GRATIDÃO A Pedro de Pezarat Correia O REFERENCIAL Mais ABRIL REViSTA d a ass oci ção 25 e b r il Director: Martins Guerreiro | Nº 121 Abril - Junho 2016 L usa - Mário C ruz EDITORIAL

Viveu-se Abril MARTINS GUERREIRO nova situação política criada pelas últimas há, precisamente, quarenta anos. Continuamos pelas inúmeras comemorações esqueletos no armário dos tempos antigos, da Aeleições legislativas e presidenciais permi- Este ano viveu-se e sentiu-se Abril de novo. As celebradas por todo o país de norte a sul de Via- cultura de subserviência que por vezes aflora. tiu que voltássemos à Assembleia da República comemorações tiveram outro ar, outro cheiro, na do Castelo a Faro, nas muitas escolas em que Essas pessoas reagem com intolerância e agres- para celebrar de novo Abril e os seus valores. outro sabor. falámos sobre Abril, na Festa Jovem, na Corrida sividade sempre que os portugueses procuram Foi com um sentimento de satisfação e algu- Houve alegria, participação, entusiasmo e emo- da Liberdade, em jantares e sessões comemorati- caminhos próprios ou manifestam vontade de ma emoção que ouvimos as palavras que o ção isso foi evidente nas muitas comemorações vas, em diferentes intervenções públicas, no des- não se submeterem a pressões externas. Presidente da República proferiu no início do em que a Associação 25 de Abril participou ou file da Avenida da Liberdade e no Rossio viveu-se Neste Abril comemorámos também o 40.º ani- seu discurso. para que foi convidada em ou junto de Abril com renovada esperança. Reflectiu-se so- versário da Constituição da República Portugue- O 25 de Abril de 1974 de movimento militar comunidades portuguesas no estrangeiro. bre o seu significado hoje. Exerceu-se a cidada- sa. A Associação 25 de Abril celebrou esse marco de jovens capitães rapidamente se converteu Este numero de O Referencial reflecte nas suas nia activa e responsável. fundamental da nossa Democracia no dia 2 de em revolução. páginas esse novo clima social e político, a ale- Hoje o 25 de Abril está claramente inscrito na Abril com uma sessão evocativa no Auditório Saudar os capitães de Abril, quarenta e dois anos gria de Abril nas múltiplas actividades, manifes- nossa História e identidade. O povo apoderou- da Assembleia da República onde participaram depois, é dever de todos os que em Portugal se tações e comemorações de que se dá notícia. -se da data, do seu significado e dos seus valores. deputados constituintes de todos os partidos. A louvam da Democracia que o seu gesto patrióti- Começamos pela intervenção do Presidente da O 25 de Abril, iniciado pelos militares, foi ime- oportunidade e simbolismo da cerimónia me- co permitiu instaurar. República Marcelo Rebelo de Sousa na Assem- diatamente inscrito no imaginário nacional pelo receram uma mensagem do Presidente da Re- Saudar o Povo que assumiu esse testemunho e bleia da República a que já aludimos, e do presi- povo português. pública dirigida à Associação 25 de Abril que se o converteu em fundamento do Estado Social dente da Assembleia da República Eduardo Ferro O 25 de Abril é de todos os portugueses, é o publica nestas páginas. de Direito que temos, é assinalar o primado da Rodrigues que saudaram e agradeceram aos “mi- nosso factor identitário mais recente, ainda que Assinala-se tal facto inédito na relação do soberania popular. Desde logo expressa na pri- litares de Abril” a sua participação no 25 de Abril continuem a existir pessoas que lhe querem di- órgão de soberania Presidente da República meira eleição para a Assembleia da República e na instauração da Democracia em Portugal. minuir o seu significado e alcance, que guardam com a Associação 25 de Abril.

2 O REFERENCIAL O REFERENCIAL 3 SERIGRAFIA PUBLICIDADE EDITORIAL DE JÚLIO POMAR

Em diferentes locais do País e especificamente no da luta contra o ódio, contra a perda de liberda- Algarve na Biblioteca Municipal de Faro se cele- de e o crescimento das desigualdades. brou o 40.º aniversário da Constituição. Foi dado especial relevo ao seu Artigo 1.º e ao caminho de ma palavra como novo diretor de O Referencial generosidade e luta pela defesa do Estado Social UAinda não reflecti o suficiente nem falei de Direito das realizações do Serviço Nacional de com companheiros e camaradas que desejo con- Saúde, da Escola Pública e da Segurança Social. sultar para formar uma ideia clara sobre o meu A sociedade portuguesa e a nossa Democracia contributo para o futuro de O Referencial. apesar da crise e das forças contrárias estão a Sinto-me bem com a qualidade e a dinâmica afirmar a sua vitalidade e a ensaiar novos cami- existente, mas isso não significa como dizia nhos de forma a manter a autonomia de decisão Pezarat Correia no seu primeiro editorial, que e a dignidade de Portugal prosseguindo a via ini- “relativamente a O Referencial não se possa re- ciada em Abril de 1974 e confirmada em 1976 pensar objectivos, conteúdos e a própria nature- com a aprovação da Constituição da República e za da revista (…) estamos cientes que é inevitável a eleição democrática dos Órgãos de Soberania mudar, mas só o confronto com a realidade nos nacional e do Poder Regional e Autárquico. apontará com mais clareza o caminho”. Neste número por intermédio de camaradas de Estou seguro de que O Referencial continuará diferentes Ramos das Forças Armadas, do presi- no rumo da defesa e pedagogia dos valores de dente da Direcção da Associação 25 de Abril, do Abril, da democracia e da cidadania, abrindo ho- editor de O Referencial prestamos o nosso reco- rizontes apontados na notável realização que foi nhecimento ao general Pedro de Pezarat Correia o Congresso da Cidadania de 2015 realizado pela pelo trabalho que realizou como director de O Associação 25 de Abril. Referencial e pela qualidade atingida pela nossa Para a concretização dos ideais de Abril consigna- revista, realçando o seu mérito pessoal. dos nos nossos Estatutos necessitamos dos contri- Muito obrigado, Pedro pelo legado que nos butos e mobilização de esforços de todos os actuais transmites! sócios da A25A, necessitamos também de sangue Nas páginas de O Referencial abordamos ainda novo e de novos sócios, dentro do possível O Re- aspectos de geopolítica em artigos de grande ferencial será um elemento organizador de novas interesse e importância: sobre a evolução da participações e contributos. crise grega e sua consequência para a Europa Conto com a vossa colaboração e com a vossa crí- e o enquadramento em que decorrem as ne- tica, apelo a todos para que mobilizem novas von- gociações para o TTIP, salientando-se o seu tades e novos elementos de modo a tornarmos, se Com a serigrafia do Burro a Cantar Fado quis Júlio Pomar homenagear a gesta de Abril significado, reflecte-se e alerta-se sobre a indi- possível, a nossa revista ainda mais lida, procurada quando estavam cumpridos 40 anos sobre a “madrugada inteira e limpa”. O quadro original ferença ou aceitação do sacrifício da soberania e citada e a nossa vida associativa mais participada. do génio criador foi reproduzido numa edição de 200 exemplares devidamente numerados. nacional e dos direitos humanos, sobre o ador- As cópias ainda disponíveis podem ser adquiridas na sede da A25A. Os interessados devem mecimento da razão e a necessidade imperiosa solicitar a reserva através de correio electrónico para [email protected] ou pelo telefone 21 324 14 20. 4 O REFERENCIAL O REFERENCIAL 5 galeria

Tema de Capa 42 anos de abril 8

40 anos da constituição 58

gratidão a Pedro de Pezarat Correia 70

opinião 86

Cartas 106

Notícias 107

bridge - 104 114

boletim Actividades da delegação norte 117 Assembleia geral da delegação norte 117 oeiras 118 convites 121 ofertas à a25a 122

O REFERENCIAL Propriedade da Associação 25 de Abril - Pessoa colectiva de utilidade pública (Declaração nº. 104/2002, DR II Série, n.º 9 de 18 de Abril)· Membro Honorário da Ordem da Liberdade |Presidente da Direcção: Vasco Lourenço |Director: Martins Guerreiro|Conselho Edito- rial: Alfredo Bruto da Costa, Amadeu Garcia dos Santos, André Freire, António Morais Sarmento Brotas, Carlos Manuel Serpa Matos Gomes, João Bosco Mota Amaral, João Ferreira do Amaral, José Barata-Moura, José Manuel Pureza, José Viriato Soromenho-Marques, Manuel Martins Guerreiro, Maria José Casa-Nova, Maria José Morgado, Maria Manuela Cruzeiro, Vasco Lourenço|Editor:José António Santos|Fotografia: Armando Isaac, José Maria Roumier, Nuno Augusto, Agência Lusa |Colaboradores: Artur Custódio da Silva, David Martelo, João Magalhães, José Barbosa Pereira, José Fontão, Luís Galvão (Bridge), Manuel Loff, Maria Manuela Cruzeiro, Nuno Santa Clara Gomes|Sede nacional, Administração e Redacção: Rua da Misericórdia, 95 - 1200-271 LISBOA - Telefone:. 213 241 420 - Endereço electrónico: [email protected] | www.25abril.org | www.guerracolonial.org |Delegação do t:Escadas do Barredo, 120, r/c, esq.- 4050-092 PORTO - Telefone/fax: 222 031 197 - Endereço electrónico: [email protected]\ Delegação do Centro Apartado 3041 - 3001-401 COIMBRA Endereço electrónico:[email protected] \ Delegação do Alentejo Bairro da Esperança Edifício 2 – Bloco 3, loja r/c 7560-145 GRÂNDOLAEndereço electrónico: [email protected] Delegação do Canadá Associação Cultural 25 de Abril (Toronto) - Núcleo Capitão Salgueiro Maia - 1117 Queen Street West Toronto, Ontario M6J 3P4 Canadá | Edição gráfica: atelier JMRi- Sem nome, de Jorge Viegas beirinho www.jm-designedicoes.com - Av. Infante Santo, 23 -5ºC - 1350 - 179 Lisboa | Impressão e acabamento: NORPRINT Óleo s/tela/cartão, 50,5x48,5 cm

6 O REFERENCIAL O REFERENCIAL 7 tema42 ANOS de c DEapa ABRIL S L usa - Miguel A. opes

8 O REFERENCIAL O REFERENCIAL 9 42 ANOS DE ABRIL Ferro Rodrigues promove democracia digital no Parlamento

A Sessão Solene do Quadragésimo Se- gundo Aniversário do 25 de Abril cumprindo o protocolo do Estado em observância a for- malidades e ritos repetidos até à exaustão, reu- nindo sempre as mesmas figuras e convida- dos habituais, este ano, porém, teve o sabor da presença de dois novos actores políticos, dan- do-se o caso de se tratar logo do Presidente da República e do Presidente da Assembleia da República. Desta vez, também, as saudações dos oradores dirigidas aos “capitães de Abril” puderam ser recebidas pelos próprios, uma vez que os obreiros de “o dia inicial inteiro e limpo” resolveram voltar às comemorações de Abril na Casa da Democracia após qua- tro anos de ausência, por considerarem estar novamente reunidas as condições adequadas à coerência da sua presença, ou seja, que os L usa - Miguel A. opes

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actores políticos não desvirtuem o espírito e a “Como é possível que depois da brutal letra do 25 de Abril de 1974. crise financeira de 2007-2008, os pilares Esta mesma circuntância a destacou Ferro do pensamento que a gerou – desregula- Rodrigues logo no início do seu discurso: “É mentar, liberalizar, privatizar, flexibilizar a primeira vez que o Senhor Presidente da – ainda não tenham sido definitivamente República Marcelo Rebelo de Sousa vai in- relativizados e apagados, apesar de todo tervir numa sessão comemorativa deste dia o arrependimento que então nos chegava Primeiro da Democracia, o dia 25 de Abril. É do FMI, do Banco Mundial, da OCDE e também a minha primeira vez. Tenho, pois, da própria União Europeia? Se queremos uma dupla honra.” E, logo a seguir, enfatizou: mais Europa e se exigimos mais da Euro- “Muito obrigado, Capitães de Abril! Que bom pa, não nos deixemos tolher pelo medo ou é ver-vos de volta a esta Casa que é também a pelo cinismo. Lutemos para que a nossa Vossa Casa: a Casa da Democracia. Na pessoa Europa volte a ser para o resto do mundo o do coronel Vasco Lourenço, presidente da Di- farol dos Direitos Humanos.” recção da Associação 25 de Abril aqui presen- Sobre o presente e o futuro da nossa demo- te, saúdo todos os militares de Abril e recordo cracia, o presidente da Assmbleia da Repú- com imensa saudade também aqueles que blica manifestou-se optimista: “Vejo, pois, já partiram. Salgueiro Maia. Melo Antunes. com expectativa positiva a forma como os Marques Júnior. E tantos outros.” grupos parlamentares começam a fazer a O presidente da Assembleia da República quis parte que lhes cabe, seja com o anúncio de abarcar no seu discurso uma dimensão trípli- iniciativas de reforma do sistema eleitoral, ce do 25 de Abril em “tantas memórias. Tanta seja com iniciativas de reforço da transpa- actualidade. Tanto futuro” e discorreu sobre rência no exercício de cargos públicos. In- esses diferentes contextos. dependentemente do mérito das propostas Para que memória que não se apague recor- políticas de cada grupo parlamentar, há dou a sua geração, a geração de seus pais, “e aqui um sinal de inquietação e de inconfor- D ireitos reservados - AR todos aqueles que sofreram as privações da mismo, uma preocupação com a qualidade Após quatro anos de ausência, os capitães de Abril voltaram à Assembleia da República liberdade, resistiram e disseram: não! Em no- da democracia e o combate à corrupção.” me da nossa liberdade e da liberdade das gera- Reconhecendo a importância do uso das no- ções vindouras”. vas tecnologias no relacionamento entre o Ferro Rodrigues demorou-se na análise e elo- Parlamento e os cidadãos, o presidente da gio à Constituição da República e aos deputa- Assembleia da República prometeu, “em dos constituintes que há quaranta anos lhe de- diálogo com os deputados e os Grupos ram corpo e a aprovaram. E deteve-se, ainda, Parlamentares, levar em breve à agenda da num olhar sobre a União Europeia: Conferência de Líderes o tema da Demo-

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cracia Digital, para encontrarmos, em con- junto, as melhores soluções que permitam responder a esta preocupação urgente”.

Esquerda e direita 25 de Abril é de todos A sessão começou com a intervenção dos de- putados de cada um dos grupos parlamenta- res, pela ordem inversa do peso da representa- tividade expressa nos votos alcançados. Paula Teixeira da Cruz (PSD) lançou um aler- ta sobre o Governo de António Costa, relativa- mente à sua política económica e à arrogância como exerce o poder, onde disse, se pressente um discurso com “odor do salazarismo ba- fiento”. Para a ex-ministra da Justiça tal “go- vernação demagógica, baseada em propostas sem sustentabilidade levam os países à ruína como aconteceu em 2011”. João Torres (PS): “O desemprego, a precarie- dade e a emigração são uma trilogia de sone- gação de direitos sociais”. Jorge Costa (BE): “Ninguém espere conver- tidos ao inevitável ou finalmente encaixa- dos no papel de tristes filhos da revolução que passou.” Nuno Magalhães (CDS-PP): “A autoridade do Estado não se dilui no facilitismo do imediato em nome de um igualitarismo enganador”. Rita Rato (PCP): “[É urgente] rejeitar ingerên- cias e imposições da União Europeia lesivas do interesse nacional”. José Luís Ferreira (PEV): “Este Abril é tam- bém um Abril de regresso. Pode ser tímido, mas não deixa de ser um regresso. Desde logo à normalidade democrática”.

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Discurso de Marcelo Rebelo de Sousa na Assembleia da República Recriar Democracia de Abril com estabilidade e consensos

O 25 DE ABRIL DE 1974, de movimento mili- parecia pender para um ou alguns desses pro- tar de jovens capitães rapidamente se conver- jectos, para, logo a seguir, a correlação de forças teu em Revolução. favorecer projectos diversos. Saudar os Capitães de Abril, quarenta e dois anos A Constituição da República Portuguesa, pro- depois, é dever de todos os que, em Portugal, se mulgada em 2 de Abril de 1976, acolheu o com- louvam da Democracia que o seu gesto patriótico promisso possível entre diversas revoluções, de- permitiu instaurar. pois de 25 de Novembro de 1975. Saudar o Povo, que assumiu esse testemunho e Esse compromisso viria a ser reformulado em su- o converteu em fundamento do Estado Social de cessivas revisões, com especial relevo para as de Direito que temos, é assinalar o primado da sobe- 1982, quanto ao regime político e ao sistema de rania popular. Desde logo, expressa na primeira governo, de 1989, quanto ao regime económico, eleição para a Assembleia da República, há, pre- e de 1997, quanto a vertentes políticas e sociais. cisamente, quarenta anos. Toda a revolução, ao longo da História, é feita de Quatro desafios cimeiros várias revoluções, tantas quantos a viveram, mais Mas, como um todo, a Revolução de 25 de Abril ou menos intensamente. de 1974, na versão compromissória do constitu- A Revolução de 1974 e 1975 foi, também ela, feita cionalismo de 1976, acabou por abrir a Portugal o de muitas revoluções. horizonte para quatro desafios cimeiros, que do- Olhando para os projectos das forças partidá- minaram as décadas que se lhe seguiram. rias com assento na Assembleia Constituinte, Descolonização, Democratização, integração eu- é possível deparar com várias revoluções, a que ropeia e construção de uma nova economia. se somaram as sonhadas por outras forças sem Descolonização, entre 1974 e 1975, tardia, reali- tal representação. zada no meio de uma Revolução, culminando na E, como acontece sempre nos processos revolu- independência dos Estados irmãos na língua e cionários, houve momentos em que a primazia em tanta mundividência, e alterando perfis eco- L usa - Miguel A. opes

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É injusto negar Felizmente, quanto aos grandes o que todos devemos objectivos nacionais, nómicos e sociais na comunidade que éramos. ao 25 de Abril de 1974. do Poder Local, em liberdades fundamentais, em há um larguíssimo acordo Democratização, concretizada por fases, e em É, no entanto, míope negar mudança drástica dos indicadores de saúde, em entre os Portugueses. que a transição para o poder político democráti- as desilusões, democratização no sistema de ensino, em pro- Vocação universal, co eleitoral conheceu a sua expressão plena seis fundo avanço no papel da mulher na sociedade anos depois de 1976. as indignações, as frustrações portuguesa, em abertura externa e circulação de pertença europeia, Integração europeia, decidida em 1977 e formali- com a qualidade da Democracia, pessoas e ideias, em preocupações intergeracio- importância essencial zada, oito anos volvidos, em 1985. a debilidade do crescimento, nais e de qualidade de vida. E até na projecção in- da lusofonia, Mudança da economia, em ciclos muito diver- ternacional de tantos dos nossos melhores, sem sos – o primeiro, da ruptura dos laços coloniais a insuficiência do emprego, precedente na História contemporânea. transatlantismo, e das nacionalizações e expropriações; o segun- o aumento das desigualdades, Só que a mesma verdade manda que se diga que defesa do Estado Social do, o das reprivatizações para mãos portugue- a persistência significativa os quatro desafios enfrentados em tão concen- de Direito, sas, com apoio público; o terceiro, o da recente da pobreza. trado espaço de tempo tiveram custos de vária aposta na educação, transferência para mãos estrangeiras em sec- ordem, que, somados a crises externas e a fraque- tores-chave, num contexto de crise financeira O saldo é claramente positivo, zas internas legitimam queixas e frustrações em na ciência, na inovação, e económica. para quem tiver a memória muitos Portuguesas e Portugueses. E, em parti- combate às desigualdades Quatro desafios, vividos quase em simultâneo, dos anos 70. cular, nos mais jovens, como aqueles – do Conse- e à pobreza, como nenhum outro antigo império europeu lho Nacional de Juventude –, que ontem me de- ocidental moderno havia enfrentado. Mas pode começar a ser ram, simbolicamente, este cravo para que, hoje, maior circulação social Sem guerra civil, com a excepcional integração de preocupantemente ao evocar os quarenta e dois anos do 25 de Abril, e mais fortes classes médias, setecentos mil compatriotas, percorrendo, em es- descoroçoante não me esquecesse do muito que está por fazer. mais e melhor democracia cassos anos, caminhos que economias europeias para quem só se lembrar e sobreposição do poder político fortes haviam trilhado em quarenta anos. Ir mais longe dos anos 90 O Portugal pós-colonial tem de cuidar mais da ao poder económico. Balanço de quatro décadas e da viragem do século. língua, valorizar mais a cultura, ir mais longe na E, ainda, Quando os mais jovens, tantas vezes minhas educação, na ciência e na inovação, dar mais peso como condições necessárias, alunas e meus alunos, olhavam para o balan- milhão de emigrantes numa década, começo do às comunidades espalhadas pelo Mundo, apostar crescimento e emprego ço destas quatro décadas ou pouco mais – com despovoamento de um interior continental e de mais na CPLP, dar aos que de fora vieram e inte- sentido muito crítico, para não dizer quase total áreas das actuais Regiões Autónomas. graram o nosso país social a importância no país sem desequilíbrios incompreensão –, vezes sem conta lhes chamei Manda, por isso, a verdade que se reconheça que político que lhes tem sido negada. financeiros insanáveis. a atenção para o tempo que não conheceram e a Democracia permitida pelo 25 de Abril repre- O Portugal democrático tem de repensar o fe- para o que foi o percurso que para todos eles é já sentou uma realidade sem precedente na nossa chamento no sistema de partidos e nos parcei- na chefia administrativa, ao jovem na sucessão pré-história. História político-constitucional, em participação ros sociais, recriar formas de aproximação entre geracional, ao emigrante e ao imigrante na vi- Não sabem o que é ditadura, censura, elevadís- no poder central, regional e local, em indepen- eleitores e eleitos, ser mais efectivo no combate vência cívica. sima mortalidade infantil, escolaridade obriga- dência dos tribunais, em autonomia política dos à corrupção e mais transparente na vida política. O Portugal que acredita na Europa tem de lutar tória não totalmente cumprida de seis anos, um Açores e da Madeira e autonomia administrativa E ir mais longe quanto à mulher na política e por uma Europa menos confidencial, menos

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Portugal não pode O estimulante nem deve continuar a viver, pluralismo político sistematicamente, não impede consensos passiva, mais solidária, mais atenta às pessoas, tugueses. Vocação universal, pertença europeia, e sobretudo que não pareça aprovar nos factos o em campanha eleitoral. importância essencial de lusofonia, transatlan- sectoriais de regime. oposto daquilo que apregoa nos ideais. Exige estabilidade política, tismo, defesa do Estado Social de Direito, aposta Alguns dos quais O Portugal do desenvolvimento tem de dar hori- crucial para a estabilidade na educação, na ciência, na inovação, combate às não precisam sequer zontes de esperança, que não sejam o ir de crise desigualdades e à pobreza, maior circulação so- económica e social. de formalização para se irem em crise até à incerteza total. Sem ficar refém cial e mais fortes classes médias, mais e melhor pela dívida ou pela dependência intoleráveis, O estar adquirida, Democracia e sobreposição do poder político ao afirmando diariamente. afirmando-se capaz de crescer, competir, criar finalmente, poder económico. E, ainda, como condições ne- Como na Saúde, por exemplo, emprego, dar futuro aos Portugueses. essa estabilidade cessárias, crescimento e emprego sem desequilí- onde o que aproxima O Portugal da coesão social e territorial deve ser brios financeiros insanáveis. muito mais corajoso não só a recuperar a classe é um sinal Felizmente, também, há, no nosso país, neste é, cada vez mais, média ou a alimentar a circulação social, mas de pacificação democrática momento, dois caminhos muito bem definidos mais do que aquilo que afasta. também a combater as assimetrias e a pobreza que deve reconfortar e diferenciados quanto à governação, ao modo de Mas esse pode ser, se atingir as metas nacionais. que nos deve envergonhar. os Portugueses. como já disse, É injusto negar o que todos devemos ao 25 de Diversos quanto ao papel do Estado na economia Abril de 1974. e na sociedade. Diversos quanto às prioridades um primeiro passo É, no entanto, míope negar as desilusões, as in- para a criação de riqueza. Diversos quanto ao apenas para consensos dignações, as frustrações com a qualidade da De- Nem na incerteza quanto ao crescimento e se- tempo e ao modo da redistribuição da riqueza. noutros domínios, mocracia, a debilidade do crescimento, a insufici- gurança e na falta de transparência financeira Diversos na filosofia e na prática política. ência do emprego, o aumento das desigualdades, mundiais. Nem na lentidão ou tibieza quanto à Cada um desses caminhos é plural, mas que- da vitalização do sistema a persistência significativa da pobreza. resposta conforme aos seus princípios por parte rendo ser alternativo ao outro. Com lideranças político ao traçado O saldo é claramente positivo, para quem tiver a de alguma Europa nos refugiados, como na polí- e propostas próprias. Clarificação esta muito e estabilidade memória dos anos 70. Mas pode começar a ser tica externa e de segurança, na economia, ou na salutar e fecunda. do sistema financeiro, preocupantemente descoroçoante para quem só capacidade para evitar fracturas antisolidárias as A Democracia faz-se de pluralismo, de debate, de se lembrar dos anos 90 e da viragem do século. mais inesperadas. alternativa. Assim, quem se pretenda alternativa, ao sistema de Justiça Senhor Presidente, Nem na evolução económica recente, ou em cur- de um lado e de outro, demonstre, em perma- e à Segurança Social. Senhoras e Senhores Deputados, so, que aconselha permanente atenção às previ- nência, a humildade e a competência para tanto. Possivelmente, Minhas Senhoras e Meus Senhores, sões e seus reflexos financeiros. Sem dramas, Temos, assim, amplo acordo de objectivos na- A solução não passa, porém, por pessimismos que a rectificação de perspectivas é realidade a cionais, por um lado, e dois distintos modelos de com passos lentos antidemocráticos, por populismos antieuropeus, que nos habituámos ao longo dos anos. E é prefe- governação, por outro. mas profícuos. por tentações de culpabilização constitucional. rível à negação dos factos. O que motiva três interrogações. Mas, é neste quadro que nos movemos, hoje, Quer isto dizer que vamos prosseguir em clima Ou que a unidade essencial entre os Portugue- Estes tempos não são fáceis em Portugal. de campanha eleitoral? ses é questionada pelas duas distintas propos- Eu sei, nós sabemos, que estes tempos não são Felizmente, quanto aos grandes objectivos na- Ou que os consensos sectoriais de regime tas de Governo? fáceis. cionais, há um larguíssimo acordo entre os Por- são impossíveis? A resposta a estas três questões só pode ser nega-

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tiva para os Portugueses. E, em particular, para o substituíram empregos sólidos por expedien- Presidente da República, cujo mandato nacional tes de emergência. é, por sua própria natureza, mais longo e mais E uniram-se. Filhos voltaram para casa dos pais. sufragado do que os mandatos partidários. E não Avós receberam filhos e netos. Mudaram de terra depende de eleições intercalares. e sobreviveram em conjunto. Não. Portugal não pode nem deve continu- Uniram-se. E assim puderam e podem começar ar a viver, sistematicamente, em campanha a reacreditar no futuro. Elas e eles foram os gran- eleitoral. Exige estabilidade política, crucial des vencedores sobre a crise. Unamo-nos no essencial. para a estabilidade económica e social. O es- Continuam, agora, a pensar coisas diferentes. A Sem com isso tar adquirida, finalmente, essa estabilidade é votar em listas diversas. A divergir na política, no um sinal de pacificação democrática que deve trabalho, na vida local, no desporto. minimamente reconfortar os Portugueses. Para uns, a governação actual é promissora. Para negarmos a riqueza Não. O estimulante pluralismo político não im- outros, um logro. pede consensos sectoriais de regime. Alguns dos Para todos, contudo, uma certeza existe neste do confronto quais não precisam sequer de formalização para tempo: mais instabilidade, mais insegurança, democrático, não abre caminhos, fecha horizontes. se irem afirmando diariamente. Como na Saúde, em que Governos por exemplo, onde o que aproxima é, cada vez E, por isso, vivem já uma distensão, impensável mais, mais do que aquilo que afasta. Mas esse po- há escassos meses. aplicam as suas ideias de ser, como já disse, um primeiro passo apenas e oposições para consensos noutros domínios, da vitalização Unamo-nos no essencial do sistema político ao traçado e estabilidade do Neste 25 de Abril de 2016, quarenta e dois robustecem sistema financeiro, ao sistema de Justiça e à Se- anos depois do 25 de Abril de 1974, essa lição as suas alternativas. gurança Social. Possivelmente, com passos len- é um sentido de vida para tempos difíceis, a tos mas profícuos. apelarem à sensatez. Não. A saudável contraposição de duas fórmulas Unamo-nos no essencial. Sem com isso minima- de Governo não atinge o fundamental na unida- mente negarmos a riqueza do confronto demo- ções, mas pode alterar ou condicionar soluções. origem do poder. de dos Portugueses. crático, em que governos aplicam as suas ideias e A Democracia criada a partir do 25 de Abril de Preservando sempre a unidade no essencial. Como nunca atingiu. oposições robustecem as suas alternativas. 1974 tem de ser recriada, todos os dias, para se A pensar em Portugal! É olhar para a forma como Portuguesas e Por- Troquemos as emoções pelo bom senso. não negar, nem negar futuro aos Portugueses. tugueses estão a viver a saída de uma crise, cer- Naqueles que devem governar, com voluntaris- Saibamos, também, todos nós, honrá-la e ser- Título e subtítulos da responsabilidade da Redação tamente uma das mais pesadas desde o 25 de mo mas com especial atenção a que o possível vi-la, renovando o que importa renovar, deba- Abril de 1974. seja suficiente, e mais do que isso, seja bom tendo o que há a debater, sonhando o que há Elas e eles sofreram sacrifícios, cortes, pe- para Portugal. a sonhar. nalizações. Adiaram sonhos e congelaram Naqueles que devem contestar, com firmeza mas Mas olhando para o exemplo dos mais sim- projectos de vida. Viram familiares partirem, com a noção de que o tempo não muda convic- ples e humildes. Do Povo que é a verdadeira

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24 O REFERENCIAL O REFERENCIAL 25 42 ANOS DE ABRIL

Cartaz e Medalha

HERLANDER ZAMBUJO é o autor do cartaz e medalha co- memorativos do 42.º aniversá- rio do 25 de Abril, sendo que a medalha, numa das suas fa- ces, evoca o 40.º aniversário da Constituição da República. Re- conhecido artista plástico, com uma vasta obra designadamen- te nas áreas da pintura e da me- dalhística, Herlander Zambujo, capitão de mar-e-guerra na re- serva, tem no mar e nos temas marítimos uma permanente fonte de inspiração. Do seu vas- to currículo como pintor, em vá- rias modalidades, contam-se já diversas exposições, individuais e colectivas, nomeadamente na Academia de Marinha e no Clu- be Militar Naval. No campo da medalhística tem também uma obra assinalável, mostrando grande iniciativa e incessante criatividade, e nela se incluem todas as medalhas comemora- tivas do Dia Nacional do Mar, de há alguns anos a esta aprte, mandadas cunhar pela Socieda- de de Geografia de Lisboa.

