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O ATO DE NARRAR À LUZ DA CRÍTICA DE ADONIAS FILHO Adeítalo Manoel Pinho*

RESUMO — Este ensaio tece reflexões a respeito do gênero romance, a partir de três visões críticas principalmente: Georg Lukács, Mikhail Bakhtin e Adonias Filho. Apontado como a forma literária da Modernidade, o romance será conceituado pelos três críticos na busca de um sentido essencial para a época cultural coeva. Aqui, estão expressos o conceito de mundo grego ideal, final do romance, o aparecimento de uma nova postura cultural em Lukács, o inacabamento, o novo sentido de tempo, a polifonia narrativa em Bakhtin, as revoluções na estrutura narrativa representando um desejo de ruptura na contemporaneidade nas concep- ções de Adonias Filho em romances brasileiros.

PALAVRAS-CHAVE: Crítica. Romance. Modernidade.

INTRODUÇÃO

Bem aventurados os tempos que podem ler no céu estrelado o mapa dos caminhos que lhes estão abertos e que têm de seguir! Bem aventurados os tempos cujos os caminhos são iluminados pela luz das estrelas! (p. 27)

O epigrama de Lukács acima nos envia para um mundo, segundo ele, onde a imanência e a transcendência estão como uma só. A transcendência e a imanência faziam com que o homem grego tivesse a compreensão completa da vida.

* Prof. Assistente (DLA/UEFS). E-mail: [email protected] Universidade Estadual de Feira de Santana – Dep. de Letras e Artes. Tel./Fax (75) 3224-8265 - Av. Transnordestina, S/N - Novo Horizonte - Feira de Santana/BA – CEP 44036-900. E-mail: [email protected]

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Quando o autor de Teoria do Romance fala de civiliza- ções fechadas, mostra simplesmente como, diferentemente da fragmentação do mundo moderno, a civilização grega buscava sua felicidade em monumentos simples e completos de ligação do homem ao mundo, mostra também como esta ligação é possível nos tempos gregos e, como reação deste entendimen- to, pode trazer à tona a compreensão dos turbulentos tempos modernos. Este mundo evidentemente é o grego, o qual estamos tão distantes que só podemos entendê-lo como algo que não podemos jamais ser. Aquelas estrelas tal qual um mapa onde tudo é possível e mesmo não sendo, o mundo grego continua seu caminho. As posições do grande ensaísta irão buscar um ponto de reflexão para a compreensão do mundo moderno, suas faltas, seus abismos. A partir das observações acima, já podemos delinear a proposição deste texto: Primeiramente, uma análise das obser- vações principalmente dos ensaístas Georg Lukács e Mikhail Bakthin sobre a Epopéia e o romance, sua progressão até a Modernidade. Num segundo momento, buscar-se-ão as refle- xões de textos críticos de Adonias Filho sobre o romance. Demonstrar aqui como o crítico baiano tinha por objetivo tam- bém inserir o romance brasileiro na problemática moderna. Por outro lado, um questionamento desta leitura é o distanciamento da Modernidade em relação à Grécia Antiga (como civilização fechada), as implicações modernas na forma romanesca e as posições do crítico Adonias Filho sobre o romance do Moder- nismo brasileiro.

1 EPOPÉIA E ROMANCE: REFLEXÕES CRÍTICAS

O romance é “a coisa impura, O monstro de muitas patas e muitos olhos.”1

Recriar o mundo através de uma linguagem singular é tarefa própria do romancista. O romance é imagem, transmutação, ambigüidade, impureza. É o liame entre a poesia e a prosa.

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Discutir a trajetória do romance é reacender a chama de algumas reflexões levantadas por teóricos como Lukács e Bakhtin que evidenciam uma relação bastante dissonante entre a Epopéia - gênero voltado para a tradição clássica ou expres- sivo dos tempos heróicos – e o Romance – forma de narrativa que se apresenta como produto do capitalismo individual e de uma marca muito forte e determinante para a visualização da literatura a partir de um traço da Modernidade – a forma inacabada. Quando os seus primeiros estudos não davam ao romance a devida atenção, atentou-se para um fato relevante: a maioria das suas definições não se atreviam a um aprofundamento estilístico, sempre permanecendo em ponto superficial e inde- ciso. Este comportamento dos primeiros teóricos deu a falsa impressão de que o romance, dentre os gêneros clássicos, não era tão nobre quanto os demais. O Romance, como um microcosmo da realidade, represen- ta modernamente a completa incapacidade de manter uma relação harmoniosa com os sujeitos que nele coexistem.

O romance é a epopéia de um tempo em que a totalidade extensiva da vida não é já dada de maneira imediata, de um tempo para o qual a imanência do sentido à vida se tornou problema mas que, apesar de tudo, não cessou de aspirar à totalidade (LUKÁCS, p. 27)2 .

Lukács afirma que o romance é a forma de narrativa que expressa a desagregação dos indivíduos, a sua constante luta para defender os direitos de determinada classe. Nesse caso, o romance chegaria ao auge com a burguesia, apontando as contradições da nova classe dirigente. A trajetória sofreria, conforme Lukács, quatro mutações. O antigo Épos, que repre- sentaria a infância da humanidade; o nascimento da forma romanesca, com a ascensão da classe burguesa; auge no fim do séc. XVIII e XIX (pleno desenvolvimento do capitalismo); morte do romance dar-se-ia no Séc. XX com a completa desar- ticulação da narrativa épica. Lukács prevê ainda o renascimento do romance ou um novo Épos com a construção de uma ordem socialista onde

Sitientibus, Feira de Santana, n. 40, p.9-38, jan./jun. 2009 1 2 seria restabelecida unidade perdida pelo homem e que o épico também não seria a constituição ideal. Esta nova estrutura formar-se-ia com um novo discurso orientador. Bakhtin, por sua vez, contrariando Lukács, considera o romance como gênero ainda inacabado. Ele afirma que o discurso ficcional não se relaciona ao movimento social. O processo de evolução do romance não está concluído. Ele impõe-se desde o início do século XX numa nova fase. Nossa época caracteriza-se pela complexidade e pela extensão insólitas de nosso mundo, pelo extraordinário crescimento das exigências, pela lucidez e pelo espírito crítico. Estes traços determinam igualmente o desenvolvimento do romance3. A pré-história do romance estaria na antigüidade e na Idade Média. A narrativa romanesca assumiria, segundo Bakhtin, duas forças: “tendências: centrípeta e centrífuga”. O romance de cavalaria seria o limítrofe entre Epopéia e Romance. “Dom Quixote” e as narrativas de Rabelais seriam as primeiras for- mas romanescas acabadas.

