunicado do Capitão Manoel d`Azevedo Mattos datado do dia 10-06-1816.

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No registro de Portaria expedida pela Secretaria de Estado dos Negócios do Império em 18 de dezembro de 1828 pela qual o Intendente Geral da Polícia, se dirigiu ao Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Fazenda dando parte de se achar concluída a Estrada, que pela dita Intendência se mandou fazer desde o: Porto de Iguassú athé a Ponte do Presídio do Rio Preto e pedindo providências para não somente se poder conservar sempre em bom estado a mesma Estrada, mas para ser continuada athe chegar aos Campos da Província de Minas Gerais. O Parágrafo. 4º do documento determina que "Para Comodidade dos viajantes se fação ranchos em toda a extensão da Estrada de três em três légoas e tenhão cento e secenta palmos de cumprimento e quarenta de largura,cobertos de telhas. Que estes ranchos sejão feitos pelos proprietários das terras, e, em prazos determinados, ou pela Intendência Geral da Polícia em cazo de repugnância do produto da contribuição da passagem do Rio Parahiba, entendendo-se o Intendente Geral com os donos dos terrenos para justa indenização não só da parte destinada para os ranchos, como tão bem da necessária para pasto dos animais dos viajantes e condutores.

O "Aviso" de 18-02-1826, manda entregar as ferramentas usadas na construção da Estrada Real do Rio Preto. Os documentos trazem informações importantes que podem ajudar na identificação de estruturas às margens da Estrada da Polícia no seu trecho nos Municípios de Nova Iguaçu e Japeri, visto que sua origem é na Vila de Iguaçu, conhecido, hoje, por Iguaçu Velho. No Tinguá ficava o Quartel Geral do comando da construção da Estrada em local, ainda não identificado. Talvez, essa estrada tivesse o mesmo percurso da Estrada Real até Tinguá, de onde se bifurcou em outra direção. Já o Decreto nº 1,018 de 22 de outubro de 1857, Antonio Nicoláo Tolentino, do Conselho de Sua Majestade, o Imperador, oficial da ordem da Rosa, cavaleiro da de Cristo e presidente da Província do Rio de Janeiro, publicou este decreto autorizando a construção de uma estrada que, partindo do Alto da Serra da Viúva, na Estrada do Comércio, vá encontrar a de Presidente Pedreira, o mais perto possível da estação terminal da Estrada de Ferro de D. Pedro II, em Belém. Em seu parágrafo segundo, estabelece que a abertura ou melhoramento de travessias que, começando nas estradas do Comércio, Presidente, Fazendeiros e outras próximas da referida estação, façam convergir para este ponto o tráfego dos gêneros e produtos do Interior; precedendo as explorações e exames precisos para a execução de tais trabalhos. Essa estrada ficou conhecida, como a Estrada para Cacarias. Esta estrada tem um trecho, em Japeri, ainda muito utilizado, porém as pessoas que se beneficiam dele não têm ideia do que significa. A escola não informa, a biblioteca pública municipal, não oferece nada sobre o assunto que merece ser tratado de forma especial no capítulo que aborda a arqueologia pública.

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Foto 41 - Estrada do Cruzeiro, construída por determinação do Decreto 1.018 de 1857, ligando Belém (Japeri) a Cacaria (Piraí). Fonte: José Mauricio. Esta foto mostra parte da Serra da Bandeira, próxima à da Viúva por onde a estrada em referência passa. Do outro lado do facão da serra, por onde ela desce para atravessar o Rio Santana, uma obra do DER, consumiu parte do seu traçado, que era nítido. O Objetivo foi a extração de saibro para aterro e terraplanagem de uma rotatória e melhorias na RJ 125. Nenhum trabalho de levantamento visando a preservação do patrimônio foi feito. De Belém fazia a conexão com Cacarias em Piraí, conforme acusa na Balancete de Despesas e Receitas da Província nº 06 de 1974 despesas com a manutenção da Estrada de Belém a Cacarias . NATUREZA DA DESPESA PAGA POR PAGAR TOTAL Reparos dos aterrados e obras de arte 4:658$086 ------4:658$086 da Estrada de Belém a Cacarias Conservação da Estrada de Belém a 2:950$000 ------2:950$000 Cacarias Conservação da Estrada de Belém a 208$424 ------208$424 cacaria Conservação da Estrada de Belém a 855$978 ------855$978 Cacaria Pagamento a Matheus Soares 4:014$001 ------4:014$001 Cordeiro, proponente à arrematação de obras de arte da Estrada de Belém a Cacarias Tabela 1 - Gastos para preservação de estradas no período imperial. Fonte: Relatório do Presidente da Província, 1873, Tabela 28 APERJ.

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Isso mostra a importância da Estrada e confirma o que venho dizendo há tempo sobre a importância das vias de circulação para o desenvolvimento socioeconômico e cultural de Japeri. Outras vias de circulação foram implantadas no espaço em referência, sendo elas as linhas de transmissão de eletricidade de Furnas, os dutos da PETROBRAS e da CEG, que alteraram a paisagem dos municípios, revelaram sítios arqueológicos diminuíram o espaço rural e contribuíram com a urbanização. As desapropriações de terras voltadas para o abastecimento de água da Capital do Império, na segunda metade do século XIX e as grandes obras de dragagem das áreas alagadas da região mudaram, bastante, os aspectos ecológicos e geomorfológicos do espaço estudado, com alterações feitas nos cursos de rios, como o Santana e o Guandu, o São Pedro, o Canal Normandia e o Canal do Arroz. Constituíram em um outro fator condicionante da paisagem no território abordado, a partir da transformação das unidades fundiárias até então articuladas e interadas na Serra do Tinguá em uma Floresta Protetora dos mananciais hídricos, hoje, Reserva Biológica do Tinguá - Rebio-Tinguá. As represas, cujas construções deixaram um legado constituído por registro arqueológico do período histórico, ainda coletam água para o Rio de Janeiro e constituem a principal fonte de Japeri.

Fotos 42 e 43 - Mostram a época de construção do Complexo Mantiquira, sistema para o abastecimento de água para o Rio de Janeiro. Fonte: Biblioteca Nacional - Setor de Iconografia - BNDigital

No interior da Reserva, nas margens do Rio São Pedro, tem-se uma rede de canais que foram abertos por Francisco Bicalho, como consta na inscrições as rochas do local e não chegaram a ser concluídas. Documentos revelam que durante a seca em meados do século XIX, ao lado do aumento populacional da Capital do Império, resultando em demanda cada vez maior de água, os rios da região, entre outros, foram mapeados e estudados como fonte de recursos hídricos e captados num complexo chamado Mantiquira, constituído por Xerém, Tinguá,

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Adrianópolis, Rio D`Ouro e São Pedro, onde foram construídas barragens de captação e implantação de tubulação para o transporte da água até o Rio de Janeiro. Como consequência, foi deixada uma rede ferroviária que ficou conhecida como Estrada de Ferro Rio D`Ouro, hoje extinta. A implantação dessa rede de captação interviu na paisagem alterando a estrutura sócio- espacial local resultando na remodelação territorial e ainda utilizada. Foi, sem dúvida um condicionador sócio-espacial com capacidade para provocar, ao lado da ferrovia, a ocupação de uma área, antes considerada inóspita. A escritura lavrada no ano de 1877, constitui-se numa documentação cartorial que mostra como a Sesmaria de Ignácio Dias Velho já se desmembrava em fazenda menores, como a que foi negociada pela escritura de compra e venda de terrenos e águas que fazem o Dr. Luiz José de Carvalho e Mathos e sua mulher e outros à Fazenda Nacional, que na folha 2 e verso, cita o: [...] Comendador Alberto Vasco de Souza Prito e a mulher daquele como cessionários da parte da que tem na dita área ao Outorgante Luis Leme Betim, a qual possuem livre de encargos tanto judiciais como extra judiciais de qualquer espécie como proverão, assim como o domínio que na mesma tem com os documentos que apresentarão no Tesouro Nacional, onde ficam arquivados, fazendo parte dela compreendida entre si digo entre os rios de Santo Antonio e de São Pedro, o Morgado do Marapicu, cuja posse foi adquirida para o Estado do Rio de Janeiro, pelo mesmo motivo, a Cachoeira das Limeiras, a Estrada da Polícia e o Morro da Saudade, fecham o polígono da área da Fazenda Limeira necessária ao Governo a fim de serem derivadas as águas dos mesmos e do Ouro para abastecimento desta Capital, parte essa serem derivadas as digo que tem as seguintes extensão e confrontações conforme descrição datada de 16 de agosto de 1877 assinada pelo Inspetor das Obras Públicas e planta levantada pela mesma Repartição, as quais ficam também arquivadas no Tesouro Nacional [...]

Nas margens do Rio Santo Antônio, verifica-se a existência de estruturas de pedras que num primeiro momento lembra ruínas de uma casa, mas examinando com mais cuidados essa ideia é descartada em função da simetria e do tamanho. Trata-se de uma estrutura quadrada de aproximadamente 2 metros por dois metros (2 X 2) e que se repetem ao longo da margem. Podem ser, talvez um tipo de guarita que servia para guardar os limites das terras desapropriadas para a aquisição da água, que por sua vez não foi tão pacífico. Em Xerém um Senhor conhecido por Sr. Zé, há 73 anos na área informou que alcançou uma época que havia guardas florestais na antiga unidade. A planta abaixo é a do polígono da Fazenda Limeira, desapropriada pelo Governo para fins de coleta da água.

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Figura 20 - Perímetro da Fazenda Limeira nas margens da Estrada da Polícia entre os rios São Pedro e Santo Antonio. Fonte: ITERJ

A figura 12, na página 77, ilustra com detalhes as desapropriações feitas para a captação de água com vistas ao suprimento da Capital do Império e que deixou como legado uma Reserva Biológica e uma quantitativo de sítios arqueológicos que descrevem a apropriação do local pelos ocupantes que criaram as primeiras paisagens a partir das ações antrópicas perpetradas. A paisagem, criada e alterada por movimentos demográficos, forçados, que à vista da documentação histórica levantada, foi conflitante, gerando disputas administrativas ainda nas primeiras décadas do século XX, conforme visto no requerimento de Pedro Pinheiro Paes Leme

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datado de 18-09-1912, pedindo restituição de títulos referentes à sua propriedade à margem direita do Rio São Pedro ao Ministério da Viação e Obras Públicas, no departamento Geral de Obras Públicas.

Foto 44 - Antigo leito do Rio Santana, desviado para obras de saneamento e dragagem em 1919, no Km 18 da RJ 125. Fonte: José Mauricio.

O Relatório nº 11237 elaborado pela Comissão nomeada para o reconhecimento da Bacia Superior dos Rios Santana e Pilar para o abastecimento de água à Capital iniciado ano de 1889 e autuado em 1890, descreve a avaliação do governo sobre a expansão do sistema de suprimento de água e a preocupação do mesmo com a utilização da água pretendida no Rio de Janeiro, pelos moradores das margens dos rios. A foto 44, acima mostra o antigo leito do Rio Santana, desviado a partir de uma obra de saneamento (dragagem) no início do século XX, hoje utilizado para fins agrícola, alternando entre os cultivos de pastagem e olerícolas, e está incluído nos exemplos que mostram a apropriação do meio pela sociedade, através de ações do homem sobre a natureza, resultando na paisagem que vivenciamos hoje. Abaixo, uma foto de 1875, retrata um trem passando sobre o Rio Santana e a existência de uma casa, nas margens da estrada, cujo traçado, em evidência, mostra que era uma via larga e bastante utilizada, devido a clareza como é percebida. A foto não exibe a outra construção, hoje em ruínas, que se localiza no pé do morro defronte à casa, que provavelmente, assentava sobre o atual leito do rio, aberto no início do século XX. A foto da ponte da Estrada de Ferro D. Pedro II sobre o Rio Santana de 1875 nos permite constatar três condicionantes sócio-espaciais do território tratado: 1) a Estrada de Ferro

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D. Pedro II, 2) Estrada de Belém a Cacaria, 3) a obra de saneamento que alterou o curso do Rio Santana.

Foto 45 - Ponte da Estrada de Ferro D. Pedro II sobre o Rio Santana em Belém (Japeri). Fonte: Carlos M. Linde, 1873, icon326381_08.htm. Biblioteca Nacional, Setor de Iconografia, BNDigital.

O local é hoje o Bairro denominado Beira Rio ou Amaralina, no Município de Japeri. Confirma a importância da fotografia histórica para a Arqueologia da Paisagem, conforme cita Deetz, (1977), em "In Small Thing Forgotten, (Pequenas Coisas Esquecidas) no capítulo "Relembrando as Coisas Esquecidas: arqueologia e o artefato estadunidense".

Fotos 46 e 47 - Retratam o lugar onde foi feita a foto 44, porém em ângulos diferentes, considerando as dificuldades de acesso ao local em função de moradias. Fonte: José Mauricio.

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Na foto original, existente no Setor de Iconografia da Biblioteca Nacional, é nítida a imagem do homem à cavalo, vestindo um chapéu, provavelmente de couro e uma capa sobre o ombro e o lombo do cavalo. Nos permite uma ampla abordagem sobre a paisagem histórica do local, provocando uma interpretação sobre a ecologia humana na área com fortes tendência à transformação de um espaço considerado como anecúmeno, ainda em 1894, quando da última edição do Dicionário Geográfico Brasileiro em seu conceito sobre Belém: " povoação do Estado do Rio de Janeiro na Freguesia do Tinguá e Município de Vassouras, entre os rios Sant`Anna e São Pedro, cercada de pântanos, que o tornam muito insalubre, ligada a Paty do Alferes por uma estrada. Tem uma escola pública de instrução primária, creada por Lei Provincial nº 1707 de 30 de outubro de 1872. Ali fica uma estação da Estrada de Ferro Central do Brasil. É ligada a Macacos por um ramal dessa Estrada, construído por uma empreza em virtude do contrato celebrado em 17 de setembro de 1860, contribuindo o Estado com a quantia de pouco mais de 61:000$ (sessenta e um conto de Reis), importância de terrenos, trilhos e estação. Passou esse ramal para o domínio do Estado por cessão que fizeram seus proprietários (Decreto 3512 de 06 de setembro de 1865), o Decreto nº 1805 de 27 de dezembro de 1872 sancionou a Resolução da Assembléia Provincial autorizando a concessão de um privilégio exclusivo por 50 annos para construção de uma ferrovia, por tração animada ou a vapor, desde essa povoação até à freguesia do Paty do Alferes. Fica a estação a 61.675 kilômetros da Capital Federal e a 30.217 metros sobre o nível do mar, entre as estações de Queimados e Belém (13.465 Km) foi inaugurada em 08 de novembro de 1858 e a de Belém a Bifurcação (ramal de Macacos) com 3.398 metros a 1º de agosto de 1861."

