PESQUISA EXCLU ` VA GALLUP-IMPRE -" . FASTÃO É MAIS ADMIRADO DO QUE SÍLVIO SANTOS

¢y ¡ ae e u n g [ n 8 ] Editorial Ano X Dezembro 96 O JORNALISMO DA COMUNICAÇÃO N° 1 1 1 R$ 4,00

IMPRENSANET Os internautas apóiam a reeleição

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Raul Cortez fala bem de e mal dosjornalistas Entrevista RAUL CORTEZ

Ele conta como roubou a cena em O Rei do Gado, fala da sua carreira e critica a imprensa:

olecionador de ator e personagem qu e prêmios no tea- ele fala nesta entrevist a C tro, Raul Cortez a Ari Schneider, diretor sempre fez muito su- de Redação, e Nilton cesso também na tele- Pavin, editor-executivo visão, mas andava can- de IMPRENSA . sado de fazer telenove- Aos 65 anos de ida- las por causa dos pa- de e 40 de teatro, Cortez péis que costumavam conta também passa- lhe reservar, geralmen - gens da sua carreir a te do vilão grã-fino ou (desde o fiasco na es- do ricaço de caráte r tréia ao lado de Cleid e duvidoso. Até que lh e Yaconis, quando su a caiu nas mãos o papel voz simplesmente se de Geremias Berdi- recusou a sair) . E ele, nazzi, antagonista d e que imaginou ser jorna- Bruno Mezzenga (An- lista, reclama dos criti- tônio Fagundes) na no- cos e da imprensa em vela das oito da Glo- geral, em que encontra bo, O Rei do Gado . "um excesso de ódio, Não foi uma pai- de raiva, de incom- xão à primeira vista do preensão, de inveja d e ator pelo personagem . quem tem fama e suces- Raul Cortez ficou três so" . Cortez diz que meses preparando-s e muitas vezes se sentiu para o papel, lendo e "Existe um excesso de ódio, de prejudicado pela ação relendo os primeiro s incompreensão, de inveja da imprensa: "Por ata- capítulos escritos po r ques pessoais, informa- Benedito Ruy Barbo- de quem tem fama e sucesso " ções deturpadas, men- sa, procurando montar tiras ou fofocas publi- a personalidade do fa- cadas como verdade" . zendeiro que enrique- cera roubando as terras da família e qu e car o protagonista, o rei do gado Bruno IMPRENSA - Estão dizendo que aos poucos se arrepende e vai abrandan - Mezzenga, às voltas com um modo ítalo - você é o verdadeiro Rei do Gado . O que do o coração. Só para construir sua pro - caipira de falar, que mais incomoda do acha disso? núncia italianada, foram horas e hora s que convence os telespectadores . Raul Cortez - Ainda prefiro ser o de audição de ópera e de aulas especiais Hoje, Raul Cortez ama profundamente rei do café e do leite . Ou o rei d o com uma professora filha de italianos . seu personagem e desdobra-se par a capuccino. Acho muito mais interessan- Ao lado do sotaque primoroso, Ge - convertê-lo em figura cada vez mai s te. Brincadeira ! remias Berdinazzi foi assumindo forma envolvente, com a cumplicidade do autor definitiva com o andamento da novela , da novela, que trata de criar tramas e si- IMPRENSA - Mas o seu papel está incorporando traços de generosidade e tuações à altura do interesse qu e crescendo demais na novela. de uma personalidade cativante. E foi Berdinazzi passou a merecer do público . Raul Cortez - E verdade, isso está crescendo, crescendo, passando a ofus - E desse processo de simbiose entre autor, acontecendo. Já aconteceu .

IMPRENSA - DF7FMBRO 1996 21 IMPRENSA - Isso er a Raul Cortez - Seria previsto? bem mais natural . Bem mai s Raul Cortez - Não, esse fácil. Mas nem sempre o colorido que o papel assumi u mais fácil é o melhor . O en- não estava previsto . Era um graçado é que agora amigo s bom papel, a novela precisa- meus que falam italiano vê m va de um antagonista. De iní- direto conversar comigo em cio, o personagem era uma italiano. As vezes, dá até para coisa meio épica, uma cois a responder, porque com tanta trágica. Geremias Berdinazzi aula de sotaque já esto u acabou se tornando profunda- aprendendo a língua . mente humano e simpático . Agora não é apenas um anta- IMPRENSA - Gosta gonista: ele assumiu dimen- mais de fazer telenovela, tea- sões muito maiores . Existe tro ou cinema? uma generosidade, uma soli- Raul Cortez - Até ago- dariedade nele. Isso humani- ra eu não gostava muito de zou demais o personagem . fazer telenovela. Acho que é Essa humanização tão forte uma coisa que todo ator pre - não estava prevista. cisa fazer, mas eu não sentia muito prazer nisso . Ainda IMPRENSA - Foi uma mais por causa dos papéis que contribuição sua ao persona - me davam. Papéis que nã o gem ? exigiam muito além de eu ser Raul Cortez -Acho que charmoso, ter uma aparênci a todos nós, como atores, sem - fina, de milionário, sempre pre contribuímos com algu- Telenovela : "A brasileira é a melhor do mundo " com uma coisa meio dúbi a ma coisa. Uma experiência em relação ao caráter. A não pessoal ou lembranças de pessoas que o E, principalmente, aquela procura d e ser na novela Partido Alto, em que eu fiz impressionaram . O artista traduz à sua volta ao passado, de apego à família, à um bicheiro, que me agradou demais. Mas maneira essas impressões e acaba trazen- sua origem. Isso para mim era uma coi- no Rei do Gado o personagem me possi- do-as para o personagem . sa muito forte . Tanto que comecei a ou- bilita um trabalho muito parecido com o vir muita ópera, nem sei por quê. Algo que estou acostumado a fazer em teatro . IMPRENSA - Esse sotaque primo- meio inconsciente, meio intuitivo . O que Pela primeira vez fazer novela está sendo roso que você usa para o Berdinazzi é uma sempre achei muito bonito na língua ita- profundamente prazeroso para mim . Es- preocupação sua ou do autor da novela ? liana é a sonoridade das palavras . Então tou gostando demais . Raul Cortez - O sotaque numa no- me interessava muito captar essa melo - vela é sempre um risco muito grande para dia, a maneira de falar do italiano. Acha- IMPRENSA - Alguém faz teleno- quem está dirigindo, para quem está es- va que se conseguisse isso evitaria o so- vela melhor que o brasileiro? crevendo e para o ator que está fazend o taque caricato que normalmente se faz. Raul Cortez - Não. Absolutamen- o papel. Então, foi algo cercado de mui- Não era o que eu queria, nem a direção te não. Quando viajo e amigos estran- to cuidado da direção e também do au- tampouco. E fui estudando. Por coinci- geiros me perguntam o que estou fazen- tor. O sotaque me foi pedido no iníci o dência, minha professora de inglês n o do, tenho até vergonha de dizer. Porque para ver qual seria o resultado . Numa Berlitz é filha de italianos . E eu lhe per- telenovela para eles é a própria porcaria. novela nova, aberta, você vai criando len- guntava: tal palavra se pronuncia assi m Não é só a mexicana . Mesmo a america- tamente o seu personagem, vai deixan- em italiano? E ela: não, é assim. Até que na é uma coisa que não temo meno r do que ele infle, como um balão, para pedi uma ajuda mais sistemática e co - desenvolvimento dramático . E parada, ver se sobe mesmo . Quem acompanha a meçamos a ter aulas fora do Berlitz . Hoje cansativa, melodramática, sem graça . novela desde o início percebe que o so- em dia já faço sozinho . Quando tenho Nos estúdios sempre aparecem comiti- taque foi sendo colocado aos poucos até alguma dúvida, telefono para ela. vas de americanos, italianos e outros que o momento em que realmente ficou tão vêm ver como se faz novela na Globo . bom para aquela figura .. . IMPRENSA - Por suas origens, você se sentiria mais à vontade se o per- IMPRENSA - Por que trocou o di- IMPRENSA - Você confere a pro- sonagem falasse espanhol? reito pelo teatro ? núncia com um consultor? Raul Cortez - Porque Raul Cortez - Quando desde que nasci nunca tive ne- comecei a criar esse persona- "Pela primeira vez está sendo nhuma dúvida em relação à gem, o que me impressionou minha vocação profundamente prazeroso fazer novela " . Não sabia se muito foi a solidão dele, esse eu tinha talento, mas vocação seu universo, o seu remorso . eu sabia que tinha. Desde pe-

