XIX Exposição de Experiências Municipais em Saneamento De 24 a 29 de maio de 2015 – Poços de Caldas - MG

GESTAO DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO: O CASO DE LUZ/MG

Dálcio Cristiano Chaves Graduado em administração e pós graduado em Gestão estratégica de marketing, Secretário de Fazenda e Administração do Município de Luz no período de janeiro/2005 a abril/2011 e Diretor do SAAE de Luz no período de abril/2011 a janeiro/2015.

Endereço: Av. Guarim Caetano da Fonseca, 471 - Centro - Luz - MG - CEP: 35595-000 - Brasil - Tel: +55 (37) 9104-0000 - e-mail: [email protected].

RESUMO

Buscando alternativas para a operação do sistema de esgotamento sanitário, incluindo a destinação final adequada dos efluentes domésticos, o Município de Luz, MG criou uma autarquia no ano de 2010 que faz a gestão do serviço municipal de abastecimento de água dos distritos e do esgotamento sanitário nos distritos e na sua sede. Localizado no Centro Oeste do Estado, com população estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 18.230 habitantes em 2014, concedeu seu sistema de abastecimento de água à COPASA no ano de 1979. Esta concessão findou em 2009, ano em que foi rescindida pelo executivo municipal – poder concedente. Entretanto, a COPASA, unilateralmente, não devolveu a operação do sistema ao Município. Na justiça o Município tenta retomar a operação deste sistema. A COPASA continua operando o sistema de abastecimento de água. Assim, este trabalho tem como objetivo geral apresentar o caso de LUZ - MG, município que institucionalizou sua politica pública de esgotamento sanitário. Serão apresentados os detalhamentos e peculiaridades do sistema municipal de esgotamento sanitário, experiência bem sucedida que permitiu universalizar a coleta e o tratamento de esgoto na Sede Urbana e na maior Vila do Município, estando em expansão para todo o Município.

Palavras-chave: Esgotamento sanitário, politica municipal de saneamento, universalização

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INTRODUÇÃO/OBJETIVOS

A Lei 11.445/2007, regulamentada pelo Decreto 7.217/2010, que estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico, instituiu um novo conceito para esta política pública, entendida como o conjunto de serviços, infraestruturas e instalações operacionais de abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana – incluindo o manejo de resíduos sólidos – e a drenagem e manejo das águas pluviais urbanas. Este pressuposto, ampliando o conjunto de ações do saneamento básico tem sido buscado, principalmente, no planejamento da gestão dos serviços, na elaboração dos Planos Municipais de Saneamento Básico (PMSB), definidos pela referida lei. Antes deste novo arcabouço jurídico, alguns segmentos entendiam o saneamento básico com sendo as políticas de abastecimento de água potável e esgotamento sanitário. Retrocedendo um pouco no tempo, esta premissa pode ser confirmada, revendo a ultima grande organização da política pública de saneamento no país antes da Lei 11.445/2007, o Plano Nacional de Saneamento (PLANASA). Este plano foi instituído em 1969 e implementado a partir de 1971, quando estabeleceu como metas o atendimento de 80% da população urbana e pelo menos 80% das cidades brasileiras com abastecimento de água e levar esgotamento sanitário às capitais dos Estados e cidades de maior porte, até o ano de 1980 (BORJA & MORAES, 2005). As companhias estaduais de saneamento, criadas a partir do PLANASA, reproduzem em suas concessões, até hoje, o reflexo das metas do PLANASA. Citando como exemplo a Companhia de Saneamento de (COPASA), que opera em Minas Gerais há 42 anos, observa-se que em meados de 2012, dos 853 municípios mineiros, 624 haviam concedido a operação dos sistemas de abastecimento de água à COPASA, sendo que destes 13 sistemas ainda não haviam entrado em operação naquele ano. Já as concessões de esgoto, no universo de 853 municípios, totalizam 236 municípios, sendo que destas 57 ainda não haviam entrado em operação naquele ano (COPASA, 2012). Luz é um município mineiro, localizado no Centro Oeste do estado, com população estimada de 18.000 habitantes em 2012, concedeu seu sistema de abastecimento de água à COPASA no ano de 1979. Esta concessão foi rescindida em 2009, ano que venceu a concessão, pelo executivo municipal – poder concedente. Entretanto, a COPASA, unilateralmente, não devolveu a operação do sistema ao Município. Hoje, existe uma ação na justiça que tenta retomar a operação do sistema de abastecimento de água. A COPASA continua operando o sistema de abastecimento de água. Buscando alternativas para a operação do sistema de esgotamento sanitário, incluindo a destinação final adequada dos efluentes domésticos, o Município criou uma autarquia no ano de 2010 que faz a gestão do serviço municipal de esgotamento sanitário. Única forma encontrada

