Recebido em: 28/10/2011 Emitido parece em: 5/11/2011 Artigo original

ESTILO MUSICAL NÃO INTERFERE NA PERCEPÇÃO SUBJETIVA DE ESFORÇO DE MULHERES JOVENS DURANTE EXERCÍCIO AGUDO EM ESTEIRA

Nara Heloisa Rodrigues1, Amanda Mayara do Nascimento1, Eric Francelino Andrade2, Gustavo Puggina Rogatto2, Priscila Carneiro Valim-Rogatto1

RESUMO O objetivo do presente estudo foi verificar a interferência de diferentes estilos musicais (Pop e Sertanejo) sobre a percepção subjetiva de esforço (PSE) em mulheres jovens durante exercício agudo em esteira. Vinte universitárias com média de idade de 22,9 (±2,9) anos responderam a um questionário sobre a audição de estilos musicais preferidos em ocasiões de lazer e/ou durante a prática de atividade física. Posteriormente, executaram três sessões de exercício em esteira em diferentes dias. Nas sessões 1 e 2, as voluntárias realizaram o exercício escutando uma sequência musical, com 135 batimentos por minuto (bpm), dos estilos pop e sertanejo, respectivamente. N a sessão 3, as participantes realizaram a atividade física sem audição musical. A sequência de realização das sessões foi definida de modo aleatório e cada sessão teve duração de 30 minutos. Ao final das sessões, as participantes indicavam a PSE na escala de percepção de esforço de Borg. Também foi questionado às voluntárias qual das sessões de esforço realizadas foi a preferida. Os estilos de música MPB, pop rock e sertanejo foram os mais preferidos para ouvir em momentos de lazer. Durante o exercício, a música eletrônica é a mais escutada. O teste Kruskal-Wallis não mostrou diferenças significativas na PSE entre as sessões de exercício (H=0,51; p=0,78). Concluiu- se que a audição de estilo musical pop ou sertanejo não influenciou a PSE de mulheres jovens durante exercício agudo em esteira. Palavras-chaves: Música, esforço percebido, exercício agudo.

MUSIC STYLE DOES NOT INTERFERE ON SUBJECTIVE PERCEIVED EXERTION OF YOUNG WOMEN DURING ACUTE EXERCISE IN TREADMILL

ABSTRACT The aim of this study was to verify the interference of different music styles (Pop and Sertanejo) on subjective perceived exertion (SPE) in young women during physical exercise in treadmill. Twenty female undergraduate students, aged 22.9±2.9 years-old, answered a questionnaire on music style listening in leisure and/or during physical activity practice. Afterward, they performed three exercise sessions in treadmill in three different days. In sessions 1 and 2, women exercised in treadmill listening musical sequences, with 135 beats per minute (bpm), of pop and styles, respectively. In session 3, participants performed physical effort without music listening. The sessions sequence was defined randomly and each session was executed during 30 minutes. At the end of each session, volunteers indicated the SPE in the Borg´s Perceived Exertion Scale. It was also asked for participants to indicate which exercise session performed was the favorite. Brazilian Popular Music (MPB), pop rock and sertanejo styles were the most cited for listening in leisure moments. During exercise, electronic music was the most listened style by the volunteers. Kruskal- Wallis test did not found significant differences on SPE when the three exercise session were compared (H=0.51; p=0.78). It was concluded that and sertanejo styles did not influence the SPE of young women during acute exercise in treadmill. Keywords: Music, perceived exertion, acute exercise.