22 IMPRENSA - DEZEMBRO 1996 queno queria ser ator ou es- IMPRENSA - Em en- critor ou jornalista . E encon- trevista à IMPRENSA, o trei uma oposição muito gran - escritor Antônio Callad o de do meu pai. Você pode disse que toda critica nega- imaginar o preconceito qu e tiva é detestável . Concorda existia na época contra artis- com ele? tas, inclusive no aspecto fi- Raul Cortez - Total- nanceiro. Então, fui persuadi- mente. Acho que a palavr a do a deixar isso de lado . Che- crítica ou critico já é terrí- guei a ter aulas de teatro com vel . E um pejorativo . E a Madalena Nicol, mas foram quanto a uma crítica cons- pouquíssimas. Tinha que fa- trutiva, não sei muito bem zer o curso de direito, porqu e o que é isso . Dizem que meu pai era advogado . Foi só existe, mas é muito difícil . mais tarde, depois de várias Quando recebo uma critic a tentativas de trabalho em ou- negativa fico me sentind o tros setores, que decidi defi- profundamente injustiçado . nitivamente fazer teatro. Tenho vontade de telefonar. Já telefonei, para rebater, IMPRENSA - E pensou contestar. Acho que, quan- em jornalismo porque gosta- do a gente está criando um va de escrever? trabalho qualquer, deve ou - Raul Cortez - Não sei vir opiniões . Se tivere m muito bem, mas acho que o fundamento, elas ajudam, jornalista tem uma semelhan- você só pode melhorar. Mas ça muito grande com a pro- já passei por injustiças ab- fissão de ator. Essa coisa de Jornalismo: "Há um excesso de imprensa marrom " surdas, telefonei para a pes- se debruçar sobre os outros , soa responsável, reclamei . de se interessar em profundidade pelo s é publicada pelo jornalista, a fofoca é Nunca dá em nada. Eles querem sempre acontecimentos e pelas coisas que acon - passada adiante para outros que se apro- uma polêmica . Então, pedem que a gen- tecem com determinada pessoa. E tam- veitam. Isso me acontece sempre . Não te escreva uma carta para manter a dis- bém pelo senso de justiça que o artista e me sinto uma pessoa muito querida pela cussão pelo jornal . o jornalista costumam ter. Mas hoje em mídia de uma forma geral. dia acho que essa profissão está mal, be m IMPRENSA - Acha que a critic a mal. No tempo do Cláudio Abramo, por IMPRENSA - Não? influencia o público? exemplo, exigia-se do jornalista uma Raul Cortez - Não me sinto. Na Raul Cortez - Se eu disser que não, dose maior de caráter e de honestidade medida em que apresento o meu traba- estarei mentindo. Mas há atores de nome , na informação. lho eles falam, comentam . Mas se não atores globais que fazem muita bobage m estiver trabalhando não sou absoluta - para ganhar dinheiro e os críticos ne m IMPRENSA - Por que acha que o mente uma pessoa paquerada pel a vão assistir, nem comentam, nem nada . jornalismo está mal ? mídia. Isso sem o menor atrito . Não es- Mesmo se a critica pichar, os atores fa- Raul Cortez - Há um excesso d e tou dizendo que seja ruim ou que sej a turam. O objetivo era faturar mesmo. imprensa marrom, um excesso de ódio , bom. Estou só constatando . Já tenho 65 Mas quando você apresenta um trabalh o de raiva, de incompreensão, de inveja d e anos, e se não tivesse experiência d e sério e recebe uma critica, você tem uma quem tem fama e sucesso. O que sinto, vida, de saber um pouco sobre as pes- resposta negativa na sua bilheteria. Por- vendo de fora, é que a competitividad e soas, seria um desastre . que as pessoas que gostam de teatro pro - entre eles está muito forte . E têm um a curam se informar, procuram ler. Então, posição elitista, que antigamente não ti- IMPRENSA Na verdade, não são a critica negativa prejudica, sim. nham. Você fala com um jornalista d e muito freqüentes as criticas negativas a certo prestígio e verifica que ele é de uma seu respeito. IMPRENSA - Quem você citari a "condescendência" (em tom irônico ) Raul Cortez - Porque meu traba- como bom critico de teatro ? inacreditável . lho é bom. Mas quando faço uma coisa Raul Cortez - E impossível falar d e ruim você não pode nem imaginar. E bom bom crítico sem lembrar o Décio d e IMPRENSA - Já se sentiu prejudi- você nem ler. Almeida Prado. Sem falar de Sábat o cado por algum jornalista ? Magaldi. Entre os novos, gos - Raul Cortez - Muitas e to muito do Nelson de Sá, por muitas vezes . Por ataques pes- "Não me sinto uma pessoa muit o exemplo, que é muito critica- soais, informações deturpadas , do, já teve dificuldades muito mentiras ou fofocas publicadas querida pela mídia de uma forma geral" sérias com várias pessoas de como verdade . Ou então, se não ( teatro e de outras áreas . Ma-

IMPRENSA - DEZEMBRO 1996 23 riângela Alves Lima é ótima, Raul Cortez -Até hoje Alberto Guzik, do Estado, gosto demais do Vianinha . também é muito bom, assim Rasga Coração foi a peça como o Jefferson Del Rios. que mais mexeu comigo , Eles têm uma grande varieda- que me comove até hoje e de de estilos, e é interessante foi das mais importantes qu e perceber os diferentes ângu- fiz. Gosto de Vereda da Sal- los que pegam da obra que vação, de Jorge Andrade . E está sendo encenada. também de A Ultima Praga, que fiz com Antunes Filho. IMPRENSA - Voc ê chega a mudar alguma coisa IMPRENSA - Você já em função da critica? interpretou dois papéis ao Raul Cortez - Quando mesmo tempo: um na tele- estréia um trabalho, a gente visão, outro no teatro. Fez o já sabe se está fazendo bem Carlito no Jogo da Vida e o ou mal. Foram meses de en- Salieri em Amadeus. Como saio. Você pesquisou, selecio- fica a cabeça do ator? nou, já tem o seu caminho. E Raul Cortez - Achei muito difícil rever isso. que pudesse terbloqueamen - to, fechar canais. Mas é im- IMPRENSA - Isso sig- possível. Nunca mais quero nifica que no teatro não acon- fazer isso. Foi terrvel. Em tece como na novela, em que primeiro lugar, porque o o personagem pode crescer. .. Amadeus era uma enorme Raul Cortez - Sim, responsabilidade, não só por- acontece. O que o ator fa z Autores : "Prefiro os brasileiros " que eu estava produzindo , num espetáculo de estréia mas pelo próprio papel de freqüentemente não tem nada a ver com papel por causa da minha voz, que era Salieri. A novela não era tão densa, era o que vai fazer no dia seguinte em dian- bonita e casava bem com a da Cleide uma comédia, uma coisa mais leve do te. Você está nervoso, a adrenalina corre Yaconis, que fazia o papel de Euridice . Sílvio de Abreu. Mas sempre requeria demais, o tempo da interpretação está E tínhamos um efeito vocal : começava a mudanças, o personagem estava sempre errado, isso acaba refletindo nos tempos ler a carta dela, minha voz ia abaixando, em situações diferentes, não era só deco- do espetáculo, enfim as coisas não acon- a dela ia subindo. Uma coisa muito bo- rar. São dois personagens totalmente di- tecem direito. E um espetáculo à parte. nita que sempre funcionou bem durante ferentes e eu tinha que estudar todo dia. Depois, ele começa a melhorar, porque os ensaios . Mas, na estréia, estava tão Acho que acabei prejudicando os dois. o público sempre dá uma energia e diz ansioso que minha voz simplesmente não Fiquei profundamente aborrecido com mais ou menos como você deve encami- saiu. Foi catastrófico. Durante quatro isso, deprimido mesmo. Deixei minh a nhar o seu personagem . Fora isso, a pró- anos só fiz figuração e depois comecei a casa, minha filha e minha mulher moran- pria carga emocional do ator é sempre entrar quieto e sair calado. do no Rio, e me internei no Hotel Glória, diferente de um dia para outro. Isso faz ao lado do Teatro Manchete. E ali fiquei com que o espetáculo se tome sempre IMPRENSA Que autores você dez dias, passando e repassando todo o diferente e muito vivo . Geralmente, o prefere? texto, revendo situações para poder me- espetáculo acaba crescendo muito . Raul Cortez - Os brasileiros . Não lhorar o papel. Acabei conseguindo, e isso tenho grandes ambições de representar me orgulha muito, porque Salieri foi um IMPRENSA - Para deixar mais cla- Shakespeare ou seja lá o que for. Prefiro a dos papéis que mais gostei de fazer. ro: você diz que já foi espinafrado pela identificação com o autor brasileiro, com critica várias vezes? a musicalidade da língua, com as situações IMPRENSA - Qual foi seu maior Raul Cortez - Não, poucas (risos). que o autor cria. Um texto brasileiro dito sucesso? Mas quando comecei, recebi criticas pés- para uma platéia brasileira é muito mais Raul Cortez - Tive a sorte de ter vá- simas, muito ruins . Não sabia absoluta- próximo, mais forte, mais transformador. rios trabalhos premiados. Pode até haver mente nada, tinha uma ansiedade muito casos em que o trabalho de um ator fica grande. Comecei no teatro para estudante IMPRENSA - E o que gosta mais melhor que o de outros atores melhores. com o Vianinha (Oduvaldo Viana Filho) de representar? Quando você cria um personagem ele tem e o Guarnieri (Gianfrancesco) . sua vida própria. Não me refi- Quando resolvi largar o curso ro ao Geremias Berdinazz i de direito e o emprego que ti- "Um texto nacional dito para uma platéi a como se fosse eu : sempre acho nha, numa companhia de im- que é ele. brasileira é mais próximo, mais forte" As vezes surpreen- portação, para viver de teatro, do, ao ver a novela na televi- fiz um teste no TBC . Ganhei o são, gestos ou atitudes de Ber-

