MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL Força-Tarefa Greenfield

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) FEDERAL DA 22 ª VARA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO DISTRITO FEDERAL

Referências: Ação Penal n° 60203-83.2016.4.01.3400

Distribuição por prevenção: Proc. n° 1020710-77.2019.4.01.3400 e conexos.

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelos Procuradores da República que esta subscrevem, no uso de suas atribuições constitucionais e legais, previstas especialmente nos artigos 127 e 129, III e IX, da Constituição Federal; 5º, I, “h”, III, “b”, V, “b”, e 6º, VII, “b”, e XIV, “f”, da Lei Complementar 75/93; e 17 da Lei 8.429/92, bem como na Lei nº 7.347/85, vem propor:

AÇÃO CIVIL DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA C/C AÇÃO DE RESSARCIMENTO

em desfavor de: Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

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a) EDUARDO COSENTINO DA CUNHA, ex-Deputado Federal, nascido em 29/9/1958,

b) HENRIQUE EDUARDO LYRA ALVES, brasileiro,

, com base nos seguintes fundamentos.

1 – NOTAS INTRODUTÓRIAS SOBRE A OPERAÇÃO SÉPSIS

A presente ação decorre das investigações feitas pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal no bojo da Operação Sépsis, que apura irregularidades em operações com recursos do do Fundo de Investimento e das Carteiras Administradas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) em troca de pagamentos de vantagens indevidas. Dela decorreu a Operação Cui Bono, na qual foram investigadas irregularidades em operações com recursos da Caixa Econômica Federal (CEF) em troca de pagamentos de vantagens indevidas.

A Operação Cui Bono e a Sépsis, ambas de atribuição da Força-Tarefa Greenfield, foram desdobramentos da Operação Lava Jato, desmembrada pelo Supremo Tribunal Federal em razão de os ilícitos atingirem empresa estatal diversa, que não a .

Os elementos que deram origem a ambas as operações (Cui Bono e Sépsis) foram

levantados no bojo da Operação Catilinárias, deflagrada em 15 de dezembro de 2015 (Ação Cautelar Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3 4.044/STF – busca e apreensão).

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Durante as buscas na casa do então Deputado EDUARDO COSENTINO DA CUNHA, foi localizado um aparelho celular da marca BLACKBERRY, do qual foram extraídas várias mensagens que evidenciaram a atuação ilícita de tanto na Vice-Presidência de Fundos de Governo e Loterias (VIFUG) da CEF, comandada por FÁBIO FERREIRA CLETO, como também na Vice-Presidência de Pessoas Jurídicas da CEF, à época comandada por GEDDEL QUADROS VIEIRA LIMA.

Foi então deflagrada, em 1º de julho de 2016, a Operação Sépsis, com o fim de apurar a liberação indevida de recursos do FGTS, por meio das carteiras administradas ou do FI-FGTS, fundo de investimento destinado ao aporte de capital em empresas de infraestrutura, mediante o pagamento de propina a agentes públicos1.

Entre tais agentes, destacava-se EDUARDO CUNHA, político e responsável por intermediar, junto ao operador LÚCIO BOLONHA FUNARO, empresas que quisessem participar do esquema ilícito.

Nesse esquema, também havia a atuação interna de empregados públicos, como é o caso do formalmente colaborador FÁBIO FERREIRA CLETO, que, à época dos fatos, ocupava a Vice- Presidência de Fundos de Governo e Loterias (VIFUG), cargo escolhido, de acordo com o colaborador, pela bancada do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB).

1 Entre as pessoas jurídicas e os projetos que podem ter sido beneficiados com recursos do FI-FGTS, mediante o pagamento de vantagens indevidas, estão: a HAZTEC TECNOLOGIA E PLANEJAMENTO AMBIENTAL S.A; o consórcio responsável pelas obras do projeto Porto Maravilha (ODEBRECHT ENGENHARIA, CARIOCA ENGENHARIA e OAS); a Parceira Público Privado de nome AQUAPOLO (ODEBRECHT AMBIENTAL); a SANEATINS (ODEBRECHT AMBIENTAL); a VIARONDON CONCESSIONÁRIA DE RODOVIAS S.A. (do Grupo BR VIAS); a ELDORADO (do Grupo J&F); a LAMSA (Linha Amarela S.A.); a BRADO LOGÍSTICA; a MOURA Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3 DUBEUX, entre outras.

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Em seus termos de colaboração, FÁBIO CLETO descreveu a forma como fora escolhido para a função, assim como as operações ilícitas e os principais beneficiários pelo pagamento de propina e pela aprovação dos recursos.

A VIFUG, área de CLETO, é um setor da Caixa Econômica Federal pela qual passam os projetos das empresas que buscavam o banco público para obterem recursos. Além da VIFUG, outras áreas precisam autorizar o aporte de recursos do FI-FGTS, como a VITER (Vice-Presidente de Gestão de Ativos de Terceiros) e o comitê de investimentos do FI-FGTS.

Já a Operação Cui Bono, deflagrada em 13 de janeiro de 2017 pela Força-Tarefa Greenfield e a Polícia Federal, investiga a liberação indevida de créditos (empréstimos) da própria Caixa Econômica Federal. Nesse caso, destaca-se a atuação ativa da Vice-Presidência de Pessoa Jurídica da Caixa, área responsável por aprovar e/ou atuar na liberação de empréstimos a empresas2 que, assim como no caso da VIFUG (na Operação Sépsis), estivessem dispostas a realizar negociações ilícitas.

Destaca-se que, à época dos fatos, GEDDEL QUADROS VIEIRA LIMA ocupava a supracitada vice-presidência.

A similitude entre as Operações Cui Bono e Sépsis reside no fato de, por vezes, serem os mesmos agentes atuantes na mesma estatal, bem como de apresentarem os ilícitos o mesmo modus operandi e até as mesmas empresas e grupos econômicos beneficiados. Com relação aos agentes criminosos, as investigações demonstraram que a manipulação das liberações de créditos na Caixa Econômica Federal contava com os mesmos investigados na Operação Sépsis, como é o caso de EDUARDO CUNHA, LÚCIO FUNARO e, em menor grau de atuação, FÁBIO FERREIRA CLETO,

2 Entre as pessoas jurídicas e projetos que foram beneficiados com os empréstimos da Caixa Econômica, mediante o pagamento de vantagens indevidas, estão a BR VIAS; OESTE SUL/COMPORTE PARTICIPAÇÕES; MARFRIG/SEARA; Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3 J&F INVESTIMENTOS; e BERTIN.

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da VIFUG. Ressalte-se que FÁBIO FERREIRA CLETO e GEDDEL QUADROS VIEIRA LIMA foram nomeados para exercerem os cargos de Vice-Presidente em dias subsequentes3.

A partir das investigações conduzidas no bojo das Operações Sépsis e Cui Bono, comprovou-se a atuação estruturalmente ordenada, com divisão informal de tarefas, de empregados públicos, agentes políticos e seus operadores, com o objetivo de obter vantagem econômica indevida paga por empresários, mediante a prática de ilicitudes na Caixa Econômica Federal e no FGTS, em favor de várias empresas4.

Esse grupo criminoso que operava na CEF pertence a uma organização criminosa maior, denunciada pelo Procurador-Geral da República em 14 de setembro de 2017, com base nos Inquéritos 4.327 e 4.483 e ações cautelares conexas, com destaque para os elementos apurados no bojo das Operações Patmos, Sépsis e Cui Bono, entre outras5.

3 Como mencionado na página 14 do Relatório Final do Inquérito nº 005/2017 – GINQ/DICOR/PF (em anexo) e disponível em: e .

4 Assim, é possível traçar paralelos entre as Operações Sépsis e Cui Bono, que demonstraram a existência das seguintes frentes criminosas, aqui denominadas grupos criminosos: o grupo empresarial, o grupo dos empregados públicos que operavam na Caixa e no FGTS, o grupo político e o de operadores financeiros. O primeiro grupo era formado por empresas do ramo de infraestrutura (em geral), que encaminhavam projetos para a captação de recursos oriundos da Caixa Econômica Federal (por meio de empréstimos) ou do FGTS (por meio dos seus fundos/carteiras de investimentos). Também esse grupo era responsável por efetuar o pagamento de propina tanto aos empregados públicos da Caixa Econômica Federal que tinham potencial poder decisório (ainda que para influenciar outros), quanto ao(s) agente(s) político(s) a ele ligado(s). O segundo grupo era responsável por executar duas tarefas: a primeira era fornecer informações privilegiadas ao terceiro grupo (agentes políticos e operadores financeiros), relacionadas ao projeto apresentado pela empresa à Caixa. A segunda atividade era, de algum modo, agir internamente, dentro da alçada de cada membro da organização, de modo a beneficiar as empresas e/ou influenciar as decisões dos comitês da Caixa ou do FGTS, para aprovar ou desaprovar a concessão de empréstimos (ou os investimentos) às empresas requerentes. Por fim, o terceiro grupo era constituído por agentes políticos e seus operadores financeiros. Estes recebiam as informações privilegiadas e, com tais informações, cooptavam as empresas que se dirigiam à entidade financeira para obter recursos. Havia ainda, em certos casos, outros agentes políticos que se beneficiavam com o recebimento de propina, por terem ligação com os agentes políticos cooptadores e prestarem auxílio permanente ao esquema.

5 Denúncia nas fls. 37 da Ação Penal nº 1238-44.2018.4.01.3400 (cópia em anexo), que foi ratificada e aditada pela Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3 manifestação de fls. 9-34 dos mesmos autos.

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Em virtude dos fatos apurados na Operação Sépsis, a Procuradoria-Geral da República denunciou EDUARDO COSENTINO DA CUNHA, HENRIQUE EDUARDO LYRA ALVES, LÚCIO BOLONHA FUNARO, FÁBIO FERREIRA CLETO E ALEXANDRE ROSA MARGOTTO por crimes contra a Administração Pública, “lavagem” de dinheiro e outros.

Com a perda do cargo e do foro por prerrogativa de função por EDUARDO CUNHA, o caso passou a tramitar na 10a Vara Federal da Seção Judiciária do Distrito Federal sob o n° 0060203- 83.2016.4.01.340. Em junho de 2018, o Juízo da 10ª Vara condenou os envolvidos na maioria dos crimes imputados. Desta decisão houve recurso da acusação para o Tribunal Regional Federal da 1ª Região, de forma que não se aplica os efeitos da coisa julgada criminal no cível na forma do art. 935 do Código Civil6.

Assim, a presente ação trata da repercussão dos fatos tratados nos autos da Ação Penal n° 0060203-83.2016.4.01.3400/DF (OperaçãoSépsis), no âmbito da improbidade administrativa, na forma da Lei n° 8.429/92.

2 – COMPETÊNCIA

As Operações Sépsis e Cui Bono são consideradas conexas à Operação Greenfield e tramitam na mesma vara criminal, a 10ª Vara Federal.

A Operação Greenfield, deflagrada em 5 de setembro de 2016, tem por escopo apurar investimentos realizados de forma fraudulenta ou temerária pelas principais entidades fechadas de previdência complementar (EFPC – ou fundos de pensão) do país; entre essas entidades, destaca-se a FUNCEF (Fundação dos Economiários Federais).

6 Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3 fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal.

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Dos 10 (dez) casos que justificaram a deflagração da Operação Greenfield, 8 (oito) são relativos a investimentos realizados (de forma temerária ou fraudulenta) pelas EFPC em empresas por meio de Fundos de Investimento em Participações (FIPs). Em geral, o FIP é instrumento utilizado pelo investidor institucional (o fundo de pensão) para adquirir, indiretamente, participação acionária em empresa (em alguns casos, também debêntures simples ou conversíveis, como no FIP Enseada). Dessa forma, em vez de o Fundo de Pensão comprar diretamente as ações da empresa-alvo, ele adquire cotas do FIP, sendo o FIP (como pessoa jurídica) considerado acionista da empresa (ou debenturista).

Essas aquisições de cotas do FIP, por sua vez, nos casos desvendados pela Operação Greenfield, são precedidas de avaliações econômico-financeiras (valuations) irreais e tecnicamente irregulares que têm por escopo superestimar o valor dos ativos da empresa, aumentando, de forma artificial, a quantia total que o próprio Fundo de Pensão precisa pagar para adquirir a participação acionária indireta na empresa. A essa ilicitude, cometida em praticamente todos os casos investigados, denominamos “sobreprecificação”, que é realizada com escopo semelhante aos conhecidos “superfaturamentos” de obras públicas, em que o valor de uma obra (ou ativo, no caso da sobreprecificação) é superestimado a fim de justificar um pagamento a maior por parte do Poder Público (ou por parte da EFPC investidora, no caso da sobreprecificação).

Na primeira fase da Operação Greenfield, são investigados os FIPs CEVIX, MULTINER, SONDAS, OAS EMPREENDIMENTOS, ENSEADA, RG ESTALEIROS, FLORESTAL e GLOBAL EQUITY. Além dos casos que envolvem FIP, outros dois casos foram objeto da operação, INVEPAR, em que foi investido pelos Fundos de Pensão diretamente na referida empresa por meio de aquisição direta de participação acionária; e o outro, mais recente, relativo ao prejuízo sofrido pela FUNCEF na alienação subfaturada de salas comerciais no edifício da OAB em Brasília. Em fases seguintes da Operação Greenfield, foram aprofundadas as investigações do FIP Florestal e passou-se a investigar também o FIP Operações Industriais. Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

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Em especial, pelos objetos dos investimentos sob apuração, a conexão entre as operações Sépsis e Greenfield alcança diretamente os seguintes casos já deflagrados na Operação Greenfield: (i) caso Florestal/Eldorado (por conta do investimento do FI-FGTS na Eldorado, por meio da aquisição de debêntures); e (ii) caso Invepar (por conta do investimento do FI-FGTS na LAMSA, da INVEPAR).

Adicionalmente, em razão de a Operação Sépsis investigar possível corrupção ocorrida no âmbito da Vice-Presidência de Gestão de Ativos de Terceiros da Caixa Econômica (VITER/CEF), que foi alvo de busca e apreensão na Operação Greenfield e que possivelmente foi utilizada, no passado, para finalidades criminosas na gestão de fundos de investimentos (vários deles que têm como cotistas os Fundos de Pensão investigados), os fatos sob exame também possuem correlação com os seguintes casos da Operação Greenfield: (iii) caso FIP OAS Empreendimentos; (iv) caso FIP RG Estaleiros; (v) caso FIP Sondas; (vi) e caso FIP CEVIX.

Outrossim, os fatos objeto das Operações Sépsis e Cui Bono, denunciados ou sob investigação, apresentam ainda correlação com investimentos de Fundos de Pensão e do Fundo de Investimento do FGTS (FI-FGTS) que hoje já são objeto de exame por parte da equipe interdisciplinar investigadora da Operação Greenfield e que não foram ainda objeto de medidas judiciais de deflagração.

A análise dos casos ainda demonstra portanto a similitude de favorecimentos do FI- FGTS em sintonia com os Fundos de Pensão, ou seja, a coincidência de investimentos comuns que apontam para um processo decisório político que escapa à formalidade da documentação oficial que serviu para as decisões de investimentos investigadas.

A conexão entre as operações Sépsis e Greenfield foi então requerida ao juízo da 10ª Vara, e deferida, no momento da ratificação da primeira denúncia sobre fatos investigados na Operação Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

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Sépsis7 Essa conexão foi confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 1a Região recentemente nos autos do HC n° 1005502-34.2020.4.01.0000.