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para financiar a operação e manutenção deste sistema, que conta, a partir do ano de 2011, com a totalidade dos efluentes da Sede Urbana tratados. Este exemplo, que mostra o caso de LUZ, justifica ser mostrado para outros municípios. Ao menos, em Minas Gerais, onde 388 municípios possuem concessão de água á COPASA, mas não possuem concessão do esgotamento sanitário. Ao organizar a gestão do sistema de esgotamento sanitário, o município de LUZ passou a garantir um dos pilares desta política pública que é o continuo financiamento das ações por intermédio da emissão mensal das tarifas de esgoto. Sendo assim, este trabalho tem como objetivo geral apresentar o caso de LUZ/MG, município que institucionalizou sua politica pública de esgotamento sanitário. Como objetivos específicos, pretende-se apresentar os detalhes e peculiaridades do sistema municipal de esgotamento sanitário, experiência bem sucedida que permitiu universalizar a coleta e o tratamento de esgoto na Sede Urbana e na maior Vila do Município, em apenas três anos, e que esta em expansão para todo o território municipal.

METODOLOGIA

Como o trabalho apresentado é um estudo de caso, pretende-se expor no mesmo uma abordagem descritiva e qualitativa, incidindo particularmente no estudo de caso qualitativo da efetivação e universalização da política pública municipal de esgotamento sanitário, com a particularidade do tratamento de água da Sede Urbana ser operado pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais. Em seguida, será feita uma breve descrição dos diversos atores sociais envolvidos no processo, bem como das dificuldades e dos caminhos encontrados para institucionalizar a política pública de esgotamento sanitário no município. São ainda referidas as estratégias utilizadas durante todo o processo. Também serão apresentados os dados operacionais observados nos últimos três anos, descrição quantitativa, que apresentada de forma ordenada, permitira observar o tratamento dados às funções gestoras da política pública apresentada: a mobilização social envolvida no processo; a estrutura físico-financeira da autarquia criada; financiamento da política pública com detalhamento das formas de cobrança das tarifas; a obtenção de financiamento externo para implantação das obras de tratamento do esgoto; o controle social e a regulação da política pública implementada; a operação e manutenção dos sistemas implantados; as ampliações previstas; e os problemas vivenciados e as soluções adotadas.