24 IMPRENSA - DEZEMBRO 199 6 dinazzi que nem parecem vi r Raul Cortez - Sim. de mim e acabaram saindo . Chama-se Cheque ou Mate Então, aquele personagem tem e é a primeira peça dele. uma autonomia em relação a mim: ele vive, ele está lá. E se IMPRENSA - Do que não fizer bem um personagem se trata? como esse, a impressão que Raul Cortez - Fala do tenho - pode parecer loucu- empresário brasileiro, do s ra minha - é que assassinei problemas financeiros e da uma pessoa. Que essa pessoa ambição desses homens qu e perdeu a possibilidade de ser se fazem sozinhos, por mei o trazida à vida, por duas horas, de casamentos e também , um ano ou quanto durar a no- sempre um pouco brasileira- vela. Então, acho isso uma res- mente, dando um jeitinh o ponsabilidade muito grande. E nos negócios . Há um seqües- não é uma responsabilidade tro que começa a mudar tod a narcisista, pelo contrário : acho a vida do personagem e su a que um ator tem uma função relação com a família . Mas social muito importante, ele é tudo é dito de uma maneira um transformador da socieda- muito cínica e muito engra- de. Os personagens que mais çada também . Isso é o me- gostei de fazer são os que mais lhor no jeito de o Ricardo es- transfonnaram, mais mexeram crever. Há uma critica tam- com o público. Tem gente que bém : ele fica um pouco d e até hoje lembra do Rasga Co- fora vendo tudo acontecer. ração, que contava a história do Partido Comunista. Peça que mais gostou de fazer: "Rasga Coração" IMPRENSA - Se vai fazer a peça é porque gostou ? IMPRENSA - Vê outras novela s bém são dele. Graças a Deus os acertos Raul Cortez - Evidente, caso con- além da sua? são maiores . trário não faria, de jeito nenhum . Tenho Raul Cortez - Nem a minha vejo um papel muito interessante - se não direito, porque não dá tempo mesmo . Ou IMPRENSA - O Geremias qu e também não faria -, dentro de um con- estou fazendo teatro, ou estou indo e vin - você criou seria o mesmo que ele imagi- texto que lembra um pouco as peças do do do Rio de Janeiro ou estou gravando. nou? Abílio Pereira de Almeida. E uma peça Não vejo mesmo. As minhas, quando Raul Cortez - Acho que não. Ele que, vamos dizer assim, critica os costu- estou em casa, faço questão de ver, mas deu uma entrevista dizendo que nunc a mes. Tem sete atores, é uma coisa be m geralmente só dá no fim de semana. E o poderia imaginar que o Geremias foss e difícil de produzir. Benedito (Benedito Ruy Barbosa, o au - ter essa importância na novela . E sem- tor da novela) tem histórias interessan- pre briga comigo porque diz que tem que IMPRENSA - Tratando de empre- tes, a questão dos sem-terras, a do sena- correr atrás do Geremias . sários, lembra em algum aspecto a peç a dor.. . Ele dá uns toques incríveis. do Antônio Ermírio, Brasil S/A ? IMPRENSA - E não pinta ciúme Raul Cortez - Não, não lembra não. IMPRENSA - Você conversa co m de outros atores? O mundo deles talvez seja mais ou me - ele sobre o personagem ? Raul Cortez - Não, é uma coisa nos parecido, mas não tem nada a ver. Raul Cortez - De vez em quand o muito tranqüila. Alguém vai competir co- Assisti à peça do Antônio Ermírio e não ele me telefona, quando escreve uma cena migo? Quem? Não existe . São atore s tem nada, absolutamente nada a ver co m para o Geremias e fica muito comovido. completamente diferentes, idades dife- a do Semler. Então, ele me liga e conta a cena toda . rentes, o processo seletivo de cada um é diferente. Mesmo o personagem acho IMPRENSA - Você faria a peça do IMPRENSA - Ele deve estar que não chega a incomodar tanto assim . Antônio Ermírio ? embevecido com o Geremias. Raul Cortez - Acho que sim. Tem Raul Cortez - Embevecido e can- IMPRENSA - Depois que termi- papel interessante lá. Tem o do político e sado. Escrever tanto do jeito que ele es - nar O Rei do Gado você vai fazer um a tem o do protagonista. Não tenho nenhu m creve, e sozinho, é uma loucura. peça de teatro do Ricardo Semler? preconceito, não. Pelo contrário, gostei muito da peça. Considero mui - IMPRENSA - Ele não to elogiável a atitude do Antô- gosta que ninguém o ajude . .. "O ator tem uma função social, nio Ermírio. Em primeiro lugar, Raul Cortez - Não, ele é um autor que está se produ- quer ser sozinho. A obra é ele é um transformador da sociedade " zindo, e não havia razão para dele, os erros e os acertos tam- ele estar fazendo isso .Acho que