Demonstra a intervenção no leito do Rio Santana, conforme, mostrado na foto, era do outro lado do morro, onde hoje passa estrada RJ 093 que liga Japeri a Paracambi. A casa mostrada na foto, situava exatamente onde hoje é o leito do rio em comento e o traçado da estrada para Cacarias, mostra que era uma via larga e bastante utilizada, devido a clareza como é percebida.

Fotos 48 e 49 - Antigo leito do Rio Santana, desviado pelas obras de dragagem e drenagem do local. Fonte: José Mauricio.

A Arqueologia da Paisagem firmou-se num suporte teórico na compreensão do processo de ocupação sociocultural da região estudada e conquistou atenção especial sobre o estudo dos caminhos, grandes responsáveis pela interiorização dos grupos que tomaram posse do território em apreço.

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9 ARQUEOLOGIA PÚBLICA Esse capítulo será iniciado com o trabalho de Gabriel Moshesnska (2010, p. 01), a partir da avaliaçao que fez dos dez anos que se seguiram ao esboço editado por Schadla-Hall em 1999 sobre Arqueologia Pública, que para o autor, tornou-se firmemente estabelecida através da publicação de livros, cursos universitários, pesquisa acadêmica e revistas dedicadas ao assunto. Uma posição alcançada e confirmada por Akira Matsuda (2004, p. 66), quando disse que a Arqueologia Pública cresceu gradualmente e de forma constante, desde a década de 1970, e apresenta como resultado, o surgimento de várias instituições acadêmicas que oferecem cursos de graduação e pós-graduação, cursos especializados nesta área, uma literatura ampla associada e até mesmo um periódico intitulado Public Archaeology (Arqueologia Pública). Esse crescimento não resultou numa igual compreensão e entendimento, entre os arqueólogos, quanto aos objetivos e metodologia da Arqueologia Pública, o que pode ser explicado, em parte, pela ampla abrangência da disciplina, mas talvez, principalmente, pelo fato da Arqueologia Pública não ter articulado, à época, o que se entende por "público" (MATSUDA, 2004, p. 66). No entanto, essa situação é confirmada por Moshesnka (2010, p. 01), quando diz que, ainda existe um grau de incerteza quanto à definição e delimitação precisa do que vem a ser Arqueologia Pública, ou seja, um conceito que possa ser compartilhado por todos. Matsuda (2004, p.66) busca abordar profundamente os diferentes conceitos de "público" empregados pela arqueologia pública, considerando seus objetivos. A autora considera que ao definir uma base teórica para a arqueologia pública, seja possível explorar formas pelas quais o conceito de esfera pública possa ser aplicado na prática. Já Moshesnka (2010, p. 01), foca na produção e no consumo da disciplina no que ele chama de "commodities" (mercadorias?) arqueológicas, que eu adequei para bens arqueológicos. Os bens (mercadorias) arqueológicos, nas palavras de Moshesnka (2010, p. 01), são as coisas que possuem valores, existem em uma variedade de formas, mas que podem ser agrupadas em um pequeno conjunto de tipos distintos. Apresenta e descreve uma tipologia de bens (que ele chama de produtos) arqueológicos e examina brevemente algumas das suas implicações para a arqueologia em geral e a arqueologia pública em particular. Então, na defesa do autor, existem cinco tipos de bens (mercadorias/commodities) arqueológicos identificados por ele: 1. Materiais arqueológicos - abrange os resultados materiais da pesquisa arqueológica, incluindo artefatos individuais e sítios arqueológicos inteiros. O controle, o movimento e o tratamento desses materiais são freqüentemente regulados por lei ou convenção. 2. conhecimentos e habilidades arqueológicos - são os aspectos intelectuais do trabalho arqueológico: conhecimento adquirido pelo trabalho de campo ou pesquisa, bem como as

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habilidades necessárias para fazer o trabalho em primeiro lugar. O conhecimento arqueológico tem valor como resultado de contratos comerciais e como produto da educação, treinamento e experiência. 3. Trabalho arqueológico - são as formas de trabalho realizadas pelos arqueólogos. Em alguns casos, eles são pagos por seu trabalho, em outros casos, como experiência de trabalho, não são remunerados e, em alguns casos, como escolas de campo, eles pagam o privilégio de fazer o trabalho. 4. Experiências arqueológicas - são encontros de pessoas com processos e produtos arqueológicos, como visitas a museus ou sítios arqueológicos, cursos educacionais e várias formas de turismo histórico organizado. 5. Imagens arqueológicas - são os temas e imagens arqueológicos reconhecíveis que caracterizam as representações da cultura popular do passado; Em publicidade, arquitetura, cinema, arte e em outros lugares. Na visão do autor, a relevância desta tipologia para a compreensão da arqueologia pública de uma forma geral, pode ser observada no trabalho do Arqueólogo Robert Eric Mortimer Wheeler (1890-1976), considerando a compreensão instintiva dele sobre o valor dos bens (mercadorias) arqueológicos, nunca, igualada e que contribuiu, consideravelmente, para sua fama e sucesso. Matsuda (2004, p. 66), desloca seu propósito para os conceitos de "público", dos quais dois são especificamente discutidos: o público como o estado autoridade e o público como pessoa e, desta forma, concentra sua discussão focada em como configurar uma esfera pública da arqueologia. Já Gould (2016, p.01) atenta para uma necessária discussão, entorno da metodologia de pesquisa na arqueologia pública e comunitária, e propõe isso, através de estudos de casos, sob a alegação de que, esses trabalhos, permitem a exploração de situações que, pela sua natureza, não são facilmente reduzidos a dados estatísticos. O autor alega que essa necessidade possa ser consequência, de uma possível e ampla negligência na literatura de como os debates epistemológicos e práticos sobre os métodos e interpretação na arqueologia tenham conduzido os arqueólogos teóricos, na era pós-processual, em suas análises críticas sobre a metodologia utilizada na interação deles com o público. Existem diversas e intensas abordagens sobre a arqueologia pública e seu crescimento como uma disciplina distinta na prática arqueológica, o que pode ser observado no encontro anual da Associação Europeia de Arqueólogos em 2013, especificamente na mesa redonda sobre arqueologia pública. Porém o foco desse trabalho restringe-se na utilização dessa corrente arqueológica na sua área de atuação, considerando sua extensão territorial e densidade

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demográfica. Isso demanda um conceito de arqueologia pública capaz de absorver o público, o patrimônio cultural arqueológico e os atores inseridos em atividades correlatas e específicas, no espaço desse estudo, formado pelos municípios de Nova Iguaçu, Japeri, Queimados, Mesquita e Belford Roxo. A região constitui-se num território com forte potencial arqueológico, confirmado a cada pesquisa empreendida, principalmente no campo da arqueologia de contrato, em função das obras já mencionadas anteriormente. Isso permite a abordagem de um capital social em formação, integrado de um lado, pelo acervo arqueológico em si, por outro, pelas pessoas que começam a se utilizar dele, enquanto matéria-prima de uma atividade industrial do campo turístico. Esse grupo pode ser caracterizado em função de sua constituição, que vai do organizador, que pode ser um professor fazendo a prática de sua disciplina ao "consumidor" ou beneficiário da atividade, que por sua vez pode ser do aluno no exercício de suas atividades pedagógicas à dona de casa em busca de uma atividade de lazer num fim de semana ou ao produtor rural que desperte para a importância do patrimônio arqueológico em sua propriedade e queira desenvolver alguma atividade para oferecer à dona de casa, citada na linha anterior, por exemplo. Embora essas atividades, ainda não estejam bem definidas ou inseridas num planejamento municipal, já existem de forma contínua e bem organizadas, restando acrescentar o bem arqueológico. No entanto, isso não equivale à consciência de seus responsáveis sobre o patrimônio cultural arqueológico que apresenta, como desafio, a necessidade de ser melhor trabalhado junto a esses pro-ativistas locais, munindo-os com informações técnicas fundamentais com o propósito de gestão do acervo arqueológico onde exploração e preservação sejam compatíveis em uma prática cotidiana. Essa função é atribuição reconhecida através do trabalho de extensão realizado pela Educação Patrimonial, que surge, na Região, como uma importante iniciativa inserida no contexto da Arqueologia Pública, mas que se desdobra em várias abordagens no campo do patrimônio cultural. A Educação Patrimonial, no âmbito dos interesses da Arqueologia, é trabalhada, principalmente, por Jandira Neto e Claudia Maria que se firmam como protagonistas de um conjunto de atividades, onde a primeira ilustrou no livro "Na Arqueologia, o que é Educação Patrimonial?", publicado em 2017, com forte aceitação entre as pessoas que passam a conhecê-lo e, se vêm atraídas por uma linguagem simples, de fácil acesso, mas com rico conteúdo para os que não são arqueólogos e a segunda numa série de reportagens em jornais impressos que circularam e circulam na região e atividades pedagógicas voltadas para alunos do ensino fundamental e médio. Nessas atividades encontram a divulgação de informações sobre o bem arqueológico, até então desconhecido, os treinamentos de profissionais da educação e outros

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que se capacitam na multiplicação das ideias preservacionistas e agregação de valares ao bem patrimonial arqueológicos, num constante processo de apreensão da informação transmitida e compreensão do conteúdo informado. Esse trabalho iniciado no sentido de formar atores capacitados à multiplicação da noção de patrimônio cultural arqueológico, deve assumir a pretensão de ser suficiente para despertar na comunidade o sentimento de pertencimento do legado arqueológico, através do reconhecimento de cada trabalho desenvolvido, cadastramento e caracterização dos responsáveis pela organização, o fomento a encontros para discussão e interação, oficinas e encaminhamentos de propostas. Vou utilizar o exemplo da Assistência Técnica e Extensão Rural - ATER, que desenvolve dois conjuntos de trabalhos, abordados de formas diferentes, mas complementares, destinados à capacitação de produtores rurais e os agricultores às pretensões da agropecuária. E, com base nessa experiência, proponho resultados positivos a partir da efetivação de atividades que envolvam a presença de um técnico permanente na área, abordando o assunto de forma circular e continuada em um acompanhamento intenso e regular que possa alterar o método de abordagem, em relação ao seu conteúdo, em função de cada situação deparada. Uma iniciativa dessa natureza foi o Programa de Extensão Arqueológica - PEA, elaborado pelo Instituto Fluminense de Arqueologia - IFA, em 1996 com o objetivo de difundir entre as escolas, e outras instituições, o valor do patrimônio cultural arqueológico. Num primeiro momento, sugeriu-se que a escola particular estivesse melhor preparada para o trabalho, considerando o poder aquisitivo das famílias de seus alunos, como fator de equivalência de conhecimento. Para surpresa, as escolas particulares visitadas, rejeitaram a proposta, formalizada num roteiro de visita aos sítios arqueológicos para tomada de ciência sobre o estado de conservação e tratamento dispensado ao bem. Como se encontravam em estado lastimável, foram vistos como "coisa feia", imprópria aos olhos dos alunos treinados para conhecer e valorizar o que era bonito e bem tratado, porém fora do seu contexto. Tratavam-se de crianças de uma elite que viajava, até para o exterior, e desta forma, o aluno não era preparado para lidar e trabalhar com as questões locais. Várias foram as críticas, indo da metodologia aplicada ao ônibus sem ar condicionado, mesmo tendo sido contratado com ar, mas considerando o estado de conservação das vias de acesso, a empresa mandava ônibus menos confortáveis. Já na escola pública foi visto o contrário, dizer ao aluno e seus familiares que aquele bem mal tratado, sujo, "perdido" era algo de valor, importante e poderia se tornar bonito e até em fonte de renda, despertou o interesse na coisa apresentada. Os professores da rede pública foram mais atentos e sensíveis à abordagem do patrimônio cultural arqueológico local.

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Figura 21 - Atividade envolvendo uma escola particular em 1999, na Fazenda São Bernardino. Fonte: Jornal O Dia, encarte o Dia Baixada.