Portanto, é indispensável, para o total esclarecimento dos ilícitos cometidos, que os fatos objeto da presente ação sejam reunidos com os demais processos das Operações Sépsis e Cui Bono em trâmite neste juízo, ações de improbidade nºs 1020689-04.2019.4.01.3400 (caso MARFRIG), 1020698-63.2019.4.01.3400 (caso BERTIN), 1020705-55.2019.4.01.3400 (caso CONSTANTINO) e 1020710-77.2019.4.01.3400 (caso J&F), além de ações de improbidade decorrentes da Operação Greenfield, como as de n°s 1017685-27.2017.4.01.3400 (Salas Comerciais OAB), 1019167-10.2017.4.01.3400 (FIP CEVIX), 1017983-19.2017.4.01.3400 (RG Estaleiros) e 1006513-54.2018.4.01.3400 (FIP Enseada) e 1014207-40.2019.4.01.3400 (GLOBAL EQUITY), entre outras.

3 – OBJETO DA AÇÃO

Conforme será melhor explicitado a seguir, entre 2011 e 2015, EDUARDO COSENTINO DA CUNHA, HENRIQUE EDUARDO LYRA ALVES e FÁBIO FERREIRA CLETO, com a participação essencial de LUCIO BOLONHA FUNARO e ALEXANDRE ROSA MARGOTTO8, agindo em comunhão de desígnios e sob o comando e a coordenação de EDUARDO CUNHA, com violação do dever funcional de manter sigilo, solicitaram e aceitaram vantagem patrimonial indevida, para si e para outrem, pagas a FABIO CLETO e HENRIQUE ALVES , em razão de seus cargos, em especial do cargo de Vice-Presidente de Fundos de Governo e Loterias

7 V. em anexo denúncia e manifestação que transcreve o teor da ratificação da denúncia sobre a conexão e apresenta fatos complementares, como nota técnica da PREVIC, também em anexo.

8 As condutas de FÁBIO CLETO, LÚCIO FUNARO e ALEXANDRE ROSA MARGOTTO são narradas na presente inicial, já que são essenciais para imputar fatos ilícitos aos requeridos, mas, em relação a eles, deixa-se de ajuizar ação, como explicitado no item 5.3 desta manifestação. Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

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(VIFUG) da Caixa Econômica Federal, exercido por FÁBIO FERREIRA CLETO, em razão de atuação do grupo criminoso nas seguintes operações:

3.1 – HAZTEC TECNOLOGIA E PLANEJAMENTO AMBIENTAL S/A (investimento de R$ 245 milhões, em 16 de junho de 2011, realizado à conta da Carteira Administrada Saneamento na aquisição de 24.500 debêntures simples, não conversíveis em ações, com vencimento em 1º/04/2023);

3.2 – PORTO MARAVILHA (investimento da Carteira Administrada Residencial do FGTS. Consistiu na arrematação, em leilão, de 6.436.722 de Certificados de Potencial Adicional de Construção – CEPAC, emitidos pelo Município do Rio de Janeiro. Importou em um compromisso Financeiro de aproximadamente R$ 8 bilhões, considerando os CEPAC e o prêmio de opção de compra, que incluiu no preço 35 terrenos na área da Operação Urbana Consorciada, assim liberados: R$ 3,5 bilhões em 18/03/2011 (primeira emissão); R$ 800 milhões em 16/04/2015 (segunda emissão) e R$ 700 milhões em 29/07/2015 (aprovado unitariamente com a segunda emissão, como valor global de R$ 1,5 bilhão);

3.3 – AQUAPOLO AMBIENTAL S/A (investimento da Carteira Administrada Saneamento, para a aquisição de 326.732 debêntures simples, não conversíveis em ações, com vencimento em 1º/08/2029. Foram aportados pela Carteira Administrada do FGTS o valor de R$ 326,732 milhões, em 19/09/2011);

3.4 – SANEATINS (investimento do FI-FGTS, por meio do FIP SANEAMENTO, que tem como sócia a ODEBRECHT AMBIENTAL (denominada de FOZ DO BRASIL, anteriormente). O valor investido no FIP foi de R$ 90.500.000,00 (noventa milhões e quinhentos mil reais), com a apresentação do REFI (Relatório Final de Investimentos) em 28 de setembro de 2011);

3.5 – A BR VIAS (VIA RONDON CONCESSIONÁRIA DE RODOVIA S.A.) (investimento em que o FI-FGTS alocou R$ 300 milhões, em 12/06/2012, para a aquisição de 300 Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3 debêntures simples, não conversíveis em ações, com vencimento em 04 de junho de 2027);

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3.6 – ELDORADO BRASIL CELULOSE S/A (investimento do FI-FGTS na aquisição de 940 mil debêntures simples, não conversíveis em ações, com vencimento em 1º/12/2027, no importe de R$ 940 milhões, realizado em 17/12/2012);

3.7 – A LINHA AMARELA S/A (investimento de R$ 386.722 milhões, em 31/05/2012, à conta da Carteira Administrada de Transporte Urbano para aquisição de 386.722 debêntures simples, não conversíveis em ações, com vencimento em 31/05/2027);

3.8 – A BRADO (BRADO LOGÍSTICA E PARTICIPAÇÕES S.A.): investimento do FI- FGTS, consistente na aquisição de 22,22222% de participação no capital social da Companhia, importando em R$ 400 milhões, em 05/08/2013);

3.9 – A CONE S/A – CONVIDA.

Como será detalhado adiante, a presente demanda cinge-se à imputação de parte apenas dos ilícitos revelados nas Operações Sépsis e Cui Bono, notadamente ao pagamento de vantagem indevida e lavagem de ativos dos 4% do total de propinas solicitadas e recebidas pelo grupo criminoso, percentagem essa destinada a FÁBIO CLETO, mediante o pagamento de valores em espécie e o depósito de valores a ele pela empresa CARIOCA ENGENHARIA9, no exterior, por solicitação de EDUARDO CUNHA, bem como aos valores indevidos pagos a , pela CARIOCA ENGENHARIA, no exterior, e a correspondente lavagem de recursos (por três vezes), também por solicitação de EDUARDO CUNHA10.

9 Também não demandada nesta ação, como detalhado adiante no item 5.3.

10 Não são portanto objeto desta ação as vantagens indevidas recebidas por EDUARDO CUNHA nesse esquema operado da CEF e as demais vantagens indevidas recebidas por HENRIQUE ALVES, que, em parte, são objeto das ações de improbidade nºs 1020689-04.2019.4.01.3400 (caso MARFRIG), 1020698-63.2019.4.01.3400 (caso BERTIN), 1020705-55.2019.4.01.3400 (caso CONSTANTINO) e 1020710-77.2019.4.01.3400 (caso J&F), permanecendo ainda sob investigação os pagamentos indevidos recebidos vinculados a outras operações de empresas com FGTS/CEF, ainda Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3 não denunciados.

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Além destas operações, constatou-se a prática de prevaricação e/ou violação de sigilo por parte de EDUARDO COSENTINO DA CUNHA e FÁBIO FERREIRA CLETO, que também são atos de improbidade administrativa, nos casos dos projetos CSN, PEIXE EXERGIA, PETROBRÁS e RIALMA, apesar da inexistência de provas do pagamento de propina a CLETO nesses casos.

Dessa forma, é escopo da presente ação responsabilizar, por improbidade, EDUARDO COSENTINO DA CUNHA e HENRIQUE EDUARDO LYRA ALVES, uma vez que suas condutas causaram enriquecimento ilícito e atentaram contra os princípios da Administração Pública, de forma que se amoldam ao disposto no art. 9º e no art. 11, ambos da Lei nº 8.492/92.

4 – FATOS ILÍCITOS

4.1. Considerações sobre a organização criminosa

A fim de contextualizar os fatos objeto desta ação, convém narrar inicialmente, em síntese, o papel dos membros da organização criminosa que praticaram delitos e atos de improbidade administrativa11.

De acordo com a já mencionada denúncia oferecida pelo Procurador-Geral da República, desde meados de 2006 até os dias atuais, , EDUARDO CUNHA, HENRIQUE ALVES, , RODRIGO LOURES, e , na qualidade de membros do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), com vontade livre e consciente, de forma estável, profissionalizada, preordenada, com estrutura definida e

11 Resumo, para fins de contextualização, com base na denúncia (organização criminosa) nas fls. 37 da Ação Penal nº 1238-44.2018.4.01.3400 (cópia em anexo), que foi ratificada e aditada pela manifestação de fls. 9-34 dos mesmos autos. Os elementos que subsidiam este trecho da denúncia, indicados em suas notas de rodapé, foram gravados em HD Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3 enviado à 22ª Vara e constam da pasta “Provas HD da Acao Penal nº 1238-44.2018.4.01.3400”.

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com repartição de tarefas, agregaram-se ao núcleo político de organização criminosa para cometimento de vários delitos, em especial contra a Administração Pública, para a arrecadação de propina por meio da utilização de diversos entes e órgãos públicos, entre eles a Caixa Econômica Federal12.

Esclareceu-se que, além desses denunciados, que compõem o denominado “(P)MDB da Câmara”, o núcleo político da referida organização era composto também por integrantes do Partido Progressista (PP) e do Partido dos Trabalhadores (PT), que compunham subnúcleos políticos específicos, e do chamado “(P)MDB do Senado”, cujas condutas foram objeto de outras denúncias.

Conforme narrado na denúncia oferecida pelo então Procurador-Geral da República, ratificada por este órgão ministerial, EDUARDO CUNHA, apesar de ser um político influente no Rio de Janeiro, apenas teve seu primeiro mandato como Deputado Federal em 2003, mas então deixou o PP e passou a integrar o PMDB. Na época, ele comandava, com a ajuda do operador LÚCIO FUNARO, um esquema ilícito no âmbito da Prece – Fundo de Previdência Complementar da Companhia de Água e Esgoto do Rio de Janeiro (CEDAE) que gerou um prejuízo de R$ 300 milhões ao Fundo e um caixa de propina a LÚCIO FUNARO e EDUARDO CUNHA, utilizado em parte para comprar o apoio de outros parlamentares, inclusive de MICHEL TEMER e HENRIQUE EDUARDO ALVES. Assim, à medida que foi distribuindo cada vez mais dinheiro obtido de forma ilícita especialmente para ajudar nas campanhas de deputados do Rio de Janeiro e Minas Gerais, EDUARDO CUNHA foi se tornando

12 Na primeira instância, após desmembramento em relação a pessoas sem foro determinado pelo Supremo Tribunal Federal, o MPF ratificou a denúncia oferecida pelo Procurador-Geral em face dos acusados EDUARDO COSENTINO DA CUNHA, HENRIQUE EDUARDO LYRA ALVES, GEDDEL QUADROS VIEIRA LIMA e RODRIGO SANTOS DA ROCHA LOURES. Na mesma petição, o Ministério Público Federal também aditou a denúncia, para agregar novos elementos em relação a conduta de RODRIGO SANTOS DA ROCHA LOURES, e para imputar a prática do crime previsto no art. 2°, § 4°, inciso II, da Lei nº 12.850/2013, a JOSÉ YUNES, JOÃO BAPTISTA LIMA FILHO, ALTAIR ALVES PINTO, SIDNEY NOBERTO SZABO e LUCIO BOLONHA FUNARO, nos termos narrados na manifestação apresentada. Recentemente, após perda do cargo pelos demais denunciados, foi ratificada a denúncia também em relação a MICHEL MIGUEL ELIAS TEMER LULIA, ELISEU LEMOS PADILHA e WELLINGTON MOREIRA Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3 FRANCO.

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uma liderança no âmbito da Câmara em razão do seu crescente número de aliados, que não se restringiam a parlamentares do PMDB.

Como salientado naquela denúncia, a capacidade demonstrada por EDUARDO CUNHA de fazer negócios ilícitos de volumes expressivos e de movimentar um número cada vez maior de parlamentares na direção por ele indicada cacifou-o perante as lideranças do “(P)MDB da Câmara”, especialmente depois das eleições de 2006, quando conseguiu arrecadar valores relevantes para as campanhas do partido. Por isso, EDUARDO CUNHA também participou das negociações em torno da adesão dos ali denunciados à organização criminosa já constituída pelas lideranças de PT, PP e PMDB do Senado. Nesse contexto, liderou a bancada do PMDB de Minas Gerais para retirar a Diretoria Internacional da Petrobras do nicho de atuação dos integrantes da organização criminosa do Senado, além de ter conseguido indicar o Presidente de Furnas, o Vice-Presidente dos Fundos de Governo e Loterias da Caixa Econômica Federal, o Ministro da Agricultura, além do presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Todos esses cargos foram usados por EDUARDO CUNHA para a formatação de um projeto de poder que tinha por escopo aumentar sua influência em setores da máquina estatal de onde pudesse advir um “bom negócio”, vale dizer, de onde pudesse arrecadar um maior volume de propina para si e seu grupo criminoso.

O projeto de poder de EDUARDO CUNHA estava intimamente ligado à sua capacidade de se articular com à cúpula do seu Partido, há anos composta por MICHEL TEMER, GEDDEL VIEIRA LIMA, ELISEU PADILHA, HENRIQUE EDUARDO ALVES e MOREIRA FRANCO, especialmente para práticas espúrias, como demonstrado na denúncia oferecida pelo Procurador-Geral da República. Sua rápida ascensão no âmbito do PMDB e na organização criminosa deve-se, entre outros fatores, a sua atuação direta e incisiva na arrecadação de valores e pelo mapeamento e controle que fazia dos cargos e pessoas que o ajudariam nos seus projetos.

E, como membro da organização criminosa, conforme imputação já feita, EDUARDO Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3 CUNHA atuou com destaque na prática de crimes no âmbito da Petrobras, de FURNAS, Câmara dos

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Deputados e da Caixa Econômica Federal, onde comandava e coordenava a atuação ilícita do grupo.

HENRIQUE ALVES, por sua vez, como exaustivamente narrado naquela denúncia ratificada, tinha papel de especial destaque na organização criminosa, sintetizado a seguir.

Por volta de 2006, as negociações do grupo criminoso “(P)MDB da Câmara”, para obter apoio, giravam primordialmente em torno de dois interesses: (i) a prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), que ficaria nas mãos do PMDB, na relatoria de EDUARDO CUNHA, e foi utilizada como objeto de barganha com o Governo; (ii) a necessidade de ampliação da base do governo em razão do processo do “Mensalão” que havia enfraquecido o poder político da cúpula do Poder Executivo Federal integrada por membros do PT.

Esses temas foram negociados por MICHEL TEMER e HENRIQUE ALVES, na qualidade de presidente e líder do PMDB, que concordaram com ingresso do “PMDB da Câmara” na base do governo em troca de cargos estrategicamente relevantes, entre eles a vice-presidências da CEF. Assim, no dia 30 de novembro de 2006, o Conselho Nacional do PMDB aprovou a integração da legenda, em bloco, à base aliada do Governo Lula, em contrapartida, o grupo político de HENRIQUE ALVES e os demais ali denunciados foram agraciados com os seguintes cargos:

INDICADO CARGO DATA DATA SAÍDA ENTRADA

Ministro da Integração Nacional 16/03/2007 31/03/2010 Geddel Vieira Lima Vice-Presidente CEF 07/04/2011 26/12/2013

Vice-Presidente CEF 03/07/2007 17/08/2010

Moreira Franco Secretário de Assuntos Estratégicos 01/01/2011 15/03/2013

Ministro da Aviação Civil 15/03/2013 01/01/2015 Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

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Conab 20/06/2007 31/03/2010 Wagner Rossi Ministro da Agricultura 31/03/2010 18/08/2011

Luiz Paulo Conde Diretor-Presidente FURNAS 08/2007 10/2008

Jorge Luiz Zelada Diretor Internacional da Petrobras 04/03/2008 20/07/2012

Elias Fernandes Neto Diretor-Geral DNOCS 15/05/2007 27/01/2012

Fábio Cleto Vice-Presidente CEF 06/04/2011 09/12/2015

Antônio Andrade Ministro da Agricultura 15/03/2013 14/03/2014

Mauro Hauschild Presidente INSS 14/01/2011 24/10/2012

Eliseu Padilha Ministro da Aviação Civil 01/01/2015 07/12/2015

Henrique Alves Ministro do Turismo 16/04/2015 28/03/2016

Depois de definidos os espaços que seriam ocupados pelo grupo dos denunciados, MICHEL TEMER e HENRIQUE EDUARDO ALVES, este último líder do Partido entre 2007 e 2013, eram os responsáveis maiores pela distribuição interna dos cargos, e por essa razão recebiam parcela da propina arrecadada por MOREIRA FRANCO, GEDDEL VIEIRA LIMA, ELISEU PADILHA e especialmente EDUARDO CUNHA, conforme narrado na denúncia já mencionada (devidamente recebida pela Justiça Federal).

