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Bairros Populares de

São Paulo e Luanda: Uma observação comparada

Adilson João Tomé Manuel

São Paulo, 2016

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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTU SENSU MESTRADO EM ARQUITETURA E URBANISMO

Adilson João Tomé Manuel

Bairros Populares de São Paulo e Luanda: Uma observação comparada

Dissertação de Mestrado apresentado ao Curso de Pós-Graduação da Universidade São Judas Tadeu em Arquitetura e Urbanismo para obtenção de título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.

Orientador: Prof. Dr. Luis Octavio Pereira Lopes de Faria e Silva

São Paulo, 2016

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Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da Universidade São Judas Tadeu Bibliotecária: Tathiane Marques de Assis - CRB 8/8967

Manuel, Adilson João Tomé Bibliotecária: Tathiane Marques de Assis - CRB 8/8967 M294b Bairros Populares de São Paulo e Luanda: uma observação comparada / Adilson João Tomé Manuel. - São Paulo, 2016. 125 f.: il.; 30 cm. Bibliotecária: Tathiane Marques de Assis - CRB 8/8967

Orientador: Luis Octavio Pereira Lopes De Faria e Silva. Dissertação (mestrado) – Universidade São Judas Tadeu, São Paulo, 2016.

1. Habitações populares. 2. Bairros. 3. Comunidade. I. Silva, Luis Octavio Pereira Lopes De Faria e Silva. II. Universidade São Judas Tadeu, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Arquitetura e Urbanismo. III. Título

CDD 22 – 728

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Agradecimentos

Como prior, agradeço ao bom Deus Jeová, por cada fase deste trabalho clareando minhas ideias me mostrando o caminho certo e me dando capacidade e determinação. À Agencia de Fomento à Pesquisa CAPES pela bolsa de estudos concedida no período de 2015 a 2016.

Ao Prof. Dr. Luis Octavio, pela excelente orientação deste trabalho.

A coordenadora Paula Belfort, pela sua simpatia e disponibilidade, e por estar sempre de porta aberta para ajudar quem precisa.

À subprefeitura do Itaim Paulista por sempre me apoiarem nas minhas visitas de campos e com informações para este trabalho, em especial meu amigo Constantino Sava Kipriadis Filho.

À minha namorada Edinalva Santos pela cumplicidade, por me fazer companhia nas elucubrações.

A minha família por sempre me dar apoio incondicional.

Às comunidades do (Madeira) e do Itaim Paulista (jardim Jaraguá) cativantes e receptivas.

Ao meu mais novo amigo talentoso Mauro Sergio por me ajudar com as fotos do Cazenga.

À prof. Dr. Ana Paula Koury, aos colegas e amigos Flavio Lacerda, André Marcolino, pela partilha de conhecimentos, e pela parceria nos diagnósticos dos conflitos urbanos do Itaim Paulista.

A Elisângela Marquine e ao Ulisses Costa, meus colegas e amigos do Mestrado, pelas dicas e trocas de ideias.

Ao projeto Vê Só Cazenga pelas fotos concedidas.

Aos profissionais simpáticos da biblioteca da USJT.

Ao meu irmão António Manuel e ao meu amigo Nelson Njinga pela ajuda com as fotografias e visitas de campo no Cazenga.

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Resumo

A pesquisa desenvolvida para elaboração desta dissertação teve como objetivo uma observação comparada que busca aprofundar a compreensão de dois bairros populares, um em São Paulo, Brasil, e outro em Luanda, Angola. O presente trabalho traz esclarecimentos sobre as formas de divisão político- administrativas naquelas duas cidades e, à luz de algumas referências bibliográficas, procura caraterísticas nos bairros observados que sejam pistas sobre estruturas comunitárias neles presentes, além de refletir sobre a dimensão de uma comunidade e sua relação com a segmentação do território. Parte-se da premissa de que essas áreas urbanas são fenômenos sociais dinâmicos e legítimos, afastando, portanto, a ideia por vezes adotada de que seriam anomalias na cidade. Identificam-se características físicas e dinâmicas dos espaços urbanos observados, além de sinais de segregação socioeconômica e espacial, buscando contribuir para a compreensão do que entendemos como sua Cultura de construção. Os procedimentos aqui utilizados foram visitas de campo, a observação de cartografia e dados, fotos, entrevistas filmadas, além de análise dos mesmos à luz de textos sobre a construção do espaço urbano.

Palavras-chave: Bairros Populares São Paulo-Luanda. Características dos bairros precários. Estruturas comunitárias.

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Abstract

The dissertation had as objective a comparative Observation that seeks to deepen the understanding of two poor neighborhoods, one in São Paulo, Brazil, and another in Luanda, Angola. The work brings clarification of the forms of political and administrative division in those two cities and, in light of some references, looks for characteristics in the observed districts that are clues to understand existing community structures, as well as reflecting on the size of a community and its relationship with the segmentation of the territory. It starts with the premise that these urban areas are dynamic and legitimate social phenomena, putting apart the idea sometimes adopted that they would be anomalies in the city. Identifies physical and dynamic characteristics of urban spaces observed, as well as socio-economic and spatial segregation signals, seeking to contribute to the understanding of what is understood as its Culture of construction. The procedures apply to field observations, an observation of cartography and data, photos, filmed interviews, and their analysis in light of texts on the construction of urban space.

Keywords: popular Neighborhoods São Paulo-Luanda. Urban structure. Community structures.

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Sumário

Apresentação ...... 7 1. A Forma Urbana ...... 10 1.1. Categorias para leitura da paisagem urbana ...... 10 1.2. Bairros precários, favelas, comunidades – informais? O que dizer sobre a forma dos bairros precários? ...... 17 2. Caracterização dos Bairros Populares de São Paulo e Luanda ...... 23 3. Observação dos bairros da Madeira (Cazenga) e do Jardim Jaraguá (Itaim Paulista) ...... 84 Considerações finais ...... 110 Bibliografia ...... 112 Apensos ...... 115 Índice das Imagens ...... 123 Índice das tabelas ...... 126

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Apresentação

Eu vivo nos bairros escuros do mundo sem luz nem vida.

Vou pelas ruas às apalpadelas encostado aos meus informes sonhos tropeçando na escravidão ao meu desejo de ser.

São bairros de escravos mundos de miséria bairros escuros [...]

Ando aos trambolhões pelas ruas sem luz desconhecidas pejadas de mística e terror de braço dado com fantasmas.

Também a noite é escura.

António Agostinho Neto

EEG

Este poema clássico intitulado ‘’Noite” de Agostinho Neto nos traz uma clareza de como são as noites escuras nos musseques Luandinos, uma realidade dura vivida por mais da metade da população, quiçá um dia esta dura realidade nos bairros populares de Luanda mude, mas por hoje, a pobreza só é colorida quando interpretada como arte. Objetiva-se conhecer melhor o Habitat humano contemporâneo e essa escolha se dá em função de, ao considerarmos todo o planeta no início do milênio, já

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abrigarem em torno de um terço da população urbana mundial (DAVIS, 2006, pág. 34), numa proporção que segue crescendo segundo informações da ONU (nacoesunidas.org), esses bairros precários que, portanto, representam uma das faces do ambiente onde, bem ou mal, a humanidade tem se estabelecido. Procura-se a identificação de especificidades, valores e saberes nesse composto de habitação, infraestrutura e equipamentos a que nos referimos como Habitat da humanidade, hoje, sem perder de vista as dinâmicas ali presentes, especialmente questões econômicas, nas quais podemos perceber potencialidades e paradoxos. O trabalho aqui apresentado está estruturado em 3 capítulos. No capítilo 1 “A forma Urbana’’, que tem como chamariz a reflexão sobre a forma que as cidades tomam e as categorias para leitura da paisagem urbana, traz uma discusão baseada sobretudo nas visões de Lynch, que no decorrer do trabalho entendeu- se, por assim dizer, como sendo insuficiente para uma observação e para um olhar que caraterize os bairros populares em sua maioria, pois são realidades distintas das cidades norte americanas observados por aquele autor. Pois Lynch faz uma analise para uma cidade dita formal planejada, e este trabalho observa bairros e ocupações espontanêas. Por isso se trouxe para este trabalho uma espécie de dialogo com a pesquisa etnografica urbana de Carlos Nelson de um bairro popular no Rio de Janeiro no seu livro “Quando a rua vira casa”, que é oportuna para uma observação sensível de uma realidade parecida com estes dois segmentos urbanos aqui analizados. Partindo da premissa de que os bairros populares não são informais podemos dizer que estes bairros possuem forma adaptável aos seus objetivos, necessidades e na percepção de seus moradores, são formas que se organizam em diferentes níveis no tempo e no espaço e também funcionam como símbolo da vida urbana cotidiana, onde são desenvolvidas várias atividades adaptáveis às circunstâncias, não como método de sobrevivência, mas sim como estilo de vida caraterístico do lugar, com formas que expressam a circulação, usos principais do espaço urbano, pontos focais, e centralidades. O capitulo 2 “Caracterização dos Bairros Populares de São Paulo e Luanda” apresenta o surgimento destes bairros, as características predominantes nos bairros populares de São Paulo e de Luanda no caso do Cazenga e do Itaim Paulista. Os seus conflitos urbanos, suas áreas precárias, como é a vida cotidiana nestes bairros, a forma de ocupação do espaço público, centralidades, indicadores sociais e a qualidade de vida. No capítulo 3 “Observação dos bairros da Madeira e do Jardim Jaraguá” são tratados de forma sensível o bairro precário da Madeira (Comuna do Tala-Hady) e a Favela do Jardim Jaraguá (Distrito do Itaim Paulista). A partir dos mapas temáticos em diferentes escalas podemos observar os largos, vielas, becos trechos de ruas, elementos característicos dos bairros precários, que surgem como resposta ao tipo de ocupação ali presente.

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Imagem 1. Vista do centro da Cidade de Luanda

Fonte: Ruy Jorge, 2015 10

1. A Forma Urbana

As especulações sobre o solo, e o dinheiro, determinam a forma da cidade.

José Lamas

1.1. Categorias para leitura da paisagem urbana

Um dos assuntos bastante discutidos entreAs os especulações estudiosos sobre da o ciência solo, e da o dinheiro, determinam a forma da urbanização é o modo como a cidade adquirecidade. a sua forma. Cada cidade vai formando o seu desenho a partir de sua morfologia, que surge como resultado do produto das dinâmicas sociais repercutidas na produção do espaço urbano. José Lamas Cada lugar, uma forma, cada forma, um lugar. Pois o objetivo final de concepção do espaço urbano é a forma. Sendo o objetivo final de toda concepção arquitetônica , a forma está em conexão com o desenho da cidade, com as linhas, espaços, volumes, geometrias, planos e cores a fim de estabelecer a comunicação entre a arquitetura e cidade. A forma é a solução de um problema posto pelo contexto 1 , ela surge como resposta a um problema, pois ela é o aspecto da realidade, Asé o especulaçõesmodo como sobrese organizam o solo, e os o elementos morfológicos que compõem e definemdinheiro, o espaço determinam urbano a . forma(LAMAS, da 2011, pag. 44) cidade.

De acordo com Lamas, (2011) a construção do espaço físicoJosé Lamas passa necessariamente pela arquitetura, que estabelece uma ligação espacial entre o objeto físico e as relações humanas. A arquitetura é, assim, a chave da interpretação correta e global da cidade como estrutura social. Podemos ler a cidade e suas transformações no espaço, a partir dos instrumentos urbanísticos e elementos arquitetônicos. Kevin Lynch em seu livro “A Imagem da Cidade”, frisa os elementos físicos perce ptíveis na forma urbana As especulações sobre o solo, e o dinheiro, determinam a forma da cidade. 1 O contexto é a relação comum entre as formas arquitetônicas e urbanas que deve satisfazer um conjunto de critérios. Que engloba critérios funcionais, econômicos, tecnológicos, jurídico- José Lamas administrativo

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para uma leitura da paisagem da cidade e de sua configuração espacial, baseado nas suas experiências em cidade norte-americanas.

A forma da cidade corresponde à maneira como se organiza e se articula a sua arquitetura. Entendo por arquitetura da cidade dois aspectos: Uma manufatura ou obra de engenharia e de arquitetura maior ou menor, mais

ou menos complexa, que cresce no tempo, e igualmente os fatos urbanos caraterizados por uma arquitetura própria e por uma forma própria. Este é também o ponto de vista mais correto para afrontar o problema da forma urbana, porque é através da arquitetura da cidade que melhor se pode definir e caracterizar o espaço urbano. (LAMAS, 2011, pag. 41)

Por outro lado, Lynch, (2006, p.3-5) afirma que a legibilidade das formas das cidades é uma característica importante na qualidade visual delas e crucial para o cenário urbano. PoisA forma quando da cidadeum espaço corresponde pode ser à maneirafacilmente como reconhecido se organiza e organizado de um modoe se criterioso articula ,a facilita sua arquitetura.-se a vivência Entendo e a locomoção por arquitetura para seus da habitantes. As pessoascidade preci doissam aspectos: se situar e Umaquerem manufatura perceber sempre ou obra onde de estão, de modo queengenharia a necessidade e de arquitetura de reconh ecermaior o ou lugar menor, torna mais-se ouvital menos, e a imagem criada é decomplexa, enorme importância que cresce prá notica tempo, para o ehabitante, igualmente oferecendo os fatos assim ao indivíduo umuFigura importante 33. Vista sentimento do musseque de dasegurança Vila flor, Cazenga emocional.ste é também o ponto de vista mais correto para afrontar o problema da A paisagem urbana legível e caraterística não só oferece ao seu habitante forma urbana, porque é através da arquitetura da cidade que segurança emocional, mas também estabelece uma relação harmoniosa entre melhor se pode definir e caracterizar o espaço urbano. ele e o mundo à sua volta. O sentimento de se localizar no espaço é mais forte (LAMAS, 2011, pag. 41) não só apenas quando este é familiar, mas também em função do que lhe é caraterístico. A desorientação ou a sensação de se estar perdido cria certo desconforto ao habitante, pois isto afeta diretamente sua sensação de equilíbrio e bem-estar. Eis a necessidade de as cidades estarem devidamente orientadas para poder reforçar aA intensidadeforma da cidade da experiência corresponde humana à maneira no cenário como sefísico organiza vivo. e se articula a sua arquitetura. Entendo por arquitetura da Um cenário físico perceptível e integrado é aquele capaz de produzir uma cidade dois aspectos: Uma manufatura ou obra de paisagem bem definida, que desempenha um papel social, um suporte físico do engenharia e de arquitetura maior ou menor, mais ou menos qual potencialmente decorre a relação social humana com permutas generosas complexa, que cresce no tempo, e igualmente os fatos de experiências. urbanos caraterizados por uma arquitetura própria e por uma LYNCH, (2006, p. forma 51) fala própria. que Este as formas é também físicas o ponto perceptíveis de vista maispodem correto ser classificadas em cincopara elementos: afrontar o Vias problema, limites, da pontos forma nodais,urbana, m porquearcos eé batravésairros. da arquitetura da cidade que melhor se pode definir e As vias são os canais de circulação ao longo dos quais o observador se caracterizar o espaço urbano. (LAMAS, 2011, pag. 41) locomove de modo habitual, ocasional ou potencial. Podem ser alamedas, linhas de trânsito, canais, ferrovias. Para muitas pessoas, são estes os elementos predominantes em uma imagem. Os habitantes de uma cidade observam-na à medida que se locomovem por ela, e, ao longo dessas vias, os outros elementos ambientais se organizamA forma e se da relacionam. cidade corresponde (LYNCH, à2006, maneira p. 52, como grifo se nosso) organiza e se articula a sua arquitetura. Entendo por arquitetura da Certas vias se tornam características importantes, de muitas maneiras cidade dois aspectos: Uma manufatura ou obra de diferentes. Dependente do grau de conhecimento que tenhamos sobre a cidade, engenharia e de arquitetura maior ou menor, mais ou menos o trajeto habitual para o bairro, casa ou serviço vai ser uma das influências complexa, que cresce no tempo, e igualmente os fatos uFigura 34. Vista do musseque da Vila flor, Cazengaste é também o ponto de vista mais correto para afrontar o problema da forma urbana, porque é através da arquitetura da cidade que

melhor se pode definir e caracterizar o espaço urbano. (LAMAS, 2011, pag. 41) 12

poderosas para o uso das vias que proporcionam maior fluidez no trânsito, e para os pedestres o uso das ruas que melhor o direcionam até o seu destino poupando assim tempo e distância. Ruas caóticas passam uma sensação de desconforto e insegurança para as pessoas, pois um aspecto importante do uso das vias ou ruas é a qualidade espacial que reforça sua imagem. Precisa também ter medidas ergonômicas adequadas ao homem. A exposição visual é outro aspecto importante da rua, pois as pessoas querem localizar-se e, para isso, o sistema viário precisa ter uma identidade, que é proporcionada através das fachadas, da textura da pavimentação, marcos, pontos nodais, aquilo que se pode avistar de outras partes da cidade. No entanto, quando uma rua possui qualidade direcional, podemos ser capazes de facilmente nos localizarmos, percebemos a escala da rua e somos capazes de enxergar nossa posição ao longo do seu comprimento total, o percorrido e o que falta percorrer. (LYNCH, 2006) Os limites são os elementos lineares não usados ou entendidos como vias pelo observador. São as fronteiras entre duas fases, quebras de continuidade lineares: praias, margens de rio, lagos etc., cortes de ferrovias, espaços em construção, muros e paredes. São referências laterais, mais que eixos coordenados. Esses limites podem ser barreiras mais ou menos penetráveis que separam uma região de outra, mas também podem ser costuras, linhas nas quais duas regiões se relacionam e encontram. Ainda que possam não ser tão dominantes quanto o sistema viário, para muitos esses elementos limítrofes são importantes caraterísticas organizacionais, sobretudo devido ao seu papel de conferir unidade a áreas diferentes, como no contorno de uma cidade por água ou parede. (LYNCH, 2006, p. 52, grifo nosso) Os limites são elementos lineares que ajudam na divisão político- administrativa de uma região, muitas das vezes os limites também são vias, ruas que estipulam fronteiras entre dois tipos de áreas. Segundo Carlos Nelson Santos (SANTOS, 1985) as ruas servem como referenciais definidores dos limites de um determinado território, pois elas são também unidades de alto significado para quem sabe reconhecê-las. Elas estruturam, mapeiam e organizam o seu conteúdo. Alguns limites são inacessíveis a pedestres, ou intransponíveis em algum ponto acarretando grande proeminência espacial - a isto Lynch chama de limite fragmentário, quando é continuo em termos abstratos, mas se torna visível em pontos distintos. Por exemplo, montanhas ou colinas em tempo nublado. Mas o mais comum são as vias e ruas que limitam a divisão administrativa ou política entre um bairro e outro. Muitas delas são vias expressas e outras são vias sem muito movimento ou expressão. A continuidade e a visibilidade são cruciais para que se perceba o efeito de dividir e isolar um bairro do outro.