IMPRENSA - DEZEMBRO 1996 25 ele não tem pretensão de se r IMPRENSA - Medo? um grande dramaturgo, mas Raul Cortez - Sim, por- tem tudo para ser. E muito in- que nunca se sabe qual será a teligente e coloca muito be m reação das pessoas . Quando as situações. Claro que, em você entra num lugar, nunc a relação à sua primeira peça, sabe como vão reagir porqu e houve uma grande má von- a sua imagem como ator sem- tade por ele ser o Antônio pre chegou antes . As vezes, Ermírio de Moraes . você é maltratado, ou igno- rado. As vezes, é uma ener- IMPRENSA - Grande gia muito negativa e a gente parte da critica foi implacá- passa a ter medo . Muitos co- vel com ele .. . legas meus reagem em fun- Raul Cortez - Mas não ção disso. Eu já sou mais con- havia razão, o espetáculo fo i fiante nos outros, sempre pre- muito bem-feito, muito be m firo achar que virá coisa boa. dividido, os atores estão to- Mas acontecem coisas com o dos muito bem colocados , o indivíduo que passa de car- com muito talento. E a peça, ro e me xinga toda noite . Um a trama é interessante, por dia vou pegar ele. .. (risos) . que não?A classe média, por exemplo, se sente surpresa e IMPRENSA - E passar gratificada ao ver. anonimamente num ambien- te qualquer, isso não aconte- IMPRENSA - No caso ce com você? do Antônio Ermírio, os crí- Raul Cortez - Não , ticos foram particularmente Fama: "Há momentos desagradáveis " muito difícil. Até em viage m duros. .. é difícil, porque agora te m Raul Cortez - É, eles não poderiam uma ou várias pessoas, me chamando d e novela brasileira em toda parte . Já peguei jamais perder essa oportunidade. Quan- careca filho da puta, aos gritos. Acho que um vôo de Veneza para Paris pela Air do é que o Antônio Ermírio poderia ser é uma maneira de dizer que gostam de France em que a aeromoça vinha me tra - malhado? É difícil . Como homem de mim. Nunca vi grossura igual, não pos- zer suco de laranja toda hora porque ti- negócios ele é exemplar; como empre- so imaginar. As vezes, também, saio co m nha visto uma novela em que eu traba- sário é fantástico ; como homem de fa- a minha filha e a gente não tem a tran- lhava. Já me aconteceu várias vezes em mília, a gente sabe muito bem, é de uma qüilidade que gostaria . linhas aéreas estrangeiras . Acho isso gra- discrição total . Então, os críticos apro- tificante, principalmente lá fora. Você está veitaram. É aquilo que eu disse : existem IMPRENSA - Pelo jeito, a fama sozinho, viaja sozinho e, de repente, é certas pessoas que não perdoam o suces- incomoda .. . parado na rua . Fico com o meu ego lá em so de ninguém. Raul Cortez - Nem sempre, porque cima: é uma massagem maravilhosa . ao mesmo tempo é muito gratificante vir IMPRENSA - Por falar em suces- uma criança pedir autógrafo ou falar do IMPRENSA - Que jornais gost a so, a fama chega a incomodar ? seu personagem. .. Quando passa um car- de ler? Raul Cortez - Sempre me pergun- ro e é aquela alegria porque as pessoas Raul Cortez - Leio O Estado de S. to muito isso, porque as pessoas me abor- reconhecem a gente. .. Isso é bom. Ou, Paulo. E, no Rio, leio O Globo. Isso é dam, me pedem autógrafo e nunca m e então, quando vem gente muito humilde uma coisa em que sou taxativo . Também recusei a dar. As vezes, é simpático e, às pedir autógrafo, com um respeito que você no avião pego O Estado de S. Paulo e O vezes, é profundamente aborrecido . Mas não entende por que tão grande. Isso gra- Globo. Não tem O Estado de S. Paulo , é aborrecido porque as pessoas se tor- tifica muito. Nunca neguei autógrafo: só não tem O Globo, eu não leio. nam inconvenientes . As vezes, chegam acho desagradável, às vezes, o jeito com num momento em que você está conver- que me pedem . Acho que nós todos dize- IMPRENSA - Lê o jornal inteiro sando seriamente, ou está checando su a mos: ah, batalhamos tanto para ser reco- ou vai direto ao "Caderno 2" ? passagem, ou está fazendo um pagamen- nhecidos e quando somos reconhecido s Raul Cortez- Depende do tempo que to, ou seja lá o que for . Mas essas geral- passamos a não gostar. As vezes, a gente tenho. As vezes, não tenho tempo e só lei o mente são pessoas inconvenientes sem- começa a ter medo . as manchetes. Mas vou por partes mesmo. pre, inclusive na vida pessoal Leio na primeira página o qu e delas. Então, há momentos de- acho mais interessante, depois sagradáveis . As vezes, estou "Se não tem O Estado de S. Paulo vou para a "Internacional" e daí aqui na minha casa jantand o eu não leio. Sou taxativo" para o "Caderno 2". Quando só com um convidado e passa u m e O Globo, tenho tempo para virar as pá- carro em frente, não sei se com -k I ginas, aí é o "Caderno 2" .

26 IMPRENSA - DEZEMBRO 1996 IMPRENSA - E revistas? IMPRENSA - Qual o Raul Cortez - Veja e erro desses políticos antigos? IstoE, que acho uma ótima re- Raul Cortez - E uma vista. E algumas estrangeiras. indecência que coisas de in- teresse público tenham que IMPRENSA - Que au- ser barganhadas . Se um pre- tores gosta de ler? sidente não barganhar não Raul Cortez - Gosto consegue nada. Quem viaja muito da Lygia Fagunde s para o Norte vê estrada s Telles. Agora estou lendo um numa destruição total, num a livro do Gore Vidal . Estive decadência absurda, e, no uma época lendo Hesse, gra- entanto, encontra latifundiá- ças a Deus passou. Acho fan- rios, pessoas que foram go- tástico o Fernando Moraes . vernadores, com um poder Leio muita biografia . econômico assustador. De onde veio toda essa fortuna ? IMPRENSA -Você falou E como é que pode vive r do papel transformador do ator. com tudo isso vendo o povo Como fica isso em tempos de ali morrendo de fome? Me- ditadura e de democracia? nores na prostituição ou for- Raul Cortez - Uma coi- mando gangues nas ruas ? sa que sempre me deixa na dú- vida é até que ponto a repres- IMPRENSA - Hoj e são atua num artista. Sempre você trabalha porque gosta achei que, nos anos 60 até 70, ou porque precisa ? quase 80, a gente era mais Raul Cortez - Traba- criativa em teatro. As formas Teatro : "Sempre traduz a realidade " lho porque gosto e ganho que tínhamos para escapar da dinheiro com isso, para sur- repressão nos obrigavam a fazer coisas IMPRENSA - Politicamente, como presa minha. absolutamente extraordinárias em termo s você vê o Brasil ? de espetáculo. Então, não sei se a repres - Raul Cortez - Não entendo de polí- IMPRENSA - E não escreveu mais ? são não faz um artista atuar mais, criar tica, mas a última eleição, demonstra que Raul Cortez - Não, nunca mais . mais. O teatro sempre traduz uma reali - o paulista é profundamente individualis- dade. Se o teatro está medíocre num dado ta. Interessava colocar o Pitta porque eles IMPRENSA - Por quê? momento é porque naquele momento nó s acham que o Maluf fez coisas que ele s Raul Cortez - Fiquei traumatizad o estamos medíocres, a realidade do go- consideram extraordinárias para São Pau- (risos) . Eu estudava no Colégio São Ben - verno é medíocre. Hoje em dia, temo s lo. A primeira vista, o que o Maluf fez foi to, uma escola de padres, e, na minh a um teatro, vamos dizer, consumista, para extraordinário, então, conviria continuar santa inocência, escrevi um conto para servir a uma sociedade profundamente esse trabalho . Mas a ambição do Maluf é um concurso organizado pelo grêmio consumista . Peças sem o menor interes- pegar a presidência. Não sei se esses mes - estudantil. Passava-se num prostíbulo e se em levantar problemas e sem outr o mos que elegeram o Pitta vão eleger o em ambientes da alta sociedade . Queria propósito a não ser o de entretenimento Maluf futuramente, mas eles estão certos mostrar que tudo era a mesma prostitui- encontram uma resposta maravilhosa por de que durante quatro anos São Paulo ser á ção, a mesma baderna. O pessoal do grê- parte do público. Isso traduz exatamen- uma grande cidade. O eleitor, hoje em dia , mio achou fantástico, ganhei o primeiro te o momento que estamos vivendo . E não se baseia em ideologias : ele vai por prêmio. Mas os padres, ao entregarem o sempre foi assim. Mas sempre houve , aqueles políticos em que põe mais fé. Não prêmio, me xingaram muito e acabaram também, uma coisa paralela acontecen- vejo partido algum com uma força maio r fechando o grêmio. Fiquei muito trau- do, por iniciativa de gente jovem, gente de atuação. Acho que existem político s matizado com isso. criativa, de talento, que se opõe a isso. antigos que retardam sistematicamente o Aqui em São Paulo, onde eu convivo nosso crescimento. A gente deveria tirar IMPRENSA - Muitos escritores e mais, tem um movimento de jovens mui - essa politicada velha daí. Não sei de que jornalistas dizem que escrever dói . E para to interessante. Eles fazem com uma ale - maneira A gente vem sempre tentando o ator: representar dói ? gria muito grande espetáculos que a gen - isso, mas eles sempre estão de volta, prin- Raul Cortez - Bastante. Mas ao te já viu, já conhece . Existem coisas que cipalmente no Nordeste . mesmo tempo você põe para fora muita eles fazem hoje e que, nos ano s coisa e esse exorcismo é ex- 60, eram muito mais fortes. Mas traordinário, você sai revita- a gente sente essa preocupaçã o "Hoje temos um teatro consumista lizado do espetáculo. Isso é de colocar o teatro como trans - ótimo. E quando as críticas formador e para eles é justamen - para servir uma sociedade consumista são favoráveis, então, aí ne m te isso que interessa . se fala.. . (risos). X

