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A centenária Rádio Clube de Registros em meios impressos documentam a origem da emissora pernambucana em 06 de abril de 19191

Pedro Serico VAZ Filho Universidade Anhembi Morumbi, Escola de Comunicações e Artes/USP, São Paulo2

Resumo

Esta pesquisa foi realizada inicialmente pela leitura de jornais e revistas, de inserções sobre rádio, a partir de 1919. Tais meios comprovam naquele ano a origem da Rádio Clube de Pernambuco, na cidade de . Referências em obras diversas, indicativas ao tema e entrevistas também foram realizadas, com a finalidade de reconstituir fatos históricos da emissora pernambucana, destacada como importante estação radiofônica na região Nordeste do país, reveladora de inúmeros nomes que, a partir da atuação na mencionada rádio ganharam projeção nacional. Destaca-se nesta pesquisa também o reconhecimento do pioneirismo da Rádio Clube de Pernambuco, entre outras datas comemorativas do rádio brasileiro. No caso, a apresentação experimental no dia 07 de setembro de 1922, no , durante a celebração do centenário da Independência do Brasil. Assim também a inauguração da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro em 20 de abril de 1923, por Edgard Roquette-Pinto e outros companheiros.

Palavras-chave: História do Jornalismo; Impresso; Cultura; Século XIX.

O resgate histórico por meios de comunicação periódicos impressos, como jornais e revistas, inicialmente é uma valorização deste tipo produção. Ainda, que constem questões relacionadas ao controle destas publicações, conforme os respectivos períodos, como censuras, ou linhas editoriais distintas, os registros de textos e fotos permitem a reconstituição de épocas e fatos. Esta pesquisa busca referências da reconstituição histórica do rádio brasileiro pela cobertura impressa da radiodifusão nacional desde 1919. Neste

1 Trabalho apresentado ao GT História da Mídia Sonora. 2 Pedro Serico Vaz Filho, graduado em jornalismo, especialista, mestre, doutor em Comunicação e pós- doutorando na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Docente na Universidade Anhembi Morumbi. Atuações anteriores em docência nas instituições de ensino superior: Universidade São Marcos, Universidade Santana, Faculdade Cásper Líbero, professor palestrante na ECA/USP. Atuações nos meios de comunicações rádio Record, Rádio Capital, Rádio América, Rádio Gazeta, Jornal Diário Popular e TV Gazeta. E-mail: [email protected].

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ISSN 2175-6945 sentido, visando principalmente a origem da Rádio Clube de Pernambuco, considerada a primeira emissora de rádio do Brasil, com atividades registradas a partir de 06 de abril de 1919. O que os meios impressos oferecem, aliados às referências bibliográficas, com soma de depoimentos, ajustam a fragmentação dessa trajetória histórica. Esta abordagem contribui com esta pesquisa, que se deparou com documentações sem nitidez. Outras simplesmente inexistentes. Assim, as buscas e reflexões em torno do tema são afloradas revelando contextos de épocas e outras ramificações do conhecimento e do saber. Milanesi nos incentiva a este formato de investigação: É possível fazer documentação sem biblioteca (acervo). Um serviço de documentação é capaz de informar um pesquisador sobre o que existe na área pesquisada: livros, artigos, filmes, manuscritos, enfim, quaisquer documentos. E também nomes e endereços de especialistas e entidades. Nessa busca, destacam-se fundamentalmente as bibliografias, ou seja, levantamentos das informações aptos a serem consultados na medida das necessidades. Em suma, um centro de documentação em qualquer área do humano daria a oportunidade de informar o que existe sobre um assunto em suas mais diversas facetas, mesmo que não seja possível ter acesso aos documentos (MILANESI, 1985:81).