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Os pontos nodais são pontos, lugares estratégicos de uma cidade através dos quais o observador pode entrar, são os focos intensivos para os quais ou partir dos quais ele se locomove. Podem ser basicamente junções, locais de interrupção do transporte, um cruzamento ou uma convergência de vias, momento de passagem de uma estrutura a outra. Ou podem ser meras concentrações que adquirem importância por ser a condensação de algum uso ou de algumas características físicas, como um ponto de encontro numa esquina ou uma praça fechada. Alguns desses pontos nodais de concentração são o foco e a síntese de um bairro, sobre o qual sua influência se irradia e do qual são um símbolo. (LYNCH, 2006, p. 52, grifo no nosso) Os pontos nodais são lugares estratégicos de um bairro, que nos dão uma direção ou senso de localização, por um lado e por outro. Os pontos nodais representam o local de encontro das pessoas, da diversidade, de ações sociais, de encontro de pessoas para várias atividades como comercio, lazer, motivos religiosos. Um espaço produzido pela comunidade, um ambiente de permuta de emoções e relações pessoais. Essa atividade nos pontos nodais varia de acordo com a história e o estado de espírito da época, e os hábitos no cotidiano de cada bairro. Os pontos nodais podem ser introvertidos quando estamos perto deles ou nos seus arredores e nos dão muito pouco senso de direção ou localização, e extrovertidos quando possibilitam boa indicação de localização, ou seja, quando neles conseguimos nos localizar de maneira fácil. Eles costumam ser campos de futebol, barbearias tradicionais, igrejas matriz, praças e parques, centralidades ou, em datas festivas, qualquer lugar que albergue as pessoas para certa atividade - é muito comum em comunidades e bairros precários este tipo de interação humana, permuta de emoções e experiências. O marco é outro tipo de referência, mas, nesse caso, o observador não entra neles: são externos. Em geral, é um objeto físico definido de maneira muito simples: edifício, sinal, loja ou montanha. [...] alguns marcos são distantes, tipicamente vistos de muitos ângulos e distancias acima do ponto mais alto de elementos menores e usados como referências radiais. Podem estar dento da cidade ou a uma distância tal que, para todos os fins práticos, simbolizam uma direção constante. [...] São geralmente usados como indicadores de identidade, ou até de estrutura, e parecem tornar-se mais confiáveis à medida que um trajeto vai ficando cada vez mais conhecido. (LYNCH, 2006, p. 53, grifo nosso) O marco é um ponto de referência de um bairro ou comunidade, é um elemento físico com escalas variáveis. Um elemento de continuidade urbana para os que conhecem melhor a cidade e os que querem conhecê-la. É também a representação simbólica da história de um lugar, acarretando um estado de espirito, um momento, um elemento visível a partir de outros lugares ou pontos da cidade, que simplesmente cria um contraste local com os elementos vizinhos.

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Ele também pode ter um sentido de orientação para os habitantes, ajudando-os a se localizarem melhor, quando visíveis a partir de qualquer ponto da cidade ou da região. Permitindo uma localização espacial entre o habitante e o bairro, proporcionando ao indivíduo um sentido, uma direção que ajuda na tomada de decisão quanto ao trajeto a seguir. Para os mais familiarizados com a cidade, que confiam nos marcos como guia fica mais fácil se locomover ou dar uma informação taxativa sobre um endereço ou local. Os bairros são as regiões médias ou grandes de uma cidade, concebidos como dotados de uma extensão bidimensional. O observador neles penetra mentalmente, e eles são reconhecíveis por possuírem caraterísticas comuns que os identificam. Sempre identificáveis a partir do lado interno, são também usados para referência externa quando visíveis de fora. Até certo ponto, muitos estruturam sua cidade dessa maneira, com diferenças individuas em suas respostas a quais são os elementos dominantes, as vias ou os bairros. Isso não parece depender apenas do indivíduo, mas também da cidade. (LYNCH, 2006, p. 52, grifo nosso) Os bairros são estruturas com pontos nodais, definidos por limites, atravessados por vias e salpicados por marcos (LYNCH, 2006, p. 54). Cada bairro tem suas características que o diferenciam de outros, algo que o torna singular. Outros, por vezes, se assemelham nas suas caraterísticas físicas temáticas; cores, textura, espaço, detalhe, habitantes, símbolo, estado de conservação, atividades, topografia, tipos de construção, forma e uso. De acordo com Lynch, é infinita a variedade de componentes temáticos. E quando a unidade temática não estabelece um contraste claro de um bairro em relação ao outro, os nomes dos bairros ajudam na identificação dos mesmos. A conotação social estabelece uma relação com a cidade ou não, pois existem bairros voltados para si mesmos2. Cada bairro tem suas caraterísticas peculiares que compõem sua paisagem urbana que descreve seu cotidiano dinâmico. Assim o pesquisador pode entender a complexidade dos conflitos urbanos e as caraterísticas físicas que determinam um bairro. Os cinco elementos acima descritos estão inter-relacionados pois uma via expressa pode ser um canal de circulação para um motorista e um limite para um pedestre, assim como uma área central pode ser um bairro, e pode ser também um ponto nodal quando se leva em conta toda a área metropolitana. Por outro lado, mesmo quando estão presentes esses elementos, isso não significa a superação de uma condição em que há alguns bairros que são dotados de equipamentos púbicos, saneamento básico, redes de infraestrutura

2 Os bairros também podem ser extrovertidos quando existem direções claras e com ótima definição de ligação com a cidade ou bairros / introvertidos indicam muito pouco de direção quando estamos neles ou em seus arredores.

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enquanto outros são deixados ``ao Deus dará´´. Existem causas econômicas e políticas na ocupação dos espaços urbanos e na separação de grupos diferentes, não só resultado do processo de industrialização moderno, mas como exclusão involuntária de certos segmentos populacionais.

Esses instrumentos de leitura da paisagem urbana acima apresentados ajudam a compreender que a forma surge como resposta a relações sociais e a dinâmicas do espaço físico. Seguindo a mesma linha de raciocínio, Gabardo (2001 pag.84-98) afirma que as características físicas do espaço urbano são, num primeiro momento, a materialização da forma da cidade, mas, além de produto físico, o espaço urbano também é a representação da organização social, política e econômica do homem que ocupa o espaço. Por isso trago Carlos Nelson Santos com o seu livro “Quando a Rua vira Casa” que faz um estudo etnográfico urbano de um bairro popular do Rio de janeiro. Pois, as visões de Lynch são insuficientes numa primeira instância para observação completa de um bairro popular e precário.

A análise das situações locais permite entender melhor os processos de desenvolvimento da cidade, aprofunda o conhecimento sobre as formas de apropriação dos espaços urbanos (SANTOS, 1985). Pois, para além da materialidade dos espaços e dos processos que neles se desenvolvem, existe uma dimensão simbólica, códigos culturais que viabilizam a leitura, a apropriação e o aproveitamento dos lugares. As noções de localização, territorialidade, e do que lhes seja pertinente e adequado são constituídas através do recurso a estes códigos e mecanismos.

As análises críticas do urbanismo contemporâneo chamaram a atenção para uma questão que não havia sido percebida. Talvez fosse melhor dizer, embora percebida, não tinha até então recebida a importância que lhe cabe. Refletindo sobre a vida e morte das grandes cidades americanas, Jane Jacobs [...] confere à diversidade o estatuto de “princípio onipotente” a qual se deve atribuir a viabilidade da Forma Urbana, tal como a cultura ocidental a desenvolveu desde o Renascimento Urbano dos séculos XI ao XII. Sua crítica não se apoia nos postulados do saber técnico que costuma ser invocado [...] da

razão planejadora. Está muito mais ligado a uma espécie de senso comum do urbano, pois não se preocupa com a utensilagem de variáveis qualificadas, funções, meios e fins misticamente adequados, prognósticos, diagnósticos ou intervenções. (SANTOS, 1985, pág. 78, grifo nosso)

O estudo etnográfico urbano observa o cotidiano dos moradores dos bairros, os mecanismos de diferenciação dos espaços, que é acionado de diversas formas sempre que se precisa abrir (coletivizar) ou fechar (privatizar) os diversos

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espaços disponíveis e isso independe das maneiras óbvias e formais de classificar os espaços. (SANTOS, 1985) O que torna uma cidade atraente é a busca na experiência das ruas, dos bairros dos variados ambientes urbanos que compõe a cidade, as condições que a tornam viável. E mais que isso, agradável e interessante, proporcionando escolhas, criando, enfim, aquilo que, de acordo com uma visão culturalista, seria característico e, portanto, distinto, do urbano como modo de vida. Trata-se de falar da cidade a partir do usuário, e não da perspectiva de quem, curvado sobre uma prancheta, pretende estabelecer as normas, valores, usos e traçados que a cidade deveria ter se quisesse. Por esse motivo, o cotidiano, com sua inevitável mistura, com suas combinações complexas, variáveis e cambiantes, devia ser verdadeira fonte e o foco do conhecimento urbano. (SANTOS, 1985)

Sendo assim, como surgiu a separação entre os bairros de alto padrão, de classe média, e bairros precários? Como estes foram ocupados de forma tão desiquilibrada?

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1.2. Bairros precários, favelas, comunidades – informais? O que dizer sobre a forma dos bairros precários?

Os musseques são bairros humildes de gente humilde [...].

António Agostinho Neto

Os bairros precários, favelas, musseques3 ou comunidades são núcleos habitacionais precários, com moradias autoconstruídas, formadas a partir da ocupação de terrenos públicos ou particulares, geralmente associados à problemática de posse da terra e a segregação social. Nos bairros precários ou musseques³ se encontram elevados índices de precariedades, falta de infraestrutura urbana e de serviços públicos acessíveis a todos e alta densidade populacional. A maior parte de seus habitantes é a população de baixa renda, pessoas que decidem se afastar do centro da cidade por não poder pagar uma moradia nos bairros caros da cidade, dando origem aos assentamentos espontâneos com pouca ou nenhuma infraestrutura e serviços. Caraterísticas típicas de uma cidade irregular com ocupações ilegais e precárias. DAVIS, (2007) afirma em seus estudos que milhões de pessoas vivem hoje na precariedade. Pois a urbanização se desligou da industrialização e do crescimento econômico, obrigando a expulsão de milhões de moradores pobres da cidade para os periféricos precários. E o motor impiedoso disso é a especulação imobiliária, da renovação urbana e do embelezamento do lugar, encerrando assim a faixa vital de terra gratuita ou barata nas cidades em desenvolvimento. Davis chama atenção para o rápido crescimento dos bairros precários das cidades em desenvolvimento, e isso enquadra Luanda e São Paulo. Embora este crescimento seja rápido, desordenado e dinâmico, não podemos afirmar que estes bairros precários não têm forma. Baseados nas teorias de Lynch, eles têm uma forma caraterística e peculiar, resultante das relações entre

3 Musseque é uma expressão dialética Angolana para designar bairros de construções precárias nos arredores da cidade, onde habitam os menos favorecidos.

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grupos humanos ali presentes - configurados por objetos físicos, há neles ruas, edifícios, rios, colinas que limitam ou constituem os bairros. O atrito entre dois ou mais grupos sociais em relação aos direitos humanos, enfatizando as problemáticas da infraestrutura, serviços, saúde, educação, moradia, transporte e segurança, gera conflitos urbanos que, por sua vez, podem ser vistos como um estado de espirito de uma época, uma história, que leva a um padrão de segregação social e empobrecimento de uma área ou região.

Imagem 2. Tipos de assentamentos em Luanda

Fonte: Dani Brandani, 2015

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Partindo da premissa de que os bairros precários não são informais4 podemos dizer que estes bairros possuem forma adaptável aos seus objetivos, necessidades e na percepção de seus moradores, são formas que se organizam em diferentes níveis no tempo e no espaço e também funcionam como símbolo da vida urbana cotidiana, onde são desenvolvidas várias atividades adaptáveis às circunstancias, não como método de sobrevivência, mas sim como estilo de vida caraterístico do lugar, com formas que expressam a circulação, usos principais do espaço urbano, pontos focais, e centralidades. Dessemelhante de um bairro no centro da cidade com o uso e a lei de ocupação do solo definido. (LYNCH, 2007 p. 101) Segundo VARELLA (2002) a legalização dos terrenos ocupados, com a devida transferência de posse, é o que juridicamente transforma uma favela ou comunidade em um bairro legal. Em função disso, há uma grande diversidade de formas resultantes - nenhum bairro precário é igual ao outro, cada um possui suas especificidades, uma cultura própria. A diversidade espacial é explicada pela história do lugar, nos processos de formação e de transformação, que se refletem nas diferentes formas arquitetônicas e urbanas.

De acordo com VILLAÇA, (2001) os bairros residências das camadas populares e mesmo favelas inseridas na região de concentração das camadas de alta renda nada alteram o processo de diferenciada produção e consumo do espaço urbano nem o processo de dominação burguesa. Estes processos de transformação urbana são bem distintos, que vão desde o bairro mais planejado ao mais espontâneo, do mais projetado ao mais livre, do mais regular ao mais irregular, ou seja, geografias acasalando com a realidade social devido a fatores históricos de cada ocupação, origens da população, e a contextos políticos e sociais. Daí surgem as mais diferentes formas urbanas e que por sinal constituem uma diversidade formal muito rica.

Comecei, cada vez mais, a desviar minha atenção das casas, dos sistemas viários dos aglomerados, das soluções de esgoto e abastecimento de água e de outros aspectos considerados do interesse primordial de um urbanista ou arquiteto. […]. Fui descobrindo que havia muitos mundos dentro do que, simplisticamente, eu designava por um só nome. Fui vendo que algumas ações e maneiras de ser ou de ver as coisas que eu classificaria, com rapidez, de “alienadas” tinham sentido dentro dos códigos particulares a que estavam referidas, frente aos quais, por não saber como me comportar, o alienado era eu. (SANTOS, 1981)

4 Os físicos defendem que a matéria em estado líquido toma à forma do recipiente que o contem sem alterar o seu volume, pois sua molécula tem mais energia e liberdade de movimento do que outras matérias estáticas ou em estado solido, suficiente para se adequar a qualquer meio tamanho ou forma

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Imagem 3. Vista aérea do musseque da Vila flor, Cazenga

Fonte: Elaborado pelo Autor com base no Google Maps, 2016

Como se pode notar na foto aérea acima que mostra o Musseque Vila Flor em Luanda, há uma configuração espacial definida por ruas, elementos físicos perceptíveis. A forma adensada do bairro, as linhas, os espaços, os volumes, as geometrias, permitem conexão com a cidade. Vemos ali o retrato da ocupação espontânea, exposta aos fragmentos de uma política urbana não consistente. É imprescindível realçar que, assim como a Vila Flor, outros bairros precários segregados têm inúmeros conflitos urbanos que até certo ponto interferem na qualidade de vida da população, mas vamos nos ater por hora a questões de como esses aglomerados dão a forma como resposta às diferentes experiências sociais. Esses bairros trazem à pauta o resultado das experiências humanas cotidianas. VILLAÇA, (2001) também afirma que uma das desvantagens de se morar num bairro precário é o de se não poder usufruir do sistema viário. Existe uma forma de estruturação espacial urbana baseada no deslocamento dos seres humanos, essa necessidade de deslocamento atua dentro de um quadro de relações humanas com a cidade, dando uma certa lógica de estruturação própria a cada lugar. A vida cívica é formada pela complexa interação entre os indivíduos e a sociedade em um espaço urbano, as expetativas culturais de como usamos o espaço tem grande impacto no desenho urbano, especialmente na escala do bairro, da praça pública e da rua. Sendo assim; O que dizer sobre a forma dos bairros precários? Segundo Wall Ed (2012), o caráter de uma cidade não deriva das edificações individuais, e sim da singularidade de seus bairros. Pois o contexto estabelecido

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pelo mesmo é fundamental para o sucesso de qualquer desenho urbano, deverá este, estabelecer uma relação com a vizinhança. A forma dos bairros precários surge em função de seus moradores, tradições, e histórias, o aspecto físico que molda o lugar é só uma consequência dessas relações humanas. Um bairro muitas das vezes não é o que define a dimensão física de uma comunidade, de modo geral (em quase todos) os bairros precários são áreas que podemos percorrer a pé, com lojas, mercadinhos, vendinhas, feiras, uma identidade própria. Os bairros também costumam ter nome, mas as vezes adotam a denominação de um acontecimento local marcante, de uma pessoa importante para o bairro. A escala do bairro estabelece o contexto5 imediato para aqueles que moram na cidade. Um contexto de bairro forte, que muitas vezes é evidenciado pelas particularidades da forma urbana (Cada forma um lugar cada lugar uma forma) expressa a grande complexidade da vida cotidiana. WALL, Ed (2012) A sua forma surge como resultado das experiências e das necessidades humanas, um desenho urbano que que não favorece o automóvel, mas a boa vontade conjunta gera nestes espaços urbanos não projetados aproximação entre as pessoas e o que o deixa cheios de vida. Outra reflexão não menos importante também é sobre caraterísticas físicas desses espaços segregados, visto que segundo análise de Kevin Lynch, são importantes fatores para leitura e compreensão da estrutura espacial dos bairros e da Cidade.