87 Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol.10, n.6, 2011 - ISSN: 1981-4313 INTRODUÇÃO Atividades esportivas e programas de exercícios físicos são cada vez mais procurados devido à sua relação com o bem-estar dos indivíduos e com a melhora na qualidade de vida das pessoas de todas as idades. Além dos benefícios físicos e fisiológicos que podem contribuir para o combate de fenômenos naturais da vida adulta, a prática de atividades físicas pode proporcionar alterações psicológicas positivas que compreendem favorecimento da autoestima, controle dos níveis de estresse e ansiedade, redução de índices depressivos e melhora do estado de humor (WERNECK et al., 2006). Outro fator importante e presente durante a realização da atividade física é a motivação que, embora não tenha uma definição específica, é determinante para a realização de qualquer atividade. Segundo Moura et al., (2007), a motivação é a base fundamental para todo e qualquer processo de mudança ou, ainda, “o combustível de toda ação humana” (MACHADO, 2006, p.136). Um dos temas que têm sido associados à motivação e ao desempenho durante o exercício é a música, que se apresenta de diferentes formas e características de acordo com a cultura, hábitos e costumes intrínsecos a ela. Segundo Santos (2008), a música pode causar alterações físicas e psicológicas que podem implicar em modificações no desempenho do indivíduo quando esta é utilizada durante a atividade física. Estes resultados podem ser ainda maiores quando se faz referência à música de preferência do praticante. Quanto aos resultados positivos decorrentes da audição de música preferida, podemos citar a melhora no estado de ânimo e possivelmente no desempenho do exercício. Quanto aos efeitos negativos, como em situações onde a musica não é a preferida, os resultados podem culminar em estímulos não prazerosos, causando, assim, piora no estado de ânimo (SANTOS, 2008). A música pode também ser um instrumento determinante contra a monotonia durante a realização do exercício e, ainda, um fator motivacional e facilitador para a sua prática (MIRANDA e GODELI, 2002). Durante o trabalho físico, a música escutada pode ser utilizada como fator ergogênico proporcionando uma diminuição dos índices de Percepção Subjetiva de Esforço (PSE). Além disso, a música agradável ao indivíduo parece fazer com que os resultados da percepção do exercício sejam ainda mais positivos (MIRANDA e SOUZA, 2009; KARAGEORGHIS et al., 1999). A PSE está intimamente relacionada ao conceito de intensidade do exercício e às condições motivacionais e emocionais que podem estar envolvidas com a mesma. Um dos instrumentos utilizados para a avaliação da percepção do esforço é a escala de percepção subjetiva (EPS) de Borg (2000), que foi construída com base em experimentos psicofísicos e fisiológicos. Esta escala é de fácil compreensão e aplicação tornando-se assim muito utilizada em diversos estudos científicos (BUZZACHERA et al., 2010; SILVA et al., 2011). Vários estudos relacionam a atividade física com a música e a motivação (MOURA et al., 2007; MIRANDA e GODELI, 2002; SIQUEIRA et al., 2009), porém ainda são escassas as pesquisas que envolvem o exercício agudo associado à música e às respostas relacionadas à per cepção de esforço de jovens. Assim, torna-se necessária a compreensão dos efeitos da música como fator motivacional, sobre o desempenho no exercício físico nesta população. Considerando os fatores supracitados, o objetivo do presente estudo foi verificar a interferência de diferentes estilos musicais (Pop e Sertanejo) sobre a percepção subjetiva de esforço (PSE) em mulheres jovens durante esforço agudo em esteira.

MATERIAIS E MÉTODOS

Participantes O estudo foi realizado com uma amostra composta por 20 jovens do sexo feminino com média de idade de 22,9 (±2,9) anos, residentes na cidade de Lavras, interior de . As voluntárias eram estudantes universitárias, pesavam em média 59,7 (±9,7) Kg e tinham 1,62 (±0,06) m de estatura.