IMPRENSA - DEZEMBRO 1996 27 pensador e poeta american o e do chamado pós-moderno, da linotipia, Ralph Waldo Emerson, cuj a imprimindo a chumbo, e da Internet, gra- vida se estendeu por quase todo vando a silício, os fatos do planeta . o século passado, perguntou-se certa ve z Estamos numa encruzilhada? Há real - se era importante e necessário ao ho- mente excesso de informações? As notí- mem saber, todos os dias, o que se pas- cias que recebemos diariamente são in- sa nos quatro cantos do mundo. Já em dispensáveis à nossa condição de nati- sua época, Emerson indignava-se co m vos da aldeia global? E verdadeira a cren- a abundância de informações que inva- ça de alguns de que o jornalismo impres- dia, cotidianamente, a vida das pesso- so e eletrônico privilegia demais as tra- as, e questionava com gravidade o va- gédias, as mazelas humanas, o lado ne- por Assef Kfouri lor desse excesso. gativo dos acontecimentos? As pessoa s Bem mais de um século depois, a re- estariam cansadas de tanto bombardei o vista Time, em sua edição de 21 de outu- noticioso e por isso desligando suas an- O público é bombardeado bro último, volta a discutir o assunto, em tenas? Qual a imagem do jornalista par a diariamente por matéria de capa. "Estamos sendo bom- o homem comum? Ele é arrogante , bardeados por informação, fofoca e co- elitista, alienado da vida à sua volta? E uma carga cada vez mentário como nunca antes . Mais notí- um demiurgo prepotente, cético demais maior de informações, cias significam melhores notícias?", di z e por demais autocentrado ? a chamada na capa, onde se vê um ado- Há tantas questões sobre este tema comentários e fofocas. lescente, vestido à moda antiga e empu- quanto respostas inexistentes, ou Internet, noticiário nhando uma tela de computador, dentr o desencontradas, ou corporativistas. A re- da qual letras garrafais gritam o título da vista lime não vai ao fundo da questão a on-line, canais de notícias matéria: As Guerras da Notícia . que se propôs . Talvez nem pudesse, sen- 24 horas no ar. A dúvida: A ilustração da capa - o garoto de do apenas um semanário que, a cada sete botinas, calça curta e suspensórios, figura dias, precisa, por força da tradição do s mais informação tradicional a vender diário pelas ruas , periódicos, ter sempre um fato a desta- significa melhor décadas atrás, ao lado de uma pilha d e car. E ao destacá-lo insufla ao fato um a telas de computador, à guisa de jor- amplitude que talvez não tenha, ne m informação? lnais - joga com a antítese do antigo mereça. Eis outra questão . E uma outra ,

32 IMPRENSA - DEZEMBRO 1996 que nos fala de perto: até que ponto o than life", como eles costumam dizer. curdas, que os americano s Brasil estaria vivendo situação semelhan- O caso O. J. Simpson na mídia não é não conseguem entender, te à sugerida pela Time? E certo que, co m prova disso? e uma campanha presiden- a abertura democrática e a estabilizaçã o Quando a revista se questiona, na ma- cial que despertou menos interesse do da moeda, proliferam no país os veícu- téria, por que os americanos estariam , que qualquer outra na história recente" , los noticiosos. eventualmente, se desinteressando pelos compara a revista . Hoje, já temos jornais que tiram um noticiários, pelo menos os das redes de milhão de exemplares aos domingos . No TV e da grande imprensa, a resposta por Uma boa tragédia ano passado, mais de cem novos título s ela encontrada, junto aos executivos do "As pessoas, em especial os telespec- de revistas foram lançados no mercado . ramo, é de que o noticiário hoje em dia é tadores, adoram uma boa tragédia", di z Temos acesso à Internet, a TVs a cabo, a menos interessante - ou, no mínimo , Eugênio Bucci, editor da revista Superin- canais exclusivos de noticiário, entre ele s menos crucial para a vida das pessoas. teressante e colunista de TV da revist a o recém-lançado Globo News, sob o co- Ao longo de quase todo este século, Veja . "Olhe o festival em torno da qued a mando da veterana Alice Maria. N- explica a Time, o noticiário foi domina- do vôo 402. A sinuca em que se mete - Temos emissoras de rádio veicu - do por matérias que tinham impacto ram os meios de comunicação tem a ve r lando 24 horas de informação. E te- freqüentemente direto, de vida ou com isso: o público se delicia com emo- mos acesso a notícias até mesmo e m morte: a Grande Depressão nos ções fortes, tenham elas sinal positiv o painéis eletrônicos espalhados pela ci- anos 30, a Segunda Guerra nos ano s (como no carnaval) ou negativo (como dade e nas pequeninas telas dos pagers, 40, a Guerra Fria e a ameaça d e nas tragédias) ." Bucci acredita que o pú- que carregamos à cintura. hecatombe nuclear nos anos 50, as con- blico é um consumidor voraz de emo- Caio Túlio Costa, responsável pelo vulsões sociais e a Guerra do Vietnã no s ção, mais do que de informação . Lidar Universo Online da Folha de S. Paulo, anos 60. com isso, afirma, requer uma estratégi a diz que a revista americana, hoje viúv a Só no ano de 1968, lembra a revista , menos simples e mais responsável . desconsolada da Guerra Fria, dimensio- houve dois assassinatos de importantes Heródoto Barbeiro, gerente de jorna- nou mal o assunto, que o tema bombar- figuras públicas - Martin Luther Kin g lismo da Rádio CBN de São Paulo, que deio de informações é algo muito mai s e Robert Kennedy; a gigantesca ofensi- veicula informações 24 horas, diz que há americano do que propriamente do res- va Tet no Vietnã; o protesto dos black uma tendência mundial de se noticiar o to do mundo . Na terra do Tio Sam, tudo powers nas Olimpíadas do México ; e incomum, o bizarro e, às vezes, até mes - tem de ser grande demais, dimensionado uma tumultuada campanha eleitoral. mo o grotesco. Nisso, vai muito de m á demais, espetaculoso demais, "bigger "Hoje temos guerras entre facções notícia. "Mas a imprensa deve reportar