Com o incentivo do mencionado autor, as inquietações da pesquisa provocam apurações situadas em marcos importantes. Do nosso foco, sobre o início da trajetória radiofônica brasileira partimos para as publicações do ano de 1919, em Recife, quando da fundação da Rádio Clube de Pernambuco. Das consultas às revistas e jornais, do final da segunda década século XX, incluindo os anos vinte e trinta, não é raro o encontro de inserções sobre o nascedouro da citada emissora. Incluindo as evoluções desta. As páginas amareladas, desbotadas e com outros desgastes do tempo não apagaram o que foi impresso. O extinto Jornal de Recife, do ano de 1919, é um precioso arquivo, que abriga artigos reveladores sobre o pioneirismo da rádio pernambucana. Na edição do dia 25 de abril daquele ano, portanto nove dias após a fundação da Rádio Clube de Pernambuco, a publicação insere uma convocação para aprovação de estatutos.

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Inserção publicada no Jornal do Recife, edição número 111, dia 25 de abril de 1919, sexta- feira. Página 02.

Em conciliação com a publicação do jornal, a consulta à obra do pesquisador, radialista e escritor Reynaldo Tavares (1928-2017) enriquece a apuração, pela a obra intitulada “Histórias que o rádio não contou, do galena ao digital, desvendando a radiodifusão no Brasil e no mundo”: Quando ainda não existiam transmissões radiofônicas na América do Sul, um grupo de amadores da TSF (Telegrafia sem Fio, como era conhecido o rádio na época) fundou a Rádio Clube de Pernambuco, no dia 06 de abril de 1919. No dia seguinte, a edição da tarde do Jornal de Recife noticiou assim o fato: “Consoante convocação anterior, realizou-se ontem, na Escola Superior de Eletricidade, a fundação do Rádio Clube, sob os auspícios de uma plêiade de moços que se dedicam ao estudo da eletricidade e da telegrafia sem fio. Ninguém desconhece a utilidade e proveito dessa agremiação, a primeira do gênero fundada no país. Vinte dias depois, seus estatutos foram aprovados e publicados pela imprensa nacional, comprovando a sua existência como a primeira rádio do Brasil. No entanto, naquela época, o rádio não era o que é hoje. As primeiras transmissões da Rádio Clube de Pernambuco só eram captadas por intermédio de um rádio receptor, construído artesanalmente e acompanhado por fones de ouvidos”. No mês de maio daquele ano “seus estatutos foram aprovados e publicados pela imprensa nacional, comprovando a sua existência como a primeira rádio do Brasil (TAVARES, 2014: 279).

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ISSN 2175-6945 Em 1919, aquela experiência radiofônica não se configurava como meio de massa. Até pela falta de receptores. Sendo que tal iniciativa passaria por constantes experiências técnicas. Tavares descreve que posteriormente, mas ainda naquele período, “poucas pessoas, a maioria da classe média alta de Recife, tinham acesso às transmissões de óperas, obras clássicas e recitais que dominaram a programação dos primeiros anos”. Naquele mesmo ano, a Rádio Clube de Pernambuco passa a ter os próprios estatutos. A organização da emissora se mantinha com a integração dos associados, seguia no desenvolvimento e contava com a visibilidade da imprensa do período. Graças a esta muitos registros certificam a existência e evolução da rádio naquele final da década de 1910 e início dos anos de 1920. Fator importantíssimo que permite a reconstituição histórica. Aliás, no mês de maio daquele ano “seus estatutos foram aprovados e publicados pela imprensa nacional, comprovando a sua existência como a primeira rádio do Brasil”, evidencia o escritor revelando que “só a partir de fevereiro de 1923, com a instalação de um pequeno equipamento de 10 watts, foi que a emissora passou a ser captada no centro de Recife. Por isso o seu pioneirismo foi bastante contestado com a chegada da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada, em 20 de abril de 1923”. O conflito sobre o nascimento das duas emissoras segue, entre outros aspectos, pelo fato da renovação dos estatutos da Rádio Clube de Pernambuco ter ocorrência em 17 de outubro de 1923, que causou também uma nova data de aniversário da emissora de Pernambuco. Consoante também com o que designou à estação um novo sistema, de radioamador, para radiodifusão, nova sede, novos equipamentos e a inclusão de novos integrantes. Ou seja, ocorre uma renovação geral na rádio. Estas reformulações, assim como os estatutos da emissora foram publicados em 06 de novembro de 1923, no Diário de Pernambuco, em 18 de outubro de 1923, e outros registros na edição dia 06 de novembro daquele ano.