5 O contexto é a relação que existe entre o homem e o ambiente dado a uma circunstância ou situação.

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Imagem 4. O beco, caraterística resultante da ocupação densificada e desordenada dos musseques de Luanda

Fonte: Germano Miele, 2015

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2. Caracterização dos Bairros Populares de São Paulo e Luanda

Os conflitos urbanos dos musseques de Luanda são comparáveis com os dos bairros precários de São Paulo. Para empreendermos a leitura dessas áreas precárias, entendemos relevante considerar os princípios físicos perceptíveis que compõem os elementos da forma urbana baseada na visão de Lynch, tanto na leitura da paisagem urbana e da configuração espacial dos bairros precários do Cazenga como do Itaim Paulista, levando em consideração os traços específicos desta realidade e a forte influência de hábitos singulares e do modo de vida da população. A problemática dos musseques6 é consequência de questões históricas, econômicas, políticas, culturais e sociais. Ainda na era colonial o acesso à habitação já era problema. A segregação racial e de classes nesse período, os processos de imigração do campo para a cidade, as consequências na economia das longas décadas de guerra colonial e civil, a própria orientação da economia nacional são aspectos relevantes que explicam a situação urbana atual de Luanda. As falhas nas soluções e na implementação dos planos urbanísticos que foram sendo desenvolvidos, a própria legislação existente e as políticas de ordenamento do território não consistentes têm vindo a contribuir, de certo modo, para facilitar a expansão acelerada e desordenada dessas áreas precárias que são os musseques. (BETTENKOURT, 2011)

Após a revolução nacional de 1975 da luta pela libertação nacional, como se não bastasse, o povo enfurecido exterminou quase tudo em sua volta, numa tentativa frustrada de cortar laços com qualquer coisa que lembrasse seus colonizadores. Outro fato importante dessa questão histórica foi à guerra civil domestica que abalou o País por mais de 30 anos, retrato dos conflitos domésticos de luta de poder. A guerra nunca atingiu a capital, Luanda, o que levou boa parte da população do interior a se refugiar nela. Houve fluxo populacional sem igual, que procurou segurança nos musseques de Luanda. Luanda tem hoje cerca de 6 milhões de habitantes, dos quais cerca de 4 milhões vivem em áreas precárias, carentes de infraestrutura e de condições mínimas de habitabilidade. A problemática habitacional e os elevados níveis de pobreza nas extensas áreas de Musseques em Luanda e no restante território nacional

6 Musseque é uma expressão dialética Angolana para designar bairros de construções precárias nos arredores da cidade, onde habitam os menos favorecidos

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levaram as Nações Unidas a considerar Angola como um dos alvos no cumprimento das metas do milénio de luta contra a pobreza.

Tabela1. O Município do Cazenga entre as trinta maiores megafavelas do mundo

1 Neza/Chalco/Izta 4,0

2-3 Libertador, El Sur. 2,2

4-8 San Juan de Lurigancho, Cono Sur, Ajegunle, Cidade Sadr, Soweto. 1,5

9 Gaza 1,3

10-12 Comunidade Orangi, Cape Flats, Pikine. 1,2

13-14 Imbaba, Ezbet El-Haggana. 1,0

15 Cazenga (Luanda) 0,8

16-19 Dharavi, Kibera, El Alto, Cidade dos Mortos, 0,8

20-22 Sucre, Islamshahr, Tlalpan. 0,6

23-30 Inanda, Manshiet Nasr, Altindag, Mathare, Aguas Blancas, Agege, 0,5 Cité-Soleil, Masina.

(Milhões de habitantes)

Fonte: Davis, 2007, (Grifo nosso)

Segundo a ONU, Luanda, está entre as cidades com a população mais pobre, onde dois terços ou mais dos moradores ganham menos que o custo da nutrição mínima necessária por dia. Um quarto das famílias tem consumo per capita de menos de 75 centavos de dólar por dia, registrando a maior taxa de mortalidade do mundo. Não é a esmo que Município do Cazenga7 está entre as trinta maiores megafavelas do mundo como se nota na tabela 1.

7 Cazenga – Município e cazenga- comuna. A nomenclatura do que é o Distrito, Municípios, Comunas e Bairro ver a baixo na descrição detalhada da observação comparada do capitulo 2.

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Tabela 2. A população nos Musseques.

Fonte: Inquérito Development Workshop, 2013. Disponível em :< http://pt.slideshare.net/DevelopmentWorkshopAngola>. Acesso em 3 jun. 2015

Como se pode notar, na tabela 21,% da população de Luanda habita nos Musseques periféricos. Nota-se um crescimento insignificante de habitações de interesse social levando em conta a demanda populacional. Segundo Allan Cain diretor da Development Workshop Angola (2013), estima-se que o déficit habitacional em Angola é de mais de 875.000 unidades e que 65% das habitações existentes carecem de serviços básicos como água e saneamento e necessitam de melhoria significativa. Os musseques de Luanda, são assentamentos de carácter informal localizados maioritariamente nas áreas peri-urbanas da cidade, são a representação física da segregação social no espaço urbano desta cidade capital de Angola, localizada na parte ocidental da África austral. (BETTENKOURT, 2011) Segundo a UCCLA8, por volta do século XVII, a região onde se situa o atual Município do Cazenga, era uma zona distante dos aglomerados habitacionais de Luanda, povoada por animais selvagens que procuravam água nos riachos ali

8 UCCLA é um órgão institucional historial, de natureza internacional, criada a 28 de junho de 1985. Assinaram o ato de fundação, as cidades de Bissau, Lisboa, Luanda, Macau, Maputo, Praia, Rio de Janeiro e São Tomé/Água Grande.

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existentes. Com a expansão de cidade de Luanda, a população do centro foi empurrada para a periferia, algo que deu origem aos musseques. A esta população juntaram-se os emigrantes vindos do interior, atraídos pelas melhores oportunidades económicas de uma Luanda em expansão, o que resultou num contínuo aumento da taxa de ocupação e da densidade populacional dos musseques. Um grande conjunto de musseques é o Cazenga que, por ser considerado distante e isolado, se manteve durante muito tempo com uma taxa de ocupação baixa em comparação com outros bairros da época. No final do período colonial, foi estimulada a instalação de população de origem europeia nas zonas periféricas da cidade, o que aconteceu também na então freguesia do Cazenga. A partir dessa altura, o Cazenga recebe melhoramentos urbanísticos destinados à sua melhor integração no tecido urbano da cidade de Luanda. O Município do Cazenga9 está situado a aproximadamente 7 km do centro da cidade. É um dos sete municípios que compõem a província de Luanda, situado numa região semiárida de clima tropical quente e seco, com uma estação chuvosa de novembro a abril e uma estação seca de maio a outubro, o Cazenga ocupa uma área de 39.064 km2 e é constituído pelas comunas do (Zona 17), Cazenga (Zona 18) e Tala Hady (Zona 19). É limitado, a Norte, pelo município do , a Sul pelos distritos de Kilamba Kiaxi e Rangel, a Leste pelo município de Viana e a Oeste pelo .

9 Para esclarecimentos quando me refiro com inicial maiúscula Cazenga – Município ou quando digo cazenga – comuna. Pois tem a comuna com o mesmo nome que o município. Comparado a Subprefeitura do Itaim Paulista e o Itaim Paulista distrito.

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Imagem 5. Mapa da Divisão administrativa da cidade de Luanda com destaque no Município do Cazenga

Fonte: Elaborado pelo Autor, com base no Mapa da (Development Workshop), 2016

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Através deste mapa podemos observar como se organizam as divisões político- administrativas. A articulação ou justaposição dos bairros se vê nos limites ou linhas que são ruas e avenidas visivelmente expressivas e distintas. As divisões territoriais chamadas de Municípios em Luanda são comparáveis em área ao que chamamos Subprefeituras em São Paulo. É importante salientar o nível de dependência política nos Municípios de Luanda – entender, portanto, que estão submetidos ao poder central, como acontece no caso das Subprefeituras paulistanas, cujos mandatários são definidos pelo Prefeito do Município de São Paulo. Assim como as Subprefeituras em São Paulo são repartidas em Distritos, os Municípios da Grande Luanda são divididos em Comunas. Tanto Distritos paulistanos como Comunas de Luanda são compostos de bairros, que podemos entender como a unidade populacional básica das duas cidades.

Tabela 3. Bairros do Município do Cazenga.

Comuna Bairros

Hoji Ya Henda Adriano Moreira, Ilha da Madeira Mabor, Santo António, São João e 11 de novembro Cazenga Angolano, Canivete, Cazenga Popular Comição do Cazenga, Cortumes, Tunga Ngô, Mabor Sonef, Mutopá, Terra Vermelha e 11 de novembro Tala Hady Cariango, Dr. Agostinho Neto Grafanil, Madeira, Kalawenda, Tala Hady e Vila flor

Fonte: Elaborado pelo Autor, com base no Atlas Fórum Cazenga, 2012.

Esta leitura da base física da cidade tem sido realizada a partir da identificação de algumas referências, entre as quais os limites entre suas partes (LYNCH,1997) que no cazenga é feita por ruas e 3 avenidas principais, a presença destes elementos lineares, em geral usados ou entendidos como vias pelo observador.

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Os limites do Cazenga são formados a Sul pela Avenida Deolinda Rodrigues ou estrada de Catete, ao Oeste Estrada do Tunga Ngo ou Estação dos Musseques, ao Norte a Estrada do Cacuaco, e ao leste a Estrada do desvio da Gamek ou estação do Gamek. Para os que não conhecem o município começa um retalhamento ilegível na escala local, são menos evidentes os limites em função de a organização espacial, resultante de ocupação descontrolada.

Imagem 6. Mapa do Município do Cazenga, suas Comunas e Limites

Fonte: Elaborado pelo autor com base no Mapa da (Development Workshop), 2015

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Como se pode notar, as ruas serviram como elementos definidores dos limites do Município do Cazenga, tanto interno como externo - visto de cima são muito claros e perceptíveis quando se observa o seu entorno. Nota-se em algumas partes do mapa a presença do afluente do rio Cambambe, entre as linhas ortogonais que compõem os bairros estruturados do Hoji ya Henda e em alguns pedaços do Tala Hady por serem antigas vilas operárias colônias. Mas só o Hoji ya Henda que possui quadras parcialmente organizadas, mas na maioria do Município do Cazenga há formas geométricas distintas umas das outras e com o mínimo de espaço entre elas, caracterizando assim as diferentes formas urbanas num único espaço, ou seja, o resultado da ocupação desordenada. Uma outra característica do Município são as suas Vias - com fachada ativa e uso misto, elas servem para toda e qualquer relação humana e suas experiências do cotidiano; a rua ou via não é simplesmente interpretada e usada como elemento físico de delimitação territorial mais como espaço de ensaios e execução de tarefas e atividades humanas. Tudo acontece nas ruas do Cazenga. Existem no Município dois tipos caraterísticos de vias. O viário ortogonal que estrutura o bairro, herdada do traçado original colonial, as ruelas e os becos resultante dos espaços residuais deixados entre as edificações construídas sem planejamento ou até mesmo de forma ilegal. O viário que estrutura o bairro, (Avenida Deolinda Rodrigues, Estrada do Cacuaco, Estrada da Pombal ou desvio do Gamek, avenida Hoji ya Henda, Estrada do Tunga Ngo, ou Estação dos Musseques) possui grande importância na configuração dos espaços do cazenga. É devido a ele que se pode ter uma legibilidade mais clara do ambiente construído. Elas possuem continuidade, de forma que se pode entrar e sair do território apenas cruzando uma delas. São confiáveis devido à facilidade de orientação, propiciando um sentimento de segurança ao cidadão que as percorre.

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Imagem 7. Avenida Deolinda Rodrigues ou Estrada de Catete

Fonte: Mauro Sergio, 2016

Esta é uma das avenidas principais se não a maior de Luanda, pelo seu grau de importância, por ela ser a via mais antiga que corta a cidade ao meio e por ligar o centro da cidade com outros municípios. Ela sofreu recentemente uma restruturação viária devido à expansão da cidade, mas como podemos observar, é ainda fragmentada. Por ser a via expressa mais usada ela tem dito regularmente um enorme engarrafamento e congestionamento de carros que pode vir a durar mais de três horas em dias de céu limpo, em dias chuvosos de quatro a cinco horas de congestionamento em catorze quilômetros. Mesmo com as importantes funções de permeabilidade e acessibilidade, em muitos casos a caixa de via não comporta o fluxo existente, ocasionando conflitos entre veículos e pedestres que devido à longa espera decidem ou caminhar a pé ou com seus veículos passarem pelas encostas ao pé da via que quase não se vê por estar por baixo de tanta areia vermelha. Algumas de suas calçadas foram invadidas por edificações, tanto comerciais como residenciais, fazendo com que o caminhar por elas seja sempre interrompido ou por uma edificação ou pelo trânsito de veículos.

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Imagem 8. Comércio invadindo a calçada na Avenida Deolinda Rodrigues ou Estrada de Catete Fonte: Autor, 2016

Por serem vias projetadas, têm características muito similares às vias da cidade regular, são pavimentadas e com dimensões razoavelmente favoráveis ao transporte tanto de pedestres quanto de veículos. São nestas vias que se dá a maior parte do acesso veicular do Cazenga. Essas vias são responsáveis por propiciar maior permeabilidade ao município, garantindo o acesso dentro e fora dele. É na margem deste viário ortogonal que se encontra a maior parte do comércio e serviços do município, são bares, salões de beleza, lojas de materiais de construção, mercados, feiras, industrias, supermercados. As edificações lindeiras a estas vias não possuem, em sua imensa maioria, ligações oficiais na rede pública de água e luz10, falha na sua distribuição equitativa.

10 Os que não tem água nas torneiras usam o chafariz ou tem reservatório subterrâneo, e quanto a luz elétrica eles fazem o que se chama localmente de gato.

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Imagem 9. Gerador na calçada para abastecer energia no Comércio e nas casas

Fonte: Autor, 2016

Imagem 10. Atividades variadas em plena Estrada de Catete

Fonte: Autor,2016

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Imagem 11. Conflito entre veículos e Transeuntes na Estrada da 10° Esquadra.

Fonte: Autor, 2016.

Nota-se que na maioria das ruas do Município a ausência de calçadas e pavimentação, e também uma copiosa ocupação das frentes das casas por veículos e negócios locais, é interessante esta relação dos transeuntes com a via e a rua e a maneira como se relaciona num único espaço de circulação. E nas vias que tem pavimentação e calçada elas ficam quase invisível, pois são cobertas por areia avermelhada que foi levantado pela poeira das vias de terrão avermelhada não pavimentada e isso causa um certo transtorno tanto para o fluxo do transito como para os transeuntes. Diminuindo assim a pouca qualidade de locomoção que estas vias já proporcionam. O segundo tipo de vias existente no cazenga são as Ruelas que é a denominação para as ruas ou vias estreitas com dimensão de passagem menores ou estreitas mais com continuidade, o terceiro tipo são os Becos que surgiram como resultante do crescimento desordenado e não planejado. Estes becos não possuem nomes oficiais, são nomeados pelos próprios moradores, que geralmente usam como referência algum marco ou acontecimento local ou por nele morar, alguém conhecido por todos. Estes têm em geral dimensões menores que varia de 1,50m – 1,80m, mas que no local entendem as necessidades de acesso e locomoção, para achar a rua ou para entrar na sua própria casa.

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Imagem 12. O beco como canal de circulação, lazer e serviço.

Fonte: Germano Miele, 2015

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No Beco acontecem vários tipos de atividades, afinal na maioria dos casos é tudo que liga suas casas com a rua ou por vezes com a avenida principal - o que pode ser interpretado como um labirinto é todo o espaço de ensaio das relações humanas que têm seus moradores. Além do acesso a suas residências, muitas atividades ali são desenvolvidas, como o lazer, vendinhas de subsistência entre outros. Então não é apenas um beco, é tudo que se tem. De acordo Dalia Katz, (2008) é difícil conceber o urbano sem o elemento da rua, por ser um dos logradouros públicos essenciais da forma urbana. Prova disso é a dificuldade de se tentar imaginar uma cidade sem vislumbrar a rua - sua importância pode ser percebida pela constatação da quantidade de atividades e significados para os quais servem de apoio. Nesse sentido, não é um espaço simplesmente destinado à locomoção e passagem, é um universo diversificado de eventos e relações, é o lugar do encontro, onde a vida social acontece, em que a sociedade se faz visível, o espaço da diversidade. No Cazenga, as ruas e demais vias descritas cumprem esta função de serem também os espaços de sociabilização de seus moradores, o lugar de lazer e ócio de seus habitantes. Tanto nas vias originais do Município como nos becos construídos pelos próprios moradores, é ali onde se pode perceber mais claramente a apropriação dos espaços pelos moradores. Existe uma apropriação do espaço de forma equilibrada.

Esta apropriação da rua como lugar de encontro, lazer e ócio pode servir como um indicador da qualidade do espaço. É comum, ao caminhar no Cazenga, principalmente aos finais de semana, encontrar um grande número de pessoas andando e se apossando das ruas. Os bares, mercados e cabeleireiros ficam cheios, há sempre pessoas na porta fitando o movimento. Muitas das vezes se transforma a rua em campo de futebol, uma massa de vizinhos e curiosos surge formando plateias ao redor.

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Imagem 13. Apropriação da rua, socialização e ócio.

Fonte: Osmar Edgar, 2015

O exercício da contemplação é intenso tanto na porta, varandas, quanto nas janelas das casas, (pois calçadas não existem na maioria das ruas internas do Bairro) de onde as pessoas vislumbram o ir e vir da vizinhança. O encontro com seu vizinho, colegas de escola, de trabalho, amigos, com o vizinho que faz os gatos e não passou em casa ainda, é o espaço de ensaio das relações humanas a rua não é só um canal de circulação. Pois nos musseques a rua vira casa, vira parque, vira creche, vira campo de futebol, vira lava rápido, vira mercado, vira feira, que vira rua, vira tribunal, vira estacionamento, que vira casa.

A rua como vimos, abarca distintas funções, e o lazer como atividade fundamental para a socialização encontra nela seu principal lugar para o desenvolvimento da ação comunicativa. É a apropriação criativa de espaços inusitados que possibilita o desenvolvimento do lazer na rua, já que o espaço é flexível e oferece infinitas possibilidades de uso. (SANTOS, Carlos, 1985, pag.1 30)

Assim como os becos a maioria das ruas não tem nome oficial, cabe aos moradores mais antigos por vezes dar o nome da rua ou simplesmente surge em vista de um acontecimento ou fato. Embora as ruas concentrem uma massa de moradores, continuam anônimas.

Os pontos Nodais pontos nodais são pontos de encontro, de concentração de pessoas, atividades, diversidade, é a representação máxima da apropriação espacial. São os locais criados e produzidos pelos munícipes, e que servem

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como espaços de troca. No cazenga por exemplo ó campo de futebol denominado campo da areia, é um ponto nodal tradicional do município. Que por sinal um dos poucos campos que restam em Luanda devido à valorização da terra e a especulação imobiliária.

Imagem 14. Campo de areia

Fonte: jornal o Golo. Disponível em: < http://benigno.com.br/ogolo/>. Acesso 5 de Jul. 2016

Aos finais de semana a população se reúne em volta do campo para assistir ao campeonato de times locais ou visitantes todos em volta do campo, visto que ele está inserido dentro do bairro. É fácil notar a importância do campo da Areia para a população do Cazenga por ele se manter estas décadas todas. As edificações a seu redor respeitam os limites do campo e jamais o invadem, visto que foram os próprios moradores e a associação comunitária local que em comum consenso decidiram ter um campo na década de 70 há algumas edificações que compartem seu muro com o campo. Tem também um mercado informal nas proximidades do campo a praça das pedras, ou você faz compras ou assiste ao jogo.