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Procedimentos Para a participação no estudo, as voluntárias assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE, elaborado seguindo todas as orientações da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. As voluntárias foram solicitadas a responder a um questionário composto por duas questões referentes ao estilo musical mais escutado durante o tempo de lazer e/ou exercício para avaliação da preferência musical. Posteriormente, as participantes foram submetidas a três condições experimentais onde realizaram exercício agudo em esteira. Na sessão 1 de exercício, as participantes realizaram o exercício em esteira escutando músicas do estilo pop remixadas (as chamadas músicas de academia), muito utilizadas em aulas de ginástica, dança e exercícios em bicicleta. O andamento musical foi de 135 batimentos por minuto (bpm) com compasso 4/4. Para essa sessão, foi utilizado o CD “Top DJ`s As melhores de 2009”, contendo as músicas “Viva La vita” (Coldplay), “I got feeling” (Blach Eyed Peas), “Peace Song” (Bob Sinclar), “I need yo u now” (Agnes), “Sexy Bitch” (David Guetta), “Sweet dreams” (Beyoncé), “Halo” (Beyoncé), “Just dance” (Lady Gaga), “Celebration” (Madonna), “Love the way you lie” (Rihanna e Eminem) e “Owl City” (Firefiles). Na sessão 2, as participantes realizaram os mesmos procedimentos da sessão 1, mas escutando músicas do estilo sertanejo remixado, que é o estilo mais tocado nas rádios da região da população pesquisada segundo levantamento da principal emissora de rádio da cidade Lavras. Para essa sessão, foi utilizado o CD “Remix Sertanejo - Renata Rodrigues” contendo as músicas “Paga Pau” (Fernando e Sorocaba), “Chora me liga” (João Bosco e Vinícius), “Voa beija flor” (Jorge e Mateus), “Adrenalina” e “Sinais” (), “Talvez” (César Menoti e Fabiano), “Amo noit e e dia” (Jorge e Mateus), “Top do Verão” (Henrique e Diego) e “Sinto falta de você” (Vitor e Léo). Na sessão 3, o exercício em esteira foi realizado sem audição musical. O ritmo dessa sessão foi controlado utilizando-se um metrônomo com marcação visual (estímulo luminoso) e sonoro (Metronome plus 2.0.0.1 com download gratuito). Nessa situação, as participantes escutavam o som do metrônomo ajustado com o ritmo de 135 bpm ao início do teste, para que fosse determinada a velocidade em que seria feita a caminhada na esteira. Após este procedimento o metrônomo era desligado e reativado no início da fase de relaxamento (“volta à calma”). Cada uma das sessões teve duração total de 30 minutos. Os primeiros 5 minutos foram utilizados para a adaptação das voluntárias às passadas no ritmo da música e/ou velocidade da esteira. Os 5 minutos finais foram utilizados para a “volta à calma”, ou seja, as participantes executaram o exercício em esteira, sendo reduzida a velocidade para um ritmo de 110 bpm. No caso das sessões com música, as músicas escutadas para a “volta à calma” eram do estilo correspondente a sessão. Durante a realização dos testes, a velocidade da esteira situou-se entre 5,8 e 7 Km/h, ajustados considerando o tamanho e número de passadas de cada participan te, ditados por um ritmo de 135 batidas por minuto (bpm). As condições experimentais foram desempenhadas por todas as participantes de modo aleatório. Ao final das sessões, cada participante indicou a percepção subjetiva de esforço na escala de percepção de esforço (EPS) de Borg (BORG, 2000). A EPS é composta por 15 itens relacionados à intensidade do exercício que varia em uma escala entre “muito, muito leve” a “muito, muito intenso”. A amplitude das respostas varia do número 6 (“Sem nenhum esforço”) ao número 20 (“Máximo esforço”). Por fim, foi solicitado às voluntárias que indicassem, dentre as três sessões realizadas, qual era a de sua preferência.

Análise dos dados Para a verificação da normalidade dos dados foi utilizado o teste Shapiro-wilk. Na comparação dos resultados entre as três condições experimentais optou-se pela utilização do teste não-paramétrico Kruskal-Wallis, considerando p<0,05. Para a análise da preferência pelas sessões de exercício utilizou-se estatística descritiva. A análise estatística foi realizada por meio do software Bio Estat 5.0 (AYRES et al., 2007).

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RESULTADOS A figura 1 apresenta os estilos musicais preferidos pelas participantes do estudo em ocasiões de lazer. Como pode ser verificado, o estilo música popular brasileira (MPB) foi o mais mencionado, seguido do Pop rock e Sertanejo. Figura 1. Estilos musicais preferidos pelas participantes do estudo.

Observou-se que a música eletrônica foi a mais citada quando se trata da preferência musical das participantes durante a execução de exercícios físicos regulares (Figura 2). Figura 2. Porcentagem de preferência musical durante a prática de exercício regular

Na tabela 1 são apresentadas as médias e os desvios padrões da Percepção Subjetiva de Esforço (PSE) nas três sessões do exercício em esteira. Não foi observada diferença estatística significativa na percepção subjetiva de esforço durante a realização do exercício nas condições sem música, com música pop e com música sertaneja (H=0,51; p=0,78).