26 O REFERENCIAL O REFERENCIAL 27 42 ANOS DE ABRIL Mensagem

Comemoramos os 42 anos que passaram sobre a radiosa madrugada de Abril, que nos abriu as Foi à volta da Constituição da República Portuguesa, referência maior da Revolução dos Cravos, portas ao sonho de uma sociedade livre, justa e solidária. que nos unimos para garantir essa mudança. Sem hesitações, podemos afirmar que valeu a pena todo o esforço, todos os riscos que os mili- Fizemo-lo praticando a Democracia que a Constituição nos permite, e até exige, e com essa acção, tares de Abril colocaram nessa inolvidável epopeia colectiva em que se envolveram, sem pedir o povo português conseguiu pôr cobro ao período negro que atravessávamos e que vinha pondo nada em troca. Em termos pessoais, os militares apenas esperavam o reconhecimento do dever em risco tudo o que cheirava a Abril! cumprido ao serviço da Pátria, desejando sair da direcção do processo de transição assim que Hoje, sentimo-nos mais aliviados. estivessem asseguradas as condições necessárias. Temos um governo resultante de uma aliança das forças politicas que se reclamam dos valores E, face à atitude que o povo português então assumiu, podemos mesmo afirmar que o 25 de Abril de Abril. resultou não só da acção dos militares mas também de um imenso mar de pessoas que, em boa Temos um Presidente da República que, pelas suas declarações públicas, manifestou formal- hora, decidiram tomar essa Revolução nas suas próprias mãos. Estes 42 anos permitiram, com mente assumir o cumprimento da Constituição como norma da sua acção. efeito, às portuguesas e aos portugueses aproveitar este último elemento constituinte da nossa Satisfeitos por vermos em prática as soluções globais que defendemos, libertos do pesadelo que identidade e construírem um País diferente, para melhor. constituiu a acção dos detentores do poder nos últimos tempos – seja o Presidente da Repúbli- Muito de positivo se construiu, ainda que nem sempre de forme contínua. ca seja o executivo – fazemos votos para que esta solução frutifique e nos permita recuperar os Temos hoje um Portugal sem guerras e em Paz, livre e democrático sem ditadura, mais justo e valores de Abril, aprofundar a Liberdade e a Democracia e com elas avançar numa maior justiça mais solidário. social, tão mal tratada nos tempos da escuridão com que acabámos há pouco. Mas, ao olharmos para trás, não podemos deixar de ter algum sentimento de frustração, de de- Portugal não está isolado. Faz parte de uma comunidade, a europeia, que atravessa também sencanto, de desilusão. tempos muito conturbados, mas apresenta sinais de alterações políticas, indo ao encontro da Estamos melhor, mas podíamos estar ainda muito melhor. insatisfação dos cidadãos, da moralização da actividade financeira e da necessidade de lançar a Isto porque, fruto de enormes erros cometidos nas escolhas livres que fomos fazendo, aos avan- economia em bases mais justas. ços positivos têm-se sucedido recuos altamente negativos, que chegaram mesmo a pôr em risco Confiamos que seremos capazes de ajudar a alterar a política europeia, que recupere o projecto tudo o que de positivo Abril nos trouxe e permitiu alcançar. solidário e fraterno dos fundadores da União Europeia. Com efeito, lembremos que o governo que em boa hora terminou o seu mandato, baseado no Com isso, confiamos que voltaremos a ter um Portugal onde os seus filhos tenham condições logro e na mistificação, no não cumprimento das promessas que tornaram possível a sua eleição, para viver e se não vejam obrigados a emigrar, situação que, nestes últimos anos, voltou a ser um delapidou, alienando, vectores estratégicos da economia nacional, empobreceu o país, agravou drama nosso. É com essa esperança, com a convicção de que só à volta dos valores de Abril conse- a precaridade do emprego, reduziu os apoios sociais, o serviço nacional de saúde, o ensino e guiremos consolidar um País soberano baseado na dignidade da pessoa humana e na cidadania introduziu na nossa vivência colectiva factores de divisão, de conflito. Cerceou os horizontes e empenhado na Construção de uma sociedade livre, justa e solidária, que deixamos um enorme da juventude, subtraiu rendimentos a vastos sectores do nosso tecido social, nomeadamente os abraço fraternal a todas e a todos. reformados e pensionistas, encurtando os seus horizontes e comprometendo a sua subsistência. Viva o 25 de Abril Há um ano, reforçando aliás o que vínhamos afirmando há muito, alertávamos para o perigo da Viva Portugal destruição de Abril e para a necessidade de reagrupar forças para combater os seus inimigos, internos e externos, e impor a mudança de rumo. Lisboa 25 de Abril de 2016 A Direcção 28 O REFERENCIAL O REFERENCIAL 29 42 ANOS DE ABRIL

Abril de novo com a força do Povo

MILHARES DE PESSOAS sinais de esperança. Sindi- desceram a Avenida da Liber- catos, delegações partidárias, dade em direcção ao Rossio, jotas, movimentos sociais e na tradicional manifestação demais manifestantes, pe- das comemorações populares rante as novas condições do 25 de Abril. Desta vez, no políticas, entenderam dar o quadragésimo segundo ani- benefício da dúvida aos ac- versário da Revolução, esti- tuais governantes e desfrutar veram ausentes palavras de a janela de esperança que se ordem contra o Governo, car- abriu em Portugal. tazes e caricaturas hostis ao Com a chaimite a rasgar ter- primeiro-ministro ou ao Pre- reno rumo ao Rossio, os ma- sidente da República. nifestantes festivos afirma- Dir-se-ia que o entendimento vam: “Somos muitos, muitos parlamentar à esquerda que mil para continuar Abril”, suporta o Governo de Antó- queremos “Abril de novo, nio Costa e a recente eleição com a força do povo”. presidencial de Marcelo Re- O palco montado no Rossio belo de Sousa teceram um acolheu representantes das ambiente de estado de graça várias esquerdas onde todos suficiente para transfigurar fizerem a festa. Aí, Nuno uma manifestação, habitual- Santa Clara Gomes, repre- mente de protesto, num des- sentante da A25A, proferiu o file prazenteiro e festivo. discurso em nome da Comis- O “Diário de Notícias” des- são Promotora das Comemo- creveu o acontecimento rações Populares do 25 de como uma ‘manif’ light e Abril, que adiante se publica. contra ninguém porque há

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Discurso no Rossio Não nos vergamos

COMEMORAM-SE HOJE quarenta e dois vergar resignadamente a imposições vindas anos da Revolução de 25 de Abril, esse mo- de instâncias por vezes nebulosas, que só se mento histórico iniciador de um processo que tornam claras quando um escândalo rebenta nos devolveu a Liberdade. – e ainda assim por pouco tempo, já que, atra- Numa simples frase, duas ideias que se torna vés de hábeis manobras de desinformação, as necessário aprofundar. questões importantes deixam de ser mediáti- Primeira ideia: comemorar. Para nós, portu- cas, e se vão suavemente desvanecendo. gueses, sobretudo os que viveram o período da O nosso povo, o Zé Povinho, com a sua tradi- ditadura, esta palavra tem um significado qua- cional criatividade e mordacidade, já inventou se negativo. Comemorava-se – e ainda hoje se para essa gente uma expressão e uma sigla: os comemora – por dever de ofício, por obrigação Donos Disto Tudo, ou os DDT. Marca de gé- Representantes das diversas organizações que integram a Comissão Promotora das Comemorações Populares do 25 de Abril, social, por imperativos por vezes inconfessáveis. nio: o DDT foi aquele insecticida que, se nu- tomaram lugar no palco do Rossio Não é esse o espírito que aqui nos une. Quem ma primeira fase matou moscas e mosquitos, aqui está, bem como a maioria do Povo Por- a bem da saúde pública, deixou depois efeitos Com avanços e recuos, típicos de uma socie- vação da Constituição, que fez agora quarenta tuguês a que pertencemos, dá a esta data um tremendos na ecologia do planeta. Ou seja, dade em transformação acelerada, fruto da anos. Também isso hoje se comemora. Para significado muito para além da tradicional co- acabou por ser o contrário de um desenvolvi- negação do exercício da cidadania por mais de qualquer sociedade organizada, a Constituição memoração, mais aceite do que participada. mento sustentado. Insisto: não podia ter sido quatro décadas (duas gerações!), o processo é base de todo o sistema político, jurídico, eco- Quem aqui está, e quem está connosco em escolhida melhor imagem! de integração dos portugueses na sua própria nómico e social. Foi elaborada, aprovada e pro- pensamento, está para reafirmar o empenha- Segunda ideia: a Revolução. Palavra também usa- Pátria, na Europa e no Mundo foi seguindo o mulgada dentro da vivência democrática, que mento do Povo Português nos caminhos da da e abusada, e por isso que tem de ser revisitada. seu caminho. acabou por se tornar entre nós (felizmente!) Democracia, do desenvolvimento económico e Se o Movimento das Forças Armadas conduziu Todo esse percurso mostra bem que a Revolu- numa segunda natureza. social, do direito à saúde, à educação, ao em- as operações que levaram à queda da máquina ção não é obra de um dia, nem obra de uma Um dia, um célebre DDT (anterior à defini- prego, e a outros direitos que tão maltratados militar e policial montada ao longo de décadas minoria, e ainda menos de algum iluminado: é ção popular) referiu-se ao texto constitucio- têm sido nos últimos tempos, e não só neste pelo , foi a participação popular obra de muitas vidas e é obra de todos. nal dizendo que “o País não pode parar por martirizado País. que garantiu o rumo certo que a comunidade Por isso aqui estamos todos! causa de um papel”. Pelo menos foi honesto! Está aqui para dizer bem alto que não se irá portuguesa iria tomar. Na consolidação desse percurso, avulta a apro- O mesmo diria qualquer infractor, contes-

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tando o Código Penal ou qualquer outra lei Muitos dirão que é uma tendência, ou maldi- da República. ção nacional. A Constituição é a expressão mais elevada da É também por isso que aqui estamos: para di- vontade dos povos, que nela espelham a socieda- zer basta! Basta de arranjinhos, de tolerância, de que desejam. Alterar o seu sentido, ou fazer da defesa de direitos deturpados, de adiar e dei- dela letra morta, é renegar todos os princípios xar esquecer as questões essenciais. em que se fundamenta um Estado de Direito. Se nos últimos tempos têm surgido sinais po- Decerto abundam as declarações formais e sitivos de um certo renascer da esperança, isso pomposas de obediência aos preceitos cons- não nos deve levar a abandonar o empenha- titucionais; mas, a título de exemplo, quando mento com que devem ser procuradas as saí- se infringem as regras de trânsito, não é por das para a crise em que fomos mergulhados. renegar o Código de Estrada: é porque se tem Se lutámos contra a ditadura, armada com to- pressa, ou porque dá mais jeito… do o seu aparelho repressivo, contra a inércia Estamos aqui portanto empenhados e irmana- e contra o desânimo, esse espírito tem nova- dos na defesa da Constituição e da estrita apli- mente que ser invocado contra o atual estado cação dos seus preceitos e princípios: esse é o de coisas. modo corrcto de viver em Democracia! A Associação 25 de Abril não é uma associa- Não poderia deixar de referir um tema que nos ção de militares, como tantas que, felizmen- últimos dias se tornou escaldante: a corrupção, te, se têm constituído e empenhado na defesa a níveis nem imaginados pelos simples cida- do que entendem ser os seus direitos – e as dãos que vivem do produto do seu trabalho. suas obrigações. Refiro-me, naturalmente, aos escândalos fi- É uma associação cívica, criada para a defesa nanceiros que abalaram o Mundo. dos valores instituídos pelo 25 de Abril, e daí Diriam os mais esclarecidos que este espanto o seu nome. seria como ficarmos surpreendidos por um Por outro lado, muitos dos seus associados são eclipse solar. Pois se os eclipses são previsí- militares de Abril; esses que tudo arriscaram e ber de quem quer que seja. Contra a corrupção; veis desde a mais remota antiguidade! Igual- nada pediram para si mesmos. A postura de cidadania plena da Associação, Pela Constituição; mente, o clima de desregulação e despudor É assim que, desde 1976, se declararam defen- decorrente do respeito pelas instituições que Pelo 25 de Abril. que tem pautado a nossa sociedade só poderia sores da Constituição; não por dever de ofício, os seus fundadores ajudaram a criar, impede-a Pela Liberdade. ter esse efeito: o descalabro financeiro, econó- mas porque ele representa a vontade popular, naturalmente de interferir nessas instituições, Daqui mandamos a nossa mensagem, que tem mico, social e moral. legitimamente expressa pelas instituições de- com especial relevância para a Instituição Mi- tanto de simples, como de profunda: Não tenhamos dúvidas: o maior entrave ao pro- mocraticamente eleitas. litar, à qual pertencem muitos dos seus mem- Viva o 25 de Abril! gresso é a corrupção. Enquanto imperar o com- É por isso que podem, sem estados de alma, bros, na qual foram formados, e a qual sempre Viva a Democracia! padrio, a irresponsabilidade, a ganância, não considerar-se recompensados pela instituição respeitarão. Viva a Liberdade! haverá evolução positiva na nossa sociedade. da Democracia, sem lições de civismo a rece- Por isso aqui estamos: Viva Portugal!

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36 O REFERENCIAL O REFERENCIAL 37 42 ANOS DE ABRIL Foto de José M aria Roumier Foto

Mulheres de Abril

David Martelo

FAZ AGORA UM ANO, era sombrio o cená- marães, acolhemos nesta celebração as mu- rio político em que vivíamos, parecendo que lheres da nossa vida, sempre soubemos re- dele se tinha arredado qualquer sentimento servar um momento especial para sublinhar- de esperança. No texto que então vos li, tive mos, com uma carinhosa salva de palmas, a oportunidade de referir que uma tal situa- o papel determinante que esposas, namora- ção não justificava a ideia que, por vezes era das, mães e irmãs, tiveram na compreensão defendida, de que Portugal necessitaria de e incondicional apoio para que, através da “um novo 25 de Abril”. Ao discordar dessa nossa acção, florescesse a liberdade. solução, concluí a minha alocução afirman- Também hoje vos irei pedir a muito justa e do: “Não, a esperança não é militar. É civil habitual ovação a essas Mulheres de Abril, e está onde deve estar: nas mãos das Portu- presentes e ausentes, mas, antes disso, gos- guesas e dos Portugueses.” taria de evocar o momento único e sublime Julgo que podemos felicitar-nos com a con- do ADEUS, na longínqua noite de 24 de firmação deste anseio. Ao celebrarmos o 42.º Abril de 1974. Para esse efeito, vou ler-vos aniversário do 25 de Abril, vivemos um mo- um texto que respiguei de uma obra de um mento de esperança e é com natural satis- capitão de Abril. fação que assistimos ao apelo institucional A descrição inicia-se na noite de 24 de Abril de que salienta a oportunidade e a necessidade 1974. Em cena, Francisco, o capitão, Ana, a es- da serena gestão dos afectos. posa, e um filho de ambos, ainda bebé. A nar- Pela nossa parte, desde que, ainda em Gui- rativa é feita através do pensamento da esposa.

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“O sono não chegava, apesar do cansaço voz de ’ – brotou do mi- até à porta do quarto, sem despregar o olhar, Com um aceno de adeus, viu-o partir. acumulado daqueles dias de brasa. Os seus núsculo aparelho portátil. como quem olhava longamente para uma Como seria o dia seguinte?» pensamentos eram confusos, indefinidos, Era o primeiro sinal. Sem nada dizer, Fran- imagem que se quer gravar na memória. [...] enrolavam-se uns nos outros numa desor- cisco levantou-se para levar o saco que tinha Na soleira, um beijo rápido. Foi fechando a dem que não tinha capacidade de controlar. deixado no quarto, onde arrumara os farda- porta devagar. Ouviu-lhe os pés tacteantes a Só uma firme disposição de não fraquejar mentos e peças de roupa e de higiene para começar a descer a escadaria e sincronizou o perante o marido ia vencendo a fadiga e as dois ou três dias. Mesmo perante as dúvidas tempo com a distância que a separava da ja- *Alocução proferida no IASFA/Porto, por ocasião do ideias pessimistas que a assaltavam, reba- e incertezas, era a altura de demonstrar ape- nela. Abriu-a, respirando o cheiro puro que convívio de oficiais comemorativo do 42.º aniversário tendo-as com o forte desejo de que o desfe- nas optimismo. se agarrava à penumbra densa. [...] do 25 de Abril cho fosse favorável à tranquilidade do bebé. Ana imaginou-o no quarto, de pé, junto ao Jamais lhe aflorara à cabeça a ideia de pres- berço, olhando o filho, embevecido. Talvez, sionar o companheiro a ponderar a sua par- ao sentir os lábios do pai, pousando leve- ticipação na acção de risco de que conhecia mente, mas com alguma demora, no seu apenas os contornos. [...] rosto branco e aveludado, pudesse ter cor- Para ela, num momento de distinta lucidez, respondido, num esgar, à suave carícia. Inti- tudo se tinha tornado claro e a vida e o futu- mamente, desejou que o gesto terno tivesse ro demasiadamente óbvios. Assim, a ansiada sido correspondido com um sorriso, que se- ruptura passou a fazer parte do seu quotidia- ria um sinal de estímulo e esperança. no e a espera só passou a estar desajustada Naquele rosto, ainda minúsculo, descobria- Actividades da Delegação Norte aos equilíbrios emocionais que temia pode- -se sempre a expressão do amor, reflectindo rem descontrolar-se. o encanto que iluminava a obscuridade de DENTRE as comemorações do em que se falou de Abril. grar, colaborámos dentro das O sinal horário das vinte e três horas inter- muitos dias. As suas mãos, com os deditos 25 de Abril que tiveram lugar Fornecemos documentação pa- nossas naturais limitações rompeu-lhe o trabalho. [...] Entre os dois, um náufragos, eram a verdade que agarravam e neste ano e que, na medida ra algumas exposições sobre o humanas e financeiras. olhar fugaz. Sem nada dizerem, uma men- repeliam, indecisas, a transformação das coi- das nossas possibilidades e em 25 de Abril a escolas, autarquias Como é tradicional, a A25A sagem clara. Porque há palavras que, sendo sas. A chupeta inerte, num intervalo entre a função das solicitações, fomos e outras entidades que pediram apoiou o jantar de oficiais só silêncio, não se dizem. São momentos ra- sofreguidão de um desejo não saciado e a ir- apoiando, serão de salientar as o nosso apoio. que se realizou nas insta- ros de felicidade que deixam quem os sente, ritação dos primeiros dentes, seria o milagre centradas na cidade do Porto Para onde nos convidaram lações do IASFA – Porto. como estando iluminados pela luz hipnótica da harmonia, lutando contra a persistência que organizámos, quer em e não foi possível estarmos Cumpriu-se o ritual, com de um farol orientador. da penumbra insidiosa. O corpo tranquilo parceria com outras institui- presentes, enviamos a men- uma intervenção do David Os olhos nos olhos podem dispensar pala- não sentiu a labareda subtil dos instantes de ções quer isoladamente. sagem da Direção Nacional Martelo, o cantar da Grân- vras e exigem que não se quebre o silêncio, fogo. E um segundo beijo já não terá sido de Enviámos, este ano, sete re- para ser lida. dola e o entoar do Hino Na- sobretudo quando expressam a firmeza de adeus, antes uma vontade prometida de um presentantes, que estiveram Nas Comemorações Popula- cional. Estiveram presentes um sentimento inequívoco. regresso breve. presentes em sessões sole- res do 25 de Abril na cidade algumas dezenas de oficiais – ‘E agora, um dos êxitos mais recentes da Conhecendo o marido desde criança, sabia nes, conferências, debates e do Porto, cuja Comissão Or- e familiares. música portuguesa, E depois do Adeus, na que ele estava a recuar em passos vagarosos palestras, em diversos locais ganizadora voltamos a inte-

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Manuel Bravo, respectivamente, presidente e O AlCante-Grupo Cultural e Etnográfico da vice-presidente da Associação de Radioamado- Junta de Freguesia de Alcântara animou o se- res da Região de Lisboa, entregaram a Vasco rão com os seus cantares muito apreciados por Lourenço o Diploma Radioamadorístico com todos os presentes. que agraciaram a A25A por ocasião do 40.º ani- No momento próprio usaram da palavra os versário do 25 de Abril. dois autarcas presentes e o presidente da Di- Entre os convidados do encontro registe-se, recção da A25A que, como é habitual, leu a ainda, a presença de Ildefonso Garcia e Rena- Mensagem própria para o dia, aqui publicada to Gonçalves, na devida ordem, presidente e separadamente. Vasco Lourenço aproveitou vice-presidente do Centro Cultural 25 de Abril também para prestarr preito à Constituição da de São Paulo que, para o efeito, se deslocaram República tendo a propósito recordado: “Gos- expressamente do Brasil, e a embaixadora de taria de acentuar, em nome dos militares de Cuba em Lisboa, Johana Ruth Tablada de la Abril, o seguinte: Desde 25 de Abril de 1976 Torre. que a instituição militar se afirmou defensora e

Jantar no Pavilhão Desportivo da Ajuda

UM HINO DE MEMÓRIA e celebração da de pessoas assinalaram 42 anos de Abril, dia 24 madrugada de 25 de Abril de 1974, congrega, de Abril de 2016, num jantar no Pavilhão Des- anos após anos, centenas de cidadãos ao redor portivo da Ajuda promovido pela A25A com o da mesa de um jantar para celebrar e fazer fes- patrocínio da Câmara Municipal de Lisboa e da ta. A celebração torna a memória presente; a Junta de Freguesia de Alcântara, a que se asso- festa actualiza a mensagem e, no compromisso ciaram os seus presidentes, respectivamente, que se renova, projecta-a para o futuro. Assim Fernando Medina e Davide Amado. aconteceu mais uma vez, quando sete centenas No decorrer do encontro, António Viegas e

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Fernando Medina, presidente da CML, Vasco Lourenço e Davide Amado, presidente da Junta de Freguesia de Alcântara

cumpridora da Constituição da República Por- tuguesa que nesse dia entrou em vigor. E, até hoje, tem cumprido exemplarmente esse seu compromisso. Não vemos em Portugal alguém que tenha autoridade moral para, como aconte- ce de vez em quando, nos acusar de querermos sobrepor o poder militar, isto é, as Forças Ar- madas, ao poder democrático! Fomos e somos cidadãos livres e democratas. Demonstrámo- -lo quando foi necessário. Nestes campos não aceitamos lições de ninguém!”

António Viegas e Manuel Bravo, da Associação AlCante - Grupo Cultural e Etnográfico da Junta de Freguesia de Alcântara animou o serão com os seus cantares muito apreciados de Radioamadores de Lisboa, homenagearam a A25A

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Festa Jovem de Almada Dinâmica social de raiz popular muito forte

M. Simões Teles

A APLICAÇÃO DA FORÇA e a assunção do A Festa Jovem de Almada pegou de estaca, está risco nas acrobáticas, a destreza e o sincronis- profundamente enraizada no tecido associati- mo nas rítmicas, o ritmo e a desenvoltura nas vo local: colectividades de lugares cujo nome danças jazz e hip-hop, a precisão e a concen- não vêm no mapa surpreendem-nos com a tração nos trampolins, aliados à profusão das presença de dezenas de atletas; a maior parte cores dos equipamentos individuais e ao sen- orienta a sua preparação visando aí o melhor tido do colectivo patente em todas as apresen- desempenho; e ficamos a saber que a ginástica tações – tudo convergiu para configurar a be- é para ser praticada por todos, cinturas estrei- leza de um sarau que durou três horas ininter- tas e largas. Almeja-se progredir sem se ansiar ruptas e nos deixou com água na boca quando pertencer a uma elite. acabou. Na abertura escutou-se a Orquestra A Festa Jovem de Almada revela-nos uma di- Geração a tocar peças de música clássica. Foi nâmica social de raiz popular muito forte. To- a Festa Jovem de Almada, na sua vigésima se- davia, a TV Almada constituiu a excepção na gunda edição, durante a qual se exibiram 1040 sua cobertura mediática. Não nos admiremos atletas do 6 aos 12 anos, em representação de então que no resto do País, que fica na igno- dezanove colectividades. rância de eventos como este, se seja apanhado A organização é da A25A, da Câmara Munici- de surpresa e se fique perplexo quando a socie- pal de Almada, da Associação de Ginástica de dade se enriquece com novas formas de estar Lisboa e da Associação de Ginástica do Distrito – incluindo na política – que vão buscar a sua de Setúbal. Além de Manuel Rodrigues, cons- sustentação a dinâmicas populares como a que tituem a comissão organizadora: António Va- converge nesta forma genuína de comemorar lente, Afonso Candeias, Carla Reis e Humber- o aniversário do 25 de Abril. Problema deles. to André. O Município fez-se representar pelo vereador António Matos.

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colectiva, para todas as idades, com partidas, pelas 10 horas e 30 minutos, em quatro locais diferentes: Pontinha; Largo do Carmo, 5 mil Seis mil atletas na metros; Saldanha, caminhada; e Marquês de Pombal, mil metros, para jovens e deficientes. Tomaram parte na Corrida cerca de seis mil Corrida da Liberdade atletas e a chegada foi, para todos, na Praça dos Restauradores, onde houve animação cul- tural e foram entregues uma camisola a cada José Novo participante e distribuídos prémios simbóli- cos aos vencedores. INTEGRADA NAS COMEMORAÇÕES do zaram a 39.ª Corrida da Liberdade em Lisboa, Também integrada nestas comemorações, foi 42.º aniversário da Revolução de 25 de Abril de com o apoio logístico das Câmaras Municipais inaugurada, em 18 de Abril, no Museu da GNR 1974, a A25A, a FCCRDDL (Federação das Co- de Lisboa e de Odivelas, de algumas Juntas de no Quartel do Carmo, uma exposição fotográ- lectividades de Cultura Recreio e Desporto do Freguesia e patrocinadores diversos. fica de Eduardo Gageiro, relativa ao tema 25 de Distrito de Lisboa) e a ACCL (Associação das Pretendemos com nossa acção comemorar Abril, tendo-se mantido aberta ao público até Colectividades do Concelho de Lisboa), organi- Abril, fazendo desta corrida uma enorme festa 21 de Maio.