Bakhtin proclama a originalidade dessa forma que apresenta e capta o cotidiano, o incompleto, o relativo, o aberto, o devir. Uma realidade não heróica sem princípio nem fim, ...4

Enquanto os outros gêneros estariam parcialmente mor- tos, o romance continuaria em evidente evolução, por isso mesmo não é uma forma pronta, seria, antes de tudo, um rebento dos tempos modernos. Este inacabamento supõe um alto risco no que concerne a uma conceituação definitiva. O gênero épico foi conceituado e, por isso mesmo, dominado, posto numa certa regra onde nela as relações já estão resol- vidas. O herói épico configura-se como fruto de uma estrutura plana, de um mundo onde toda a problemática se resolveria a partir de sua potencialidade e de seus atributos meio humanos meio divinos. Ulisses, na Odisséia, personifica a força de um povo, o ícone que abranda as fúrias e seduz os deuses. Observando este grande poema, compreende-se que a noção de classe é inexistente, como também de quaisquer vestígios de conflito e de contestação da hierarquia: simplesmente há o

Sitientibus, Feira de Santana, n. 40, p.9-38, jan./jun. 2009 1 3 eleito e aqueles que vão tranqüilamente segui-lo. O elemento que legaliza o herói é a prova de valor que só ele pode realizar, pela sua dignidade, força e astúcia. Uma epopéia formaliza o grande símbolo de como uma sociedade se organizou, e o seu desaparecimento marca, com o mesmo efeito, o surgimento de outra visão de mundo ou poder-se-ia dizer outro mundo. O romance é a forma estética da literatura que reflete o nosso tempo. Se ele toma a direção do seu fim, como articulam uns, ou continua evoluindo, como defendem outros, são atitudes que ainda almejam a elucidação do próprio romance. Como foi referido anteriormente, é preciso uma mudança de época para que o romance realmente termine. Na época clássica, o romance assumiu um caráter mar- ginal, não participava oficialmente da hierarquia organizada dos gêneros constituídos e fixos. As grandes formas poéticas ignoram completamente o romance, pela sua falta de homogeneidade, harmonia com os outros gêneros.

A característica essencial de outros gêneros literá- rios é repousar numa forma acabada, o romance aparece como alguma coisa que devém como um processo. E é por isso o gênero mais exposto aos perigos do ponto de vista artístico ...5.

Seriam as paródias, as precursoras do romance. O duplo paródico das grandes literaturas clássicas apresentar-se-iam como forma embrionária do romance. Esta postura plural ca- racteriza o caráter auto-crítico do gênero em formação. É, na segunda metade do séc. XVIII, que ele assume o ambiente literário como gênero dominante, passando a perten- cer à grande literatura. Romancistas como o alemão Jean Paul, com seus infindáveis textos em vários volumes, impregnados de inúmeras aventuras, Richardson, Fielding, Defoe, com seus heróis em meio a aventuras pequeno-burguesas dominam o gosto do novo leitor vindo da burguesia. O romance, enquanto gênero em constante desenvolvi- mento, reflete de forma substancial o que é peculiar de cada época nos espaços políticos, ideológicos, religiosos e também o que é prazer, dor e crueldade. Somente uma forma literária

Sitientibus, Feira de Santana, n. 40, p.9-38, jan./jun. 2009 1 4 inacabada pode acoplar-se aos modelos sociais de cada épo- ca. A forma acabada pressupõe o achamento do grande modelo social e do seu desaparecimento, como o foi a epopéia para o mundo greco-romano. Por isso, os gêneros que, uma vez realizados, ficaram no passado não poderiam representar o espírito da nossa época. O romance, como é o gênero que se faz, pode acompanhar as rápidas mudanças de um século como o vivido por nós.

O romance do séc. XIX é uma resposta multifacetada à pergunta de como é o homem: uma gigantesca teoria do caráter e sua projeção na sociedade. O romance antigo ensina-nos que o homem é; no começo da era contemporânea, indaga como ele é. O romance de hoje perguntar-se-á seu porquê e seu para quê6.

Júlio Cortázar afirma ainda que o atual estágio do romance moderno seria a forma preferida do nosso tempo, pois o homem precisa do romance para conhecer o mundo e conhecer a si próprio. O romance faz-se o instrumento verbal necessário para a posse do homem como pessoa, do homem vivendo e sentindo-se viver. Essa possibilidade abre-se como uma luz vibrante atraindo-o para a perdição. Não poderemos esperar que a atitude infernal venha para a humanidade sem um preço, pois tudo que vivemos e sentimos hoje teve o objetivo de trazer- nos a felicidade. A Modernidade mostra que o caminho é árduo demais e pouco gozoso. E se queremos mesmo esse prazer que tanto cobramos, teremos que pagar o preço, e lançarmo-nos vorazmente em direção ao gozo abissal, ao buraco negro das nossas intenções falidas e impossíveis. O romance representa e nos atrai, a cada página, para esse jogo onde sempre é o absurdo. O romance moderno não possui personagens – existem cúmplices que ora condenam, ora absolvem – dando-nos a medida exata da existência humana no nosso tempo. Além disso, o romance transforma-se assumindo novas roupagens, criando o veio poético e o nascimento da prosa poética, construída por entre linhas e imagens,

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dá sinais de que como espalha revelações mas também esconde inquietação, afasta e indaga, nu- ma tímidos ensaios de apropriação e noutra em nosso século com evidentes manifestações de inquietação formal, de ansiedade que o levará a dor, por fim um passo de incalculável importância; a incorporação da linguagem poética, a linguagem de expressão imediata das intenções7.

O romance é o oceano abissal onde tudo cabe e se esconde, é a torre de babel, na qual todas as linguagens são possíveis. Mas, apesar da intromissão da poesia, o romance ainda é, acima de tudo, discurso, narração, ação que sob a égide da poesia ganhou profundidade a nível estético e alargou os horizontes da prosa ficcional. Essa “atitude poética”, assu- mida por muitos romancistas prova que o romance tornou-se realmente uma forma narrativa em devir, proteiforme. Nas palavras de Otávio Paz, a Modernidade funda o mundo no homem sendo seu alicerce a consciência. Tão logo o homem seja o senhor e não a vítima das relações históricas, a exis- tência social será determinada pelos “justos atos” humanos e não o inverso como agora. O mundo, na nossa época, é formatado a partir do homem via um discurso gerador. Porém, essa mesma construção provoca o esvaziamento em relação ao outro, ao conhecimento e a si próprio. Um esvaziamento das convicções formou “Dom Quixote”, e a crise dos paradigmas orientadores como a História e a Moral, proporcionaram uma carga muito grande sobre as costas desse personagem. O gênero literário que mais demonstrou o desespero do homem em relação ao homem, ao mundo foi o romance. Ele antes surge de uma mudança crucial de orientação. Configura- se como uma representação que se iniciou a partir do aban- dono de um mundo sem conflitos, plano, e, por isso mesmo, ilegível. A Ciência moderna impôs ao homem uma implacável sen- tença: dessacralizou um sistema de valores teleológicos. A crença no sagrado, no divino, no transcendente, como orien- tação e compreensão dos fenômenos, foi abandonada e em seu lugar surgiram as explicações científicas “objetivas” e “empiricamente