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Tabela 1. Média e Desvio Padrão (DP) da Percepção Subjetiva de Esforço (PSE) durante as três sessões de exercício. PSE das Sessões Sem música Pop Sertanejo Média 11,4 11,1 10,7 DP ±2,41 ±2,04 ±2,02

DISCUSSÃO

A partir dos resultados encontrados sobre a preferência musical foi possível identificar que, apesar do estilo sertanejo ser o mais escutado e preferido, principalmente por estudantes e universitários, segundo a rádio local, para as voluntárias do presente estudo, tal estilo não foi considerado o favorito, mostrando-se como a terceira posição no grupo. Em estudo com jovens universitários, Gouveia et al., (2008) avaliaram um conjunto de categorias de preferência musical e verificaram que os jovens de sua amostra preferiram os estilos rock e pop sendo as músicas do estilo sertanejo as menos citadas. Segundo os autores supracitados, estes resultados são condizentes com o perfil dos jovens de 23 anos que participaram do estudo. Tal resultado corrobora, em parte, com os encontrados no presente estudo, no qual a maioria dos avaliados admitiu que os estilos MPB e pop rock eram os de maior preferência. Jourdain (1998) afirma que a preferência musical está associada às características individuais e à atenção a certos aspectos musicais e experiências individuais, bem como a cultura em que a pessoa está inserida. Contribuindo com esta afirmação, Valim (2002) alega que cada indivíduo é capaz de compreender a música de uma forma diferente e utilizá-la para diversas funções, tanto em momento de lazer quanto durante o exercício, de forma consciente ou inconsciente pela exposição aos efeitos da música. Quando associadas à sessão de exercício, as músicas de estilo sertanejo não foram tão votadas quanto às músicas do estilo pop. Estas últimas foram consideradas mais agradáveis quando associadas ao exercício em esteira, que representa uma situação muito parecida com a das academias onde se ouve, em geral, músicas do mesmo estilo. Apesar do estilo pop remixado não coincidir com os estilos MPB e Pop rock, mais votados como músicas de preferência par a os momentos de lazer e descontração, no presente estudo tal estilo pareceu ser mais indicado pelas participantes como o melhor para a prática de exercícios físicos. Sendo assim, durante o exercício, a preferência musical pode sofrer algumas variações, sendo muito comum que esta preferência seja maior para músicas com andamento rápido, como é o caso da música eletrônica ou da música de academia. Moura et al., (2007), em um estudo com mulheres praticantes de ginástica de academia, encontraram melhores resultados nas variáveis motivação e PSE durante as aulas realizadas com músicas de estilos com enfoque vocal, no caso, as chamadas de “ritmos nacionais” e de “anos 80”, quando comparadas às músicas do estilo rock e eletrônico que apresentavam ausência de acompanhamento vocal. No presente estudo, não foram encontradas diferenças na PSE apresentada entre as três sessões de exercício. Diferentes resultados foram observados em outras pesquisas que avaliaram a interferência de diferentes estilos musicais na PSE durante teste de esforço máximo. Estudos de MOURA et al., (2007) e SILVA (2011) observaram que a PSE no ambiente sem música ou de estilo musical de menor preferência tende a ser maior quando comparada ao ambiente com música de preferência. Miranda e Souza (2009) realizaram um estudo com idosos utilizando músicas preferidas, não preferidas e ambiente sem música, durante uma sessão de 40 minutos de atividades físicas. O objetivo daquele estudo foi avaliar os estados subjetivos dos participantes (dentre eles a PSE)