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Celebrações em Faro

OS 40 ANOS DA CONSTITUIÇÃO PORTU- GUESA e o 25 de Abril foram assinalados em Faro, na escola Dr. Joaquim Magalhães, no dia 27 de abril, com uma sessão evocativa que con- tou com a presença do nosso sócio fundador mentos musicais, com canções e música de Fernando Sousa e do deputado à constituinte, intervenção, “Vejam bem” de Zeca Afonso, Afonso Dias. interpretado pelo Grupo Coral ACANTOTC e Esta actividade teve o apoio da Associação 25 de “Ser livre” de Adriano Correia de Oliveira, por Abril, através da sua associada, Clarinda Veiga, Afonso Dias. que disponibilizou cartazes e autocolantes re- Os alunos reagiram muito bem às diferentes ferentes ao tema e que constituíram exposição actividades que lhes foram oferecidas e um juntamente com trabalhos realizados pelos alu- grupo prometeu musicar algumas quadras rea- nos. Na biblioteca escolar foram expostos jor- lizadas por eles sobre o 25 de Abril. nais da época e bibliografia sobre o 25 de abril. Ainda, em Faro, mais de quatrocentos alunos Participaram no evento três turmas, uma do das Escolas EB 2,3 e Secundárias Tomás Ca- 8.º ano e duas do 9.º ano. Os alunos estavam breira, Pinheiro e Rosa, Santo António e João constituídos por “grupos parlamentares”, com de Deus, participaram nas sessões de comemo- designação própria e cada qual com uma ques- ração do 42.º aniversáriodo 25 de Abril e do 40.º tão para ser apresentada e votada em “Assem- aniversário da Constituição de 1976, organiza- bleia Constituinte”, já que se tratava de uma das pelas respectivas professoras de Ciências dramatização sobre o funcionamento de uma Sociais e Humanas com o apoio da A25A com Assembleia Constituinte. cartazes, autocolantes, pins e cravos e com a Houve espaço para o relato de histórias ocor- participação dos militares de Abril, Luís Villas ridas na madrugada da Revolução por parte Boas, Piteira Santos, e o deputado constituinte, de Fernando Sousa. Houve também dois mo- João Moz Carrapa."

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Escolas têm primazia em Viana do Castelo

A COMISSÃO ORGANIZADORA continua a tosos, marcou-se presença na Escola EB 2,3 do apostar, e bem, no esclarecimento junto das es- Monte da Ola. colas, para falar e esclarecer sobre a importância Mas as comemorações contaram com muitas ou- que teve esta revolução da liberdade no estabe- tras iniciativas. Houve provas desportivas, que se lecimento da democracia no País, pondo um estenderam de 22 a 25 de Abril, na Cova, Meadela ponto final num regime cerceador de direitos e e Mazarefes, iniciativas sob a responsabilidade da garantias, enconchado na defesa de valores que o Associação de Moradores da Cova e da Associação Memórias mundo livre rejeitava e mantendo-se firme numa Social e Cultural da Casa do Povo de Mazarefes, guerra colonial que corroía lentamente a nação. com torneios de traquinas, de futebol de cinco Este ano foram visitadas 26 escolas do ensino e malha. No Viana Taurino Clube ocorreu uma básico e jardins-de-infância, de 18 a 22 de Abril, tertúlia, onde a poesia e a música de Abril esti- na primeira pessoa com a iniciativa “ABC de Abril”, tendo como base veram em superior destaque. Tratou-se de uma o texto de Matilde Rosa Araújo, “História de Uma iniciativa intimista, que deixou os presentes reco- REALIZOU-SE, NO DIA 23 DE ABRIL de 2016, Aérea, Victor Birne, militar da Marinha, e João flor”, uma produção do Teatro do Noroeste-CDV, nhecidamente satisfeitos e vibrantes pela partici- entre as 10 e as 13 horas, uma sessão evocativa Menino Vargas, militar do Exército. Poemas de com coordenação da actriz Raquel Amorim e pação. Simpática foi igualmente a Caminhada da do 25 de Abril promovida pela EMACO-Espaço Abril foram ditos por Ana Maria Patacho e Jor- que contou ainda com a participação do cantor Liberdade (uma iniciativa que se repete). “Percor- e Memória Associação Cultural de Oeiras e ge Castro. Dario, do Ativa Sénior e Enquanto Navegáva- rer , recuar no tempo, recordar Abril” é pela Associação 25 de Abril, com o apoio da Durante a sessão foram projectadas fotografias mos. Segundo a organização, um êxito comple- o lema. Foram visitados e recordados 26 lugares, Câmara Municipal de Oeiras que, para o efei- da autoria de José Carlos Nascimento. to, pela participação e alegria dos alunos e, ainda entre instituições (pró regime e anti-regime) e an- to, cedeu o Auditório César Batalha, sito nas As intervenções de cada um dos membros da pela preparação feita pelos professores, daí que tigas residências de antifascistas. Galerias Alto da Barra em Oeiras. Foi cumpri- mesa redonda que foram sendo suscitadas pe- seja uma iniciativa a repetir em comemorações E não faltou a festa. Sim, porque a Revolução de do o programa delineado: abertura: Evocação las perguntas que o moderador lhes colocou – futuras. Ainda junto das escolas, para falar da Abril é mesmo para festejar. Na noite de 24 de de Abril, por João Sobral (voz) e Walter Lopes “como viveu o ou participou no 25 de Abril?” e Revolução de Abril, com o contributo do capitão Abril, houve o espectáculo da Praça da República, (guitarra clássica); mesa redonda, moderada “Como projecta o 25 de Abril nos dias de hoje?” de Abril, almirante Martins Guerreiro, houve vi- “A liberdade vai passar por aqui”. Contou com a por Martins Guerreiro, com a participação – evidenciaram a importância da acção indivi- sitas às Escolas Secundárias de Monserrate e de participação do Grupo de Fados, com Rui Cunha, de: José Carlos Nascimento, fotógrafo, Antó- dual no contexto da acção colectiva, dando ins- Lanheses e, com a presença do alferes miliciano Francisco Vieira e João Martins, um apontamen- nio Borges Coelho, historiador, Carlos Costa, piração para se actuar no presente. Fernando Sottomaior, que comandava a unidade to do Teatro do Noroeste-CDV, “A revolução professor, Nuno Santos Silva, militar da Força de carros de combate do regime contra os revol- hoje”, momento musical, pelo Agrupamento de

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Escolas de Monserrate e ainda fogo-de-artifício. A tora, de Rui Viana, e, pela Associação 25 de Abril, progresso. O Portugal que assentava no regime uma entidade sem reputação, como a querer de- noite fechou com o DJ Zeze (ex-Viana Sol). do coronel Antero Ribeiro da Silva, presidente da salazarista, pela sua condição de enquistamento e monstrar que o pouco dinheiro que os cidadãos No dia 25 de Abril, dia especial, aniversário do dia Direcção da Delegação do Norte da referida Asso- atrofia, porque fechado em conceitos colonialistas poupados vão juntando deve ser acomodado no de todos os sonhos, a cidade tornou-se ruidosa, ciação. Como complemento, um momento mu- retrógrados, estava condenado a desaparecer de colchão da cama. com uma alvorada foguetada, a que se seguiu sical e poético, preenchido pelo jovem vianense uma ou outra forma, tanto mais que, felizmente, Mal vai um país que não apresenta instituições fi- um tempo animado pelo Grupo de Bombos de Sérgio Carvalhosa, na música e pela professora não faltava quem se batesse por tal. nanceiras com credibilidade, para bem do seu fo- S. Sebastião a percorrer várias artérias da cidade, Eunice Afonso, na poesia. Mas bem longe está o País das expectativas que mento, procurando uma trajectória de progresso anunciando o dia festivo. Contudo em dia de fes- Abril teve o seu término comemorativo com um lhe foram criadas com esta revolução. Não chega e bem-estar. Está doente um país que acolhe no ta também há tempo para expressar sentimentos espectáculo na Praça da República “Viver com a sua evolução quase que natural com o caminhar seu seio bancos de rapina, apostados em negócios por quem se bateu pela liberdade. Foi assim que Abril”, apresentado pela Raquel Amorim, que faz no tempo. Aliás, a Nação confronta-se com pro- sórdidos para alimentar famílias e amigos ociosos se verificou uma romagem ao cemitério munici- parte da Voz da Tribo do CCAM e da direcção do blemas demasiado sérios, não permitindo sereni- e jactantes. Mas também muito mal vai a socie- pal, para recordar todos os que lutaram pela liber- CDV, que contou com a participação do Grupo dade e aberta confiança no futuro. A conjuntura dade em geral que aceita esta inversão de valores, dade, onde foi cumprido um minuto de silêncio. “DIXIE” da Zé Pedro Associação Cultural, dos a que se chegou, se resulta de más opções adop- quase sem se queixar. No Portugal de Abril isto A coroa de flores foi colocada por Emília Freitas, Grupos Folclóricos da Casa do Povo de Anha e de tadas por parte de quem nos governou, assenta não pode ser tolerado. A melhor forma de come- viúva de António Freitas, um antifascista de Via- Viana do Castelo e da Orquestra Popular Sopro também num laxismo inaceitável da sociedade, morar e respeitar Abril é trabalhar sem tréguas na do Castelo. No tradicional almoço comemora- de Cordas de Outeiro. que foi tolerando desmandos que nunca deve- por uma sociedade mais limpa e mais decente. tivo da data, na Escola Secundária de Monserrate, Pois, e não faltou a habitual distribuição de cra- riam ter sido permitidos, postura contraditória, Não há sociedades perfeitas, mas a que vivemos com cerca de uma centena de amantes da liber- vos e autocolantes, porque a revolução de Abril é aliás, com a liberdade de intervenção e de crítica acolhe demasiada podridão no seu seio. dade, também os partidos se fizeram representar: bem digna de todas as comemorações e de todas conquistada em 25 de Abril de 1974. PS (José Maria Costa), PSD (Ana Palhares), PCP as homenagens. Não é só a dívida astronómica contraída, e prati- (Ilda Figueiredo) e BE (Francisco Vaz). Interven- camente impagável, dado o baixo nível do nosso ções, obrigatórias, houve, pela Comissão Promo- PJ crescimento económico, mas é muito mais a for- ma como a sociedade está estruturada, onde im- pera a imoralidade e a falta de respeito por valores que se deveriam considerar sagrados. O que acon- tece com a banca em Portugal, a demonstrar em Aprofundar Abril cada dia que passa uma situação de quase falência generalizada, com custos incalculáveis para os contribuintes é a melhor demostração da falta de Rui viana escrúpulos que reina em boa parte da sociedade. Só o BPN, o BPP e o Banif já custaram ao erário ESTAMOS A VIVER e a comemorar o 42.º ani- do Estado Novo, assente num regime cerceador público cerca de 8,5 mil milhões de euros, e ainda versário da Revolução do 25 de Abril de 1974. de todo o tipo de liberdades, obstáculo poderoso a procissão vai no adro. Falta ainda saber o que Não vale a pena repetir a importância que para os ao progresso de que sempre fomos credores, es- resulta do BES e de outros bancos de que se fala portugueses teve esta ocorrência progressista no tava praticamente nas antípodas do Portugal de menos. Esta banca, que nas décadas de 1980/90 País. Sobre o assunto já muito se falou e escre- hoje, escorado em conceitos de livre escolha, de ganhou somas incontáveis de dinheiro, que não veu, sempre na conclusão óbvia de que o Portugal direitos generalizados e de satisfatórios índices de se sabe onde foi parar, apresenta-se hoje como

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Comemorações em S. Paulo

Como foi o dia 25 de Abril? sidade e alegria da participação. Foi um dia de grande tensão e expectativa para os Impulsionados por valores éticos e morais, por participantes até ao arranque das operações. Foi uma questão de dignidade das Forças Armadas e A Identidade Nacional com algumas interrogações e forte expectativa do País, fizemos acontecer um dos dias mais extra- que aguardámos os sinais radiofónicos: E Depois ordinários da História Portuguesa, o dia inteiro e do Adeus de Paulo de Carvalho e Grândola Vila límpido na voz da poetisa Sofia de Melo Breyner. 25 de Abril Morena de Zeca Afonso. A guerra colonial imposta por mais de treze anos e o Posta em marcha a acção, sem possibilidade de aos povos português e africanos, tornaram claro recuo, efectuaram-se alguns contactos de última a muitos militares que o poder político totalitário martins guerreiro hora e cada um tratou de fazer e cumprir o que tinha de ser derrubado para se construir em Por- previamente havia sido combinado. tugal um regime democrático de liberdade, paz e PORTUGAL FOI CONSTRUÇÃO dos Homens, Os acontecimentos de 5 de Outubro de 1910 e 25 Apesar da resistência e das tentativas da PIDE/ esperança; para o País ser respeitado entre iguais. não resultou de factores étnicos ou culturais. de Abril de 1974 são de dimensão nacional, resul- DGS para sobreviver, verificámos com alguma Milhões de portugueses e nacionalistas africanos Os factores político e militar foram determinan- tam da iniciativa de militares. surpresa o desnorte do poder estabelecido, a de- pagaram um preço elevadíssimo por isso. Muitas tes na criação do País e na constituição da Identi- São evocados pela nossa memória colectiva como sorientação e incapacidade de se reorganizar de- centenas de milhar sofreram e sofrem ainda os dade Nacional. A identidade portuguesa constrói- constituintes da nossa identidade. São da Nação pois de ter falhado a sua tentativa de resposta. efeitos directos e indirectos da guerra. -se ao longo da nossa História, o mar, a língua e a no seu conjunto. A adesão popular espontânea acabou por ser Portugal contribuiu de novo para a História dos cultura são elementos essenciais No caso do 25 de Abril a apropriação pelo povo e um elemento importante, mostrou a fraqueza povos e dos regimes políticos, Portugal reocupou A classe ou classes dirigentes portuguesas, a sua integração no imaginário nacional são ime- do regime, retirando-lhe qualquer veleidade o seu lugar no concerto mundial. economicamente débeis, são historicamente diatos, claros e generalizados. de resistência. O 25 de Abril fez história em Portugal e Portugal dependentes do Estado. Por força das circuns- O 25 de Abril é o momento luminoso da Os próprios militares que integravam as forças fez história no mundo com o 25 de Abril. tâncias os militares foram muitas vezes chama- nossa História. mobilizadas contra o MFA, na Praça do Comér- O 25 de Abril foi o precursor da terceira vaga de dos a intervir na vida política do País e a iniciar A imagem de Portugal muda muito rapidamen- cio, recusaram-se a disparar, evitando assim um Democratização na Europa e na América Latina. alterações profundas. te, os nossos emigrantes passam a sentir orgulho confronto militar de consequências muito graves. Quebrámos os laços e as cadeias de um regime de ser portugueses, o que antes não acontecia. O 25 de Abril transformou-se rapidamente opressor que reduzia os portugueses a um estatu- Em 25 de Abril de 1974 afirmou-se uma ideia cla- num dia de enorme alegria e espontaneidade to de menoridade cívica; que cerceava as liberda- ra e uma vontade de outro Portugal. popular, o Dia da Liberdade, o dia dos cravos des; que nos colocava numa posição humilhante Hoje é incontestável que essa ideia é uma ideia nas espingardas. no nosso país e nos países para onde emigráva- fundadora da Democracia instaurada pelos mili- Ficámos com a ilusão que tinha sido fácil derru- mos à procura de uma vida melhor. tares em 25 de Abril e plasmada, na sua melhor bar o regime ditatorial, que seria fácil construir Recuperámos a dignidade do País e das pessoas flor, a Constituição de 1976, que acabou de cele- uma Democracia participada e com igualdade de enquanto cidadãos, devolvemos-lhes a capacida- brar o 40.º aniversário. oportunidades para todos. de de decisão e escolha, instaurámos no País um Portugal e os portugueses apareceram aos olhos Todos os sonhos foram possíveis e legítimos. regime democrático. da Europa e do Mundo como algo de excepcional Podemos dizer que até ao 1.º de Maio de 1974 Em dois anos, 1975 e 1976, estava elaborada e e inédito. Portugal foi governado pelo sonho, pela genero- aprovada a Constituição da República, foram

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eleitos todos os órgãos do Poder Democrático, cos virtuais, das empresas fantasma. expressões, derrubar barreiras sociais, econó- incluindo o Poder Autárquico. A dívida está a ser usada pelo poder financei- micas e partidárias. Ainda que com atraso edificámos um Estado Re- ro como máquina de captura da sociedade e Num país democrático espera-se que cada cidadão publicano de matriz social. da democracia. faça a sua parte, exerça os seus direitos, respeite os Hoje, de novo, há portugueses que emigram às Esse poder está fora do sistema democrático, es- seus deveres e assuma as suas responsabilidades centenas de milhar, muitos outros têm medo de capa a qualquer controlo dos cidadãos. sem hesitações, espera-se que não desista da de- perder o emprego mesmo que precário. A democracia nas suas várias formas tem vindo mocracia, que saiba lutar pelos seus valores. Felizmente existem muitos portugueses que as- a regredir nos últimos anos sob a pressão desse Devemos isso a nós próprios, aos que sofreram similaram os valores de Abril e da Democracia e poder não democrático – adorador do deus mer- e se sacrificaram para que a liberdade fosse pos- que recentemente, através de eleições, forçaram a cado – que coloca os países e os cidadãos em pri- sível; devemos isso aos mais desfavorecidos, às mudança do ciclo político. são domiciliária, de que muitos escapam pela via crianças e aos jovens; à dignidade de cada um e Não podemos, no entanto, ficar tranquilos dolorosa da emigração. aos Direitos Humanos de todos. ou descansados. O contrato social estabelecido entre o Estado e os Celebrar Abril e os seus valores é participar, dar Os tempos são de muita preocupação e luta. cidadãos é frequentemente violado. força à cidadania, exercê-la plenamente, romper Passados 42 anos sobre o 25 de Abril, o neo- A crise que vivemos tem de ser resolvida com as barreiras de submissão, da indiferença, da de- liberalismo, expressão política do capitalismo mais democracia e com o exemplo positivo que sigualdade ou das cercas partidárias. financeiro especulativo, procura controlar o tem de vir de cima, sob pena do renascimento Hoje, como ontem, Abril significa Liberdade, De- poder político, fomenta o individualismo e a das condições propícias aos regimes autoritários. mocracia, Cidadania e Dignidade. indiferença, estimula a emigração em massa, O 25 de Abril abriu as portas da Liberdade, Significa melhores condições de vida e de desmantela o Estado, facilita a captura das ins- da Cidadania, da Dignidade, do Direito a ser- trabalho para todos. tituições e da democracia. mos felizes no nosso País. Significa respeito pelos Direitos Humanos e Hoje a guerra não é conduzida a pretexto dos “ter- A cidadania tem de ser exercida em pleno, sua universalidade. ritórios ultramarinos”. As razões económicas não dentro ou fora do País, sem desfalecimentos Aproveitemos o momento presente de crise e de se exprimem por uma ideologia nacionalista e ou desesperos. perda de valores das elites para construirmos um saudosista do império, exprimem-se sim por um Cada cidadão tem de ocupar o seu espaço de mundo melhor, menos desigual e violento, um primarismo neoliberal, inimigo do bem comum, liberdade e participação nas decisões que lhe mundo de liberdade e democracia para afirmar do serviço público e da dedicação à comunidade. dizem respeito em particular e nos dizem res- uma identidade universalista e solidária. Hoje em Portugal e muitos outros países o instru- peito em geral. Os valores de Abril são intemporais, estão in- mento de guerra e de domínio é a Dívida Pública. Claro que no caso português não podemos fazer tactos, mantém todo o seu potencial. A generalidade dos portugueses está a sofrer e tudo em Portugal, a solução também passa pela Abril não é apenas passado. É presente e futuro. pagar os efeitos desta guerra iniciada em 2008. Europa e pelo mundo, a diáspora pode dar um É garantia de Democracia e de Solidariedade. Paralelamente cresceu a corrupção, a evasão fis- valioso contributo. cal e a fraude fiscal de quem têm influência po- Porém, o nosso trabalho ninguém o fará por nós! lítica e económica, cresceu a economia virtual do Temos de promover a cidadania, saber dar sistema financeiro ilegal, dos off-shores, dos ban- forma à nossa insatisfação, encontrar novas

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Assim escreveu o deputado constitucionalista Ma- aceitaram partilhar “lembranças de 2 de Abril A25A homenageia nuel Alegre ao fixar o prâmbulo da Constituição. de 1976 e outros propósitos” (ver texto nas pá- Quarenta anos passados, a A25A, com o patro- ginas seguintes). Vasco Lourenço representou cínio do presidente da Assembleia da Repúbli- a A25A cabendo-lhe acolher os convidados pre- ca, Eduardo Ferro Rodrigues, promoveu uma sentes em elevado número, entre os quais se deputados constituintes sessão comemorativa da aprovação da Lei Fun- destacavam outros deputados constituintes: damental, dia 2 de Abril de 2016, no anfiteatro Manuel Alegre, João Gomes e Rui Cunha (PS), do Edifício Novo, para homenagear os depu- e Carlos Brito (PCP). “A 25 DE ABRIL DE 1974, o Movimento das A Assembleia Constituinte afirma a decisão do tados constituintes e exaltar a gesta da Cons- Forças Armadas, coroando a longa resistência povo português de defender a independência tituição, iniciativa a que se associou também Jorge Lacão: ideais de Abril continuam do povo português e interpretando os seus senti- nacional, de garantir os direitos fundamentais o Presidente da República, Marcelo Rebelo de na Constituição mentos profundos, derrubou o regime fascista. dos cidadãos, de estabelecer os princípios ba- Sousa, através de uma mensagem que enten- Coube ao vice-presidente da Assembleia da Re- Libertar Portugal da ditadura, da opressão e do silares da democracia, de assegurar o primado deu dirigir à A25A (ver caixa). pública a intervenção de abertura. Jorge Lacão colonialismo representou uma transformação do Estado de Direito democrático e de abrir ca- A sessão foi presidida pelo vice-presidente da começou por recordar o presidente da Assem- revolucionária e o início de uma viragem histó- minho para uma sociedade socialista, no res- Assembleia da República, Jorge Lacão, em bleia Constituinte, Henrique de Barros, “as rica da sociedade portuguesa. peito da vontade do povo português, tendo em representação do presidente Eduardo Ferro constituições valem na medida em que não fo- A Revolução restituiu aos Portugueses os direitos vista a construção de um país mais livre, mais Rodrigues e contou com a participação dos de- rem efémeras”, considerando que a “prova do e liberdades fundamentais. No exercício destes justo e mais fraterno. putados constituintes Afonso Dias (UDP), He- tempo passa e as constituições resistem” mé- direitos e liberdades, os legítimos representantes A Assembleia Constituinte, reunida na sessão lena Roseta (PPD), José Pedro Soares (PCP), rito que atribuiu aos deputados constituintes. do povo reúnem-se para elaborar uma Constitui- plenária de 2 de Abril de 1976, aprova e decreta Levy Baptista (MDP/CDE), Maria Helena Car- Segundo Jorge Lacão “a Constituição de 1976 ção que corresponde às aspirações do País. a (…) Constituição da República Portuguesa.” valho Santos (PS), Mota Amaral (PPD), que é aquela que maior longevidade já demons-

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Abril continuam presentes na Constituição da República, circunstância que permite afir- mar, 40 anos depois, o 25 de Abril continua a valer a pena.

Vasco Lourenço: militares de Abril tam- bém foram constituintes No uso da palavra, o presidente da Direcção da A25A agradeceu a presença dos deputados constituintes e recordou o tempo histórico em que, como membro da Comissão do Conselho Manuel Alegre (PS) e Mota Amaral (PPD), com Vasco Lourenço da Revolução, negociou com os partidos polí- ticos o Pacto MFA/Partidos, circunstância es- pecial em razão da qual se apresentava ali tam- bém como constituinte. “Sim, constituinte! Não deputado da Assem- bleia Constituinte, mas como membro da Levy Baptista (MDP/CDE), José Pedro Soares (PCP), Maria Helena, Carvalho Santos (PS), Vasco Lourenço, Jorge Lacão, Mota Comissão do Conselho da Revolução que, em Amaral (PPD), Helena Roseta (PPD) e Afonso Dias (UDP) nome do MFA, negociou com os partidos polí- ticos o Pacto MFA / Partidos. trou”, comparando com a do regime anterior, da separação de poderes. Poderá parecer-vos estranho e ousado este as- é também “a mais consolidada de toda a histó- Jorge Lacão disse, ainda, que a longevidade da sumir da qualidade de constituinte, mas tendo ria do constitucionalismo português”. A razão ordem constitucional resulta dos actos eleito- em consideração que o referido Pacto foi inclu- para tal perenidade encontra-a Jorge Lacão “na rais fidedignos sem nunca terem sido objecto ído na Constituição, sendo mesmo responsável João Gomes (PS) matriz originária que trouxe consigo esse mo- de rejeição popular, na justa medida em que por muito do seu conteúdo – basta lembrar que numento de perenidade” ao adicionar ao poder remanescem de processos sempre autênticos. todo o esquema da estrutura do poder político da legitimidade revolucionária, o poder da le- E destacou o mecanismo de revisão – poder estava definida no Pacto aprovado – parece-me gitimidade democrática. Circunstância, subli- constituinte derivado – como elemento de lon- da mais elementar justiça que nos considere- nhou, para o que concorreram os militares de gevidade da Constituição que foi produzindo mos constituintes. Recordo que, além do Melo Abril também eles com funções contituintes. alterações sem desfigurar a matriz inicial: ex- Antunes e do Vitor Alves já falecidos, ainda es- A alternância democrática, segundo Jorge La- tinção do Conselho da Revolução e criação do tamos vivos o Ramalho Eanes, o Martins Guer- cão, é também factor que muito contribuiu Tribunal Constitucional; abertura ao sistema reiro e eu próprio. Admito que os políticos e os para que a Constituição ela própria se presti- económico pondo termo ao princípio da irre- partidos não olhem para esta opinião com sim- giasse: “Ainda hoje a Constituição é uma ma- versibilidade das nacionalizações, adaptação patia – já nos habituámos há muito a encarar triz fiel do sistema semi-presidencialista” pelo aos tratados da União Europeia, aprofunda- a desconsideração a que os militares de Abril equilíbrio e balança muito adequada entre as mento das autonomias administrativas. são normalmente sujeitos no que se refere ao competências do Presidente da República, As- O vice-presidente da Assembleia da Repúbli- seu papel em todo o processo da Revolução dos sembleia da República e Governo, e o princípio ca concluiu dizendo que os ideais do 25 de Cravos, nomeadamente o papel do Conselho Carlos Brito (PCP)

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Jorge Lacão, vice-presidente da Assembleia da República: “Ainda hoje a Constituição é uma matriz fiel do sistema Vasco Lourenço quando justificava a homenagem aos Rui Cunha (PS) semi-presidencialista” obreiros da Constituição da Revolução como órgão de soberania consti- como representantes dos "Capitães" de Abril, a A25A evocar aqui, na Casa da Democracia, o Coube ao jornalista Adelino Gomes a apre- tucional – mas, desculpem-nos lá, nós assumi- que fizeram o 25 de Abril e, na sequência do nascimento da Constituição que importa con- sentação da sessão e a moderação dos depu- mos, aqui e agora, a nossa qualidade de consti- mesmo, criaram condições, muitas vezes ten- tinuar a defender na plenitude de definição de tados constituintes, presentes na mesa, com tuintes, nem que seja a título honorário!...” do de ultrapassar enormes dificuldades, para uma sociedade mais livre, justa e solidária. testemunhos e memórias que desfiaram so- Após agradecer o contributo de todos os inter- que uma Constituição fosse aprovada livre- “Fazemo-lo conscientes de que foi precisa- bre os trabalhos da Assembleia Constituinte, venientes na sessão, Vasco Lourenço justificou mente por uma assembleia resultante de elei- mente o cumprimento da Constituição, com os quais haveriam de ser contextualizados pe- a iniciativa da A25A em organizar a sessão. ções livres, não resistimos a olhar para a Cons- a prática da Democracia, que nos permitiu la visão de Maria Inácia Rezola, no enfoque “Sabendo da ausência de qualquer iniciativa tituição da República Portuguesa, aprovada em interromper e pôr cobro – confiemos que pa- que fez do papel das comissões especializadas específica da Assembleia da República para, 2 de Abril de 1976, como a filha dilecta do 25 de ra sempre – a um período negro, onde os de- da Assembleia Constituinte. no dia de hoje em que se perfazem 40 anos Abril. Como uma filha dilecta nossa, portanto! tentores do poder tudo fizeram para violar os A sessão encerrou com um momento cultu- da aprovação da Constituição da República Por tudo isso, aqui está!” preceitos constitucionais.” ral: Maria do Céu Guerra leu poemas de Jor- Portuguesa, evocar esse evento, a Associação O presidente da Direcção da A25A conside- Considerando “que nada é definitivo e de que ge de Sena, “Luz”, e de Manuel Alegre “Abril 25 de Abril decidiu colmatar essa ausência. A rou, mais adiante, a Constituição da Repúbli- enorme será a luta para continuarmos a garan- sim, Abril não”, a quem chamou “poeta profe- imediata resposta positiva do senhor Presiden- ca Portuguesa como “a referência maior da tir o respeito pela Constituição e o seu integral ta de Abril”. Afonso Dias cantou Ramos Rosa te da AR é a prova evidente de que só razões Revolução dos Cravos e, porque materializa os cumprimento”, Vasco Lourenço concluiu: “A e Manuel Freire encheu a sala com António imponderáveis criaram esta situação. Aliás, valores do 25 de Abril, a sua natureza, as suas tarefa será difícil e complicada, mas acredi- Gedeão. como sabemos, a AR tem em marcha um pro- conquistas, os seus ideais e o seu projecto, é a tamos que dela sairemos vitoriosos! Porque, Caía o pano. Os testemunhos dos deputados grama comemorativo onde constam diversas garantia maior de resistência aos que tudo fa- não nos iludamos, a defesa da Constituição da constituintes tinham puxado a Constituição e importantes iniciativas. Mas porquê, poderá zem para tentar apagar esses valores da nossa República Portuguesa é parte do processo de para cima. Na moderação do tempo, Adelino perguntar-se, a A25A decidiu avançar com esta vida colectiva.” construção do futuro em que acreditamos e em Gomes deixara uma citação de Rui Ramos, no iniciativa? Desculpem-nos a insistência mas, Nada mais natural, prosseguiu, “a decisão de que nos empenhamos! “Observador”.