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* Publicação de 18 de outubro de 1923, do jornal Diário de Pernambuco, registrando um ato de reorganização da Rádio Clube de Pernambuco.

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Inserção publicada no Jornal Diário de Pernambuco, edição número 257, dia 06 de novembro de 1923, terça-feira. Página 04.

Além das referências já ilustradas, uma outra importante contribuição com caráter testemunhal da emissora pernambucana, vem do relato do professor universitário, radialista e escritor Luiz Maranhão Filho. Este, autor do livro intitulado “Raízes do Rádio”. Na obra ele compartilha a própria vivência por ter trabalhado na citada emissora na década de quarenta. O depoimento é fortalecido pelo ambiente doméstico uma vez que o pai dele, Luiz Maranhão (1899-1961) também atuou na estação. É com esta propriedade que Maranhão Filho insere a experiência que teve na publicação que assina, entre outros artigos, depoimentos e palestras. Sobre o ano de 1923, ele afirma que a partir dali a Rádio Clube renasce reestruturada. “Ai ela se modernizou bastante (...) pode realmente fazer suas programações diárias e regulares”, relata.

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Inserção da revista “O Cruzeiro”, edição de novembro de 1973, comemorativa aos cinquenta anos da Rádio Clube de Pernambuco, considerando como data de aniversário da emissora o dia 17 de outubro de 1923, dia da promulgação dos novos estatutos da estação. Fator que excluía a fundação da rádio quatro anos antes, em 1919.

Da obra da renomada pesquisadora da história do rádio, que atuou como docente na Escola de Comunicações e Artes da Universidade e São Paulo, Gisela Swetlana Ortriwano (1948- 2003) destaca-se que: O Rio de Janeiro é considerada a primeira cidade brasileira a instalar uma emissora de rádio. Antes disso, porém, experiências já eram feitas por alguns amadores, existindo documentos que provam que o rádio, no Brasil, nasceu em Recife, no dia 06 de abril de 1919, quando, com um transmissor importado da França, foi inaugurada a Rádio Clube de Pernambuco (ORTRIWANO, 1985; 13).

Um celebre indicativo, dos primórdios do rádio brasileiro, causador de controvérsias, também tem menção na obra de Gisela Ortriwano que não contesta o pioneirismo radiofônico em Recife, mas escreve que: oficialmente, o rádio é inaugurado a 7 de setembro de 1922, como parte das comemorações do Centenário da Independência, quando através de 80 receptores especialmente importados para a ocasião, alguns componentes da sociedade carioca

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ISSN 2175-6945 puderam ouvir em casa o discurso do Presidente Eptácio Pessoa. A Westinghouse havia instalado uma emissora, cujo transmissor, de 500 watts, estava localizado no alto do Corcovado. Durante alguns dias, após a inauguração, foram transmitidas óperas diretamente do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. A demonstração pública causou impacto, mas as transmissões foram logo encerradas por falta de um projeto que lhes desse continuidade (ORTRIWANO, 1985:14).

