Fundado em 2 de fevereiro de 1893 A UNIÃO127 anos - PATRIMÔNIO DA PARAÍBA no governo de álvaro Machado Ano CXXVII Número 145 | R$ 2,00 João Pessoa, Paraíba - DOMINGO, 19 de julho de 2020 auniao.pb.gov.br | @uniaogovpb Procura por plasma para tratar covid aumenta na PB Uso do plasma convalescente de pacientes que já se recuperaram do novo coronavírus conta com apoio da população.Página 7

Fotos: Marcos Russo/arquivo Cultura Paraíba Depressão e ansiedade: as sequelas da pandemia Cenário de isolamento social e medo constante da morte têm levados pessoas a quadros graves de transtornos mentais. Páginas 5 e 6 Foto: Arquivo

Um mestre da pintura faz 100 anos hoje Livardo Alves, eternizado no Ponto de Cem Réis Centenário de Hermano José é lembrado por artistas plásticos, que enxergam no pintor nascido em Serraria um dos grandes mentores das artes visuais na PB. Página 9 Conheça um pouco mais do músico, ator, poeta e autor de trilhas, sempre lembrado no carnaval pela popular “A marcha da cueca”. Página 17 Foto: Reprodução “A luz e a Diversidade esperança vêm Mangue, o berçário de uma variedade de espécies do Nordeste” Abrigo natural de vida, ecossistema é área de Em entrevista EXCLUSIVA, o escritor Fernando Morais compara reprodução de vários animais e serve como um Assis Chateaubriand a gânster e dá detalhes sobre o livro que estabilizador climático do planeta. Páginas 13 e 14 está escrevendo sobre o ex-presidente Lula. Páginas 3 e 4 Esportes Disciplina de Jornalismo Esportivo faz 10 anos Professor Edônio Alves, idealizador da cadeira do curso de Comunicação da UFPB, avalia participação da

Foto: Julian Myles/Unsplash

24 AUNIÃO AUNIÃO 23 João Pessoa, Paraíba - DOMINGO, 19 de julho de 2020

Foto: Reprodução João Pessoa, Paraíba - DOMINGO, 19 de julho de 2020 Editoração: Lênin Braz academia no dia-a-dia da imprensa local. Página 12 Pensar Edição: Jorge RezendePensar Edição: Jorge Rezende Alma não tem cor? Editoração: Lênin Braz Episódios como o assassinato de George Floyd Num mundo racista, A genealogia demonstram que o racismo educação, religião e pobreza têm... é a chaga que sustenta as E não é colorida Foto: Roberto Guedes da intolerância hierarquias sociais

Iluska Cavalcante [email protected] racionalizado. O racismo não só está racial Educação, religião, pobreza ou relacionado com a falta de caráter até mesmo um lugar, tem cor? O ou problemas psicológicos, como Secretaria da Mulher e do Desenvol GIRO NOS racismo levou a população negra à muita gente deixa a entender, ele é margem da sociedade, estrutural ou um sistema extremamente racional, sociedade foi dividida entre culturas- importante que ajudou a disseminar institucional, esse mal tem afetado que impede que essa população ne tidasvimento como Humano, inferiores Roberto e tidas Silva, como a esse discurso de ódio: a mídia. Na diversas bases da sociedade e a divi gra tenha acesso ao básico que pre superiores. “Os inferiores são os Paraíba, por exemplo, alguns progra dindo de acordo com a cor. Cerca de cisa para sobreviver”, disse. - sistema de comunicação reforçan negros, os quilombolas, índios, ciga mas de televisão, em busca de audi 73% da população que recebe bolsa - - do muito isso, com o que eu chamo Apesar de se expressar muitas nos, a cultura dita como subalterna ência, têm estereotipado a imagem família é preta ou parda, segundo vezes de forma simples, dentro do - - e menores que a cultura europeia,- do jovem periférico. “O sistema todo dados de 2014 do Ministério do De cotidiano, através de frases reprodu - norte-americana e branca, implan é racista, mas a polícia faz essa sele senvolvimento Social. Além disso, a zidas diariamente, como ditados po homens,de categoria e tem produzida: cor, ele é ospreto; ‘môfios’. tem MUNICÍPIOS tada aqui no Brasil como referência ção. Se tornou natural ela ter aque grande maioria dessas pessoas não - pulares do tipo “a coisa está preta”, a- Esse ‘môfio’ tem sexo, porque são e padrão, inclusive religiosos”. - - consegue chegar às universidades. manifestação do racismo chega a ser- As “religiões de brancos”, como