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Mensagem dirigida à sessão evocativa, organizada pela Associação 25 de Abril, a propósito dos 40 anos da Constituição da República

Maria do Céu Guerra Há evocações que se impõem por si próprias, tão evidentes são o seu mérito e a importância da pedagogia que sobre elas deve ser feita. É o que acontece com a evocação da Constituição da Re- pública Portuguesa, na passagem do seu quadragésimo aniversário. Recordar a Constituição que nos rege é sublinhar a matriz da nossa Democracia, do nosso Estado Social de Direito, da consagração de direitos fundamentais, que se não limitam a defender a pes- soa ou a sua participação política, também salvaguardam a justiça económica, social e cultural. É ainda valorizar a luta de quantos, antes do 25 de Abril de 1974, durante ele ou depois dele, tudo fizeram para afirmar os valores essenciais da Constituição. E esta memória vivida da Constituição vale, sobretudo, como vontade de construir o futuro. A Democracia não é, por definição, uma obra acabada, que dispense a sua pedagogia, dia a dia, a pen- sar tanto nos mais jovens, tantas vezes frustrados, como nos mais velhos, muitos deles desiludidos. Ora, a tarefa de recriar, permanentemente, a Democracia, é um desafio incessante e que a todos responsabiliza. Tenho a certeza de que a Associação 25 de Abril estará sempre na primeira linha da pedagogia Afonso Dias Manuel Freire sobre a Constituição e a Democracia. E é natural que assim seja. Coube aos jovens capitães de 1974, com a sua determinação e independência, abrir o caminho “O pior do processo constitucional foi a ten- go, defendendo o seu antigo papel de charneira para que a Constituição fosse uma realidade e a Democracia pudesse vir a ser o sonho concreti- dência para formatar os grandes debates polí- do regime. Ou seja, a Constituição continua a zado de milhões de portugueses. ticos em termos de uma ‘querela constitucio- ser simplesmente um tabuleiro de jogo para os Por esse instante fundador lhes está Portugal sempre grato! nal’, artificialmente desenhada: o PCP, que grandes partidos.” votou contra todas as revisões, faz de conta que Marcelo Rebelo de Sousa a Constituição é dele, e a direita, que a sujei- J.A.S. tou a todas as revisões, que não tem nada a ver com ela, enquanto, no meio, o PS guarda o jo-

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o que o Povo impunha. Tenho a honra de me é um universo em expansão, no nosso tempo, Lembranças ter levantado no dia da votação e não foi fácil a cada passo, há novos direitos em construção. conseguir esta decisão. Não iria alterar nada na Por exemplo: o binómino liberdade/segurança, 2 de abril de 1976 Constituição. Tratem que neste País não haja por um lado temos o acesso à informação, do de fome e que velhos continuem a morrer sozi- outro poderemos ter a devassa da vida priva- nhos em casa. da; o direito à inovação científica e tecnológica perante a necessidade da preservação e defesa e outros propósitos do ambiente. Onde há uma grande agressão há Helena Roseta (PPD) um direito que falta. Como nos mobilizamos, como desempatamos estes binómios? Na altura contava 27 anos. No dia anterior ao da votação da Constituição, o Grupo Parla- mentar do PPD confrontava-se com o facto de José Pedro Soares (PCP) a aprovação não recolher unanimidade. Pelo contrário, havia quem achasse, com Francis- Recordo a Constituição, o 25 de Abril sempre co Sá Carneiro, que o PPD devia presente, os trabalhos técnicos e o abster-se. Felizmente prevaleceu PAOD (Período Antes da Ordem a tese de se votar a favor. No dia do Dia) durante o qual se produ- seguinte, quando nos levantá- ziam importantes declarações mos todos, eu senti que o 25 de políticas. As intervenções acalo- Abril, pela segunda vez, estava radas do meu camarada Francis- a acontecer. Na Constituinte ti- co Miguel, nomeadamente uma ve um papel muito modesto com a quando atacou o regime do latifún- participação na redacção de dois artigos – 65.º dio e todos os deputados aplaudiram. Então, Afonso Dias (UDP) no momento preciso da aprovação da Consti- e 118.º – respectivamente, sobre o direito à ouviu-se uma voz do PCP: “ele cedeu alguma tuição. Para trás ficavam a Guerra Colonial e habitação e as organizações populares de ba- coisa à direita”. A Constituição está por cum- a tortura das prisões. Emergira o 25 de se. Trata-se de matérias onde muito está por prir na precaridade, em valores que têm de Entrara na Assembleia Constituinte, Abril e destapou-se a panela de onde fazer. A Constituição está viva, mas ainda não manter-se, no património histórico que não po- em substituição de Américo Duarte viu saltar uns diabinhos: o CDS não está cumprida. Não tenho visão de mudar ou de ser esquecido. Importa promover a discusão que, por sua vez, já substituira João aprovou a Constituição porque não alterar, há uma constituição económica não e ambientes sobre o conteúdo da democracia. Pulido Valente. Veste a pele de de- lhe agradava; para o PS e PPD se ca- escrita que se sobrepõe à Constituição Portu- putado, aos 25 anos de idade, num lhar era excessiva; quanto ao PCP e guesa. Estamos a viver um tempo em que isto tempo histórico imediatamente a UDP talvez fosse escassa. Contam-se não é possível, mas eu tenho o sonho de que os Levy Baptista (MDP/CDE) seguir ao cerco da Assembleia. O des- pelos dedos as disposições apresentadas povos europeus ponham cobro à constituição lumbramemento é enorme e atinge o climax pela UDP, mas a UDP não deixou de aprovar económica não escrita. O universo dos direitos Rocordo trabalhos em comissões onde nos de-

68 O REFERENCIAL O REFERENCIAL 69 40 ANOS DA CONSTITUIÇÃO

das eleições no dia 25 de Abril, que foram as mos bem. No Plenário não era assim. No dia Maria Helena Carvalho Mota Amaral (PPD) mais importantes da nossa história contem- 12 de Novembro de 1975, aquando do cerco à porânea, pelo facto de terem sido as primeiras Constituinte, tenho ideia de que ha- Santos (PS) A aprovação da Constituição abriu as onde os cidadãos exercerem pela primeira via um cerco ao Governo e não à portas da Democracia, concretizou o vez o direito de voto em plenitude. O Assmbleia. O PCP marcou esta Encontrava-me na Guarda grande sonho de muitos anos. Mui- que mudaria? Levava mais longe a au- ideia quando respondeu aos ope- a dar aulas, quando o 25 de to relevante foi o trabalho de grupo tonomia dos Açores e Madeira. Con- rários que já vinham da Praça de Abril rebentou. Na Rádio não de deputados dos partidos, que tra- siderando, ainda, que a prova dos re- Londres a manifestar-se contra o diziam nada sobre o que na balhavam até altas horas para nos gimes é a capacidade de resolver pro- Governo de Pinheiro de Azevedo. realidade se estava a passar. À conseguirmos entender. Tínhamos blemas do Povo, e quando diante de Lembro, também, o erro histórico tarde, a TVE já falava numa revo- de concretizar o mandato democrático! nós muitas carências ainda persistem, de o Estado Português ter reconhecido lução. Quando me apercebi que Vítor Envolvi-me muito nas questões sobre a auto- não podemos continuar satisfeitos, temos de tão tardiamente Angola como país indepen- Alves participava, fiquei mais tranquila. Ele nomia dos Açores e Madeira, razão pela qual estar inconformados sendo indispensável um dente, devia ter sido o primeiro, mas foi o 84.º tinha sido meu colega no liceu, estava ali a mi- o Artigo 7.º saiu-me da pena. Essa é a pegada sobressalto cívico, por exemplo, que nos leve a país a fazê-lo, um erro cujas consequências, nha gente… Com Miller Guerra apresentámos que deixei na Constituição. Considero, no en- resolver as dificuldades no emprego. ainda hoje, estamos a pagar. O que mudava na uma proposta na Assembleia para acabar com tanto, que não bastou fazer a Constituição: o Constituição? Não fazia nada, cumpria a que os filhos ilegítimos. José Magalhães Godinho importante foi o movimento de cidadãos que está. Sobre Angola: Angola não é nossa é dos fez um borrão da Constituição e foi sobre esse deram corpo aos organismos e demais meca- angolanos; deixem os angolanos resolver os esboço que trabalhámos. Haja ambiente para nismos previstos na própria Constituição. O seus problemas. cumprir a Constituição com trabalho político ano de 1976 foi fundamental com a realização a incorporar e privilegiar o esclarecimento pré- -constitucional. A Constituição precisa de ser cumprida, não de grandes alterações.

70 O REFERENCIAL O REFERENCIAL 71 GRATIDÃO A Pedro de Pezarat Correia

Referencial 1, 1985 Referencial 26, 1992 Referencial 58, 2000 Referencial 67, 2002 Referencial 100, 2010 Referencial 113, 2014 Referencial 120, 2016

ferência de poder, e o impõe em Portugal nos Pude acompanhar esse episódio, pois, tenente- O nosso “Referencial” tem novo director órgãos directivos do MFA. -coronel no activo, escrevi uma carta pessoal ao Sempre coerente, foi caricato e kafkiano ver os CEME, lamentando a sua atitude discrimina- ataques que no Verão de 1975 sofre à esquerda, tória e persecutória, fazendo a outro o que eu POR INICIATIVA DO ANTERIOR, que quis são inegociáveis, vejo no Pedro de Pezarat Cor- enquanto comandante da Região Militar do Sul, impedira que lhe fizessem a ele (na sequência ser substituído num clima normal, quando reia um caso que consegue ultrapassar-me. Não a mesma coerência que me fez ter enormes e fre- de iniciativa sua, junto de mim) e dizendo- ainda podia dar muito à revista de que foi direc- conheço exemplo mais rígido do cumprimento quentes discussões com “amigos” do PS que o -lhe que perdera por ele a pouca consideração tor durante 24 anos, a Direcção da A25A viu-se desses valores. O Pedro desmente, mesmo, a mi- acusavam de ser comunista. que ainda mantivera até aí (sintomaticamente, coagida a encontrar um substituto. nha máxima de que “todos os homens têm o seu Militar competentíssimo, depois de como ma- limitou-se a responder-me que “cada um tinha Gostaria de, em primeiro lugar, falar sobre Pe- preço, os honestos são à borla!” – além de tudo jor ter comandado exemplarmente a região mi- pelos outros a consideração que achava que de- dro de Pezarat Correia, não apenas como o di- isso, dizia, vejo no Pedro um dos meus melhores litar de Évora, desempenhou todos os cargos via ter”…). rector de “O Referencial”, mas também como e maiores Amigos. E, para mim, a Amizade é a de uma carreia militar normal (encontrei-o co- Estudioso em vários campos, onde a História militar de Abril e como Homem, maior das qualidades humanas… mandante dos exercícios do Exército, nos quais do 25 de Abril, nomeadamente a componente Avanço desde já com uma declaração de inte- Pois bem, o Pedro é um militar de Abril de todas participei depois de regressar ao activo) de uma referente a Angola, ocupa lugar primeiro, é , em resses: a minha isenção nessa abordagem será as horas – só a sua estadia em Angola, com a forma exemplar que não chegou para evitar so- meu entender, no campo da geo-estratégia que extraordinariamente difícil, dadas as enormes consequente ausência na então Metrópole, o im- frer o enxovalho do então CEME, Salazar Bra- Pezarat Correia mais se distingue. Amizade e Consideração que tenho para com o pediu de se envolver nas primeiras contestações. ga, que decidiu ultrapassá-lo na promoção a Serei parcial, mas como já várias vezes afirmei, alvo da minha prosa: de facto, para além de ter Mas, o facto é que, nas movimentações iniciais general, por um brigadeiro mais moderno. considero Pedro de Pezarat Correia o nosso uma enorme admiração e consideração para com em Angola aparece como um dos líderes, que Naturalmente, não aceitou, exigiu a sua passa- melhor especialista em geo-estratégia! o Pedro – costumo dizer, por exemplo que, con- se impôs e sobressai logo a seguir ao 25 de gem à reserva, ainda que o general conhecido Não vou alongar-me muito mais. Não quero siderando-me um perfeito exemplo de um cida- Abril. Com o importantíssimo papel que de- pelo “28 de Maio” lhe tivesse garantido que o que isto pareça um depoimento sobre alguém dão para quem a honestidade, a ética e os valores sempenhou em Angola, no processo da trans- próximo promovido seria ele… que nos deixou.

72 O REFERENCIAL O REFERENCIAL 73 GRATIDÃO A Pedro de Pezarat Correia

Isto, porque Pedro de Pezarat Correia deixa o Pedro, não é mais fácil dirigir um boletim o cargo de director de O Referencial, ao qual que se transformou numa revista de quali- tanto deu – e por isso a Direção lhe está pro- dade, como é “O Referencial”. É facto que fundamente grata – mas vai continuar a pres- tens uma óptima equipa, nomeadamente o tar-nos a sua colaboração. Desde logo, em “O editor José António Santos. Isto ajudar-te-á Referencial”, onde o desafio, a ele e ao novo certamente, pois é ele o grande suporte da director, para criar uma coluna especial. qualidade atingida. Mas, o papel do director Mas, acima de tudo como sócio da A25A. A é importante e, por isso, o nosso agradeci- começar no Conselho da Presidência. mento pela aceitação do cargo. Pois é, Pedro, este não é um abraço de despedi- Confiamos, a Direcção e eu próprio, nas tu- da. É um abraço de agradecimento (um grande, as qualidades, nas tuas capacidades, na tua enorme abraço amigo), mas de continuidade! militância de Abril. Contamos contigo! Estou certo de que não nos desiludirás! O Ao Manuel Martins Guerreiro, militar de teu passado fala por ti e é mais do que um Abril de todas as horas (da Armada, está selo de garantia! claro, mas também do MFA…) quero, antes Felicidade, que serão também as felicidades de mais agradecer o ter aceitado substituir o da A25A. Pedro de Pezarat Correia no lugar de direc- tor de “O Referencial”. Um grande abraço amigo, mim uma honra e sobretudo um enorme permitiram não só fazer o seu trabalho com Por dois motivos: não sendo fácil substituir Vasco Lourenço estímulo receber o “navio” a navegar a este elevada qualidade, como resolver questões e rumo com o elevado padrão de desempenho superar situações que surgem por vezes nu- e qualidade que foi conseguido por Pezarat ma revista como a nossa. Conseguiu sem- Correia e a equipa com que trabalhou. pre salvaguardar valores essenciais: liberda- Porque a tarefa não é fácil, é desafiante. de de expressão, equilíbrio, solidariedade e Porque sei que posso contar com o apoio da camaradagem que nos são muito caros. nos transmitiu ao longo de 24 anos em que Direção da A25A, a colaboração e saber da Sei que a fasquia está bastante alta devido Render de quarto foi Director da nossa revista. equipa de “O Referencial”, de muitos com- ao mérito de Pezarat Correia. Espero não Não estava no horizonte dos meus projec- panheiros e leitores. Porque sei que posso desiludir o meu antecessor nem os que em tos dirigir uma revista. Não sou especial- contar com a colaboração de Pezarat Correia mim confiaram. Martins guerreiro mente vocacionado para este tipo de tarefa. como nosso colunista. Desejo terminar o “quarto”, que será com O nosso companheiro general Pezarat Cor- Então porque aceitei? A duração do “quarto”do Pezarat Correia foi certeza de menor duração que o de Peza- reia entendeu que era tempo de entregar o Porque até hoje respondi sempre positiva- enorme, bastava isso para provar a sua per- rat Correia, com uma entrega semelhante à serviço de Director de “O Referencial”. mente às solicitações que me foram feitas severança, dedicação, grande capacidade de sua tranquila satisfação pelo dever cumpri- Na elaboração da nova escala de serviço to- e que considerei serem no sentido do bem trabalho e realização. do, pela manutenção da qualidade atingida, cou-me a mim a sorte de render este notável comum, do serviço público e do serviço aos Mas ao longo de todos estes anos Pezarat continuando um constante exercício de ci- camarada e receber a herança do saber, de- valores e princípios de Abril. Correia mostrou muito mais do que isso: dadania a caminho da dignificação da A25A, dicação, qualidade, firmeza e bom senso que Porque suceder ao Pezarat Correia é para mostrou inteligência, saber e tacto que lhe do 25 de Abril e de um país livre e solidário.

74 O REFERENCIAL O REFERENCIAL 75 GRATIDÃO A Pedro de Pezarat Correia

passado, lutaram para que a liberdade pu- dade portuguesa. Foi então que aconteceu Traços para o perfil de um cidadão ilustre desse ser viável em Portugal. o golpe militar do 11 de Março de 1975, que terminou com a derrota das forças spino- 3. Primeiros encontros listas e a fuga de Spínola para Espanha. O costa neves Não me lembro da data precisa em que co- episódio teve como consequência política nheci o então major Pedro de Pezarat Cor- imediata a criação do Conselho da Revo- 1. A razão por que escrevo estas linhas encontrava-se em Angola a cumprir uma reia. Creio que foi em Novembro de 1974, lução (CR). Pezarat Correia, republicano e HÁ POUCAS SEMANAS soube que o direc- comissão militar, situação que o impediu de em Luanda, aonde me tinha deslocado com democrata convicto, voltou a ser escolhido tor de “O Referencial”, major-general Pedro participar, como certamente idealizou, na o capitão Canto e Castro para debater lo- pelos seus pares do Exército para os repre- de Pezarat Correia, tinha decidido deixar o revolução dos cravos vermelhos. Para quem, calmente os acontecimentos relacionados sentar no novo órgão de soberania. cargo que exerce desde 1992. Como ele pró- como ele, tinha participado no processo de com o 28 de Setembro, designadamente a prio me afirmou, achou que tinha chegado formação do Movimento das Forças Arma- renúncia do general Spínola à Presidência 4. Democracia e liberdade, alicerces o momento de dar o lugar aos mais novos. das (MFA) desde a contestação ao "Congres- da República e a recomposição da Junta de duma boa amizade Disse-mo sorrindo, com a naturalidade e rea- so dos Combatentes", foi certamente uma Salvação Nacional. Pezarat Correia era, por Foi no Conselho da Revolução que tive a feliz lismo que o caracterizam, fazendo jus ao seu desilusão. Pezarat Correia acalentava desde escolha dos seus camaradas do MFA, um oportunidade de conviver de perto com Pe- feitio desprendido de vaidades e honrarias. muito novo o sonho de assistir à derrota final destacado membro da Comissão Coorde- zarat Correia. Viviam-se momentos difíceis Apesar de eu defender, por princípio, que da ditadura que, aos cinco anos de idade, lhe nadora do Programa em Angola (CCPA). onde as pessoas, civis e militares, revelavam em democracia não há homens imprescin- prendeu e deportou o pai, acusado de ter par- Lembro-me que ambos ficámos surpreendi- o melhor e o pior de si mesmas. Talvez por díveis, receei sinceramente que, conhecen- ticipado na revolta de 3 de Fevereiro de 1927, dos por sabermos que o homem afável, sim- isso tenha sido fácil construímos uma sólida do o excelente trabalho que Pezarat Correia no Porto, contra Salazar e o Estado Novo. A ples e comunicativo, que tínhamos acabado amizade. Estávamos ambos no epicentro de realizou ao longo de 24 anos à frente da re- dedicatória ao seu pai no livro de sua autoria de conhecer, trazia consigo uma brilhante uma situação político-militar e social muito vista da A25A, pudesse vir, neste caso, a não intitulado “Questionar Abril”, (1) fala por si: carreira militar com seis comissões acu- complexa em que se jogava o futuro do País ter razão. Porém, em abono da verdade, as A meu pai, António Joaquim Correia, ‘capi- muladas nos territórios coloniais, em zonas e da revolução. minhas inquietações relativamente ao fu- tão de Abril’ avant la lettre, que a morte im- operacionais tão diferentes como a Índia, A institucionalização do CR e da Assembleia turo de “O Referencial” dissiparam-se logo pediu de ver o 25 de Abril. E depois de uma Moçambique, Guiné e Angola! do MFA, em vez de acalmar os ânimos nas que conheci a identidade do seu sucessor, o curta evocação da revolta, termina, dizendo: Só voltei a cruzar-me com Pezarat Correia forças armadas, exacerbou-os. As lutas in- almirante Martins Guerreiro, a quem desejo Dois dias depois a revolta estava dominada já em Lisboa, nas instalações do Instituto de ternas pelo poder reacenderam-se e, Pezarat os maiores sucessos e saúdo com amizade. e, com mais uma centena dos seus cama- Defesa Nacional, durante uma Assembleia Correia, fiel aos seus princípios e conscien- Nas linhas que se seguem, procurarei fazer radas, o tenente António Joaquim Correia do MFA. Recém-regressado de Angola, ti- te dos perigos que ameaçavam a liberdade e um rápida incursão guiada pelo passado de era preso e, tempos depois, deportado para nha sido colocado no Gabinete do Chefe de a democracia prometidas pelo MFA no seu Pezarat Correia, para identificar alguns tra- Angola, situação em se manteve durante Estado-Maior do Exército, general Carlos programa, aderiu ao Grupo dos Nove. Pen- ços significativos que possam ajudar o leitor dois anos. Fabião. À época, a revolução estava no apo- sou ser essa a melhor solução para assegurar a compor ele próprio o perfil do cidadão e Aqui começou o meu 25 de Abril!.... geu e procurava enraizar-se na sociedade ao País a continuação da caminhada para o militar ilustre. Desta forma sóbria e elegante, onde se adi- portuguesa, ao mesmo ritmo que cresciam socialismo, a democracia e a paz. A crise dos vinha uma saudade contida, Pezarat Correia no MFA divergências político-ideológicas, nove terminou com uma remodelação do CR, 2. Antecipação do 25 de Abril de 1974 não só homenageia a memória de seu pai, que ameaçavam perigosamente a coesão favorável às tendências moderadas do MFA. Em 25 de Abril de 1974, Pezarat Correia como também a de todos daqueles que, no militar e, por contágio, a da própria socie- Apesar disso, a situação no seio das Forças

76 O REFERENCIAL O REFERENCIAL 77 GRATIDÃO A Pedro de Pezarat Correia

Armadas não acalmou e, em 25 de Novem- deduções menos correctas (3) vam pelo fim da guerra, uns na esperança de protagonista empenhado, as suas análises bro de 1975, deu-se uma nova confronta- Pezarat Correia recusava-se, por natureza e regressarem rapidamente à pátria sãos e sal- primam pela seriedade, objectividade, pro- ção entre militares, com contornos politi- honestidade intelectual, a aceitar respostas vos, os outros para desfrutarem da liberdade fundidade e rigor. Vale a pena ler o excerto camente complexos e, em parte, ainda por que não o satisfizessem completamente, conquistada. Urgia, por isso, negociar rapi- que se segue: Angola independente é bem esclarecer na totalidade. Pezarat Correia, mesmo quando sabia que estava a pôr em damente a cessação das hostilidades entre as o exemplo acabado de um pais que foi peão consciente de que a indisciplina, desorga- causa opiniões dominantes e politicamente forças armadas portuguesas e as delegações na disputa entre as superpotências duran- nização e deficiente comando das unidades correctas. dos movimentos de libertação. Pezarat Cor- te a guerra fria, que foi vítima do conflito militares, favorecia a propaganda e a cons- reia, graças aos seus atributos, foi nomeado regional na África Austral, promovido pelo piração contra-revolucionárias, não hesitou 5. Angola, uma paixão para preparar e participar nas negociações apartheid em luta pela sua sobrevivência, em condenar a acção militar conduzida por Julgo não exagerar se disser que Angola é com a UNITA e o MPLA, em 1974, e, Janeiro que foi sacrificado no altar das experiências forças pára-quedistas, na altura integradas uma das paixões de Pezarat Correia. Como de 1975, na Cimeira de Alvor. para impor no mundo uma pretensa “nova na Força Aérea. tantos outros, deixou-se enfeitiçar por essa Depois do regresso a Portugal e já membro ordem internacional”. Aos angolanos, desde No entanto, Pezarat Correia estava também terra distante, acolhedora e de gentes ma- do CR, Pezarat Correia recebeu a esperada a independência, ainda não lhes foi facul- preocupado com o avanço da direita e expres- ravilhosas, que tão bem conheceu nas suas notícia da promulgação da independência de tado o elementar direito de, serenamente, sou essa sua preocupação diversas vezes no andanças militares. Numa das suas obras Angola por Agostinho Neto, em 11 de Novem- pensarem e decidirem sobre o seu país.(7) CR: O Conselho da Revolução tem que se chamou-lhe, com fundamento, a jóia da co- bro de 1976. Faltava agora o reconhecimento reconstituir por forma a manter a direcção roa do império português. (4) Sobre ela es- oficial do novo país por Portugal. O Presiden- 6. Reforma agrária, uma causa justa política do processo revolucionário, […] por creveu: Com Angola arranquei para o 25 de te Costa Gomes, em 14 de Fevereiro de 1977, Logo após a revolução de Abril, as popula- forma a ficar bem marcado que as linhas po- Abril. E essa marca será para mim, sempre, resolveu auscultar o CR sobre o assunto, que ções camponesas do Alentejo iniciaram, com líticas do MFA e do Conselho da Revolução incontornável. Depois, através do meu em- o aconselhou a sondar outras entidades antes o apoio das correntes mais progressistas do se mantêm no caminho da Revolução. (2) penhamento no processo de descolonização de tomar a decisão final. No dia 18 seguin- MFA, um importante processo social de co- Convém acrescentar que Pezarat Correia iniciei uma actividade que influenciaria de- te, reuniu novamente o órgão para o ouvir lectivização e cooperativização sob o lema a nunca se sentiu completamente esclarecido cisivamente o rumo da minha vida. Fiquei formalmente sobre a questão. Havia três hi- terra a quem a trabalha. O diferendo entre de- sobre as motivações, preparação, execução e assim irreversivelmente ligado ao destino póteses: o reconhecimento sem restrições, o fensores e opositores da reforma agrária esta- cumplicidades, da conjura falhada do 25 de deste país e do seu povo. (5) reconhecimento com restrições e o não reco- va ao rubro e ameaçava a paz social na região Novembro e, por isso, alertou recorrentemen- Em 25 de Abril de 1974, Pezarat Correia nhecimento. Pezarat Correia fez uma lúcida quando Pezarat Correia foi chamado a inter- te o CR para a necessidade de se descobrirem encontrava-se na colónia, na zona militar e fundamentada intervenção a favor do reco- vir. Para o efeito, foi graduado em brigadeiro, os verdadeiros responsáveis pela respectiva leste, a cumprir a sua sexta comissão militar. nhecimento incondicional. Três dias depois, hoje major-general, e nomeado comandante planificação e direcção, única forma de se des- Profundo conhecedor da situação militar, o Chefe de Estado decidiu reconhecer, sem da Região Militar do Sul. cobrirem os verdadeiros beneficiários. Pezarat Correia sabia que logo após Portu- restrições, o governo de Angola. (6) Apesar de concordar com os princípios Mais tarde, perante os resultados da comis- gal ter reconhecido formalmente o direito A leitura dos trabalhos que Pezarat Correia que enformavam o movimento da reforma são de inquérito, Pezarat Correia conside- dos povos das colónias à autodeterminação e tem publicado sobre Angola é fundamen- agrária, não deixou de considerar que, pa- rou que o relatório apresentava conclusões independência, seria muito difícil prolongar tal para se compreender a complexidade do ra cumprir a missão, tinha necessidade de que podiam ser vistas pela opinião pública por muito tempo o esforço de guerra, a não respectivo processo de emancipação. Sem uma disciplina revolucionária no cumpri- como subjectivas por não assentarem em ser pontualmente e para assegurar a paz e nunca atraiçoar a sua própria visão ética, mento das leis da reforma agrária, não au- dados factuais sobre algumas entidades a segurança durante o período de transição. política e social dos acontecimentos de que torizando quaisquer ocupações, mesmo já mencionadas, o que pode levar o público a Dum lado e doutro da barricada, todos ansia- foi simultaneamente observador atento e consumadas, quando estas se [revestissem]