A publicação da autora pode sugerir contradição, mas é compreensível pelo uso da palavra “oficialmente”, diante do importante acontecimento, em tal efeméride que contou com discurso presidencial e mesmo a ênfase ao Rio de Janeiro, capital sede do governo na época. Além das inúmeras fontes que registraram a solenidade. Enfim, toda a grandiosidade do contexto, a repercussão e reproduções das comemorações que ultrapassaram as fronteiras brasileiras, justificam: a opinião pública passou a considerar como sendo a partir dali a “inauguração oficial do rádio no Brasil”. Reiterando, questão esta aliada à nova realidade da Rádio Clube de Pernambuco, com os novos estatutos. O escritor Reynaldo Tavares complementa que: a estação montada no Corcovado irradiava regularmente dentro das possibilidades da época uma programação que incluía a cotação das bolsas do açúcar e do café, a previsão do tempo e a apresentação de números musicais e declamação diretamente de um estúdio montado no Largo do Machado, no Rio de Janeiro; era a estação do Sumaré, SQE. Para uma grande parte de pesquisadores, essa foi considerada a primeira emissora radiofônica que se implantou no Brasil. Dadas a falta de uma documentação e a precariedade daquelas irradiações, persistirá a dúvida de que, se mesmo em caráter experimental e demonstrativo, aquela não teria sido efetivamente a primeira rádio emissora a ser implantada em nosso país (TAVARES, 2014: 120).

Registradas em jornais da época, as duas datas são memoráveis para o rádio no Brasil: 06 de abril de 1919 e 07 de setembro de 1922. Sobre ambas se chegou a denominar “experiências” ou “demonstrações”. Seja como for, a experiência pernambucana, recifense já nasce com um nome e estatutos: Inicialmente difundida como “Rádio Club” e logo, no mesmo ano de “Rádio Club de Pernambuco”, pela própria naturalidade. Um outro acontecimento que acirra o debate sobre o início radiofônico brasileiro, já mencionado anteriormente, tem foco no texto de Ortriwano: Definitivamente, podemos considerar 20 de abril de 1923 como a data de instalação da radiodifusão no Brasil. É quando começa a funcionar a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada por Roquette- Pinto (1884-1954) e Henry Morize (1860-1930), impondo à emissora um cunho nitidamente educativo.” A palavra “definitivamente” também está inserida naquela passagem estrutural da Rádio Clube de Pernambuco, com reorganização que esta sofre em outubro de 1923. Sendo

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ISSN 2175-6945 que a emissora carioca se instala em abril daquele ano, seis meses antes. Dos estudos e depoimentos do professor Luiz Maranhão Filho um dado importante indica que “a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada em abril de 1923, por Roquette-Pinto só foi funcionar mesmo, com programação regular, a partir de setembro de 1924”. Ou seja, as duas emissoras, pernambucana e carioca, passaram por situações semelhantes de ajustes e reformulações, cada uma em sua fase inicial. Obviamente, no entanto, não se pode desprezar a origem da rádio pernambucana (1919), quatro anos antes do surgimento da rádio carioca (1923). Até por todos os registros impressos sobre a estação. Assim, os entendimentos neste ponto, descritos pela autora, somam-se ao evento do centenário da Independência do Brasil; a ênfase dada às manifestações cariocas; a excelência do nome de Edgard Roquette-Pinto, nascido no Rio de Janeiro. Ele que foi um intelectual com vários títulos e respeitado pela sociedade de então, tendo sido médico legista, escritor, antropólogo, etnólogo, ensaísta brasileiro, membro da Academia Brasileira de Letras, e acima de tudo orgulhava-se da atuação como professor. Da estação montada no morro do Corcovado, e encampada pelos Correios e Telégrafos, parte dos equipamentos foi adquirida por ele para a montagem da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Edgard Roquette-Pinto, era conhecedor da atuação da Rádio Clube de Pernambuco, antes da inauguração da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, em 1923, muito pela atuação e intermédio do primo dele, Oscar Moreira Pinto, que não foi fundador da estação pernambucana, “mas seu trabalho, a partir de 1923 revestiu-se de extraordinária importância para a emissora”, escreve Luiz Maranhão Filho, autor do livro “Raízes do Rádio”, enumerando o seguinte: 1º) o que a princípio foi uma simples tese transformou-se por veteranos do rádio carioca em depoimento à imprensa. Transformou-se depois numa espécie de verdade dogmática dos historiadores que não se preocuparam em conferir, através de pesquisas, a exatidão dessas fontes. 2º.) o cientista e escritor Roquette-Pinto nunca se arvorou de Pai do Rádio. Pelo contrário, desde 1923, quando fundou a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, reconheceu sempre que a emissora recifense era a decana das sociedades brasileiras de rádio, e 3º) os amadores recifenses que se reuniram em 1919 para fundar a Rádio Clube, estes sim, levaram avante a sua iniciativa plenamente convencidos de que estavam a criar a primeira empresa do gênero no Brasil”.