Assim, conforme imputação já feita, HENRIQUE ALVES teve participação em ilícitos praticados na Petrobras, no Ministério da Integração Nacional, na Câmara dos Deputados e na Caixa Econômica Federal, entre outros casos.

Em relação a GEDDEL VIEIRA LIMA, aquela denúncia narra que, entre 2001 e 2002, MICHEL TEMER assumiu a presidência do PMDB com a missão de unificar o Partido em torno de uma solução viável para as eleições presidenciais daquele ano e, à época, GEDDEL LIMA era líder do PMDB na Câmara dos Deputados. Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

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Alguns anos depois, em 2006, o grupo político dos acusados conseguiu cargos estratégicos na Administração Pública, e GEDDEL VIEIRA LIMA assumiu, em março de 2007, o Ministério da Integração Nacional, por indicação de MICHEL TEMER e HENRIQUE ALVES, à época líder da bancada peemedebista na Câmara. Como já exposto, MICHEL TEMER e HENRIQUE EDUARDO ALVES, este último líder do Partido entre 2007 e 2013, eram os responsáveis maiores pela distribuição interna dos cargos, e por essa razão recebiam parcela da propina arrecadada pelos demais, inclusive GEDDEL VIEIRA LIMA.

No âmbito desse Ministério, HENRIQUE EDUARDO ALVES já há muito tempo era o responsável pela indicação do Diretor-Geral do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (DNOCS), o qual, na época em que GEDDEL LIMA estava à frente da Pasta, era Elias Fernandes – registre-se que, no período em que Elias Fernandes foi Diretor-Geral do DNOCS, a Controladoria- Geral da União apurou que mais de R$ 312 milhões teriam sido desviados dos cofres públicos.

Como detalhado naquela denúncia, a cobrança de propina no órgão era feita por interposta pessoa, que, em nome de HENRIQUE EDUARDO ALVES, cobrava das empresas que tinham negócios com DNOCS um percentual em torno de 3% do contrato a título de propina. O mesmo percentual era cobrado em benefício de GEDDEL VIEIRA LIMA, na época em que era Ministro da Integração Nacional e responsável pelas verbas orçamentárias que viabilizavam a atuação do DNOCS.

Ainda conforme exposto naquela denúncia, a organização criminosa começou a atuar, posteriormente, também na Caixa Econômica Federal. Além de operar ilicitamente na VIFUG, com o ingresso de GEDDEL VIEIRA LIMA na Vice-presidência de Pessoas Jurídicas da CEF, em março de 2011, EDUARDO CUNHA, LÚCIO FUNARO, HENRIQUE EDUARDO ALVES e MICHEL TEMER passaram a arrecadar propina também a partir dos contratos de financiamento vinculados ao cargo de GEDDEL. No caso de HENRIQUE EDUARDO ALVES e MICHEL TEMER, a participação se dava em razão do apoio dado por eles para que GEDDEL LIMA fosse nomeado e se mantivesse na CEF. Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

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Ressalte-se que esse esquema continuou a funcionar mesmo após a saída de GEDDEL VIEIRA LIMA, em dezembro de 2013, da Vice-Presidência da CEF. Nesse sentido, o colaborador Lúcio Funaro afirmou que: “(...) a última operação de crédito viabilizada por ele foi a linha de crédito no valor de R$ 2,7 bilhões para a compra da ALPARGATAS ocorrida em dezembro de 2015; QUE nesta época GEDDEL já havia saído da vice-presidência, mas continuava controlando-a.”. Também nessa linha, o colaborador Joesley Batista relatou que, em 2015, sempre que se encontrava com EDUARDO CUNHA, ele demonstrava estar informado sobre o andamento dos pedidos das empresas da J&F no âmbito da CEF, ocasião em que questionava o empresário se estava satisfeito com o andamento dado. Isso dava ao colaborador a percepção nítida de que o grupo de EDUARDO CUNHA continuava a comandar os negócios firmados no âmbito da vice-presidência de Pessoas Jurídicas da Caixa Econômica Federal. Ressalte-se ainda que FABIO CLETO permaneceu como Vice-Presidente da VIFUG até dezembro de 2015.

Assim, o grupo criminoso operou esquema ilícito na Caixa Econômica Federal até pelo menos dezembro de 2015.

LÚCIO FUNARO, por sua vez, era operador financeiro da organização criminosa. Seu papel era o de contribuir para a arrecadação da propina pelos demais integrantes do núcleo político, principalmente EDUARDO CUNHA, GEDDEL VIEIRA LIMA, HENRIQUE EDUARDO e MICHEL TEMER, como exposto na denúncia oferecida e no relatório conclusivo do Inquérito 4.327.

Conforme ali apurado, a organização criminosa recebeu, com auxílio de LÚCIO FUNARO, propina de diversas empresas que se beneficiaram de esquemas ilícitos, em especial em decorrência de operações com a Caixa Econômica Federal e o FI-FGTS, cujas atividades ilícitas foram descritas no tópico “2.2.4 Caixa Econômica Federal” da denúncia e “V. DA ATUAÇÃO NA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL” do relatório mencionado conclusivo. Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

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A atuação de LÚCIO FUNARO era toda registrada em “contas-planilha”, uma espécie de contabilidade de propina. Durante as investigações, além de explicar como se dava o controle das movimentações financeiras específicas para cada uma das entregas, LÚCIO FUNARO indicou ainda os arquivos que corroboravam os seus apontamentos, a exemplo de comprovantes de depósitos bancários, cheques e contratos. Identificou-se assim como se dava a movimentação dos valores, desde a liquidez bancária até a entrega do dinheiro aos integrantes da organização criminosa.

Até o momento, foi identificado o repasse de valores ilícitos, somente por LÚCIO FUNARO, no total de R$ 89.538.078,32 (oitenta e nove milhões quinhentos e trinta e oito mil e setenta e oito reais e trinta e dois centavos), no período de 2011 a 2015, a EDUARDO CUNHA; R$ 17.980.000,00 (dezessete milhões e novecentos e oitenta mil reais), no período de 2012 a 2015, a GEDDEL LIMA; e R$ 6.708.800,00 (seis milhões setecentos e oito mil e oitocentos reais), no período de 2012 a 2014, a HENRIQUE ALVES.

Já ALTAIR ALVES PINTO e SIDNEY NORBERTO SZABO, nos termos daquela denúncia, intermediaram, durante anos, recebimento de propina para a organização criminosa, em nome de EDUARDO CUNHA, em valores milionários, por diversas vezes. Como já mencionado na denúncia, foram identificados 3.987 (três mil novecentos e oitenta e sete) registros de ligações de EDUARDO CUNHA com ALTAIR ALVES PINTO, no período de 2012 a 2014. Além disso, foram identificados voos em nome de ALTAIR ALVES PINTO e de SIDNEY NORBERTO SZABO cujo período coincide com entregas de valores ilícitos destinadas a EDUARDO CUNHA (“BOB”) e apontadas nas movimentações financeiras registradas por LÚCIO FUNARO.

Feitas essas considerações, passa-se ao objeto da presente ação: a atuação da organização criminosa “(P)MDB da Câmara” no âmbito da Caixa Econômica Federal, em relação a vantagens indevidas solicitadas por EDUARDO CUNHA e pagas a FÁBIO CLETO e HENRIQUE ALVES. Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

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4.2. Atos de improbidade em detrimento da Caixa Econômica Federal, revelados na Operação Sépsis

Conforme consta da ação penal 0060203-83.2016.4.01.3400, entre 2011 e 2015 e a partir de ações articuladas no Distrito Federal, em São Paulo, no Rio de Janeiro, na Suíça e no Uruguai, os agentes públicos FÁBIO CLETO, EDUARDO CUNHA e HENRIQUE EDUARDO LYRA ALVES com o apoio indispensável dos particulares LÚCIO FUNARO e ALEXANDRE MARGOTTO, com vontade livre e consciente, enriqueceram ilicitamente cobrando a grandes empresários pela liberação de recursos do FGTS em detrimento do correto funcionamento da política de investimentos do FI-FGTS e de sua Carteira Administrada.

No ano de 2010, ALEXANDRE MARGOTTO – que era sócio de FÁBIO CLETO na ETROS ADMINISTRADORA DE RECURSOS E VALORES MOBILIÁRIOS – apresentou LÚCIO FUNARO àquele e todos passaram a estreitar interesses.

A seu turno, LÚCIO FUNARO tinha ligações próximas com o Deputado Federal EDUARDO CUNHA e este com o também Deputado Federal HENRIQUE EDUARDO ALVES, que, na Câmara dos Deputados, era líder do PMDB, partido que compunha a base governista da Presidente DILMA ROUSSEF.

Na condição de partido aliado ao governo federal, o PMDB na Câmara dos Deputados tinha na época a possibilidade de indicar nomes para dois cargos públicos na Administração Pública Federal: o de presidente do BASA e o de Vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias (VIFUG) da CEF.

A VIFUG é um setor da Caixa Econômica Federal pela qual passam os projetos das empresas que buscavam o banco público para obterem recursos. Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

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Assim, por meio da relação com LÚCIO BOLONHA FUNARO e das articulações políticas efetuadas por EDUARDO COSENTINO DA CUNHA e HENRIQUE EDUARDO LYRA ALVES (este líder do PMDB na Câmara dos Deputados), FÁBIO FERREIRA CLETO tornou-se, em 2011, Vice-Presidente de Fundos de Governo e Loterias (VIFUG) da Caixa Econômica Federal.

No processo de indicação para o cargo, FÁBIO CLETO já foi informado que teria que atender demandas do grupo (PMDB da Câmara), o que era garantido pelo ilícito interesse de FÁBIO CLETO no recebimento de propina e pela precariedade da sua investidura, assegurada pela prévia assinatura de uma carta de renúncia dirigida pelo servidor ao líder do PMDB da Câmara, Deputado Federal HENRIQUE EDUARDO ALVES.

Assim como planejado, valendo-se do seu cargo, de 2011 a dezembro de 2015, FÁBIO CLETO informou a EDUARDO CUNHA sobre todos os projetos que estavam em tramitação dentro da área do FI-FGTS e da Carteira Administrada do FGTS, assim como o estágio em que se encontravam, a fim de permitir a negociação da sua atuação.

Posteriormente ao acerto com os empresários demandantes dos recursos, o que era feito por EDUARDO CUNHA ou LÚCIO BOLONHA FUNARO, estes diziam a FÁBIO CLETO qual deveria ser a sua posição na votação de cada projeto, o que de fato ocorria mediante o pagamento de propina.

Após aprovadas as operações com o voto e articulação de FÁBIO CLETO no Comitê de Investimento do FI-FGTS ou no Conselho da VIFUG (carteira administrada), EDUARDO CUNHA ou FUNARO confirmavam a FÁBIO CLETO o valor das propinas, repartindo-as conforme percentagens previamente combinadas: 80% para EDUARDO CUNHA; 20% para FUNARO que deveria entregar, da sua parte, 4% para FÁBIO CLETO e 4% para MARGOTTO. Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

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Da parte de EDUARDO CUNHA, houve o pagamento ao então Deputado Federal HENRIQUE EDUARDO ALVES, pelo valioso serviço prestado ao esquema delitivo (indicar e manter FÁBIO CLETO na VIFUG/CEF). De fato, da CLIVER DELTA TRUST CONSTRUTORA, pertencente à CARIOCA ENGENHARIA, partiram depósitos de CHF 832.975,98 (US$ 906 mil) em favor da conta BELLFIELD (Suíça), pertencente a HENRIQUE EDUARDO ALVES em 2011, a pedido de EDUARDO CUNHA.

FÁBIO CLETO recebeu a maior parte das suas propinas no exterior, pagas pela CARIOCA ENGENHARIA, a mando de EDUARDO CUNHA. Assim, são vários depósitos feitos a partir da conta CLIVER DELTA TRUST CONSTRUTORA, de propriedade da CARIOCA ENGENHARIA, em duas contas de FÁBIO CLETO: a LASTAL da Suíça e a LASTAL do Uruguai.

Além disso, quando assumiu o cargo na VIFUG/CEF em 2011, FÁBIO CLETO transferiu para a conta de LÚCIO FUNARO todos os recursos que mantinha secretamente na Suíça, o que girava em torno de U$ 820.000,00 (oitocentos e vinte mil dólares), estabelecendo um crédito de FÁBIO CLETO em relação a LÚCIO FUNARO, a ser quitado mediante o pagamento das dívidas do primeiro e de sua família. Desta forma, os envolvidos queriam evitar qualquer possibilidade de descoberta da conta secreta de FÁBIO CLETO, que pudesse obstar o andamento do esquema de corrupção na CEF.

Neste sentido, FÁBIO CLETO, além de suas declarações em colaboração premiada, apresentou cerca de trezentas contas suas pagas por empresas de LÚCIO FUNARO e também uma planilha de acerto de contas com manuscritos reconhecidos como autênticos por este último acusado. Inicialmente, para fins de pagamento e controle de propinas, LÚCIO FUNARO era o intermediário entre EDUARDO CUNHA e FÁBIO CLETO. Mas essa intermediação cessou quando a relação entre FÁBIO CLETO e LÚCIO FUNARO se tornou insustentável por diversas brigas, momento em que, Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3 vendo a possibilidade de desmonte completo do esquema com a renúncia de CLETO ao cargo na

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VIFUG, EDUARDO CUNHA passou a fazer, em uma nova planilha, o controle desse crédito, tratando agora diretamente com FÁBIO CLETO. Esta planilha também foi apresentada por CLETO. Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

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Dessa reconfiguração da relação entre FÁBIO CLETO e EDUARDO CUNHA surge uma nova forma de pagamento tanto do crédito do servidor da CEF com FUNARO quanto da propina àquele devida pela venda de sua atuação funcional na CEF, quais sejam, os depósitos diretos feitos pela CONSTRUTORA CARIOCA, integrante do consórcio PORTO MARAVILHA, em contas mantidas por CLETO em paraísos fiscais.

Nesse sentido, são vários depósitos feitos a partir da conta CLIVER DELTA TRUST CONSTRUTORA, de propriedade da CARIOCA ENGENHARIA, em duas contas de FÁBIO CLETO: a LASTAL da Suíça e a LASTAL do Uruguai.

Esse esquema ilícito foi possibilitado porque, desde 2008, além das operações tradicionais (linhas para agentes financeiros que repassavam os valores para os mutuários, tomadores finais), o FGTS passou a se valer de operações de mercado, ou seja, a utilização de ativos mobiliários para lastrear o repasse dos recursos do FGTS.

Destarte, iniciaram-se duas formas de investir os valores do FGTS: a primeira por meio do FI-FGTS e a segunda por meio das chamadas Carteiras Administradas. Ambas são veículos de investimentos dos valores do FGTS, mas com particularidades e procedimentos próprios.

O FI-FGTS é um Fundo, criado em 2008, que investe em infraestrutura, mais especificamente em sete setores: rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, hidrovias, saneamento e energia. O FI-FGTS foi criado em 2008, com dois objetivos primordiais: fomentar o mercado de trabalho e servir como funding de longo prazo de projetos de infraestrutura. Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

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O FI-FGTS possui duas formas de investimentos: ou por meio de investimento direto na empresa (equity) – no qual o FI-FGTS passa a ser sócio da empresa, até um percentual de 49,9% - ou por meio de dívida da empresa (debt), que basicamente significa a compra de debêntures ou outros instrumentos de dívida emitidos pela empresa – situação na qual o FI-FGTS passa a ser credor da empresa.