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RESULTADOS

De acordo com MEIRELLES (2000) a prestação de serviço público pode ser feita de forma centralizada ou descentralizada. Serviço centralizado é aquele que o Poder Público presta por seus próprios órgãos em seu nome e sob sua exclusiva responsabilidade. Em tais casos, o Estado (entendido aqui como o município) é, ao mesmo tempo, titular e prestador do serviço, que permanece integrado à administração direta. Enquadram-se nessa forma os serviços prestados diretamente pelas prefeituras. Por outro lado, serviço descentralizado é todo aquele em que o Poder Público transfere sua execução, por outorga ou delegação, a autarquias, fundações, empresas estatais, empresas privadas ou particulares. No caso da outorga, o Estado cria uma entidade e a ela transfere, por lei, determinado serviço público. Enquadram-se nesta forma as autarquias e empresas estatais municipais. No caso da delegação, o Estado transfere por contrato (concessão), unicamente a execução do serviço, para que o delegado o preste ao público em seu nome e por sua conta e risco, nas condições regulamentares e sob controle estatal. Enquadra-se nesta forma as empresas estaduais de saneamento básico. No Brasil, os serviços de abastecimento de água e de esgotamento sanitário são prestados por diferentes arranjos institucionais que incluem prestadores municipais, estaduais e privados. No abastecimento de água, as empresas estaduais são responsáveis pela prestação dos serviços em 50,3% dos distritos atendidos, os serviços municipais (administração direta e indireta) estão presentes em 42,5% e a iniciativa privada atua em 7,2%. No esgotamento sanitário, as empresas estaduais operam em 24,7% dos distritos, os municípios em 73,5% e a iniciativa privada em 1,8% (PNSB, 2008). Ressalta-se que o arranjo institucional permite, em um mesmo município, a atuação do prestador de serviços estadual, municipal e privado em distritos diferentes, sendo comum a empresa estadual atuar no distrito sede e o serviço municipal cuidar dos demais distritos e povoados. No município de Luz, a COPASA – Companhia Estadual de Saneamento Básico, opera a prestação do serviço de abastecimento de água na sede municipal, através de contrato de concessão datado de 4-09-1979, com prazo de 30 anos, portanto, vencido desde 2009. Nas demais localidades do município, os serviços de água e de esgoto são prestados de forma centralizada, diretamente pela prefeitura municipal. Em 2008 com recursos não onerosos do OGU da União através da CODEVASF o Município foi contemplado com os recursos necessários para a implantação da estação tratamento de esgoto da sede do Município de Luz com o custo de três milhões de reais, Com o contrato de concessão vencido, o município de Luz contratou estudo para avaliar a viabilidade a técnico financeira de assumir a gestão da nova ETE e a prestação dos serviços de abastecimento de água na sede do município, criando para tanto uma Autarquia Municipal, nos moldes preconizados pela Fundação Nacional de Saúde (FUNASA, 2001), para

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gestão dos serviços de água e esgoto em todo seu território. Segundo MEIRELLES (2000), as autarquias são entes administrativos autônomos, criados por lei específica, com personalidade jurídica de direito público, patrimônio próprio e atribuições outorgadas na forma da lei. Possuem autonomia jurídica, administrativa e financeira, competindo-lhe em geral, no caso da gestão de serviços de água e esgoto, exercer todas as atividades relacionadas à administração, operação, manutenção e expansão dos serviços. Em Minas Gerais, um número bastante expressivo de municípios, adota o modelo constituído por autarquias municipais para a gestão dos serviços de água e esgoto. No SNIS-2008 estão relacionados 63 municípios mineiros. Dentre esses municípios podemos destacar: , Boa Esperança, , (autarquia criada em 2007), Córrego Fundo (autarquia criada em 2008), , Governador Valadares (autarquia criada em 1952), Ibiá, , , Itaúna, , João Monlevade, , Lambari, Mantena, Muriaé (já teve contrato de concessão com a COPASA), Oliveira, Passos, Piumhí, Poços de Caldas, Sacramento, São Lourenço, , Uberlândia e muitos outros. Além dessas, as autarquias municipais instituídas em Carmópolis de Minas, , Muriaé e Viçosa, ampliaram sua área de atuação, agregando a gestão dos serviços de água e esgoto a prestação do serviço de limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos. Esse modelo mais abrangente, que vem sendo implantado também em autarquias de outros estados brasileiros, eleva o grau de institucionalização do serviço de limpeza urbana, possibilita melhores condições de sustentabilidade técnica e econômica, fortalece o saneamento municipal, desonera a prefeitura e, na maioria dos casos, resulta em melhoria da qualidade da prestação desse serviço. O estudo de viabilidade apontou a viabilidade de criação da autarquia municipal e o município criou através da lei 1841/10 o SAAE, o quadro abaixo mostra a estrutura organizacional do SAAE Luz;