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os atos sociais sem se preo- num segundo, em nosso Richard Saul Wurman, lem- cupar se são bons ou não . computador ou via TV a ¡/ bra Bucci, diagnosticou isso O juízo de valor deve se r cabo" há tempos no seu Ansiedade de deixado para o leitor." Carlos Eduardo Lins da Sil- Informação, livro publicado no Bra- Já para Fernand o va, correspondente da Folha de S. Paulo sil pela Cultura. Mitre, diretor de Telejornalismo da em Washington, acha natural que a sen- Rede Bandeirantes, a imprensa brasilei- sação de sufocamento leve à exaustão . Luta ra e a imprensa de um modo geral tê m "Eu mesmo, quando me deparo com a "É claro que há uma banalização da sido muito negativas em seu s aura que sempre tiveram as noticiários . "E uma coisa ge- manchetes, as capas de revis- ral que está acontecendo e eu ta, as primeiras páginas de jor- tenho questionado muito isso na!", diz Bucci . E acrescenta: com os jornalistas ." THE NEWS "Atualmente tudo isso fico u muito corriqueiro, perde u Paradoxo aquela solenidade que já teve . WA0,r,.r..h,,,,, R.¢ ., S.r¢¢.. .r Segundo a revista Time, está hJrnt. ,,-n-,L., . Ni■t .ur E claro, também, que todo o acontecendo um paradoxo hoj e mundo se vê obrigado a se de- nos Estados Unidos . Ao mes- sobrigar de ver tudo o temp o mo tempo em que os america- todo. Se não, todo o mund o nos estão sendo inundados co m morreria eletrocutado" . Ele diz noticiários como nunca antes , ainda que hoje existe um au - o interesse por notícias parec e mento da pluralidade de veícu - estar diminuindo . As pessoa s los informativos . Declinam as estariam ocupadas demais, ou grandes redes, proliferam veí- muito centradas em suas pró- culos mais direcionados . A boa prias vidas, ou mesmo en- notícia no meio disso é que a tediadas com a situação do Oriente Mé- Paradoxo americano: credibilidade vai ser o grande diferen- dio, ou, quem sabe, ainda confusas com cial. A necessidade da informação de bo a tantas alternativas disponíveis . mais noticiosos no ar, qualidade não diminui, apenas aumen- A leitura de jornais está em declínio , menos interess e tou. "O que vai separar a boa d a informa a revista. Talvez, em parte, por- pelas próprias notícias má informação é a credibilidade. que a maioria das pessoas busca infor- Quem a tiver, continuará co m mação na TV: 59% contra 23% que a re- procura por seus serviços" cebe por jornais . Mas a audiência do s pilha de revistas que tenho de olhar Heródoto Barbeiro acha que a noticiários das grandes redes também todas as semanas, sinto vontade d e notícia está em ascensão no mun - está caindo. Quinze anos atrás, diz a re- jogá-las fora . Não fosse por obri- do. O que ocorre, diz ele, é que o vista, os noticiários das três grandes re- gação, restringiria minhas assinatu- leitor vem deixando a passividad e des (CBS, NBC eABC) eram vistos, con- ras a uma ou duas revistas por mês . de lado e tornando-se editor do seu juntamente no horário nobre, em 41,2 % Ele acredita que, passado o porre ini- próprio jornal . Ele está escolhendo po r de todos os domicílios da América . Hoje, cial do excesso de oferta de informa- si mesmo o que quer ver e ler ou se in - esta audiência somada despencou para ções via Internet, haverá uma acomo- formar. Está buscando a notícia em veí- seu nível mais baixo de todos os tem- dação natural à demanda. "A velocida- culos alternativos, multiplicados pel a pos: 26,1%. de dos modems aumenta exponencial - presença da informática. Por isso, h á "As pessoas estão saturadas e por isso mente, mas a velocidade da leitura hu- declínio de leitura dos jornais e qued a vêm se desligando", afirma o diretor d o mana, não", diz, citando Antonio Pi - na audiência dos noticiários da TV. "Mas Poynter Institute for Media Studies , menta Neves, diretor-editor chefe d a não do interesse pela notícia. Esta vai ouvido pela Time. Já a diretora-exe- Gazeta Mercantil . As coisas vão se aco- ser cada vez maior." cutiva do Media Studies Center , modar em pouco tempo, ele acredita . Fernando Mitre diz que a informação Nancy Woodhull, diz que não estamo s Para Eugênio Bucci, as pessoas es - é matéria-prima importante para a vida. tendo uma explosão de informação por - tão intoxicadas, soterradas de publicida- O que está acontecendo nos Estados Uni- que as pessoas desejem mais informa- de, diversão e informação. Estão cerca- dos e "de certo modo" no resto do mun - ções. "Estamos tendo uma explosão de das por todos os lados. Há uma nova neu - do, a avalanche noticiosa, só vem confir- informação por causa do surgimento de rose que é a ansiedade diante de tanta mar o que ele entende como a importante tecnologias capazes de nos trazer tudo coisa para ler, ver, ouvir, consultar . função do jornalista: não apenas coletar

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fatos, mas hierarquizá-los , ção naquela semana - recor- controle autoritário da liber- dimensioná-los, analisá-los . "É de da CNN. dade de informação ." evidente que houve queda de au - l Por outro lado, neste am- O mesmo pensa Eugê- v diência no noticiário das gran- biente fragmentado, em que a no- nio Bucci, para quem o aumento do des redes americanas, pois tícia não é mais uma experiência co - número de agências e veículos de infor- a TV a cabo e outros veículo s letivamente partilhada, não é de espan- mação jornalística é um benefício para a e s t a ofracionando a audiência . Está tar, lembra a matéria, que negros e bran - democracia . E completa: "Insisto na havendo antecipação por intermédio de cos vissem o veredicto do julgamento d e credibilidade. O que é credibilidade em outros veículos . Mas ao jorna- jornalismo? É a garantia d e lista cabe a tarefa primordial d e que a informação foi técnica e Ito " organizar os fatos" Ele enten- • e ¢goo : . o ° eticamente bem apurada e edi- 1lv7t¢pt ¢`¢¢} ■r¢s .m twaea a ¢ 1 O de também que, no Brasil, o ; ,1M tada, portanto confiável. A re- processo de saturação ainda não , ¢ a4st .s i¢io :awi¢í¢iiií.rJrisst®¢ ¢ s ¢ u lação de confiança entre o veí- :+rs ¢ F 4 aconteceu. Tanto isso é verda- 6704, t lo slr■¢l¢ü ¢ls■■¢r6D/ #t 4A culo e o seu consumidor (o qu e "rB+► ket4 .+a¢otw¢sa ! ■¢¢■■rn .r■t,¢wlk tti¢ xl¢ tL,R de, lembra Caio Túlio Costa, do i idY[iawv■ .rt ,g ■ our. .w¢L■¢ ■ :iWDa AS ¢ A ¢llt¢l ¢ inclui a independência desse Universo OnLine, que, em nos- 1 g Lwa■pese•a■■0I t e>!■a . : s¢■ei+■sel¢+ltse+f¢l ;¢ : veículo) será mais importante so país, tem havido crescimen- o¢7aitt ¢rAlraa. :s■ a . ¢ anew ¢w¢tta¢kr+¢,y ; do que é hoje" Carlos Eduar- .¢,a a ¢+n■as+ut to na vendagem de revistas e ¢¢¢+irir■wit¢■¢ ew rt/eitI do Lins da Silva acredita que sp■,.! rf, a st ■it t(tray t l ¢►eHW¢¢ \ ¢ jornais, nos últimos anos . cl i W g a Internet é uma grande possi- : w A " MO bilidade para solidificar senti- Fragmentação mentos comunitários . A matéria da Time diz que os americanos dedicam cada Menos coleta vez mais tempo às informa- Aspecto também polêmic o ções de interesse pessoal, às do assunto é a afirmação d a expensas das que interessam à revista de que a atual explosã o comunidade como um todo, como acon- EUA: cresce a rede de noticiosa não foi acompanhada por vo- tecia em passado recente, quando a mai- lume equivalente de coleta de informa- or parte da população partilhava, local - difusão, enquanto ções . Diz a matéria que, nos últimos mente, o mesmo jornal e via os mesmo s encolhe a rede de anos, o corte de despesas nas redes de noticiários nacionais na TV. coleta de in fornurçõ>,es TV e em muitos grandes jornais tem re- Que conseqüências podem advir des- duzido o número de correspondentes a sa fragmentação de interesses, desse de- garimpar matérias dentro e fora do país . sinteresse crescente dos americanos e m O. J . Simpsom sob óticas tão radical - Não foi a notícia que explodiu, ga- partilharem fontes comuns de informa- mente diversas . Ou que grupos mi- rante a revista, mas a conversa em ção? A revista entende que, de um lado , litantes de extrema direita - nutri - torno de notícias; comentário, não isso pode ser benéfico ao pluralizar as dos por seus próprios livros, perió- informação, tornando tal explosão fontes, democratizando a informação dicos e listas de E-mail - se conven- tanto democrática quanto suspeita. num momento em que fusões e aquisi- çam de que a América está sendo inva- "Todo mundo tem seu ponto de vis- ções vêm tornando a indústria da notíci a dida por tropas das Nações Unidas . ta, e cada ponto de vista recebe destaque" , e do entretenimento cada vez mai s "Quando as fontes noticiosas tradicionai s diz a revista . A questão orçamentária no oligopolizada. "A Net é um meio muito começam a desaparecer, pontos de vist a Congresso americano e a Guerra d a mais livre do que a imprensa tradiciona l alternativos sobre o mundo principiam a Bósnia ganharam tanta atenção quanto a neste momento", destaca o jornalista Jon florescer", conclui a revista, talvez insi- saúde de Liz Taylor e o divórcio de Lady Katz, na matéria da Time. nuando que a América, cozida a ferro e Di. Muitos editores, relata a Time, fica- A revista dá como exemplo desta nova sangue, corra o risco de se descosturar ram atônitos com a gigantesca cobertur a realidade o ataque de mísseis america- no processo . dada, o ano passado, ao julgamento de O. nos contra o Iraque, em outubro . Os r Heródoto Barbeiro vê a coisa com J. Simpson, acontecimento de importân- usuários da Net correram aos seu s otimismo. As pessoas estão apena s cia secundária, mas que, por razões com- computadores para saber das notícias . excercendo o seu direito individua l petitivas, não podiam ignorar. Na CNN Interactive, o tráfego de buscar suas próprias fontes de in- Heródoto Barbeiro entende que a co- triplicou em minutos ; os compu- formação. "Isto é um passo adiante leta de informações não diminuiu, ape- tadores do site forneceram mais de no caminho de fortalecer a demo- sar do aumento de conversa em torno da 18 milhões de páginas de informa- cracia e impedir a implantação de notícia. Ao contrário, a coleta aumentou.