o Ele explicou que a desvaloriza temos - colaborando com esse extermínio muito mais grave. Principalmente ção da cultura africana, colocando-a o e aí nós um perfil de modo que ele é identi - cristianismo, são a de maior desta le perfil produzido, do povo negro”, disse Roberto Silva. dentro das comunidades e perife- em um patamar menor de qualida ficado: ‘lá vai môfio’. Com isso estão que e mais bem aceitas. E o que di - rias, a violência policial é uma das de, inclusive quando o assunto é a Paraíba Pensar zer dos lugares Arquivo mais pessoal periféricos das- Foto: consequências desse ato. “Todo ho religião, gera consequências em to - Foto: Arquivo Pessoal cidades? Lá também há uma cor pre - O racismo não só mem negro é dito pela polícia como das as áreas da sociedade, na eco - dominante. marginal, essa é a institucionaliza - nomia, criminalidade, na violência, - está relacionado com a - base do novo imperialismo no con Para explicar o motivo é neces ção do senso comum, desse racismo educação e vulnerabilidade social. - tinente africano pelas nações eu- A violência policial é que está ali nas brincadeiras, mas - “Essa população vai sendo colocada falta de caráter ou “A violência policial, tanto lá o racismo no Brasil desde o período- ropeias, do apartheid na África do acaba indo para a polícia como uma à margem da sociedade por conta 22 quanto aqui, é histórica e tem cor. imperial.sário voltar O ativistamuitos anosdo movimento e identificar problemas psicológicos, AUNIÃO Sul, do segregacionismo nos Esta- histórica e tem cor. Querer norma. Se um homem negro morre de todo esse direcionamento que João Pessoa, Paraíba - DOMINGO, 19 de julho de 2020 Dina Melo Querer achar que o ocorrido nos negro, professor e pesquisador Da [email protected] dos Unidos e do racismo no Brasil”, foi atribuído a esses públicos. É fato como muita gente deixa Estados Unidos e o que acontece achar que o ocorrido nos nilo Santos explicou que essa prática como uma pessoa vinculada ao trá nas favelas brasileiras não têm - acabou ditando as relações sociais - Paralelamente, ele diz, emer- na periferia a sua morte é justificada ocupa os piores índices de desen a entender, ele é um Assistir à eclosão incendiária conotação racial é, no mínimo, - dos dias atuais. “O racismo vai se - exemplificagiam duas correntes:Souto. o determinis Estados Unidos e o que acontece de extermínio, de matança da popu - volvimento humano. A população do movimento ‘Black Lives Matter’ falsear a realidade”, sentencia o confirmado que a população negra sistema extremamente - - laçãofico. Hánegra vários como exemplos um todo”, cotidianos ressal- negra é a maioria quando se trata de- Consiste no preconceito e na discriminação com base em percepções (do inglês, ‘Vidas Negras Impor historiador Pedro Nicácio Souto, - nas favelas brasileiras não têm cesso histórico cada vez mais sendo Edição: Jorge PensarRezende vel pela evolução das pessoas) e tou o ativista. - tam’), que varreu com protestos vá - empregos informais, por exemplo”. racional sociais baseadas em diferenças biológicas entre os povos; muitas da Universidade Federal de Cam o racial (havia raças puras, por configurando no decorrer do pro - rios pontos dos Estados Unidos em mo geográfico (o meio é responsá conotação racial é, no mínimo, De acordo com o coordenador Dentro da violência que ocorre vezes toma a forma de ações sociais, práticas ou crenças, ou Editoração: Lênin Brazpina Grande (UFCG). Qual a ori tanto, superiores). “As teorias da Gerência de Equidade Racial da maio e junho deste ano, remete-nos nas comunidades e periferias, com sistemas políticos que consideram que diferentes raças devem ser gem do ódio racial? Antes de tudo raciais pregavam, entre outros falsear a realidade Danilo Santos ao questionamento: em que ponto mortes diárias principalmente de classificadas como inerentemente superiores ou inferiores com base é preciso voltar no tempo e abrir aspectos, que alguns grupos não da história vidas negras passaram - homens jovens e negros, há um fator em características, habilidades ou qualidades