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Diretor Presidente

Núcleo de Assessoria Jurídica Planejamento

Controle Interno Comissão Permanente de Licitação

Seção Comercial Seção Seção de Operação Seção de Administrativa e Manutenção Financeira

Figura 1 - Estrutura Organizacional SAAE LUZ MG

Para garantir os recursos necessários para manter o equilíbrio financeiro dos serviços da autarquia e garantir a modicidade e o subsídio tarifário e ainda preços que sejam inibidores do desperdício e uso supérfluo, foi criada a estrutura tarifária da autarquia com preços diferenciados por cinco categorias econômicas quais sejam; residencial, social, comercial, pública e industrial, e também criou preços diferenciados por faixas de consumo, majorando à medida que aumenta o consumo. Para aferição do serviço de esgoto, o SAAE utilizou-se da leitura dos Hidrômetros do Sistema de abastecimento de água, tornando este o diferencial do município de Luz onde entes diferentes operam o sistemas de água (Copasa) e esgoto (SAAE), o Saae portanto operando o sistema de esgoto independente do sistema de água, sofre com alta inadimplência que conforme chega a 30%. A tabela abaixo mostra os preços praticados pelo SAAE aprovados pelo COMUSB conselho municipal de saneamento básico;

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Tabela de preços de água e esgoto do SAAE tarifa mínima e consumo excedente

FAIXA DE TARIFA DE TARIFA DE TOTAL CATEGORIA CONSUMO ÁGUA ESGOTO1 3 (R$) (R$) (m ) (R$)

Tarifa 0 – 6 6,179 2,472 mínima 8,65

> 6 – 10 1,374 0,550 RESIDENCIAL > 10 – 15 3,006 1,203 Consumo 2 SOCIAL excedente > 15 – 20 3,349 1,340 (m3 ) > 20 – 40 3,365 1,346

> 40 6,173 2,469

Tarifa 0 – 6 10,299 4,120 mínima 14,42

> 6 – 10 1,717 0,687

RESIDENCIAL >10 – 15 3,341 1,336 Consumo NORMAL excedente >15 – 20 3,349 1,340 (m3 ) >20 – 40 3,365 1,346

> 40 6,173 2,469

Tarifa 0 – 6 14,890 5,956 mínima 20,85

>6 – 10 2,483 0,993

>10 – 20 4,281 1,713 PÚBLICA Consumo >20 – 40 5,175 2,070 excedente 3 >40 – 100 5,241 2,096 (m /mês) >100 – 100 5,256 2,103

> 300 5,301 2,120

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Tarifa 0 – 6 15,819 6,328 mínima 22,15

>6 – 10 2,636 1,055 COMERCIAL Consumo >10 – 40 5,041 2,016 excedente

3 >40 – 100 5,083 2,033 (m /mês) > 100 5,107 2,043

Tarifa 0 – 6 16,785 6,714 mínima 23,50 INDUSTRIAL >6 – 10 2,798 1,119

>10 – 20 4,901 1,960

Consumo >20 – 40 4,916 1,967 excedente

3 >40 – 100 4,964 1,986 (m /mês)

>100 – 600 5,100 2,040

> 600 5,154 2,062

O Município reivindica judicialmente a reversão do serviço de água para o Município de Luz e prestar diretamente o serviço mas até o momento não logrou êxito. Segundo a constituição federal o Município é o titular e pode operar diretamente ou delegar a sua operação, a Lei 11.445/07 completa e diz que a política de saneamento é intransferível e cabe ao município definir sua política. Neste sentido com recursos obtidos pelo governo Federal através da Funasa o município de Luz elaborou o Plano Municipal de saneamento de forma participativa, que dentre as várias ações previstas para os próximos vinte anos consolidou-se a vontade do município de reaver o serviço de água além de assumir o serviço de limpeza urbana hoje prestado pelo departamento de Limpeza da secretaria municipal de obras públicas e transportes. Segundo (HELLER 2013) quando o saneamento é tratado como mercadoria pode haver prejuízos à universalização e a questão de investimentos sempre é analisada comercialmente, a população paga pelo serviço um valor bem maior à COPASA gerando um enorme prejuízo financeiro conforme demostra a tabela abaixo