Sitientibus, Feira de Santana, n. 40, p.9-38, jan./jun. 2009 1 6 comprováveis”, conceitos hoje tão fragilizados como o foram anteriormente o ritual e a crença religiosa. Essas mudanças de códigos e valores provocaram no homem uma inadaptação ao mundo, ou seja, a profanação de “verdades” tidas como dogmáticas criou um fosso intransponível. “Toda revolução sugere a con- sagração de um sacrilégio, que se converte num novo princípio sagrado”8. O câmbio de valores caros ao homem – como os éticos, morais, artísticos, prazerosos – aliados ao estabeleci- mento de estruturas ideológicas de poder, minaram, no mesmo descuidado ser humano, o espírito otimista em relação ao mundo, à natureza e a ele próprio – inaugurando a Modernidade. A melhor palavra sobre estes tempos certamente é a descon- fiança. O fosso que configura a era moderna corresponde ao que Otávio Paz chama de “espírito laico ou neutralidade”. O deus moderno é a técnica, a máquina. Fórmulas mágicas antigas foram substituídas por senhas e códigos que possibilitam con- cretizar sonhos antes impossíveis. A relação homem-homem foi substituída pela homem-máquina. Por isso, não é surpreen- dente que a imagem seja cheia de cores, que o movimento holográfico tenha promovido novas sensações. As configura- ções que geraram a virtualidade do mundo contemporâneo, confirmam-se a partir da escolha do discurso mediador entre os homens e o mundo, no início da civilização ocidental, como nós a entendemos. Este discurso mediador substituiu o contato direto, o qual Freud denominou de momento sem linguagem. Portanto, não há uma revolução hoje, pois virtualidade, discurso paternalista, racionalização dos fatos são itens já antigos, por conseguinte, permanecendo sim, e, não aparecen- do, na Modernidade. E os avanços demonstram ainda mais a terceirização, a ênfase em ações relativas. É muito provável que o homem não esteja tão feliz com o desaparecimento do combate corpo a corpo, do contato físico mesmo sabendo dos seus riscos. Aliás, é pelo enfraquecimento dos sentidos, pela derrota dos contatos sempre conflituosos, sempre perigosos que somos levados a escolher as regras, os formulários de preenchimento, os balcões de atendimento, os programas dos

Sitientibus, Feira de Santana, n. 40, p.9-38, jan./jun. 2009 1 7 computadores em quase todas as parcelas da vida. “Ninguém tem fé, mas todos criam ilusões”9. O ideal burguês fundamentado no trinômio igualdade, liberdade e fraternidade funcionou como um emaranhado de novos instrumentos de opressão, sendo seu principal a razão. As teorias Marxistas criticam a inconsistência da possibilidade mítica de existência de um paraíso celeste, por outro lado, ainda querem legalizar a utopia social de um Éden Socialista. Sucumbem com o princípio religioso de vida eterna e funda- mentam sua utopia numa relação idealista de consciência de classe. Romance e contemporaneidade são sinônimos, na medida em que expressam respectivamente evolução literária e pro- gresso social, político, econômico do mundo moderno. Bakhtin sugere alguns “índices de gênero” que tentariam apontar para a possibilidade de existirem romances de quali- dade incomparável, tanto na sua construção em único plano, como em muitos planos.

Em nosso parecer, o romance é fruto de uma mistura nova e contemporâneo de todos os gêne- ros poéticos. Admite igualmente os elementos épicos, dramáticos e líricos. O elemento dominan- te dá o caráter do romance ...10

O romance moderno seria talvez a inversão da épica, um duplo travestido, pois seus heróis lutam aberta ou secretamente não a favor do seu mundo, porém contra ele. É uma luta da sociedade contra ela mesma. A narrativa que seria o marco do romance moderno é Dom Quixote de Miguel de Cervantes, que traça a trajetória de um herói em luta num mundo duvidoso e qualquer relação de consonância entre homem e mundo parece baldada.

Cervantes é o Homero da sociedade moderna... a desarmonia entre o Quixote e seu mundo não se resolve, como na épica tradicional, pelo triunfo de um dos princípios, mas por sua fusão.11

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Irreverente, ilegítimo, enfraquecido, desacreditado, im- perfeito, confuso, mas altivo. Solitário como ermitão que busca refúgio numa aldeia distante e desabitada, ou andarilho erran- te como quem vagueia pelo mundo largado à sua própria sorte sem destino, para a sua eterna procura. Assim, impõe-se o Romance criando mundos e heróis. Firmando-se enquanto discurso construtor e desconstrutor, seguindo o seu curso negando e admitindo a possibilidade de um universo de seres e coisas inimagináveis. Lutando e brincando com a linguagem.

2 O HERÓI NO ROMANCE

Para Octavio Paz, não existe sociedade sem heróis em que se reconhecer. Considerando esta afirmação como ponto crucial para a discussão que ora se inicia, levantaremos alguns pontos que vêm ratificá-la. Os textos clássicos de Otávio Paz e Flávio Kothe serão exemplos utilizados nas nossas discussões. O herói moderno tem características claramente díspares do herói eleito da epopéia. A sociedade moderna caracteriza-se pela completa frag- mentação do homem e conseqüente desarticulação com o mundo circundante. Compreendamos articulação, aqui, como um encontro tranqüilo e otimista entre homem e mundo, e entre homem e homem. A capacidade de articular é semelhante à possibilidade de conservar posturas consagradas e, por con- seqüência, desarticular é semelhante ao incômodo da conser- vação de estruturas canonizadas e arcaicas. Sob este ponto de vista, o herói moderno aparece como a figura problemática, ou a demoníaca de que fala Lukács. Este herói surge contra- posto ao herói positivo, indivíduo que estabelece o código de modelo da sua comunidade, luta pelos seus valores. É a voz singular que fala enquanto ser plural. O herói moderno surge com a tarefa de caminhar pelas alamedas do insólito em busca de uma identidade perdida, se distanciando cada vez mais de sua origem, tornando-se um verdadeiro simulacro12, destruindo, dessa forma, os predicados heróicos da narrativa épica. As reflexões de Platão sobre o simulacro explicam muitos questionamentos da Modernidade,