As decisões de investimentos são feitas por um Comitê de Investimento, composto por doze membros, sendo seis da iniciativa privada, dos quais três representantes dos empregadores e três dos trabalhadores, e seis do governo: um representante do Ministério da Fazenda, um do Ministério das Cidades, um do Ministério do Trabalho, um do Ministério do Planejamento, um do Ministério da Indústria e Comércio e um da Caixa.

Inicialmente, foi estabelecido que a Vice-Presidência de Gestão de Ativos de Terceiros da CEF (VITER) seria a Administradora do Fundo. A Administradora do Fundo responde por todas as questões do Fundo perante a CVM e o BACEN, além de estruturar os projetos a serem alocados no FI- FGTS. Estruturar os projetos significa receber uma empresa interessada em tomar recursos do Fundo, fazer análise da viabilidade do projeto e do tomador e, em caso de interesse mútuo (da empresa e do Fundo), estruturar a operação, ou seja, discutir com a empresa todas as condições da operação.

No caso do FI-FGTS a empresa é recebida inicialmente pela VITER, sediada em São Paulo. A VITER, depois de entender viável o projeto, faz a apresentação do projeto para o Comitê de Investimentos, dando as condições mais gerais da operação e da empresa, por meio de um relatório chamado ROPI – Relatório de Oportunidade de Investimento. O procedimento da estruturação da operação somente é possível com a aprovação do ROPI pelo Comitê de Investimentos por no mínimo ¾ dos presentes. Acontecendo a aprovação do ROPI pelo Comitê de Investimentos, a VITER prossegue na estruturação da operação, tendo que apresentar um novo relatório ao Comitê de Investimentos, agora Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

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de nome REFI – Relatório Final de Investimentos, contendo este todos os detalhes da operação. Novamente o REFI deve ser aprovado pelo Comitê de Investimentos, por ¾ dos presentes, o que significa a aprovação da operação.

A Carteira Administrada tem outro procedimento de investimento dos valores do FGTS. A Carteira Administrada pode alocar os valores em quatro tipos de ativos: debêntures, Fundos Imobiliários, FIDIC (Fundos de Direitos Creditórios) e CRI (Certificado de Recebíveis Imobiliários). Dessarte, não pode investir em equity, ou seja, não pode virar sócia de empresas. Além disso, as finalidades são apenas três, ou seja, são três Carteiras distintas: Carteira Administrada Transporte, Carteira Administrada Habitação e Carteira Administrada Saneamento.

O procedimento das Carteiras passa inicialmente pelo enquadramento da operação feito pela VIFUG (Vice-Presidência de Fundos de Governo e Loterias). O enquadramento significa receber a empresa e verificar se o projeto se enquadra e respeita todas as regras estabelecidas para as Carteiras, estabelecidas em normativa estabelecida pelo Ministério das Cidades.

Efetuado o enquadramento, esse documento é enviado para a VITER, a qual inicia as tratativas com a empresa, para estruturar a operação.

Estruturada a operação, a aprovação é feita internamente na Caixa em dois conselhos: Conselho da VIFUG e Conselho da VITER.

Os dois conselhos têm a mesma composição: Presidente da Caixa, Vice-Presidente da REDE, Vice-Presidente de Risco, Diretor Jurídico e o Vice-Presidente da VIFUG ou VITER. Portanto, em cada conselho somente muda o Vice-Presidente. E, os membros de ambos são da Caixa, de modo que na Carteira Administrada não há a aprovação pelo Comitê de Investimentos, sendo uma decisão interna da instituição financeira. Como a maioria dos membros dos Conselhos da VIFUG e da VITER eram os mesmos, salvo o Vice-Presidente da área, passou a haver aprovações em reuniões conjuntas Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3 dos Conselhos.

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Após a aprovação nos dois conselhos, estava aprovada a operação.

FÁBIO CLETO, como VIFUG era responsável enquadramento da operação no caso da Carteira Administrada, e votava no conselho da VIFUG e no Comitê de Investimento do FI-FGTS.

Dentre os projetos aprovados mediante pagamento de propina ao grupo formado por FÁBIO CLETO, EDUARDO CUNHA e HENRIQUE EDUARDO LYRA ALVES, LÚCIO FUNARO e ALEXANDRE MARGOTTO, estão: HAZTEC TECNOLOGIA E PLANEJAMENTO AMBIENTAL S/A; PORTO MARAVILHA; AQUAPOLO AMBIENTAL S/A; SANEATINS/ODEBRECHT AMBIENTAL; BR VIAS (VIA RONDON CONCESSIONÁRIA DE RODOVIA S.A.); ELDORADO BRASIL CELULOSE S/A; LINHA AMARELA S/A; BRADO (BRADO LOGÍSTICA E PARTICIPAÇÕES S.A.) e CONE S/A – CONVIDA.

Apesar de FÁBIO CLETO e ALEXANDRE MARGOTTO informarem que receberam propina em relação à operação CONE S/A, LÚCIO BOLONHA FUNARO deixa claro que os valores que a eles repassou se deu em conta da negociação de outro projeto da empresa MOURA DUBEUX S/ A: o CONVIDA, lançado em 2013.

A lém destas operações , constatou-se a prática de prevaricação e/ou violação de sigilo por parte de FÁBIO FERREIRA CLETO e EDUARDO CUNHA, nos casos dos projetos CSN; PEIXE EXERGIA; PETROBRÁS e RIALMA, que, apesar da inexistência do pagamento de propina, também são atos de improbidade administrativa.

A PEIXE ENERGIA apresentou um ROPI (Relatório de Oportunidade de Investimento), em 12/6/2013, para compra de debêntures no valor de R$ 270 milhões, no âmbito do FI-FGTS. O montante seria utilizado em projeto de construções de PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas). Posteriormente, em 4/12/2013, a empresa apresentou o REFI (Relatório Final de Investimento). Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

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FÁBIO CLETO, em data incerta do segundo semestre de 2013, com vontade livre e consciente, revelou tal fato, do qual tinha ciência em razão do cargo e que devia permanecer em segredo, induzido por e para EDUARDO CUNHA.

EDUARDO CUNHA solicitou apoio de FÁBIO CLETO, que efetivamente votou favoravelmente ao projeto.

Todavia, ao menos para FÁBIO CLETO, não houve pagamento de propina.

A PETROBRAS apresentou dois ROPIs (Relatórios de Oportunidade de Investimento) referentes a dois projetos, cada um da ordem de cerca de R$ 1,5 bilhão, no âmbito do FI-FGTS.

Cuidavam-se de dois projetos de emissão de debêntures pela PETROBRAS, o primeiro a PETROBRAS COMPERJ e o segundo a PETROBRAS UTE BAIXADA FLUMINENSE.

Pouco antes da votação, em meados de setembro de 2013, FÁBIO CLETO informou os dados sigilosos a EDUARDO CUNHA. Alegando que o único intuito dos projetos era ajudar o governo, EDUARDO CUNHA pediu a FÁBIO CLETO para votar contrariamente.

Em 18 de setembro de 2013, FÁBIO CLETO votou contrariamente aos projetos, os quais foram rejeitados.

A empresa RIALMA apresentou um ROPI na reunião de 29.10.2014. Cuidava-se de um projeto de energia, para construção de um parque eólico, e seria estruturada uma participação acionária do FI-FGTS (equity) no valor de R$ 600 milhões.

Antes da votação, em data aproximada mas posterior a 29.10.2014, FÁBIO CLETO, com vontade livre e consciente, revelou tal fato, do qual tinha ciência em razão do cargo e que devia permanecer em segredo, induzido por e para EDUARDO CUNHA. Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3 Nesse caso, EDUARDO CUNHA não orientou o voto de FÁBIO CLETO.

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A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) pleiteava financiamento, via emissão de debêntures no valor de R$ 1,216 milhão, para a ampliação do Porto de Sepetiba/RJ, no âmbito do FI- FGTS.

O ROPI foi apresentado em 24 de outubro de 2014. Em data incerta, mas pouco após esse dia, CLETO informou o fato, sigiloso, a EDUARDO CUNHA, o qual noticiou ter relacionamento muito ruim com BENJAMIN STEINBRUCH, dono da CSN. Por esse motivo, EDUARDO CUNHA tinha interesse na rejeição da operação.

Em razão dessa notícia de EDUARDO CUNHA, FÁBIO CLETO pediu vista da operação com o objetivo de atrasar o seu desenvolvimento. Conquanto não haja prazo fixo, comumente, em pedidos de vista, a questão era trazida na reunião mensal seguinte.

Até a sua saída da Caixa, em dezembro de 2015, FÁBIO CLETO não trouxe de volta a questão envolvendo a CSN para votação, de modo que retardou a apresentação de seu voto por mais de um ano.

Ainda na fase inquisitorial, os colaboradores ALEXANDRE MARGOTTO e FÁBIO FERREIRA CLETO explicaram, com riqueza de detalhes, a existência e funcionamento de todo o esquema delituoso que funcionou na CEF de 2011 a 2015.

FÁBIO FERREIRA CLETO relata que LÚCIO BOLONHA FUNARO participou em sua chegada à VIFUG/CEF, apresentando o seu currículo ao Deputado Federal EDUARDO COSENTINO DA CUNHA. Afirma que – uma vez no cargo, agindo a mando de mando do Deputado Federal EDUARDO COSENTINO DA CUNHA e seu operador LÚCIO BOLONHA FUNARO – vendeu por diversas vezes seus votos no Comitê de investimentos do FI-FGTS e no Conselho da VIFUG a favor de empresas que – para terem seus projetos aprovados – pagavam propinas aos seus mandantes (CUNHA e FUNARO). Disse que havia um acerto para distribuição de valores recebidos Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3 em propina em operações obtidas junto à CEF, na proporção de 80% para EDUARDO CUNHA e 20%

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para LÚCIO BOLONHA FUNARO. Afirmou que EDUARDO CUNHA destinava sua parte, segundo ele mesmo admitira, aos parceiros do PMDB e dos 20% de LÚCIO BOLONHA FUNARO, 4% destinava-se a ALEXANDRE MARGOTTO e 4% para o depoente. Recorda ter atuado desta forma em cerca de 12 operações envolvendo o FI-FGTS e carteira administrada do FGTS. Assevera ter recebido valores em espécie de EDUARDO CUNHA em duas oportunidades, sendo R$ 20 mil em Brasília/DF, no apartamento funcional de CUNHA, e R$ 80 mil em São Paulo/SP, no prédio em que morava, também a mando de CUNHA.

ALEXANDRE MARGOTTO também deixa claro como se formou o esquema na CAIXA ECONÔMICA FEDERAL – CEF (VIFUG), afirmando que FABIO CLETO foi indicado para a Vice-Presidência de Fundos de Governo e Loterias da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL – CEF (VlFUG) por conta da influência política de EDUARDO CUNHA, com quem LÚCIO BOLONHA FUNARO já possuía vários negócios. Assevera que o nome de FABIO CLETO foi dado a EDUARDO CUNHA por LUCIO FUNARO. Afirma que recebeu de FUNARO uma carta de renúncia do cargo de Vice-Presidente da VIFUG para que fosse assinada por FABIO CLETO, e segundo LUCIO ela seria usada para veiculação em algum meio de comunicação, caso FABIO CLETO parasse de atender suas orientações junto a CEF. Disse que, após a briga entre LUCIO BOLONHA FUNARO e FABIO CLETO, este passou a ter encontros semanais com EDUARDO CUNHA. Afirmou que havia uma combinação para distribuição dos valores recebidos de propinas em operações obtidas junto a CEF, sendo que ficavam 80% para EDUARDO CUNHA e 20% para LUCIO e que este último dizia que o valor de EDUARDO CUNHA na verdade se destinava também ao PMDB, se recordando dos nomes de HENRIQUE EDUARDO ALVES e GEDDEL QUADROS VIEIRA LIMA, ao qual LUCIO se referiu como “boca de jacaré”, porque tinha uma boca grande para receber dinheiro. Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

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LÚCIO BOLONHA FUNARO, ainda na fase inquisitorial, já tinha apontando a existência do esquema na CAIXA ECONÔMICA FEDERAL – CEF (VIFUG), afirmando durante a gestão de FÁBIO FERREIRA CLETO junto à VIFUG foram efetuadas operações perante o FI-FGTS para as empresas BRVIAS e LLX, as quais geraram comissões expressivas, no montante total aproximado de R$ 20 milhões.

Além disso, RICARDO PERNAMBUCO e RICARDO PERNAMBUCO JÚNIOR, sócios da CARIOCA ENGENHARIA, informaram terem tratado diretamente com o Deputado Federal EDUARDO CUNHA sobre propinas no caso da obra PORTO MARAVILHA e ter também, a mando do referido Deputado Federal, alimentado contas no exterior, as quais posteriormente se descobriu pertencentes a FÁBIO CLETO e EDUARDO ALVES. Em que pese os colaboradores relatem especificamente o caso do financiamento do projeto PORTO MARAVILHA/RJ, seus relatos evidenciam a existência do esquema na CAIXA ECONÔMICA FEDERAL – CEF (VIFUG), tal como descrito por LÚCIO BOLONHA FUNARO, ALEXANDRE MARGOTTO e FÁBIO FERREIRA CLETO.

Nesse sentido, RICARDO PERNAMBUCO afirma que o empreendimento PORTO MARAVILHA visava revitalizar o porto do Rio de Janeiro. Em agosto de 2006, na gestão de César Maia, o município do Rio de Janeiro promoveu uma chamada para o estudo de viabilidade do Porto Maravilha (PMI – Proposta de Manifestação de Interesse). A OAS, a CARIOCA, a ODEBRECHT e a ANDRADE GUTIERREZ formaram um consórcio, com 25% cada uma, para apresentar uma carta de intenção da PMI. Em 2007, a ANDRADE GUTIERREZ desistiu de participar, pois havia altos investimentos e a empresa acreditou que não teria chance de sucesso, e a sua participação foi diluída entre as duas outras empresas (OAS e ODEBRECHT). Em julho de 2010, o Município do Rio de Janeiro lançou um edital de PPP e, em agosto, determinou a emissão do CEPAC´s, que são Certificados de Potencial de Adicional de Construção. Tais certificados permitem a um empreendedor imobiliário, comprando tais títulos públicos, ampliar sua área de construção, dentro de determinadas normas Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

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urbanísticas fixadas pela Prefeitura. Em janeiro de 2011, a Prefeitura do Rio de Janeiro determinou a emissão de 6.436.722 CEPAC’S, a um valor individual de R$ 545,00 e, em maio de 2011, publicou um edital de leilão destes CEPAC’S, no valor total de cerca de três bilhões e meio de reais. A CEF, por meio do FI-FGTS, adquiriu a totalidade destes CEPAC’s. Em uma reunião, ocorrida entre junho e julho de 2011, no hotel SOFITEL, LEO PINHEIRO, da OAS, e BENEDITO JÚNIOR, da ODEBRECHT, chamaram o depoente e disseram que o Deputado EDUARDO CUNHA estava exigindo o pagamento de valores em decorrência da negociação das CEPAC’s, para que desse tudo certo na aquisição destes títulos pelo FI-FGTS e que o valor exigido de EDUARDO CUNHA seria de 1,5% do valor do leilão (três e meio bilhões de Reais), e que deveria ser pagas em 36 parcelas. A partir daí o depoente solicitou ao seu filho, RICARDO JÚNIOR, que entrasse em contato com o Deputado EDUARDO CUNHA, para combinar tais pagamentos e se tais valores poderiam ser pagos no exterior, tendo em vista a dificuldade de pagar os valores internamente. Tem certeza que foram destinados a EDUARDO CUNHA, pelo menos, US$ 3.984.297,05 em depósitos no exterior.