A experiência permitiu verificar no campo, que a preservação do patrimônio arqueológico, sofre das mesmas causas que atingem a questão ambiental, ou seja, os diversos interesses de quem os rodeiam. Desta forma, acrescenta-se, naquele conjunto, o interesse na preservação do bem arqueológico, formado pelo propósito de reverter, à sociedade, a atenção ao patrimônio que exerce um papel histórico em relação ao conceito de nação, sendo um elemento que serve para construir ou para fundar o vínculo social (VIEIRA e TEIXEIRA, 2005, p. 19). E transcrevendo para o local trabalhado aqui, o que disseram Vieira e Teixeira (2005, p.19) em seu artigo " e o IPHAN nos anos de 1930: Identidade Nacional e Preservação do Patrimônio", "o que se prioriza nesse momento é o valor regional ou microrregional, fazendo brotar o sentimento de pertencimento a uma comunidade, neste caso, o município ou a cidade, dependendo do caso, ou simplesmente um bairro". O que ocorreu em Campos dos Goytacazes, conforme demonstrado por Teixeira e Vieira em 2005, repete-se em Nova Iguaçu em 1988, e intensifica-se muito, a partir de 2003, quando os prédios que representavam a trajetória histórica do município, fossem no perímetro urbano, fossem no espaço rural, eram cada vez menor e estavam cedendo lugar a novas construções que vinham atender as necessidades de um município que buscava o sucesso através do progresso, entendido como uma

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tramitação incompatível com as estruturas patrimoniais e o passado desvinculado do presente, ou um presente que surgia do agora e sobreposto ao passado cada vez mais distante e separado. De um lado, pequenos grupos isolados e sem comunicação entre si, buscavam a preservação e de outro, grupos mostravam-se aliviados no fato de velhos e grandes casarões que ocupavam o centro e a periferia estavam desaparecendo (TEIXEIRA e VIEIRA, 2005, p. 22). Isto, depois de uma iniciativa importante tomada na década de 1980 (1988), quando um morador de Nova Iguaçu, foi vice-governador do Estado do Rio de Janeiro e promoveu o tombamento de vários prédios da Baixada Fluminense e, em especial do Município de Nova Iguaçu. O trabalho foi organizado pelo Grupo de Trabalho para a Preservação do Patrimônio Natural e Cultural, vinculado à Secretaria Municipal de Planejamento - SEMPLA, que fez um inventário de bens culturais do Município. É preciso um trabalho intensivo e permanente que envolva a obrigatoriedade do monitoramento pelos órgãos com jurisdição sobre a propriedade onde se encontram os sítios. Vários órgãos e empresas, detém acervo arqueológico, sem que, contudo, tenham qualquer responsabilidade sobre ele, embora pese a questão da objetividade estatutária, saber onde e, como está o bem, já exige ações efetivas que somarão à preservação no exercício de uma questão legal e tratado internacional, e portanto, uma obrigação de todos. Isso será possível, quando forem contatados e alertados, em conjunto, ou isoladamente, informando-os da importância do acervo e da necessidade do profissional especializado no seu quadro de pessoal, através de um plano de abordagem voltado aos dirigentes das instituições, capacitando-os a verem o potencial do bem arqueológico. Um passo importante foi dado pelo Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Estado do Rio de Janeiro - ITERJ, quando instituiu no seu Regimento Interno, a previsão do acervo arqueológico e abriu discussão sobre a necessidade de conhecê-lo e inseri-lo na programação agrária de suas fazendas. Hoje, observa-se que o interesse em preservar o patrimônio cultural local advém de uma parcela muito pequena da população que institui, ou tenta instituir, na grande maioria, o sentimento de valor agregado ao bem existente e considerado importante, num processo que pode ser associado ao discurso de Santos (1996, p. 90), quando diz que o patrimônio é sempre visto como testemunho de um processo histórico, e não como imagem de uma nação idealizada, neste caso, um município ou uma cidade idealizada. Cabe destacar que mudanças positivas têm sido sinalizadas nos municípios abrangidos por este estudo. Nova Iguaçu dispõe de um grupo de servidores públicos municipais que vem agindo sobre o patrimônio cultural edificado e participando de discussões pautadas por esses bens. O Município editou o Decreto 11.074/2017 de 15 de setembro de 2017, que delegada no seu Art. 2º, à Superintendência de Patrimônio Arquitetônico e Urbanístico - SEMIF a competência para

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produzir, aprovar e gerenciar projetos e ações relativas aos sítios arqueológicos e patrimônios edificados considerados monumentos históricos e arquitetônicos. E o inciso II do Artigo 3º, autoriza a SEMIF representar o Município junto aos órgãos de pesquisa, públicos e privados, com experiência comprovada na área de arqueologia e patrimônio. No entanto, e o arqueólogo, onde está? O passo é importante, mas ainda tem um longo percurso a fazer até alcançar as metas, pois outra questão a ser apontada é a falta de pessoal, tecnicamente, qualificado para impulsionar e abastecer a tramitação das propostas levantadas e processos demandados. Queimados, na gestão passada, iniciou discussões importante a nível de governo municipal que canalizaram para a intenção de implantar o Museu da Laranja. Na atual gestão essa discussão terminou, mas o servidor que a provocou pertence ao quadro efetivo e, embora tenha sido transferido para outra secretaria, manifesta interesse em continuar. Belford Roxo se sobressai com o Projeto de Revitalização da Fazenda do Brejo já tendo ocorrido uma audiência pública com esse fim. Mesquita se posicionou favorável ao desenvolvimento de projetos que contemple o patrimônio cultural arqueológico, como foi colocado pelo Secretário de Cultura, Esporte, Turismo e Lazer em entrevista pessoal realizada em 5 de fevereiro de 2017, embora reconheça na urbanização um processo forte e quase invencível diante da valorização de um bem cultural. Do ponto de vista político, Japeri continua tímido, mas do ponto de vista ativo, se sobressai com grupos de defesa do patrimônio cultural que interfere nas decisões da Prefeitura. O cenário favorável às ideias de preservação não garante, ainda, uma mudança no paradigma político regional, como dito acima, são iniciativas de grupos de defesa da questão, e em alguns casos, os membros são nomeados em cargos comissionados dos governos locais e passam a abordar o assunto no contexto do poder local, ou por conselhos oficiais, legalmente, constituídos. O fator negativo é a mudança de governo que altera de forma considerável a estrutura do quadro de pessoal podendo levar ao retrocesso. Importante ressaltar que essas iniciativas não fazem parte da pauta de discussões no programa de governo, proposto, durante a campanha eleitoral, até porque, é comum a ausência desse programa. Conforme dito, anteriormente, não é possível, hoje, mensurar, em dados estatísticos, o grau de percepção da sociedade, enquanto um conjunto complexo de relações humanas, distribuído em camadas sociais, sobre esse acervo arqueológico, contudo, já é possível observar mudanças no comportamento das pessoas em relação ao patrimônio cultural, com base nos poucos trabalhos já executados. Abaixo, as fotos mostram uma família iguaçuana utilizando as ruínas da Fazenda São Bernardino como cenário temático para o aniversário de 15 anos da filha. Ao ser perguntada sobre o motivo que a levou a escolher o lugar, a mãe da menina respondeu que a escolha foi em função "do ser histórico, bonito e importante" e declarou ter tomado conhecimento do bem pela

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Internet. Trabalhar essa percepção e alterações no modelo encontrado, deve formatar um trabalho seguinte a esse e alcançar as diversas parcelas da sociedade que já manifestam algum tipo de visão sobre o bem arqueológico.

Fotos 50-51: Família iguaçuana fazendo fotos para a comemoração do aniversário de 15 anos da filha. Fonte: José Mauricio. É possível dizer que o número de pessoas que se utilizam do patrimônio cultural, em especial o arqueológico, é maior do que se supunha, mesmo que, ainda seja muito baixa, uma percepção de valor agregado ao sentimento de pertencimento e importância para o desenvolvimento sociocultural, o que não contribui com a preservação do acervo arqueológico, principalmente quando o monumento/artefato encontra-se no território domiciliar do cidadão ou cidadã e se opõe ao interesse dele ou dela. Isso é válido e confirmado para o cidadão ou cidadã que concorre a cargo eletivo e passa a ter mandato político, fazendo refletir no campo das políticas públicas a ausência de um planejamento voltado à proteção deste bem de valor incalculável. O levantamento feito através da aplicação do formulário de entrevista, mostrou-se complexo e relevante, desta forma, restringi-lo, ao que inicialmente foi proposto, deixaria de contemplá-lo com a observação de um processo em curso pelas ações, até agora empreendidas, por agentes que agem e reagem sobre a questão patrimônio cultural e, neste caso, o arqueológico. Estender o trabalho ao campo que se abriu, mudaria o foco do estudo apresentado, redirecionando-o. Contudo, foi possível acessar e conhecer o olhar de um segmento social específico formado por atores sociais que desenvolvem atividades correlacionadas com o patrimônio cultural arqueológico nos municípios abrangidos por esta pesquisa, revelando que um contingente considerável de pessoas não tem consciência sobre a existência e necessidade de preservação do bem arqueológico na área abordada, mas afirmam reconhecer que o patrimônio arqueológico de uma forma geral é importante. Em entrevista com o Coordenador da Diretoria Regional Pedagógico-Administrativa da Secretaria de Estado de Educação - Metropolitana I, Professor Robson Lage, o mesmo disse haver uma grande dificuldade em se introduzir fatos novos no currículo escolar, em função da resistência exercida pelos professores. Essa afirmação

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é compartilhada pela Professora da Rede Pública Estadual do Rio de Janeiro, Sonia Gondim, que descreve a resistência dos professores como um obstáculo a ser rompido para se alcançar o desenvolvimento de atividades inovadoras nas escolas da rede pública. Foi possível acompanhar, num encontro de professores no Município de Mesquita, do 4º Grupo de Estudos, Produção, Extensão e Formação - GEPEF de Ciências Humanas, organizado pela Coordenadora de História e Geografia dos Anos Finais, Rejane Corrêa, para a discussão do currículo de ensino oficial daquele Município que, por determinação da Lei Federal 11.645 de 10 de março de 2008, que altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, em seu Artigo 26 - A, modificada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. O evento constituído por uma atividade mensal desenvolvida pela Secretaria Municipal de Educação, e que, por sugestão minha, foi apresentado, no encontro de junho de 2017, o sambaqui, como referência de patrimônio arqueológico vinculado ao nativo da região, antes dos tupiguarani, por uma questão de proximidade com os sambaquis do entorno da Baia de Guanabara e o da Marquesa, em Belford Roxo. Teve uma pauta formada pela apresentação deste trabalho e dois eixos temáticos: Eixo 1 - Culturas Nativas do Período Pré-Colonial (povos sambaquieiros e os tupiguarani na Baixada) e Eixo 2 - Povos Afro-Descendentes Locais. A ideia despertou interesse em um grupo de professores, mas um outro, se mostrou desinteressado por razões de desconfiança política, chegando a expor na discussão que a ação poderia ser uma imposição do governo municipal. A Professora Rejane fez uma pesquisa sobre sambaqui, tupiguarani e africanos na Baixada Fluminense e apresentou aos professores como sugestão de atividades pedagógicas poderia ser desenvolvidas em classe e eu assumi o compromisso de revisar o trabalho final. Atento para a importância desse tipo de atividade, principalmente no tocante à possibilidade de introdução de proposta para discussão. Nesse processo confirmei a existência de resistência por parte de um grupo de professores, que realmente impossibilita, ou no mínimo, dificulta, as alterações propostas. Segundo a Coordenadora da Diretoria Regional Pedagógico-Administrativa - Metropolitana VII - da Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro, Professora Vanderlea Barreto, é possível apresentar propostas de eventos à Secretaria, mediante encaminhamento de um projeto detalhado sobre o que se pretende, cuja aprovação estará condicionada à relevância do conteúdo. Pela educação oficial, percebo um canal de comunicação importante para difundir a arqueologia de um modo geral, e em especial o patrimônio cultural arqueológico existente em cada unidade política nacional. Essa realidade confirma a necessidade e importância do desenvolvimento de métodos de abordagens capazes de abrir e estabelecer diálogos com os profissionais de

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educação, posto que podem se constituir em barreiras à tramitação das propostas em função da resistência a alterações em atividades engessadas num modelo tradicional. Nessa direção, atento para o trabalho de Neto (2017), já apresentado aqui e aplicado no Município de Seropédica, como iniciativa que precisa ser efetivada e estendida ao maior número de profissionais com propostas específicas sugerida pela comunidade escolar. Abaixo, o registro de atividade desenvolvida na área pela Professora Fátima Muniz da Rede Pública Municipal de Queimados.

Fotos 52- 53 - Sítio arqueológico histórico de Queimados, registrado no IPHAN como Fazenda Fanschem, mas que se trata de um projeto de casa de embalagem de laranja. fonte: Professora Fátima Muniz

O Projeto de Lei Nº 1801 de 17 de maio de 2016, que transforma o Sítio Arqueológico Histórico registrado no IPHAN como Fazenda Roseira no Bairro Fanschem, que na verdade se localiza na Vila Central ou Nossa Senhora da Conceição e trata-se de um projeto de casa de embalagem de laranja do período do Ciclo da Citricultura, que não chegou a ser concluído. O Projeto de Lei argumenta que as ruínas do velho leprosário localizada no Bairro Nossa Senhora da Conceição, no Município de Queimados que se trata de uma estrutura física construída na época do Império de grande relevância histórica e cultural não só para população Queimadense, mas para toda população do Estado do Rio de Janeiro. Reza na justificativa que, segundo historiadores a sua construção se confunde com a própria história do Município de Queimados, isso porque há três versões mais prováveis para a origem do nome do município. Defende que, independente de que qual versão é a mais próxima da realidade, a história da região começa a ser valorizada quando são criadas ações afirmativas em prol da cultura e da sociedade. Como diz Edson Ribeiro, pesquisador especializado em Cartografia Histórica, em exposição pessoal, no dia 22 de julho de 2017, quando em reunião do Grupo Amigos do Patrimônio, "não há indícios de leprosário em Queimado e mesmo a Estrada do Lazareto pode estar ligada a alguma capela vinculada à Nossa Senhora do Lazareto".

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Figura 22 -Projeto de Lei de 2016 declarando a ruína em Patrimônio Histórico e Cultural do Estado do Rio de Janeiro. Fonte: ALERJ.

Foto 54 - Ruínas de um projeto de casa de embalagem de laranja, utilizado para aulas práticas. Fonte: Professora Fátima Muniz.