comuns herdadas. o contexto. poderiam evoluir. Há, portanto, a importar? E para quem, e em que Os evolucionistas sociais, ba 21 - uma hierarquização da sociedade Foto: Arquivo Pessoal AUNIÃO medida? Qual limiar separa o papel- seados na concepção de Charles - Pedro Nicácio do negro dentro das cadeias produ - Pixabay Darwin (1809-1882), passaram a morais, e cujo modelo é a Euro Fotos: tivas que, secularmente, o relega - É fato confirmado Intolerância religiosa e a “norma branca” Racismo aplicar as teorias de seleção natural pa. No Brasil, como não tínha João Pessoa, Paraíba - DOMINGO, 19 de julho de 2020 ram a uma posição de exploração, Fotos: Pixabay baseada nos caracteres físicos e Editoração: Lênin Braz à compreensão das relações huma mos uma percepção birracial, que a população negra Pensar subserviência e produto para o de A rejeição da cultura ne nas e suas organizações sociais. “É optamos pela tese do branquea- ocupa os piores índices de gra também se estende para Edição: Jorge Rezende inserção – e posterior insurgência –- como se algumas sociedades que mento”, compara. as religiões de matriz africa - aconteceria? Mas o crucifixo diante de barbáries como a de um- estivessem em atraso devessem ser suplantadas por outras. Esta foi a desenvolvimento na. O gerente de Equidade não gera desconforto nenhum, rança até a morte com o joelho so Crises mundiais: o germe do ódio humano. A população Racial do Estado, Roberto- é a norma. É a religião norma “É comprovado que a religião é Uns mais iguais que policialbre o seu branco pescoço? asfixiando um segu Silva, ressaltou que há as tiva de espiritualidade para que uma estratégia de reunir e for - negra é a maioria religiões de maior prestí todos sigam. Aquilo que foge à- talecer o povo e eliminar isso é “Não é acaso que o avanço das ideologias e movimentos - - gio dentro da sociedade, norma é dito como de menor uma estratégia de enfraquecer- espaços (acesso irrestrito a bair políticos de extrema-direita coincida com momentos de profunda quando se trata de - ros, ônibus e escolas) e se prote crise: seja econômica, social, política ou de valores. São terrenos onde a Umbanda, o Can prestígio. Eles precisam des aquele povo. É comum a gente Nacionalismohabitadas branco por negros. e A partirreação radical empregos informais qualificar a religião do outro, ver que pessoas andam na rua ger contra as investidas racistas- férteis para a busca de bodes expiatórios. Foi assim entre a Pri domblé e a Jurema, por os outros? - da década de 1920, passaram a - no caso a afro, negra ou indí - com suas vestes que você vê e violentas, incorporadas especial- meira e a Segunda Grandes Guerras, quando grupos humanos exemplo, ficam à margem. Todos Ku Klux Klan e neonazistas são incendiar cruzes, o que ampliou o - mente pelas forças policiais. Nes inteiros – judeus, ciganos, comunistas, socialistas, deficientes “Se a sociedade ostenta uma gena, a fim de afirmar aquela identifica o segmento religioso células que dão voz a supremacis Roberto Silva ar ameaçador da organização. O se contexto surgiram, em 1966, – foram exterminados em nome de uma suposta supremacia religião dita como aceita para- da pessoa, como uma bíblia tas brancos no mapa da intolerân - - religião, inclusive você tem nome foi inspirado em uma palavra os Panteras Negras, em Oakland, branca e ocidental”, analisa o historiador Luciano Mendonça cia norte-americana e europeia, - crucifixos em muitas institui a sociedade”. ou um crucifixo, que remetem iguais... do idioma grego, kyklos (que signi na Califórnia. Assumidamente ra de Lima, da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Racismo, respectivamente. Como pontos ções públicas, por exemplo, Roberto Silva explicou que às religiões cristãs. Mas se fica círculo), adaptada para Ku Klux dicais, os Panteras reivindicavam “Hoje, quando mais uma vez o mundo está mergulhado convergentes, têm ideais fascistas - imagina se colocar um Exu- desmerecer a religião de um você usar algo que remete à e adicionada à expressão Klan, em o direito às armas para combater em uma