78 O REFERENCIAL O REFERENCIAL 79 GRATIDÃO A Pedro de Pezarat Correia

de comando oportunista e, portanto, não intelectual, negando-se a trilhar o caminho eficácia que todos lhe reconhecem. revolução de Abril, na descolonização e na [estivessem] inseridas no espírito da lei. (8) fácil e proveitoso da opinião politicamente Pezarat Correia é, por natureza, um ho- reforma agrária. Ser amante da liberdade No entanto, sabia também que, depois da correcta e alinhada pelo poder. mem independente e, como ele próprio foi o seu maior pecado. E, por isso, foi ul- sublevação falhada do 25 de Novembro, ti- Um exemplo o memorável é o artigo que es- reconhece, move-se mais à vontade no con- trapassado na lista de antiguidades por um nham-se intensificado os ataques contra as creveu sobre Paulo Portas, que foi censura- trapoder do que no poder. Talvez por isso militar mais moderno, sem culpa, é certo, conquistas da revolução, das quais a refor- do pelo “Diário de Notícias”, a propósito da nunca tenha sido um homem de partidos, mas também sem história. Numa atitude de ma agrária era uma das mais emblemáticas. guerra do Iraque. O título era Paulo Portas muito embora defenda que eles são uma grande dignidade, Pezarat Correia recusou- Este facto levou Pezarat Correia a intervir Ministro? Aqui deixo, para recordar, algu- exigência da própria democracia. Ou talvez -se a permanecer num Exército que trocava no CR, desta vez para pedir apoio à reforma mas curtas passagens: por não querer que a sua liberdade estorve competência por mediocridade e, por isso, agrária, nos termos da lei que actualmente Paulo Portas, enquanto ministro da Defe- a disciplina partidária. É crítico e um ad- passou à reserva. a contempla e das alterações que eventu- sa Nacional de anterior governo, mentiu versário temível, mas incapaz de desconsi- Pezarat Correia honrou até ao fim os perga- almente lhe seja necessário introduzir, e deliberadamente aos portugueses sobre a derar as opiniões alheias. A sua personali- minhos que os seus chefes rasgaram no ca- alertar para os riscos que a ameaçam, quer existência de armas de destruição maciça dade encontra-se espelhada na própria re- so da sua promoção. Fê-lo apaixonadamente decorrentes da ofensiva das forças que pre- no Iraque. […] A verdade é que Paulo Por- vista, que por sua vez ficou marcada pelos e com indesmentível valor, apesar de a guer- tendem a sua neutralização, quer dos erros tas, [….] declarou à comunicação social que seus desassombrados editoriais. ra não ser para ele uma inevitabilidade. Co- que na sua aplicação foram cometido. (9) ‘vira provas insofismáveis da existência de No seu primeiro editorial afirmou que a verda- mo dizia frequentemente, nunca a enjeitou, Como se o tivesse ouvido, a direita militar, armas de destruição maciça no Iraque’. […] de objectiva não tem nada a ver com tais subti- mas o seu grande orgulho foi ter contribuí- cada vez mais forte e confiante, conseguiu, E mentiu com dolo. […] Um político que usa lezas. Pugnaremos para que ela prevaleça. (11) do para lhe pôr termo em 25 de Abril. a pretexto do processo de estabilização das assim, fraudulentamente, o seu cargo de Es- E assim fez durante os anos que esteve à As forças armadas mandaram-no embora, forças armadas, que alguns conselheiros tado, não deve voltar a ser ministro. […] Co- frente de “O Referencial”. Sempre com sem sequer perceberem que, tal como Jor- fossem impedidos de desempenhar simul- mo militar participante no 25 de Abril, acto Abril na mente e no coração. ge de Sena disse um dia, o nosso mal, entre taneamente funções civis e militares. (10) fundador do regime democrático vigente, nós, não é sabermos pouco; é estarmos todos Pezarat Correia era um deles, pelo que teve sentir-me-ei traído. (10) 9. Últimos traços convencidos de que sabemos muito. Não é que interromper a missão e deixar o coman- Nem as chefias militares, nem os comen- Quem lê atentamente o currículo de Pezarat sermos pouco inteligentes; é andarmos con- do da Região Militar do Sul. Estava prestes a tadores encartados reagiram às acusações, Correia, não pode deixar de se interrogar so- vencidos de que o somos muito. (12) acabar o sonho da reforma agrária. mas o futuro encarregou-se de dar inteira bre os motivos que o impediram de atingir o razão a Pezarat Correia. posto de tenente-general do Exército portu- Notas: 7. O intelectual guês, o mais elevado da carreira militar. De (1) Pedro de Pezarat Correia, “Questionar Após ter deixado o serviço militar activo, Pe- 8. O director de “O Referencial” facto, é estranho que um profissional com Abril”, Editorial Caminho, Lisboa, 1994. zarat Correia dedicou-se ao estudo, à escri- Pedro de Pezarat Correia foi nomeado di- a invejável folha de serviços que prestou às (2) Acta do Conselho da Revolução de 3 de ta e ao ensino. A sua actividade intelectual rector da sua revista “O Referencial” no já Forças Armadas e à Nação não a tenha com- Dezembro de 1975. tem sido intensa. Foi professor convidado longínquo ano de 1992. A escolha para o pletado. (3) Acta do Conselho da Revolução de 19 de na Faculdade de Economia da Universidade cargo não podia ter sido mais acertada, na A resposta é simples. A direita militar nun- Janeiro de 1976. de Coimbra, escreveu livros, fez conferên- medida em que obedecia a todos os requi- ca lhe perdoou o facto de ser um homem (4) Pedro de Pezarat Correia, “Descolonização cias, interveio em debates. Como comenta- sitos fundamentais exigidos para exercer a de esquerda que pertenceu à oposição a Sa- de Angola - A Jóia da Coroa do Império Portu- dor político-militar tem-se evidenciado pela gestão cultural e técnica da revista. Desem- lazar e Caetano, que apoiou a candidatura guês”, Editorial Inquérito, Mem Martins, 1991. sua sabedoria e irrepreensível honestidade penhou-o até à data com a competência e de Humberto Delgado, que participou na (5) Pedro de Pezarat Correia, “Angola - Do

80 O REFERENCIAL O REFERENCIAL 81 GRATIDÃO A Pedro de Pezarat Correia

Alvor A Lusaka, p. 15, Hugin Editores, Lis- Julho de 1975. Vamos falar do general, comandante de ção sentida de todo um passado de lutas, de boa, 1996. (9) Acta do Conselho da Revolução de 9 de uma Região Militar, onde a aceleração do avanços e recuos, de vitória e derrotas, em (6) Comunicado: “Ouvido o Conselho da Re- Fevereiro de 1976. processo de transformação social era mais que ele sempre soube qual a direcção a to- volução e o Governo Provisório, o Chefe do (10) Do artigo censurado pelo “Diário de No- premente, e onde o seu bom senso foi a mar, ainda que isso lhe trouxesse a inimi- Estado da República Portuguesa, no exercí- tícias”, Junho de 2011-06-13, Estrolábio chave do sucesso de uma alteração pacífica, zade e ataques de alguns, até aí, se conside- cio da sua competência constitucional, de- (11) “O Referencial”, n.º 27, Abril a Junho contra ventos e marés? ravam aliados, quando não se intitulavam cidiu reconhecer o Governo da República 92/Ano 8. Vamos falar do elemento do informal, mas amigos. Popular de Angola”, 21 de Fevereiro de 1976. (12) Citação de Eugénio Lisboa, no prefácio não menos decisivo, Grupo dos Nove, que Pedro de Pezarat Correia pertence já à His- (7) Idem. de “Versos e Poesia de Jorge de Sena”, Arcá- contribuiu decisivamente, quer para travar tória, ainda que esteja bem vivo e a mexer, (8) Acta do Conselho da Revolução de 9 de dia e Moraes, 1979. a deriva populista que ameaçava subverter e esperemos que por muitos mais anos, a Democracia tão dificilmente conquistada, preenchidos como ele bem sabe fazer. Mas como o revanchismo que pretendia fazer vai sendo tempo de acabar com a tradição das conquistas de Abril tábua rasa? nacional de esperar por um acontecimento Vamos falar do professor, com obra feita, imprevisto ou funesto para prestar homena- divulgador das áreas da Estratégia e da His- gem a quem o merece todos os dias. tória recente, pondo-as ao alcance de todos, Até porque isso desvirtua qualquer home- e não apenas dos que, ciosamente, as que- nagem: em vez de um gesto carregado de rem guardar para si, deixando os cidadãos razão e sentimento, passa a ser uma espé- no labirinto da pesquisa, e com encargo de cie de obrigação, socialmente obrigatória, arrostar com as consequências de decisões politicamente correta – mas despida de para que não foram chamados? sentido real. Vamos falar do autor de cinco livros, que Pedro de Pezarat Correia deixa agora a di- qualquer biblioteca, pública ou privada, mi- recção de “O Referencial”. Mas não deixa o nimamente vocacionada para a História e nosso boletim, onde o seu legado pode ser víncias Ultramarinas? Saberão os actuais para a Política, não pode deixar de incluir medido, não por palavras, mas pela obra. A Gratos e orgulhosos formuladores de opinião, detentores da Ver- nas suas estantes? transformação de “O Referencial” pode ser dade, o que é que isto significa? Pedro de Pezarat Correia é tudo isto. E pa- avaliada, tanto no aspecto gráfico como no Vamos falar do militar de Abril, de um da- ra nós, Associação 25 de Abril é também o conteúdo, pela simples comparação com os nuno santa clara queles que puseram o pescoço no cepo, para associado activo, militante e participante números mais antigos. que Portugal saísse da cauda da Europa, do nos seus órgãos sociais, e director de “O Não é tarefa fácil gerir o nosso boletim. Por FALAR DE Pedro de Pezarat Correia consti- orgulhosamente sós, de integrar a reserva Referencial”, o nosso boletim, elo de liga- um lado, temos a natural preguiça, típica da tui um desafio. mundial das ditaduras jurássicas, do beco ção entre todos os associados, e o principal idade dos que tinham à volta de trinta anos Vamos falar de quem? sem saída da Guerra Colonial? meio de divulgação da nossa maneira de em 1974, combinada com uma certa retrac- Do militar, da sua formação de origem, Vamos falar do conselheiro da Revolução, estar no mundo. ção. Não são muitos os que gostam de se pôr daquele militar profissional, com seis co- guardião dos princípios que nortearam a É também difícil falar dele com objectivida- em bicos de pés, para dizer “estive ali”, ou missões cumpridas, de dois anos cada, nas Revolução dos Cravos, e precisamente dos de, sem a interferência (benéfica) daquele “fiz isto e aquilo”. Colónias, entretanto rebaptizadas de Pro- cravos, e não das balas? sentimento de camaradagem, de recorda- Só que demasiada modéstia é vaidade, e

82 O REFERENCIAL O REFERENCIAL 83 GRATIDÃO A Pedro de Pezarat Correia

quem sofre com isso é a História, que pela sada em Democracia vivida, até turbulenta, melhorar a apresentação gráfica mudando ro para enviar para a tipografia. Nunca tive dura lei da vida vai perdendo testemunhos tenha deixado as suas marcas. de tipografia e a qualidade do papel da ca- a menor pretensão de introduzir algo mais insubstituíveis. Mas nada disso teria efeito, se não fosse a pa e da contracapa, o que permitiu desde do que isso. Por outro lado, coordenar uma publicação sólida base do cidadão e militar. logo publicar algumas serigrafias de artis- E foi com grande alívio que passei a pas- implica escolher o que publicar; ou seja, dei- De tudo beneficiou a Associação 25 de Abril, tas consócios da A25A, de que gostaria des- ta ao meu sucessor, o coronel Rosário Si- xar alguém de fora, por um critério que, co- quer na sua vida associativa, quer na sua tacar os nomes de Carlos Rafael e de João mões, que logo após um ano a passou de mo todos sabemos, é subjectivo e discutível. projeção para o exterior, quer ainda na área Luís, nome artístico do coronel Pereira de novo ao general Pezarat Correia. E final- E aqui transparece a capacidade de consenso específica de “O Referencial”. Castro. O número de páginas cresceu pou- mente foi encontrado quem transformou o e equilíbrio do director cessante: não se co- Por este conjunto de contributos, não po- co, entre oito e vinte e oito. Os conteúdos modesto boletim numa verdadeira revista, nhecem conflitos nesta área. demos deixar de estar gratos a Pedro de mantiveram-se semelhantes ao que vinha apreciada não só pela sua qualidade gráfi- Talvez porque a longa e dura escola da trans- Pezarat Correia, e orgulhosos da sua pre- de trás: publicava-se o que a Direcção da ca como sobretudo pelos seus conteúdos, formação de Portugal, de ditadura esclero- sença entre nós. A25A desejava dar a conhecer aos associa- resultantes da diversificada colaboração de dos e o que estes enviavam voluntariamen- grande qualidade obtida através da arte e te para publicação. A elaboração dos núme- engenho do seu ex-Director. ros era muito simples; o então secretário Ao novo Director desejo unicamente as da Direcção, o saudoso capitão Olivença, maiores felicidades no seu novo encargo e testemunho de um ex-director recordando fornecia tudo o que havia para publicar e que saiba manter o elevado nível alcançado De modesto boletim brevemente como era o boletim que teve de limitava-me a compor a maquete do núme- sob a direcção de Pezarat Correia. preparar entre Setembro de 1987 e Dezem- a verdadeira revista bro de 1990, com a interrupção do número 19, dirigido pelo malogrado coronel Sacra- joão falcão de campos mento Marques. O contraste entre o que foi e o que é actualmente “O Referencial” APÓS 24 ANOS E 95 NÚMEROS de “O Re- são uma prova evidente do mérito do ex- pelha a riqueza da obra. Estaria assim tudo ferencial”, o seu director Pedro de Pezarat -director Pezarat Correia. Um director maior dito? De facto, não está! Correia passou o testemunho ao novo di- Ao entrar na Direcção da A25A coube-me Ao longo de praticamente um quarto de sé- rector Martins Guerreiro. Pesada herança a direcção do boletim sem que para isso culo, o que em termos da edição de “O Re- para quem quer que assumisse a sua di- tivesse particular apetência ou capacidade. josé antónio santos ferencial” representa mais de dois terços da recção e queira manter o elevado nível de O boletim que tinha sido dirigido nos pri- sua existência, muitas mudanças ocorreram, qualidade atingido pela revista da A25A, meiros oito números pelo coronel Ribeiro O TRABALHO DO DIRECTOR cessante serenamente, sem sobressalto, dir-se-iam iniciada modestamente em Fevereiro de da Silva e no número nono pelo comandan- está plasmado nos números de “O Referen- ditadas e em consequência do crescimento 1985 como o boletim da A25A. te Oliveira Monteiro, oscilava entre quatro cial” por ele dirigidos entre Janeiro de 1992 natural. Um caminho feito de alegria, tam- Nada melhor, para que os leitores de “O e dezoito páginas impressas a preto num a Março de 2016: 96 edições em 24 anos. bém de pedras e alguns engulhos, sobretu- Referencial” possam apreciar o meritório papel de pouca qualidade, em que alguns Esta síntese, por si só, seria suficiente para do, guiado pela intuição e sabedoria do seu trabalho desenvolvido pelo general Pezarat vivos a vermelho e verde na primeira e úl- relevar o labor realizado, porquanto reme- timoneiro que, desde logo, no primeiro mo- Correia e pela equipa que dirigiu, do que o tima página davam alguma alegria. Tentei tendo para a prova produzida ela mesma es- mento, teve a clarividência de avisar quanto

84 O REFERENCIAL O REFERENCIAL 85 GRATIDÃO A Pedro de Pezarat Correia

tudo poderia ser repensado, sem cortes ra- sempre aberto a novos desafios, conduzem- dicais, com prudência e sem fantasias, até -no a outras experiências: em Abril de 2002, onde levassem o discernimento e a ambição. edição número 67, entende ser chegada a Começou por dar continuidade tranquila hora de dar a grande volta a “O Referencial”. à herança recebida mantendo tudo como Introduz profundas alterações no desenho havia encontrado: lettering do cabeçalho, gráfico: promove a concepção de novo logó- formato e paginação, edição número 26. tipo e outro estilo de paginação, privilegia Socorre-se de valiosa colaboração de um a imagem mantendo a dignidade devida ao cartonista que lhe oferece ilustração própria espaço ocupado pelo texto. Do que recebe- para cada editorial e, aí, manifesta a quali- ra, dez anos antes, apenas salvou o formato. dade superior do pensador brilhante, vivo e Com subtileza, iniciava os primeiros passos arguto, na limpidez de quem como poucos da passagem do boletim que herdara, para a sabe captar a realidade, desvenda e inter- criação de um modelo já próximo da revista. preta detalhes, e tudo expõe no confronto A edição número 100 chega oito anos de- com os seus valores republicanos e demo- pois, com um tema de capa triste – a morte cráticos, com respeito e lealdade a quem de Vítor Alves – e, não enjeita em envolver a eventualmente dele discorde, e conquista a homegagem a tão ilustre “capitão de Abril” fidelização de leitores. com a singularidade da introdução de novos Com a publicação de 20 edições sob a sua conceitos gráficos em “O Referencial” que o direcção, decide exprimir os princípios da tornam mais moderno e apelativo. experiência acumulada e vincula-se a um Os anos vão passando e “O Referencial” re- Estatuto Editorial que faz publicar na últi- siste ao tempo, regular na sua publicação, ma página da edição n.º 54, relativa ao pri- com uma agenda editorial, plural e diver- meiro trimestre de 1999, para onde vaza sificada, cobrindo como lhe compete a vida um conjunto de normas que, a partir daí, da Associação 25 de Abril, mas acompa- consubstanciam e passam a constituir, a nhando, também e sempre que possível, rias áreas da sociedade portuguesa”, na con- mente mais apelativo. O número 113, relativo missão, visão e valores próprios de “O Refe- os grandes temas da actualidade política, vicção firme de que essa “qualificada parti- a Janeiro/Junho de 2014, surge com um for- rencial” que permanecem em vigor. económica e social de Portugal, sob a direc- cipação contribuirá para a manutenção e mato mais reduzido e um maior número de No ano seguinte, entende ser tempo de re- ção de um timoneiro excepcional na leitura aumento da qualidade da revista da A25A.” páginas profusamente ilustradas. Estava con- frescar “O Referencial”: promove a altera- desses acontecimentos que vai fazendo nos Insatisfeito com a obra, apesar de não ces- sumada a revolução da revista, que continua- ção do logótipo, mudando-lhe o desenho da seus editoriais, onde perscruta e descodi- sarem de lhe chegar referências elogiosas, ria por mais dois anos até, livremente, decidir letra, edição número 58. Tudo mais, con- fica sinais dos tempos. Antevendo, anteci- porventura até por elas encorajado, decide-se retirar-se para dar lugar aos novos. serva inalterável. pando, explicando. com ousadia a um gesto arrojado: propor à Tudo isto se deve a Pedro de Pezarat Correia, Prossegue, sem cessar, a mobilização de cola- É, ainda, o mesmo timoneiro que, em Mar- Direcção da A25A a alteração do formato de major general do Exército, grande timoneiro boradores e não deixa nunca de trazer novos ço de 2012, decide promover a constituição “O Referencial”. Desejava proporcionar aos do órgão oficial da A25A, com quem tive a textos para as páginas de “O Referencial”. do Conselho Editorial de “O Referencial” leitores maior comodidade e simultaneamen- honra e o privilégio de trabalhar em “O Re- O espírito irrequieto, universalista, atento e para o qual convida “personalidades de vá- te oferecer-lhe um espaço de leitura estetica- ferencial” e aí encontrar um director maior!

86 O REFERENCIAL O REFERENCIAL 87 opinião A Grécia e o futuro da Europa

Luís Noronha Nascimento*

A GRÉCIA! Há 26 séculos atrás, os gregos, pe- guém fala porque se submeteu, Chipre que foi queno povo da Europa oriental, solidários cultu- arrasada, encaixotada num cemitério de mor- ralmente mas individualistas na sua personali- tos por quem ninguém fez velório algum. dade, hedonistas e pensadores, criadores da po- Os gregos aprenderam consigo e com a tragédia lítica como governo do povo e recusando a tira- de Chipre e resistiram; e a União aprendeu com a nia como governo imposto de um só, os gregos Grécia que, depois dela, nada vai ser como dantes afrontaram, para sobreviver, o maior império da e que o futuro se tornou mais incerto e esponjoso. época, o império persa, do rei dos reis, senhor do Mediterrâneo oriental, do médio oriente, do Mediterrâneo crescente fértil, da Média e do Pérsico. Mediterrâneo quer dizer "meio da terra" por- Ninguém dava nada por eles; mas eles liquida- que, antes da globalização, ele era um dos po- ram em Maratona e Salamina o monstro que los incontornáveis de civilizações mundiais. os queria reduzir a nada, cresceram e lançaram Até ao séc. XVII, o poder europeu esteve sem- as bases daquilo que celebramos, hoje, como pre no centro do Mediterrâneo e não nos po- sendo a civilização ocidental. vos do norte; estes fossem eles nórdicos, sa- Deles, veio o pensamento filosófico, a racio- xónicos ou germânicos, eram, todos, mais ou nalidade lógica e, ainda, alguns dos conceitos menos periféricos. mais brandidos nos nossos dias; democracia e Roma e o seu império, Constantinopla e o seu seu rei, assenhoreando-se das riquezas vindas Com ela, o poder passou do Mediterrâneo para política são exemplos triviais. império, o califado de Damasco, o império oto- das Américas; duas pequenas amostras de co- o norte e por aí se manteve até hoje. A Grécia entrou na União Europeia porque é mano de Istambul, até a Espanha de Carlos mo quem era periférico procurava caminhos Inglaterra, Prússia-Alemanha, Áustria-Habs- um ícone emblemático do Ocidente; ainda ago- Quinto limitando, na cristandade, os estragos ínvios para acumular capital que não obtinha burgo, França do norte (de Paris) tornaram- ra, todos os quatro anos, celebramos nos Jogos do gigante otomano, situaram-se, todos, no co- doutra forma. -se os novos senhores da Europa; os ditames Olímpicos a vitória fundadora de Maratona. ração do Mediterrâneo. No séc. XVII tudo mudou; uma queda demo- passaram a vir deles e a ser exportados para os De repente, tudo mudou: de ícone a Grécia No séc. XVI, por exemplo, a Inglaterra tornara- gráfica profunda e uma crise económica es- povos do sul como bens duradouros. passou a empecilho, porque o que se quer é -se a maior falsificadora dos têxteis mais pro- trutural que durou décadas (de 1620 a 1680, Bruxelas é, hoje, a capital europeia das opções que a Grécia saia ou se submeta. curados na época (os venezianos) como expli- sensivelmente) levaram a Europa àquela que políticas do norte e a crise grega apareceu, tam- A Grécia não foi a primeira crise estrutural da ca Braudel, e o capitão Drake era o exemplo foi verdadeiramente a primeira grande guerra bém, como a primeira revolta de um povo do União; a primeira foi Chipre de quem já nin- perfeito do salteador legalizado por conta do entre europeus, a Guerra dos Trinta Anos. sul em relação ao poder do norte.