A seu turno, RICARDO PERNAMBUCO JÚNIOR disse ter sido comunicado por seu pai (RICARDO PERNAMBUCO) que havia uma solicitação e um “compromisso” com o Deputado EDUARDO CUNHA, em razão da aquisição, pelo FI-FGTS, da totalidade das CEPAC’s que viabilizaram a obra do PORTO MARAVILHA e que valor destinado a EDUARDO CUNHA seria de 1,5% do valor total dos referidos títulos, o que daria em torno de R$ 52 milhões de reais devidos pelo consórcio (OAS, CARIOCA, ODEBRECHT), sendo R$ 13 milhões de reais a cota parte da CARIOCA. Asseverou que, como cada empresa deveria acertar os valores diretamente com EDUARDO CUNHA, o pai do depoente (RICARDO PERNAMBUCO) pediu que este procurasse referido parlamentar para acertar os pagamentos. Disse ter se encontrado com EDUARDO CUNHA várias vezes e que tem certeza que US$ 3.984.297,05 foram destinados a contas apontadas pelo Deputado EDUARDO CUNHA. Outra tabela, no valor total de US$ 696.000,00, trata de valores que tem altíssima a probabilidade de retratar valores destinados a contas indicadas por EDUARDO Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3 CUNHA, por todo o trabalho investigativo que fizeram, em especial porque não fizeram pagamentos

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deste tipo a outras pessoas e, também, pelo valor das transferências. Afirma que, até junho de 2014, as transferências eram feitas para a conta do LASTAL GROUP, no Banco JULIÜS BAR e, após junho de 2014, embora a conta tenha sido ainda do LASTAL GROUP, o Banco passou a ser BANK HERITAGE. O pai do depoente (RICARDO PERNAMBUCO), assim que fazia a transferência, repassava esta informação ao depoente, para que fosse contabilizada. Disse que esteve uma única vez com o Deputado HENRIQUE EDUARDO ALVES, mas que, a pedido de EDUARDO CUNHA, acabou fazendo uma doação eleitoral oficial, para aquele político, a época, era candidato ao Governo do Rio Grande do Norte.

Na fase da persecução penal em juízo nos autos da ação penal 0060203- 83.2016.4.01.3400, FÁBIO CLETO confirmou o que já dissera em sede de colaboração premiada e o que consta na denúncia, sustentando, em síntese, que em 2010 saiu do Banco Itaú e passou a trabalhar com ALEXANDRE MARGOTTO, por meio do qual conheceu LÚCIO BOLONHA FUNARO. Em 2011, FUNARO intermediou junto a EDUARDO CUNHA sua chegada na VIFUG/CEF, cargo que exerceria daquele ano até 2015. EDUARDO CUNHA apresentou o currículo do depoente a HENRIQUE EDUARDO ALVES, que era o líder do PMDB na Câmara dos Deputados, e este último fez a sua indicação ao governo federal. Confirmou que, de 2011 a 2015, exerceu o cargo de VIFUG/CEF, em razão do qual tinha informações sigilosas e direito de voto sobre projetos de empresas de infraestrutura interessadas em recursos do FGTS. Em razão disso, repassava informações das operações a LÚCIO FUNARO e EDUARDO CUNHA, os quais orientavam como deveria ser sua votação. Estes últimos cobravam propinas das empresas, cujo montante era repartido entre o depoente, EDUARDO CUNHA, LÚCIO BOLONHA FUNARO e ALEXANDRE MARGOTTO. Asseverou que se reunia com CUNHA semanalmente, às 7:30 h, em seu apartamento funcional para tratar das operações. Revelou que HENRIQUE EDUARDO ALVES, além de ter indicado o depoente ao cargo, chegou a lhe encaminhar alguns empresários. Confessou que recebeu propina nas seguintes operações: HAZTEC TECNOLOGIA E PLANEJAMENTO AMBIENTAL S/A, PORTO MARAVILHA, Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3 AQUAPOLO AMBIENTAL S/A, SANEATINS, BR VIAS (VIA RONDON CONCESSIONÁRIA DE

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RODOVIA S.A.), ELDORADO BRASIL CELULOSE S/A, A LINHA AMARELA S/A, BRADO (BRADO LOGÍSTICA E PARTICIPAÇÕES S.A.) e CONE S/A. Confirmou que a empresa CARIOCA ENGENHARIA, que fazia parte do consórcio PORTO MARAVILHA, pagou ao depoente, em 36 parcelas, o montante de R$ 2.100.000,00 (dois milhões e cem mil Reais) depositado em sua conta LASTAL. Esse valor não foi apenas por sua atuação no caso PORTO MARAVILHA, mas também remunerou a mando de CUNHA, várias outras operações. No caso da operação CONE S/A, o depoente e ALEXANDRE MARGOTTO receberam a propina diretamente de LÚCIO BOLONHA FUNARO, o qual agiu à revelia de EDUARDO CUNHA. Nas operações CSN e PETROBRÁS votou contrariamente a mando de CUNHA e nos projeto PEIXE ENERGIA não houve orientação de CUNHA. No projeto RIALMA, CUNHA pediu apoio. Assim, sustenta que não houve pagamento de propina nos casos CSN, PETROBRÁS, PEIXE ENERGIA e RIALMA.

Por sua vez, em seu interrogatório judicial, o réu ALEXANDRE MARGOTTO confirmou todas as informações presentes em sua colaboração premiada e descreveu ainda que aproximou FÁBIO FERREIRA CLETO, com quem geria o fundo AQUITAINE, e LÚCIO BOLONHA FUNARO, que era seu amigo. LÚCIO FUNARO tinha uma relação de sociedade com EDUARDO CUNHA e em razão disso FÁBIO FERREIRA CLETO foi nomeado VIFUG/CEF. Existia um acordo do entre o depoente, FÁBIO FERREIRA CLETO, LÚCIO BOLONHA FUNARO e EDUARDO CUNHA para a cobrança e distribuição de propinas, resultantes da venda da atuação de FÁBIO FERREIRA CLETO na VIFUG/CEF. Apesar do acerto, o depoente disse que recebia valores aleatórios de LÚCIO BOLONHA FUNARO, só tendo recebido o combinado na operação da CONE S/A. Sabe que houve cobrança de propina nos casos PORTO MARAVILHA, BR VIAS (VIA RONDON CONCESSIONÁRIA DE RODOVIA S.A.) e ELDORADO BRASIL CELULOSE S/A, tendo presenciado reuniões no escritório entre LÚCIO FUNARO e os representantes daquelas empresas (Henrique Constantino e Joesley Batista) a portas fechadas. Afirmou que LÚCIO FUNARO e EDUARDO CUNHA falavam-se por telefone todos os dias, sendo nítido o conteúdo ilícito das Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3 comunicações. Algumas vezes, EDUARDO CUNHA ia pessoalmente ao escritório de LÚCIO

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FUNARO. O depoente afirmou que, além de ter combinado o recebimento de propina nas operações do FGTS, era o intermediário entre FUNARO e FÁBIO CLETO e também colheu, a mando de FUNARO, as assinaturas de FÁBIO CLETO nas três vias da carta de renúncia prévia à sua nomeação ao caro de VIFUG/CEF.

Outrossim, também em sede de interrogatório judicial, LÚCIO FUNARO confirmou tudo o que já registrara em sua colaboração premiada. Sustenta que conheceu CUNHA em 2002, com quem passou a ter uma parceria para fins ilícitos. Sustenta ter sido o responsável por negociar com os empresários as operações BR VIAS e ELDORADO BRASIL CELULOSE S/A, enquanto que as demais mencionadas na denúncia foram tratadas por CUNHA. Nestas outras, CUNHA sempre lhe repassou a sua parte da propina. Afirmou que teve mais de 780 encontros com CUNHA. No caso envolvendo a Eldorado, jantou com Joesley e HENRIQUE EDUARDO ALVES, que era um dos líderes do esquema. HENRIQUE EDUARDO ALVES recebeu vantagem em todas as operações, sendo estes valores debitados da cota de CUNHA. Reconheceu como sua a letra na planilha de contabilidade de propinas, apresentada por FÁBIO FERREIRA CLETO.

Por sua vez, também em sede de interrogatório judicial, o réu EDUARDO CUNHA negou ter recebido propina em razão das operações envolvendo o FGTS. No entanto, afirma que recebia muitas informações de FÁBIO FERREIRA CLETO e, além disso, confirma ter tratado diretamente com os empresários Henrique Constantino e Joesley Batista, os quais, além de terem demandas de recursos do FGTS, foram patrocinadores de 2012 a 2015 do site “Fé em Jesus”, pertencente ao depoente. Afirma ter sido apresentado a Henrique Constantino e Joesley Batista por LÚCIO FUNARO. Disse que solicitou doações a Ricardo Pernambuco para campanha de HENRIQUE EDUARDO ALVES. Disse ainda ter apresentado a estrutura e a instituição financeira relacionada à conta de HENRIQUE EDUARDO ALVES a Ricardo Pernambuco, mas que não pediu depósitos na referida conta. Afirma ter conhecido LÚCIO FUNARO em 2002 e passado a ter com ele negócios comuns, apresentando-lhe políticos do PMDB, como HENRIQUE EDUARDO ALVES. A seu turno, Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

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LÚCIO FUNARO lhe apresentou um advogado na Suíça e atuou em diversas oportunidades para a captação de recursos para o depoente junto a empresários bem como disponibilizou-lhe um escritório, veículos e seguranças em São Paulo e também um flat em Brasília. Confirmou que se comunicava com LÚCIO FUNARO pelo aplicativo de autodestruição “wicker”. Disse que HENRIQUE EDUARDO ALVES teve várias reuniões com LÚCIO FUNARO desde que se foram apresentados pelo depoente em jantar na casa de Joesley Batista.

Finalmente, também em sede de interrogatório judicial, o réu HENRIQUE ALVES negou os fatos narrados na denúncia. Informou que abriu a conta Bellfield em 2008, sob orientação de CUNHA. Confirmou que apresentou a indicação de FÁBIO FERREIRA CLETO ao cargo de VIFUG/CEF. Confirmou ter recebido recursos de FUNARO e também ter viajado em seu avião. Sustenta que sua conta na Suíça (Bellfield) foi movimentada à sua revelia.

A partir dos interrogatórios, passa-se a demonstrar e comprovar os fatos denunciados, bem como a sua caracterização como atos de improbidade.

Conforme demonstrado, o relacionamento de FÁBIO CLETO e LÚCIO FUNARO é anterior aos ilícitos cometidos no bojo da Caixa Econômica Federal. De fato, em 2010, após conhecer FÁBIO CLETO, FUNARO demonstrou interesse em se tornar sócio no fundo AQUITAINE e da empresa ETROS, de CLETO e MARGOTTO, no que foi bem recebido. Quando FÁBIO CLETO soube que tomaria posse no cargo da Caixa (a partir do esquema acima referido), iniciou desligamento de atividades incompatíveis com o posterior cargo.

De acordo com o que se registrou na denúncia, a partir da colaboração premiada de FÁBIO CLETO, a fim de ser resguardar contra ações que poderiam decorrer da descoberta de suas contas no exterior, FÁBIO CLETO encerrou o Fundo AQUITAINE, remetendo os recursos para a conta ROCKFRONT (conta da qual era o beneficial owner). Para encerrar a ROCKFRONT, enviou os recursos a uma conta da Suíça em nome de uma offshore de LÚCIO BOLONHA FUNARO. Essa Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

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transferência para FUNARO abrangeu em torno de USD 820 mil, em março ou abril de 2011. No acordo com FUNARO (confirmado em seu interrogatório), este deveria pagar despesas de CLETO e sua família até o total dos valores transferidos, em operações de compensação, em razão dos USD 820 mil transferidos para FUNARO.

Assim, FUNARO tinha contabilidade englobando os dois montantes, o da ROCKFRONT (em dólares) e da propina (em reais). FÁBIO CLETO apresentou planilha com tais valores, iniciando-se com a anotação “$ 820.238”. Na planilha, inicialmente consta o valor transferido a FUNARO pela sua conta ROCKFRONT, USD 820.238,00.

As anotações a mão na planilha são de FUNARO, confirmadas, inclusive, em seu interrogatório. Mesmo EDUARDO CUNHA, em seu interrogatório judicial, admite a existência dessa dívida que foi assumida por ele mesmo junto a CLETO. A origem desses recursos, como admite até mesmo CUNHA, é a operação com insider trading que se associou com outros crimes de sonegação de tributos e evasão de divisas.

Conforme restou evidenciado nos autos da Operação Sépsis, FÁBIO CLETO apresentou diversas contas pagas por FUNARO no período em que este último fazia a sua contabilidade. As contas de FÁBIO CLETO e seus familiares foram pagas nos anos de 2011 e 2012 com diversas empresas utilizadas por FUNARO, incluindo contas de gás, cartões de crédito, celular, escola, condomínio, etc.

As empresas utilizadas por FUNARO para o pagamento de contas de CLETO incluem a CINGULAR FOMENTO MERCANTIL, a GALLWAY SECURITIZADORA DE CRÉDITOS FINANCEIROS e a ROYSTER SERVIÇOS S/A. Com efeito, FÁBIO CLETO apresentou cerca de trezentas contas pagas por FUNARO. Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

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Assim, tais dívidas de FUNARO para com CLETO foram sendo pagas até que sobrasse o saldo verificado em planilha apreendida, no valor de USD 434.388,95. O pagamento desse saldo devedor ficou a cargo do acusado EDUARDO CUNHA, como confirmou FÁBIO CLETO e LÚCIO FUNARO em seus interrogatórios judiciais. A existência da dívida também não é negada por EDUARDO CUNHA.

Deveras, na contabilidade constante dos autos, estão presentes vários gastos e créditos de FÁBIO CLETO e o valor residual de USD 434.388,95, com a anotação, feita por FUNARO à mão, “ saldo que eu te devo ” e abaixo escrito “ à sua disposição ”.

T al fato – inconteste – deve ser tido como demonstração cabal do relacionamento estreito entre FÁBIO CLETO, EDUARDO CUNHA e LÚCIO FUNARO, tal como já apontado pelos réus colaboradores, corroborando, dessa forma, as demais afirmações constantes das colaborações premiadas.

No decorrer da instrução processual, principalmente com as informações de todos os colaboradores, confirmou-se o modus operandi do esquema delituoso, restando demonstrado que FÁBIO CLETO, semanalmente, encontrava-se com EDUARDO CUNHA, na residência oficial do deputado, tanto na SQS 311 quanto na residência oficial da presidência da Câmara dos Deputados, para confidenciar projetos e receber orientações de como proceder nas deliberações das operações. Além disso, confirmou-se que do esquema participaram, em menor ou maior grau, LÚCIO BOLONHA FUNARO, ALEXANDRE MARGOTTO e HENRIQUE ALVES.

No curso da instrução processual, LÚCIO FUNARO confirmou que não apenas EDUARDO CUNHA intermediava o recebimento de propina das empresas, mas também aquele atuava nesse sentido. CLETO e MARGOTTO, embora por vezes se encontrassem com representantes das empresas, não tratavam diretamente como eles sobre o recebimento de vantagem indevida. Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

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A partir do repasse de informações de FÁBIO CLETO a todos os outros integrantes do esquema, LÚCIO FUNARO e EDUARDO CUNHA procuravam os empresários que tinham interesse em demandar junto ao FI-FGTS ou às carteiras administradas, para solicitarem vantagem indevida, por conta de sua influência sobre um Vice-Presidente da Caixa Econômica Federal, FÁBIO CLETO. A divisão dessa tarefa entre EDUARDO CUNHA e LÚCIO BOLONHA FUNARO dependia da relação com a empresa: o mais próximo solicitava e recebia a propina. No entanto, tinham todos o conhecimento do pagamento de propina aos demais.