de suas maiores crises, projetos neofascistas (repre e condenam a miscigenação que, - na porta de entrada... Que povo é uma forma de tentar en religião afro nas ruas, não é referência a clan (“clã”, em inglês). as agressões, na esteira dos mo sentados, por exemplo, pelos governos de Trump e Bolsonaro) Discriminação segundo defendem, é causa de fraquecê-lo. Esse preconceito se visto da mesma forma. Você vai A Klan, que chegou a contar vimentos civis por igualdade en reaparecem com Acessoforça na cena contemporânea, à educação desta vez todos os problemas sociais. Apesar - com 4 milhões de seguidores em cabeçados por Martin Luther King. contra pobres, negros, mulheres, homossexuais, indígenas e estende para a forma de vestir. observar reações como ‘miseri de causar alarde, esses extremistas Um ciclo de seu auge, não passa hoje de 5 a O que havia começado com imigrantes”, pontua.Ainda na época do período córdia’, ‘está amarrado’, essas & Preconceito não congregam a maior parte dos 8 mil membros, espalhados em 72 pequenas ações intimidatórias O ódio encontrada escravidão, alvos ligeiros a parapopulação os problemas ne de uma expressões, entre outras”. - racistas, que preferem não se filiar células. O enfraquecimento deve-- como resposta aos supremacistas nação quando graesta foinão impedida aprende comde teros errosacesso do àpassado apresenta – e a partir da perspectiva a grupos organizados. se a dois fatores: tanto ao moni- educação. Não apenas por não- tratamento maléfico A KKK surgiu no Tennessee, no ganhou status de partido, com- assim se perpetua um ciclo, não importam as fronteiras.da “Nóspopulação branca europeia. toramento pelo governo norte-a ideais marxistas e anticapitalistas, tivemos uma conseguiremabolição da escravatura ser educados, absolutamente mas limitada. século XIX, logo depois da Guerra Se você- parar e ver os livros, 13 de maio, por exemplo, onde - mericano, por um lado, quanto ao e pautas sociais abrangentes volta Os egressos do cativeiro continuaram sem-terra, teto, educação Perpetuidade de uma Civil Americana (1861-1865) com também porque eram impedidos. essa perspectiva vai apresentar a uns comemoram como data da ao indivíduo surgimento de outras organizações das para a população negra, prin- formal, sem cidadania. Tivemos uma abolição de cima para o propósito de perseguir, espan O estado brasileiro criou uma população negra apenas como o abolição, mas nós temos outra extremistas, por outro. No fim, o cipalmente na área da educação baixo. Os índices tristes da população negra hoje mantêm re car e assassinar negros libertos e lei, em 1837, onde negros eram escravizado, como se a população ódio racial segue espalhando seus sob a perspectiva inclusiva. A boina lação direta com a escravidão e uma pós-abolição malfeita. No leitura disso. Se resume como defensores dos direitos civis para - impedidos de frequentar a escola. negra não tivesse história antes tentáculos de intolerância – desta preta e os punhos cerrados para Brasil, quem ocupa os piores cargos? Quem habita as favelas? uma data comemorativa, mas os afro-americanos. Era composta O ativista do movimento negro “mancha” que precisa acabar - vez também contra LGBTs, judeus, cima eram os símbolos do movi Quem ocupa as prisões? Ser negro no Brasil é, antesda escravidão de tudo, e nem depois da não é o que a lei diz”. por ex-combatentes brancos de boa Danilo Santos explicou que essa, Foto: Arquivo pessoal imigrantes e antiliberais, conforme mento. A reação radical levou à resistência”, arremata o professor Souto. escravidão”, disse. Além disso, dentro da edu Foto: Arquivo Pessoal É preciso que a condição financeira (os confedera os direitos dessas minorias são morte muitos panteras até entre tantas outras leis, como a cação, ainda são poucos autores Mas, por que tamanha brutalidade dos), inconformados com a derrota Apesar da Lei 10.639/03 de - sociedade brasileira reconhecidos. que, em 1982, que impedia a população negra 2013 tornar obrigatório o ensi negros que produzem obras- - que lhes garantia o direito sobre Como o fim da Guerra