As igrejas também constituem importante ponte nodal no município visto que congrega uma boa parte da população, aos domingos de manhã até ao meio dia

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e aos sábados, e por vezes com cultos durante a semana. Outros pontos nodas importantes são os bares, (estes costumam ser em trailer- Roulotes), em Salão de cabelereiro, onde a juventude passa horas e horas jogando cartas, dama, não te irrites entre outros jogos típicos de Luanda.

Imagem 15. Roulotes (trailer- bar) onde os jovens passam boa parte do tempo nos finais de semana

Fonte: Autor, 2016

O Cazenga possui um marco, o monumento histórico de 4 de fevereiro, que representa a luta de libertação nacional contra o colonialismo em 1975. Mas a história que traz este roteiro data de antes de 1961, quando os homens que protagonizaram o 4 de fevereiro começaram a preparar-se para tomar de assalto cadeias, esquadras da Polícia e outros pontos estratégicos do poder colonial português em Luanda. O treino sobre manejo de catanas, ou sobre como desarmar sentinelas começou por ter lugar, segundo os participantes no movimento, em Cacuaco. No entanto, alertados por supostas infiltrações da secreta portuguesa, acabaram por transferir a base de treinos para um descampado no Cazenga.

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Imagem 16. Monumento do Marco histórico 4 de fevereiro.

Fonte: Autor, 2016

A 19 de Setembro de 2005, no antigo campo de treinos, foi inaugurado o Marco Histórico 4 de Fevereiro, em honra dos heróis que nunca mais esqueceremos. Com 24 metros de altura, o monumento relembra os acontecimentos da “Revolução das Catanas”, como ponto de partida efetivo para a independência, mais de 14 anos depois. Duas estátuas de seis metros simbolizam os comandantes Paiva Domingos da Silva e Imperial Santana, empunhando catanas em posição de ataque. O nome destes homens, assim como de outros que participaram no 4 de fevereiro, estão inscritos em placas de bronze. Completam o memorial três painéis em alto e baixo relevo que mostram os assaltos às cadeias e esquadras.

Além de lugar de memória, o Marco Histórico do Cazenga é hoje um ponto de reunião, de celebrações, de atividades políticas e desportivas. Conta com uma Midiateca e um Centro de Inclusão Digital onde os jovens podem ter acesso livre à internet, imprimir documentos e onde se dão cursos rápidos de informática.

Ele também serve como um ponto de referência do Cazenga, é um elemento físico. Elemento de continuidade urbana para os que conhecem melhor a cidade e os que querem conhecê-la. É também a representação simbólica da história do lugar, acarretando estado de espirito, momento, um elemento visível a partir

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de outros lugares ou pontos da cidade, que simplesmente cria contraste local com os elementos vizinhos. O marco 4 de fevereiro também pode ser como sentido de direção para os moradores e transeuntes, ajudando-os a se localizarem melhor. Visível a partir de qualquer ponto da cidade. Permitindo uma localização espacial entre o habitante e o bairro, proporcionando ao indivíduo sentido, direção que ajuda na tomada de decisão quanto ao trajeto a seguir. Para os mais familiarizados com a cidade, que confiam no marco do Cazenga como assim conhecido serve de guia ficando mais fácil se locomover no bairro ou dar informação taxativa sobre um endereço ou local.

Lynch (2006), afirma que estruturas com pontos nodais, definidos por limites, atravessados por vias e salpicados por marcos definem um o Bairro. Devemos levar em conta que cada bairro tem suas características que o diferenciam de outros, uma coisa do lugar que o torna singular. Outros, por vezes, se assemelham nas suas caraterísticas físicas temáticas; cores, textura, espaço, detalhe, habitantes, símbolo, estado de conservação, atividades, topografia, tipos de construção, forma e no uso. O Cazenga é um município com bairros extrovertidos por ter direções claras e com ótima definição de ligação com a cidade, (como o Cariango), mas também tem bairros introvertidos voltados para si, não estabelecem relação com a cidade, (como o bairro da Madeira). É infinita a variedade de componentes temáticos do Cazenga. Por ser unidade temática que estabelece o contraste claro de um bairro em relação ao outro. Frisei acima que a maioria das ruas não são nomeadas diferente dos bairros que todo tem nomes oficias e convencionais, pois ajudam na identificação dos mesmos. Ele tem suas caraterísticas peculiares que compõem sua paisagem urbana que descreve seu cotidiano dinâmico. A real complexidade de seus conflitos urbanos vai além de suas caraterísticas físicas. Mesmo existindo uma inter-relação entre os elementos e o espaço, a realidade que se vive no Cazenga é de que uns bairros são dotados de equipamentos púbicos, saneamento básico, infraestruturas e outros sem. Os conflitos urbanos no Município do Cazenga vão desde a demanda populacional à falta de Água potável nas torneiras, Saneamento básico, a falta de tratamento dos Resíduos sólidos, déficit habitacional educação e saúde. Existe uma base econômica e política na ocupação dos espaços urbanos na Cidade de Luanda, e um isolamento de grupos econômicos diferentes. Não só como resultado de um processo do mecanismo industrial moderno, mas como exclusão involuntária da massa. Podemos até ver os conflitos urbanos como um estado de espirito de uma época, uma história, um padrão de relações entre grupos humanos, um espaço de produção do padrão espacial dos objetos físicos; ruas, edifícios, rios colinas e

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bairros. O atrito entre dois ou mais grupos sociais em relação aos direitos urbanos enfatizando as problemáticas da infraestrutura, serviços e ocupações sociais, saúde, educação, moradia, transporte, segurança. Mas, ``A pobreza não é colorida mesmo quando interpretada como arte. ´´ Os 24 bairros do Cazenga vivem em constante mudança. Mais de 100 pessoas se mudam para Cazenga todos os dias – cerca de 50.000 por ano. Ao mesmo tempo em que a chegada de novos moradores gera oportunidades para a economia local, a expansão populacional traz também pressões crescentes sobre os seus conflitos e os serviços básicos. (DW, 2012)

Imagem 17. Gráfico da população de cazenga

Fonte: Atlas Fórum Cazenga, 2012

Na década de 90, o Cazenga já foi o Município mais populoso de Luanda hoje com uma população de quase 838 mil habitantes fica atrás apenas de Viana, Kilamba Kiaxi e do Cacuaco.

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Imagem 18. Pirâmide etária da população do cazenga

Fonte: Atlas Fórum Cazenga, 2012

Como se pode notar Cazenga tem uma população maioritariamente jovem, onde mais de um terço dos moradores é masculina. (DW, 2012)11 Isto significa que uma grande parte da população jovem cresceu, e terá que ter competências necessárias para encontrar emprego (Educação). A fim de sustentarem suas famílias, pois Angola é um pais onde a maior parte das mulheres são submissas e dependentes, tradicionalmente em algumas partes do País a poligamia é encarada como ato natural do ser humano a mulher não tem voz. Para isso é preciso que se crie uma política educacional consistente para a libertação dos gêneros e para uma sociedade melhor. Porque a provisão inadequada de escolas no Cazenga hoje significa que vai ser ainda mais desafiante satisfazer as necessidades das crianças no futuro. Obter uma boa

11 DW (Development Workshop) é a ONG mais antiga em Angola e trabalha por muitos anos no contexto de uma crise humanitária prolongada e complexa. Em Angola tem focos paralelas; nas comunidades Peri-urbanas, onde o fornecimento de infraestruturas, serviços básicos e desenvolvimento econômico da comunidade continua a ser um sério desafio, e no apoio à reabilitação de infraestrutura social e apoio aos processos de liquidação e infraestrutura social para as comunidades no planalto central e as províncias de Cabinda e Luanda. Com mais de três décadas de pesquisa e prática em Angola, DW tem sido capaz de oferecer lições para replicação e influenciar as políticas públicas em sectores de posse da terra, habitação, abastecimento de água e redução da pobreza.

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formação em todos os níveis – pré-escolar, ensino primário e ensino médio – é necessário para o acesso ao trabalho na vida adulta. Mais espaços educacionais são necessários no Cazenga, incluindo creches como a que Dona Maria mantém para 145 crianças. (DW, 2012)

Imagem 19. Creche comunitária da Dona Maria

Fonte: Atlas fórum Cazenga, 2012.

A prática de transformar quintais das casas em creches é muito comum no Cazenga. Tem sempre uma vizinha que cede seu quintal para fazer uma creche e acolhe os filhos dos vizinhos que saem para trabalhar, uma prática comum generosa e de aquisição de renda para quem cria a creche. Pois o Município carece de creche públicas, e mesmo os espaços existentes também precisam de investimentos – quarenta e sete por cento das escolas públicas do Cazenga necessitam de reparação. (DW, 2012)

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Imagem 20. Crianças fora do sistema escolar

Fonte: Atlas fórum Cazenga, 2012

De acordo a DW (2012) mais de 71.890 crianças estão fora do sistema escolar e 267.448 estão em idade escolar (829.200, dados da pesquisa). O leque de estimativas do número de estudantes que vão entrar no sistema de ensino nos próximos cinco anos é muito grande – 106,979 a 332,160 crianças. Ao passo que 47% das escolas precisam de reabilitação para melhor atender a população. De um lado e por outro a maioria das escolas do Município são colégios particulares, que levante a seguinte questão: Como os Pais vão poder dar um futuro melhor para seus filhos se a ausências de escolas públicas para atender a demanda populacional, visto que os pais estão ou desempregados ou ganham pouco? Isso justifica o porquê do comércio informal nas portas das casas e as creches nos fundos dos quintais e um bom número de crianças fora da escola.

Imagem 21. Tipos de equipamento educacional do Cazenga

Fonte: Atlas fórum Cazenga, 2012

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Uma outra prática recorrente são as chamadas explicações, que é o ato de alfabetizar e dar aulas aos meninos do bairro cobrando uma taxa mensal simbólica, o espaço na maioria das vezes é cedido pelo professor uma pela família dos alunos a fim de alfabetizar os petizes que não tem idade para ir à escola ou que não conseguiram vaga no sistema público nem tão pouco o particular. A habitação passa a aderir a vários usos de acordo as necessidades e circunstâncias. A habitação é um fato urbano12 caraterístico do Cazenga. Essa imigração descontrolada e em massa para o Cazenga resultou na vulnerabilidade física derivada da alta densidade populacional, superlotação nas habitações. As famílias são numerosas em média 9,3 pessoas por habitação, (Luanda tem uma média de 7,5 pessoas por habitação). Tem tido também um aumento de moradias que se situam em áreas vulneráveis perto de lagoas e canais. Existem, por exemplo, 1,950 casas situadas em áreas de risco que inundam. (DW, 2012)

Imagem 22. Casas ao lado do córrego dos comandos Fonte: Autor, 2016

12 Aldo Rossi em seu livro arquitetura da Cidade descreve como fatos urbanos determinar a realidade visível da cidade, ou melhor, para visualizar os diferentes existenciais da cidade.

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Existem 1.950 casas construídas sobre ou próximas a córregos, valas, lagoas e próximo a CFL13 no Cazenga, o que significa 13.600 pessoas vivendo em áreas de risco. Como se pode notar existe uma tentativa de intervenção por parte do governo local para estancar está vulnerabilidade física exposta aos moradores locais. (DW, 2012)

Imagem 23. Casas ao lado linha ferroviária da CFL. Fonte: Autor,2016

13 O Caminho de Ferro de Luanda com 424 km de comprimento e uma largura de 1067 mm, liga Luanda, a capital de Angola, a Malanje. Foi construída pela administração colonial portuguesa nesta região densamente povoada para o transporte de passageiros e de mercadoria. Depois de grande parte da sua extensão ter sido destruída durante a Guerra Civil Angolana, a linha foi reconstruída com recurso a empresas chinesas e indianas. O estado de Angola comprou na Índia locomotivas diesel e vagões para viabilizar o serviço ferroviário que foi retomado em inícios de 2011.

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Imagem 24. Habitaçoes dos mais pobres no Cazenga

Fonte: Carla Carisa, 2015

Imagem 25. Habitação característica do cazenga, autoconstrução em alvenaria e o portão em chapa de zinco galvanizado.

Fonte: Carla Carisa, 2015

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É gradativo o processo de construção dessas habitações no cazenga. Primeiro se constrói um quarto, depois uma sala, e depois mais quartos. Construir por partes é uma estratégia adotada por muitos moradores do Cazenga, porque isso lhes permite erguer suas casas de acordo com suas necessidades e suas possibilidades financeiras, que mudam constantemente. E na maioria dos casos, quando a pessoa se casa e o número na família aumenta um quarto apenas se torna suficiente para a família. Então és a necessidade de se a ampliar a casa.

Construir as casas ao longo do tempo dá mais liberdade para gerir as economias domésticas e os investimentos na residência. Permanecer sempre no mesmo local também permite às pessoas beneficiarem-se das redes familiares e da proximidade com o emprego por morar a 5 km do centro da cidade. Existe alguns programas de crédito a habitação mais os juros são muitos altos e abusivos então a maior parte da população recorre a informalidade14 de crédito que é pedir empresta a um amigo ou parente próximo com ausência de juros ou a redução dos mesmo uma prática generosa e constante. Os blocos são feitos no próprio terreno ou num terreno baldio próximo e para os que tiverem mais condições financeiras compram de um revendedor. Estas habitações multifacetadas, como se frisou acima, atendem a várias atividades não apenas o morar ou habitar. A hierarquia dos seus espaços e defino pelo grau de importância. Um desses espaços é quintal onde maioria as atividades são realizadas, onde a família se encontra, onde se estende a roupa, onde se faz a horta, onde se cozinha, onde se faz os pequenos negócios locais, onde acontecem as creches, as explicações. O quintal é um espaço flexível. É um aspecto tradicional nas famílias Angolanas onde tudo é voltado para o quintal, que passa a dotar um grau de importância nas habitações. Em sua maioria, os quintais são cobertos (são chamados de marquise) e outros em open space; os muros são em alvenaria tradicional ou em chapas de zinco, e quem não tem dinheiro para vedar o quintal projeta um pouco recuado da rua como se fosse um hall.

14 O informal no caso recorre as práticas de arrecadar dinheiro por meio de familiares, parentes ou amigos, para se conseguir o que se quer, na pior das hipóteses os juros são menores ou até mesmo isento, dependendo do grau de intimidade e confiança.

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Imagem 26. Dois tipos de Muro caraterísticos do Cazenga, o de chapa de zinco e outra de alvenaria convencional, marquise

Fonte: Autor, 2016

Imagem 27. O quintal e suas várias utilidades. O freezer que é usado para vender água gelada e bebidas

Fonte: Carla Carisa, 2015

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As políticas habitacionais existentes em Luanda carecem de certa consistência, embora numa tentativa desesperada o governo tenha implementado programas de micro finança, credito a habitação e posse de terras. Onde o pobre é obrigado a pagar taxas de juros extremamente altas no mercado paralelo com período de pagamento muito curto, deixando-o com dívidas prolongadas. Estamos perante um desafio econômico, em que é discutível que os pobres constituem risco por não possuírem garantias, seus terrenos e casas não reconhecidos como sua propriedade, portanto não podem ter acesso à linha de credito, sem escolha o pobre recorre ao mercado informal. A falta de Saneamento adequado faz do cazenga uma “Veneza precária”, onde constantemente as enchentes, causadas pela chuva, e entupimento dos esgotos (ou a falta de rede de esgoto) e o acúmulo do lixo, tomam conta do município as ruas ficam inacessíveis e as casas imersas na água. Pessoas expõem-se ao risco de inundações e desastres naturais, principalmente quem vive nas ocupações próximas das valas de córregos e lagoas.

Imagem 28. Famílias sem acesso a saneamento básico Fonte: Atlas Fórum Cazenga, 2012

É alarmante a falta de estrutura sanitária no cazenga: 92% das casas não tem saneamento básico. Somando isso e multiplicando as vezes em que chove

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copiosamente, Cazenga flutua sobre as águas insalubres. Em 2004 - 2006 o Programa de Saneamento Comunitário, construiu latrinas e fossas sépticas e instruiu os moradores sobre seu uso. De acordo o Development Workshop (201200), a instalação das latrinas foi em quase todo Cazenga nos respetivos anos, com apoio do governo local, Igrejas, Escolas, e Ongs, vizinhos se estimulando uns aos outros juntos trabalharam para construir e orientar os moradores sobre a higiene pessoal e coletiva, saúde e o bem-estar de todos. Com isso a ocorrência de doenças reduziu.

Imagem 29. Localização dos Chafarizes e latrinas em Luanda

Fonte: DW. Disponível em: acesso em 31 Agost, 2016

O mapa mostra a quantidade de chafarizes que tem o Cazenga e a distância entre eles e a massa populacional, não é a esmo que os moradores saem do cazenga para acarretarem água nos bairros vizinhos. Hoje em dia surgiu uma pratica de armazenamento de água no que é chamado de tanque de água um reservatório subterrâneo. Onde na qual o dono usa para o consumo de sua família e para venda na população.

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Imagem 30. Inundação das ruas após um dia chuvoso, Veneza ou Cazenga?

Fonte: Carla Carisa, 2015

Imagem 31. Fila no chafariz, geralmente os moradores madrugam para conseguir um lugar

Fonte: Autor, 2016

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Em contrapartida da abundância de água nas ruas, falta agua na torneira da maioria da população do município. Para isso foi criada a AMOGECS um comitê de moradores que se voluntariam para gerir os chafarizes e a distribuição de água nos seus bairros. Elas contribuem para selecionar a localização dos chafarizes e assegurar a sua manutenção para que os moradores possam ter acesso à agua. O projeto promove o acesso aos serviços sociais de base através da melhoria da eficiência e eficácia da entrega de serviços prestados pelas associações de moradores na área da água ao nível urbano (e Peri-urbano) através da constituição/reforço das Associações de Moradores para a Gestão de Chafarizes Comunitários.

Imagem 32. Morador saindo do chafariz a busca de água

Fonte: Edvaldo dos Santos, 2015

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A população madruga para chegar cedo nos chafarizes e conseguir um lugar de destaque para assim puder acarretar água e na maioria das vezes só tem direito a uma vez, com isso quanto mais membros da família for melhor para se conseguir o maior número de galões15 para a subsistência da família por dois ou três dias. A prática da recolha do lixo regular no Cazenga está ajudando a quebrar o ciclo do descarte inadequado do lixo em espaços públicos, que cria riscos para a saúde e a segurança. O acúmulo de lixo nos espaços públicos gera impactos para a saúde que alcançam também as residências, locais de trabalho e espaços comerciais.