Sitientibus, Feira de Santana, n. 40, p.9-38, jan./jun. 2009 1 9 tais como duplicação e reduplicação, virtualidade, identidade e papel social. O simulacro é, em última instância, uma cópia que perdeu sua característica principal: representar as mes- mas funções do que se supunha original; é preciso aqui estar atento ao perigo de conceitos como original, cujos pontos de partida são pressupostos extremamente ideológicos. O simu- lacro é como um pretendente à mão de Penélope, na Odisséia, sem possuir as qualidades do eleito, refletidas estas no seu maior representante - Ulisses. A ousadia do simulacro, a von- tade destruidora das concepções vigentes é uma primeira e tímida mostra do que seriam os tempos da Modernidade. O mundo grego, como explica muito bem Lukács, estava formu- lado dentro de um sistema completo – repleto – e articulado. Lá podem existir o original e o simulacro. Na Modernidade, aquelas posições perderam a força, arcaizaram-se. Por isso, é fatalmente com outros significados e intenções que, agora, usam-se original e natural. Numa certa perspectiva, a vida é um sonho e os homens os fantasmas desses sonhos. Na Modernidade, este super- homem às avessas é um herói sem poderes que tenta ultrapas- sar as barreiras impostas pela desestruturação do mundo. Enquanto peça de uma engrenagem completamente desarticu- lada, busca soluções a partir de sua própria interioridade. O herói será um personagem que tenta descobrir (se) dentro do seu universo particular. Sempre que se refere sobre heróis, reporta-se imediata- mente à Ilíada e à Odisséia, literatura de incomparável beleza, canonizada através dos tempos. Lida e relida por todos que amam a arte. Segundo Otávio Paz, “Homero é a bíblia helênica”13. Torna-se evidente, portanto, a figura do grande Ulisses, herói grego que se ergue com altivez e firma-se como elemento essencial de uma sociedade com um sistema de valores fecha- dos e acabados, no caso o universo épico. Este ser está sujeito às determinações de um deus e seu destino eternamente ligado à perfeita ordem do Cosmos. O herói é uma entidade sacralizada no mundo grego. Converte-se em figura mítica que aproxima o homem da sua origem e o conduz ao princípio, à unidade. Os heróis clássicos como Ulisses, Heracles e Aquiles têm

Sitientibus, Feira de Santana, n. 40, p.9-38, jan./jun. 2009 2 0 características que refletem como é organizado um mundo; são seres com qualidades que os distinguem dos seres comuns. Como descreve Homero, nos seus versos clássicos, o herói é um ser que reúne poderes que possibilitam uma superação dos obstáculos da natureza. O sonho do homem, desde os seus primeiros passos na terra, foi dominar a natureza. Esse sonho nunca é conseguido, pois os dois meios experimentados, um, com a criação do mito, e outro, com o desenvolvimento dos instrumentos na Modernidade, desenvolveram a criação ou deformação de outra “natureza”, a do discurso. Por esse dois meios, o homem não conseguiu alcançar o mundo. Seria necessário rever não os instrumentos culturais, mas os objetivos e as posturas ocidentais. O homem moderno debate-se porque tem consciência de sua impotência em cumprir os seus objetivos. Sabendo que o ocidente parte de uma postura elitista que é, no primeiro momento, a natureza, seria menos doloroso iniciar, não pela superação, mas pelo entendimento do que é o “outro ensimesmado”, e não inferiorizado. O herói da Epopéia reúne as necessidades de seu Épos, do povo de onde ele se origina; sendo, dessa forma, capaz de comandar os destinos dos seus sem contestações tão profun- das que pudessem desestabilizar seu poder. Mas, a contesta- ção do seu poder tinha que ser posta em prática em muitos momentos para, com isso, intensificar ainda mais a sua força de eleito. A forma de eliminar qualquer contestação do eleito era pela utilização da prova – meio constantemente utilizado no mundo antigo. O enigma, em Édipo, a prova do arco com Ulisses e outros. A prova só podia ser realizada pelo eleito, pela sua força, pela sua astúcia, sensibilidade, divindade. Sempre qualidades as quais colocam o herói acima dos homens co- muns. Mesmo nos textos clássicos, os homens comuns alme- jaram conseguir feitos semelhantes aos dos heróis, e isto não foi conseguido, mas inspiraram reflexões de suma importância para a Modernidade. Para o estudioso San Tiago Dantas, O Quixote é a letra essencial de um texto chamado de cultura ibero-americana. Ele explica:

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Não hesito em dizer que, sem o Quixote, o espírito ocidental, especialmente, ibérico e ibero-america- no, teria tido outros caminhos. E, se hoje o perdês- semos, e o apagássemos da memória, muito do que existe em nós se nos tornaria indecifrável.14

A incessante conversa em que Dom Quixote (amo) e Sancho Pança (escudeiro) se acham empenhados, do princípio ao fim da narrativa, revela o contraste interno essencial do humano, dissociados em dois personagens; estão projetadas ali, as duas faces do homem que transita entre distintas e consubstanciais, demonstrando um diálogo constante de contrários e de seme- lhantes. Quixote representa ainda a formulação da heroicidade: opõe-se definitivamente ao heroísmo clássico – Ulisses, Aquiles, Teseu e outros já muito conhecidos dos leitores da obra clás- sica – pois o cavaleiro errante apresenta-se isento de êxito, ou seja, podemos perceber a ação heróica refletida justamente no insucesso deste diante da incapacidade de completar uma tarefa atribuída a ele enquanto “o escolhido”. Mas, Quixote não é um fracassado. É um personagem deslocado pela falta e pela negação, como a ferrugem – chamando o ferro para a sua fonte na terra e destruindo as intenções humanas de construir monumentos que alcancem o céu. O cavaleiro andante engendra pelos caminhos da ironia de que fala Bakhtin, não enquanto uma paródia do clássico mas fincado num tempo onde não há mais a possibilidade de permanência do herói positivo, ele apresen- ta-se irônico exatamente porque consegue estabelecer uma espécie de heroísmo incompatível com a sociedade na qual vive. Enquanto a Antigüidade entendeu o homem heróico como sendo um ser mais poderoso que os demais mortais, e por isso mesmo, realizador de grandes feitos, a Modernidade o compre- ende enquanto mártir, cujas ações o configuram pelo exemplo das fraquezas e pela força espiritual que irradia, normalmente decrépito e imoral. Estas concepções vão diretamente ao encontro dos modos críticos do professor norte-americano Northop Frye: O do herói como divino (Odisséia) e o herói no modo irônico (Modernidade).

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Dom Quixote é o homem que vive um mundo inexistente, um homem negando sua época. Num tempo de esvaziamento, de quebra dos princípios. Estas características não podem ser assumidas por um homem que procura a felicidade. Onde Quixote vai, sua presença é representada pelo seu discurso, é pela palavra que demonstra a sua insatisfação, as pessoas encontradas são pobres, marginais sem nenhum motivo para ter uma visão alegre, verdadeira em relação à vida. Não existe exemplo mais forte de nosso desfiguramento e da nossa per- versão do que em Quixote; ele representa o homem distante da sua felicidade, da sua esperança e dos seus ideais. Este sentimento não é só do guerreiro contra moinhos ou daquele que procura de forma desesperada sua encantada amada Dorotéia — a mulher que todos procuram e não têm coragem de se aventurar numa procura inútil e “verdadeira”, apenas ofendem-se e riem, como aqueles encontrados pelo cavalheiro acompanhado por Sancho. É o sentimento e a representação de uma realidade através das palavras que constróem Dom Quixote: ele configura-se através das palavras tiradas do velho livro de cavalaria sempre acompanhante do homem que caval- gava em busca de damas em perigo. Quixote sempre será a palavra maldita do mambembe e do lunático, do ser homem e do ser mito, da criança que não abandona seu melhor brinquedo, e do homem que não foge da sua vida mais feliz. Mas a Modernidade vai ser esta palavra solta que reclama sua melhor época. O desespero, a falta de elementos onde se refugiar é o lembrete da nossa época. Os heróis já morreram, e os que ficaram agonizam e sonham como Quixote e como a própria imagem infernal. O herói luta entre dois mundos: o natural e o sobrenatural. Desde seu nascimento a figura do herói apresenta a imagem de um nó em que se atam forças contrárias. Sua essência é o conflito entre os dois mundos.15 Esta contradição, que tem como base o conflito, precisa ser estruturada de forma que o choque dos contrários produza um movimento harmonioso, além da consonância e da dissonância – onde o silêncio é tão poderoso que os conceitos tenham de olhar-se, rever-se, senão o universo pode sofrer uma série de