Em que pese a iniciativa, não passou pelo clivo da discussão junto à comunidade local, cada vez maior, apresentando um crescimento acelerado que certamente aumentará o risco sobre o patrimônio que já tem em fase embrionária a origem de uma discussão em torno de um museu da laranja que possa ser auto sustentável a partir da função exercida junto à sociedade. Tal proposta se constitui de uma entidade que possa resgatar a história da citricultura na Baixada Fluminense, em especial, Queimados, recuperar e preservar artefatos relacionados ao período e atividades, levantar os remanescentes arquitetônicos do ciclo da laranja na região, servir de área de convivência social, proporcionando lazer, estrutura de aprendizado, difusão tecnológica agrícolas, através de um horto de citros, cujo cultivo já vem sendo reiniciado com sucesso na área. Essa discussão foi iniciada no governo municipal passado, porém não deu continuidade no atual, mas caberá à sociedade organizada tomar ciência e levar à frente tal proposta. A ruína está localizada nas margens de uma faixa de domínio de uma linha de transmissão de eletricidade de Furnas Centrais Elétricas S. A, e de vários loteamentos novos que estão transformando o espaço organizado, até então em pequenas chácaras em pequenos lotes que cedem o espaço a diversas casas separadas por arruamento urbano. Isso é produto, principalmente, da capitalização do solo municipal, alinhados a ações políticas que refletem o interesse de grupos específicos que controlam o Poder local, em que muitas vezes, moradores de lugares rurais na mira desses interessados, são pressionados, inclusive sob ameaças, para venderem suas posses ou propriedade. Outra estrutura a ser considerada no espaço desse estudo é o Parque Municipal de Nova Iguaçu, que segundo o Plano de Manejo editado pela Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio

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Ambiente da Cidade de Nova Iguaçu - SEMUAM - RJ, 2001, é uma unidade de conservação ambiental, com 1.100 hectares e alcançando 956 metros de altitude, criada pelo Decreto nº 6.001, de 5 de junho de 1998, visando não somente à proteção da fauna e flora existentes, mas também, formalizar uma aprazível opção de lazer para a população local, situada numa área conhecida como Gleba Modesto Leal, na Serra do Gericinó-Mendanha. Ainda com respaldo no Plano de Manejo do Parque Municipal de Nova Iguaçu, em 1941, grande parte das terras devolutas do topo das serras do Gericinó, Madureira e Mendanha foram agrupadas e declaradas como Floresta Protetora da União. A principal razão daquele decreto era proteger os recursos hídricos que abasteciam as regiões circunvizinhas, mas, ao mesmo tempo, ajudou a preservar uma exuberante reserva florestal (de quase 8 mil hectares) e uma fauna variada, bem como importantes áreas de lazer e de contato com a natureza. Baseado nessas premissas, em 1988, foi autorizada a criação da Área de Proteção Ambiental (APA), acima da cota altimétrica de 100 m, através da Lei Estadual nº 1.331. Cerca de um ano depois, a Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro aprovou a Lei nº 1.483, fixando a cota de 80 metros como limite de uma APA Municipal, na vertente da serra voltada para o município do Rio de Janeiro, e autorizando o Poder Público Municipal a criar o Parque do Mendanha. É uma área territorial com forte potencial arqueológico que remonta ao período pré-colonial e palco das manifestações africanas na baixada Fluminense. Possui um estrutura edificada capaz de se tornar sustentável com propósitos de vivencia a partir da exploração turística compartilhada à preservação ambiental e arqueológica.

Foto 55 - Gleba Modesto Leal - foi sede de um assentamento rural para fins de reforma agrária - Fonte: Plano de Manejo do Parque Municipal de Nova Iguaçu. Foto 56 - Atual estado da casa da Gleba Modesto Leal - Fonte: José Mauricio.

A atual gestão do Parque tem uma proposta consistente e coerente com essa ideia, parte dela já planejada graficamente. Outras precisam ser amadurecidas, através de discussões

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específicas para cada atividade. A proposta que já se encontra definida é a que trata da recuperação da casa e sua utilização como espaço administrativo e recepção pública.

Fotos 57 - 58 - Entre os atrativos naturais do Parque Municipal, estão as quedas d`água, procuradas pela comunidade, principalmente, jovens e adolescentes. Fonte: José Mauricio.

O Potencial do Parque é constituído por um acervo natural e cultural que se bem organizado garantirá sustentabilidade para as atividades pretendidas e especificamente vinculadas aos tipos as estruturas existentes como exemplificado abaixo.

Fotos 58 - 59 - Retratam parte de um acervo histórico-arqueológico-arquitetônico com discussão para reutilização e exploração turística - Fonte: José Mauricio. A ideia discutida para esse acervo, em especial, foi a criação de um restaurante típico e alternativo que possa aproveitar entre outras coisa, os recursos alimentares da própria floresta, que apresenta-se com espécies nativas e exóticas, como a jaca, verificada em grande quantidade. Esse acervo é um complexo edificado no início do século XX e funciona como um posto de monitoramento do Parque. É formada por vários prédios e uma piscina de grande porte, em condições de uso. A Vila de Iguaçu e a Fazenda São Bernardino são outro complexo que tem provocado grandes discussões em torno de sua utilização. Existem várias propostas e uma delas foi elaborada pela extinta Fundação para o Desenvolvimento da Região Metropolitana do Rio de Janeiro - FUNDREM, na fim das décadas de 1970 e início de 1980.

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Defendo que a Vila de Iguaçu, sítio arqueológico histórico de Nova Iguaçu, foi instalada sobre um assentamento pré-colonial tupiguarani, e para tanto, precisa ser pesquisada com esse olhar. Várias atividades têm considerado a preservação desse complexo, já tratado nos capítulos anteriores.

Foto 60 - Área do Complexo São Bernardino-Iguaçu Velho-Porto de Iguaçu. Fonte: Google Earth.

Fotos 61 - 62 - Fazenda São Bernardino nas décadas de 1950/60 e 2017. Fonte: Amigos do Patrimônio Cultural.

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A Fazenda São Bernardino toma pauta em várias discussões em diversos grupos, onde o Amigos do Patrimônio Cultural se destaca em maioria e diversidade de ideias.

Foto 63 -- Cemitério de Iguaçu Velho sem data. Fonte: Amigos do Patrimônio Cultural. Foto 64 - O mesmo cemitério em 2017,mostrando o descaso com o patrimônio e a forma de uso pela comunidade circundante. Fonte: José Mauricio.

Figuras 23 e 24 - Reportagem sobre o achado de um barco no Porto de Iguaçu no Porto de Iguaçu. Uma lenda confirmada. Fonte: Amigos do Patrimônio Cultural.

O Porto de Iguaçu é um lugar de estrema importância na inserção do patrimônio cultural arqueológico numa perspectiva de desenvolvimento local, com vista à sua sustentabilidade

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alicerçada em dois pilares, um socioeconômico e outro cultural. Trata-se de um espaço, cujo processo de ocupação remonta ao período pré-colonial e tem como demanda um programa de gestão desse patrimônio que ainda não foi investigado de forma sistemática. Embora já tenha sido tratado no capítulo Patrimônio Cultural Arqueológico, o Porto merece um destaque diante os riscos a que está submetido, praticamente dentro da faixa de domínio de uma linha de transmissão de eletricidade das Furnas Centrais Elétricas, uma área de assentamento rural do INCRA e dentro dos limites da Área de Preservação Ambiental do Alto Iguaçu, criada pelo Decreto Estadual 44.032 de 15 de janeiro de 2013 e abrange os municípios de Belford Roxo, Duque de Caxias e nova Iguaçu. A parcela fundiária rural dispõe de uma infraestrutura construída que pode ser utilizada para fins recreativo, não fosse a construção sem o devido planejamento e cuidados com o patrimônio cultural arqueológico histórico. Do local partem as estradas da Polícia e Comércio. Se comparar as fotos 30 e 31 na página 92, verifica-se as alterações na estrutura construída sobre o espaço do Porto de Iguaçu.

Fotos 65 - 66 - Porto de Iguaçu. Aos fundos da foto 66 tem-se um galpão tipo bar que serviria para recepção turística. Fonte: José Mauricio.

Figura 25 - APA do Alto Iguaçu , mostrando os municípios abrangidos por essa unidade de conservação ambiental com alto potencial arqueológico - Fonte: INEA.

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Outro local importante para a Arqueologia, uma vez que guarda um acervo patrimonial arqueológico bastante diversificado está no Maciço do Tinguá e no seu entorno, cujo Plano de Manejo da Reserva Biológica do Tinguá, editado em junho de 2006, define a Unidade de Conservação Federal, com 26.260 hectares, criada pelo Decreto 97.780 de 23.05.89 e, portanto, seu gerenciamento é feito pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, por meio da Gerência Executiva no Estado do Rio de Janeiro, órgãos também responsáveis pelo planejamento da Rebio.

Figura 26 - Planta da Rebio-Tingua. Fonte: www.mochileiros.com/reserva-biologica-de-tingua-t32589.html

Foto 67 - Estrada do Comércio no interior da Rebio-Tinguá. Fonte: José Mauricio.

A Rebio-Tinguá contém um conjunto de estruturas históricas do período colonial, ruínas de igreja, residência e até caminhos que assumiram importância nacional, como o Caminho Novo do Tinguá, cujo percurso, defendo ter sido aproveitado de uma via pré-colonial. Conforme Plano de Manejo em seu encarte 2 páginas 3 e 4, a Zona de amortecimento (ZA) da Rebio- Tinguá abrange parte dos territórios dos Municípios de Miguel Pereira, Japeri, Nova Iguaçu, Duque de Caxias, Petrópolis e Queimados, conforme pode ser visualizado na Figura 17. É o resultado de uma sugestão inicial que foi elaborada em conjunto pela equipe de planejamento em março de 2003 após um sobrevôo e um reconhecimento da área, detalhando o traçado que favoreceu a demarcação dos limites da Zona de Amortecimento (rios, limites municipais). A Zona de Amortecimento (ZA) da Reserva Biológica do Tinguá possui um perímetro de 159,26 km e uma área de 72.705 ha, dos quais 30,42%, a maior parte, situa-se no Município de Nova Iguaçu, 30,12% no Município de Miguel Pereira, sendo que o município menos representativo é o de Queimados, com apenas 0,56% da área da ZA dentro de seu território. Essa Zona de Amortecimento é importante, pois é onde se insere grande parte do acervo arqueológico deste estudo, sobretudo os que dizem respeito ao Municípios de Nova Iguaçu e Japeri e a parcela de Miguel Pereira, representada pela bacia hidrográfica do Rio Santana que integra esse trabalho. É o caso da área remanescente da Sesmaria de Inacio Dias Velho, que teria

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dado origem a Japeri. O Projeto Corredor Cultural da Fazenda Paes Leme, em fase de elaboração, tem por meta ser implantado na área de alcance dessa zona de amortecimento, especificamente, no espaço de influência do Assentamento da Fazenda Paes Leme, criado para fins do Programa Nacional de Reforma Agrária, já descrito anteriormente.

Figura 27 - Ilustração da localização e dos limites da Região da Rebio do Tinguá. Fonte: IBGE, 2000 e Plano de Manejo da Rebio Tinguá.

O Plano de Recuperação do Assentamento da Fazenda Paes Leme - PRA elaborado a partir do contrato nº 007/2007, firmado entre o Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Rio de Janeiro - ITERJ e a Cooperativa de Consultoria, Projetos e Serviços em desenvolvimento Sustentável Ltda. - CEDRO, em 01 de agosto 2007, a exemplos de outros, anteriores, tratou a comunidade assentada em 68 lotes em que está parcelada a Fazenda em comento, apenas como uma estrutura de produção agrícola, restringindo o trabalho a um diagnóstico do solo, da aptidão agrícola e as principais características fisiográficas e socioeconômicas. Deixou de fora, até como modelo do Programa Nacional de Reforma Agrária, até então em vigor, outros fatores de relevância ao desenvolvimento da comunidade enquanto uma estrutura agrária, inserida no contexto da zuna rural do Município de Miguel Pereira. Assim, deixou de contemplar o cidadão e a cidadã existente no espaço, compartilhado por, além de solos, rios, riachos, vegetação, técnicas agrícolas, comercialização, pessoas com ambições pretendidas, necessidades de grupos de interesses formados por famílias de produtores rurais nas diversas faixas etárias verificadas, visão de mundo, patrimônio, memória e identidade culturais, capital social e vocação da comunidade para o desenvolvimento local. Dessa forma, pesa sobre o antigo projeto de reforma

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agrária a culpa por não inserir o sujeito da agricultura numa perspectiva de avanço e condições de fixação e vivência no campo agrário em oposição ao urbano, destino certo e pretendido principalmente dos jovens, quando atingem a idade economicamente ativa e partem em busca de "melhores condições de vida". Com a atualização do PRA- Fazenda Paes Leme, iniciado em 2012, percebeu que a comunidade rural resiste ao processo de urbanização, caracterizado por diversos fatores onde a apropriação da posse da terras pela especulação imobiliária, se tornou o mais grave conflito de terra verificado a ponto de ocasionar óbitos e buscava, ainda que forma não organizada, uma solução para esse problema. Como primeira medida, foi feito um reconhecimento geográfico e administrativo da Fazenda. Um segundo momento, foi caracterizado pelo agrupamento dos diversos assentados em atores das atividades agrárias. Um terceiro momento em desenvolvimento, pelo planejamento das atividades e inserção do mesmo no Projeto Corredor Cultural Paes Leme, cujo principal objetivo é a integração das atividades agrícolas numa perspectiva agrária, onde o agrário se estende na percepção do trabalhador e trabalhadora rural enquanto cidadãos portadores de aspectos culturais específicos que o distinguem dos cidadãos urbanos. A Fazenda dispõe, em sua área e no entorno, de um potencial arqueológico, confirmado a cada incursão feita no local, sobretudo, histórico, com registro de sítios arqueológicos e sua inclusão no planejamento das ações do projeto descrito, prevendo atividades correlacionadas à sua existência numa perspectiva de preservação e gestão.

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Figura 28 - Perímetro georreferenciado da Fazenda Paes Leme. Fonte: ITERJ.