FÁBIO CLETO, após repassar informações, agia de acordo com o interesse do então parlamentar e de FUNARO, utilizando este último a intermediação de ALEXANDRE MARGOTTO (principalmente quando FUNARO rompeu laços de amizade com CLETO). Posteriormente, CLETO era informado sobre o pagamento de propina.

Confirmou-se ainda que, a partir do rompimento com LÚCIO FUNARO (a partir de 2012), a contabilidade de propina de CLETO passou a ser ajustada com o então deputado EDUARDO CUNHA e não mais com LÚCIO FUNARO.

Quanto a essas reuniões semanais, acima referidas, frisa-se que, além da colaboração confirmada em Juízo por FÁBIO CLETO, também Adriana Cleto, em seu depoimento como informante, narrou que CLETO lhe falava que toda terça-feira não poderia estar em São Paulo, pois sempre lhe falava que teria um “encontro com o partido”. Também sabe que havia comentários que o encontro se dava com o deputado EDUARDO CUNHA, embora FÁBIO CLETO nunca tivesse comentado especificamente sobre EDUARDO CUNHA.

Marcelo da Silva Leite, motorista de FÁBIO CLETO, da mesma maneira, informou ao Juízo que levava CLETO ao apartamento de CUNHA, às terças-feiras, 7h30, semanalmente, na 311 (prédio funcional da câmara), e, após ser presidente da câmara, na QL 12

(residência oficial da Câmara). Além disso, narrou que, embora não visse EDUARDO CUNHA ao Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

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vivo, sabia que CLETO o visitava porque, conversando com o porteiro do local, este lhe relatava o local em que seu chefe (FÁBIO CLETO) estava se reunindo. O tempo de reunião era de, mais ou menos, 30 minutos.

Registre-se ainda que, do afastamento de sigilo telemático de Marcelo da Silva Leite, restou consignado a existência de ERBs (Estações de Rádio Base) próximas aos locais acima referidos e em datas coincidentes com os encontros de CLETO e CUNHA.

Outra evidência sobre as reuniões semanais encontra-se nos diálogos travados entre EDUARDO CUNHA e LÉO PINHEIRO, cujo compartilhamento deu-se no bojo da Ação Cautelar nº 4044, bem como em petição própria endereçada ao Supremo Tribunal Federal. Em uma das conversas, em 10 de novembro de 2014, via WhatsApp, LÉO PINHEIRO relata a EDUARDO CUNHA uma possível dificuldade sobre um novo aporte na operação do Porto Maravilha, ocasião em este último informa que irá se encontrar com FÁBIO CLETO para esclarecer (“Amanhã cedo café com ele as 730”)13:

13 Esse diálogo foi obtido por meio da apreensão do celular de LÉO PINHEIRO, em que trata com EDUARDO CUNHA sobre um novo aporte no Porto Maravilha. Encontra-se o diálogo na Ação Cautelar nº 4044, Volume 6, mídia de fls. Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3 1.182 (fl. 412 da mídia).

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Fica evidenciada, portanto, a sistemática na qual EDUARDO CUNHA e FÁBIO CLETO se encontravam para discutir sobre os assuntos relacionados aos projetos do FI-FGTS e das carteiras administradas.

Não se pode olvidar, outrossim, a presença de outros elementos que informam o modus operandi, como a comunicação entre os envolvidos inclusive por meio de aplicativos de mensagens de autodestruição, o que demonstra a forma ardilosa na prática delituosa. Das mensagens recuperadas, é possível comprovar a ingerência que EDUARDO CUNHA e LÚCIO FUNARO exerciam na Caixa Econômica Federal, por intermédio de FÁBIO CLETO.

Cumpre destacar que há inúmeros chats (SMS, BBM, WhatsApp ) flagrados nos aparelhos celulares de CLETO e CUNHA que confirmaram o que os colaboradores relataram: a ingerência de CUNHA sobre CLETO, bem como a relação entre todos os corréus, com o repasse de informações e das situações dos investimentos e projetos em tramitação na VIFUG e no FI- FGTS.

Fazemos referência ao chats, precisamente, os quais se encontram, além dos anexos da petição que ensejou a Ação Cautelar nº 4.044/STF (como os chats envolvendo LÉO PINHEIRO e EDUARDO CUNHA), também nos mais diversos relatórios de análise de material apreendido, nos quais constam mensagens envolvendo os interlocutores acima referidos14. Em geral, além de seus próprios nomes, todos utilizavam de alcunhas, como FÁBIO CLETO (“Gordon Gekko”, FC), LÚCIO FUNARO (Spin”, “Lucky” e derivações deste último) e EDUARDO CUNHA (utilizando-se da alcunha “Lopes” “Lopes2”, EC, e possivelmente também “Carlos”15).

14 Relatório de Análise de Material Apreendido nº 114/2016 – Equipe RJ 02 (fl. 46 e ss do Apenso V), Relatório de Análise de Material Apreendido nº 016/2016 – Equipe DF 13-B, mídia à fl. 3.747 da Ação Cautelar nº 4.044), Relatório de Análise de Material Apreendido nº 049/2016 – Equipe DF 13-B, mídia à fl. 3.747 da Ação Cautelar nº 4.044), entre outros.

15 O Relatório de Análise de Material Apreendido nº 114/2016 – Equipe RJ 02 (encontra-se no Apenso V da Ação Penal, Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3 fl. 60/61), justifica a atribuição da alcunha CARLOS ao réu EDUARDO CUNHA.

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Embora EDUARDO CUNHA em seu interrogatório tenha negado a utilização de outros apelidos, como é o caso de Lopes, é importante deixar registrado que, no bojo da Ação Cautelar nº 4.044, foi encontrado o seguinte documento, em endereço relacionado ao ex-deputado:

Embora pareça um simples manuscrito, percebe-se que é uma referência ao aplicativo de mensagens autodestrutivas Wickr, com, ao que parece, o registro de uma conta de usuário, indicando uma possível outra conta (“Lopes15”).

Aliado ao bilhete, há diversas mensagens de “Lopes” a “Gordon Gekko”, no celular apreendido de FÁBIO CLETO 16 , indicando, não só a proximidade de ambos como também o conhecimento de “Lopes” sobre as operações envolvendo o FI-FGTS e as carteiras administradas, o que indica ser o apelido, de fato, relacionado a EDUARDO CUNHA.

Tudo isso, em consonância com as testemunhas e com as colaborações premiadas, confirmam não só a intensa relação entre os corréus como também a forma como operavam, por meio de encontros pessoais (CLETO e CUNHA) e chats de difícil interceptação. Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

16 Relatório de Análise de Material Apreendido nº 16/2016 (AC 4044 -Vol 18 - fl 3747 – mídia RAMA 16-2016-DF 13B).

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Além da forma como se comunicavam para viabilizar o esquema criminoso, restou evidenciada a maneira de distribuição e pagamento de propina.

Todos os colaboradores confirmaram que foi ajustada a distribuição de propina decorrente de cada operação que tivesse intermediação de FÁBIO CLETO.

Embora, em cada interrogatório, haja aparente divergência quanto à cota-parte de cada um dos integrantes, é possível estabelecer uma linha de raciocínio convergente: FÁBIO CLETO e ALEXANDRE MARGOTTO indicaram que o percentual de propina era de 80% para CUNHA e 20% para o escritório (divididos entre 4% para MARGOTTO, 4% para CLETO e 12% para FUNARO). FUNARO, por outro lado, narra que esse percentual se deu apenas nas operações Porto Maravilha, Haztec e Aquapolo. Nas demais, a divisão percentual era 60 e 40%.

Entende-se que, para as empresas procuradas por EDUARDO CUNHA (como é o caso Porto Maravilha, Haztec e Aquapolo), era maior o percentual de propina paga ao deputado. Por outro lado, quando LÚCIO FUNARO tratava com as empresas de sua proximidade, uma cota maior de propina seria repassada ao seu escritório.

Embora ainda seja objeto de investigação o pagamento de propina em favor dos outros envolvidos, confirmou-se pelos colaboradores e pelas provas produzidas, que FÁBIO CLETO recebeu valores indevidos (propina) em razão de sua atuação, conforme pedido da organização criminosa, em favor das operações HAZTEC, PORTO MARAVILHA, AQUAPOLO, SANEATINS, BR VIAS, ELDORADO, LAMSA, BRADO LOGÍSTICA e MOURA DUBEUX (CONVIDA). Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

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Atuou ainda FÁBIO CLETO, embora não tenha ocorrido o pagamento de propina a este corréu, por determinação de EDUARDO CUNHA, em outros projetos, como no caso da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Além disso, FÁBIO CLETO, no interesse do grupo criminoso, violou o sigilo funcional de seu cargo, como nos casos das operações relacionadas à Peixe Energia, à estatal Petrobras e à empresa Rialma.

O pagamento a FÁBIO CLETO deu-se a partir de um único remetente: a CARIOCA ENGENHARIA, empresa que se consorciou para a construir as obras relacionadas ao Projeto Porto Maravilha.

Também HENRIQUE ALVES, conhecedor e participante do esquema criminoso, recebeu propina referente ao Projeto do Porto Maravilha, pago igualmente pela CARIOCA ENGENHARIA, em razão de seu cargo de parlamentar e, em especial, de seu papel na indicação e sustentação do cargo de FÁBIO CLETO e de sua indevida omissão na atuação fiscalizatória como parlamentar. O próprio HENRIQUE ALVES, embora negando a imputação da denúncia, admitiu que endossou a indicação de CLETO feita por CUNHA e FUNARO, bem como admitiu sua união com o primeiro e os encontros com o segundo. Também admitiu em seu interrogatório que abriu sozinho a conta Bellfield (por meio da qual recebeu propinas na Suíça), mas por orientação de CUNHA. Outrossim, admitiu que recebeu recursos ilícitos de FUNARO em diversas outras oportunidades, o que corrobora o modelo de atuação criminosa que é descrito na denúncia ora em tela.

Sobre esse projeto específico (Porto Maravilha), ficou esclarecido que, de fato, houve a solicitação de propina por EDUARDO CUNHA ao consórcio que atuou nas obras do Porto Maravilha.

Ricardo Pernambuco, em seu depoimento como testemunha, afirmou que sequer conheceu CLETO, FUNARO, MARGOTTO ou HENRIQUE ALVES. Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

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No entanto, relatou que conhece EDUARDO CUNHA, e que, mesmo afastado formalmente da empresa desde 2008, a testemunha se posicionava em nome da empresa, pois tinha direito de voto e usufruto.

Relatou ainda que, à época dos fatos relacionados ao Porto Maravilha, havia uma administração que cuidava do assunto. Entretanto, nenhum dos administradores, exceto Ricardo Pernambuco Filho, tinha conhecimento dos ilícitos acertados entre este, a testemunha e EDUARDO CUNHA. Narrou a forma como começou a empreitada do Projeto Porto Maravilha. Segundo o empresário, tudo se iniciou no ano de 2007, quando a prefeitura do Rio lançou um edital de Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI), para revitalização da zona portuária do Rio de Janeiro. Foi apresentado, então, por um consórcio composto por Andrade Gutierrez, Odebrecht, Carioca Engenharia e OAS, o referido projeto. Em 2010, a Andrade desistiu do consórcio. Assim, a participação inicial, que era 25% para cada empresa, passou, quando da saída da Andrade, a ser de 25% para Carioca Engenharia, 37,5% para Odebrecht e para a OAS.

A base do financiamento do referido projeto era por meio de CEPACs. Houve, então, a Parceria Público-Privada e a prefeitura emitiu os títulos para leilão. Feito o leilão, foi dado início ao projeto.

Aduziu a testemunha que, após o leilão, houve uma reunião no Hotel Sofitel no Rio de Janeiro, onde foi comunicado pela ODEBRECHT e OAS de que a Carioca Engenharia teria que pagar vantagem indevida ao EDUARDO CUNHA, por solicitação deste. As pessoas que estavam presentes e falaram sobre a questão do Porto Maravilha eram o BENEDICTO JÚNIOR (ODEBRECHT) e LEO PINHEIRO (OAS). Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

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A propina seria 1,5% do valor do financiamento pretendido, o que daria 52 milhões de vantagem indevida (1,5% de 3,5 bilhões de reais), pagos na proporção que cada empresa tinha no consórcio Porto Novo. Nesse sentido, ficou estabelecido que a CARIOCA ENGENHARIA teria que pagar 25% do valor: 13 milhões de reais.

Após essa reunião, narrou a testemunha que seu filho, Ricardo Pernambuco Júnior, foi procurar o então deputado para que fosse acertada a forma de pagamento. Registre-se que, conforme narram as demais testemunhas, cada empresa ficou de procurar o réu EDUARDO CUNHA para realizar o pagamento de propina.

A despeito de FÁBIO CLETO ter mencionado, em sua colaboração e reafirmado em seu interrogatório, que teria participado de uma reunião no Hotel Mofarrej (antes da aprovação dos recursos destinados às obras do Porto Maravilha), na presença de representantes do consórcio Porto Novo, tanto Ricardo Pernambuco quanto Ricardo Pernambuco Filho negaram a participação no ato.

Observa-se, outrossim, que CLETO também informou que EDUARDO CUNHA apresentou pessoas que, segundo lhe falaram, eram representantes do consórcio. No entanto, CLETO apenas tem certeza da presença de Léo Pinheiro, que, em seu testemunho nestes autos, também confirmou que dela participara.

É possível visualizar que, de fato, apenas participou da referida reunião no Hotel Mofarrej Léo Pinheiro, pois também a testemunha Benedicto Júnior informou que EDUARDO CUNHA solicitou propina das obras do Porto Maravilha em seu escritório político. Após isso, Benedicto Júnior teria ido ao encontro de Ricardo Pernambuco e Léo Pinheiro, no Hotel Sofitel. Nessa reunião, no Sofitel, esclarece Benedicto Júnior (em sua colaboração premiada17) que Léo Pinheiro já tinha conhecimento sobre a necessidade de pagar propina ao então deputado. Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

17 Documentos da Petição nº 6.736/STF em anexo.

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Assim, percebe-se que o único com quem o réu EDUARDO CUNHA não se reuniu antes da aprovação dos recursos do Porto Maravilha foi RICARDO PERNAMBUCO, que foi informado apenas em reunião no Hotel Sofitel.

Também Ricardo Pernambuco Filho, na condição de testemunha, ratificou a colaboração de seu pai, acrescentando ainda como se davam os trâmites das solicitações de propina.

Inicialmente, o declarante, após saber do acertado, passou a encontrar o então deputado EDUARDO CUNHA para o acerto da forma como se dariam os pagamentos. Os encontros com ele eram no escritório de CUNHA na Nilo Peçanha, no apartamento funcional, na Câmara dos Deputados ou no escritório do declarante em São Paulo.

O mesmo referido perguntou, em uma dessas reuniões com CUNHA, antes do primeiro pagamento, se havia a possibilidade de que os acertos ocorressem no exterior, ocasião em que este acenou positivamente. A primeira conta indicada por CUNHA era ISRAEL DISCOUNT BANK, conta essa recusada para a continuidade das transferências. Por esse motivo, apenas a primeira transferência foi em nome dessa conta. A partir disso, o declarante procurou novamente o deputado EDUARDO CUNHA, que lhe informou uma conta na Suíça (ESTEBAN GARCIA/BELLFIELD). A partir daí, todos pagamentos ocorreram na Suíça.

Frisa-se, conforme testemunham Ricardo Pernambuco e Ricardo Pernambuco Júnior, que as contas às quais eram destinados os recursos eram indicadas pelo deputado, porém nenhum dos empresários tinham o conhecimento da titularidade das contas de destino.