O nosso conhecimento também é enriquecido pelo ator, radialista e pesquisador da história do rádio, Renato Phaelante, profissional com atuação como coordenador da Fonoteca da Fundação , durante trinta anos. Ele é membro, imortal, da Academia Pernambucana de Música, professor universitário e autor do livro Fragmentos da História do

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ISSN 2175-6945 Rádio Clube de Pernambuco e defende que “a radiotelegrafia é, sem dúvida, precursora do rádio como veículo de comunicação. Para os amadores de então, da comunicação a distância, verdadeira paixão mantida por pernambucanos como um hobby, nasce o pioneirismo de Pernambuco em termos de rádio”. O autor também nos conta que a trajetória da emissora seguiu com sucesso, enfrentou crises, teve mudanças de endereço, mas se notabilizou, pela programação, audiência e pelos profissionais que formou e lançou como nomes famosos que pelos microfones da Rádio Clube de Pernambuco passaram. Entre eles: a atriz Arlete Sales, o apresentador Chacrinha, o humorista, ator e compositor , o também ator e humorista Lúcio Mauro, o compositor Antonio Maria, o músico Sivuca, entre outros.

No ano de 2014 a Rádio Clube de Pernambuco, passou a integrar temporariamente o sistema Globo de rádio. Tendo o nome modificado para Rádio Globo. Fato que contrariou estudiosos, pesquisadores, ouvintes e profissionais que ali trabalharam, por causa da mudança de nome. A edição de número 784, do “Observatório da Imprensa”, em artigo assinado por Ruy Sarinho condenou o fato com o título: “Alô Nordeste”: mataram a Rádio Clube de Pernambuco. No texto a indignação:

Atenção, esta notícia deveria sair nas páginas policiais: “Morte anunciada. Acabam de matar a Rádio Clube de Pernambuco, a P.R.A. 8!”. Choram as ondas do rádio. A gula insaciável pelo poder, pelo dinheiro e pela manutenção do monopólio da comunicação brasileira, que alimenta o clã Marinho, decretou o dia 3 de fevereiro de 2014 como o dia da morte da Rádio Clube de Pernambuco, a primeira emissora de Rádio do Brasil e da América Latina. Um assassinato da cultura, da história do rádio, por cabeças “inescrupulo$as”. A partir desta data, quem sintonizar a frequência AM de 720 KHz não vai mais ouvir as vinhetas da Clube e sim da globalizada Rádio Globo, uma emissora que impõe uma programação pasteurizada país afora. A Globo vai na contramão do rádio, que tende a revalorizar as programações locais, regionais, com a cara de cada região e não essa coisa insossa de programação em rede que tentaram difundir mundo afora a partir da globalização neoliberal made in Tio Sam. Com finalidade de acabar com as culturas e identidades locais. A saída do ar da Rádio Clube de Pernambuco, a P.R.A. 8, é um crime. Que mudasse de mão, mas continuasse Rádio Clube de Pernambuco.3

3 Por Ruy Sarinho – publicado originalmente na edição 784 do Observatório da Imprensa. Disponível em https://atalmineira.com/2014/02/10/o-adeus-a-radio-clube-de-pernambuco/.