88 O REFERENCIAL O REFERENCIAL 89 opinião

E este é o grande significado desta crise; mas, dor fosse o rei da Prússia e que o seu chance- Cedo, porém, o norte da Europa percebeu que Cocktail complicado precisamente por isso, ela é perigosa porque ler fosse prussiano. unificar europeus não é o mesmo que unificar E agora que se seguirá? tanto pode ser o rastilho de um incêndio como O resto da história – terminada em 1945 – alemães. Estes têm uma língua e uma cultura Será que se percebeu o significado da crise gre- a procura de um assassinato. é conhecido. comuns; os europeus têm três áreas ideológi- ga e a amplitude que outra igual terá num país cas e territoriais díspares, por ora irredutíveis central do sul, Espanha e/ou Itália, a manter- Unificação Réplica do Zollverein a um denominador comum: os ocidentais, la- -se a pauperização do sul, acorrentando-o aos Não estará a construção da União Europeia a Não será a União da zona euro a réplica moder- tinos, católicos e mediterrânicos; os orientais, desígnios hegemónicos do norte? ser "copiada" da unificação dos povos alemães na do antigo Zollverein? ortodoxos, bizantinos e cirílicos; os do norte, A prazo (convicção minha) teremos um perdão liderada, no séc. XIX, pela Prússia militarista a A meu ver, sim; e à secundarização da Áustria, protestantes, pragmáticos e economicistas. parcial da dívida grega como aconteceu, em partir do Zollverein? há 150 anos, corresponde, agora, a paulatina Avançar para uma Europa federal era, assim, 1953, à dívida alemã, tudo por "imposição" dos O Zollverein foi a união aduaneira criada em secundarização da França. difícil porque um estado federal pressupõe países saxónicos. 1834 (após a quase destruição da Prússia por Tudo começou com a reunificação alemã após regras precisas de federalização política, or- A Alemanha nunca pagou a totalidade das suas Napoleão), hegemonizada pela Prússia como a queda do Muro. çamental, fiscal, económica, jurídica e cultu- dívidas de guerra; elas foram-lhe parcialmente forma de esta ressuscitar do nada através de A reunificação trouxe a Prússia de volta à ral que permita a solidariedade entre estados, perdoadas, quando os EUA propunham o seu uma industrialização acelerada usando a classe Alemanha; mas, hoje, o militarismo prussia- aproximando-os, e não cave, mais ainda, o fos- perdão total. possidente (os Junkers), e supervisionando a no não se manifesta mais militarmente mas, so entre eles. Estava-se em plena expansão da guerra fria seu favor as dezenas de pequenos estados ale- sim, economicamente. Restava, pois, a outra opção: manter a União com o "cerco" a Berlim e a ponte aérea dos alia- mães existentes. A reunificação alemã provocou uma crise infla- como um mero mercado comum que se super- dos para que a cidade não ficasse isolada, tudo Para que o lucro fosse certo, a Prússia pôs de cionária interna porque as duas partes unifica- visiona tal e qual o antigo Zollverein. enquanto a Alemanha flutuava ao sabor das su- quarentena a liberal Baviera e excluiu do Zoll- das eram totalmente desiguais; para a resolver, É o que hoje temos: um mercado comum as dívidas e do seu estigma. verein o mais poderoso dos estados alemães: a Alemanha – sem dar cavaco aos parceiros com tantos regimes fiscais, tantas taxas de ju- Em 1953, por "imposição" americana, cerca a Áustria-Habsburgo, aquele que verdadeira- comunitários – aumentou as suas taxas de ju- ro, tantos orçamentos quanto os 18 países da de 60 por cento da dívida alemã foi perdoada, mente lhe podia fazer frente. ro, exportando para os outros países da União zona euro e que os coloca, por isso, em con- fixou-se a cláusula do pagamento alemão à Trinta anos depois o terreno estava fértil para o ciclo inflacionário, resolvendo a seu favor os corrência directa entre si. O recente escândalo medida das suas possibilidades (uma variante uma nova fase, a fase militar. problemas criados aos outros. Luxemburgo Leaks é a fotografia perfeita dessa da cláusula de melhoria que existe no direito No curto espaço de 6 anos (entre 1864 e 1870) Simultaneamente, a fragmentação da Jugoslávia concorrência desleal: a tentativa de fazer do Lu- europeu, que, penso, Varoufakis tentou obter a Prússia completou esta fase: primeiro, assi- foi um maná: enquanto a União e os EUA tenta- xemburgo um novo paraíso fiscal que transfe- para a Grécia e que está no artº.778.º do nosso milou os alemães do sul da Dinamarca, uma vam evitá-la ou atrasá-la para encontrar soluções risse mais riqueza do sul para o norte. Código Civil), e o "milagre alemão" começava vez vencida esta; depois, esmagou a Áustria- equilibradas, a Alemanha acelerou-a reconhecen- Neste ínterim, a União vai estruturando ór- sem o fardo dos juros em espiral de uma dívida -Habsburgo, em Sadowa, numa outra guerra do unilateralmente as independências da Croácia gãos comunitários dirigentes não electivos canibal; a Alemanha tinha forçosamente que relâmpago secundarizando-a definitivamente e Eslovénia e abrindo a porta às restantes inde- preenchidos maioritariamente por gente do ser resgatada para que o bloco ocidental fosse e assimilando os alemães do norte; por fim, pendências balcânicas; no fundo, a parte norte norte, ao mesmo tempo que exorciza moda- eficaz no confronte com o soviético. liquidou a França, tornando-se a maior po- dos Balcãs era um mercado apetecível e contro- lidades de democracia directa (o referendo Hoje, a Grécia está na linha de fractura frontei- tência continental, assimilando à força os lável a fazer fé na experiência, aí vivida, durante grego, por exemplo) porque podem colidir riça europeia, no seu sudeste fragilizado e mo- alemães mais resistentes, os do sul, criando o a 2.ª Grande Guerra (com os croatas ao lado dos com os cânones de Bruxelas. vediço, quando o mundo se tornou multipolar império alemão, impondo que o seu impera- alemães e os sérvios ao lado dos judeus). e o futuro incerto; e a visão estratégica saxónica

90 O REFERENCIAL O REFERENCIAL 91 opinião

vai levar, quase pela certa, à repetição de 1953, guiu. Pouco depois, a questão do leite fez sur- ou seja, ao perdão parcial da dívida grega. gir a ideia embrionária de uma posição comum Há indícios que o prenunciam: um prazo de dos países do sul. Em Abril de 2016 pagamento dessa dívida, provavelmente, mui- to para além do que países do norte queriam; É caso para perguntar – parafraseando Galileu as posições públicas, no sentido do perdão par- – se a Terra não terá começado a mover-se; len- M. Simões Teles cial, dos Nobel da Economia, os americanos tamente, é certo, mas a mover-se. Stiglitz e Krugman; e, agora, a posição do FMI O EXERCÍCIO QUE PROPOMOS nesta inter- … Subitamente em Outubro passado, demos no mesmo sentido, sabendo-se que o FMI não *Juiz jubilado e antigo presidente do Supremo Tribunal venção é o de indagar em que medida os prin- conta que 1974 pertence já a outra época. A fala só por si mas também por outros. de Justiça. Subtítulos da Redacção. cípios que enformaram a acção em 25 de Abril imagem que nos ocorre para traduzir a dobra- Mas o drama da Europa não se reduz apenas à de 1974 nos podem continuar a servir de farol gem desse mês é a da visão infinita do universo dívida de qualquer país do sul; a Europa poderá na prática do dia-a-dia, quarenta e dois anos irradiante de claridade e em sossego com que acabar se secundarizar de vez a França, atrelan- volvidos, designadamente para actuar na pre- se deparam os tripulantes da nave das estrelas do-a à Alemanha como a Prússia fez à Áustria- sente situação de rotura com a política do “não quando esta ultrapassa a velocidade da luz a -Habsburgo no "momento mágico" de Sadowa. há alternativa”. Não ignoramos que qualquer fugir dos inimigos imperiais – um deslum- A França é o único país híbrido da Europa, si- análise que se faça sobre o que quer que seja, bramento. Ultrapassar a velocidade da luz é multaneamente do norte e do sul, que vai do e sobre esta matéria em particular, incide ape- uma liberdade poética do realizador – dentro mar do Norte ao Mediterrâneo. nas sobre uma parte da realidade, a isso não da própria liberdade poética que é viajar pelas Qualquer explosão social em França pode, por sabemos fugir. estrelas, naturalmente – visto que a velocidade isso, incendiar rapidamente o norte e o sul da Os princípios que revisitamos e que discuti- da luz é inatingível: que esta constatação óbvia Europa porque as suas fronteiras estendem-se mos mais adiante, na última parte deste apon- afinal nos sirva para regressar imediatamente para os dois lados; foi o que aconteceu com a tamento, são os seguintes: à Terra... Revolução Francesa e, também, com a chama- • A importância do compromisso e da acção Na Terra, porém, não podemos deixar de esta- da "Primavera dos Povos", em 1848. individuais; belecer paralelismos com aquela visão ficciona- A França tem a que é, provavelmente, a mais • A premência de utilização dos processos da do que é uma rotura com o que ficou para heterogénea das sociedades europeias; hetero- democráticos; trás, que não são ficção. Vejamos com exem- geneidade social, secundarização política, crise • A necessidade de ter objectivos de curto e plos: em 1960 o que fazia e fez sentido recupe- social e hibridismo geográfico, eis o quarteto de médio prazo; rar de 1920? Nesses quarenta anos aconteceu que pode levar a um cocktail complicado. • O imperativo de forte adesão popular aos tanta coisa: explodiu o “crash” de 1929; estalou objectivos; a maior guerra de sempre no planeta e a Hu- A Terra a mover-se • O respeito escrupuloso pelos compromis- manidade iniciou o convívio com as armas de Quando rebentou a crise grega, três países co- sos assumidos; destruição maciça; irrompeu a era da descolo- munitários deram a mão à Grécia: dois do sul, • A abertura ao mundo. nização; sobreveio a maior ditadura de sempre Itália e Malta, e a híbrida França; foi a posição no País; a televisão invadiu as nossas casas; foi deles que abriu a porta ao acordo que se se- Justificamos esta opção porque… inventada a penicilina; etc.. Ainda assim, rea-

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lizaram-se dois congressos republicanos por de de retirar CO2 da atmosfera; a disseminação que resultaram das últimas décadas de po- ­• A progressiva degradação do sistema par- essa altura e continuou-se a ir corajosamente dos materiais bidimensionais em termos da líticas enfeudadas ao sistema financeiro es- tidário e, por conseguinte, do próprio regi- à estátua do António José de Almeida pelo 5 de respectiva estrutura atómica, de que é já exem- tão aí para o comprovar; me democrático, cujo indicador bem pode Outubro. E em 2000 o que resta de 1960? Ou, plo o grafeno cuja placa tem a espessura de um ­• A criação de exércitos de desempregados, ser representado pelas elevadas e crescen- já com algumas diferenças, de 1974 o que resta átomo; a condução de um drone armado por forçando muitos concidadãos a emigrar co- tes taxas de abstenção que se verificam no hoje? Nestes outros quarenta e tal anos aconte- uma criança; a robotização da vida doméstica; a mo em épocas passadas de má memória, eleitorado. ceu: o dólar foi desligado do ouro; os america- possibilidade de digitalizar um cérebro huma- ou a ter fome – infelizmente os derradeiros A nossa sociedade sofreu duramente a aplica- nos foram à Lua; a vizinhança do planeta está no e instalar o ficheiro num robot (está previsto mentores dessas políticas até acertaram na ção do “não há alternativa” e dor e causas de pejada de satélites artificiais; com o GPS passá- para meio do século...); o regresso do fascismo sigla que escolheram para os representar, dor não desapareceram. Lamentavelmente mos a poder desfazer todas as indeterminações puro e duro, etc.. PaF – Portugal à Fome (1); acabámos a experimentar e a sofrer na pele a da nossa geo-posição; sabemos a que horas vai Este é o distanciamento a 1974 que achamos ­• O crescendo das desigualdades sociais, aplicação do que conceptualmente é uma bur- chover amanhã; com o telemóvel passámos a lógico assumir. Pelo contrário, dos dramas que cavadas tanto pela redução drástica dos pro- rice e do que politicamente é uma agressão. É ser uma função contínua, em vez de uma fun- as políticas das últimas décadas nos têm feito cessos de redistribuição, como pela cres- uma burrice porque adoptar-se a postura que ção de ponto; com o computador os espaços viver não podemos distanciar-nos. Por esta ra- cente segregação económica no ensino, na “não há alternativa” equivale a assumir que só abertos próprios da produção fabril propaga- zão, antes de revisitarmos o conjunto de princí- saúde e na cultura; há uma alternativa e isso é um contrassenso, ram-se às empresas de serviços; com o compu- pios aplicados na acção do 25 de Abril enuncia- ­• O acirrar de divisões na sociedade: novos é contrário à Natureza, é negado por todas as tador e a internet, se por um lado ganhámos dos atrás convém olhar para onde estávamos contra velhos (a “peste grisalha”); emprega- escolas de pensamento, incluindo as determi- um antídoto à televisão, por outro tornámo-nos há bem pouco tempo e ver onde estamos em dos contra desempregados; activos contra nistas. É uma agressão, porque é evidente que numa rede de solitários, o que é visível, por Abril de 2016. reformados; privado contra público; norte alguém ou alguns lucraram e lucram delibera- exemplo, durante o recreio nas escolas; o fim contra sul; interior contra litoral; damente com isso em nosso prejuízo. Politica- da URSS mostrou-nos que a história é como as O “Não há Alternativa” – A PaF e não só ­• A degradação do Estado republicano e a mente não é erro, é banditismo. ondas, tem cristas e cavas; a universalização da Seria de facto muito indigno da nossa parte sua substituição por um Estado de regu- Entretanto, uma rotura foi feita, obra de luta e financeirização das sociedades; os novos tipos que esquecêssemos, ligeiramente que fosse, os ladores de direito privado, infiltrado por de muito porfiar. E eis-nos em Outubro. de terrorismo e de terrorismo de Estado; etc.. dramas que temos vivido: financeiros e pelas suas regras enviesadas Compete-nos aprofundar essa rotura e impedir À percepção das nítidas distinções entre os ­• A promiscuidade entre o poder político- que visam quase exclusivamente a regula- que a mesma política e os seus protagonistas presentes e os passados que invocámos acres- -económico e a finança, de que decorre ção dos mercados e dominado pela cultura alguma vez regressem. ce que neste presente, hoje, também é muito necessariamente uma subordinação do po- do servilismo; diferente a percepção do futuro que nos foi der à finança, que vai muito para além do ­• A progressão organizada do assistencialis- Regresso a Outubro dado antever nas datas transactas em que nos que historicamente já foi conseguido e que mo que, por aplicação da regra da quanti- Além dos “Capitães de Abril”, hoje há mais situámos, porque entretanto foram arrasadas tem como corolário a subalternização e até dade, se arrisca a transformar o País numa “capitães”: são de Outubro e chamam-se An- barreiras que historicamente eram dadas como o desprezo dos processos e dos valores da sociedade de pobres a viver da caridade; tónios, Catarinas, Jerónimos e muitos outros intransponíveis e raras vezes ou nunca pensa- economia da produção e a sua substituição ­• A promiscuidade da Comunicação Social belos nomes – e muitos no feminino. Aqui das, tais como: as possibilidades de prevenção pelos duvidosos processos e valores que se com os poderes instalados, onde a par dos chegados, o pior que nos podia acontecer era da saúde proporcionadas pela sequenciação do praticam no mundo financeiro especulati- vendilhões de monólogos, proliferam as não prestarmos atenção à principal lição nega- genoma; a manipulação genética; a possibilida- vo. Os retrocessos dos direitos dos cidadãos consciências alugadas; tiva dos 500 dias de Abril(2) e que foi: todas as

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forças em presença, sem excepção, fizeram o em Outubro, como para conter a reacção que a nós, tornar-se pólo de atracção da nossa tória não conta o que não aconteceu, mas não possível – e quase o impossível – para utilizar ela se advinha e suster populismos, dos quais o causa para outros, cada um à sua maneira. estamos aqui a discutir História, mas a tentar o MFA, i.e., usar o MFA, dividindo-o se neces- chamado «dos afectos» não será o menor mal. • A permanente utilização de processos demo- retirar ilações do passado para o presente e pa- sário, o que acabou por suceder. Cada uma à É a esta luz que passamos a relembrar o con- cráticos: é sintomático que a acção militar que ra o futuro e por isso não nos custa postular sua maneira, umas por fora, outras por dentro, junto de valores que pautaram a acção no 25 conduziu ao 25 de Abril tenha sido discutida que as únicas mudanças que contam são as todas contribuíram para minar aquela unidade de Abril, cuja validade de aplicação na presente e preparada recorrendo aos mais genuínos que acarretam uma forte e generalizada adesão inicial que tinha permitido aquele “dia inteiro situação de rotura com as políticas do «não há processos democráticos, ademais aplicados no das pessoas. Veja-se um contraste com o 5 de e limpo”. alternativa» pomos à consideração do leitor. seio de uma organização intrinsecamente hie- Outubro, a outra revolução do século XX portu- Agora, uma vez iniciada a rotura com o “não rarquizada como é a militar – e em tempo de guês: enquanto os governos civis foram então há alternativa”, cabe-nos reinventar o método Os princípios em acção ditadura e de guerra. todos mudados de supetão por decreto(3) a 6 antagónico do que suportou aquela aberração: De entre esses princípios, pareceu-nos mais ou Então, nenhuma circunstância pode ser in- de Outubro, e os presidentes de câmara logo a conceptualmente, esse só pode ser o de que menos evidente a selecção já atrás enunciada, vocada como desculpa para o abandono do seguir, os fundamentos do poder local de Abril há sempre uma infinidade de alternativas, in- que sucintamente discutimos agora: exercício permanente das práticas democrá- foram sendo estabelecidos por obra de impará- cluindo as que não queremos; e, politicamente, • O compromisso e a acção individuais: atente- ticas. Bem pelo contrário, a condução da ac- veis movimentações populares em todo o País, o de que temos de verificar, em permanência, -se no “Capitão de Abril”, que em Santarém, ção do 25 de Abril mostra que esse exercício durante meses, culminando acolhidos no edifí- qual o caminho a seguir para atingir os objec- em Viseu, nos Açores ou em qualquer quartel é condição de sucesso. cio da própria Constituição da nova República. tivos comuns. São os resultados positivos da ou unidade envolvidos na acção se dirige sozi- • A definição de objectivos de curto e de médio Não custará então admitir que à permanên- própria prática que tem vindo a ser seguida nho ao seu coronel comandante, o confronta prazo: foi decisivo ter tido um programa com o cia e à resiliência do nosso substrato demo- desde Outubro na Assembleia da República com a acção desencadeada pela “Grândola Vi- enunciado das medidas imediatas e das medi- crático autárquico actual não será estranha pelos partidos da reconstrução que nos inspira la Morena” e o prende se não obtém a adesão. das de médio prazo – o Programa do MFA – e aquela génese associada ao 25 de Abril. e que validam esta concepção do nosso devir, Estamos algo afastados da coragem em com- ter inclusivamente sabido defendê-lo logo no Atrevemo-nos a afirmar: quando uma que podemos definir como a de incutir dinâmi- bate alimentada pela disciplina e pelo treino próprio dia 25 contra a primeira investida do maioria de portugueses agarrar a grandio- ca à democracia. A democracia periódica que da unidade em que o militar se insere. Àque- general Spínola. sa tarefa de governar para o povo, não vai se praticou de quatro em quatro anos nos perí- le destemor temos que associar forçosamente Nesta matéria, se há preocupação que nos haver Comissão Europeia, nem Euro-grupo odos eleitorais terá de dar lugar a uma demo- uma forte convicção pessoal da necessidade de deve consumir hoje é a de procurar distin- nem FMI que a trave, como não houve PI- cracia permanente, a funcionar todos os dias. atingir os objectivos que estavam estabelecidos guir o que é essencial do que é acessório em DE, nem União Nacional, nem esquadra da Confiamos que aqueles mesmos partidos en- na ordem de operações, uma enorme confian- cada momento. Socorrendo-nos de Bento NATO, nem ninguém, que tenha consegui- cetem uma relação contínua com os cidadãos, ça na sua justeza e uma grande desenvoltura. de Jesus Caraça: “Do mesmo modo que a do travar a aliança do Povo com o MFA em desafiando-os para as tarefas da cidadania, Ou seja: a acção de cada um não se esgota existência de cordilheiras de montanhas 25 de Abril construindo por essa via a base de apoio que nas intervenções em plenário, em reuni- não impede a esfericidade da terra”; • O respeito escrupuloso pelos compromissos impedirá que sejam revertidas as medidas que ões, ou em comícios; uma vez definidos • A adesão popular: sem a adesão do povo, pelo assumidos: a entrega do governo exclusivamen- têm implementado e as que é necessário que colectiva e democraticamente os objectivos menos da imediata adesão do de Lisboa, o 25 te a civis – o 1.º Governo Provisório – bem co- se continuem a implementar. e o plano de acção fica nas mãos de cada de Abril provavelmente tinha levado outro ru- mo a realização das eleições para a Assembleia Uma nova dinâmica partidária e cidadã é es- um não só realizar as suas tarefas, mas mo, haja em mente que ligado ao MFA pontifi- Constituinte a 25 de Abril de 1975, um ano de- sencial não só para sustentar a rotura iniciada extravasar o círculo dos que pensam como cava um general chamado Spínola. Para a His- pois, conforme estabelecido no Programa do

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MFA mostram bem que a palavra dada pode ser do que correu mal depois mantêm plenamente mantida mesmo em condições adversas. a sua validade para nos ajudar nas laboriosas Ora é evidente o contraste dessa atitude tarefas de consolidação da rotura que se iniciou Geopolítica da razão com a falcatrua que consistiu em prometer em Outubro passado, apesar de ser evidente uma coisa em campanha eleitoral e fazer que são outros e muito diferentes os proble- outra depois quando no poder. Que ao me- mas a resolver e os desafios a enfrentar hoje, nos nos sirva de lição definitivamente. bem distintos dos da década de setenta do sé- ou da emoção? • A abertura ao mundo: No passado os por- culo passado. tugueses tiveram que se fazer ao mar e ao mundo para poderem ter um país soberano e [email protected] Nicole Guardiola conseguiram-no em boa medida. O 25 de Abril repôs essa relação histórica de abertura, con- (1) Emprestada do M. Guerreiro “O SONO DA RAZÃO PRODUZ MONS- português António Damásio “O Erro de Des- trapondo-a vigorosamente ao isolacionismo (2) Expressão ouvida ao coronel Varela Gomes TROS.” Foi esta legenda que o genial Goya cartes” (publicado em 1994) foi em larga me- salazarista, basta atentar no processo de desco- (3) Comunicação pessoal de Joaquim Boiça escolheu em 1799 para a gravura principal dida o resultado da mesma confusão: longe de lonização. A diferença em relação ao passado da série “Caprichos”, fruto da sua reflexão condenar o cogito ergo sum Damásio chamava imperial e tantas vezes opressor foi a de que pessoal sobre as “loucuras” do seu tempo. a atenção sobre a importância do corpo sobre desta vez foram privilegiados a paz e o anseio Mostra um homem adormecido à mesa de a mente e das emoções na génese das nossas dos povos à liberdade e à independência. Nessa trabalho ser assaltado por uma nuvem de ideias a partir das suas experiencias científicas mudança de paradigma Portugal com o 25 de monstros voadores, aves nocturnas ou ani- sobre os estados de consciência alterados por Abril foi pioneiro. mais alegóricos que representam a violência lesões físicas do cérebro. Necessariamente, esses princípios que re- da guerra, da superstição, das crendices po- Na era do instantâneo e do descartável e numa sultaram no 25 de Abril continuam váli- pulares e da hipocrisia humana. Incompre- altura em que as novas tecnologias da comuni- dos no mundo tal como está. Aplicam-se endidas pelos contemporâneos as sátiras de cação dão as emoções, espontâneas ou mani- integralmente no actual passo da globa- Goya têm alimentado muitas controvérsias puladas, uma force de frappe inimaginável no lização em curso e só nos devem honrar. entre iluministas, defensores da supremacia tempo de Goya ou mesmo de Damásio, talvez Os estremecimentos que temos tido ao da razão e românticos que privilegiavam a seja urgente interrogarmo-nos sobre as conse- encaixarmo-nos neste mundo devem-se à sensibilidade e a fantasia. Querela gratuita quências para as sociedades humanas do divór- subserviência e ao abandono desses valo- dado que o próprio Goya, segundo um amigo cio, cada vez mais flagrante, entre a emoção e a res e à falta de um fio condutor que ajude a próximo não excluía uma coisa nem outra, razão à escala planetária. orientarmo-nos. mas a necessidade de um equilíbrio crítico E de nos interrogar porque existe tanto ódio à estimando que se a imaginação não contro- solta nas nossas sociedades pós-modernas que Para terminar lada pela razão produz monstros incontro- revelam ao mesmo tempo uma compaixão mi- Do que expusemos atrevemo-nos a concluir láveis, quando andam de mãos dadas são “a litante por todo o tipo de “vítimas”, humanas, que quer os princípios que permitiram o su- mãe das artes e das suas maravilhas”. animais e até vegetais (sim, há quem defenda cesso da acção do 25 de Abril, quer a assunção O clamoroso sucesso da obra do neurologista que tirar a cortiça é doloroso para os sobreiros!)

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e uma susceptibilidade exacerbada à menor in- ultrajadas pelo espírito interrogante.” Não é por acaso que o nosso século tão pródigo direitos cívicos e individuais pelos quais os fracção à moral dominante. O sono da razão nem sempre é voluntário. em descobertas científicas e tecnológicas assis- heróis dos manuais de história sacrificaram a O filósofo britânico Simon Blackburn, conhe- Pode surgir em consequência de um cansaço te também a uma explosão de irracionalidade sua liberdade e a sua vida. Dorme do sono dos cido pelos seus esforços para popularizar o mental tão irresistível como o do corpo. Bom- e ao ressurgimento de fanatismos religiosos, justos, entre duas petições pelos direitos das pensamento filosófico, recorreu também à es- bardeados de “mensagens” e “imagens”, inti- superstições e crendices que os filósofos das “pessoas não humanas”, dois “gosto” abaixo tampa de Goya para nos fazer reflectir sobre as mados a reagir e partilhar imediatamente com Luzes julgavam ter erradicado para sempre. de vídeos mostrando massacres e crianças fa- “loucuras” do nosso tempo. uma multidão de “amigos” virtuais com um Infelizmente, o ódio é mais antigo que o amor mélicas, duas “partilhas” de textos onde a ig- Escreveu Blackburn que “a reflexão pode ser simples clique é cada vez mais difícil resistir como afirmou Freud, contrariando a tese de norância compete com o insulto. Dorme. Tão encarada como uma coisa perigosa, visto que às impulsões não reflectidas. Há cada vez mais Rousseau e do “bom selvagem” a outra utopia profundamente que não há “lançadores de não podemos saber à partida onde nos condu- pessoas prontas a dizer-nos o que queremos, a fundadora das Luzes. E é por causa das cren- alerta” que consiga despertá-la, arrasar com as zirá. Há sempre pensamentos que se opõem à explicar-nos como e porque as coisas aconte- ças que temos, do que nós somos e do que opiniões feitas e/ou enviesadas, pôr em evi- reflexão. As questões filosóficas fazem muitas cem, o que devemos pensar e como devemos são “outros” que chegamos a fazer guerras e dência a duplicidade de critérios e as indigna- pessoas sentirem-se desconfortáveis, ou mes- comportar-nos: é possível hoje “vender” ideias, a matar e reprimir de consciência tranquila, ções selectivas. Os monstros entretanto cres- mo ultrajadas. Algumas têm medo que as suas políticos, gurus, como se vendiam sabonetes convencidos de que temos o direito ou mes- cem e ganham forças, mas não temos culpa. ideias possam não resistir tão bem como elas há cinquenta anos atrás. É fácil e confortável mo o dever de fazê-lo. A culpa é sempre “dos outros”, dos “merca- gostariam se começarem a pensar sobre elas. ouvir dizer que as nossas convicções, os nossos Não são apenas os “loucos de Alá” que nos dos”, dos governos e das instituições. Não te- Outras podem querer basear-se nas ‘políticas hábitos, a nossa religião, o nosso país são os ameaçam de extermínio, dispostos a morrer mos culpa, mesmo se votamos neles. Estamos da identidade’ ou, por outras palavras, no tipo melhores do mundo. E quando não há tempo matando indiscriminadamente o maior nú- rendidos à telegenia de um sorriso, à suave de identificação com uma tradição, grupo ou para filtrar as informações, verificar as suas mero de “infiéis”, “blasfemos” e “apostatas”. carícia dos afectos, não nos ocorre comparar identidades nacionais ou étnicas particulares origens e a identidade do emissor é natural Há tele-pregadores que nos prometem o in- o Dalai Lama com qualquer ayatollah. Ainda que os convida a voltar as costas a estranhos que a maioria se deixe arrastar pelas ondas do ferno ou o paraíso na terra. Há líderes políti- perguntamos, estarrecidos “de onde vem todo que coloquem em causa os hábitos do grupo. entusiasmo ou da indignação. Estas emoções cos e militares que reinventam Guerras Frias, este ódio?” Porque nos odeiam se além de não Essas pessoas irão minimizar a crítica: os seus tão avassaladoras como efémeras podem ser com Putin e Xi Jinping em reincarnações de beber álcool muitos de nós renunciaram a co- valores são ‘incomensuráveis’ relativamente inconsequentes como as lágrimas vertidas pela Stalin e Mao; há defensores da nova Lei do Ta- mer carne por respeito à vida? aos valores dos estranhos. Só os irmãos e ir- “princesa do povo”, o leão Cecil, ou “o pequeno lião a reclamar penas capitais e holocaustos mãs do seu círculo podem compreendê-las. Al- Ailan”, mas acabam por criar uma habituação, nucleares; há julgamentos em praça pública gumas pessoas gostam de se refugiar num uma insensibilidade progressiva comparável à com os meios de comunicação e as redes so- círculo espesso, confortável e tradicional de surdez provocada por choques auditivos dema- ciais a substituir os velhos pelourinhos para tradições populares, sem se preocuparem siado intensos ou repetidos. humilhar publicamente bandidos e ladrões; a muito com a sua estrutura, as suas origens, O cansaço pode levar à abolição completa da tecnologia dos drones e as grandes orelhas da ou mesmo com as críticas que possam me- consciência e ao sono profundo. É então que so- NASA tornam as execuções sem culpa forma- recer. A reflexão abre a avenida da crítica, e nhamos que um qualquer deus (ou um dos seus da menos ruidosas e chocantes que nos filmes as tradições populares podem não gostar da anjos ou profetas) está a tomar conta de tudo, de cowboys, da lei de Lynch e do Ku-Klux-Klan. crítica. Neste sentido, as ideologias tornam- que é ele que sabe distinguir o mal do bem, as A maioria cala e consente aceitando inclusiva- -se círculos fechados, prontas a sentirem-se mentiras da verdade, que nos protege e guia. mente o sacrifício da soberania nacional e dos