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Tabela 1 – diferença preço copasa x saae R$ R$ Diferença Serviço R$ Preço R$ Preço Diferença Diferença 1–2 Prestado 1-Copasa 2 -SAAE 1 - 2 2010/2015 1 - 2 anual % 2010/2015 Abastecimento 2.948.531,32 *1.915.927,60 1.032.603,72 **4.474.616,12 35 água Serviço de coleta e *2.653.678,00 766.371,04 1.887.306,96 **8.178.330,16 71 tratamento de Esgoto Fonte SNIS 2012 *valores estimados ** set/2009 a jan/2015

Economicamente a Criação da autarquia Municipal em Luz já beneficiou a população e em mais de oito milhões de reais em apenas quatro anos prestando apenas o serviço de esgoto que poderia ter economizado ainda mais de quatro milhões se o serviço de água fosse prestado diretamente pelo SAAE, embora o significativo fator econômico outros fatores também indicam a solução municipal como melhor alternativa ressalta-se a proximidade com o usuário e a participação popular na gestão. Para (NIEBUHR 2009) Muitas das resistências havidas em relação à concessão de serviços públicos devem-se à equivocada ideia de que por ela o município abdica dos poderes inerentes à titularidade do serviço, o que poderia comprometer a prestação da atividade. A verdade é que o município delega, pela concessão, apenas sua prestação, mantendo consigo a titularidade. Mas na prática a maioria dos municípios que delegam a operação não exercem a sua titularidade não definindo bem a política municipal e os concessionários acabam exercendo funções indelegáveis (Lei 11.445/07) como por exemplo a elaboração dos planos Municipais de Saneamento. Através dos mecanismos de regulação especialmente concebidos para estas espécies de atividades na Lei de Saneamento Básico, o município ou a entidade regulatória garante o cumprimento das condições e metas estabelecidas, define as tarifas, previne e reprime o abuso do poder econômico, edita normas, dentre outras prerrogativas Para garantir o controle social e a participação popular o Município criou o Conselho Municipal de Saneamento Básico (COMUSB), O COMUSB, é um órgão de caráter consultivo que auxilia o executivo municipal a formular e executar a Política Municipal de Saneamento Básico do município de Luz e ao conselho foi dado as atribuições de regulação previstas na Lei Federal 11.445/2007. O Conselho foi criado pela lei municipal 1.861/2010, que dispõe sobre a Política Municipal de Saneamento Básico. A Lei Municipal regulamentada pelo decreto municipal1.016/10 alterado pelo decreto1.059/10 assegura a representação paritária das organizações no Conselho,

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nos termos da Lei Federal 11.445/2007. O Conselho presidido por eleição entre seus membros,tem a seguinte representatividade: I – Poder público municipal de Luz: a) 1 representante da Secretaria Municipal de Administração b) 1 representante da Secretaria Municipal de Fazenda e Planejamento; c) 1 representante da Secretaria Municipal de Saúde; d) 1 representante da Secretaria Municipal do Bem Estar Social e Habitação; e) 1 representante da Secretaria Municipal de Obras Públicas e Transportes; f) 1 representante da Secretaria Municipal de Agricultura, Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente; g) 1 representante Serviço Autônomo de Água e Esgoto - SAAE; h) 1 representante da Defesa Civil do Município de Luz. II – Sociedade Civil Organizada: a) 1 representante da associação comercial industrial de Luz; b) 1 representante do sindicato dos produtores rurais de Luz; c) 1 representante do sindicato dos trabalhadores rurais de Luz; d) 1 representante dos clubes de serviço de Luz; e) 1 representante das associações de bairros da sede do município; f) 1 representante das associações e comunidades rurais; g) 1 representante da 121ª sub-seção da OAB de Luz; h) 1 representante das entidades educacionais que atuam no Município.