Imagem 33. O lixo se apossando do beco

Fonte: Carlos Gomes, 2015

15 Ou como se chama localmente “Bidon’’. Estes servem para acarretar água e para o armazenamento também. Geralmente eles são desocupados assim que se chega em casa para uma possível brecha de se procurar água em outro lugar.

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Imagem 34. Iniciativa da população para sensibilizar os morados

Fonte: Mauro Sérgio, 2015

Houve também uma campanha de sensibilização sobre os resíduos sólidos que também é outro problema no município, pois do pouco saneamento que se tem a proliferação do lixo (doenças) contribui para o entupimento da tubulação e a enchente nas ruas que quase ficam intransitáveis.

Imagem 35. O uso de tijolos ou blocos encostados nos muros ou a bota de chuva

Fonte: Elaborado pelo autor com base no Vê Só Cazenga, 2016

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O programa de Recolha de lixo envia os recolhedores pelos bairros para recolherem o lixo, assim evitando (o acumulo do lixo) que os moradores levassem o lixo até o ponto como era noutrora. Pois estava em risco a saúde e o bem-estar da população devido à alta taxa de mortalidade por doenças causadas por mosquitos devido ao lixo e águas paradas.

Imagem 36. O uso de tratores nas ruas estreitas e acidentadas da região.

Fonte: Atlas Fórum Cazenga, 2012

Imagem 37. O acúmulo de lixo na estrada da BCA

Fonte: Autor, 2016

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É o retrato de uma realidade epidêmica, pois o município carece de hospitais e centros de suades, visto que a maior parte da população é pobre e não consegue pagar um uma clínica privada.

Imagem 38. Localização dos Equipamentos de saúde no município do Cazenga

Fonte: Atlas Fórum Cazenga, 2012

Como se nota no mapa, existem três hospitais para cada comuna do cazenga para atender uma população de quase 863 mil habitantes. Os coordenadores das Escolas e creches locais também afirmam que menos crianças têm chegado à escola com a febre característica da malária. Boas condições de saúde têm uma relação direta com o potencial das crianças terem sucesso educacional, com amplo impacto de longo prazo para o Cazenga. Os programas municipais de saúde devem continuar a coordenar esforços com as organizações comunitárias e escolas para uma melhora na suade e bem-estar dos moradores. (CAZENGA, Atlas, 2012)

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Imagem 39. A zungueira é o ícone da mulher guerreira das ruas de Luanda

Fonte: Marcelo Frota, 2015

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Zungueira

É zungueira é zungueira é zungueirauwe

como lhe chamam na banda

é peixe é peixe senhora

é laranjee

tem boa roupa para agora e

sapato para o seu pé

é zungueira é zungueira é zungueira

como lhe chamam na banda

veio fugida do mato, percorrendo a cidade com fé

no seu canto com pranto alto procura ganhar

o seu kibeu

é zungueira é zungueira é zungueira

como lhe chamam na banda

já teve tanta riqueza que a vovó lhe deixou

para viver

mas com a guerra veio a pobreza que ela

apenas quer esquecer

é zungueira é zungueira é zungueira

como lhe chamam na banda

quis entrar para faculdade e não

assimilou a academia

pediu um voto a cidade para amanhã

poder ser rainha

é zungueira é zungueira é zungueira

como lhe chamam na banda

Banda Maravilha

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Uma outa relevante caraterística peculiar e tradicional é a prática de vendinha que reflete o cotidiano do Cazenga, (e na maior parte da cidade e do País) são as conhecidas como Zunga, estas zungueiras16 andam pelo bairro e vivem desse serviço, alternativo. Outros grupos de mulheres estabelecem em suas próprias ruas o comercio informal da venda de diversos produtos. Quando cansam, param e se sentam nas encostas nas ruas onde amamentam seus bebés e tiram alguma fruta dos seus alforjes para se alimentarem. Às vezes é numa esquina movimentada, mas já vi uma zungueira em pleno centro da cidade parar num calçadão, baixar seu balaio de peixe salgado e ressequido e dar meia fruta para o filho pequeno que se lambuzava, por isso nessa minha breve leitura contento-me em apenas analisar o episódio a plasticidade da cena e seu significado. A zunga é a atividade que mais absorve jovens angolanas pobres, geralmente mães solteiras, algumas recém-saídas da adolescência. Esta Atividade é sempre vítima de violência da polícia e que afirmam a falta de legalidade da atividade em algumas áreas da cidade, a mulher zungueira é exemplo de dignidade. Essas zungueira oferecem produtos como roupas de, batas e peças inteiras de panos multicoloridos, ricamente estampados com figuras africanas e linhas geométricas. Elas caminham o dia todo, sob o sol escaldante. É absolutamente incrível a capacidade da zungueira em equilibrar sobre a cabeça balaios, sacos, cestos, bacias e sacolas onde transportam as mercadorias que vendem. Além dos filhos pequenos, que carregam nas costas, atados pôr panos que amarram na frente à altura do peito. Milhares de zungueiras percorrem a cidade, o dia todo, de um ponto a outro de Luanda, arriscando-se muitas vezes em meio ao tumultuado trânsito. É habitual a venda, na porta de casa, de milho, banana e amendoim, vindos direto do campo, assados em fogareiros é uma forma de trabalho peculiar (também presente na maior parte de Angola), também podemos encontrar as costureiras ao ar livre, que não contam com uma oficina ou espaço protegido para sua atividade produtiva. Em suma a venda se apossa das ruas, dos muros, dos quintais, para estas atividades de vendinhas permanente.

16 As zungueiras são mulheres que estão “na zunga”, expressão usada para se referir aos vendedores ambulantes, que andam de rua em rua de porta em porta vendendo seu produto.

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Imagem 40. Comércio nas Bancadas na porta das casas ao longo da rua.

Fonte: Vê Sô, 2015

Imagem 41. Aposentada vendendo assados

Fonte: Marcelo Frota, 2015

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Imagem 42. O Muro como elemento para exposição dos produtos à venda na rua

Fonte: Mauro Sérgio, 2016

Imagem 43. Alfaiataria da dona Fató no quintal de sua casa de frente para a rua

Fonte: Mauro Sérgio, 2016

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A Subprefeitura do Itaim Paulista está localizada na região leste do município de São Paulo às margens do rio Tietê e da antiga estrada SP-RJ17, é composto por dois Distritos o Itaim Paulista e Vila Curuçá. Faz divisa ao norte e ao oeste com a subprefeitura de São Miguel Paulista, a sul com a subprefeitura de Guaianazes e com o município de Ferraz de Vasconcelos, ao sudoeste com a subprefeitura de Itaquera, ao leste com o município de Itaquaquecetuba, e ao sudeste com o município de Poá. Está a 40 quilômetros de distância do centro histórico da capital, a predominância de terra barata atraiu a população de baixa renda para a região. Assim como no Município do Cazenga, foi feito o estudo etnográfico urbano no Itaim Paulista para poder ajudar o pesquisar a compreender os conflitos e potencialidades do Itaim Paulista - os dias estavam ensolarados e saíram ótimas fotos e análises que registram a riqueza e complexidade dos espaços coletivos, das formas de moradia e da cultura do bairro. Pois é na escala local que os desafios e a relação desses problemas podem ser identificados. Como se deu a emigração no município do Cazenga, podemos encontrar no Itaim Paulista muitos descendentes de outros países e regiões do Brasil, que se mudaram para cá em busca de melhores condições de vida. Depois dos portugueses vieram os italianos, os japoneses e os húngaros. Mais tarde, os migrantes nordestinos, hoje maioria no Itaim.

A região do Itaim começou a receber seus primeiros moradores apenas no final do século18. Com a chegada da Ferrovia Estrada do Norte, antiga Central do Brasil, no século 19, o bairro começou a se desenvolver com as casas surgindo ao longo das margens dos trilhos. Em 1957 o Itaim Paulista ganhou sua primeira paróquia, a de João Batista. Juntamente com o desenvolvimento econômico, o Itaim conquistou sua emancipação política. Em 1980 a região foi elevada à condição de distrito autônomo, se desmembrando de São Miguel Paulista. Segundo Constantino Sava Kipriadis Filho - Coordenador de Planejamento e Desenvolvimento Urbano - Subprefeitura do Itaim Paulista, a região noutrora era parada das tropas no percurso São Paulo – Rio, que saíam do centro e paravam em São Miguel e no Itaim para fazerem o descanso e retomar o trajeto. O Itaim Paulista teve um desenvolvimento próprio, tem um comércio próprio, as pessoas vivem e trabalham ali embora não tenha tantos empregos para atender à demanda, mas tem sua infraestrutura informal que de certo modo sustenta parcialmente os seus moradores. Tem sempre em cada esquina um lugar onde se pode parar abastecer e tomar um café, mas se tem a necessidade desses corredores para estimular os comércios maiores para maior desenvolvimento

17 Leito da atual Avenida Marechal Tito, que é a mais importante referência urbana (elemento estrutural regional, assim também como a linha férrea).

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sócio econômico do bairro. Podemos considerar o Itaim Paulista como uma centralidade periférica.

Imagem 44. Mapa da Divisão Administrativa do Município de São Paulo e seus Distritos

Fonte: Elaborado pelo autor com base no Mapa da SMDU, 2015.

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Imagem 45. Mapa da Subprefeitura do Itaim Paulista, seus Distritos e Limites

Fonte: Elaborado pelo Autor com bases da PMSP (Mapa Digital de São Paulo), 2016

Através destes mapas acima podemos observar as divisões políticas administrativas, a forma como se organizam espacialmente as estruturas. A articulação ou justaposição dos bairros, cujos limites ou linhas são feitas a partir de ruas, córregos e avenidas visivelmente expressivas e distinta. O município tem 32 subprefeituras, as divisões territoriais da Subprefeituras do Itaim Paulista são visivelmente delimitadas por vias e ruas que, nos ajudando assim na leitura do espaço em escala local. De acordo Lynch as ruas, e rios podem servir como referências definidoras dos limites de um determinado território, tanto os limites externos como os internos, definindo diferentes setores ou bairros. No Itaim Paulista as ruas (Avenida Marechal Tito, a Avenida Córrego Três Pontes e a Avenida Itaquera) e os seis córregos no sentido norte –sul que deságuam no rio Tietê, são eles: Itaquera- Itaqueruna, Água Vermelha, Lajeado, Itaim, Tijuco Preto e Três Pontes constituem os elementos definidores, que estabelecem uma fronteira, um limite entre os bairros e assim também como a separação deles.

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Os limites são os elementos lineares não usados ou entendidos como vias pelo observador. São as fronteiras entre duas fases, quebras de continuidade lineares: praias, margens de rio, lagos etc., cortes de ferrovias, espaços em construção, muros e paredes. São referências laterais, mais que eixos coordenados. Esses limites podem ser barreiras mais ou menos penetráveis que separam uma região de outra, mas também podem ser costuras, linhas das quais duas regiões se relacionam e se encontram. Ainda que possam não ser tão dominantes quanto o sistema viário, para muitos esses elementos limítrofes são importantes caraterísticas organizacionais, sobretudo devido ao seu papel de conferir unidade a áreas diferentes, como no contorno de uma cidade por água ou parede. (LYNCH, 2006, p. 52)

Imagem 46. Córregos que delimitam o Itaim Paulista: 1- Itaquera-Itaqueruna, 2- Água Vermelha, 3- Lajeado, 4- Itaim, 5- Tijuco Preto e 6- Três Pontes

Fonte: Elaborado pelo Autor com bases de São Paulo (cidade), 2016

Esta delimitação pelos córregos e pelas ruas e avenidas constituem suas divisas, que possibilita perceber que há quadras separadas entre si por espaços que podemos entender como limites em escala local.

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Essas seis micro-bacias que conduzem as águas, mas em tempos chuvosos formam os pontos mais críticos de drenagem, lugares onde o acúmulo de lixo é acentuado provocando um aumento do nível de água, redução do potencial de escoamento e aumento das inundações nas construções irregulares próximos aumentando o risco da zona, de acordo senhor José morador (na rua Manuel Barbalho de lima com a Avenida Marechal Tito) nas encostas do córrego do lajeado a água chega a subir dois metros na parede de sua casa e toda vez reconstrói o muro.

Imagem 47. Vista do Córrego do lajeado na rua Ipê roxo com a Dom João Nery

Fonte: Autor, 2015

A malha viária estruturante dificulta o acesso os moradores aos seus locais de comércio, serviços e equipamentos de educação e saúde por falta de continuidade e de alternativas no sistema viário entre os bairros no sentido Leste- Oeste. Existe uma ou outra ligação dos bairros com as vias coletoras na direção norte-sul, e em consequência disso a avenida Marechal Tito fica subcarregada por ser a única via estrutural com traçado para direção leste oeste.

No centro do Itaim Paulista essa malha viária conserva seu desenho original como o caso do jardim dos ipês, o que facilita a existência de centralidades e ajuda a consolidar a ocupação. Já em outras regiões próximos aos córregos, o

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desenho se descaracterizou completamente, a malha perde partes de seu desenho original, é o caso das favelas, jardim Jaraguá (próximo a vendida do ipê roxo e a estrada dom João Nery), Jardim campus II, Bartira, a malha viária se desfez devido à erosão e fragmentação e os labirintos.

Imagem 48. Sistema viária estrutural do Itaim Paulista

Fonte: Elaborado pelo Autor com mapa base da SMDU de São Paulo (Cidade), 2015

O Itaim Paulista tem cinco tipos distintos de vias, o viário estruturante, que são as Avenidas principais, as vias distribuidoras, vias coletoras e os becos e vielas que configuram espaços residuais deixados entre as edificações, construídas sem planejamento. As Avenidas principais, distribuidoras, coletoras, possuem grande importância na configuração dos espaços do Itaim Paulista, é devido a elas que se pode ter uma legibilidade mais clara do ambiente. Na maioria dos casos elas são lógicas por seu não paralelismo e descontinuidade, de forma que se pode entrar e sair do território apenas cruzando certas vias. São confiáveis devido à facilidade de orientação, propiciando um sentimento de segurança ao cidadão que as percorre. São pavimentadas e com dimensões razoavelmente

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favoráveis ao transporte tanto de pedestres quanto de veículos. São nestas vias que se dá a maior parte do acesso veicular do Bairro, incluindo micro-ônibus, ambulâncias, entre outros.

Por estes fatores, essas vias são responsáveis por propiciar maior permeabilidade nos bairros, garantindo o acesso dentro e fora dele. É na margem deste viário estruturante que se encontra a maior parte do comércio e serviços; bares, salões de beleza, lojas de materiais de construção, mercados, vendinhas, recauchutagens correios (embora poucos). As edificações lindeiras a estas vias possuem, em sua imensa maioria, ligações oficiais de água e luz. Mesmo com as importantes funções de permeabilidade e acessibilidade, em muitos casos a caixa de via não comporta o fluxo existente, ocasionando conflitos entre veículos e pedestres. Algumas de suas calçadas foram invadidas por edificações, tanto comerciais como residenciais, fazendo com que o caminhar por elas seja sempre interrompido ou por uma edificação ou pelo trânsito de veículos.

De um lado e por outro a maioria das vias estruturantes (como a Tibúrcio de Souza e a estrada Dom João Nery) são todas verticais. Há uma necessidade de se ter algumas vias horizontas (continuidade) que cortam o Itaim Paulista, não a procura de uma malha ortogonal, mas para melhorar a mobilidade, circulação, e acesso, do sistema viário do Itaim Paulista.

Imagem 49. Avenida Marechal Tito

Fonte: Autor, 2016

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Imagem 50. O Trânsito na Avenida Dom João Nery com a Avenida Marechal Tito

Fonte: Autor, 2016

O viário estruturante do Itaim Paulista não comporta a totalidade da circulação veicular e parte de pedestres. O fluxo de veículos é intenso como no caso dos pontos da Estrada Dom João Nery na altura da Rua Gerônimo Barbosa da Silva, as calçadas foram ocupadas por construções, veículos e comércio informal, fatores que tornam o espaço confuso e dificultam a locomoção.

Tanto é que com o objetivo de melhorar a estrutura do transporte público na região leste da cidade, a Prefeitura de São Paulo, recentemente, elaborou um importante projeto de ligação entre o terminal de ônibus de São Mateus e a estação de trem do Itaim Paulista. Este projeto prevê a construção de um terminal de ônibus junto à estação de trem. Para a construção deste terminal é necessário a desapropriação de um conjunto de imóveis que fazem parte de um setor de comércio consolidado da região. A medida causou o descontentamento dos comerciantes locais que tem procurado o poder público para encontrar soluções para o conflito.

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Imagem 51. Veículos e o comércio tomando conta da calçada

Fonte: Autor, 2015

A SMDU18 afirma que o percentual de viagens por residentes que andam a pé (41,4%) é maior que os de usuários de transporte coletivo (36,8%) no distrito Itaim Paulista, denotando uma condição econômica de baixa renda, reforçado pelo baixo índice de mobilidade individual. Há pouca oferta de viário estrutural na sub (5,2% do viário total) e não existem corredores de ônibus.

E, além disso, o Itaim Paulista é um bairro de transição para os moradores de outros bairros, uns fazem caminhos por lá e outros vem a trabalho pois o Itaim paulista não atende à demanda da falta de empregos mas tem em escala local uma centralidade. E isso aumentou o grau dos conflitos urbanos no Itaim Paulista.

Ao passo que no interior dos bairros é logo visível que algumas ruas não comportam a escala dos ônibus que por aí circulam em algum caso até o ônibus toma conta de quase 70% da rua onde ou passa o ônibus ou o pedestre visto que a calçada está ocupada por um carro do vizinho simpático.

18 Todas as Informações que aqui são referidas Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (SMDU), foram tiradas do Data Sub nas páginas 46-47 do caderno da subprefeitura do Itaim Paulista.

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Imagem 52. Conflito entre o transeunte e o ônibus escolar

Fonte: Autor,2016

Ora nas encostas dos córregos é onde a organização original se perdeu formando vielas e becos que comportam a rede de percurso de pedestres cavalos e carroças e até mesmo veículos. Os becos servem de acesso e circulação, na maioria das vezes para poder acessar uma residência sem por exemplo ter que passar no quintal de outros moradores.

Imagem 53. O acesso na Favela jovem no Jardim Jaraguá (Itaim Paulista)

Fonte: Autor, 2016

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O tipo habitacional horizontal dos bairros do município do Itaim Paulista é de autoconstrução, com quase nada de verticalização, com meio lote, baixo padrão, sobradinhos, que crescem de acordo com a necessidade, tanto porque a família aumentou ou por querer por no aluguel e assim conseguir renda extra. A maioria das famílias reside em casas próprias, eles mesmos se juntam e um constrói a casa do outro. E tendo em conta o baixo valor dos terrenos comparando ao resto da cidade motiva uma boa parte da camada pobre a se alojar e criar raízes no Itaim paulista.