91 Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol.10, n.6, 2011 - ISSN: 1981-4313 durante o esforço físico. Os resultados da PSE encontrados não mostraram diferenças significativas quando foi realizada a comparação intergrupos. Entretanto, a PSE foi menor no início do teste realizado pelos participantes que escutaram música de preferência. Estudo de Silva (2011) utilizou diferentes estilos musicais (erudito, rock, música de preferência e ambiente sem música) em testes de esforço com maratonistas. Dentre as músicas de preferência encontravam-se estilos musicais variados requeridos pelos próprios participantes. Em meio a estes estilos musicais (de preferência) constavam músicas do estilo sertanejo, assim como no presente estudo. Na comparação entre as quatro sessões de exercício, o autor encontrou diferenças significativas na PSE entre a música de preferência (sertanejo, pop, rock e pop rock) e ambiente sem música, o que diverge dos resultados encontrados no presente estudo. O atual estudo foi delineado padronizando a velocidade da esteira durante as três sessões de exercício, bem como a sequência musical para cada sessão. Assim, apesar de representarem estilos musicais diferentes, as músicas utilizadas em nosso trabalho apresentavam o mesmo andamento musical (em bpm). Entretanto, um dos motivos que levaram os indivíduos a não apresentarem diferenças significativas na PSE pode ter sido a escolha dos estilos utilizados. Na sessão em que foram utilizadas músicas do estilo pop, as letras musicais eram de língua estrangeira (Inglês), enquanto que na sessão com música sertaneja, as letras eram do mesmo idioma das participantes. Karageorghis et al., (1999) afirmam que componentes da música como o ritmo, a melodia ou a letra, determinam a sua qualidade motivacional podendo gerar benefícios como a redução da PSE durante o exercício físico. Portanto, a não compreensão da letra da música pelo indivíduo pode levar ao menor envolvimento com ela que, por consequência, pode desviar a atenção à fadiga ou ao cansaço. Além disso, o processo de escutar ou perceber determinada música ocorre por meio de uma antecipação e reconhecimento de dispositivos constituintes da música, ou seja, o indivíduo apenas se recorda de algo já vivido (JOURDAIN, 1998). Sendo assim, a música com língua estrangeira pode dificultar esta memorização. Embora muitos estudos tenham reportado resultados significativos quanto a PSE no ambiente com música durante o exercício, algumas pesquisas não encontraram estas diferenças, como ocorreu na atual investigação. Smirmaul et al., (2011) realizaram um estudo com jovens utilizando músicas de academia (eletrônica) e ambiente sem a audição musical durante teste incremental máximo em ciclo simulador. Os resultados encontrados pelos autores não apontaram diferenças significativas na PSE entre as sessões, sugerindo que, apesar da música ser um agente motivacional durante o exercício máximo, a atenção à fadiga e ao esforço se sobressaíram aos efeitos ergogênicos que a música oferece. Estes dados corroboram com os achados do presente estudo, onde a audição ou não de músicas de diferentes estilos não afetou a percepção subjetiva de esforço das voluntárias. Apesar de utilizar estilos musicais distintos (sertanejo e pop), o presente estudo preocupou - se em uniformizar algumas características das músicas, como no caso da remixagem a 135bpm. Além de garantir o padrão do andamento, tal procedimento buscou aproximar o estímulo musical experimental das músicas escutadas em ambiente de academia de ginástica. Iazzetta (1997) afirma que as músicas que são modificadas para o modo eletrônico, apesar de manterem algumas características morfológicas, perdem suas características originais. Além disso, os sons sintetizados fazem com que a associação ao timbre e à fonte desta música pelo individuo seja dificultada. Carnaúba et al., (2011) conduziram um estudo com jovens do sexo masculino em corrida de 5 Km utilizando músicas de andamento rápido (160 bpm), onde o objetivo era realizar comparação da PSE entre as condições com música e controle (sem música). Neste trabalho, os autores também pretendiam verificar em qual daquelas situações os participantes percorriam o trecho estabelecido em menor tempo. Apesar dos resultados encontrados demonstrarem o aumento da velocidade na parte inicial do teste durante a sessão com música, não foram encontradas diferenças significativas entre as duas condições experimentais na PSE, corroborando com os achados do presente estudo.

CONCLUSÃO Considerando os resultados encontrados pode-se concluir que a preferência musical durante os momentos de lazer não coincide necessariamente com a dos momentos de prática de atividades

92 Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol.10, n.6, 2011 - ISSN: 1981-4313 físicas. A PSE não sofreu alterações durante a prática de exercício físico realizado com ou sem a audição de diferentes estilos musicais. Para trabalhos futuros, sugere-se a condução de procedimentos semelhantes aos utilizados no presente estudo em indivíduos do sexo masculino, que não apresentam as variações hormonais típicas do sexo feminino e que, consequentemente, podem influenciar a percepção de esforço. A utilização de músicas com o mesmo idioma, mas com diferentes estilos, também pode ser um fator a ser considerado, uma vez que a compreensão da letra das músicas pode resultar em maior ou menor envolvimento emocional do ouvinte com a atividade, levando a diferentes respostas de percepção subjetiva de esforço.

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1 Laboratório de Pesquisa em Psicologia do Exercício – UFLA 2 Laboratório de Investigação e Estudos sobre Metabolismo e Exercício Físico – UFLA

Travessa Afonso Pena II, 63 Centro – Lavras/MG 37200-000

94 Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol.10, n.6, 2011 - ISSN: 1981-4313