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ISSN 2175-6945 O texto de Ruy Sarinho, somada a tantas outras manifestações ecoou pelos ares além do Nordeste durante três anos, até que em 2017 é anunciada outra mudança: “Volta da Rádio Clube AM é celebrada na Academia Pernambucana de Letras”:

O retorno da programação da Rádio Clube AM foi celebrado nessa segunda-feira (10/07/2017), na Academia Pernambucana de Letras. A conferência “Origens da Rádio Clube de Pernambuco e seu pioneirismo” foi ministrada pelo pesquisador Renato Phaelante, com participação do acadêmico Reinaldo de Oliveira e da presidente da instituição, Margarida Cantarelli. A Rádio Clube AM é chamada de pioneira por ter realizado a primeira transmissão no Brasil, em 1919. O vice-presidente do Diário de Pernambuco, Maurício Rands, afirmou que “A Rádio Clube AM volta agora restabelecendo a sua conversão com a história, com a vida e com a pernambucanidade. O compromisso é com a nossa gente e com o nosso futuro. É um momento histórico. Pernambuco, através da Rádio Clube, do Diário Pernambuco e das suas plataformas, está novamente falando para o mundo”. Alexandre Rands, presidente do Diário, compôs a mesa.4

A Rádio Clube de Pernambuco, entra no ano de 2019, com destaque para conteúdo jornalístico e musical, nas frequências de AM e FM. São oferecidas programações com prestação de serviços, mais para notícias locais, não excluindo as nacionais e internacionais, porém com foco na utilidade pública. Sendo a cobertura esportiva, sobretudo o futebol, o carro chefe da rádio, com os times locais. Mantendo assim o slogan: “Quem tem clube tem tudo”.5 marcando o centenário da emissora com o horário matutino da emissora, de segunda à sexta- feira, oferecendo o “Programa do Bocão”, sob o comando do apresentador Tarcísio Miguel Regueira, mais conhecido como Tarcísio Bocão. Em depoimento a esta pesquisa ele declara que realiza uma programação: “de prestação de serviços e utilidade pública à população local, com questões voltadas para reclamações sobre falta de energia elétrica, buracos nas ruas, coleta irregular de lixo e outros problemas da cidade. Chamando assim também a atenção de autoridades”. A referida programação tem linguagem informal e características comunitárias. Destaca-se também um editorial realizado por Bocão, que no ar atende ao vivo ouvintes, insere o noticiário esportivo, principalmente sobre futebol, fatos da editoria de polícia e debates sobre temas diversos. Ele conta também que a inserção da “Ave Maria”, que diariamente vai ao ar às 18h, foi gravada no início dos anos de 1960, pelo locutor Abílio de Castro, que exerceu o cargo de diretor artístico da Rádio Clube de Pernambuco, oração que também contou com produção do então redator de Mário Líbânio. Inúmeras outras histórias

4 Disponível em: http://www.joaoalberto.com/2017/07/11/volta-da-radio-clube-am-e-celebrada-na-academia- pernambucana-de-letras/ 5 Leo Gangana, em depoimento exclusivo para esta pesquisa.

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ISSN 2175-6945 da rádio estão sendo documentadas semanalmente no jornal Diário de Pernambuco, em coluna às segundas-feiras, desde o início do ano de 2019, para celebrar os cem anos da rádio.

Antiga sede da Rádio Clube de Pernambuco, av. Cruz Cabugá, bairro Santo Amaro.

Sede atual da Rádio Clube de Pernambuco, rua do Veiga, 590, bairro Santo Amaro. Fotos: Pedro Vaz De fato, o final da segunda década do século XX e a terceira década do mesmo período, revelam-se instigantes neste estudo, por ser o início da emissora. Graças a estas documentações, livros e depoimentos é possível uma aproximação ao início da trajetória radiofônica brasileira. As publicações aqui reproduzidas dos jornais Diário de Pernambuco e Jornal de Recife, nos auxiliam a reconstituir aquela época de início da radiodifusão brasileira. Assim também possibilitam a compreensão da inquietação de integrantes daquela geração em torno do tema “rádio”. São recursos disponíveis, diante do tempo que se distancia já que inexistem arquivos sonoros radiofônicos daqueles primeiros anos do rádio no Brasil.

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ISSN 2175-6945 Referências

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