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nha cada vez menos candidatos e, consequen- que, generosamente, está combatendo e sacrifican- temente, dela saíam quantitativos de quadros do anos da sua vida para o bem comum. manifestamente insuficientes, mesmo numa A indiferença generalizada pela tropa que vai e O 25 de Abril perspectiva de tempo de paz (Quadro B). Outro pela que regressa é, infelizmente, facto mais que tanto se passava no tocante aos concursos para comprovado para a quase totalidade das pessoas acesso à classe de sargentos. Gerava-se, assim, que ali não tenham parentes ou amigos... uma situação gravíssima e desconcertante em que, perante o aumento dos efectivos, se veri- A este alheamento da generalidade da popula- dos Capitães ficava uma diminuição do pessoal do QP. Esta ção juntavam-se os ecos do isolamento interna- penúria de quadros reflectia-se negativamente cional, a condenação da Igreja Católica – ma- David Martelo na qualidade da instrução, na preparação das terializada na audiência concedida pelo Papa unidades de combate e no nível de disciplina Paulo VI, em Julho de 1970, aos líderes dos A CHEGADA DE MARCELO CAETANO ao recrutamento. Este, desde 1967 que atingira, das mesmas. movimentos que nos combatiam – e a injustís- poder, em 1968, proporcionou um momento na metrópole, o máximo da sua capacidade sima ideia, que então circulava na metrópole, Quadro B de grande expectativa na sociedade portuguesa. de mobilização. Os efectivos militares em- de que “a guerra não acabava porque os militares Com a morte política de Salazar, parecia surgir pregues nos teatros de operações, entretanto, estavam a encher-se de dinheiro”. no horizonte uma oportunidade, longamente não tinham cessado de subir, face a necessi- Em 1973, era já significativo o número de jo- esperada, de reforma do regime, rumo a um dades operacionais crescentemente comple- vens oficiais do QP que considerava absurdo completo retorno à democracia. Caetano era, xas (Quadro A). prosseguir um tremendo esforço de guerra sem sombra de dúvida, um político que evolu- em África debaixo da suspeita de não ser es- íra para posições mais liberais do que as con- sa a vontade da maioria do povo português. Quadro A sentidas pela ortodoxia do Estado Novo. Toda- Na sua generalidade, esses oficiais haviam via, apesar de alguns sinais de abertura política sido formados segundo as regras do regime e de um período de assinalável crescimento do Estado Novo e eram – tal como Humber- económico verificados durante o seu governo, to Delgado, Henrique Galvão e outros dis- a sociedade portuguesa não precisou de muito sidentes – politicamente conservadores. No tempo para constatar que o regime se não re- O desinteresse da juventude na escolha da entanto, a necessidade de provocar a expres- formaria por si próprio. Podemos hoje afirmar carreira das armas espelhava, de forma elo- são da vontade popular iria encaminhá-los, que o grande obstáculo para a sua evolução se quente, o afastamento mental existente entre decisivamente, para os rumos da democra- situava na questão ultramarina: enquanto pros- a população e a política ultramarina do go- cia. Perdidas as esperanças de ver o regime seguisse a guerra em Angola, Guiné e Moçam- verno. Este afastamento, de resto, seria mes- reformar-se por dentro, e, sabendo que não bique, não haveria transição para a democracia. mo objecto de um magoado reparo publicado podiam contar com a esmagadora maioria da A guerra – longa de treze anos – transforma- no Jornal do Exército de Julho de 1970, no hierarquia militar, comprometida com o re- ra-se, com o decorrer dos anos, num assun- No que respeita ao Quadro Permanente (QP), qual se não escondia o ressentimento da Ins- gime, restava aos jovens capitães o caminho to quase exclusivamente vivido pelas Forças o Exército debatia-se com sérias carências de tituição Militar: da revolta. Armadas. A generalidade da população alhe- recrutamento. A Academia Militar – escola As razões que levavam à revolta deste conjunto ava-se do conflito, limitando-se a contribuir superior do Exército que formava os oficiais Esse esquecimento, por vezes quase alheamento, do de militares não careciam, porém, de uma ba- com as obrigações militares do sistema de profissionais em regime de voluntariado – ti- que por lá se passa é uma ofensa para todo aquele se doutrinária forte, porque decorriam de expe-

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riências e factos por ele conhecidos como por 25 de Abril dos Capitães – porque importa nenhum outro grupo social: distingui-lo da revolução que se seguiu e que, legitimamente, transitará para a história como Lembranças do Pentágono • Grave situação militar na Guiné e agravamen- um 25 de Abril de todos os portugueses, na- to crescente em Moçambique; turalmente com uma marcante participação do • Debilidade do aparelho militar do Exército de- então criado Movimento das Forças Armadas. Vasco lourenço corrente da escassez de oficiais e sargentos do Mas de facto, como muito bem assinalou Me- quadro permanente; lo Antunes, “a maioria dos oficiais participou O militar de Abril, João Joaquim Leão Repolho, Portugal! Face à sua afirmação, já vi que não • Isolamento político internacional, com refle- num golpe militar, num pronunciamento mi- que como poeta, escritor e pintor, usa o pseu- faz a mínima ideia do que é o meu País! Vou xos directos na aquisição de armamento e equi- litar, sem saber que estava a desencadear uma dónimo Julião Bernardes, depois de ver um explicar-lhe. Portugal é hoje um País com uma pamento moderno para as tropas combatentes; revolução”. vídeo “A vida na terra nunca esteve tão amea- extensão territorial relativamente pequena, • Custos financeiros da guerra rondando os 45 çada”, que a A25A difundiu, escreveu o artigo mas já foi um grande Império. E não tem ape- por cento do Orçamento do Estado; Publicado no “Jornal de Amarante” em 25-04-2001 que adiante se dá à estampa: “Um mundo em nas 200 anos, temos quase 900 anos. E com • Reconhecimento de que o Governo não pos- paz? Para quando?” uma particularidade, sempre com as mesmas suía os meios para executar a sua política. Como entretanto esse vídeo foi retirado, dei- fronteiras. Somos mesmo, senão o País mais xando de estar disponível 1 , recordo as palavras velho do Mundo com as mesmas fronteiras, A estas vulnerabilidades, de carácter político, com que então difundi o referido vídeo. certamente o mais velho da Europa! Ora isso militar e económico, juntavam-se os penalizan- Este vídeo que mão amiga me fez chegar – e só é possível se o seu povo tiver características tes aspectos de natureza moral e social, já aci- que vale a pena ver – fez-me lembrar uma ex- especiais. Que nós temos! ma mencionados. Tudo somado, desenhava-se periência que tive quando em 1977 visitei os Uma dessas características é a de que, quando um cenário de progressivo esgotamento de EUA e que não resisto a contar: estamos convencidos de que somos bons nal- meios que, forçosamente, haveria de terminar Recebido no Pentágono pelo respectivo res- guma coisa, temos o hábito de dizer que somos de forma dolorosa para Portugal. No seu livro ponsável pelos assuntos ibéricos, discutíamos os melhores do Mundo nessa coisa. Acontece Portugal e o Futuro, o general António de Spí- a questão da base das Lages, quando sou sur- que onde estamos convencidos de ser bons é nola definia a situação nas vésperas da revolta preendido pela afirmação “Nós, os americanos, a inventar anedotas. E, garanto-lhe, para ouvir militar desta forma expressiva: somos uns explorados. Todos nos exploram!” uma anedota dessas não precisava de vir ao Surpreendido, retorqui: “devemos estar a ver Pentágono, em Portugal tenho muito melhor!” Sobre os alicerces herdados da História, temos pe- filmes diferentes. Importa-se de se explicar O homem começou a gaguejar “bem, eu não rante nós um futuro de prosperidade que é preciso melhor?” queria referir-me à base das Lages, esse é um construir. Na defesa desses alicerces se consome a E, aí continuei a ser surpreendido “sim, nós te- caso especial…” Nação e, se não podemos aceitar a ideia de que se- mos bases militares em muitos países do Mun- Ao que eu respondi, acabando com a conver- ja em vão tanto sacrifício, tão-pouco podemos ad- do, para defender os interesses desses países, sa: “Para isso temos uma afirmação, que aplico mitir que hoje se morra apenas para que amanhã portanto eles deviam pagar-nos. Como somos aqui, não ponha mais tinta no quadro, que só continue a morrer-se. nós que temos de pagar, estamos a ser explo- borra a pintura!...” rados”. São estas, no essencial, as motivações da re- Devo ter feito uma cara muito séria e nada 1 - https://www.youtube.com/watch?feature=player_ volta militar de 25 de Abril de 1974. Justifica- de amigos e afirmei “você, como responsável embedded&v=dz8_R99xUYI ) -se, assim, o título que dei a esta crónica – O pelos assuntos ibéricos, devia saber o que é

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Lausanne, pouco antes da guerra de 1870, ten- dos) continuam a prosseguir os mesmos fins: Um mundo em paz? do-se chegado ao acordo de que seria o único explorar ao máximo os mais fracos, dividindo- meio de se estabelecer a paz na Europa. Mas -os, enfraquecendo-os material e moralmente. atenção! Baseava-se na soberania do povo e no Na Europa aguarda-se com curiosidade o des- Para quando? respeito pela autonomia e independência de fecho dos próximos capítulos: irá a Inglaterra cada um dos membros da confe- deração. inverter o seu ódio de estimação tradicional à É a isso que assistimos? Não! Assistimos à Alemanha, neste período crucial? As razões de julião bernardes exploração de uns pelos outros, em termos fi- Estado (os interesses) falam sempre muito al- nanceiros, o contrário do que defendia o his- to. Obama não deu já a sua ajuda? Que outra Quando dia 16 de Abril, abri o computador e dental, quase todo o norte de Moçambique? Es- toriador italiano Guglielmo Ferrero: que essas coisa seria de esperar? ouvi e li o que vem em que mão amiga me fez te tratado só faltou ser assinado e talvez não o uniões podem existir (e devem, digo eu) sem chegar, não me surpreendi, nem de certo o que tenha sido pela firme oposição da França, país de modo algum lesarem a sua independência Nota: tudo o que aqui consta se baseia no livro lá é visto e dito pode surpreender muita gente. a que não interessava nada um acréscimo de material e moral. Uma Confederação Luso-Brasileira, de 1923, O Mundo atravessa, de facto, um momento poder e de prestígio da Alemanha em Africa. Concluindo: parece que o caminho que trilha- Livraria Clássica Editora, do Dr. Bettencourt- crucial da sua História, findo o qual se verifi- Os entendimentos e desentendimentos entre mos, na Europa e no Mundo, não nos conduzi- -Rodrigues. Possuo o exemplar que ele dedi- cará como fica definida a convivência entre as países sempre se regularam pelos interesses rá à tão ambicionada paz. Os países mais fortes cou, por escrito, ao cônsul Baudoin de Lichtes- Nações. Essa convivência atravessou muitas temporais de cada um. Não se empenhou a In- (seja lá isso o que for, uma vez que em termos velle, ministro plenipotenciário da Bélgica em fases, tendo sempre por fundo o egoísmo das glaterra em separar o Brasil de Portugal? E era financeiros também estão bastante endivida- Lisboa. que se consideravam em condições de explora- nossa “aliada”! hoje em dia deve ver a CPLP rem as mais fracas (o tal egoísmo que Fernan- com bons olhos… do Pessoa diz ser consubstancial ao homem) Só libertos desse egoísmo atrás referido é que o ou aquelas a quem enfraqueciam para mais Mundo poderá viver em harmonia e paz. Tam- facilmente as poderem explorar. bém cada um de nós. No século XIX não pretenderam a Alemanha e Tudo leva o seu tempo e a História há-de con- o Japão, com o apoio da Inglaterra, dividirem sumar-se. Tanto a CPLP como a UE não são a Rússia em três zonas (a Rússia central para criações recentes; levaram quase um século a a Inglaterra, a Sibéria para o Japão e a Rússia ter o seu início. meridional para a Alemanha)? A CPLP começou a ser esboçada, idealmente, Por um tratado secreto firmado em 1898 pelo por volta de 1917, como Confederação Luso- conde de Hatzfeld (pela Alemanha) e por Bal- -Brasileira, através de João de Barros e do Dr. four (pela Inglaterra) não foram as colónias Bettencourt-Rodrigues; no Brasil teve como de- portuguesas (assim se denominavam na altu- fensor máximo Medeiros e Albuquerque. ra) divididas, ficando para a Alemanha toda a Quanto à Confederação de Povos a que se cha- Angola até à latitude de 20 graus, bem como mava Estados-Unidos da Europa, foi debatida as ilhas de São Tomé e Príncipe e, na costa oci- pela primeira vez num congresso reunido em

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Duas conferências na Galeria Verney em Oeiras Acesso à justiça M. Simões Teles A GALERIA VERNEY é um espaço de reputa- de membros da Plataforma anti-TTIP. da tradição cultural que a Câmara Municipal de No dia 24 teve lugar a conferência “Razões da NOVO GOVERNO, novo Presidente mas gra- em causa fundamentais pilares da sociedade tão Oeiras faz questão de manter muito vivo, através Abstenção Eleitoral” por José Ferraz Nunes que ves inconstitucionalidades ainda não foram bem vertidos na Constituição da República Por- da continuada realização de exposições, de con- através de um gráfico em que foram implanta- corrigidas. tuguesa e, infelizmente, a nossa democracia não ferências e de cursos. Situa-se em pleno centro dos os resultados eleitorais de um conjunto alar- Vivendo Portugal e os Portugueses aquilo que soube assegurar a forma de impedir o avanço histórico. Com o apoio da MAPA-Associação Cul- gado de países da Europa pôde constatar-se, por parece ser o início de um novo ciclo político de- dessas negativas leis ou a sua simples correcção tural de Oeiras foram aí realizadas as duas confe- exemplo, que os números agregados da partici- pois de uma década especialmente complicada pelo que está há diversos anos instalada uma rências em 21 de Abril e 24 de Maio passado. pação eleitoral em Portugal e no Reino Unido que nos levou a mais um desgastante resgate efectiva grave perturbação constitucional que A primeira, “TTIP - Os Tratados de Comércio são semelhantes. Todavia, a simples constatação externo, seria de esperar que depois de uma ameaça já a própria democracia em Portugal. Multilateral e a Soberania Nacional” por Gui- de que os sistemas eleitorais são distintos – pro- tão catastrófica década em termos económicos, Não sendo aceitável uma lei que coloca em cau- lherme Statter, onde o palestrante referiu a de- porcional versus maioritário – conduz à neces- sociais e financeiros os novos governantes vies- sa o fundamental acesso à justiça às empresas, liberada opacidade com que o processo TTIP sidade de construir um modelo que permita sem com disponibilidade para corrigir proble- num país em que as empresas e os cidadãos está a ser conduzido pelos poderes americano, progredir de forma segura na compreensão da mas fundamentais que sem dúvida facilitaram desesperam durante anos e anos pelas decisões europeu e nacional contradiz a abrangência e a motivação e dos factores da participação eleito- essa nova deriva nacional. dos tribunais e não sendo também aceitável le- elevada importância para a vida colectiva que os ral, tida por fenómeno assaz complexo. Como sempre acontece, quando se fragilizam gislação que colocou em causa a neutralidade, mesmos lhe atribuem. Logicamente, a descon- Foi apresentado o modelo de análise da partici- as fundações de um edifício das duas uma, ou para não ir mais longe, de centenas de estru- fiança cidadã é mais do que justificada, a menos pação eleitoral nos países da Europa que tem vin- se renovam e se possível reforçam as mesmas turas públicas na economia, não é certamente que haja um inimigo e uma guerra declarados do a ser desenvolvido em estudos sociais em que fundações ou corre-se o elevado risco de um também aceitável ou displicente uma recente que desconheçamos... o autor participa como docente e investigador da dia esse edifício desabar sobre as pessoas sem legislação que na prática impôs diferente tra- Guilherme Statter esclareceu convincentemente Universidade de Gotemburgo, Suécia. As vari- que depois a maioria dessas mesmas pessoas e tamento mediático a candidaturas que tenham o que está em causa para além das avulsas vanta- áveis do modelo estão agrupadas nas seguintes outras percebam as razões de tal desabamento. já representação na Assembleia da República. gens económicas que esparsamente nos chegam três categorias: institucionais, contextuais e indi- Se aplicarmos este básico princípio arquitectóni- Naturalmente, quando um país levanta leis que ao conhecimento, em documentos suficiente- viduais, tendo sido salientado o esforço maior de co às áreas da democracia e da economia os re- fragilizam, que pervertem e que colocam tudo mente esotéricos. O enquadramento que permi- as definir como independentes. Além do recurso sultados são exactamente os mesmos pelo que, em causa fica sempre mais difícil o desenvol- te encaixar de forma mais completa as diversas aos resultados eleitorais, os estudos assentam uma certeza simples deveríamos de tentar todos vimento quer social quer económico não abdi- variáveis deste tipo de tratados consiste em vê-los em inquéritos conduzidos numa amostra de cer- assimilar em nossa defesa colectiva ou seja a ga- cando eu de lutar que esses desenvolvimentos à luz da reacção neoliberal ao estado social. O ca de seis mil eleitores. rantia de segurança das bases em que assentam sejam procurados em democracia no meu país. artigo do autor sobre a matéria publicado neste A conferência foi aberta por João Paulo Oliveira ou correm os sistemas é algo de fundamental número de “O Referencial” traduz o que foi dito da MAPA, foi moderada por Jorge Bettencourt para se garantir que as coisas funcionam. na sua conferência. e contou com a presença na mesa de Almeida Acontece que Portugal ousou no período da Leiria, 17 de Abril de 2016 A conferência foi aberta por João Paulo Oliveira Cavaco. O ambiente criado proporcionou vivas última década avançar com leis que colocaram Horácio de Matos Táboas da MAPA, foi moderada pelo jornalista Pedro trocas de argumentos em várias intervenções por Tadeu e contou com a presença e a intervenção parte da assistência.

108 O REFERENCIAL O REFERENCIAL 109 notícias Uma Batalha pela Globalização, contra a Soberania TTIPGuilherme da Fonseca-Statter EM MARÇO DE 2016 a Comissão Europeia ções. Isto na medida em que um dos aspectos deu a conhecer o seu “relatório público” so- mais negativos de todo o processo tem sido o bre o resultado da 12.ª Ronda de Negociações secretismo em que decorriam as negociações, à entre a Comissão Europeia e o Governo dos revelia de qualquer escrutínio democrático. Es- Estados Unidos para uma Parceria Transa- ta mudança deve-se claramente (e isso é mesmo tlântica de Comércio e Investimento, ou TTIP sugerido no texto do relatório) à pressão pública na sigla em inglês. Trata-se de um novo tipo por parte das diversas cidadanias europeias, ao de tratado multilateral na medida em que, a longo dos últimos dois anos. ser aprovado e ratificado por todas as partes Entretanto, este novo tipo de tratado deverá ser envolvidas, virá a afectar a vida das centenas visto no seu contexto histórico e numa pers- de milhões de cidadãos dos vinte e sete Es- pectiva de muito longo prazo, à maneira da tados supostamente soberanos, embora este- “onda longa” de que falam os teóricos da cha- ja a ser negociado (“à porta fechada”...) por mada Escola do Sistema-Mundo. Se é neces- funcionários administrativos em relação aos sário olhar com o distanciamento temporal do quais, pelo menos no caso de uma das par- muito longo prazo, também é necessário olhar tes negociantes, se poder argumentar que com o distanciamento espacial da geopolítica não têm mandato democrático directo. Nesse dos interesses económicos em jogo. Refiro-me contexto parece perfeitamente legítimo que os aqui à questão de uma visão monocêntrica da cidadãos europeus e norte-americanos olhem governação mundial (em que predomina uma com suspeita para o que vai acontecendo. potência mais ou menos “imperial”), por opo- Seja como for, a leitura atenta deste mais re- sição a uma visão policêntrica do mundo (em cente relatório revela uma significativa mu- que se verifica a emergência de vários pólos de dança de atitude por parte das instâncias da poder económico e, por conseguinte, também Comissão Europeia encarregadas das negocia- político).

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Teremos também que considerar a importan- sos acordos ou tratados multilaterais, curiosa- de novos empregos (“bem pagos”) dos dois la- é que de facto dita as “regras do jogo”) entre as tíssima questão da resolução pacífica (por via mente sempre por iniciativa (ou sob pressão) dos do Atlântico, fala-se de um crescimento do grandes empresas transnacionais e os Estados judicial ou negocial) de conflitos que sempre de entidades norte-americanas, uns já assina- PIB em 5 por cento mas não se diz – de acordo nacionais soberanos, é forçoso referir o verdadei- surgem quando estão em jogo interesses eco- dos outros em vias de ratificação por parte dos com os próprios “estudos” apresentados pela ro “cavalo de Tróia” destes acordos: as cláusulas nómicos divergentes. Questão importantís- países envolvidos, tais como o acordo NAFTA , Comissão – que esses eventuais 5 por cento ditas de protecção dos investimentos e de resolu- sima, repito, na medida em que joga directa- o acordo TPP , o acordo TiSA , o acordo TRIPs de crescimento são repartidos ao longo de 10 ção de conflitos: as famigeradas cláusulas ISDS. mente com o tema da soberania das nações. ou ainda o acordo CETA . Tudo isto no contex- (dez) anos. Em todo o caso, se considerarmos Com base nessas cláusulas ISDS, tal como es- Em todo o caso, as negociações conducentes ao to de uma relativa inoperabilidade da OMC. De o precedente de um acordo semelhante (NAF- tão formuladas em tratados como é o caso do TTIP inserem-se claramente numa estratégia acordo com as críticas vindas do mundo dos TA) em que também se prometiam “mundos acordo NAFTA, uma empresa pode vir a pro- global em que as grandes empresas transnacio- negócios, a OMC acaba por não ter uma fun- e fundos” de centenas de milhares de novos cessar um Estado soberano com base no ar- nais procuram sobrepor-se ao poder soberano cionalidade totalmente favorável ao “comércio empregos “bem pagos” e em que aconteceu gumento de que uma determinada legislação dos Estados. A verdade é que desde há séculos livre” e, como tal, tornou-se menos importante exactamente o contrário, teremos justificadas desse Estado soberano veio infringir as regras que a governação mundial tem sido sempre para as grandes empresas transnacionais, as razões para ter muitas dúvidas sobre a bondade do acordo de livre comércio e de protecção dos efectuada com base num entrelaçamento per- quais se voltaram então para acordos multi- de tais promessas. investimentos e em resultado disso veio a pre- manente de agentes privados (os “mercadores”) laterais de âmbito regional, através dos quais Daqui vem a resultar que se possa suspeitar judicar a empresa litigante, designadamente a e agentes públicos (os “soberanos” . Com a emer- pudessem ditar as regras de acordo com os de que, na realidade, o TTIP seja sobre outras perda de lucros futuros. Os casos mais referidos gência histórica e desenvolvimento do chamado seus interesses económicos, com o mínimo questões que não o comércio livre . Muito em na ampla literatura sobre estas questões, são o Estado Social e a democratização da vida pública, de interferência de tipo estatal. Parece ser essa particular o TTIP terá antes a ver a geopolítica caso da empresa Lone Pine, de origem cana- as grandes empresas transnacionais viram surgir a principal razão para a promoção os acordos das grandes potências e com o modo como se diana, que através da sua filial norte-americana todo o tipo de sistemas regulatórios, procurando acima referidos. Neste contexto parece ser ra- pretende continuar o processo de globalização processou a Província do Québec (e por tabela impor regras e limites à sua actuação. zoável considerar que a promoção do acordo (“monocêntrico” por oposição a “policêntrico”) o Estado do Canadá) alegando que a suspensão Foi assim que vieram a emergir organizações CETA, já em processo de ratificação nos par- ou ainda com o modo como as grandes empre- da licença de exploração de petróleo ou gás (por internacionais como a OIT , a CNUCED ou lamentos nacionais da UE, se apresenta aos sas transnacionais pretendem consolidar, face fracturação geológica) ainda antes do início de ainda a OMC . Estas organizações, no entan- países europeus como uma espécie de “balão aos Estados, a sua preponderância no processo quaisquer trabalhos de exploração, prejudicou to e de um ponto de vista dos interesses das de ensaio” relativamente ao TTIP, o qual ainda de governação global. aquela empresa por perda de potenciais lucros grandes empresas transnacionais (TNC's), não deverá demorar uns dois anos a ser dado como No que diz respeito ao processo de globalização futuros. Um outro exemplo é o da empresa Eli possuem a capacidade impositiva dos tratados “pronto para assinar”. que até aqui tem sido prosseguido, e ao mode- Lilly que processou o governo do Canadá por bilaterais ou multilaterais, razão fundamen- Uma outra perspectiva que se deve ter em li- lo monocêntrico, é de assinalar que os países do este ter suspendido uma patente de determina- tal que levou as referidas TNC's a pressionar nha de conta é a do TTIP estar a ser “promo- grupo BRICS têm ficado de fora em todos os acor- dos produtos químicos, a qual fora concedida a os governos dos respectivos países para avan- vido” também de uma perspectiva que se pode dos multilaterais acima referidos. Há como que a título provisório, dependendo de investigação çarem para um novo tipo de enquadramento legitimamente considerar como um “cavalo tentativa de cerco a estes países emergentes. Se técnica por parte das autoridades competentes. institucional: os “tratados” ou “parcerias” mul- de Tróia”. Isto na medida em que nos falam atendermos à sua dimensão demográfica e eco- Depois de os tribunais canadianos terem dado tilaterais de comércio que incluíssem explicita- sempre das múltiplas e grandes vantagens nómica, quer num contexto global, quer num razão, em todas as instâncias, ao governo, a mente cláusulas de resolução de conflitos e de sem nunca referirem as muito prováveis con- contexto regional, seria pelo menos de estranhar empresa Eli Lilly informou que iria processar protecção de investimentos. sequências negativas. Fala-se na criação de que esses países não tivessem sido incluídos. o Estado Canadiano com base nas cláusulas IS- Foi assim também que vieram a emergir diver- centenas de milhar (ou mesmo de milhões) No que diz respeito ao relacionamento (quem DS do acordo NAFTA.

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Há várias centenas de casos pendentes em to- Entretanto, embora o clausulado ISDS seja as- do o mundo, sempre com base nas famigera- sociado às regras do ICSID do Banco Mundial, das cláusulas ISDS. Convém aqui referir que a verdade é que as resoluções acontecem mui- a Holanda se especializou em assinar tratados tas vezes no âmbito de organismos privados do bilaterais de cooperação comercial tendo assi- tipo “câmaras de comércio”, tais como a Lon- nado esses tratados com cerca de cem países don Court of International Arbitration, a Câ- em todo o mundo. É justamente com base nes- mara Internacional de Comércio ou o Centro sas cláusulas desses acordos que as filiais ho- Internacional de Arbitragem de Hong-Kong. landesas de grandes empresas transnacionais Um dos argumentos que tem sido utilizado das maiores potências económicas têm estado pelos funcionários da Comissão Europeia, para a processar diversos países alegando “perda de avançar com o TTIP e nele incluir as cláusulas lucros futuros” em resultado de determinadas ISDS, tem sido a premissa da necessidade de iniciativas legislativas desses países. Um dos um eventual acordo semelhante a negociar en- efeitos colaterais da proliferação das cláusulas tre a União Europeia e a China, alegando então ISDS é a emergência de uma nova “indústria”: que só se poderia celebrar esse eventual “TTIP a “indústria” da litigação, com a ascensão de Chinês” (incluindo, claro, as cláusulas ISDS) grandes firmas de advogados e de “fundos de porque já se tinha feito assim com os Estados investimento” (para financiar a litigação...) que Unidos. Claro que há aqui uma diferença subs- assim procuram explorar novas oportunidades tancial relativamente aos objectivos iniciais das de negócio. Tal facto vem explicitamente refe- cláusulas ISDS na medida em que não será rido no relatório a que acima se faz menção. tão fácil impor “tribunais arbitrais” a países Refira-se que a ideia inicial das cláusulas ISDS era com a dimensão económica da China, Rússia, a protecção de investimentos contra eventuais ex- Índia ou Brasil. No caso particular da China é propriações de património (capital investido por de referir que aqui a situação pode mesmo ser uma empresa num outro país...) em resultado, “revertida” na medida em que o Estado Chinês por exemplo, de uma nacionalização. Em tempos tem sido um gigantesco investidor nas econo- mais recentes a institucionalização dos procedi- mias europeias, mas não só. mentos ISDS “ganhou foros de cidadania” por No que diz respeito à tentativa de harmoniza- via do ICSID , do Banco Mundial. Em 8 de Abril ção de regras e sistemas regulatórios, importa de 2016 estavam pendentes 210 casos referentes lembrar que, no caso das leis laborais, os Es- a países como Cazaquistão, Argentina, Costa do tados Unidos ainda só ratificaram duas das oi- Marfim, Moldova, Tunísia, Bolívia, Venezuela e to normas básicas da OIT relativas à protecção Equador entre outros, e dizendo respeito a cons- dos trabalhadores e suas condições de trabalho. trução e exploração de infra-estruturas como es- Um outro exemplo dos problemas que se levan- tradas, redes de águas, telecomunicações. tam com a harmonização de regras e sistemas

114 O REFERENCIAL O REFERENCIAL 115 PUBLICIDADE

regulatórios será o caso do sector da indústria Por outro lado encontra-se por vezes o argu- dos cosméticos, caso em que as normas ou re- mento de que o TTIP pode vir a ser uma nova gulamentos da União Europeia têm sido muito versão (reforçada) do falhado acordo ACTA , o mais restritivos do que os Estados Unidos. qual acabou por ser rejeitado pelo Parlamento MEDALHAS Ainda nesta linha de uma eventual convergên- Europeu. Deve ainda assinalar-se a possível, cia de “regras e padrões de regulação” é impor- para muitos observadores muito provável, tante chamar a atenção para a cadeia alimentar. erosão gradual de alguns serviços públicos, São conhecidas as práticas comuns na alimenta- designadamente no campo dos serviços de ção “industrial” de animais (suínos, aves e gado saúde e educação (...) COMEMORATIVAS bovino) nos Estados Unidos, em contraste com Para concluir devo ainda referir a questão da as regras em vigor na União Europeia. Um pro- dependência energética, por parte da União Eu- No exercício do magistério dos valores de Abril a A25A exprime-se em várias linguagens e narrativas. O tempo e a blema relacionado é o da proliferação de OGM's ropeia, muito em particular no que diz respeito história de Abril estão também contados através da expressão artística de diversos autores, vazada na impressiva ou organismos geneticamente modificados. a fontes de energia fóssil, designadamente o comunicação da medalhística. A A25A dispõe de um acervo interessante de medalhas alusivas ao 25 de Abril e a Uma outra possível consequência, para a qual “crude”, assim como gás natural e carvão. Tan- outros momentos importantes da História Contemporânea de Portugal que podem ser adquiridas através de correio chamam a atenção muitas ONG's europeias, to quanto se saiba, não há (ou não tem havido) electrónico para [email protected] ou pelo telefone 21 324 14 20. são os eventuais limites aos controles que os nas negociações do TTIP qualquer referência Estados nacionais possam vir a fazer sobre as a possíveis alternativas às actuais centrais nu- actividades das empresas transnacionais, na cleares na base do Urânio-235 , em contraste medida em que os “tribunais” arbitrais priva- com a importação livre de gás e “crude” dos dos e “à porta fechada”, poderiam sempre fun- Estados Unidos. Neste caso o que parece estar cionar como “espadas de Dâmocles”, levando em causa é a actual dependência da importação os Estados nacionais menos fortes a hesitar de gás natural vindo da Rússia e dos proble- relativamente a muitas novas medidas legis- mas geoestratégicos da importação de gás vin- lativas, fazendo apenas legislação “à medida” do do Médio-Oriente. Em todo o caso, e é isso dos (até imaginados) interesses dos grandes que importa aqui referir, o que o TTIP pode consórcios transnacionais. Por exemplo pode vir a significar, no que diz respeito às fontes vir a ser “imposta” a privatização de serviços de energia, é a manutenção por mais algumas públicos e tornada “problemática” a nacionali- décadas de uma dependência tecnológica com zação de determinados sectores de actividade. sérios problemas ambientais, como é o caso do Ou seja, que a nacionalização de uma empresa continuado recurso a combustíveis fósseis. estratégica (para um Estado venha a ser consi- derada como um obstáculo ao “comércio livre”. Maio de 2016 Uma outra situação que vem muitas vezes re- ferida é a eventualidade de uma (ainda) maior invasão da privacidade individual na utilização da Internet, com eventuais ataques à privacida- de pessoal e controle dos acessos na WWW, até pela eventual exploração da venda do “valor” comercial das informações sobre hábitos pes- soais de consulta e compras “em linha”.