Outro fator que merece destaque é a quantidade de investimentos que foram realizados no município por consequência da opção do governo Municipal na gestão do saneamento e pelo arranjo institucional adotado que favorece ao desenvolvimento local com a criação da autarquia.

Tabela 2 – investimentos em saneamento em Luz 2009/2015 Responsavel OBJETO FINACIAMENTO *VALOR R$ R$ TOTAL

COPASA - - - -

SAAE PMSB PAC-FUNASA 230.000,00 PAC- SAAE ETE LUZ 3.000.000,00 CODEVASF PAC- SAAE SAS ESTEIOS 800.000,00 CODEVASF SAAE SES ESTEIOS PAC-FUNASA 1.705.000,00 SES SAAE PAC-FUNASA 1.233.000,00 6.968.000,00 CAMPINHO Fonte; Portal da transparência *valores aproximados

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DISCUSSÃO A mobilização social envolvida no processo; Os agentes políticos depois de negociação frustrada com a COPASA chamou a sociedade em reuniões setoriais e discutiu sobre a possibilidade de criação da autarquia municipal para gestão do sistema de esgotamento sanitário que foi criada em junho de 2010. A estrutura físico-financeira da autarquia criada; Observando o manual para criação de autarquias da FUNASA a estrutura administrativa conta com quatro cessões sendo duas administrativas e duas operacionais dirigidas por um diretor Presidente com quadro total com treze servidores, e contou com o aporte financeiro do orçamento geral do município para o início de suas atividades até obter sustentabilidade com o recursos das tarifas. O financiamento da política pública com detalhamento das formas de cobrança das tarifas; R$ 300.000,00 foram investidos em 2011 do orçamento do município para estruturar a autarquia, em outubro do mesmo ano começou a cobrança das tarifas com estrutura tarifária própria e contas individualizadas, no início com inadimplência de 30% embora o valor pago é 30% menor que o usuário pagaria para a COPASA. A partir daí começa a sustentabilidade financeira da autarquia que é prejudicada pela inadimplência que já conseguiu reduzir para 20% quatro vezes maior que a média nacional segundo SNIS, daí a importância da assunção do serviço de água que garante o corte do serviço por inadimplência e no caso de Luz seriam mais R$ 500.000,00 investidos no sistema, valores hoje acumulados a receber. A obtenção de financiamento externo para implantação das obras de tratamento do esgoto; Em 1998 o município assinou a concessão do sistema de esgoto para a COPASA, para que fosse realizada em dois anos a construção da ETE mas o documento não chegou a ser assinado pela COPASA, na mesma época o Ministério Público propôs e o município assinou termo de ajustamento de conduta obrigando o município a buscar outra solução definitiva para o tratamento do esgoto em Luz e em 2008 através de recursos do orçamento geral da união foram investidos três milhões de reais para a construção da ETE da sede do município de Luz que está em operação a quatro anos. O controle social e a regulação da política pública implementada; À Luz da Lei federal 11.445/07 o município instituiu o COMUSB, conselho municipal de saneamento básico deu a ele os poderes de regulação, as tarifas praticadas bem como normas de controle social são deliberadas pelo respectivo conselho. O Comusb é órgão consultivo deliberativo e auxilia o município a definir a política municipal de saneamento. Em 2010 o município tinha duas opções, aderir à ARSAE ou criar seu próprio ente regulador, optou em criar seu próprio ente até que seja criado um ente regional de regulação. Considerou nesta decisão a formação de pessoas e a institucionalização de entidades municipais indispensáveis para o bom