Sitientibus, Feira de Santana, n. 40, p.9-38, jan./jun. 2009 2 3 sortilégios e todo o cosmo pode ser maculado. Neste mundo fechado, transgredir os limites impostos pelas regras do que, em outras culturas, seria Karma pode muitas vezes figurar como violação dos direitos do outro. Nesse sentido, o homem seria o estopim da bomba que iniciaria a guerra cósmica. “O homem é polêmico porque todas as forças terrestres e divinas se encontram e lutam nele.”16 O homem não quer ser esta criatura andrógina, interme- diária. Ele quer ser absoluto: Deus ou Demônio. Sendo assim, toda sorte de malefícios sofridos ou provocados pelo homem advêm do fato deste mesmo transgredir os limites determinados pela natureza, ou por um discurso orientador e normativo que Derrida chamou do domínio do centro17. Mas, cumprindo seu fado maldito, a justiça cósmica é restabelecida. Este fado, entretanto, deve ser pago de forma consciente, pois só a consciência produz a liberdade e ambos a harmonia universal. Paz afirma que “pagamos e expiamos porque, sendo inocentes somos culpados.”18 A caminhada é um passeio constante pelo abismo. Interessa para ele passar sempre como Sísifo carre- gando sua pedra impassivelmente até o topo da montanha. Se o mito grego cumpre sua terrível sina, seu castigo pela ousadia de ir contra a força, a ordem natural das coisas – aqui grafada sem aspas – também o herói moderno terá que assumir sua própria tarefa suicida. O homem é o nó indissolúvel que, sujeito a todas as intempéries da vida, luta contra um discurso que o impede de estar aqui para escolher trilhar os caminhos do prazer, nascer, envelhecer, mudar de opinião. Ou seja, está na essência da humanidade elementos interditados como o incesto, a perver- são, a fuga, a amoralidade. Todo um discurso tem que impedir esta parte, que é o desejo, a forma de prazer sem intermédios, sem símbolos que possam limitar e até desfigurar o desejo. Segundo Hélio Pellegrino, ao estudar Freud, no seu ensaio “Édipo e a Paixão”, publicado na ótima coletânea Os sentidos da paixão (1991), o ser humano nasce com uma ligação direta com o mundo, sem códigos; por isso, uma relação de prazer se estabelece, e é rapidamente contida para o bem de uma so- ciedade. Só que neste relacionamento, o homem se afasta do

Sitientibus, Feira de Santana, n. 40, p.9-38, jan./jun. 2009 2 4 real, tendo que buscar códigos para reencontrá-lo. Se falarmos numa linguagem freudiana, um princípio do prazer19, que nasce com o homem e simboliza uma relação imaginada e prazerosa com o mundo, é substituído pelo princípio da realidade, que por sua vez é a relação simbolizada do homem com a natureza. Aquela não se utiliza de mediações discursivas e aproxima-se da animalidade, promovendo um contato próximo do que seria hipoteticamente o verdadeiro. O princípio da realidade é a presença do discurso social, convencional, normativo. A orga- nização do mundo que chamamos de civilização precisa e incentiva o princípio da realidade, a arte em geral, que busca o homem e a sua beleza, clama pelo princípio do prazer. O herói moderno representa a eterna destruição da artificialidade e do convencional estabelecidos pelo homem em relação ao mundo. Quixote construindo Dorotéia, Robinson Crusoé negando-se a duplicar o mundo, Orlando diluindo os campos semânticos tradicionais como gênero, tempo, diálogo, Casmurro provocan- do a invenção do leitor cuidadoso, são tipos que, construindo a perspectiva poderosa do romance, refletem a desconfiança numa construção de mundo repleta de signos, cores e sons, e o temor que estes mesmos possam acabar por soterrar o humano.

3 A CRÍTICA DE ADONIAS FILHO EM DOIS ENSAIOS

As reflexões e citações anteriores tentam dar conta da complexidade da forma romanesca como ponto de partida para a compreensão das convicções do homem na Modernidade. O estudo, a partir deste ponto, tentará posicionar algumas emis- sões do crítico e romancista Adonias Filho também sobre o romance. Os textos críticos de Adonias Filho e de seu pseudônimo Djalma Viana estão reunidos, organizados e analisados em minha dissertação de mestrado Um crítico, dois caminho – a produção de Adonias Filho e Djalma Viana. O escritor de Os servos da morte (1946) preferiu trabalhar sempre com narra- tiva, tendo uma dupla face na atividade diária de crítico de

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jornal. Uma, – Djalma Viana – crítico divulgador, resenhou crítica dos outros suplementos e do próprio que trabalhou (Letras e Artes); outra, Adonias Filho, tinha pretensão de uma crítica ensaística, misturando a crítica sociológica, de consci- ência, comparatista e de uma forma simplificada, estrutural. Os textos referidos e analisados são estritamente do crí- tico Adonias Filho. O crítico grapiúna realiza uma reflexão crítica em relação a alguns romancistas brasileiros, no sentido de encaixá-los na ficção moderna ocidental. Sendo assim, questões caracterís- ticas da Modernidade na produção literária são abordadas pelo ensaísta, como “o problema arquitetônico do romance, sua armação plástica, a aplicação do tempo e do espaço (todas as grandes preocupações da ficção moderna)”20, quando analisa a obra de autores como Octávio de Faria, Cornélio Pena, , Clarice Lispector, Guimarães Rosa, José Américo de Almeida, entre outros. O crítico persegue, nos ensaios contidos nos seus três livros publicados sobre o assunto, a compreen- são do novo romance brasileiro a partir do movimento literário de 30. Adonias Filho afirma:

Após a libertação lingüística, que marcará para sempre o modernismo como um movimento literá- rio de interesse culturalmente histórico, e sem que se desvinculasse da linha documentária, pôde a ficção – e já ficção moderna porque a partir de 1930 coincidindo com a revolução militar e política – renascer, em sua afirmação artística, dentro do complexo social brasileiro21.