116 O REFERENCIAL O REFERENCIAL 117 luis galvão Bridge - 104

O Significado atribuído à voz de DOBRO tem variado (evoluído?) ao longo dos tempos. Podemos dizer que, também no bridge, É óbvio que, com a mão em apreço e se sentado em S, qualquer jogador tem a consciência de que deve entrar no leilão, até porque no principio era o verbo. possuir 4 cartas em ♠ e outras tantas em ♥, além de 8 preciosos PH, É expectável que o parceiro (N) deve possuir, no mínimo, 4-3 Isto porque até aos anos 30 do século passado a utilização desse anúncio era muito restritiva. No leilão: nos naipes ricos. O problema que se coloca é o de não se saber seo naipe de 4 cartas do parceiro será o de ♥ ou o de ♠, pois ele poderá deter 4 cartas apenas num dos ricos, quando dobrou a abertura: N E S W a) - ♠ R V 73 ♥ A 10 7 ♦ AV 1043 ♣ 6 P 1♠ D ou b)- ♠ R V 3 ♥ A 10 76 ♦ AV 1043 ♣ 6 O dobre de S transmitia apenas ao parceiro que a marcação de E (1♠) não seria cumprida, porque o abridor tinha “acertado” no seu naipe comprido. É mais do que evidente que se o parceiro detiver a mão a) o jogador em S gostaria de competir em 2♠, enquanto que se o parceiro O dobre tinha pois unicamente uma intensão punitiva. possuir a mão b) é 2♥ a marcação que desejaria ter feito. A solução correcta poderá ser encontrada pelo recurso a materiais quali- Com o andar dos tempos e com as inúmeras contribuições introduzidas, pelos praticantes/técnicos os dobres passaram a ter outros dades intuitivas, com percentagens de “acerto” relacionadas com a sorte que cada um costuma ter nestas duvidosas situações. significados. A utilização dos DOBRES RESPONSIVOS resolve estas dúbias marcações, conferindo-lhes uma eficaz percentagem de acerto nos leilões. Apareceram os Dobres de chamada, os Dobres Negativos, os Dobres de Apoio e os Dobres Responsivos, apenas para referir os O conceito subjacente à utilização destes dobres permite concluir que quais os ADV abrirem o leilão em 1 ♣ / ♦, o nosso parceiro mais utilizados. intervir por Dobre e o parceiro do abridor apoiar o naipe da abertura, o recurso ao DOBRE RESPONSIVO claramente pede ao Como cada um deles tem características especificas e em utilização, importará conhecê-las bem antes de as incluir no sistema que parceiro que escolha o seu melhor naipe rico, garantindo-lhe seguro apoio no naipe escolhido. utilizamos. Hoje propomo-nos analisar o Dobre Responsivo. Similar interpretação deverá ser dada no decorrer do leilão:

1. CONVENÇÕES W N E S 1.27 – O DOBRE RESPONSIVO 1♣ 1♥ 2♣ D

A criação do DOBRE RESPONSIVO foi da responsabilidade de F. FIELDING – REID, natural de DANIA-FLORIDA- EUA. Neste caso o dobre de S deverá ser interpretado como detentor de evidente comprimento (4 ou mais cartas, nos naipes não falados Esta marcação convencional pode ser utilizada em duas situações específicas do leilão, ainda que muito similares. (neste caso ♠ e ♦) além de manifesta interesse em competir no leilão. Em ambos os casos o ADV que abriu o leilão, em 1 em naipe, viu a sua abertura ser intervencionada e viu o parceiro apoiar o Analisados que foram os conceitos sobre a autoria, identidade e interesse na utilização, importará agora concretizar quais as seu naipe de abertura. Se o parceiro do jogador que interveio optar por dobrar a marcação de apoio à abertura está a materializar condições mínimas, em termos, de força em PHD que os jogadores deverão ter para utilizarem os DOBRES RESPONSIVOS. o DOBRE RESPONSIVO. É óbvio que a força mínima, em PHD, para justificar o recurso à utilização do DOBRE RESPONSIVOS está directamente rela- Como mais vale um exemplo que mil palavras vamos apresentar dois leilões que tipificarão o uso destes dobres e, facilmente, cionada com o nível a que se "obriga” o parceiro a anunciar o seu melhor naipe, entre os sugeridos. identificarão o conceito, mesmo por quem não esteja, com ele familiarizado. Aconselha-se a posse de um mínimo de 6 PHD para uma marcação do parceiro ao nível 2, de 9 PHD para o nível 3 e de 12 PHD para o nível 4 do leilão. W N E S Convém ter consciência de que os valores indicados deverão ser um pouco mais elevados quando se utilizar o DOBRE RESPON- SIVO sobre uma intervenção em naipe pelo parceiro, do que quando este jogador intervier por Dobre. 1♦ D 2♦ D Importará também deixar bem clara a questão do nível do leilão até onde poderá ser utilizado este tipo de dobres. A resposta a este problema deverá ser encontrada pelo par que utiliza a convenção já que, em teoria, o conceito pode ser aplicado ou até qualquer nível do leilão. W N E S No entanto é prática mais comum a utilização até ao nível de 4 ♦, considerando-se que, a partir daí, a utilização do dobre passa a ter um significado punitivo. 1♦ 2♥ 2♦ D Do que ficou dito retira-se uma evidente conclusão que á a de que a parceria deve definir concretamente até que nível do leilão os dobres são considerados RESPONSIVOS e também se em leilões como: Estas são as duas típicas situações em que os dobres por S são claramente responsivos. Importa esclarecer que estes dobres devem incluir-se na categoria dos dobres de chamada e como tal serem entendidos pelo parceiro. W N E S Convém, desde já, avaliar da utilidade em incluir os DOBRES RESPONSIVOS no sistema que praticam. 1♦ D 2♣ D Considerem que, em S, detém a mão: ♠ D10 62 ♥ R V 83 ♦ D75 ♣ 42 O dobre de S deve, ou não, ser interpretado como RESPONSIVO já que , em teoria, não o deveria ser, mas é admissível que a E que o leilão foi: parceria o considere como tal, desde que previamente assim o defina. W N E S Até ao próximo número. 1♣ D 2♣ ?

118 O REFERENCIAL O REFERENCIAL 119 PUBLICIDADE boletim

Assembleia-Geral da Delegação Norte da A25A Rua da Misericórdia, 95 Lisboa Tel. + 351 213 470 114 NO DIA 2 DE ABRIL, realizou- ta anos, a A25A trinta e quatro que os membros da A25A tlm. + 351 911 157 805 -se a Assembleia-Geral da De- e esta Delegação trinta e dois. vão atingindo… legação Norte onde foi aprova- A nossa Associação foi criada Assim, a nossa dinâmica vai- do o Relatório de Actividades no rescaldo da não muito pa- -se atenuando com o avançar de 2015 e se procedeu à eleição cífica extinção do Conselho da dos tempos, não podendo de- dos novos corpos gerentes para sanimar com o facto das acti- o biénio de 2016/2017. vidades associativas e cívicas Como sempre tem sido ha- se reduzirem. É a lei da vida! bitual foi guardado um Continuaremos a dizer minuto de silêncio pe- ‘presente’, enquanto as los associados faleci- forças não nos aban- dos no decorrer do donarem e as nossas ano anterior e só de- convicções se manti- pois foi colocado em verem bem vivas.” discussão o Relató- Aprovado o Relató- rio de Actividades da rio, Ribeiro da Silva Delegação. deu, ainda, informa- O presidente da Direc- ção da sessão come- ção da Delegação, Ante- morativa que nesta ro Ribeiro da Silva, apre- data decorreria na AR sentou o Relatório do qual em comemoração dos email. www.com-tradicalrestaurante.com se destacam as conclusões: 40 anos da aprovação da “Todos os anos, quando chega- Constituição. Uma iniciativa mos a esta altura do Relatório, da A25A com o patrocínio da nos debatemos com o que es- Revolução, no qual nos presidência da Assembleia e crever de novo, não nos repetin- revíamos como nosso referen- onde iriam estar presentes os

www.com-tradicao.com do em relação aos últimos anos. cial. Transferimos para aquela deputados constituintes. Se calhar temos sido dema- o nosso desvelo, as nossas es- Deu ainda a conhecer que a siado exigentes em relação a peranças e os nossos desejos A25A iria estar presente na nós próprios! mais sinceros. cerimónia das comemorações Não nos esqueçamos que o 25 Mas, na História tudo evo- do 25 de Abril na Assembleia de Abril já tem mais de quaren- lui com o tempo, até a idade da República.

120 O REFERENCIAL O REFERENCIAL 121 boletim

Procedeu-se em seguida à ros da Costa, economista, e Jo- coronel; Boaventura José Mar- volução de Abril, os seus ante- ressadas na nossa actividade. deve ser apenas a evocação de votação para eleição dos no- sé Duarte Gonçalves Cardoso, tins Ferreira, coronel; Manuel cedentes e desenvolvimentos Para o próximo ano lectivo, es- um evento passado, deve ser vos corpos gerentes, que fica- primeiro-sargento Loff, professor universitário; posteriores, desde a 2.ª Guerra tá planeado fazer diligências, uma fonte de inspiração para ram assim constituídos: Direção: presidente, Ante- suplentes João Baptista V. Ma- Mundial até à actualidade, pa- com diferentes entidades edu- resolverem os problemas que Mesa da Assembleia-Geral: ro Ribeiro da Silva, coronel; galhães, professor do ensino ra além de terem um contacto cativas/escolas no sentido de os afectam, num exercício de presidente, Abel Joaquim A. vice-presidente, Rui Rolando secundário, e João Moutinho mais próximo com alguns dos expandir o impacto positivo cidadania e construção de uma Tavares, capitão-de-fragata, Castro Guimarães, coronel; da Silva, major piloto aviador, intervenientes directos na revo- destas acções, através da sua sociedade mais justa, confor- engenheiro naval; vice-presi- secretário, António Manuel engenheiro civil. lução de Abril, facto que os alu- emissão online, em simultâneo me com o espírito de Abril. dente, António Mário Ribeiro Marques Lopes, coronel: te- E com a tomada de posse foi nos muito apreciam e que lhes ou em diferido, envolvendo, Seria interessante que mem- Pinto, sargento-mor; secretá- soureiro, Nuno Filipe Brito dada por terminada a reunião proporciona uma interessante assim, um maior número de bros da A25A a viverem noutros rio, José Luís Bacelar Ferreira, Fonseca, empresário; vogais, da AG da Delegação. memória futura. professores e alunos, quer em concelhos pudessem replicar coronel. Suplentes: José Bar- João Carlos Correia Ambrósio, Recentemente, criámos no Fa- Portugal quer no estrangeiro. esta iniciativa, de forma alarga- cebook a página “A25A Oeiras Pensa-se também enrique- da, a outras escolas do País. e Cascais” (www.facebook.com/ cer esta actividade no futuro, a25aoeirascascais), para melho- sempre com o objectivo de rar o contacto do Núcleo de demonstrar aos jovens de ho- Oeiras e Cascais da A25A com je a actualidade de Abril. Para as pessoas e organizações inte- eles, lembrar o 25 de Abril não Oeiras

DE ENTRE AS ATIVIDADES te, a duração de um bloco, ou Este ano com a extinção do que o núcleo de Oeiras e Cas- seja, noventa minutos, e a que Agrupamento de Escolas de cais da A25A tem levado a cabo, assistem uma ou duas turmas, Cascais, houve um decrésci- nos últimos dois anos, desta- sempre acompanhadas dos res- mo de assistentes às palestras Recibos cam-se as palestras em escolas pectivos professores e, frequen- do que resultou, terem assisti- dos concelhos de Oeiras, Cas- temente, dos próprios directo- do às mesmas 72 professores cais e Amadora, efetuadas por res dos agrupamentos. e 1.459 alunos. de quotas alguns dos seus membros. No ano de 2014 foram percor- Verifica-se, assim, que uma Os temas focados relacio- ridas dezassete escolas nos vasta população de professores nam-se com o 25 de Abril concelhos atrás focados, tendo e de alunos dos três concelhos Solicita-se aos associados que efectuaram o pagamen- cessário proceder a esse esclarecimento uma vez que de 1974, os quais fazem par- havido contacto, com 104 pro- têm assistido às referidas pales- to das suas quotas através de transferência bancária elevado número de associados omitiu a identificação te dos curricula dos 6.º, 9.º fessores e 1.465 alunos. tras, contribuindo para manter e não receberam os respectivos recibos, o favor de o no acto daquele pagamento. Os esclarecimentos po- e 12.º anos, da disciplina de Em 2015 houve um incremento vivo o espírito do 25 de Abril, comunicar à Tesouraria da A25A. Para regularização dem ser prestados através de telefone 213241420 ou História, da unidade didática do número de escolas para vin- nas camadas mais jovens, as interna dos serviços e consequente emissão dos com- pelo endereço electrónico [email protected] de História Contemporânea. te, de professores para 125 e de quais têm a oportunidade de provativos da liquidação, torna-se absolutamente ne- As palestras têm, normalmen- alunos para 1.723. discutir a problemática da re-

122 O REFERENCIAL O REFERENCIAL 123 PUBLICIDADE VINHO DO PORTO COMEMORATIVO “A Madeira nos tempos de Convites Salazar – a economia 1926- Produziu o Barão de Vilar um Porto Reserva Tawny com estágio durante 7 anos em cascos de madeira adquirindo uma tex- 1974”, de João Abel de Freitas, Registámos o falecimento tura suave com um intenso e complexo aroma. Daqui se extraiu uma série de garrafas especialmente para a A25A assinalar Edições Silabo e os autores, 04-04-2016; Instituto Superior dos seguintes associados: Isabel Dimas, Marta Alves, de Contabilidade e Admin- os 40 anos do 25 de Abril. Pronto a beber o Porto Tawny ganha outra vida com a idade. Como Abril é necessário saborear e Paulo Lourenço e Teresa Re- istração da Universidade de conservar os seus valores. Os interessados poderão adquirir as garrafas ainda disponíveis através de correio electrónico para belo, lançamento do livro Aveiro, Edições Silabo, lan- Alfredo Gonzalez Esteves Belo (sócio efec- [email protected] ou pelo telefone 21 324 14 20. “Equipas de trabalho – In- çamento do livro “Finanças tivo); António Manuel Rocha Dores (sócio Empresariais – teorias e práti- strumentos de avaliação”, 01- fundador); Carlos Octávio Cruz Oliveira 04-2016; Orquestra Clássica cas” de César Faustino da Silva do Centro, Coimbra Editora Bastos, 05-04-2016; Fundação (sócio fundador); Herberto Amaro Vieira e o autor António Arnault, Coa Parque e Museu de Ar- Nascimento (sócio fundador); Henrique de apresentação do livro “Era queologia e Etnografia do Almeida Alves (sócio fundador); José Álvaro um rio e chorava – 80 poemas Distrito de Setúbal, exposição para 80 anos”, 02-04-2016; de fotografia ”Chronos” de Frade da Silveira (sócio efectivo); José Cabrita Fundação Friedrich Ebert e Rosa Nunes, 02-04-2016; Sousa Madeira (sócio efectivo); José Nicolau Grupo Teatro do Oprimido Lápis da Memória, apresen- Rufino (sócio efectivo). (GTO Lisboa) Conferência In- tação do livro “Abril antes de ternacional sobre o tema “Co- Abril – a crise universitária Às famílias enlutadas apresentamos sentidas operação Europeia e Educação de Coimbra de 1969” de Rui condolências. Informal e Arte e Escola pela Namorado, 16-04-2016; AJA Inclusão Social”, 30-03-2016, Lisboa, concerto de hom- Teatro Municipal Joaquim enagem a Adriano Correia de Benite, Dia Mundial do Tea- Oliveira, 09-04-2016; evento pal de Grândola. inauguração de Investigação e Inovação tro, 27-03-2016; lançamento “À mesa com a cultura – Zeca da exposição “Grândola: um em Educação, III e IV Ciclos do livro “Frei Luis de Sousa” na voz telúrica de Zeca Me- primeiro olhar”, 09-04-2016; de Conferências, “Geografia de José Manuel Castanhei- deiros”, 11-04-2016; leitura e Câmara Municipal de Palme- Cultural do Século XX Portu- ra,16-04-2016; Escola do Por- debate em torno do livro “As la, Edições Colibri e Sociedade guês”, 28-04-2016; Fundação to da Faculdade de Direito da pequenas memórias», de José Recreativa Cultural do Povo Mário Soares e Associação de Universidade Católica Portu- Saramago;05-05-2016; Patri- do Bairro Alentejano, apre- Estudos Comunicação e Jor- guesa, Associação Portuguesa arcado de Lisboa e a Editora sentação do livro “Memória e nalismo, conferência “Os Pa- de Mulheres Juristas e Centro Althum, concerto de órgão Vida em tempos de Abril”, de péis do Panamá”, 19-04-2016; de Estudos Judiciários, apre- na Igreja de São Vicente de Maria José Maurício, 09-04- IMARGEM Artistas Plásticos, sentação do livro “Combate Fora, 09-04-2016; Museu do 2016; Comissão Portuguesa apresentação do programa à violência de Género – da Neo-Realismo, colóquio “A de História Militar e Edições “Arte em Festa 2016 e Perfor- convenção de Istambul à nova Época e a Obra de Manuel Colibri, lançamento da obra mance”, 15-04-2016; presi- Legislação Penal”, 31-03-2016; Guimarães”, 09-04-2016; ex- “A Descolonização da Guiné- dente da Câmara Municipal Câmara Municipal de Aljustrel posição “Os Ciclos do Arroz”. Bissau – e o Movimento dos de Grândola, homenagem a e Edições Colibri, lançamento 16-04-2016; Circulo das Let- Capitães” de Jorge Sales Go- Joaquim Ângelo da Silva, 25- do livro “Império do Sol – a ras, lançamento do livro “Ver- lias, 14-04-2016; Fundação 04-2016; Deriva Editora e Le questão da agricultura”, de sos Quebrados”, de Luís Mira Friedrich Ebert, Colóquio Monde Diplomatique versão Joaquim Rebelo, 02-04-2016; Coroa, 07-04-2016; exposição sobre o tema “A Vida numa portuguesa, “Do Operário ao União dos Escritores Angola- de fotografia de Bernard Cor- mala - histórias das migrações artista – Uma etnografia em nos, apresentação do livro “Pa- nu, “Portugal uma viagem no de viajantes vindos do Oriente contexto industrial no Vale do péis da prisão” de Luandino tempo”, 14-04-2016; Edições e do Ocidente”, 19-04-2016; Ave” de Mariana Rei, 18-04- Vieira, 29-03-2016; Cerimónia Colibri e a Câmara Munici- Museu do Neo-Realismo, 2016; Câmara Municipal de da entrega do Prémio da pal de Torres Vedras, sessão Fundação Friedrich Ebert, e Loures, Dia Internacional dos Crítica, relativo ao ano teatral lançamento da obra “Os ex- ICS (Instituto de Ciências So- Monumentos e Sítios, 18-04- de 2015, 02-04-2016; Asso- postos da Roda de Lisboa”, ciais) colóquio sobre o tema 2016; concerto de Fausto Bor- ciação Democracia Solidária, de José Damas Antunes, 09- “A Europa connosco?”, 26- dalo Dias, 24-04-2016; lança- Conferência Internacional 04-2016; Direcção do Cen- 04-2016; Escola Superior de mento do livro “Novo livro e “O Pós-Euro na Europa e em tro Social de Soutelo, debate Educação do Instituto Politéc- não só... Os Reis do Kongo”, Portugal”, 15-04-2016; Edições “Envelhecer com Aceitação”; nico do Porto/InEd, Centro 05-05-2016; Museu Bernardi- Colibri, apresentação da obra 08-04-2016; Câmara Munici- 124 O REFERENCIAL O REFERENCIAL 125 PressPrémios_A4 AF.pdf 1 12/05/16 10:17

O NOSSO MAIOR PRÉMIO É BEBER CAFÉ CONSIGOB TODOSOLETIM OS DIAS. no Machado, conferência “A Colibri, apresentação do livro Liberdade de Imprensa”, 03- inauguração da exposição de Censura do Estado Novo so- “5.ª Divisão – MFA – Rev- 05-2016; Atelier Gessos Mac- gravura “Gravar o Imaginário” bre o Jornal de Notícias”, 29- olução e cultura” de Manuel eiro, inauguração da exposição e lançamento de livro de BD 04-2016; sarau literário e mu- Begonha, 23-04-2016; Edições de pintura “Céu, Terra e Mar, a de Sharon Mendes “As aven- sical Versos e Sons de Abril, no Sílabo, sessão de lançamento dois tempos”, de Cerqueira de turas da Família do Carig”, âmbito das Comemorações do do jogo “Vamos Prevenir! – Sousa, 05-05-2016; Le Monde 12-05-2016; Le Monde diplo- 42º Aniversário do 25 de Abril, As Aventuras do Búzio e da diplomatique, apresentação matique, e Junta de Freguesia 23-04-2016; presidente da As- Coral” de Nicole Figueiredo e do livro “Do Operário ao Ar- do Lumiar, ciclo “Conversas sembleia Municipal, presi- Joana Alexandre, 28-04-2016; tista”, 06-05-2016; Museu do ao Lusco-Fusco”, 10-05-2016; dente da Câmara Municipal Câmara Municipal de Grân- Neo-Realismo e Cooperativa Museu do Neo-Realismo, de Porto de Mós e Edições Co- dola, inauguração do Parque Alves Redol, apresentação do exposição comemorativa do libri, apresentação da obra “Ci- de Merendas “Montinho da livro “Exílios” de Fernando centenário do nascimento de dadão e Marinheiro – Hom- Ribeira” 01-05-2016; Revista Rosas,04-05-2016; Fundação Mário Dionísio “Passageiro enagem ao Contra-almirante de Derecho Social Latinoamé- Mário Soares, ciclo de História clandestino Mário Dionísio Vítor Crespo”, 25-04-2016; rica, Centro de Estudos Sociais Contemporânea “Rupturas”, 100 anos”, 14- 05-2016; Al- Município de Vila Franca de da Universidade de Coimbra 11-05-2016; Fundação Frie- farroba e Câmara Municipal Xira, exposição “Vila Franca (CES) e Fundação Friedrich drich Ebert, Seminário In- de Grândola, lançamento do de Xira anos 40-50 do Séc. XX Ebert, Seminário Internacion- ternacional “Democracia e livro “Os expostos no con- – Molduras de um Concelho”, al sobre o tema “Austeridade, Direitos Tensões em diferentes celho de Grândola” de Ger-

30-04-2016, apresentação da Desenvolvimento e Direitos latitudes”; 06-05-2016; presi- mesindo Silva, 14-05-2016; C obra “Histórias que as mul- Sociais”, 07-05-2016; Câmara dente da Câmara Municipal director do IDN, lançamento heres contam: testemunhos Municipal de Serpa, União de Oeiras, inauguração da do livro “Paz e Guerra em M reais”, com Isabel do Carmo, de Freguesia de Vila Nova de exposição de pintura “Im- Raymond Aron: Ontologia e Y 07-05-2016; Câmara Mu- São Bento e Vale de Vargo e pulsus” de Mário Henriques, Epistemologia da Ordem In- nicipal de Lisboa, e Cinema S. Edições Colibri, apresentação 14-05-2016; Daniel Bastos, ternacional”, de Vitor Ramon CM Jorge – EGEAC, abertura da do livro “Vila Nova de São lançamento do livro “Gé- Fernandes; 17-05-2016 7.ª Edição do FEstin- Festival Bento – Génese de uma Pov- rald Bloncourt - O olhar de MY de cinema itinerante de Lín- oação fronteiriça” de António compromisso com os filhos CY gua Portuguesa, 04.04-2016; Martins Quaresma, 30-04- dos Grandes Descobridores”; Câmara Municipal de Sobral 2016; Sindicato dos Jornalistas Livraria Círculo das Letras e CMY de Monte Agraço e Edições debate “Dia Internacional da Câmara Municipal de Lisboa, K

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Livros “Barnasauts – Barricados de Diploma das Comemorações de Radioamadores da Região “Biografia Tenente-General can», oferta de Pere Camps; dos 40 anos do 25 de Abril – de Lisboa – ARRLx; Placa de Alípio Tomé Pinto – o Capitão “Dig 33 – brinca com algumas este certificado confirma que Homenagem do Centro Cul- partes de que somos feitos”, de o operador da Estação Ama- tural 25 de Abril de São Paulo do Quadrado”, oferta do gen- Mais do que um café, Delta é partilha. eral Alípio Tomé Pinto; “Até Arthur Santos, oferta do autor. dora com o Indicativo A25A, “À Associação 25 de Abril na amanhã e não morras!”, de Diversos efectuou contacto em HF Comemoração do 42.º An- com as 4 estações comemo- iversário do 25 de Abril”. É acordar com um bom dia e desejá-lo aos outros. É o pretexto para mais uma Sérgio Figueira, oferta do au- Quadro com fotografias do rativas do diploma, CSMFA, conversa sem horas contadas. A desculpa para estar com vezes sem tor; “Cambança final – Guiné- Bar/ Restaurante da Asso- CS25RSP; Cs25 GNR Cs conta. Em 2016 continuamos a ser o café da vida dos portugueses. E os Guerra Colonial” de Alberto ciação 25 de Abril, oferta de Branquinho, oferta do autor; EPC; oferta da Associação portugueses continuam a ser quem diariamente nos enche de vida. Pedro Onório. Esta é a partilha diária que queremos continuar a saborear consigo. Sempre.

DELTA, O CAFÉ DA SUA VIDA. 15.º ANO 4.º ANO 2.º ANO 126 O REFERENCIAL CONSECUTIVO CONSECUTIVO O REFERENCIALCONSECUTIVO 127 JNegocios_257x320_CapitalCerto.pdf 1 15/03/16 16:18

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