Imagem 54. Tipo de habitação (sobradinho) quase sempre em construção

Fonte: Autor, 2015

De acordo com a SMDU, na Subprefeitura Itaim predomina o uso residencial com mais de 70 % do total da área construída. Concentra 14% das unidades residenciais verticais lançadas na região entre 2000 e 2013, com maior número de lançamentos entre 2009 e 2011. Tem 9% de seus domicílios localizados em favelas e mais de 32% do território demarcado como ZEIS, a maior parte ZEIS 1. Tem 19% dos moradores em situação de risco da região. Com 11,3% de seus domicílios contendo mais de três moradores por dormitório, está próximo à média de 10,9% da região leste 2. Entre 2000 e 2010, acompanhando o ritmo do município, teve queda no número de domicílios vagos, passando de 11,5% do

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total de domicílios para 3,9%. Mantém 12,8% de seus terrenos vagos. A rede de esgoto deixa de atender 8,6% dos domicílios do distrito Itaim Paulista. Os bairros são muito densos, muitas construções irregulares e quase sem espaços verdes, ou arborização. Existe uma forma de ocupar o espaço com configuração distinta, o resultado da agregação dos loteamentos clandestinos, não houve uma preocupação com a articulação e com a urbanização da área e seu entorno. Nestas formas ocupação não se incluem aspectos funcionais, mas as formas de expressão que podem ser lidas, vistas. São formas de vida e comunicação de seus moradores / construtores que determinam configurações, nunca estáticas, sempre em movimento, gerando um espaço singular, coletivos, tudo isso é mostrado na intensidade com que se vive nele. De acordo o (IBGE- censo de 2010), a população do Itaim Paulista é de 373.127 habitantes, dos quais 224, 074 moram no Distrito do Itaim Paulista e, 149,053 em Vila Curuçá.

Imagem 55. Densidade causada pela autoconstrução e a terra barata

Fonte: Autor, 2015

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A maioria das casas tem energia elétrica e água potável abastecidas e distribuídas pela rede pública (e as que não tem fazem gato19): 99,39 % dos domicílios da subprefeitura do Itaim Paulista são atendidas pela rede pública, e 89,40% estão cobertos por rede de esgoto, mas a diferença de 10% (quase 10 mil domicílios) entre os que não dispõem de serviços de esgoto ou fossa séptica, ou não tem acesso a distribuição de água potável nas torneiras de suas casas e que tem contribuído para o aumento da degradação dos ambiental, pois eles depositam as aguas servidas nas ruas e córregos. E isso afeta diretamente na qualidade de vida. Existe uma necessidade de esforço conjunto da população com os órgãos responsáveis no caso a SABESP. (IBGE-censo, 2010) O acúmulo do lixo em algumas partes do município por parte de moradores, ou a ação de os córregos servirem de eco ponto adaptado, tem contribuído em maior parte para o entupimento da rede de esgoto e nas enchentes dos córregos (a chuva também tem lá sua parcela) e aí se decreta a calamidade visto que quase em todas as extensões dos córregos há habitações irregulares e isso coloca em risco a saúde e a segurança desta população.

Imagem 56. O lixo nas calçadas e nos córregos

Fonte: Autor, 2015

19 O gato é uma expressão usada nas comunidades para se referir a ação de puxar de forma ilegal, valha pena realçar que é uma prática comum nas comunidades e é feito de dia e de noite.

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A Subprefeitura apresenta valores de cobertura vegetal (5,5 m²/hab.) e áreas verdes públicas (2,1 m²/ hab.) em patamares abaixo da média do município e da região. Já a população residente a mais de 1 km de parques e áreas verdes mostra valor médio (11,5%) bem abaixo das médias do município e da região, o que mostra uma boa distribuição espacial das áreas verdes. Sobre a arborização viária, a Subprefeitura tem valores (11,8 arv. /Km) próximos às médias do município e da região. O distrito Itaim Paulista caracteriza-se pela baixíssima presença de cobertura vegetal em áreas de ocupação urbana consolidada e boa infraestrutura urbana e o distrito de Vila Curuçá caracteriza-se por áreas de alta precariedade urbana, em regiões com remanescentes de vegetação e sob pressão da ocupação urbana desordenada. Uma das curiosidades do local é uma horta comunitária do senhor Armando Higashi de 50 anos de idade, que mantém ao lado do irmão e da mãe uma plantação de hortaliças iniciada há mais de 51 anos pelo pai e o tio. A horta tem o tamanho equivalente a dois campos e meio de futebol uma área de 17.875 m². Situada numa área densamente habitada, cercada de favelas, e um córrego. O plantio de verduras, frutas e legumes, que reúne familiares e moradores. Alguns geólogos, ambientalista, e botânicos aconselham a não cultivo nessas áreas sem um estudo prévio do solo.

Imagem 57. Horta comunitária na rua Osorio franco Vilhena com Avenida Dama Entre Verdes (Vila Curuçá)

Fonte: Autor, 2016

Imagem 58. Horta comunitária vista da praça mãe preta.

Fonte: Autor, 2016

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Esta horta atende a população local e ainda exporta para outros bairros vizinhos: eles cultivam couve, alface abobrinha, coentro, cenoura, espinafre, cebolinha, salsa, entre outros produtos de cultivo local. Existe um controle rigoroso no tratamento dos plantios, tem um sistema quase automático de irrigação, eles têm hora certa para passar inseticidas. Esta horta comunitária fornece o tão necessário espaço verde de baixo rendimento, para a população que não tem acesso ao verde, e da vida ao local, pois o Itaim tem muito pouco espaço verde.

É caraterístico os munícipes se juntarem nos pontos nodais como bares, salão de beleza, igrejas, feiras e campos de futebol. É importante notar como estes pontos nodais, embora particulares, mantêm uma relação direta com a rua, estando sempre expostos e em permanente troca. Os espaços misturam-se, a rua entra nos estabelecimentos e vice-versa, e isso é possibilitado pelas calçadas e o estar permanente nelas. Há sempre um morador parado entre estes estabelecimentos e a calçada fazendo a ponte entre os ambientes interno e externo.

Imagem 59. Campo de futebol escolinha nove de julho. Existe desde 1979

Importante ponto nodal da vila Curuçá

Fonte; autor, 2016

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Imagem 60. Escolinha de futsal e campo para comunidade local rua do Ipê Roxo

Fonte: Autor, 2016

Imagem 61. Salão do Reino das testemunhas de jeová na rua Ipê Roxo

Fonte: Autor, 2016

As igrejas são expressivos pontos de encontro da população, domingos logo cedo, quinta à noite, frequentadores se arrumam para este importante evento, e o município fica repleto de música e canções de cunho religioso, como no caso este salão do reino das testemunhas de Jeová na rua do Ipê Roxo.

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Acima de tudo, os pontos nodais são pontos de encontro, de concentração de pessoas, atividades e, portanto, diversidade, de forma que são a representação máxima da apropriação espacial. São os locais criados e produzidos pela comunidade, e que servem como espaços de troca. Pode-se identificar alguns pontos com tais características na Subprefeitura do Itaim Paulista. São áreas de lazer, espaços coletivos, estabelecimentos comerciais religiosos que funcionam como pontos de encontro.

O campo nove de julho, por exemplo, principal local de ação esportiva do assentamento, está sempre em atividade. Representa um ponto nodal por congregar a comunidade em torno dele, principalmente aos finais de semana, quando os moradores se reúnem à sua volta para assistirem aos campeonatos comunitários locais. É significante notar a importância do campo do Nove de julho para a população do município. Afinal este aí desde 1979 e hoje integra o parque linear da vila Curuçá.

Imagem 62. Campo de futebol 9 de julho importante ponto nodal do município do Itaim Paulista

Fonte: Autor, 2016

O Itaim Paulista tem caraterísticas fortes, identidade única com várias coisas acontecendo ao mesmo tempo, o observador se apossa do espaço passa a fazer parte da paisagem urbana singular vendo tantas variedades de atividades. A atividade social é expressiva, domina as esquinas as ruas, as calçadas, é um elemento atrativo, é a característica social que ao passar dos anos acarreta história marcante na vida desses munícipes.

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Imagem 63. Do produto exposto a paisagem, Estrada Dom João Nery

Fonte: Autor, 2016

Um marco histórico do Itaim Paulista é a Mão que segura pedra pequena. Não é um marco como aqueles descritos por Kevin Lynch, que seriam imponentes, altos, e facilmente identificáveis quando vistos de longe. Este marco é singelo, mas, por ser famoso e conhecido por todos, representa um marco local. Quando não se sabe uma direção e se pede uma informação, a mão da uma mãozinha como se diz no local, pois ele geralmente serve como um marco referencial.

Imagem 64. Escultura Mão que Segura Pedra Pequena, na praça Silva Teles

Fonte: Vander Ramos, 2015

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Segundo Vander Ramos20, a escultura “Mão que Segura Pedra Pequena”, foi idealizada e desenvolvida pelo artista plástico Juarez Martins, morador há 38 anos do bairro. Está situada na praça centra Silva Teles, instalada no centro da praça e é representada por uma mão que segura na ponta dos dedos uma pedra pequena como bem diz seu nome.

Ela é o símbolo do Itaim Paulista e leva o significado do nome do bairro em tupi- guarani: Pedra Pequena. Não foi a esmo que o escultor escolheu a mão, pois ela une todo o bairro, seja por meio de um simples cumprimento ou na construção das casas, morar no Itaim Paulista é, antes de tudo, viver em clima de união com outros moradores. Vander Ramos afirma também que o Itaim Paulista ainda mantém aquele clima de interior e não é raro encontrar uma turma de idosos a jogar dominó ou carteado em plena praça central. “Aqui, nos divertimos com nossos amigos, pois as mulheres não nos querem em casa. Damos muito trabalho para elas”, afirma Juscelino Freitas, 76, um morador do bairro há 42 anos. Toda e qualquer atividade de voltada para a rua.

Uma rua é um universo de múltiplos eventos e relações. A expressão “alma da rua” significa um conjunto de veículos, transeuntes, encontros, trabalhos, jogos, festas e devoções. Ruas têm caráter e podem ser agitadas, tranquilas, sedes de turmas, pontos e territórios. A par de caminhos, são locais onde a vida social acontece ao ritmo do fluxo constante que mistura tudo. Um “microcosmo real” que tem a ver com repouso e movimento, com dentro e fora, com intimidade e exposição e assim por diante. Que serve para referenciar bons e maus lugares. (SANTOS, 1985, p.24)

O espaço (ruas, terreno baldio, becos, vielas, quintais, praças, casas) passam adotar várias funções em simultâneo. O espaço é igual à paisagem mais a vida nela existente; é a sociedade encaixada na paisagem, a vida que palpita conjuntamente com a materialidade, a espacialidade seria um momento das relações sociais geografizadas, o momento da incidência da sociedade sobre um determinado arranjo social. (SANTOS, Milton 1994, pag.73) O espaço resulta do casamento da sociedade com a paisagem, contém movimento, coloca-se como totalidade, como instância social, e participa dialeticamente com as demais instâncias (economia, cultura e política). A espacialização não é o resultado do movimento da sociedade apenas, porque depende do espaço para se realizar, a espacialização é o resultado da ação participando do espaço, é a dimensão viva deste. É o momento presente já em transformação.

20 Vander Ramos é jornalista e editor chefe do CLN (Central Leste de Notícias) um jornal local desde1998.

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Percebemos, no Itaim Paulista e no Cazenga, espacialidades, que são consequências das apropriações por parte de seus moradores21, não apenas funcionais, mas também formas de expressão de vida e de comunicação de seus moradores/construtores que determinam configurações, nunca estáticas, sempre em movimento, gerando um espaço diferenciado e conflituoso, determinado exatamente por sua singularidade. O que eles têm de mais singular em relação a outros lugares da cidade é a forma de apropriação dos seus espaços coletivos e a intensidade com que convivem nele, o que deve ser preservado quando se propõem intervenções urbanas e que deve servir de exemplo para a configuração espacial da cidade dita formal.

21 Como resultado disso, surgiram: vias locais estreitas. Existe uma diferença para os termos que são usados em Luanda e em São Paulo. Para o Luandense os Becos são vias estreitas e não necessariamente sem saída, com dimensões variadas entre as construções, pois em muitos bairros populares e o único suporte físico pelo qual se tem um acesso de suas casas para a rua. E Ruela é a denominação para as ruas ou vias estreitas com dimensão de passagem menores ou estreitas mais com continuidade, que equivale as vielas aqui em São Paulo. Ao passo que aqui Becos: são vias estreitas sem saída e com dimensões variadas. E vielas são vias estreitas com dimensão de passagem menores que uma rua mais com continuidade. E os largos são espaços públicos de lazer, vazios urbanos (terreno baldio) aproveitados pela população como espaço multiuso.

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3. Observação dos bairros da Madeira (Cazenga) e do Jardim Jaraguá (Itaim Paulista)

Ao observarmos a concretude do espaço urbano, algumas questões afloram. Essas questões podem servir de referência quando nos voltamos para uma realidade urbana diversa, uma busca referenciada pode nos fazer perceber, no que diz respeito a um espaço urbano, o que são questões algumas vezes similares, outras complementares e até há circunstâncias em que ao descobrir que nada existe de equivalente, justamente em função disso, uma característica marcante se pode explicitar. Apresento, assim, uma aproximação do Distrito do Itaim Paulista que se quer aqui esmiuçar e depurar, tornando algumas conclusões e intuições mote para observar comuna do Tala-Hady, no município de Cazenga. Ambas as áreas (distrito do Itaim Paulista e comuna do Tala-Hady) têm córregos em sua, por assim dizer, espinha dorsal e, muito frequentemente junto a esses corpos d’água, estão áreas precárias, aqui Favelas, lá Musseques. Na Comuna do Tala- Hady será observado o segmento entendido como bairro da Madeira, e no Distrito do Itaim Paulista, o trecho definido como bairro Jardim Jaraguá. Não se pretende defender, é importante frisar, uma expansão da malha urbana com precariedades em função de uma revisão de paradigmas no que diz respeito ao lidar com os bairros ditos precários já estabelecidos. Entende-se, repetimos que há saberes ali acumulados que não devem ser descartados na necessária e urgente tarefa de rearranjo de nossa atual maneira de lidar com o planeta, para a qual uma condição sustentável, tanto em termos ambientais, como sociais e econômicos, é prerrogativa básica. Nesse sentido, há que se entender a lição de compacidade e estímulo a uso de espaços de conexão e mobilidade por parte dos pedestres que encontramos nos bairros precários de forma geral, ainda que por força da pouca ou nula atenção por parte do Poder Público e falta de acesso a crédito e bens de consumo. Há quem veja esses bairros precários, inclusive, como menos vorazes quanto ao consumo de combustíveis quando comparados à chamada cidade formal, o que poderá ser tema de reflexão posterior e que já se apresenta como inquietante paradoxo. As divisões territoriais chamadas de Municípios em Luanda são comparáveis em área ao que chamamos Subprefeituras em São Paulo. É importante frisar o nível de independência política nos chamados Municípios de Luanda – entender,

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portanto, até que ponto estão submetidos a um poder central como acontece no caso das Subprefeituras paulistanas, cujos mandatários são definidos pelo Prefeito do Município de São Paulo, este com um território que, como referido acima, equivale à área metropolitana da capital angolana como um todo. Assim como as Subprefeituras em São Paulo são repartidas em Distritos, os Municípios de Luanda são divididos em Comunas. Tanto Distritos paulistanos como Comunas de Luanda são compostos de bairros, que podemos entender como a unidade populacional básica das duas cidades. Cidade é a divisão territorial administrativa em Luanda que equivale ao município no Brasil. Assim sendo, temos o Município de São Paulo e a Cidade de Luanda como instâncias equivalentes. As subprefeituras, divisões do município paulistano, equivalem aos municípios angolanos, chamados localmente de Administração Municipal. Distritos aqui correspondem às Comunas em Luanda. Bairros precários ou favelas daqui são chamados em Angola de Musseques. Ainda que considerando as divisões político-administrativas das duas realidades urbanas em observação, teremos como referência as áreas ao longo dos corpos d’água presentes nas suas paisagens, junto aos quais se sucedem bairros e, portanto, ao menos potencialmente, comunidades que interagem entre si.

Tabela 4. Tabela comparativa com Dados do Itaim Paulista e do Cazenga

Subprefeitura Distrito Área (Km²) População Densidade (2010) Demográfica Município Comuna (Hab./km²)

Hoji ya Henda 13, 462 91,836 6,821

Cazenga Cazenga 14,761 494,346 33,490

Tala Hady 10,841 276,167 25,474

Total 3 39,064 862 ,349 22,075

Itaim Paulista 12,0 224,074 18,673

Itaim Paulista Vila Curuçá 9,7 149,053 15,366

Total 2 21,70 373,127 17,195

Fonte: Elaborada pelo autor com base no Censo Luanda- 2010 e IBGE, 2010

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A tabela cima mostra o município do Cazenga e a Subprefeitura do Itaim Paulista apresentam assimetrias geográficas em km². Contrariamente em termos de densidade demográfica municípios Cazenga é mais denso e possui maior habitantes por m². Vê-se que a população do Município do Cazenga é o dobro da subprefeitura do Itaim Paulista, embora áreas delas se registra uma diferença de 17, 364m², e isso explica o porquê da maior densidade. A comuna do Hoji ya Henda é a menos populosa. Repare que o distrito ou comuna com maior densidade demográfica é o Tala Hady devido às autoconstruções dos musseques da vila flor, vila da mata, Cariango e do Bairro da Madeira, este último, por assim dizer são favelas expostas em áreas de risco próximo ao córrego do afluente do rio Cambambe. Nos Mapas e croquis abaixo veremos tanto na área paulistana quanto naquela em Luanda, um mosaico de estruturas urbanas, produzidas ora a partir de uma lógica associada à chamada cidade formal, ora de maneira entendida como espontânea, que faz uso de estratégias presentes nas aglomerações humanas desde tempos imemoriais. Entendemos os fragmentos desse mosaico como sendo bairros, que se vê como bases de comunidades, ao menos latentes.

Imagem 65. Largos e ruelas causado pelo adensamento no bairro da Madeira

Fonte: Elaborado pelo Autor

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Imagem 66. Vielas causado pelo adensamento no bairro Jardim Jaraguá

Fonte: Elaborado pelo Autor

A malha viária estruturante garante aos moradores permeabilidade ao seu interior facilitando o acesso a seus locais de comércio, serviços e equipamentos de educação e saúde. No centro do Itaim Paulista e do Tala Hady essa malha viária conserva seu desenho original, o que facilita a existência de centralidades e ajuda a consolidar a ocupação. Devido o adensamento populacional e a necessidade de mais autoconstruções, em outras regiões próximos aos córregos, o desenho se descaracterizou completamente, a malha perdeu partes de seu desenho original, é o caso do Madeira e do jardim Jaraguá, a malha viária se desfez devido o adensamento, fragmentação e os labirintos.