Adonias Filho busca elementos interpretativos para posicionar a ficção brasileira próxima a grandes textos da Modernidade, como é o caso da ficção de Faulkner, Camus, Bernanos, John dos Passos, Huxley. A revolução modernista na Europa e nos Estados Unidos da América provocaram uma revisão dos parâmetros de construção romanesca e repeliram ferozmente as modalida- des “antiquadas” e “sóbrias” do século anterior. Em um texto do autor baiano, “Romance do testemunho”, há o seguinte complemento:

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O que vai narrar, todo o veio novelístico hoje sustentando os romances, assegura a afinidade não apenas com alguns companheiros de geração (José Lins do Rego ou Graciliano Ramos), mas, e principalmente, com os documentaristas do nosso tempo: Hemingway e Steinbeck, Malraux e Gascar, Malaparte e Silone, Huxley e Graham Greene”22.

Foram selecionados dois textos representativos do crítico baiano para discussão sobre o romance no Brasil, são eles: O Romance de Testemunho23, sobre a ficção de Jorge Amado, e “A revolução na estrutura”24 a respeito de romance de José Geraldo Vieira. “O documentário, quando o fixamos na obra de Jorge Amado, se identifica com o romancista através do encontro de sua percepção com uma realidade”. Para Adonias Filho, boa parte da ficção brasileira parte de uma obsessão – marcar no texto uma expressão local, seja geográfica ou humana, que se configura numa “brasiliana”. O romance de Jorge Amado, como documentária, expressa a e o Brasil como objetivo pri- meiro de sua construção. Fora da realidade, segundo o crítico, não se poderia conceber o romance de Jorge Amado. Ora, qual realidade o autor citado quer retratar? Nas palavras de Antônio Cândido, ao refletir sobre a função da obra de arte de descrever a realidade,

a capacidade que os textos possuem de convencer depende mais da sua organização própria que da referência ao mundo exterior”, pois tanto as obras ditas realistas quanto as mais intimistas e subje- tivas podem representar “compromisso documentário25.

Tanto Cândido pode colaborar com o argumento de Adonias Filho, por um lado, que, no mesmo sentido, toda obra carrega essa ligação com o seu tempo, e o romance é representativo deste testemunho do homem em todas as suas conflituosidades; mas também, o autor de Formação da literatura brasileira procura suspeitar de uma generalização em qualquer aspecto

Sitientibus, Feira de Santana, n. 40, p.9-38, jan./jun. 2009 2 7 o qual reflita o caráter movediço da ficção moderna, pois

o alvo é analisar o comportamento ou o modo de ser que se manifestam dentro do texto, porque foram criados nele a partir dos dados da realidade exte- rior26. Mesmo estando os dois críticos de acordo com a experi- ência social do texto literário, Cândido chama a atenção para o fato da desconfiança acerca da literatura, porque todas as questões e deflagrações estão no texto. O crítico baiano, por seu lado, não quer correr os riscos de uma abordagem descui- dada por dois motivos suficientemente compreendidos neste estudo: o risco oferecido ao analista pelo gênero em questão e a época caracteristicamente indecisa nos diversos âmbitos, e a experiência de leitura da escola norte-americana de análise da literatura, denominada – por John Crowe Ranson – de New Cristicism. As palavras de outro importante crítico da literatura brasileira e estrangeira, Otto Maria Carpeaux, podem muito bem circunscrever a perspectiva de Adonias Filho:

A preocupação do grande crítico inglês (Coleridge) com a linguagem poética chegou aos americanos através de I. A. Richards e, depois, Empson; ressurgiu como exigência de ler cada vez mais exatamente as ‘palavras na página’. É o close reading. A mesma atenção presta-se, mais uma vez conforme a lição de Coleridge, à estrutura do conjunto de palavras e à técnica de sua organiza- ção em estruturas poéticas. A crítica literária é considerada a ciência autônoma que estuda aque- la técnica, sem se preocupar com os elementos biográficos, psicológicos, históricos27.

O new criticism, como proposta de análise do texto literá- rio, não admitia inclusões exteriores como as impressionistas, que partiam muito mais da personalidade de um indivíduo “cioso de suas obrigações” do que do texto literário – fim único dos estudos críticos. Mas, para tornar ao primeiro vínculo aqui proposto em relação ao texto de Adonias Filho, uma vez par-

Sitientibus, Feira de Santana, n. 40, p.9-38, jan./jun. 2009 2 8 tindo do texto, as faces de uma exterioridade como cortina ideológica ou psicológica logo aparecem: é a lição primeira do autor de Jornal de um escritor percebida ao abordar a ficção de Jorge Amado e suspeita de que o formalismo da escola Poética norte-americana corria riscos. Adonias Filho, ao realizar leitura dos romances de Jorge Amado, parece aproximar-se das perspectivas sociológicas de Georg Lukács, no que diz respeito à literatura. Apesar de não haver referência ao grande ensaísta, autor de Teoria do ro- mance, nos textos de Adonias Filho, alguns traços dialógicos se fazem presentes. Ainda perseguindo uma compreensão social da obra do autor de Tenda dos milagres, explica o crítico:

Mas, se a validade do documentário já se demons- tra com o testemunho – com a valorização literária do testemunho – sobressai efetivamente porque implica uma correspondência social. Em certas posições, como no caso de Hemingway ou de Malraux, a sondagem se amplia na apreensão das crises políticas. Em outras posições, como no caso de Graham Greene ou Pierre Gascar, a abordagem se interioriza em função dos conflitos, como a guerra e a revolução, que mostram uma face da inquietação moderna. Sem o documentário novelístico (tão autêntico nos “romances velhos” ibéricos quanto no romance norte-americano con- temporâneo), essa base de testemunho que vem pela percepção direta ou pela memória coletiva, é certo que a ficção se mutilaria em uma das suas finalidades. Uma carga de vida, dentro de uma experiência histórica, nele se transporta. E será isso mesmo que, ao lado das exigências estéti- cas, situa-se em determinadas obras como se estivesse a servir simultaneamente de problemáti- ca e lastro temático28.

A realidade é um grande manancial de questões para o Romance, gênero, como em Cervantes, que escolheu a gente simples para retratar o mundo, testemunho parcial de um

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mundo, por isso incompleto – trabalho, que, pelo viés da literatura, denuncia a postura marginalizante e elitista de outra parte ausente em Dom Quixote de la Mancha (talvez reduzido à miniatura do livro de cavalaria nas mãos do errante cavalei- ro), e da incapacidade de permitir a completude do mundo em qualquer discurso. Em outro sentido, o próprio Lukács diz : “E a comunidade é uma totalidade concreta, orgânica e, por isso, rica nela mesma de sentido”29. É esta riqueza que pode justi- ficar uma interpretação onde o valor da obra pode estar dentro e fora dela mesma, movimentando a pulsação intelectiva de leitura; e, de certa forma, dando uma dinâmica na obra. O romancista é o intérprete de seu tempo. Bruxo e santo, está sempre pondo em prática, no caso do romance social, uma norma orientadora do mundo ou uma amoralidade desorientadora e, ao mesmo tempo, educativa. Ninguém melhor do que Jorge Amado para representar a nudez, o palavrão, a anedota, a sensualidade chula, como expressão e desejo incontido de um povo, o brasileiro, e de uma literatura quente e úmida como as tardes tropicais. O romance é a expressão maculada da humanidade em frenético vôo para lá da inconsciência, onde os novelos de regras formam e reprimem o homem, para cá da miscelânia que revela um retrato da sociedade que persegue e atrofia o desejo de liberdade deste mesmo homem, de voltar-se para um mo- mento onde todos são filósofos, de felicidade. Um romance de , como Memórias Póstumas de Brás Cubas, nada mais é que um jogo voraz entre o ser corroído de um herói vingativo, mil vezes derrotado pelo poder social, mas que encontra sua forma de vingança na sua herança mais contun- dente, seu passado de pusilânimes atitudes legalizadas pela sociedade. A mesma sociedade que se descartou dele todos os dias de sua vida, sem uma chance lhe dar, vai ser atingida pelos seus comentários maldosos, sua reprimenda inútil. Assim Brás Cubas dirige-se ao seu incauto leitor, sedento de uma vírgula sequer de postura construtiva:

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Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará; porque ao chegar a este outro lado do mistério; achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: – Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria30.