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"E a conversa é boa . É mente como um espetáculo deprimente , obviedade, mas é bom que a gen- uma forma de aprofundar em vez de uma atividade vital na qual o s v- te não se esqueça dela: todos o conhecimento de um fat o cidadãos podem e devem se envolver" . ganharíamos se errássemos e um elemento que pode mo- E acrescenta: "Quanto menos os ame- menos e se tivéssemos mai s tivar a reflexão sobre determi- ricanos se importarem com a vida pú- cuidado antes de publicar in- nados acontecimentos ." blica, menos estarão interessados em qual - formações. Ao mesmo tempo, "Informações não são pedras que s e quer forma de jornalismo". se a imprensa não fosse pelo me- n o s pegam no interior de Goiás e se levam Pequisa da Time / CNN revela que a um pouco temida (sobretudo por aquele s para o porto de Santos", diz Eu- que detêm o poder no Brasil) , gênio Bucci . Interpretar a rea- alguma coisa estaria errada " lidade, contextualizar os fato s Heródoto Barbeiro acredi- é muito mais importante hoj e ta que há jornalistas elitistas e do que simplesmente relatá-los. autocentrados, mas são exce- "Claro que o relato objetivo é ções. A maioria dos jornalistas um pressuposto da interpreta- brasileiros identifica-se com o ção e da contextualização, mas seu público - "essa afirmação só o dado objetivo é pouco para não vale para o Brasil" . o jornalismo atualmente . A per- Para Fernando Mitre, o jor- gunta hoje é menos aquela ve- nalista brasileiro ainda é arro- lha: o quê, quando, onde, por gante e precisa se aperfeiçoar quê, quem; é algo como : e daí? mais. Já para Caio Túlio Cos- e eu com isso? o ta, ele é endeuzado em alguns que tudo iss o nichos e atacado em outros. "É significa? o que necessário que o jornalista con - ficou diferente?" quiste uma imagem de mai s precisão. O jornalista precis a Comentário úti l Imprensa american a ser preciso." E diz mais: o jornalista bra- Isso nos remete, segundo ele ainda, a sileiro nunca teve muito contato com o um outro nível de discussão sobre o jor- perdeu contato com o público, precisa se preocupar mais co m nalismo e, nesse nível, diz, não cabe mais seu público, as verdades, sair mais às ruas . "aquele cinismo do jornalista neutro" . As dizem os críticos "Nosso jornalismo é de grand e visões de mundo do jornalista e do veícu- qualidade, mas é necessári o lo em que ele trabalha serão cada vez mai s que o jornalista entre mais e m acessíveis ao grande público e cada vez imagem negativa da imprensa vem real - contato com a vida, com o co- mais necessárias para que a informaçã o mente crescendo : 75% dos pesqui- tidiano ." possa ser corretamente entendida . "Se se sados afirmaram que a mídia é "sen- Parte importante da função entende o comentário como contextuali- sacionalista"; 63%, que ela é "muito J jornalística é olhar sempre o zação de boa qualidade, transparent e negativa"; e 73% disseram estar "céti- próprio umbigo, e ver critica- quanto às próprias motivações, ele é ne- cos quanto à veracidade" das notícias que mente como as coisas estão cami- cessário. Ou melhor : é indispensável ." recebem. nhando. Houve tempo em que se dizi a Alguns críticos da imprensa, ouvido s No Brasil, a imagem do jornalista jun- que a televisão mataria o rádio, que o pela revista Time, sustentam que não é a to ao grande público é boa. "Melhor do cinema mataria o teatro e assim por di- notícia, mas a maneira como os jornalis- que se pensa", diz categórico Eugênio ante. Agora é a vez de a TV a cabo e de tas cobrem os acontecimentos que leva Bucci. Os jornalistas aqui aparecem , a Internet subirem ao cadafalso. Mas ao desinteresse do público. No li- muitas vezes, como alguém que es- continuam todos aí, vivos da silva . Não vro Breaking the News : How the cuta as reclamações do povo, recla- deixa de ser no mínimo revelador que a Media Undermine America n mações para as quais as autoridade s revista Time, ao final da matéria, convi - Democracy, James Fallows, hoje são surdas. "Mas há problemas, é de os leitores a discutirem o editor da U.S. News & World Report, claro. O que mais me preocupa é que assunto via Internet. O velho afirma que os jornalistas perderam o con- existe na população um certo medo de jor- meio reconhece suas limita- tato com o seu público ao se tornare m nalistas. As pessoas, famosas ou não, têm ções e estende ao novís - muito elitistas, autocentrados, cínicos . Es- medo de ser devassadas para o grande pú- simo a possibilidade de creve Fallows : "Cada vez mais, os jorna- blico, e devassadas de modo incompeten- ampliá-las, em saudáve l listas mostram a vida pública principal- te, injusto e até mentiroso . Vou dizer uma convívio. L