Aduzem ainda Ricardo Pernambuco e Ricardo Pernambuco Júnior que foi utilizada, pelo provedor de serviços financeiros – que fundava as offshores e cuidava da saída e entrada de recursos – a conta ‘ônibus’ KINDAI FINANCIAL LTD, embora os valores tenham partido da conta aberta em nome da offshore CLIVER GROUP LTD., sediada no conhecido paraíso fiscal de Belize, a Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3 qual tinha Ricardo Pernambuco, sócio da CARIOCA, como beneficiário econômico confesso.

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Estão, dentre as contas em que foram recebidos valores de propina, a conta em noma da offshore LASTAL na Suíça, pertencentes a FÁBIO CLETO, e a conta em nome da offshore BELLFIELD (ou simplesmente BELL), que tinha HENRIQUE EDUARDO ALVES como o único beneficiário econômico.

Frisa-se que tanto FÁBIO CLETO quanto HENRIQUE ALVES, em seus interrogatórios, afirmaram que, de fato, são titulares de tais contas.

Quanto a primeira conta, LASTAL, comprovou-se que, na realidade, foram três as contas da offshore LASTAL utilizadas para o recebimento de propina por FÁBIO CLETO. A primeira foi aberta na Suíça, no Banco JULIUS BÄR (BAER). FÁBIO CLETO era o beneficiário (Beneficial Owner) da referida conta.

No final de 2013, FÁBIO CLETO fechou a conta da LASTAL no banco JULIUS BÄR. Ato contínuo, abriu duas novas contas da LASTAL, a primeira no banco HERITAGE, na Suíça, e a outra no Uruguai, na Corretora VICTOR PAULLIER. Os recursos da conta do JULIUS BÄR foram transferidos para o Uruguai e os novos depósitos feitos pela construtora CARIOCA ENGENHARIA foram na conta da LASTAL, no Banco HERITAGE, na Suíça, a partir de junho de 2014. As contas foram indicadas por CLETO a CUNHA, o qual, conforme destacado, assumira o compromisso de lhe pagar a dívida que tinha com FUNARO, relacionadas à conta ROCKFRONT.

De propina, nas duas contas em nome da LASTAL na Suíça, CLETO recebeu da CARIOCA o total de USD 2,1 milhões. A tabela abaixo indica as datas, origem e destino de todas as transferências da CARIOCA a pedido de EDUARDO CUNHA para as contas da offshore LASTAL de FÁBIO CLETO18: Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

18 Apenso IV da Ação Penal 60203-83.2016.4.01.3400 fls. 13-v.

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DATA CONTA / BANCO – CONTA / BANCO – REMETENTE DESTINATÁRIO DÉBITOS (US$) 25/10/2012 CLIVER/DELTA TRUST LASTAL/JULIUS BAER 333.217,84 5/3/2013 CLIVER/DELTA TRUST LASTAL/JULIUS BAER 317.000,00 28/5/2013 CLIVER/DELTA TRUST LASTAL/JULIUS BAER 160.000,00 26/8/2013 CLIVER/DELTA TRUST LASTAL/JULIUS BAER 391.000,00 10/12/2013 CLIVER/DELTA TRUST LASTAL/JULIUS BAER 150.000,00 25/6/2014 CLIVER/DELTA TRUST LASTAL/BANK HERITAGE 134.000,00 8/7/2014 CLIVER/DELTA TRUST LASTAL/BANK HERITAGE 134.000,00 25/7/2014 CLIVER/DELTA TRUST LASTAL/BANK HERITAGE 134.000,00 6/8/2014 CLIVER/DELTA TRUST LASTAL/BANK HERITAGE 134.000,00 20/8/2014 CLIVER/DELTA TRUST LASTAL/BANK HERITAGE 134.000,00 19/9/2014 CLIVER/DELTA TRUST LASTAL/BANK HERITAGE 134.000,00 Total 2.155.217,8419

Por sua vez, de propina, na conta em nome da BELLFIELD, HENRIQUE ALVES recebeu da CARIOCA o total de CHF 832.975,98 (US$ 906 mil)20. A tabela abaixo indica as datas, origem e destino de todas as transferências da CARIOCA a pedido de EDUARDO CUNHA para as contas da offshore BELLFIELD (BELL), por meio da conta ‘ônibus’ KINDAI/MERRIL LINCH:

DATA CONTA / BANCO – CONTA / BANCO – REMETENTE DESTINATÁRIO DÉBITOS (CHF) 4/10/2011 KINDAI/MERRIL LINCH BELLFIELD/MERRIL LINCH 323.121,92 18/11/2011 KINDAI/MERRIL LINCH BELLFIELD/MERRIL LINCH 341.852,37 7/12/2011 KINDAI/MERRIL LINCH BELLFIELD/MERRIL LINCH 168.001,69 Total 832.975,98

19 O montante equivale a R$ 4.717.003,56. Essa conversão para a moeda brasileira se fez no sítio eletrônico do Banco

Central e não inclui correção monetária. Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

20 Apenso I da Ação Penal 60203-83.2016.4.01.3400, em diversos documentos.

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Ressalte-se que esses valores encontram-se registrados em anotação em papel colhida na residência oficial de EDUARDO CUNHA21:

De fato, comprovou-se que os pagamentos tanto a BELLFIELD, quanto a LASTAL, (além daquele destinado à conta no ISRAEL DISCOUNT BANK e PENBUR22) foram solicitadas por EDUARDO CUNHA aos dirigentes da CARIOCA ENGENHARIA e destinadas a HENRIQUE ALVES e a FÁBIO CLETO.

De acordo com os elementos probatórios angariados antes e no decorrer da instrução processual, o valor destinado a FÁBIO CLETO foi decorrente, além das operações de mercado não permitidas, de várias operações no FI-FGTS e nas carteiras administradas, as quais foram confirmadas pelos colaboradores, bem como pelos documentos, inclusive anotadas nas planilhas de controle de FÁBIO CLETO com LÚCIO FUNARO e, posteriormente, com EDUARDO CUNHA.

21 OPERACAO CATILINARIAS _DF 07_ ITEM 30. V. Relatório de análise de material apreendido nº 42/2016 (Operação Catilinárias – AC nº 4044 – STF), a partir da pág. 26. Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

22 Que não são objeto desta ação de improbidade.

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FÁBIO CLETO também confirmou o recebimento de R$ 520.000,00 (quinhentos e vinte mil reais) em espécie, pagos por EDUARDO CUNHA ou pessoas por ele indicadas.

Desse montante de R$ 520.000,00, EDUARDO CUNHA pagou diretamente a FÁBIO CLETO R$ 40.000,00 no apartamento funcional do Deputado em Brasília. O restante foi pago parte em Brasília (R$ 80.000,00) e parte em São Paulo (R$ 400.000,00)23.

Sobre as operações, tem-se, além das planilhas e do interrogatório dos colaboradores, outras formas de contabilidade, como a anexada por LÚCIO BOLONHA FUNARO (Apenso 9), que dão conta de diversos valores de propinas destinados ao réu EDUARDO CUNHA, inclusive relacionadas às operações referidas por FÁBIO CLETO na Caixa Econômica Federal (Apenso 9 – vol. 5).

Registre-se que ALEXANDRE MARGOTTO, apesar de confessar o recebimento de propina apenas na operação relacionada à empresa Moura DUBEUX, aceitou fazer o ajuste criminoso, no qual participou em auxílio aos demais, e aceitou, principalmente, a promessa de que receberia valores indevidos, pela intermediação de FÁBIO CLETO. Também serviu de condutor para diversas comunicações ilícitas entre CLETO e FUNARO. Relembre-se, outrossim, que a carta de exoneração assinada por CLETO e detida por FUNARO (e posteriormente apresentada ao juízo) foi entregue por MARGOTTO a CLETO, bem com devolvida por MARGOTTO a FUNARO após ter sido assinada por CLETO.

Por fim, também foi comprovada a violação de sigilo funcional, em todos os casos denunciados, ou seja, os nove casos em que houve o pagamento de propina (HAZTEC, PORTO MARAVILHA, AQUAPOLO, SANEATINS, BR VIAS, ELDORADO, LAMSA, BRADO LOGÍSTICA e MOURA DUBEUX), e em quatro casos em que não houve pagamento (CSN, RIALMA, PETROBRAS e PEIXE ENERGIA). Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

23 Segundo anotações na tabela de controle de FÁBIO CLETO, os valores foram pagos aproximadamente nas seguintes datas: 10/8/2012 (R$ 40.000,00), 30/7/2013 (R$ 80.000,00) e 28/4/2014 (R$ 400.000,00).

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Além do teor dos interrogatórios, percebe-se, também a partir de outros elementos, que, de fato, havia interesse de EDUARDO CUNHA nas operações e, por conseguinte, nos desembolsos dos projetos. Nesse sentido, tem-se inúmeros diálogos entre ‘Lopes’, ‘Lopes2’ (EDUARDO CUNHA) e ‘Gordon Gekko’ (FÁBIO CLETO), captados no celular de FÁBIO CLETO, no bojo da Ação Cautelar nº 4.04424: Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

24 Arquivo RAMA 16-2016 (Vol. 18, mídia de fl.3.747, da Ação Cautelar nº 4.044).

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Veja-se, por exemplo, o interesse de EDUARDO CUNHA nos projetos relacionados a LAMSA, HAZTEC e BR VIAS. Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

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Ademais, pelo exame do Relatório de Análise de Material Apreendido nº 15/201625, constata-se que na residência da Presidência da Câmara dos Deputados (local relacionado a EDUARDO CUNHA), foram encontrados diversos documentos com referência à Caixa Econômica Federal, precisamente nas áreas de investimentos das operações, inclusive quadro com informações das reuniões do Comitê de Investimentos do FI-FGTS, a partir de Junho de 2011. Cumpre aqui trazer a essencial observação feita pela perícia: Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

25 Vol. 18, mídia de fl.3.747, da Ação Cautelar nº 4.044.

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Nesse sentido, observa-se que os relatos dos colaboradores, aliados aos documentos encontrados na residência de EDUARDO CUNHA, comprovam que este solicitava de FÁBIO CLETO informações de vários projetos em tramitação nas áreas de FÁBIO CLETO.

Demais disso, tem-se o termo de confidencialidade assinado por FÁBIO CLETO no FI- FGTS26.

Por tudo isso, evidente a materialidade dos atos acima narrados e a sua autoria pelos réus, e presente o dolo na realização da empreitada ilícita, o esquema de pagamento de propina, violação de sigilo funcional, prevaricação e lavagem de dinheiro praticado por todos, em divisão de tarefas e comunhão de propósitos.

5 – DIREITO

5.1. A ausência de prescrição da pretensão punitiva estatal: incidência da regra insculpida no artigo 23, I, da Lei 8.429/92

No caso em comento, uma vez que EDUARDO COSENTINO DA CUNHA, HENRIQUE EDUARDO LYRA ALVES e FÁBIO FERREIRA CLETO eram, à época dos fatos, agentes públicos que exerciam cargo ou mandato (na Caixa Econômica Federal ou na Câmara dos Deputados)27, no que pertine à regra prescricional que deve incidir no caso para o ajuizamento da presente ação civil de improbidade administrativa, deve-se invocar a aplicabilidade do inciso I do art. 23 da Lei 8.429/92. In verbis:

26 Documento constante do Apenso 1 da Ação Penal.

27 EDUARDO COSENTINO DA CUNHA: Perda do mandato de Deputado Federal, na Legislatura 2015-2019, nos termos da Resolução nº 18/2016, em 13 de setembro de 2016 < https://www.camara.leg.br/deputados/74173/biografia>; HENRIQUE EDUARDO LYRA ALVES: Deputado Federal - 2011-2015, RN, PMDB. ; e FÁBIO FERREIRA CLETO: Exoneração publicada no Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3 Diário Oficial em 10/12/2015 .

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Art. 23. As ações destinadas a levar a efeitos as sanções previstas nesta lei podem ser propostas:

I – até cinco anos após o término do exercício de mandato, de cargo em comissão ou de função de confiança;

Assim, considerando que, como já mencionado em tópico anterior, o grupo criminoso operou esquema ilícito na Caixa Econômica Federal até pelo menos dezembro de 2015 28 , sob o comando e a coordenação de EDUARDO COSENTINO DA CUNHA, último agente público do grupo a deixar o cargo , posteriormente, em setembro de 2016, conclui-se pela tempestividade da presente ação, devendo os requeridos em comento ser condenados às penas disciplinadas no art. 12 da Lei de Improbidade Administrativa.

5.2. Atos de improbidade administrativa

O termo improbidade designa, em linhas gerais, desonestidade, falsidade, desonradez, corrupção, negligência e, no sentido em que é empregado juridicamente, serve de adjetivo à conduta do agente público que culmina por desvirtuar o bom funcionamento da Administração Pública direta ou indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

A Constituição da República, de 1988, em seu art. 37, parágrafo 4º, abordou o tema pela primeira vez em seara constitucional e o fez da seguinte forma:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos

28 Conforme denúncia na Ação Penal nº 1022920-38.2018.4.01.3400 (Operação Cui Bono – caso J&F), em anexo, o esquema continuou a funcionar mesmo após a saída formal de GEDDEL VIEIRA LIMA, em dezembro de 2013, da Vice-Presidência da CEF, uma vez que continuou a atuar ilicitamente naquela instituição. Ressalte-se ainda que FABIO Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3 CLETO permaneceu como Vice-Presidente da VIFUG até dezembro de 2015.

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princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

(…)

§ 4º. Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.

Posteriormente, veio a lume a Lei nº 8.429/92, que conferiu exequibilidade ao mencionado dispositivo constitucional, repetindo a obrigação dos agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia a velar pela estrita observância dos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade no trato dos assuntos que lhe são afetos, e, ainda, dispondo sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos, nos casos de improbidade no exercício de mandato, cargo, emprego ou função na administração pública direta, indireta ou fundacional.

A mencionada lei prevê a responsabilização do agente público quando da prática de atos de improbidade administrativa que importem em enriquecimento ilícito (art. 9º), que causem prejuízo ao erário (art. 10) e que atentem contra os princípios da Administração Pública (art. 11).

No caso em tela, estão configuradas as hipóteses previstas no art. 9º e no art. 11, todos da Lei 8.429/92. Vejamos.

FÁBIO FERREIRA CLETO, LÚCIO BOLONHA FUNARO, EDUARDO COSENTINO DA CUNHA, ALEXANDRE MARGOTTO, HENRIQUE EDUARDO LYRA ALVES e a CARIOCA ENGENHARIA (e seus sócios Ricardo Pernambuco e Ricardo Pernambuco Filho) receberam, para si ou outrem, vantagem indevida, em razão de seus cargos públicos ou, no caso dos Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

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particulares, em conexão com aqueles, o que configura a prática de improbidade administrativa que importa em enriquecimento ilícito, previsto no art. 9º, I, da Lei 8.492/92, in verbis:

Art. 9º Constitui ato de improbidade administrativa importando enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas entidades mencionadas no art. 1º desta Lei, e notadamente:

I – receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica, direta ou indireta, a título de comissão, percentagem, gratificação ou presente de quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente público;

Além disso, FÁBIO CLETO, nos projetos HAZTEC, PORTO MARAVILHA, AQUAPOLO, SANEATINS, BR VIAS, ELDORADO, LAMSA, BRADO LOGÍSTICA, MOURA DUBEUX (CONVIDA), PEIXE ENERGIA, RIALMA e PETROBRÁS, revelou fatos e informações de que tinha ciência em razão do cargo e que deviam permanecer em segredo, a EDUARDO CUNHA, ALEXANDRE MARGOTTO e LÚCIO FUNARO, o que configura ato de improbidade por parte de todos, já que havia um acordo prévio por eles para que assim fosse, na forma do art. 11, III, c/c art. 3º da Lei 8.492/92:

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente: (…) III – revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das atribuições e que deva permanecer em segredo; Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

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FÁBIO FERREIRA CLETO e EDUARDO COSENTINO DA CUNHA, agiram, cada um dentro do seu papel no esquema para, no âmbito do conselho do FI-FGTS, paralisar a apreciação do projeto relacionado à Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) entre 2014 até dezembro de 2015, incidindo no ato de improbidade administrativa previsto no art. 11, II, da Lei 8.429/92, in verbis:

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente: (…) II – retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício;

A lavagem de ativos, isoladamente, não configuraria ato de improbidade administrativa por si só. No entanto, no caso em tela é de se reconhecer que o crime antecedente é contra a Administração Pública.