É essa possibilidade de refletir a sociedade e o homem numa perspectiva aguda e sem realces que impulsiona a refle- xão de Adonias Filho. Segundo ele, “em sua obra, pois, – todos os romances baianos de Jorge Amado – o que se continua é um cancioneiro”. Os seus romances, ao beber duma fonte social, recaem sobre o material coletado com voracidade. Encontrar este mundo de informações valiosas que têm um profundo laço de afeição com a história do povo, e, ao mesmo tempo, expres- são de uma desconfiança para com os meios “legalizados” de registro e lapidação dessa imprescindível porção de conheci- mento encontrada nos espaços exteriores às reuniões eruditas e formais, lugares onde inegavelmente a obra de Amado rea- liza-se esmagadoramente forte. O romance de Jorge dos Ilhé- us, por isso mesmo, trilhará caminhos desde a propaganda, à novela e ao folhetim. Momentos, normalmente, que a ficção brasileira do Modernismo, na sua quase totalidade, não seguiu. Adonias Filho não nota que Jorge Amado quer, em certos momentos, construir o herói do século passado. Um dos prin- cípios que podem caracterizar esta obra ficcional é o modo romanesco proposto por Northop Frye, não referido, entretan- to, pelo crítico baiano. Em outro texto, A revolução na estrutura, algumas refle- xões sobre o moderno romance brasileiro levam Adonias Filho a concluir que

o romance impõe a revolução na estrutura, a evolução estética em toda a sua violência, seus perigos e sua indisciplina31.

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Aqui, a narrativa moderna encontra a mais fecunda temática, buscando a perda, a fragmentação, a loucura, a mentira, a violência e o sexo-amor. A postura do crítico, em alguns mo- mentos, defende a escritura clássica, pela defesa de uma postura estética tradicional, nos moldes formais da clareza e da erudição. Porém, logo essa perspectiva é reduzida e aban- donada, pois não há mais condição de retorno, nem de renascimento, porque a característica predominante desses tempos entre e pós-guerras é a consciência, anteriormente discutida a partir de Octávio Paz. Mesmo a perspectiva clássica em Adonias Filho é coerente, porque o momento, apesar de cruel, é de reflexão, o vôo cego das vanguardas estatelaram-se no concreto muro da barbárie, basta que simplesmente veja-se algumas refle- xões de Walter Benjamin. O romance representará a revolução interna, a implosão de conceitos caros ao homem no cerne da narrativa, na perda do início e do “era uma vez”. O escuro, a dúvida, a queda, a solidão, momentos ficcionais anteriores à nossa época, juntam-se à quebra da linearidade, ao desfecho precoce e desavisado da narração, à falta de elementos esclarecedores, e ao medo, na ficção mais recente. Os romances de Franz Kafka demonstram bem este papel na construção da narrativa moder- na. Continua o crítico:

O corte decisivo, porém, se realizaria em função da forma, da operação artística, da concepção arquitetônica humana cotidiana e viva32.

O romance na Modernidade alcança a maior repercussão polemicamente falando ou esteticamente, não se pode dizer que chegou ao seu limite. A época humana teria de estagnar- se para que a narrativa em si estacionasse temática, estrutural e conceitualmente. Isto marcaria a ligação do romance com a sua época, refletindo e se construindo a partir das imbricações sociais. Mesmo assim, se a época para o homem é de difícil aceitação e a crise pode estar se instaurando, a forma roma- nesca, apesar de moldar-se nessa crise, fortalecerá suas bases, negando também o próprio homem. Vale mencionar que a literatura, nesse momento de questionamento dos discursos

Sitientibus, Feira de Santana, n. 40, p.9-38, jan./jun. 2009 3 2 ditos canônicos como o científico e o histórico, ganha postura de documento social, o que fortalece algumas afirmações de Adonias Filho. O romance descarnado de Graciliano Ramos, o labiríntico e passional do próprio Adonias Filho, a renovação lingüística de Guimarães Rosa, junto com o faroeste dramático de Faulkner, o do narrador plural de Virgínia Woolf, operam revolução “nos métodos críticos – não a revolução paralela, mas a revolução complementar no círculo mais autêntico da Literatura”33. A necessidade de uma iniciação, ou talvez erudição, nos modelos tidos como consagrados numa tentativa de rebeldia e avanço, formando um tipo de impostura criativa na ficção, provoca a necessidade gritante de plasmar no texto o registro de uma época desfigurada, semelhante à pintura de Picasso, onde – em meio ao emaranhado de dúvidas, recalques e estabelecimento da crueldade – está o homem, perdido como o herói clássico. Mas, há uma diferença: Ulisses sabia do seu crime, do seu castigo e das condições do seu perdão, e o homem moderno, enquadrado em formas e esquinas, tem ex- trema consciência da absurda incerteza das suas ações. Adonias Filho sabe que o romancista moderno, tal como Guimarães ou Kafka, Graciliano Ramos ou Faulkner, grava a sua experiência erudita numa forma internamente revolucionária.

O que acontece finalmente na virtuosidade moder- na, é a justaposição de qualquer tema (psicológi- co, sociológico, imaginário) à estrutura que decor- re de uma experiência literária comprovada34.

Quebra-se o preconceito de tema, que fazia com que uma obra fosse menos valiosa literariamente pela não utilização do tema da moda, como no Romantismo brasileiro – o indianismo, o nacionalismo, o amor e a morte; naturalismo – o cientificismo positivista. Vê-se que autores como Machado de Assis já es- tavam operando a sua revolução, fugindo do tema nacionali- dade, e analisando a sociedade e o ser humano. Mas a grande revolução machadiana foi a sua noção precisa do conceito de conto, romance e conhecimento literário, chegando a adiantar-

Sitientibus, Feira de Santana, n. 40, p.9-38, jan./jun. 2009 3 3 se à sua época. Segundo o ensaísta e professor Jorge de Souza Araújo: Com o criador de Brás Cubas atravessamos o rubicão da incomunicabilidade, devassamos o im- penetrável da alma humana, de seu porão extrain- do máximas evocadoras de sentidos de desloca- mentos e náusea, num existencialismo muito an- terior à corrente de pensamento exalçada por Sartre e Camus35.