O maior legado é a aceitação da comunidade, verificada nas discussões ocorridas e na participação em caminhadas destinadas à localização e registro de sítios e indicação de áreas novas, encontradas por algum dos produtores.

Foto 68 - Produtor rural participa do reconhecimento arqueológico em um sítio da Fazenda Paes Leme. Fonte: José Mauricio.

Foto 69 - Participação da comunidade em caminhadas para vistoria dos mananciais hídricos e reconhecimento arqueológico. Na foto estão um Produtor Rural e a Presidente da Associação de Produtores da Fazenda Paes Leme. Fonte: José Mauricio.

Abaixo, uma construção de taipa, confrontante da Fazenda Paes Leme, construída sobre uma terreno terraplanado e arrimado com pedras sobrepostas. A construção encontra-se na Zona de Amortecimento da Rebio-Tinguá e integra um conjunto de ocupações irregulares para a área.

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Foto 70 - Casa de taipa construída sobre um sítio arqueológico histórico confrontante da Fazenda Paes Leme. Fonte: José Mauricio.

De uma forma geral, o patrimônio arqueológico é ignorado enquanto coisa objetificada com agregação de valor, investido na função de memória e com propósito simbólico. A grande maioria das pessoas que margeiam o patrimônio arqueológico, são atores que agem sobre esse acervo, mas sempre com impactos negativos. Observa-se como causa a ausência do sentimento de pertencimento da coisa vista, mas sequer percebida. A questão está ligada ao processo de aprendizagem, pois no momento em que o sujeito da ação passa conhecer o patrimônio em voga, cria-se, num primeiro momento, o confronto ocasionado pelo interesse dos lados envolvidos, o que pode ser exemplificado por um produtor rural que se utiliza das pedras de uma estrutura de contenção de encosta de uma estrada do período imperial e é abordado, com um discurso informativo sobre o que está sendo desmanchado. Essa ação é entendida como censura ao que ele pretende fazer e gera o discurso antagônico, que só será revertido no momento em que se consegue atribuir ao acervo uma função econômica, capaz de gerar renda. Nesse momento estabelece um diálogo entre o agressor ao bem e o defensor da sua preservação o que resulta compreensão do objeto enquanto algo de valor. Na busca de uma justificativa para essa situação caracterizada pela relação antagônica estabelecida entre o cidadão o patrimônio cultural arqueológico, onde a demanda um se opõe aos interesses do outro, encontra referência em Rubino (1996, p. 97), quando escreveu que em 1961, após quase três décadas à frente do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rodrigo Melo Franco de Andrade: afirmou não ser Brasil constituído apenas de seu território, de sua configuração no mapa do Hemisfério Sul. Para identificarmos a nação brasileira, dizia, teríamos de considerar a obra da civilização realizada no país: a produção material e espiritual que herdamos.

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Associando esse discurso ao local em destaque, podemos reproduzir e aplicar as palavras de Rodrigo Melo Franco de Andrade quando o município do local descrito, só é visto pelo seu território e arrecadação. As necessidades da população, na ótica da gestão política, se restringe ao atendimento imediato de alguns dois direitos: "educação e saúde" e, assim mesmo, oferecidos de forma bastante precários. A cultura só serve para negociar acordos de apoio a campanhas eleitorais e também é vista com bastante restrição direcionada a eventos de apresentações de artistas de fora da cidade como cantores em festas comemorativas, com altos custos ao cofre público. Como disse Harvey (2001, p. 221): não se pode negar que a cultura se transformou em algum gênero de mercadoria e que há a crença muito difundida de que algo muito especial envolve os produtos e os eventos culturais, (estejam eles nas artes plásticas, no teatro, na música, no cinema, na arquitetura, ou mais amplamente, em modos localizados de vida, no patrimônio, nas memórias coletivas e nas comunhões afetivas), sendo, portanto, preciso pô-los à parte das mercadorias normais, como camisas e sapatos.

Um patrimônio cultural arqueológico como o registrado na Fazenda Paes Leme, representa o município em vários momento de sua trajetória histórica, reportando sua origem ao período pré-colonial, muito pouco conhecido e à presença do africano, cuja atuação no espaço começa a ser lida em documentos encontrados no levantamento bibliográfico efetuado e contradiz uma versão pacífica de escravidão. Embora citados na História oficial, esta não aprofunda em detalhes ricos que começam a ser relidos no registro arqueológico. A criação do SPHAN em 1937, embora tenha representado para uma pequena parcela da população constituída de funcionários e correligionários uma ruptura em relação a uma tradição anterior que consideravam amadora no trato de assuntos relativos ao passado tradicional brasileiro, para o grande público brasileiro, isso não significou nenhum avanço (RUBINO, 1996, p. 97). A prova está aqui, nos limites da atuação desse levantamento. Se por um lado ouve um descobrimento do país que se inventou e inventariou um Brasil histórico e artístico, etnográfico, arqueológico e geográfico (RUBINO, 1996, p. 97), por outro lado, ficou de fora, um Brasil que se encontrava além dos limites físicos de uma elite de intelectuais bem intencionados, mas restritos a uma pequena realidade. Falar de preservação sem o envolvimento da comunidade, é mera expectativa de estar discutindo a proteção de bem cultural arqueológico. Um exemplo experimentado foi o Sítio Arqueológico Morgado de Belém, situado na RJ 093, descoberto e redescoberto em 1988, quando a Associação de Amigos e Moradores de Japeri - AMOR-JA iniciou os preparativos da comemoração dos 243 anos do então 6º Distrito de Nova Iguaçu, Japeri. As ruínas já eram velhas conhecidas, mas a comunidade nunca havia atentado para sua importância e significado que ganhou notoriedade a partir de então. Até o início da década de 1990 era um sítio de posse

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de uma Senhora de nome Catarina, que gostou da ideia de ter um sítio arqueológico dentro de sua propriedade, que passou a ser visitada por escolas em aulas práticas de Geografia e História, até que uma mineradora local, comprou a área e resolveu murá-la com sérios prejuízos à História e Patrimônio Arqueológico do então Distrito de Nova Iguaçu. A comunidade se mobilizou, o IPHAN e a imprensa foram chamados e conseguiu impedir o avanço da destruição, mas o muro foi, infelizmente, construído. Os moradores vizinhos sempre procuravam a equipe para falar de uns achados que teriam sido descoberto pelos tratores. Falavam se tratar de "dois tachos cheios de tesouros". Em seguida, vários acontecimentos coincidiram no pátio operacional da pedreira o que levou ao surgimento de uma lenda. Que os arqueólogos eram bruxos e que jogaram praga e que foi castigo por terem perturbado a casa que era mal assombrada e por ai foi até que o plebiscito promoveu seu primeiro prefeito, que tinha como pai, o primeiro presidente da Câmara de Vereadores. Na nova administração, as observações da comunidade se confirmaram e dois tachos feitos de ferro fundido para o fabrico de aguardente que haviam sido recuperados de forma irregular pelos tratores que abriram espaço para o muro, foram entregues à Prefeitura que se implantava. Foram expostos na frente da Prefeitura, até que percebeu-se que eram usados como lixeira e depósitos para acúmulo de água e reprodução de mosquitos. Após denúncia, os tachos, foram retirados de lá e, colocados na porta da Prefeitura Municipal, onde permaneceram sem cuidados até 2008, quando foram retirados por estarem acumulando água e servindo de incubadores para o mosquito, principalmente os do gênero Aedes. Hoje, não se sabe onde estão. A reportagem abaixo dá uma ideia da repercussão que teve a ação da pedreira ao ameaçar o sítio arqueológico de Japeri, mas também mantém viva a questão que pergunta o que fazer para garantir o preservação desse patrimônio que retrata o desenvolvimento sociocultural do Município que, até o momento, não mostrou interesse na criação de uma política de preservação de seu acervo. Se for considerado que a política do patrimônio, constitui a função orçamentária mais importante da política cultural francesa, dando conta de quase 30% do conjunto das despesas públicas com atividades definidas como culturais (MICELE, 2001, p. 364). Podemos esperar pouco dos agentes políticos brasileiros, sobretudo os de Japeri, uma vez que só conseguem perceber despesas desnecessária ao direcionar recursos ao bem cultural. Nesse discurso ainda é utilizado como argumento, a necessidade em saúde e educação, porém em condições cada vez piores. Ou seja, nem investe "nas meninas dos olhos" e tampouco, no "patinho feio". Os parágrafos 4º e 6º do Artigo 169 no Capítulo II da Lei Orgânica Municipal, preveem o patrimônio cultural arqueológico e histórico, mas sequer há previsão orçamentária para o que está previsto. O Município dispõe de um acervo arqueológico importante, que pode

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contribuir com o desenvolvimento socioeconômico, mas necessita de um plano de gestão próprio.

Figura 29 - Uma das divulgações do evento provocado pela pedreira. Fonte: Jornal O Dia, Caderno O Dia Baixada, 1991. Esse episódio deixa claro a noção que as autoridades e a elite financeira local têm sobro o patrimônio e sua função. Isso nos remete ao capítulo Arqueologia Urbana, considerando Tocchetto e Thiesen (2007, p. 178) quando disseram que espaço, tempo e destruição foram o maeström (turbilhão, confusão, conflito) que fez surgir aquela importante corrente da arqueologia. Como disse Castells (2009, p. 57): a região metropolitana, enquanto forma central de organização do espaço do capitalismo avançado, diminui a importância do ambiente físico na determinação do sistema de relações funcionais e sociais, anula a distinção rural e urbana e coloca em primeiro plano da dinâmica espaço/sociedade, a conjuntura histórica das relações sociais que constituem sua base.

As preocupações com o acervo patrimonial cultural em nada contribuiu com o avanço da gestão pública desencadeada pelo plebiscito que, vinte e cinco anos depois, Japeri se mantém nas mesmas condições de que quando era distrito do Município-Mãe. A institucionalização de uma política federal de preservação, iniciada em 1937 (FONSECA, 1996, p.154), não foi

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suficiente para garantir, em 2017, que o avanço da metropolização do Rio de Janeiro sobre o espaço territorial fluminense, fosse compatível com a localização, identificação, mapeamento, fiscalização efetiva e ostensiva e funcionalidade do acervo patrimonial cultural inserido em seu contexto. Tampouco de promover a extensão do "Projeto Interação entre a educação básica e os diferentes contextos culturais existentes no país" que, conforme disse Fonseca (1996, p. 157): se propunha a apoiar e acompanhar projetos propostos por grupos e organizações da sociedade, calcado nos pressupostos da pluralidade cultural e da eficácia da gestão descentralizada e participativa. Tratava-se de aproximar os processos educativos do contexto cultural dos alunos, visando não apenas aprimorar a dinâmica da aprendizagem como também a conferir estatuto de "cultura" às experiências que o aluno trazia para a escola.

Seja como for, o sítio arqueológico, em comento, está no mesmo lugar, correndo os mesmos riscos e se distanciando cada vez mais da sociedade, uma vez que não foi mais utilizado para aulas práticas e nenhuma outra atividade, ainda que de fiscalização. Seria bom que os municípios incluíssem, pelo menos 2% de sua receita orçamentária para a política do patrimônio cultural numa demonstração de reconhecimento da importância do bem cultural a exemplo do valor dado pela França, conforme abordado em Micele (2001, p.p. 364 e 365), que expõe: No limite, a política francesa do patrimônio foi dilatando a tal ponto as fronteiras de sua jurisdição que passou a abarcar quaisquer modalidade de expressão cultural, associadas a quaisquer suportes, buscando assim "solucionar" o desafio da seleção dos estoques a serem preservados pela avassaladora "universalidade" da jurisdição institucional que vem se delineando.

Podemos dizer que a ruína em comento é um patrimônio cultural deixado ao acaso até os dias de hoje e as autoridades municipais, se é que tem, não dispõem de nenhum planejamento voltado à sua valorização e reconhecimento desse acervo como um conjunto de bens do Município que têm muito a dizer sobre a evolução da população no espaço. Talvez seja interessante observar que, no início do século XX, a Estrada de Ferro Central do Brasil, comprou a cachoeira nas terras da Fazenda Belém, cujas ruínas formam o sítio mencionado. Rever os limites fundiários do perímetro comprado pelo Governo Federal, possa ser uma saída à garantia da preservação e disponibilização do patrimônio ao público em geral, facilitando o acesso e o desenvolvimento de projetos de pesquisa e gestão. Isso reforça a ideia de que a reflexão sobre o patrimônio e as políticas de preservação do ponto de vista do exercício da cidadania é, no momento atual, do maior interesse teórico e prático, por vários motivos (FONSECA, 1996, p. 153), porém a questão é como fazer com que esse ideal alcance a localidade. A foto abaixo, exibe a cicatriz geológica aberta pela mineradora em propriedade da qual, encontra-se o Sítio Arqueológico Morgado de Belém.

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Foto 71 - Serra da Bandeira, onde situa a mineradora que detém a posse do espaço onde assenta o Sítio Arqueológico Morgado de Belém. Fonte: José Mauricio.