O Bairro da Madeira tem uma composição formal muito adensada, onde quase não tem ruas, só vielas e becos, não há placas de sinalização adequada, as ruas não têm pavimentação, não existem calçadas e há um conflito constante entre transeuntes e automóveis, a sua ocupação territorial é feita de autoconstruções horizontais e barracos.

Ao passo que viário estruturante da favela jovem do Jardim Jaraguá vai se perdendo. O fluxo de veículos é intenso e desordenado, e essa perde de organização no interior das quadras formam vielas e becos que comportam a rede de percurso de pedestres.

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Imagem 67. Mapa temático de ocupação do Madeira e arredores

Fonte: Elaborado pelo Autor

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Imagem 68. Mapa temático de ocupação do Jardim Jaraguá e arredores

Fonte: Elaborado pelo Autor

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Imagem 69. Mapa temático de Cheios e Vazios do Madeira e arredores

Fonte: Elaborado pelo Autor

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Imagem 70. Mapa temático de Cheios e Vazios do Jardim Jaraguá e arredores

Fonte: Elaborado pelo Autor

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Imagem 71. Mapa temático de diagramas de quadras do Madeira e arredores

Fonte: Elaborado pelo Autor

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Imagem 72. Mapa temático de diagramas de quadras Jardim Jaraguá e arredores

Fonte: Elaborado pelo Autor

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A rua é constituída pelo espaço vazio público que separa as quadras e permite a passagem e o fluxo. A quadra é definida como uma área delimitada por vias públicas, que pode apresentar forma e dimensões variadas. Neste sentido, existe relação direta entre o traçado viário e o desenho das quadras. O lote é a fração de terreno que resulta do parcelamento da quadra. No caso extremo, o lote poderá coincidir com toda a quadra. O edifício construção que emerge no lote. Seu conjunto na quadra marca a volumetria e contribui para a caracterização do tecido urbano. (MACEDO, 2016, grifo nosso)

A imagem 67 caracteriza a ocupação predominante no Bairro da Madeira, de lotes pequenos, cuja testada apresenta entre 3 a 10m, e com profundidade em torno de 5 a 10 m. A profundidade destes lotes foi determinante para a conformação de quadras estreitas e subdivididas por passagens locais, de modo a permitir melhor rendimento no número de lotes a serem obtidos (Imagem 71). Estabelece-se, deste modo, a relação indissociável entre traçado viário, quadra e lote, no momento de formação desta ocupação.

Imagem 73. Testada e profundidade dos lotes

Fonte: Elaborado pelo Autor

Já no Jardim Jaraguá os lotes apresentam uma testada de 5 a 10m, e com profundidade em torno de 10 a 25 m (Imagem 68). Onde na sua configuração espacial obedece um certo padrão tipológico de habitação, com disparidade organizacional dos lotes, mas com maior fragmentação da malha próximo ao córrego do lajeado. O traçado viário resultante deste processo espontâneo de ocupação nestes segmentos urbanos, não contemplou um plano geral, mas determinou uma profusão de ruas locais descontínuas para acesso aos lotes. Em muitos casos, nesses lotes foram feitas casas de madeira ou barracos em chapas de zinco e papelão para poder se adequar ao espaço restante.

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Grande parte dos trechos analisado é constituída por este tipo de ocupação, cuja ocupação dá-se a partir de edifícios variados, mas que, em seu conjunto, apresenta um aspecto horizontal e homogêneo. (Imagens 65 e 66) A principal característica a notar sobre o traçado e a conformação das quadras neste trecho (Imagens 75 e 76) é a existência vias principais no Jaraguá a rua do Ipê Roxo perpendicular à rua Guaiuvira, dispostas em direção a Estrada Dom João Nery, determinando um primeiro fracionamento com quadras de 100 a 200m. Ao passo que no Madeira a avenida Deolinda Rodrigues, rua Cassage, e a Estrada da Frescangol não paralelas entre si estruturam a delimitação formal do Madeira. A partir desta disposição desordenada do viário, que contem vias mais largas e não tão largas e irregulares, o que se verifica é uma subdivisão em quadras menores, que são configuradas pela proliferação de vias locais e passagens. O desenho das ruas locais busca propiciar maior quantidade de lotes com 10m de profundidade, o que determinou quadras estreitas com desenhos variados. O traçado destas passagens e ruas locais não ficou submetido a uma visão unitária do conjunto da ocupação e foi executado por partes, por iniciativa do vendedor informal e atendendo ao objetivo de propiciar acesso aos lotes, fato averiguado pelo não alinhamento ou continuidade destas ruas e pelas diferentes soluções encontradas para a conformação das quadras. (Imagens 71 e 72)

Como resultado disso, surgiram: vias locais estreitas e sem continuidade, com dimensão de passagem, quadras estreitas, com largura média em torno de 10 a 50m, variação da conformação e da direção predominante das quadras, presença de ruas sem saída, com lotes com frente estreita e dimensão variada habitações compartilhando acessos, casas sobrepostas e casas no fundo do lote, situações de conjuntos de casas com edifícios comerciais nas esquinas como parte do mesmo conjunto, edifícios comerciais com habitação sobreposta, e o surgimento dos becos e vielas por assim dizer.

O que resultou numa ocupação horizontal muito densa e intensamente construída. As poucas áreas livres remanescentes são, além das vias e calçadas públicas, os pequenos recuos laterais e, por vezes, recuos de frente ou de fundo, notando-se a existência de muitas construções executadas no alinhamento da calçada e a ocupação dos recuos remanescentes ao longo do tempo. Deste modo, apesar da aparência de um tecido de baixo impacto ambiental, por apresentar baixo gabarito, o que se verifica no diagrama de cheios e vazios é a alta taxa de ocupação do lote, acompanhada por alto índice de impermeabilização do solo e dificuldade em iluminar e ventilar ambientes no miolo do lote (Imagem 74).

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Imagem 74. Quintal típico do Madeira com água parada das chuvas, causado pela impermeabilização do solo

Fonte: Elaborado pelo Autor

O objetivo já exposto de se avançar na compreensão do Habitat humano contemporâneo, fazendo uso de duas importantes aglomerações urbanas do hemisfério sul, parte do entendimento de que a cidade é uma justaposição de comunidades, ainda que a dinâmica hegemônica da globalização não favoreça a solidariedade e cooperação (SANTOS, 2015) que se associa, em princípio, a uma estrutura comunitária. Entende-se, inclusive, que gestão e construção sustentável da cidade só são possíveis quando essas estruturas comunitárias são seus alicerces, seu fundamento. Identificar dinâmicas comunitárias, para inclusive promover ações no sentido de fortalecê-las, é meta decorrente da visão abrangente que se pretende conquistar quanto ao Habitat humano.

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Como referência na busca por uma compreensão do que seria uma dimensão da comunidade, podemos lançar mão de alguns esforços empreendidos por arquitetos que, em tempos relativamente recentes, desenharam bairros novos e mesmo cidades que nasceram de um só golpe. No projeto que se adotou para a construção de Brasília, por exemplo, as assim chamadas superquadras foram pensadas para abrigar entre 2.500 e 3.000 pessoas (COSTA, 1995, pág. 326), sendo que um conjunto de quatro delas constituiria uma unidade de vizinhança com, portanto, de 10.000 a 12.000 pessoas. Poderíamos pensar que ali se imaginou que comunidades teriam como espaço as superquadras que, junto a outras três, configurariam um bairro, entendido como uma unidade de vizinhança? Seria uma comunidade um conjunto de três mil pessoas, algo em torno de mil famílias? Dessa maneira, teríamos um bairro com quatro mil delas? No emblemático projeto para o CECAP em Guarulhos, a equipe liderada pelo arquiteto Vilanova Artigas propõe “freguesias”, nome tradicional para se referir a uma unidade de vizinhança, que teriam edifícios “duplos” de gabarito baixo com 60 unidades cada, organizados em quatro blocos de oito edifícios cada (FERRAZ, 1997). A “freguesia”, portanto, resultaria num conjunto de 1.920 unidades, com uma população em torno de 8.000 pessoas. O arquiteto egípcio Hassan Fathy, que se notabilizou por comandar em seu país de origem o reassentamento de uma vila chamada Gourna, cujo processo de análise, identificação de parâmetros de ações e procedimentos durante a obra, além de custos e dificuldades, relatou em livro que se tornou referência para a compreensão de um urbanismo a partir da observação de relações que se apresentam e, portanto, distante de uma atitude arrogante de quem elabora soluções em função de premissas genéricas e hipotéticas (FATHY, 1982), identificou num grupo de 7.000 pessoas, potencialmente chegando a 9.000 quando supostamente encontrariam certo equilíbrio, uma estrutura de base comunitária, ainda que não tenha sido com esses termos tratada pelo autor referido. Esses números revelam atenção para relações identificadas em certos contextos existentes e algumas vezes derivam da compreensão da otimização da infraestrutura e há situações em que se entrelaçam esses procedimentos, mas parece que essas aproximações tendem a confluir para uma escala de população de um bairro e para um arranjo com dinâmica que podemos ler como comunitária. Qual a população de um bairro de São Paulo? E de Luanda? Será possível, nesses bairros paulistanos e angolanos, encontrar situações que remetam a uma média dos números apresentados aqui como primeira aproximação? Haverá diferenças marcantes entre a dimensão de uma comunidade em São Paulo e em Luanda?

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Em função das médias acima indicadas e da observação da ocupação nos bairros do Jardim Jaraguá, no Distrito do Itaim Paulista, e da Madeira, na Comuna do Tala-Hady, estima-se que o primeiro tenha uma população de 5.509 habitantes em aproximadamente 40 ha e o segundo de 8.997 em menos de 20 ha. Em relação às considerações acima levantadas sobre dimensões apropriadas de bairros, presentes nos projetos das superquadras de Brasília, nas freguesias do CECAP de Guarulhos e em Nova Gourna, no Egito, sem entrar no mérito das superfícies ocupadas, percebe-se que o bairro da Madeira possui uma população equivalente ao que se considerou uma estrutura base para relações de vizinhança, tendo o bairro do Jardim Jaraguá um pouco mais da metade desse contingente de pessoas.

Imagem 75. Bairro da Madeira

Fonte: Elaborado pelo Autor

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Imagem 76. Bairro jardim Jaraguá

Fonte: Elaborado pelo Autor

Percebe-se nesse sentido, no Jardim Jaraguá e no Madeira, espacialidades, que são consequências das apropriações por parte de seus moradores, não apenas funcionais, mas também formas de expressão de vida e de comunicação de seus moradores/construtores que determinam configurações (Becos, ruelas, largos e vielas), gerando um espaço diferenciado e conflituoso, determinado exatamente por sua singularidade. O que eles têm de mais singular em relação a outros lugares da cidade é a forma de apropriação dos seus espaços coletivos (Públicos, largos, terrenos baldios) e a intensidade com que convivem nele, que podemos ver como evidência de relações comunitárias, algo que deve ser preservado quando se propõem intervenções urbanas.

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Imagem 77. Cheio e vazios, ruelas e Becos no Bairro da Madeira

Fonte: Elaborado pelo Autor

Imagem 78. Perfil parcial do Bairro da madeira

Fonte: Elaborado pelo Autor

Os vazios são ‘’malditos’’ porque, entre outras razões, reduzem substancialmente as oportunidades de trocas que transcendem o comércio, a prestação de serviços e, portanto, o caráter funcional e utilitário da diversidade. Esta possui uma dimensão expressiva, pois a proximidade, os encontros, a comunicação, outras tantas formas de intercâmbio, todas elas envolvendo o contato face a face. (SANTOS, 1985)

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Imagem 79. Cheios e vazios, Vielas e Becos no Jardim Jaraguá

Fonte: Elaborado pelo Autor

Imagem 80. Perfil parcial do Bairro Jardim Jaraguá

Fonte: Elaborado pelo Autor

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Imagem 81. Beco no Madeira entre o muro da linha férrea e os barracos

Fonte: Elaborado pelo Autor

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Imagem 82. Beco no Jardim Jaraguá com a Travessa Dona Luíza Úrsula

Fonte: Elaborado pelo Autor

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A análise de espaços deve levar em conta as atividades que se dão nesses recortes, (SANTOS, 1985, pág. 48-91). Existe uma estrutura que torna o espaço apenas mais uma dimensão social, o quarteirão do bairro visto do alto, permite observar uma série de particularidades nestes trechos em estudo, como a disposição das casas que perpendiculares à rua de alongam para seus quintais (Imagens 77 e 79). Existem dois tipos de espaços nos trechos em estudo, o privado e o público. O quintal é o espaço privado da habitação, serve como palco para o desempenho de um conjunto de atividades, nestes bairros populares o quintal representa a extensão de suas atividades mais reservadas. No quintal onde encontramos tradicionalmente o sanitário, o tanque de lavar a roupa, o varal onde as peças são expostas para secar, e até mesmo quando não se tem quintal se estende no muro de casa (Imagem 84) e o galinheiro. No quintal as mulheres trabalham e as crianças, que ainda não tem idade para brincar na rua, brincam. No caso da Madeira há caso de o quintal ser em conjunto, no caso as mães trabalham enquanto os filhos brincam em volta, e a noite o quintal se converte em ponto de reunião familiar. A rua, os largos constituem o espaço público, onde a maior massa populacional se concentra como foi já abordado acima. No bairro da Madeira os largos são espaços para se jogar bola, fazer festas e até mesmo a administração municipal usa como ponto de vacinação ou para toda e qualquer outra atividade. Ao contrário do Madeira, o Jardim Jaraguá não tem largos todas a atividades são voltadas somente para a rua. São questões dialéticas, hábitos e costumes e circunstâncias que na sua maioria diferem. Por exemplo, fechar a rua para se ter feira, no Madeira não existe esta prática, pois o comercio informal ganha outra dimensão; no que tange às atividades econômicas locais, alguns dados acabam por aproximar o bairro do Jaraguá. Pois a subprefeitura do Itaim Paulista, apresenta baixíssimo nível de atividade econômica, aproximadamente 27 mil empregos formais privados (0,6% do total da cidade), concentrados, sobretudo, no distrito de Itaim Paulista. As densidades de emprego por habitante e por hectare são muito baixas, 0,1 e 16,8 respectivamente. Três subsetores respondem por cerca de dois terços dos empregos: comércio varejista, construção civil e transporte e comunicação. Predomina o baixo perfil de rendimento dos residentes: rendimento domiciliar “per capita” de aproximadamente um salário mínimo. (Data Sub. Itaim Paulista, pagina 46) Em ambos, percebe-se a presença importante do trabalho relacionado o comercio informal. Há uma forma de trabalho peculiar no Cazenga (também presente na maior parte de Angola) que é o das costureiras ao ar livre, que não contam com uma oficina ou espaço protegido para sua atividade produtiva. Conhecidas como Zungueiras, (comparado ao que se diz camelo) as mulheres que estão “na zunga”, expressão usada para se referir aos ambulantes, andam pelo bairro e vivem desse serviço, alternativa à fome num país de poucos empregos. Outros grupos de mulheres estabelecem em suas próprias ruas um

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comercio informal da venda de diversos produtos. É habitual a venda, na porta de casa, de milho, banana e amendoim, vindos direto do campo, assados em fogareiros. As casas no Musseque da Madeira são, geralmente, construídas em blocos de concreto e cobertas de placas de zinco, e até em muitos casos são feitas só de chapas de zinco, barracos de madeira e chapas, enquanto na favela Jardim Jaraguá, são mais habitualmente de blocos cerâmicos, com coberturas de fibrocimento, em alguns casos, próximo ao córrego, há muitos barracos. Muitas delas estão em permanente processo de construção, já que os seus proprietários levam alguns anos a edificá-las. A construção da própria casa representa um grande esforço por parte das famílias, algo que podemos também dizer no que se refere ao Itaim Paulista. Em ambos os casos, ainda que com especificidades locais, vemos precariedades que são o resultado de realidades urbanas marcadas por desigualdades e, em alguma medida, segregação espacial.

Imagem 83. Tipo de habitação do Bairro da Madeira

Fonte: Elaborado pelo Autor

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Imagem 84. Tipo de habitação do Jardim Jaraguá

Fonte: Elaborado pelo Autor

Tanto no distrito do Itaim Paulista como na Comuna do Tala-Hady há uma disputa acirrada por cada m² nos seus bairros já densamente ocupados, inclusive de forma irregular nas bordas dos córregos do Lajeado e do Cambambe, onde praticamente não se percebem áreas verdes. No Itaim Paulista encontramos vários assentamentos precários caraterizados por favelas e loteamentos irregulares, como mostra alguns localizados em zonas de risco próximos dos córregos, a maior parte do território é zona mista no Cazenga a maior parte do assentamento urbano é constituído por musseques espontâneos – zona mista, musseques organizados que podemos comparar as zonas de interesse social.