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funcionamento dos serviços de saneamento. Os conselheiros do COMUSB tem mandato de três anos e está em sua segunda formação. A operação e manutenção dos sistemas implantados; O SAAE opera a ETE da sede do município e do Distrito de Esteios além do sistema de abastecimento de água do Distrito de Esteios e Campinho e das comunidades de Olaria, e Brejinho. Conta com cinco operadores de ETE/ETA e dois encanadores mantém todas as unidades e setenta e dois quilômetros de redes de esgoto e dez quilômetros de redes de água. As ampliações previstas; Está em construção comprevisão de conclusão em julho de 2015 o SES do Distrito do Campinho, incluindo redes,interceptores, ramais prediais e a ETE, R$1.200.000,00 serão investidos, com recursos obtidos pelo OGU através da FUNASA, desta feita o município de Luz terá universalizado o serviço com 100% de esgoto tratado. Os problemas vivenciados e as soluções adotadas; Em 2008 o município manifestou o seu desinteresse em renovar com a COPASA e denunciou o contrato de concessão de água com a COPASA que venceu em setembro de 2009, que vem usurpando o direito constitucional do município em operar o sistema de água e assim subsidiar os demais serviços. A cobrança do esgoto fora da conta da água favorece a inadimplência e os valores de contas a receber já acumulam R$ 500.000,00. O município faz permanentemente campanhas de arrecadação e parcelamento de dívidas e aprovou leis para recuperação deste crédito autorizando a negativação destes usuários, vez que cortar o serviço de esgoto seria uma ação que ao expor famílias à condições sanitárias desfavoráveis poderia contribuir para a proliferação de doenças . Os principais desafios apresentados pelo PMSB. Luz está entre os seletos municípios brasileiros que conseguiram pautar a questão do saneamento pensar seus problemas e elaborar o plano municipal de saneamento básico dentro do prazo estabelecido pela Lei federal 11.445/07. Foram estabelecidas no plano oitenta e duas ações de curto, médio e longo prazo que custarão estimativamente R$16.000,000,00 e serão financiadas principalmente pelo Município que para tanto conta conta com a reversão serviço de água, operado ilegalmente pela COPASA.

CONCLUSÃO

O caso de Luz representa o bom êxito na gestão dos serviços de saneamento. A alternativa adotada pelo Municipio de Luz exige planejamento e determinação do poder publico, e precisa ser visto como um projeto de estado pois sua implantação acontece em vários mandatos e o

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comprometimento dos gestores foi fundamental para o sucesso da decisão. O Serviço Autônomo de água e Esgoto de Luz - MG (SAAE) é uma autarquia municipal que opera os sistemas de abastecimento de água das vilas e povoados do Município, que tem este sistema na sua Sede Urbana operado pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA), mesmo que o referido contrato de concessão tenha sido denunciado no ano de 2009. O SAAE também opera os serviços de esgotamento sanitário da Sede Urbana e da vila de Esteios, com a universalização da coleta e do tratamento dos efluentes domésticos; além de ampliar esta universalização para a vila de Campinho, ainda em 2015. Este arranjo institucional – a criação do SAAE –, efetivado a partir de 2010, possibilitou que a coleta e destinação final adequada dos esgotos sanitários domésticos do município passassem a se adequar ao que estabelece a Lei Federal 11.445/2007 e suas regulamentações. Este exemplo de sucesso deve-se ao modelo de gestão adotado, como mostrado na descrição deste caso. A autonomia municipal associada a compreensão das responsabilidade pelos serviços de saneamento básico, no âmbito municipal, neste caso, efetivou-se pela institucionalização da política pública de esgotamento saniário, respeitando as peculiaridades municipais. Sem dúvida, este é um estudo de caso a ser divulgado para outros municípios brasileiros.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BORJA, Patrícia Campos; MORAES, Luiz Roberto Santos. Saneamento como um direito social, 2005. Artigo publicado pela ASSEMAE. 17 p.

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