Segundo Fonseca (1996, p. 153) nas últimas décadas, tendo como referência, 1996, vinha ocorrendo, em escala, mundial o desenvolvimento de uma consciência preservacionista, impulsionada principalmente pela questão ecológica, mas que abrangem, também os bens culturais. Os programas federal e estadual das políticas de patrimônio não conseguiram alcançar a escala municipal, transformando em ação o discurso acadêmico impresso nos artigos científicos. O distanciamento entre a demanda de políticas públicas voltadas à preservação do patrimônio e a sociedade alcançou proporções alarmantes a ponto de não ser esse, um tema a ser discutido em assuntos gerais e espontâneos, como são o futebol e a religião. O fato é que nenhum partido político local, aborda a questão cultural, em especial patrimônio, sobretudo, o arqueológico, como programa de governo que deve ser pautado no plano diretor municipal. A orientação dos marqueteiros, não é discutir programa político, mas imagem do candidato a ser vendida como produto eleitoral. Na visão de Tamaso (2005, p. 13), a crescente velocidade com a qual se espalharam mundialmente as obsessões com o passado e, sobretudo, com o que nós costumamos chamar de

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patrimônio direcionaram as atenções para as raízes e as coleções que tomaram conta do Ocidente, fazendo surgir museus e sítios históricos, sobretudo no pós-guerra. Canclini (1994, p.98), confirma essa observação, quando diz que a expansão demográfica, a urbanização descontrolada e a depredação ecológica suscitam movimentos sociais preocupados em recuperar bairros e edifícios ou em manter o espaço urbano habitável. Lowenthal (1998, p. 64) A consciência do passado é, por inúmeras razões, essencial ao nosso bem-estar. Para o autor, toda consciência atual se funda em percepções e atitudes do passado e o acontecido também é parte integral de nossa própria existência. No entanto, para Tamaso (2005, p. 13), a nostalgia pelas "coisas velhas", em muitos lugares, suplanta o desejo pelo progresso e pelo desenvolvimento e: A onda universalizante da UNESCO" torna-se cada vez mais um valor para inúmeras cidades (municípios) que agora percebem que "moderno é ser antigo". O desenvolvimento pode ser buscado por causa do patrimônio. Se antes o patrimônio funcionava como obstáculo do desenvolvimento, agora ele é fundamento deste. Se antes, o patrimônio cultural, era rejeitado, agora percebo, que, de um lado permanece nessa condição, de outro, tolerado e, de um outro lado, bem menor, compreendido por uma parcela da população componente da sociedade municipal, que vem aumentando as ações sobre a proposta preservacionista, embora esbarre na questão política que detém o Poder das decisões. Talvez isso possa ser explicado por Canclini (1994, p. 92) quando afirma que o patrimônio cultural expressa a solidariedade que une os que compartilham um conjunto de bens e práticas que os identifica, mas também costuma ser lugar de cumplicidade social. O patrimônio cultural arqueológico, inserido no contexto da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, em especial, os que estão sob a jurisdição dos municípios trabalhados nessa pesquisa, encontra-se diante de uma situação abordada na Declaração de Caracas - ICOM, (1992, p. 248) quando proclama ser lamentável a carência de uma política cultural coerente que transcenda a temporalidade e garanta a continuidade das ações. Por outro lado, a tendência que prevalece no momento atual, à privatização e a confiar à sociedade civil responsabilidades que normalmente cabiam ao Estado, pode acarretar riscos em relação ao patrimônio cultural. O Estado não pode abandonar seu papel de gerenciador do acervo patrimonial de nossos povos, e deve intervir, sempre, para garantir sua conservação e integridade como o organismo mais idôneo.

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10 CONCLUSÃO Abordar a preservação do patrimônio cultural, em especial o arqueológico, numa conjuntura caracterizada por um crescimento cada vez mais rápido das cidades dentro dos perímetros territoriais dos municípios, quando assistimos a sobreposição das camadas do solo por prédios e estruturas novas que só levam em consideração o lucro monetário como resultado importante a considerar nesse processo, torna-se fundamental à garantia do acervo arqueológico às gerações futuras. Considerar o patrimônio cultural arqueológico além de um item de despesa, no orçamento municipal, compreendendo-o, enquanto uma matéria-prima capaz promover a sua própria sustentabilidade seja pela geração direta de recursos financeiros, seja pela conscientização da comunidade que o envolve, coloco como um desafio a ser superado em uma velocidade com aceleração positiva e crescente. Assim, aponto o turismo local e regional como exemplo de uma proposta a ser testada e aliada na busca de um caminho que nos leve à preservação do acervo tratado. Nessa direção, inserir o patrimônio cultural arqueológico numa perspectiva de desenvolvimento local e regional, ultrapassando o conceito de desenvolvimento portado pela engenharia, economia e consequentemente, pelas empresas que financiam os candidatos a cargos eletivos, constitui uma proposta idealizada a ser apresentada em sequência a este estudo. A arqueologia pública é capaz de promover a percepção de valores do espaço territorial a partir da diversidade de recursos existentes que vão dos mananciais hídricos, estruturas agrárias familiares, patrimônio arqueológico a grupos de pessoas com forte potencial criativo, necessitando, apenas, do conhecimento básico específico e do acompanhamento necessário para o impulso inicial. Sem dúvida, isso, no mínimo levará a um novo estágio de abordagem diante do acervo arqueológico, criando obstáculo aos que veem o espaço já ocupado, como estrutura a ser transformada em outra expressão paisagística urbana capaz de gerar dinheiro de uma única forma. O sítio arqueológico, que na ótica do mercantilismo urbano, não passa de um obstáculo que a lei manda guardar estará garantido no momento em que for parte pertencente da comunidade que o cerca, exercendo, além de outras, as funções de memória coletiva e a identidade cultural da sociedade. A comunidade e o público em geral, uma vez preparados, poderão tornar-se os responsáveis pela preservação e conservação do patrimônio cultural arqueológico dentro da área trabalhada. A comunidade ao tomar ciência do patrimônio cultural arqueológico, enquanto um artefato de valor e que agrega valores, desperta o interesse pelo mesmo e passar a pensá-lo sob a ótica de um novo olhar. Essa conclusão esta entre as observações possíveis de fazer onde o trabalho alcançou um estágio avançado de atividades efetivadas por associações entre um sítio arqueológico e a aptidão comunitária. Isso, porque o acervo arqueológico pode ser incluído no

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conjunto de atividades socioeconômicas que uma comunidade pode programar em função do seu desenvolvimento. Nesse campo, a arqueologia pública é o principal meio na proposta de despertar a consciência para o patrimônio cultural arqueológico, capaz de munir, treinar as pessoas com informações e técnicas de exploração do bem arqueológico em conformidade com a legislação e os interesses da arqueologia. Com a realização desse trabalho foi possível visitar, cadastrar alguns sítios, avaliar e reunir condições para propor um plano de gestão para o acervo arqueológico inserido no contexto territorial dos municípios de Nova Iguaçu, Japeri, Queimados, Belford Roxo e Mesquita. Foi possível, também localizar grupos e pessoas que agem sobre o patrimônio cultural, ainda que não especificamente sobre o arqueológico, e com o contato estabelecido, firmar discussões que, somadas, fortalecerão a demanda de uma política pública para o patrimônio cultural, nesse caso, com ênfase ao arqueológico. Foi possível levantar informações que possibilitam mensurar o grau de risco a que está exposto o conjunto de bens arqueológicos, pelo intenso processo de urbanização porque passa o espaço citado. Com os resultados alcançados, será possível apontar direções a serem seguidas, como medidas experimentais, para a real proteção do bem arqueológico.

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ANEXO I LISTA DOS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS REGISTRADOS NA ÁREA EM ESTUDO REGISTRADOS CNSA/ IPHAN - 2014 Nº MUNICÍPIO SÍTIO TIPO CARACTERÍSTICAS 01 Belford Roxo: Sambaqui da Pré-Colonial Localizado em terreno arruado e espólio da Família Ferreira. Quase totalmente Vila Marquesa de Marquesa arrasados em praça pública, no loteamento Santa Tereza. Composição Santos RJ-LP-40 predominante de ostreá . Material arqueológico constituído de lascas de quartzo sem retoques. Área: 10X5 metros espessura 1.5 metro. Pesquisado em 10-10- 1971 e dezembro de 1976. 02 Belford Roxo: Redentor Histórico Situado ao pé de morro laterítico a poucos metros da estrada para o Calundu. Parque São José RJ-LP-6 Material arqueológico constituído de cacos neo-brasileiro e coloniais. Pesquisado (Jardim Redentor) em dezembro de 1976. 03 Belford Roxo: Vacaria Pré-Colonial Localizado na estrada que liga a Automóvel Clube à Belford Roxo. Material Fazenda Vacaria RJ-LP-4 arqueológico constituído de artefatos líticos e cerâmicos. Pesquisado em dezembro de 1976. 04 Belford Roxo: Baixada Pré-Colonial Localizado na Estrada da Cruz Vermelha. Material arqueológico constituído de Antiga Fazenda RJ-LP-3 artefatos líticos e cerâmicos da fase Guaratiba. Pesquisado em dezembro de 1976. Calundu 05 Belford Roxo: Cruzeiro Pré-Colonial e Localizado na antiga Fazenda Calundu, na Estrada Conceição. Material Loteamento Santa RJ-LP-2 Histórico arqueológico constituído de artefatos líticos e farta cacaria colonial da Fase Tereza Calundu. Pesquisado em dezembro de 1976. 06 Belford Roxo: Madame Picucha Histórico Localizado na antiga Fazenda Calundu. Material arqueológico constituído de Loteamento Santa RJ-LP-1 farta cacaria colonial e neo-brasileira. Fase Calundu e vestígios de fossas

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Tereza culinárias. 07 Belford Roxo: Dona Laura Pré-Colonial Localizado em um terreno residencial, descoberto ao acaso quando do corte de Vilar Novo RJ-LP-43 um barranco. Material arqueológico constituído, principalmente, de artefato cerâmico caracterizado por urna carenada, com decoração corrugado-espatulado e hiperbólica com cerca de 70 cm de altura (encontrada vazia)e retirada praticamente inteira. Tigela decorada. Tigela carenada-corrugada. Tigelas retangulares de fundo plano, tipo alguidar, algumas pintadas. Fase Sernambitiba e Tradição Tupiguarani. Pesquisado em 20 e 28 de setembro de 1980.

01 Queimados: Fazenda Roseira Histórico Localizada a poucos metros da Estrada de ferro no Ramal Japeri e do Rio Fanschem Sarandi. Material arqueológico constituído de monumentos formados por edificação de sede de fazenda com arcos construídos com tijolos dois furos e fundação de pedra e fragmentos de cerâmica na superfície. Pesquisado em 08-10- 2004 02 Queimados: Aldeia Roseira Pré-Colonial Localizado em área pública nas margens da estrada de ferro da Linha Auxiliar. Santa Amélia Material arqueológico constituído de artefatos líticos lascados, cerâmico e carvão. Fase Tupiguarani. Pesquisado em 08-10-2004 01 Nova Iguaçu: Rio Morto Histórico Localizado em meia encosta durante o processo de monitoramento das obras Rio D`Ouro/ Arco Metropolitano (BR493) entre as estacas 1468 a 1476. Material arqueológico Mantiqueira constituído por restos de habitação. 02 Nova Iguaçu: Fábrica de Histórico Localizado em terreno do DER para construção do Arco Metropolitana (BR493)

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Austin/Carlos Pólvora entre as estacas 1193 e 1195, com acesso pela Estrada que vai para Carlos Sampaio Sampaio na Bacia Hidrográfico do Rio Iguaçu. Material arqueológico constituído de variedades de louças, vidros, cerâmica colonial e neo-brasileira e metais com vestígio de edificações. 03 Nova Iguaçu: Carlos Sampaio II Histórico Situado em área de morro nas proximidades do Arco Metropolitano (BR493) em Austin/Carlos função do qual foi descoberto entre as estacas 1221 e 1223. Material Sampaio arqueológico constituído de louças, vidros, cerâmica neo-brasileira e metais. Assenta-se num trecho que servirá de jazida para terraplanagem. 04 Nova Iguaçu: Engenho do Alto Histórico Assenta-se num trecho que servirá de jazida para terraplanagem. Material Austin/Carlos arqueológico constituído de Louças, vidros, cerâmica neo-brasileira e metais. Sampaio 05 Nova Iguaçu: Vale Verde Histórico Situado em área colinar tendo como referência a estaca 1328 do Eixo Central da Austin/Carlos BR 493 9 Arco Metropolitano), dispõe de material arqueológico constituído de Sampaio louças, vidros, cerâmica colonial e metais. Apresenta parte de uma estrutura de alicerce com base de pedras e tijolos maciços. 06 Nova Iguaçu: Carlos Sampaio Histórico Situado em área colinar apresenta material arqueológico constituído de louças, Austin/Carlos IV vidros, cerâmica colonial e metais. Apresenta parte de uma estrutura de alicerce Sampaio com base de pedra e tijolos maciços. 07 Nova Iguaçu: Cacuia Histórico Situado próximo à base de um morro com evidências de um baldrame que forma Austin/Carlos um platô retangular com limite no talude do morro. O material arqueológico é Sampaio constituído de cacos de telhas, louças dos séculos XVIII e XIX e metal.

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08 Nova Iguaçu: Carlos Sampaio V Histórico Semelhante ao Sítio Cacuia situa-se próximo à estaca 1328 e da casa do Sr. Austin/Carlos Sebastião Lima. Apresenta a mesma composição arqueológica. Sampaio 09 Nova Iguaçu: Palmeiras Histórico Situa-se na Gleba 5 do Núcleo Colonial São Bento, Lote 420 do INCRA. O Adrianópolis/Bar material arqueológico é constituído de fragmentos de cerâmica, louças, telhas e ão do Guandu tijolos. 10 Nova Iguaçu: Fazenda São Histórico Localiza-se nas margens da estrada entre Vila de Cava e Tinguá. Construída em Iguaçu Velho Bernardino 1875 foi símbolo da opulência cafeeira na região. Vítima de incêndio criminoso na década de 1980 encontra-se em ruínas. Foi saqueado e atacada várias vezes por caçadores de tesouros. Tombada pelo IPHAN Processo nº 432-T , Inscrição 30 Livro de Belas Artes Fls. 76, 1951. O material arqueológico é constituído de louças, vidros, metais. Apresenta um monumento arquitetônico feito em tijolos e pedra. 11 Nova Iguaçu: Vila de Iguaçu Histórico É o sítio histórico de Nova Iguaçu. Situa-se nas margens do Rio Iguaçu possui Iguaçu Velho um acervo arqueológico constituído de cemitério, porto (atracadouro), ruínas da Igreja de Nossa Senhora da Piedade, trecho do atalho da Estrada do Comercio calçada e o início da Estrada da Polícia. Tem um barco enterrado no porto. 12 Nova Iguaçu: Santa Rita Histórico Propriedade do DER possui um ocupante chamado Sr.Pino,situa na margem Santa Rita esquerda da Estrada Santa Perciliana em frente ao Condomínio Village santa Rita. O material arqueológico é constituído de cerâmica localizada numa camada arqueológica de coloração marrom de aproximadamente 30 cm.