Porém, os grandes revolucionários deste século são os escritores que se arriscaram para além da conceito tradicional da arte literária, aperfeiçoando o romance psicológico e envol- vendo-se com outras linguagens além da literatura, buscando a sua mais pura irradiação.

No caso do escritor José Geraldo Vieira, a linha propriamente da fabulação, em seus elementos romanescos, colocada à margem do cálculo, sem- pre significará um mundo literário. (...) O romance capta o seu ritmo estético na manobra da constru- ção36.

O que é vital para a sobrevivência da arte narrativa, principalmente o romance, é este senso aparentemente caótico ligado a uma alma forjada e iniciada no áspero ofício de romancista e crítico literário. Este último texto de Adonias Filho busca mais elementos numa procura estética do texto vivo, tentando, como Pound, captar com antenas para onde anda a arte hoje, para onde irá amanhã. É preciso perceber também que o crítico poderia fornecer elementos de suporte para o romancista que come- çava a aparecer, com Os servos da morte, em 1946. A expres- são “áspero ofício”, aqui mencionada, é título do livro de ensaios do jornalista Almeida Fischer, e tem caráter significa- tivo neste momento porque Adonias Filho empenha-se para posicionar sua produção literária dentro e ao redor das pro- blemáticas da Modernidade. Algumas reflexões de G. Lukács oferecem diferenciação salutar entre mundo grego e modernidade,

Sitientibus, Feira de Santana, n. 40, p.9-38, jan./jun. 2009 3 4 e dessa diferenciação emanam saídas para impasses como inacabamento, simulacro e fragmentação na época moderna. Uma vez tendo escolhido o romance para refletir as pos- turas da Modernidade e vice-e-versa, encontrou-se um gênero literário extremamente fincado na humanidade e nos seus anseios e, também, um crítico aparentemente desconhecido empenhado em compreender o exercício desta forma literária no Brasil e revelando, do seu ponto de vista, argumentos tão comuns na atualidade como a validade da literatura como discurso representativo de uma realidade. Enfim, o texto de Adonias Filho pode ser capaz de contri- buir para as discussões sobre literatura brasileira e a forma romanesca.

THE ACT OF NARRATING AND ADONIAS FILHO’S CRITICISM

ABSTRACT — This text discusses the novel from three points of view: those of Georg Lukács, Mikhail Bakhtin and Adonias Filho. Here, the romance is the literary form of the Modern Age; for these writers it expresses the essence of the times: the Greek concept of an ideal world, the end of romance, the beginning of the new cultural spirit in Lukács; the unending, a new sense of time, the polyphonic narrative in Bakhtin; the narrative revolution as the image of the desire for rupture in the contemporary in Adonias Filho’s conception of the Brazilian novel.

KEY-WORDS: Criticism. Novel. Modernity.

NOTAS

1 CORTÁZAR, Júlio. Situação do romance. In:______. Valise de Cronópio. 2. ed., Trad. Davi Arrigucci Jr. e João Alexandre Barbosa. São Paulo: Perspectiva, 1993. p. 71. (Coleção Debates). 2 LUKACS, G. Epopéia e romance. In: ______.Teoria do Roman- ce. Lisboa: Presença, 1962. p. 61. (Biblioteca de Ciências Hu- manas, 5).

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3 BAKHTIN, Mikhail. Epos e romance. In: ______. Questões de Literatura e de Estética: A teoria do romance. 3. ed. São Paulo: UNESP, 1993. p. 428. 4 RODRIGUES, S. C. A Narrativa e sua problemática. In: VASSA- LO, L. (Org.). A Narrativa ontem e hoje. : Tempo Brasileiro, 1984. p. 35. (Comunicação, 5). 5 Op. Cit. nota 2. p. 61-76. 6 Op. Cit. nota 1. p. 66. 7 Op. Cit. nota 1. p. 69 8 PAZ, Otávio. Ambigüidade do romance. In: ______. O arco e a Lira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982. p. 269. 9 Idem, ibidem. p. 270. 10 EIKHENBAUM, B. Sobre a teoria da prosa. In: EIKHENBAUM, B; TOLEDO,Dionísio de Oliveira (Org.). Formalistas Russos. 4. ed. Porto Alegre: Globo. 1978. p (?). 11 Op. Cit. nota 8. p. 277. 12 PLATÃO. A alegoria da caverna. In: ______. Diálogos, A Repú- blica. Rio de Janeiro: Livros de Ouro, s/d. p. 153-156. 13 Op. Cit., nota 8, p. 241. 14 DANTAS, San Tiago. Dom Quixote: um apólogo da alma ociden- tal. 2. ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1964. p. 29. 15 Op. Cit. nota 8. p. 242. 16 Op. Cit. nota 8. p.245. 17 DERRIDA, J. A Estrutura, o Signo e o jogo no discurso das Ciências Humanas. In: ______. A Escritura e a Diferença. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 1995. p. 229-249. 18 Op. cit. nota 8. p. 250. 19 MARCUSE, H. Eros e civilização: uma interpretação filosófica do pensamento de Freud. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1992. p. 33-40. 20 ADONIAS FILHO. Modernos ficcionistas brasileiros. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1965. p. 10 (2ª série).

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21 Id., ibid., p. 9. 22 Id., ibid. p. 08. 23 Id., ibid. p. 11-18. 24 Id. Modernos ficcionistas brasileiros. Rio de Janeiro: O Cruzei- ro, 1958. p. 20-28. 25 CÂNDIDO, Antônio. Prefácio. In:______. O discurso e a cidade. São Paulo: Duas Cidade, 1993. p. 11. 26 Id., ibid. p. 10. 27 CARPEAUX, Otto Maria. O New Criticism. In: ______. Tendên- cias contemporâneas na literatura. Rio de Janeiro: Ediouro, s/ d. p. 170. 28 ADONIAS FILHO. O romance do testemunho. In: ______. Moder- nos ficcionistas brasileiros. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1965. p. 11-12. 29 LUKÁCS, G. Teoria do Romance. Lisboa: Presença, 1962. p. 75.(Biblioteca de Ciências Humanas, n. 5). 30 ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. 14 ed. São Paulo: Ática, 1990. p. 144. (Série Bom Livro). 31 ADONIAS FILHO. A revolução na estrutura. In: ______. Modernos ficcionistas brasileiros. Rio de Janeiro: O Cruzeiro, 1958. p. 20. 32 Id., ibid. p. 21. 33 Id., ibid. p. 21. 34 Id., ibid. p. 23. 35 ARAÚJO, Jorge de Souza. Machado de Assis: intérprete de desertos. A Tarde, Salvador, 19 jun. 1999. Suplemento Cultural, p. 7. 36 ADONIAS FILHO. A revolução na estrutura. In: ______. Modernos ficcionistas brasileiros. Rio de Janeiro: O Cruzeiro, 1958. p. 24.

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REFERÊNCIAS

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