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Imagem 85. Assentamentos precários próximos aos córregos

Fonte: Elaborado pelo Autor

Na cidade de São Paulo, há programas de regularização fundiária, vinculados a algumas melhorias urbanas. A perspectiva de regularização, e consequente garantia de um lugar na cidade, é, no caso paulistano, um importante instrumento de Política Habitacional na luta de um grande contingente de moradores de bairros precários em busca da integração sócio econômica (AZEVEDO, 2007, p.14). Identifica-se, mesmo assim, a falta de uma Política Habitacional que leve à apropriação do espaço urbano de forma equilibrada. De acordo o Atlas Cazenga (2012), no Município do Cazenga apenas 14% dos moradores contam com o acesso ao serviço público de água e 79% da população está sem acesso à rede de esgoto. A maioria dos moradores busca água dos chafarizes aonde 95% das famílias pagam mais de que o preço real de 5 Kwanza22 para um bidon de água de 20 litros. Ao passo que na Subprefeitura

22 Kwanza é a moeda Nacional de Angola que devido as taxas altos de inflação é muito desvalorizado

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do Itaim Paulista 99,39%dos moradores tem acesso a água potável em suas torneiras e 8,6% não tem acesso a rede pública de esgoto. (Censo, 2010)

Imagem 86. Nesta ruela do Madeira população derrubou o muro dos caminhos de ferro para usar terreno como horta comunitária

Fonte: Elaborado pelo Autor

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Imagem 87. Beco no Jardim Jaraguá

Fonte: Elaborado pelo Autor

Imagem 88. Rua típica do Jardim Jaraguá

Fonte: Elaborado pelo Autor

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Considerações finais

Vários foram os desafios para o desenvolvimento do trabalho aqui apresentado, que se demonstrou um estudo etnográfico urbano: motivos alheios relevantes, seja por forças maiores e políticas no caso de não poder fotografar livremente em Luanda, seja pelo medo de não pertencer ao lugar, pela condição de estrangeiro no Brasil, dificultaram o trabalho no campo, pois precisava produzir através da observação sensível e de um esforço analítico, mas que acabaram por possibilitar a descoberta de certo fascínio pelo observar. Foi de extrema importância o contato com a realidade e cotidiano dos bairros em estudo para identificação de seus conflitos – houve, assim, a descoberta de que as pessoas acordam das 4 às 5 horas da manhã para se locomover todos os dias para o centro da cidade, passando de 2 a 3 horas no transito até chegar ao local de trabalho, e não só por questão de trabalho, mas porque também após o trabalho eles vão direto para as universidades, pois esses bairros não têm universidades. Tampouco existem ali espaços verdes e de lazer e, por isso, a presença massiva da população nas ruas, largos, pontos de concentração numa tentativa de suprir a ausência de áreas para lazer. Uma das coisas que mais chama a atenção é a forma como nesses bairros populares se apropria dos espaços públicos e dos privados. Nessas formas de apropriação, não se incluem apenas as funcionais, mas também as formas de expressão que podem ser lidas, vistas. São formas de vida e comunicação de seus moradores-construtores que determinam as configurações, nunca estáticas, sempre em movimento, gerando um espaço diferenciado, único, o que Carlos Nelson denominou de diversidade, determinado exatamente por sua singularidade.

Os bairros aqui estudados são ambos de uso misto, pois existe neles uma forte presença do comércio informal, cada um ao seu jeito peculiar, mas que por questões culturais se assemelham. Contém córregos em sua, por assim dizer, espinha dorsal e é neles onde se encontra maior índice de construções vulneráveis e precariedades, que afetam diretamente a interface homem/ambiente, na qualidade de vida e na sensação de bem-estar. Nota-se nos córregos em questão a falta de passadeiras de transição de uma margem para a outra e por essa razão as pessoas são obrigadas a percorrer grandes distancias para transitarem.

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Através da observação de mapas e fotografias, baseados nos indicadores sociais, visitas de campo, foi possível investigar como se organizam espacialmente as estruturas comunitárias, a densidade desses bairros e como se relacionam, suas características físicas e sociais, afinal cada lugar tem suas particularidades, mas estes bairros se assemelham em vários aspetos, podendo ser entendidos como Bairros populares. A observação comparada aqui empreendida nos ajuda a compreender esses bairros populares, tendo como prerrogativa que há muito que se fazer para diminuir as dificuldades daqueles que neles moram, mas também que muito se acumulou de saberes nos seus processos de constituição, ou seja, que são espaços vividos e que trazem lições, reforçando-se, assim, a ideia de que devem ser observados com respeito e atenção, de maneira distante da atitude que muito se viu no sentido de entendê-los como anomalias na cidade.

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Apensos

O Planning By Conflicts foi um Workshop sediado na Universidade São Judas Tadeu campus Mooca nos dias 29 de setembro à 9 de outubro de 2015. Onde estudantes e professores brasileiros, angolano, alemães e norte-americanos, por uma semana ficaram pensando a periferia paulistana, no caso o Itaim Paulista. Com a Coordenação das atividades de pesquisa: Profa. Dra. Ana Paula Koury, Universidade São Judas Tadeu e o Prof. Dr. Fernando Luiz Lara, Universidade do Texas. Que na qual fiz parte da comissão organizadora do workshop, palestrante e chefe da rota 4 quando se foi ao campo.

O encontro Planning by Conflicts foi a terceira atividade prevista no projeto de pesquisa Planning and participation: a new agenda for urban and environmental policies in Brazil financiado pela Fapesp - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e pela Universidade do Texas (Austin).

O objetivo do encontro sediado na Universidade São Judas Tadeu (Campus da Mooca) foi a discussão multidisciplinar das políticas ambientais e urbanas no Brasil com base em um estudo de caso: O Itaim Paulista e a proposta dos corredores ambientais urbanos. Originada pela cooperação bilateral entre o Instituto de Arquitetura e Urbanismo (USP-São Carlos) e a HafenCity University (Hamburgo) a proposta serviu como ponto de partida para o projeto de pesquisa Planning and participation: a new agenda for urban and environmental policies in Brazil. A área selecionada para o Estudo é a micro-bacia do Córrego do Lajeado, que pertence ao distrito do Itaim Paulista, localizado no extremo Leste do município de São Paulo.

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Imagem 89. Mapa base de delimitação das rotas.

Fonte: Planning By Conflicts

A professora Ana Paula Koury fundamentou que a geração de arquitetos e urbanistas formada entre as décadas de sessenta e setenta empenhou-se ativamente para a superação do modelo autoritário de planejamento, também conhecido como modelo tecnocrático ou, pela abordagem de cima para baixo. Isso significou a produção de um vasto corpo teórico e crítico sobre o planejamento e a definição de novas responsabilidades técnicas dos profissionais, agora também engajados com a representação das comunidades locais. O arquiteto assumiu um importante papel nas democracias que se afirmaram no segundo pós-guerra. A nova abordagem do planejamento ampliou e multiplicou a compreensão sobre o modelo de intervenção moderno e, na maior parte das vezes, colocou-o em cheque constatando os controversos efeitos locais, principalmente relacionados às intervenções rodoviárias. Um juízo de valor predominantemente negativo foi atribuído às grandes intervenções realizadas pelo poder público, principalmente àquelas que alteravam o sistema viário. Definiu-se durante as décadas de sessenta e setenta a crítica ao modelo de planejamento identificado ao movimento moderno, que havia sido difundido nas primeiras décadas do século XX. No Brasil esta dicotomia entre o planejamento tecnocrático e o modelo participativo teve particularidades históricas importantes. Entre elas, ambos os modelos ficaram fortemente marcados pelos regimes políticos que os adotaram.

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No caso, a ditadura militar do período 1964-1985 ficou associada ao modelo tecnocrático de planejamento e a redemocratização traria junto com a nova Constituição democrática de 1988, a institucionalização dos processos participativos que treze anos depois daria no Estatuto da Cidade. Marco de uma luta histórica pela Reforma Urbana e pelo direito à cidade no Brasil. A oposição entre estes dois sistemas de planejamento tem delimitado uma espécie de “episteme” dos conflitos sociais urbanos, determinando seu significado e a sua tradução em uma “ação planejadora”. Como qualquer simplificação maniqueísta, esta também não resiste ao exame mais rigoroso dos fatos históricos. Entretanto o reexame não pode servir para legitimar o autoritarismo praticado pelo Estado, por outro lado a ausência da revisão crítica pode sim contribuir para a legitimação dos modelos neoliberais. Compreendendo que o que está em disputa são os significados de modelos do passado que se atualizam muito mais em função das novas dinâmicas sociais do que em função de suas origens históricas, convocamos professores e estudantes das várias instituições reunidas neste Workshop à explorar o potencial dos conflitos sociais urbanos para transformar a prática do planejamento, repensar o papel do desenho urbano nas cidades que vivemos, e atribuir novos significados aos espaços coletivos. A penúltima parte do workshop foi a visita de campo ao local para identificação dos conflitos e potencialidades de transformações urbanas, diagnósticos e abordagens. Tendo em vista o grosso de participantes foi feito uma divisão por equipes e assim também como a definição das rotas com objetivo de identificar os conflitos urbanos ali presentes num olhar sensível do objeto em estudo. E por fim teve o debate e a oficina dos estudos realizados. Estudos de alternativas para as transformações futuras do bairro, relacionando o corredor de ônibus na D. João Neri, a Zona de Estruturação da Transformação Urbana e o córrego do Lajeado onde cada equipe apresentou seu diagnósticos e propostas como mostra os registros abaixo.

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Imagem 90. Palestrando sobre o quadro e diagnostico do Itaim Paulista

Fonte: Planning By Conflicts

Imagem 91. Membros da rota 4 em campo no Itaim Paulista

Fonte: Planning By Conflicts

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Imagem 92. Entrevistando o Arq. Constantino Sava Kipriadis - Coordenador de Planejamento e Desenvolvimento Urbano da Subprefeitura do Itaim Paulista

Fonte: Planning By Conflicts

Imagem 93. Membros da rota 4 debatendo na oficina

Fonte: Planning By Conflicts

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Imagem 94. Abordagens na oficina

Fonte: Planning By Conflicts

Imagem 95. Do traço as ideias das ideias o traço

Fonte: Planning By Conflicts

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Imagem 96. Identificação dos conflitos da rota 4

Fonte: Planning By Conflicts

Imagem 97. Apresentação e debate em

Fonte: Planning By Conflicts

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Imagem 98. Quadro de diagnósticos

Fonte: Planning By Conflicts

Portanto, o distrito do Itaim Paulista tem sido, também, tema de pesquisa sob a coordenação da Profa. Ana Paula Koury, da Universidade São Judas Tadeu (USJT), em São Paulo, que contou com eventos relacionados, nos quais tantas informações como possibilidades para aquela área foram levantadas e processadas, apresentando-se, assim, disponíveis para consulta e análise, algo que contribuiu para a escolha do local de análise.

Nessas aulas e eventos que surgiu a aproximação com o Distrito do Itaim Paulista, tornando algumas conclusões e intuições mote para observar a comuna do Tala-Hady, no município de Cazenga, parte da área metropolitana de Luanda, em Angola, com características semelhanças em relação àquelas do segmento urbano paulistano.

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Índice das Imagens

Imagem 1. Vista do centro da Cidade de Luanda ...... 9 Imagem 2. Tipos de assentamentos em Luanda ...... 18 Imagem 3. Vista do musseque da Vila flor, Cazenga ...... 20 Imagem 4. O beco, caraterística resultante da ocupação densificada e desordenada dos musseques de Luanda ...... 22 Imagem 5. Mapa da Divisão administrativa da cidade de Luanda ...... 27 Imagem 6. Mapa do Município do Cazenga, suas Comunas e Limites ...... 29 Imagem 7. Avenida Deolinda Rodrigues ou Estrada de Catete ...... 31 Imagem 8. Comércio invadindo a calçada na Avenida Deolinda Rodrigues ou Estrada de Catete ...... 32 Imagem 9. Gerador na calçada para abastecer energia no Comércio e nas casas ...... 33 Imagem 10. Atividades variadas em plana Estrada de Catete ...... 33 Imagem 11. Conflito entre veículos e Transeuntes na Estrada da 10° Esquadra...... 34 Imagem 12. O beco como canal de circulação, lazer e serviço...... 35 Imagem 13. Apropriação da rua, socialização e ócio...... 37 Imagem 14. Campo de areia ...... 38 Imagem 15. Roulotes (trailer- bar) onde os jovens passam boa parte do tempo nos finais de semana ...... 39 Imagem 16. Monumento do Marco histórico 4 de fevereiro...... 40 Imagem 17. Gráfico da população de cazenga ...... 42 Imagem 18. Pirâmide etária da população do cazenga ...... 43 Imagem 19. Creche comunitária da Dona Maria ...... 44 Imagem 20. Crianças fora do sistema escolar ...... 45 Imagem 21. Tipos de equipamento educacional do Cazenga ...... 45 Imagem 22. Casas ao lado do córrego dos comandos ...... 46 Imagem 23. Casas ao lado linha ferroviária da CFL...... 47 Imagem 24. Habitaçoes dos mais pobres no Cazenga ...... 48 Imagem 25. Habitação característica do cazenga, autoconstrução em alvenaria e o portão em chapa de zinco galvanizado...... 48 Imagem 26. Dois tipos de Muro caraterísticos do Cazenga, o de chapa de zinco e outra de alvenaria convencional, marquise ...... 50 Imagem 27. O quintal e suas várias utilidades. O frízer que é usado para vender água gelada e bebidas ...... 50 Imagem 28. Famílias sem acesso a saneamento básico ...... 51 Imagem 29. Localização dos Chafarizes e latrinas em Luanda ...... 52

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Imagem 30. Inundação das ruas após um dia chuvoso, Veneza ou Cazenga? ...... 53 Imagem 31. Fila no chafariz, geralmente os moradores madrugam para conseguir um lugar ...... 53 Imagem 32. Morador saindo do chafariz a busca de água ...... 54 Imagem 33. O lixo se apossando do beco ...... 55 Imagem 34. Iniciativa da população para sensibilizar os morados ...... 56 Imagem 35. O uso de tijolos ou blocos encostados nos muros ou a bota de chuva ...... 56 Imagem 36. O uso de tratores nas ruas estreitas e acidentadas da região. .... 57 Imagem 37. O acúmulo de lixo na estrada da BCA ...... 57 Imagem 38. Localização dos Equipamentos de saúde no município do Cazenga ...... 58 Imagem 39. A zungueira é o ícone da mulher guerreira das ruas de Luanda . 59 Imagem 40. Comércio nas Bancadas na porta das casas ao longo da rua. .... 62 Imagem 41. Aposentada vendendo assados ...... 62 Imagem 42. O Muro como elemento para exposição dos produtos à venda na rua ...... 63 Imagem 43. Alfaiataria da dona Fató no quintal de sua casa de frente para a rua ...... 63 Imagem 44. Mapa da Divisão Administrativa do Município de São Paulo e seus Distritos ...... 65 Imagem 45. Mapa da Subprefeitura do Itaim Paulista, seus Distritos e Limites ...... 66 Imagem 46. Córregos que delimitam o Itaim Paulista: 1- Itaquera-Itaqueruna, 2- Água Vermelha, 3- Lajeado, 4- Itaim, 5- Tijuco Preto e 6- Três Pontes ...... 67 Imagem 47. Vista do Córrego do lajeado na rua Ipê roxo com a Dom João Nery ...... 68 Imagem 48. Sistema viária estrutural do Itaim Paulista ...... 69 Imagem 49. Avenida Marechal Tito ...... 70 Imagem 50. O Trânsito na Avenida Dom João Nery com a Avenida Marechal Tito ...... 71 Imagem 51. Veículos e o comércio tomando conta da calçada ...... 72 Imagem 52. Conflito entre o transeunte e o ônibus escolar ...... 73 Imagem 53. O acesso na Favela jovem no Jardim Jaraguá (Itaim Paulista) .. 73 Imagem 54. Tipologia homogênea de habitação quase sempre em construção (sobradinho) ...... 74 Imagem 55. Densidade causada pela autoconstrução e a terra barata ...... 75 Imagem 56. O lixo nas calçadas e nos córregos ...... 76 Imagem 57. Horta comunitária na rua Osorio franco Vilhena com Avenida Dama Entre Verdes (Vila Curuçá)...... 77 Imagem 58. Horta comunitária vista da praça mãe preta...... 77 Imagem 59. Campo de futebol escolinha nove de julho. Existe desde 1979 ... 78 Imagem 60. Escolinha de futsal e campo para comunidade local rua do Ipê Roxo ...... 79 Imagem 61. Salão do Reino das testemunhas de jeová na rua Ipê Roxo ...... 79

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Imagem 62. Campo de futebol 9 de julho importante ponto nodal do município do Itaim Paulista ...... 80 Imagem 63. Do produto exposto a paisagem, Estrada Dom João Nery ...... 81 Imagem 64. Escultura Mão que Segura Pedra Pequena, na praça Silva Teles ...... 81 Imagem 65. Adensamento no bairro da Madeira ...... 86 Imagem 66. Adensamento no bairro Jardim Jaraguá ...... 87 Imagem 67. Mapa temático de ocupação do Madeira e arredores ...... 88 Imagem 68. Mapa temático de ocupação do Jardim Jaraguá e arredores ...... 89 Imagem 69. Mapa temático de Cheios e Vazios do Madeira e arredores ...... 90 Imagem 70. Mapa temático de Cheios e Vazios do Jardim Jaraguá e arredores ...... 91 Imagem 71. Mapa temático de diagramas de quadras do Madeira e arredores ...... 92 Imagem 72. Mapa temático de diagramas de quadras Jardim Jaraguá e arredores ...... 93 Imagem 73. Testada e profundidade dos lotes ...... 94 Imagem 74. Quintal típico do Madeira com água parada das chuvas, causado pela impermeabilização do solo ...... 96 Imagem 75. Bairro da Madeira ...... 98 Imagem 76. Bairro jardim Jaraguá ...... 99 Imagem 77. Cheio e vazios, Vielas e Becos no Bairro da Madeira ...... 100 Imagem 78. Perfil parcial do Bairro da madeira ...... 100 Imagem 79. Cheios e vazios, Vielas e Becos no Jardim Jaraguá ...... 101 Imagem 80. Perfil parcial do Bairro Jardim Jaraguá ...... 101 Imagem 81. Beco no Madeira entre o muro da linha férrea e os barracos .... 102 Imagem 82. Beco no Jardim Jaraguá com a Travessa Dona Luíza Úrsula ... 103 Imagem 83. Tipo de habitação do Bairro da Madeira ...... 105 Imagem 84. Tipo de habitação do Jardim Jaraguá ...... 106 Imagem 85. Assentamentos precários próximos aos córregos ...... 107 Imagem 86. A população derrubou o muro dos caminhos de ferro para usar terreno como horta comunitária ...... 108 Imagem 87. Beco no Jardim Jaraguá ...... 109 Imagem 88. Rua típica do Jardim Jaraguá ...... 109 Imagem 89. Mapa base de delimitação das rotas...... 116 Imagem 90. Palestrando sobre o quadro e diagnostico do Itaim Paulista ..... 118 Imagem 91. Membros da rota 4 em campo no Itaim Paulista ...... 118 Imagem 92. Entrevistando o Arq. Constantino Sava Kipriadis - Coordenador de Planejamento e Desenvolvimento Urbano da Subprefeitura do Itaim Paulista ...... 119 Imagem 93. Membros da rota 4 debatendo na oficina ...... 119 Imagem 94. Abordagens na oficina ...... 120 Imagem 95. Do traço as ideias das ideias o traço ...... 120 Imagem 96. Identificação dos conflitos da rota 4 ...... 121 Imagem 97. Apresentação e debate em ...... 121 Imagem 98. Quadro de diagnósticos ...... 122

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Índice das tabelas

Tabela 1. Cazenga entre as trinta maiores megafavelas do mundo ...... 24 Tabela 2. A população nos Musseques...... 25 Tabela 3. Bairros do Município do Cazenga...... 28 Tabela 4. Tabela comparativa com Dados do Itaim Paulista e do Cazenga .... 85