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13 Nova Iguaçu: Bambus Histórico Situado em propriedade do DER com acesso pela Estrada das Canas. O material Vila de Cava arqueológico é constituído de estrutura de fazenda. 14 Nova Iguaçu: Vale das Histórico O acesso se dá pela RJ 111 (Vila de Cava X Tinguá) e fica próximo do GASJAP Barão de Guandu Pindobas ER 202 e o Rio Iguaçu. O material arqueológico é constituído cerâmica, louças, (?) metal, lítico e tijolos. 15 Nova Iguaçu: Barão de Iguaçu Histórico Encontra-se próximo à estaca 617 do lote 1 do Arco Metropolitano. O material Barão de Iguaçu arqueológico é constituído de cerâmica, louças, matais, lítico, tijolos, telhas, vidros e fragmento de cachimbo. 16 Nova Iguaçu: Carlos Sampaio Histórico Situado entre as estacas 1193 e 1195 do Arco Metropolitano esta territorizado em Austin/Carlos III propriedade do DER. O material arqueológico é constituído de cerâmica colonial Sampaio e neo-brasileira e metais. 17 Nova Iguaçu: Amaral Histórico Com acesso pela Estrada de Adrianópolis, 4502 é de propriedade do DER. O Amaral material arqueológico é composto de cerâmica, louça, vidro e ferro. 18 Nova Iguaçu: Paineiras I Histórico Localiza-se próximo à Escola Municipalizada em Adrianópolis e já foi sede de Adrianópolis RJ-LP-64 fazenda e indústria ( olaria, azulejo, pólvora e brinquedos de metal). O material arqueológico é composto de um acervo diversificado que pode remontar ao Século XVIII, constituído de louças decoradas e cerâmica indígena neo- brasileira, fragmentos de metal, fragmentos de cachimbo e outros quase inteiros e fragmentos de stoneware. 19 Nova Iguaçu: Paineiras II Histórico O acesso se dá pela Estrada de Adrianópolis e a Praça do Cata Vento. Está São Judas destruído e o material arqueológico é constituído de fragmentos de louças e

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Tadeu/Cata Vento cerâmica. É atravessado por uma estrada calçada com pedras (pé de moleque). 01 Japeri: Aldeia de Pré-Colonial Localizado na margem esquerda do Rio Guandu, na Estrada do Daniel, 220. O Santa Terezinha Itaguaçu II material é composto de cerâmica, combustão e alinhamento de pedra. Tradição Tupiguarani. 02 Japeri: Normandia Pré-Colonial Localizado na fazenda Normandia de propriedade do Instituto de Terras e Normandia Cartografia do Estado do Rio de Janeiro- ITERJ, situa-se numa colina. O material arqueológico é constituído de fragmentos de cerâmica tupi (?). 03 Japeri: Aldeia Itaguaçu I Pré-Colonial Localizado na mesma propriedade do Aldeia Itaguaçu II o material arqueológico Santa Terezinha é constituído de cerâmica tupiguarani. 04 Japeri: Ary Schiavo Histórico Situado em área elevada é constituído de material arqueológico formado de diversidade de louças, vidros, metais e cerâmica neo-brasileira. 05 Japeri: Santa Amélia I Histórico Localizado em área campestre com acesso pela estrada principal de Santa Santa Amélia Amélia, próximo à Escola Joanna de Angel. O material arqueológico é constituído de louças, vidros, cerâmica colonial e metais. Apresenta parte de uma estrutura em sub-superfície. A propriedade é do DER. 06 Japeri: Dois Irmãos Histórico Localizado em uma área de alagamento, dentro da faixa de domínio do GASJAP Amapá RJ-LP-68 da Petrobrás na confluência com a Estrada da Saudade e que apresenta dois bolsões seco onde encontra-se o sítio, cujo material arqueológico é formado de louça branca decorada, fragmento de cerâmica neo-brasileira e stoneware, vidros e metais. 07 Japeri: Rio D`Ouro Histórico Localizado na divisa dos municípios de Nova Iguaçu e Japeri no alto de um

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Rio D`Oouro morro nas margens do Rio D`Ouro. O material arqueológico é caracterizado pela ocorrência de cerâmica tupiguarani e neo-brasileira. Apresenta características semelhantes às do sítio Santo Antonio II distante a 2.5 km. A diferença está na ausência de fragmentos de louças e metal neste último. 08 Japeri: Aldeia de Pré-Colonial Localizado no alto de um morro na margem esquerda do Rio Guandu, na Estrada Santa Terezinha Itaguaçu do Daniel, 220. O material arqueológico é constituído de cerâmica e lítico (sílex) da Tradição Tupiguarani. 09 Japeri: Areal II Histórico Localizado próximo à Olaria com acesso pela Estrada Rio D`Ouro, encontra-se Rio D`Ouro parcialmente destruído. O material arqueológico é constituído de louça, cerâmica e vidro. 10 Japeri: Santo Antonio I Histórico Localizado próximo à cachoeira de Santo Antonio em uma baixada a 100 metros Santo Antonio do Rio. O material arqueológico é formado de fragmento de louça branca e decorada e cerâmica neo-brasileiro. 11 Japeri: Santo Antonio II Histórico Localizado na margem direita do Rio Santo Antonio encontra-se parcialmente Santo Antonio RJ-LP-67 destruído. A área arqueológica estende-se por 100 metros ao longo da faixa de domínio do gasoduto Japeri/REDUC. Apresenta material arqueológico disperso na superfície que é constituído de fragmentos de cerâmica tupiguarani, neo- brasileira, louças brancas ou decoradas, metal, botões e cachimbos cerâmicos. Está dividido em duas partes: uma, na parte alta do terreno, onde se encontram os fragmentos de cerâmica tupiguarani em avançado estagio de destruição e outra com maior concentração de fragmentos de louça, cerâmica neo-brasileira e metal

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em melhor estado de conservação. 12 Japeri: Viaduto Histórico Com acesso pela estrada de Adrianópolis, 4502. O material arqueológico é Queimados constituído de cerâmica, louça, vidro, telha, azulejo e ferro. 13 Japeri: Morgado de Histórico Localizado dentro do terreno de uma Pedreira nas margens da Estrada Ary Chacrinha Belém Schiavo. Sabe-se hoje que se trata das ruínas do Engenho de Pedro Dias . Quando a Pedreira comprou o sítio tentou destruir para construção de um muro, mas foi impedida pelo grupo do IFA que fez ampla mobilização pela preservação. O material arqueológico é constituído de monumentos e fragmentos. Como monumentos tem-se as ruínas de pedras que representam paredes e contenção feita em tijolos de barro (adobe), caldeirões de ferro fundido tipo aguardente, vidros, louças, ferro entre outros artefatos que não puderam ser trabalhados. Os caldeirões foram recuperados e entregues à Prefeitura que os expunham em sua sede sem nenhum tratamento de conservação. Foram retirados e não se sabe onde estão.

5.2 SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS A SEREM REGISTRADOS ENTRE 2015/2016 NO CNSA/IPHAN - POR ESSA PESQUISA Nº MUNICÍPIO SÍTIO TIPO CARACTERÍSTICAS 01 BELFORD Túnel I Histórico Trata-se de um túnel construído em dois momentos, onde o primeiro caracteriza ROXO Shangrila Rosa pela escavação de com um buraco com aproximadamente 2 metros de largura, por mais ou menos 3 metros de profundidade no pé do morro. Daí partia a abertura de um túnel em linha reta, os sinais de enxadão utilizado como

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ferramenta é facilmente verificável nas paredes. Após uns 6 metros de comprimento, um desmoronamento interno dificultava a continuidade até ao fundo. Segundo moradores do local, havia um portão de ferro no interior, fato nunca foi confirmado. Vistoriado em 06/01/2017, o local continua desocupado confrontado de frente pelos fundos do terreno do Sr. Salvador Alegria Pontes, conhecido por Dodô, residente e domiciliado no Caminho da Glória. 02 NOVA IGUAÇU Túnel II Histórico Localizado no Bairro Santa Rita, no terreno da Escola Municipal Santa Rita, tem um uma cava de 60 cm por 15 metros e termina numa câmara. As marcas das ferramentas estão na parede do terreno. A câmara apresenta desmoronamento. 03 NOVA IGUAÇU Casa do Modesto Histórico Situado no atual Parque Municipal de Nova Iguaçu no Maciço do Mendanha, com Leal acesso por Juscelino Kubitschek, Bairro do Município de Mesquita. A casa que já foi a sede da Gleba Modesto Leal, um assentamento rural, na década de 1980/1990, foi transformada em uma Área de Preservação ambiental. Encontra em péssimo estado de conservação, porém há o interesse da Direção da Parque na restauração do prédio para estabelecimento da sede. É feita em taipa, pedra, telhas de cerâmica e madeiras que se encontram amontoados pelo desabamento. Tem um murado de pedras sobre postas, semelhante ao que temos em Paes Leme I e um caminho cortado no barranco, sustentado com um muro de arrimo em pedras que leva até um poço natural onde tem-se duas estruturas de ferro cravadas na rocha onde se acredita ter sido um

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engenho.

03 NOVA IGUAÇU Estrada do Casarão Histórico Trata-se da estrada de acesso ao Parque e que o corta até o Clube, outro sítio arqueológico histórico. A estrada tem duas pontes em pedra e ferro. Na altura do Casarão tem uma capela de pedra sobre uma rocha. 04 NOVA IGUAÇU Gruta APA I Pré Colonial Trata-se de uma gruta constituída por rochas sobre postas, naturalmente, comum na região, semelhante às que encontra no Tinguá, utilizada como abrigo. Foi encontrado no seu interior um vaso de cerâmica repassado ao IPHAN/IAB, que em, função da informação obtida, é faz parte de um utensílio Tupiguarani. NOVA IGUAÇU Gruta Tinguá I Pré Colonial Estrutura formada pro rochas naturais que facilitam o abrigo, ainda hoje utilizado Histórico por moradores que passam pelo local. Quando foi localizada, em 1992, estava chuvoso e pode constatar que o interior é bem protegido das águas das chuvas. Moradores afirmam ter encontrado utensílios de cozinha no interior. Não havia material de superfície.

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05 NOVA IGUAÇU São Pedro 72 Histórico Estrutura de pedras sobrepostas formando paredes acompanhando alicerce, nas margens do Rio São Pedro. Fica na parcela 72 doa Fazenda São Pedro, concedido a Pedro Martins da Rocha. 06 NOVA IGUAÇU São Pedro 83 Histórico Estrutura de pedras sobrepostas formando paredes acima de um terreno terraplanado cercado por um muro de arrimo na base da Serra do Tinguá, margem esquerda do Rio São Pedro. Está localizado na parcelo 83 da Fazenda São Pedro, concedida a Luis Manoel Cardoso Fernandes. 07 NOVA IGUAÇU Barragem de Histórico Barragem de captação de água, desativada, construída em pedras, com definição Captação Tinguá de compartimento para decantação bem estabelecido, com aqueduto para o transporte d`água. Fica localizada nas margens da Estrada do Comércio, lado esquerdo de quem entra na Rebio Tinguá, próxima à sede da Reserva Biológica do Tinguá. 08 NOVA IGUAÇU Casa do Histórico Ruínas em pedra com escadas e degraus bem definidos, localizada nas margens da Administrador Estrada do Comércio, lado oposto ao sítio Barragem de Captação Tinguá, de fundos para um riacho da Bacia do Rio Iguaçu. Trata-se de uma estrutura grande que os funcionários da Rebio Tinguá atribuem à primeira casa da administração na época do Império. 09 NOVA IGUAÇU Cemitério Histórico Trata-se de uma ruína construída em pedras sobrepostas nas margens da Estrada do Comércio, lado direito de quem entra na Rebio Tinguá. Fica num plano mais elevado com uma via de acesso definida, partindo da Estrada do Comércio. É chamada de cemitério, mas certamente nunca foi. Possivelmente um rancho da

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Estrada do Comércio. Foi atravessado pela Petrobras na construção do Oleoduto/gasoduto, destruindo parte significativa do sítio. 10 NOVA IGUAÇU Estrada da Polícia I Histórico Trata-se de uma ruína à margem da Estrada da Polícia, após o Porto (atracadouro) de Iguaçu, distante deste, mais ou menos 800 metros. Constituído de pedras sobrepostas e tijolos maciços com farto material de superfície em pedra polida para fins decorativo. 10 MIGUEL Paes Leme I Histórico Estrutura de pedra sobre posta localizada no Lote 63 da Fazenda Paes Leme. Tem PEREIRA um murado em pedras de tamanho considerado que perfaz um polígono de aproximadamente 200 metros, semelhante ao verificado no Sítio Casa do Modesto Leal, em Nova Iguaçu. A altura varia e, em alguns trechos, o muro caiu, ficando as pedras amontoadas. A ruína é composta de uma parede em pedras com uma abertura sugerindo uma janela. Essa parede fica sobre um platô terraplanado, onde o produtor rural está com intenção de construir uma nova casa. No entorno desse sítio tem um caminho, com muro de arrimo e barragem para captação de água, cujo trajeto não está bem claro. Esse sítio está na base da Serra de Santana, abaixo da Estrada da Polícia e do Sítio Paes Leme I, distante 800 metros mais ou menos. 11 MIGUEL Paes Leme II Histórico Estrutura em pedra sobre postas localizada no Lote 34 da Fazenda Paes Leme. PEREIRA Segue o mesmo padrão dos demais, inclusive na localização próxima a um curso de água. São paredes de pedras que sugerem construção agroindustrial histórica. 12 MIGUEL Paes Leme III Histórico Estrutura formada por um terreno terraplanado, com pedras alinhadas sobre

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PEREIRA postas, pedra isoladas com furos, em pontos extremos do terreno, pedras colocadas em forma de escada, muro de arrumo, frascos de vidro na superfície, utensílio de ferro, tipo panela e ferro de passar roupa. Pedaços de uma engenhoca de ferro fundido, também fazem parte do material de superfície encontrado. Esse sítio fica nas margens da Estrada da Polícia, na cume da Serra de Santana, onde a Estrada sai da vertente do São Pedro e entre na vertente do Rio Santana. Esse sítio foi localizado em 1996 e depois desse evento, o pedaço da engenhoca foi retirado do local e até dezembro de 2016 não fora encontrado. 13 MIGUEL Paes Leme IV Histórico Estrutura formada por um terreno terraplanado, com alicerce de pedras PEREIRA sobrepostas com restos de objeto de ferro tipo utensílio de cozinha na superfície. Como os demais, fica próximo a um curso d'água no meio da serra que tem um declive superior 45%, o que confirma alteração do ambiente natural para implantação da construção. A jaqueira é uma fruta presente em todas as estruturas desse tipo.