Conforme leciona o procurador da República Rodrigo De Grandis: “É certo porém que tanto no plano interno como no externo, a questão sobre qual seja o bem juridicamente tutelado está longe de constituir unanimidade. Na linha da classificação elaborada por Carlos Aránguez Sánches, é possível distinguir duas grandes vertentes teóricas: (i) o crime de branqueamento de capitais é uniofensivo, isto é, protege um único bem jurídico; (ii) o delito é pluriofensivo, ou seja, tutela mais de uma espécie de bem jurídico. Entre aquele que vislumbram uma única forma de interesse jurídico (crime uniofensivo) destacam-se, pelo menos, cinco subgrupos: (a) protege-se a administração da justiça; (b) tutelam-se as funções de polícia em relação ao delito prévio; (c) salvaguarda-se a segurança interior do Estado (d) o bem jurídico protegido é o mesmo bem jurídico tutelado pelo crime antecedente; e (e) o bem jurídico é a ordem socioeconômica.(…)29”

29 GRANDIS, Rodrigo de. O exercício da advocacia e o crime de “lavagem” de dinheiro. In: CARLI, Carla Veríssimo de et al (Org.). Lavagem de Dinheiro: Prevenção e Controle Penal. 2. ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2013. Cap. 4. p. 157- Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3 157.

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Assim sendo, por considerar o delito de branqueamento de capitais pluriofensivo, não há como negar que neste, sendo o antecedente um crime contra a Administração Pública, a lavagem de ativos também ofendeu aquela objetividade jurídica e, portanto, constitui ato de improbidade que lesa princípios, notadamente o da legalidade. Desta forma HENRIQUE ALVES e FÁBIO CLETO, em comunhão com EDUARDO CUNHA, ao ocultarem a natureza, origem, localização, disposição, movimentação e propriedade de direitos e valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal (corrupção passiva), nas contas BELLFIELD e LASTAL, praticaram improbidade administrativa prevista no art. 11, caput, da Lei 8.429/92. Por fim, não se pode negar que tenha havido prejuízo patrimonial à CEF, já que, sem o vultoso pagamento de propinas, os empresários tenderiam a apresentar propostas mais vantajosas, notadamente se, em vez de negociarem a liberação de recursos, todos os agentes públicos ali envolvidos buscassem o interesse da Administração Pública. Assim, feitas tais considerações, não há como deixar de concluir que as condutas perpetradas pelos demandados, narradas na presente ação civil de improbidade administrativa, causaram lesão à probidade, devendo, portanto, EDUARDO CUNHA e HENRIQUE ALVES ser responsabilizados por atos de improbidade administrativa. As condutas dos requeridos, ora descritas, configuram atos de improbidade administrativa previstos nos arts. 9º, inciso I, e 11, caput e incisos II e III, todos da Lei nº 8.429/92, devendo ser-lhes imputadas as respectivas sanções cabíveis previstas no art. 12, incisos I e III do referido diploma legal.

5.3. Colaboradores

Inicialmente, registramos que a CARIOCA ENGENHARIA celebrou acordo de leniência com o MPF, no qual se obrigou a não ajuizar ação de natureza cível em face da empresa por

a 30 fatos objeto do acordo, conforme cláusula 8 , alínea “b” e parágrafo 3° . Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

30 Acordo em anexo.

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Além disso, deixa este órgão ministerial de ajuizar a presente ação em face dos colaboradores pessoas físicas ALEXANDRE MARGOTTO, LÚCIO BOLONHA FUNARO, FÁBIO FERREIRA CLETO, RICARDO PERNAMBUCO e RICARDO PERNAMBUCO JÚNIOR, por terem firmado acordo de colaboração premiada, portanto, devem ser ouvidos na presente ação como testemunhas/colaboradores.

Sobre os acordos de colaboração premiada, firmados pelo MPF com LUCIO BOLONHA FUNARO, ALEXANDRE ROSA MARGOTTO e FÁBIO FERREIRA CLETO, verifica- se que preveem a utilização de provas obtidas a partir da colaboração premiada em ações cíveis e de improbidade administrativa e inquéritos civis31.

Quanto ao colaborador LÚCIO BOLONHA FUNARO, o seu acordo de colaboração, homologado pelo Supremo Tribunal Federal, inicialmente continha cláusula específica sobre ajuizamento de ações de improbidade32, contudo, tal cláusula foi glosada pela Corte. Em relação aos colaboradores ALEXANDRE ROSA MARGOTTO e FÁBIO FERREIRA CLETO, o seu acordo de colaboração não contém cláusula específica a respeito do tema.

A despeito da ausência de regra específica sobre o ajuizamento de ações cíveis e de improbidade em face desses colaboradores, não é o caso de imputar-lhes a prática de atos ilícitos na presente, considerando os deveres de lealdade e boa-fé no trato do Estado com os colaboradores, que entregaram provas e se propõem a colaborar na seara penal. Não devem sofrer, portanto, com base nas mesmas provas e condutas colaborativas que apresentam, repressão de cunho cível, sob pena de tratamento potencialmente injusto com frustração da expectativa de confiança na atuação estatal.

31 V. cláusula 17 dos termos de acordo, em anexo.

32 Cláusula 9ª. O MPF postulará o reconhecimento apenas do efeito declaratório dos atos de improbidade administrativa objeto de Ações de Improbidade já propostas ou que venham a ser propostas em relação ao COLABORADOR, em todas as ações de improbidade de atribuição de signatários ou aderentes deste Acordo, submetendo a presente cláusula à Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3 homologação perante a 5° Câmara de Coordenação e Revisão.

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Devem, então, ser ouvidos na presente ação como testemunhas/colaboradores.

6 – DOS PEDIDOS

Por todo exposto, o Ministério Público Federal requer:

1) A juntada de documentos do Inquérito Policial e da Ação Penal (Operação Sépsis), no qual foram apuradas as condutas ímprobas objeto desta demanda, entre outros documentos, detalhados adiante;

2) A notificação dos requeridos, EDUARDO CUNHA, HENRIQUE ALVES e CARIOCA ENGENHARIA, nos endereços indicados, para, querendo, manifestar-se sobre a petição inicial nos termos do artigo 17, parágrafo 6°, da Lei nº 8.429/92, requerendo, a seguir, seu recebimento e a citação dos demandados;

3) A intimação da UNIÃO e da Caixa Econômica Federal, para os fins do artigo 17, § 3º, da Lei nº 8.429/92, e demais dispositivos legais;

4) Seja aberta oportunidade para a comprovação dos fatos alegados na inicial por todos os meios de prova em direito admitidos, além do quanto ora requerido;

5) Seja, ao final, julgada procedente a presente ação, para condenar os requeridos às sanções cabíveis do artigo 12, incisos I e III, da Lei n° 8.429/92, bem como, solidariamente, ao ressarcimento integral do dano sofrido pela Caixa Econômica Federal (e, mediatamente, também pela União, único controlador da instituição), ou seja, ao pagamento do valor total 3 (três) vezes o valor de propina recebida/paga, correspondente a R$ 20.656.418,27 para EDUARDO CINHA e R$ 4.945.407,00 para HENRIQUE ALVES33. A multiplicação do prejuízo por três decorre Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

33 Valores base equivalentes aos requeridos para condenação na Ação Penal.

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da necessidade de: (i) devolução do produto do ato ilícito; (ii) reparação do dano moral coletivo gerado às vítimas do ato ilícito; e (iii) reparação do dano social difuso gerado. Os valores das reparações devem ainda ser atualizados pela SELIC até a data do efetivo pagamento, sem prejuízo do pagamento da multa sancionatória prevista nos incisos II e III do art. 12, da Lei nº 8.429/92.

O Ministério Público Federal também requer a juntada de todos os documentos que instruem a inicial, destacando-se:

1. Documentos que instruem a Ação Penal nº 60203-83.2016.4.01.3400, em especial:

a) Denúncia ref. Operação Sépsis e documentos anexos;

b) Manifestação ministerial que transcreve o teor da ratificação da denúncia sobre a conexão e apresenta fatos complementares e Nota técnica da PREVIC;

c) Relatório de análise de material apreendido nº 01/2016 (Operação Catilinárias – AC nº 4044 – STF);

d) Relatório de análise de material apreendido nº 15/2016 (Operação Catilinárias – AC nº 4044 – STF);

e) Relatório de análise de material apreendido nº 16/2016 (Operação Catilinárias – AC nº 4044 – STF);

f) Relatório de análise de material apreendido nº 114/2016 (Operação Catilinárias – AC nº 4044 – STF); Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

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g) Relatório de análise de material apreendido nº 42/2016 (Operação Catilinárias – AC nº 4044 – STF); h) Relatório de Análise de Material Apreendido nº 049/2016 – Equipe DF 13-B, mídia à fl. 3.747 da Ação Cautelar nº 4.044); i) Relatório de análise de material apreendido nº 137/2016 – complementar ao RAMA 114 (Operação Catilinárias – AC nº 4044 – STF); j) Relatório de análise de material apreendido nº 30/2017 (Operação Catilinárias – AC nº 4044 – STF); k) Análise de dados do aparelho celular de LÉO PINHEIRO; l) Documentos da conta de Henrique Eduardo Alves na Suíça; m) Termo de confidencialidade assinado por FÁBIO CLETO no FI-FGTS. n) Interrogatórios; o) Alegações finais apresentadas pelo MPF; p) Sentenças; q) Apelação interposta pelo MPF; e r) Decisão de compartilhamento Ação Penal nº 60203- 83.2016.4.01.3400 (Operação Sépsis);

Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

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2. Documentos que instruem o Inquérito Policial nº 1011291-67.2018.4.01.3400 – PJE (Operação Cui Bono), em especial:

a) Relatório de Análise de Polícia Judiciária nº 100/2017 – GINQ/STF/DICOR/PF;

b) Relatório de Análise de Polícia Judiciária nº 101/2017 – GINQ/STF/DICOR/PF;

c) Relatório de Análise de Polícia Judiciária nº 102/2017 – GINQ/STF/DICOR/PF;

d) Relatório de Análise de Polícia Judiciária nº 103/2017 – GINQ/STF/DICOR/PF;

e) Relatório de Análise de Polícia Judiciária nº 104/2017 – GINQ/STF/DICOR/PF;

f) Relatório de Análise de Polícia Judiciária nº 105/2017 – GINQ/STF/DICOR/PF;

g) Relatório de Análise de Polícia Judiciária nº 107/2017 – GINQ/STF/DICOR/PF;

h) Relatório de Análise de Polícia Judiciária nº 110/2017 – GINQ/STF/DICOR/PF;

i) Relatório de Análise de Polícia Judiciária nº 113/2017 – GINQ/STF/DICOR/PF;

j) Relatório de Análise de Polícia Judiciária nº 117/2017 – GINQ/STF/DICOR/PF;

k) Termo de Depoimento de ALEXANDRE ROSA MARGOTTO nas fls. 823-829 do IPL (Num. 6148219 - Pág. 12 e ss.);

l) Termo de Depoimento FABIO FERREIRA CLETO nas fls. 830-836 do IPL (Num. 6148219 - Pág. 19 e ss.);

m) Termo de Depoimento de LUCIO BOLONHA FUNARO em 3 de outubro de 2017, nas fls. 1320-1323 do IPL (Num. 6148240 - Pág. 242-245); Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3 n) Relatório Final do Inquérito nº 005/2017 – GINQ/DICOR/PF; e

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o) Decisão de compartilhamento;

3. Denúncia e Ratificação da denúncia pelo crime de integrar organização criminosa oferecida no Inq. 4327 ( Ação Penal nº 1238-44.2018.4.01.3400), bem como cópia de elementos que a instruem;

4. Relatório Conclusivo Inquérito nº 4327-STF (Operação Patmos – organização criminosa);

5. Denúncia da Ação Penal nº 1022920-38.2018.4.01.3400 (Operação Cui Bono – caso J&F), com imputação de atuação do grupo criminoso da CEF até dezembro de 2015;

6. Termos de Acordo de Colaboração Premiada de ALEXANDRE MARGOTTO, FÁBIO CLETO, LÚCIO FUNARO, RICARDO PERNAMBUCO e RICARDO PERNAMBUCO JR.

7. Termos de depoimento em colaboração de FÁBIO CLETO: termo de colaboração nº 1 de Fábio Ferreira Cleto, acompanhado dos documentos de abertura da conta na Suíça; Termo de colaboração nº 2 de Fábio Ferreira Cleto; Termo de colaboração nº 11 de Fábio Ferreira Cleto, acompanhada de planilha de propina; Termo de colaboração nº 13 de Fábio Ferreira Cleto; Termo de colaboração nº 14 de Fábio Ferreira Cleto; Planilhas de propina.

8. Termos de depoimento em colaboração de LUCIO FUNARO: Apenso 22 do Inquérito nº 4.327 (STF), que instrui a Ação Penal nº 1238- 44.2018.4.01.3400 e contém diversos termos de depoimentos do colaborador LÚCIO BOLONHA FUNARO; Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

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9. Termo de colaboração nº 02 de Ricardo Pernambuco Júnior, acompanhado de documentos (Petição nº 6.736/STF);

10. Termo de colaboração nº 02 de Ricardo Pernambuco, acompanhado de planilha das transferências originadas da conta CLIVER/DELTA TRUST para as contas LASTAL GROUP – JULIUS BAER e LASTAL GROUP – BANK HERITAGE, pertencentes a Fábio Ferreira Cleto)(Petição nº 6.736/STF);

11. Acordo de Leniência firmado pelo MPF com a CARIOCA ENGENHARIA e esclarecimentos da empresa sobre o acordo; e

12. Relatório de avaliação dos resultados de Gestão do FI-FGTS – Controladoria-Geral da União.

Outrossim, o Ministério Público Federal requer, desde já, que todas as provas produzidas sob contraditório no bojo da ação penal correlata à presente ação civil sejam aproveitadas no processo civil a ser inaugurado a partir da presente exordial.

Finalmente, o Ministério Público Federal informa que os principais documentos que subsidiam a petição inicial serão protocolados em anexo à peça no sistema PJE, contudo, dada a limitação da quantidade e do tamanho de arquivos para inclusão no sistema, a íntegra dos autos mencionados será enviada ao juízo em mídia. Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

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7 – DO VALOR DA CAUSA

Dá-se à causa o valor de R$ 25.601.825,27, somados à multa civil prevista no artigo 12, incisos II e III, da Lei nº 8.429/92, somente para efeitos legais.

Nesses termos, pede deferimento.

Brasília e São Paulo, data da assinatura eletrônica.

(Procuradores da República signatários) Assinado digitalmente em 13/10/2020 10:36. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 43DB4842.96A16655.61706F90.376B66A3

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Assinatura/Certificação do documento PR-DF-00085791/2020 PETIÇÃO nº 332-2020

Signatário(a): WELLINGTON DIVINO MARQUES DE OLIVEIRA Data e Hora: 14/10/2020 13:22:30 Assinado com certificado digital

Signatário(a): ANDERSON VAGNER GOIS DOS SANTOS Data e Hora: 13/10/2020 14:05:40 Assinado com certificado digital

Signatário(a): LEANDRO MUSA DE ALMEIDA Data e Hora: 15/10/2020 19:06:42 Assinado com login e senha

Signatário(a): SARA MOREIRA DE SOUZA LEITE Data e Hora: 13/10/2020 10:36:46 Assinado com login e senha

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