36 IMPRENSA - DEZEMBRO 1996 lembrar de algumas cenas da novela O Rei do Gado (Rede Globo, de segunda a Jornalista em novela: sábado, 21 horas), o atual grande suces - so no gênero. Alguns delegados, um de - tetive e vários repórteres apareceram . ingênuo ou deslumbrado Todos eles como elo de ligação entre si - tuações envolvendo os personagens cen - trais, ou simplesmente reafirmando a Autores e atores de televisão força de um personagem . Como no caso daqueles repórteres todos querendo no- têm traçado, ao longo do tempo, tícias do poderoso fazendeiro Brun o um perfil distorcido e Mezzenga, personagem principal da tra- ma, interpretado por Antônio Fagundes , caricato do profissional de jornalismo que havia desaparecido na queda do seu avião na selva. Raras vezes, nestes 33 anos de tele- por Leão Lobo novela no Brasil, o jornalista apareceu como protagonista, ou até com um des- taque maior. Um desses exemplos foi n a á certo que jornalista, de maneira que o público telespectador descobris- novela Vale Tudo, de . geral, é meio chato, presunçoso , se que não existem só "fofos", com o Lídia Brondi interpretava uma produto- T arrogante, só pensa no próprio tex- diz Marisa Orth, nas redações. ra de moda de uma revista tipo "estilosa" to e, vez por outra, é obrigado a invadir e trabalhava com um jovem editor cha- a privacidade alheia, como se fosse u m Eternos coadjuvantes mado Caio, interpretado pelo talentos o policial. E isso mesmo. Jornalista, o re- Não sei exatamente quando um re- Marcos Palmeira (atualmente o fogoso pórter, às vezes é muito parecido co m pórter apareceu pela primeira vez num a Valentim de Salsa & Merengue) . Apesar policial. No entanto, se os programas jor - telenovela diária . Certamente um poli- do esforço dos atores e do destaque qu e nalísticos da TV, comoAquiAgora (SBT) cial apareceu primeiro, mas ambos sur- o jornalista obteve na trama como segun - e Na Rota do Crime (Rede Manchete) , giram com o estigma de coadjuvantes e do galã, o que poderia até nos honrar, fazem uma verdadeira campanha para vêm se mantendo assim até hoje. Basta não adiantou, não conseguíamos no s limpar a imagem identificar. O que dos policiais, nin- eles diziam não guém se preocup a condizia de for- com a image m ma alguma com o dos jornalistas . dia-a-dia de uma Ao contrário , revista daquele ti - a TV acaba de- po. Culpa do au - turpando mai s tor? A novela foi ainda a figura do um dos maiore s profissional de sucessos da his- imprensa, pintan- tória da televisão , do-o de forma ca- mexeu com o Bra- ricata, ingênu a sil com aquela per- ou deslumbrada gunta - "Quem nas novelas e mi- matou Odet e nisséries. Roitman"? Pare- Já no próprio ce que a realida- telejornalismo , de de uma reda- desde que a Glo- ção não fica con- bo inventou um fortável numa o- determinad o bra de ficção des- "padrão" e colo- se gênero . Mas cou no vídeo u - por quê? ma porção de rapazes e moças boniti- O Rei do Gado: A razão talvez fosse uma falta de nhos e até uns senhores de barbas bem glamour na nossa profissão, mas o cine- aparadas, todo mundo ficou achand o repórteres aparece m ma desmente isso. A verdade é que, nas que todo jornalista é desse jeito. Foi novelas, raras vezes jornalistas foram preciso que o SBT descobrisse o Bóri s na trama como "mocinhos" ou "bandidos" pra valer. Mas Casoy na redação da Folha de S. Paulo coadjuvantes freqüentemente foram personagens fol- e fizesse dele seu "âncora n° 1" para clóricos. As novelas estão recheadas de

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colunistas sociai s O curioso é afetadíssimos e, que muitos nove- estes sim, se en- listas foram o u caixam perfeita- ainda são jorna- mente às tramas , listas, como Be- sempre cheias d e nedito Ruy Bar- ricos e pobres . Se- bosa, Aguinaldo ria isso? As nove- Silva, Ferreira las são sempr e Gullar, Dagomi r povoadas de ricos Marquezzi. E ou- e pobres e os jor- tros como Mari a nalistas sempre fi- Adelaide Amaral , cam no meio. Tal- Lauro César Mu- vez sejamos me- niz, Silvio de A - dianos demais breu, Mário Pra - para uma teleno- ta, e vela. Nunca fo- Gilberto Braga, mos tão pobre s são muito ligados como hoje, mas aos jornalista s continuamo s por suas histórias mantendo uma de vida. Mas há certa pose . E jor- um mistério que nalista rico, des - os impede de nos ses de redação, só me lembro de um : Sa- Plantão de Polícia: ver como realmente somos . Será que o muel Dirceu . grande público nota que há uma diferen- Já repararam também como jorna - jornalistas ça entre os jornalistas que aparecem e m lista de novela sempre corre o risco de e redação novelas e os jornalistas seus vizinhos , virar outra coisa? Virar escritor é o ris - seus parentes ou clientes ? co mais óbvio . Escrever livros é. mais caricaturados do que escrever para jornais e revistas . Outros discriminado s Eu mesmo, que também sou ator, ante s Os psicólogos também ficam bravís- da moda criada por Adriane Galisteu / A mais comovente tentativa de repro- simos com a forma como são representa - Zélia Cardoso de Mello, vivi um jorna- duzir uma redação e o dia-a-dia de u m dos numa novela. Eles não se reconhecem lista/escritor. Fui convidado por Jayme jornalista foi da atriz Regina Duarte, na- de jeito nenhum e também sempre figu- Camargo para interpretar um jornalista quela sua produção independente chama- ram como coadjuvantes . E nos programas - eu mesmo - na sua novela O Cam- da Joana, Repórter. Os atores Rodrigo humoristicos da TV eles sempre aparece m peão . Gravei um capítulo no qual fu i Santiago, e até a própri a como tema de piadas. Sorte deles que sã o apresentado numa festa ao personagem Regina chegaram a estagiar na redação psicólogos e sabem lidar com a rejeição . milionário do . E ele em que eu trabalhava na época, a do Jor- Já nós jornalistas continuamos sonhan- me convidou, na cena única, para es- nal da Tarde . Esforço perdido, porque os do em um dia sermos protagonistas de crever as memórias de sua família . Mas autores não estagiaram e mais uma ve z uma novela das oito da Globo, daquelas não cheguei a escrever porque a novel a exageraram na dose e fugiram da real. A que vêm emendadas com os nossos cole - era da Rede Bandeirantes, e, no dia se- tal Joana cobria todos os setores, ne m gas campeões de audiência do Jornal guinte ao da gravação, o autor foi tro- desconfiava o que fosse uma "editoria" . Nacional; que uma redação seja construí- cado e o diretor demitido, junto co m E também não deu audiência . da no Projac como cenário principal; que 50% do elenco . Menos eu, porque nã o A melhor experiência neste sentido na trama o copidesque também apareça; cheguei a ser contratado . A cena foi par a está no ar atualmente na Rede CNT, ao s e que assessor de imprensa não seja cha- o ar, mas até hoje não recebi meu cachê . sábados à meia-noite . Chama-se Pista mado de divulgador. Principalmente que , Dupla, uma série que mais uma vez mis- em todas as novelas em que apareçam re- Esforço perdido tura polícia e jornalismo. No caso, em pórteres, eles saibam segurar os microfo- Houve experiências de personagen s pé de igualdade, já que conta as aventu- nes e não façam perguntas idiotas com o jornalistas também em seriados nacionais ras de dois gêmeos, um investigador e faziam em Explode Coração. E que pos- e minisséries . Uma delas foi em Plantão um repórter, interpretados por dois ato- samos também ter nossa parte como he - de Polícia, série policial, como o nome res paranaenses também gêmeos, Willy róis, assim como os bombeiros. Afinal, indica, produzida pela Rede Globo no fi- e Werner Schumann. Nesta série, dirigida se concretamente não salvamos vidas, aju- nal da década de 70, estrelada por Hug o pelo veterano das novelas Attilio Riccó , damos a contar a história deste país, até Carvana e Marcos Paulo . E, mais uma vez , a redação também é estranha, pequena desvendamos mistérios que ajudaram a os repórteres e a redação eram caricatu- demais, mas dá para notar que a roteirista derrubar um presidente da República cor- rados, com o agravante de serem coadju- Lillian Fleury Dória pelo menos já fre- rupto, e demos o nosso suor pela demo- vantes dos personagens policiais . qüentou uma . cracia que ainda se busca aqui . X

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