14 MIGUEL Paes Leme V Histórico Estrutura formada por um terreno terraplanado, com alicerce de pedras PEREIRA sobrepostas com restos de objeto de ferro tipo utensílio de cozinha na superfície. Como os demais, fica próximo a um curso d'água no meio da serra que tem um declive superior 45%, o que confirma alteração do ambiente natural para implantação da construção. A jaqueira é uma fruta presente em todas as estruturas desse tipo.

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Esta estrutura fica acima da anterior, distantes mais ou menos 50 metros e apresenta as mesmas características, inseridos numa capoeira próximo a um corpo d'água. 15 MIGUEL Paes Leme VI Histórico Caminho, cujo início é no Lote 29 da Fazenda Paes Leme, possivelmente PEREIRA construído, após a abertura da estrada entre Belém/Paty e se ligava ao, outro caminho, que certamente formava um elo viário entre a Estrada do Polícia e esta e outras estruturas no local. Através dele tem-se acesso a várias estruturas no meio e alto da Serra Santana. Sugere que sua função foi facilitar o acesso à Serra após a abertura da estrada, no século XIX. 16 MIGUEL Paes Leme VII Histórico Estrutura formada um terreno terraplanado, limitado por um alicerce de pedras PEREIRA sobrepostas e que em alguns trechos, formam partes que desabaram e formam amontoados de pedras característicos. Esse alicerce confunde com um muro de arrimo pelo lado direito do terreno considerando a parte que testa o caminha como frontal e uma barragem de terraço e pedras indicando represamento da água. Essa estrutura esta a mais de um 1 km do Sítio Paes Leme I. Localiza-se no meio da Serra do Santana, nas margens de um corpo d'água, semelhante às demais e no interior de uma capoeira. A parede tem um comprimento de aproximadamente 30 metros por 15 ou 20 de largura. 17 MIGUEL Paes Leme VIII Histórico Acompanhando o caminho, subindo a Serra, lado direito, 30 metros de distância, PEREIRA tem-se outra estrutura semelhante à anterior, porém menor e com bastante cacos de telhas canaletas dispersas na superfície.

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18 MIGUEL Paes Leme XIX Histórico À frente pelo caminho, tem uma outra estrutura com as mesmas características. PEREIRA Alinhamento de pedras na superfície, com predomínio de jaqueiras e árvores nativas do tipo pioneiras como carrapeteiras e um curso d'água. No lado de cima uma casa de produtor rural atual foi sobreposta em parte do terreno. O caminho é a via de acesso. Cacos de azulejos e telhas são comuns na superfície. Foram encontrados dentro do leito do riacho, inclusive uma soleira de mármore, indicando antiguidade em função da decoração dos cacos. 19 MIGUEL Paes Leme X Histórico Barragem em pedras sobrepostas com uma estrutura de barramento de 2 metros de PEREIRA largura, com saídas de água muito bem estruturada, próxima ao caminho iniciado na Estrada da Polícia, porém a mais de 3 km de distância. Não foi localizada outra estrutura abaixo que pudesse receber a água dessa barragem. Moradores antigos como Dona Georgina no Lote 7 da Fazenda Paes Leme e a Sra. Celina do Lote 11, com 96 e 86 anos respectivamente, conhecem a estrutura. O Sr. Manoel Araújo, Lote 40, falecido em 2016, com 86 anos, sabia da existência da estrutura. Todos ou nascidos ou criados na área. Outros como o Sr. José Ribeiro, também criado na Fazenda, nunca soube da existência da barragem. Possivelmente integra uma outra estrutura ainda não localizada. Talvez um engenho de aguardente. 20 MIGUEL Santana das Histórico Sítio arqueológico representado por uma igreja em ruínas, constituída de uma PEREIRA Palmeiras torre, paredes laterais em arcos. Divisões internas em ruínas. Um cemitério constituído pelo muro e dois pilastras de portão. Ruínas no entorno da igreja e cemitério.

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21 JAPERI, Estrada da Polícia Histórico Com projeto elaborado e executado pela Intendência Geral da Polícia, com início NOVA IGUAÇU, em 1814 e concluído em 1827 ligando Iguaçu a Rio Preto. Corta, além dos MIGUEL municípios citados, outros do território fluminense. Seu percurso interligou vários PEREIRA povoados e possibilitou a construção de caminhos para acessos a áreas de moradia e produção. Tem várias pontes, muros de arrimo, formados por paredões de pedras sobrepostas. Em alguns trechos ainda é utilizada, como é o caso de Japeri, onde ela atende vários produtores rurais da Fazenda São Pedro e do Assentamento Normandia II Sugiro um levantamento arqueológico específico para esta Estrada. 22 JAPERI, Estrada do Cruzeiro Histórico Estrada construída a partir da autorização de despesa estabelecida pelo Decreto PARACAMBI, 1.018 de 22 de outubro de 1857, quando Antonio Nicoláo Tolentino, era PIRAI governador da Província do Rio de Janeiro. A função era ligar a Estrada do Comércio e a do Presidente Pedreira à Estação de Belém, atual Japeri. Esta estrada a exemplo da Estrada da Polícia é constituída por pontes, muros de arrimo, paredões formada pela dinamitação da rocha, e em alguns trechos como o Cruzeiro em Japeri, ainda é utilizada. Sugiro um levantamento arqueológico específico para esta Estrada. Tem várias ruínas em suas margens. 23 JAPERI Santana I Histórico Estrutura formada por um terreno terraplanado com alicerce de pedras e muro de arrimo, localizada na margem direita da Estrada do Cruzeiro, na margem direita do Rio Santana, onde é atravessado pela estrada de ferro da RFFSA que inclusive

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atravessa a estrada através de um pontilhão. É mostrada por uma foto de 1875, retratando a ponte da Estrada de Ferro D. Pedro II sobre o Rio Santana. Em função da alteração do curso do rio, está hoje, no território de Paracambi. 24 JAPERI Santana II Histórico Estrutura formada por terreno terraplanado e cercado por alicerce de pedras sobrepostas e com outros platôs próximo, sugerindo um sítio agrário, com a uma estrutura de pedra, sendo a residência e, as demais, as de produção tipo, galinheiro, chiqueiro entre outros. O terreno foi bastante alterado em 2015/2016 em função de obras na RJ 125. O Sitio arqueológico fica dentro do sítio rural do Cristiano, conhecido por Crioulo e seu pai Vicente. 25 JAPERI Estrada Velha de Histórico Esta Estrada é marcada em mapas do século XIX e é apontada como uma via para QUEIMADOS Aljezus ligar à propriedade do Conde de Aljezus, no Tinguá, desapropriado para implantação da Floresta Protetora, cuja finalidade era o abastecimento de água na Corte. O trecho entre o Rio Quebra Coco e a Estrada Padre Anchieta, cortando o Mutirão da Fé e a Vila Laranjal, ainda é utilizada por produtores rurais. Merece ser melhor estudada. 26 JAPERI Normandia II Histórico Estrutura de pedras com paredes e escadas, muros de arrimo, destruído pelas máquina que executaram a ampliação do gasoduto da CEG, na Fazenda Normandia. Esta localizada na Estrada da Jaqueira no Lote 19. Parte de sua estrutura está no Lote 20, sob uma construção nova, ainda utilizada pelo produtor rural. 27 JAPERI Normandia III Histórico Estrutura construída pelo técnica/estilo enxaimel , ficou em pé até a década de

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1980. Provavelmente sofreu influência da Estação Ferroviária de Japeri construída nesse estilo. Os alicerceis ainda estão presente. Está ruína fica próxima à Estrada Daniel, separas, hoje pela estrada de ferro, nas margens do Rio Guandu. Está no território da chamada Normandia II, terras que pertenciam às Fazendas Reunidas Normandia. A questão fundiária não está clara. Tem caminhos de acesso pela Fazenda Normandia. A área foi explorada pela citricultura. 28 JAPERI Vila Tereza Cristina Histórico Estrutura de pedras formando um alicerce, com divisões que nos reportam à ideia de uma residência com algum tipo de comércio, considerando a quantidade de frascos de vidros encontrados na superfície. Tem escadas de pedras e vários amontoados de pedras no entorno. Outros estruturas estão localizadas no entorno dessa maior. Não encontrou referência sobre esse nome nas mapas da época da desapropriação. Mas encontra referências de proprietários. Está dentro do perímetro definido para a Floresta Protetora. O acesso é possível por Jaceruba, antiga São Pedro, pela Fazenda do Dr. Luiz Paes Leme ou pela Estrada do Cruzeiro. 29 JAPERI Laranja Histórico Estrutura formada por várias casas do período do Cilclo da Laranja, com estilo arquitetônico diferenciado e construída por tijolo maciço com sobreposição de tijolos mais recentes. O alicerce é de pedras e indica construção sobreposta a uma estrutura existente. No entorno tem-se outras estruturas como alicerceis, poços, canais com muros de arrimo, pomar com mangueiras. Está localizada entre a Estrado do Rio D'Ouro e o Rio Quebra Coco, na margem da estrada velha de

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Aljezus.

5.3 SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS COM ALTERAÇÕES NO NOME EM FUNÇÃO DO LEVANTAMENTO ENTRE 2014 E 2016. Nº MUNICÍPIO SÍTIO TIPO CARACTERÍSTICAS 01 NOVA Carlos Sampaio Histórico Ficou constatado que se trata do mesmo sítio arqueológico - Carlos Sampaio III IGUAÇU III permaneceu no registro. Fabrica de Pólvora 02 NOVA Vale Verde Histórico Permaneceu o registro de Vale Verde IGUAÇU Carlos Sampaio IV 03 NOVA Cacuia Histórico Permanece enquanto Cacuia IGUAÇU Carlos Sampaio V

5.4 SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS REGISTRADOS ENTRE 2014 E 2016 Nº MUNICÍPIO SÍTIO TIPO CARACTERÍSTICA 01 NOVA IGUAÇU Litau 31 Pré Colonial Localizado no vértice do seccionamento Angra- São José e no seccionamento Zona Oeste- Grajaú em Terraço Fluvial. 02 NOVA IGUAÇU Litau 38 Pré Colonial Sítio localizado no vértice B do seccionamento Zona Oeste - Grajaú em Terraço Fluvial. Estrutura de lascamento e lítico lascado.

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Linha de transmissão 500 KW Taubaté - Nova Iguaçu (SP/RJ). 03 NOVA IGUAÇU Litau 39 Pré Colonial Sítio localizado no vértice 7 de seccionamento Adrianópolis - Jacarepaguá em Topo de Interflúvio. Estrutura de lascamento e lítico lascado.

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ANEXO II

PROGRAMA DE POS GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA MESTRADO EM ARQUEOLOGIA FORMULÁRIO BÁSICO DE ENTREVISTA

Levantamento do Patrimônio Arqueológico de Nova Iguaçu, Japeri, Queimados, Belford Roxo e Mesquita

Nome: ______Área de atuação profissional: ______Telefone: ______e-mail: ______

01- Conhece o patrimônio cultural arqueológico de Nova Iguaçu, Japeri, Queimados, Belford Roxo e Mesquita?

02- Pode citar um exemplo de patrimônio cultural arqueológico no território do seu município?

03- Que importância atribui ao patrimônio cultural arqueológico?

04- Considera a possibilidade de inserir o patrimônio cultural arqueológico em suas atividades?

05- De que maneira um profissional da educação/cultura/meio ambiente pode contribuir com a preservação do patrimônio arqueológico?

06- Você é um professor (a) que atua na área cultural do município de ... . Você aborda o patrimônio cultural arqueológico?

07-Você acredita que o patrimônio cultural arqueológico possa contribuir com o desenvolvimento socioeconômico?

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08- Existe um patrimônio cultural arqueológico entre os municípios de Nova Iguaçu, Japeri, Queimados, Belford Roxo e Mesquita que te chame a atenção? Por quê?

09- Considera a possibilidade de um encontro de professores de História e Geografia para discutir o patrimônio cultural arqueológico?

10- Já participou de algum evento relacionado ao patrimônio cultural arqueológico?

11- Que ações considera que o Poder público deveria desencadear para a proteção do patrimônio cultural arqueológico?

12- Você visita o patrimônio cultural arqueológico do seu município?

13- Como professor (a), você inseriria o patrimônio cultural arqueológico no seu planejamento pedagógico? E com qual objetivo?

14- Já considerou trabalhar o patrimônio arqueológico e desistiu em função de alguma dificuldade? Qual?