de tratamento diferenciado a um indi Há grupos que se fecham em um reduto irracional e insistem em serem melhores que outros de sua espécie - o partido se de ter direito a terras, após a namento da história e da cultura acadêmicas ou que conseguem - assuma, como terras e o trabalho escravo. Secessão acirrava o antagonismo - Ficou muito conhecida pelos dissolveu. abolição, trouxe graves conse afro-brasileira nas escolas, dificil - chegar a profissões como médicos foidem atribuída estar em a eles? alguns O queelementos motiva racial nos Estados Unidos,necessidade os ne Alexsandra Tavares Alexsandra Tavares premissa, essa - quênciasNão que é acaso são que manifestadas o avanço mente esse conhecimento é pas ou advogados, por exemplo. “Se [email protected] essesinseridos crimes? secularmente As respostas na po es trajes macabros que lhes cobriam gros sentiam a víduodade. ouJá grupoo preconceito por causa racialde sua pode cor [email protected] nos dias atuais. - - - trutura social. a identidade, pelos rituais de enfor de ocupar das ideologias e movimentos sado. Segundo explicou o gerente você ver conteúdos nas escolas - ouser etnia, compreendido ferindo o princípio como daopinião, igual A antropóloga e inte- agenda antirracista.só observar A as doutrinas dessa per camentos públicos e por promover Ele ressaltou outro problema de Equidade Racial do Estado, o- e ele não é nem indígena, nem

Racismo, discriminação e pre sentimento, atitude apressada que incêndios criminosos antigos políticos de extrema-direita Foto: grante do Grupo de Pesquisa Images Fenton/Getty David dentro da educação brasileira, conceito. Elementos que se inte Os seres humanos sãomídia, cons de umacepção forma de mundo que surgem no em casas antes ensino desse conhecimento nas africano, então ele tem nome, - tituídos do mesmo material bio século XIX que legitimaram, cien - onde a perspectivacoincida com negra momentos não de é escolas é raro e quando acon ragem em um ciclo de tratamento uma intolerância fundamentada no ção da população negra, sendo um ele é da Europa. A nossa escola lógico, pertencem a uma geral,mesma precisa - abordar exemplo importante a Lei de Proi passadaprofunda nas aulas crise: sejade econômica,história. tece é de forma superficial. “Foi é muito branca. Quais são os - trazemracismo”, como explicou. fundo uma aversão, em Saúde, Sociedade e Cultu espécie, dependem das mesmas - analisados isoladamente têm suas Então, nessa percepção distorci- - bição da Capoeira no Código Penal prios privilégios, mas também lutar “Impede que a gente apresente preciso uma lei para que esse- autores negros e negras que ra na UFPB, Uliana Gomes da condições para sobreviver, têmessas o acreditavam,questõestificamente, apor hierarquia exemplo, racial que e ao social, política ou de valores maléficopróprias aopeculiaridades. indivíduo, mas quandoAo falar da de mundo, um homem ou mulher de 1890 no Brasil, além da perse - contra essas estruturas”. a história a partir da perspecti conteúdo fosse passado e ainda produziram livros? E aí vem o Silva,uma lutadestacou constante. que ser “É negrouma luta mesmo ciclo reprodutivo, são do tamanhoeugenia. Teoriasdo crânio cientificistas era um indica que guição às expressões religiosas É possível uma sociedade onde as va da populaçãoLuciano Mendonça negra, só nos assim não é passado. Para não racismo estrutural, porque não nopara Brasil conseguir e continuar trabalho, vivo para é ser tivoUliana de superioridade Gomes racial de um afrodescendentes. Triste ver que- - a diferença entre esses três pontos.- competente ou incompetente, apro- - sociedade sem racismo, a antropó- pessoas negras possam escolher a dizer que o conteúdo é dado, as tem estranhamento o fato de Segundo a doutora em sociologia, seres semelhantes. Mas por que há - grupo em relação a outro”. - essas perseguições não cessaram mos sobre racismo, vale sabermos - podepriado ser ou visto inapropriado, como apto ouculpado inapto, ou para descontruir o imaginário so loga eAo integrante refletir sobre do Grupo uma possível de Pes forma de trabalho? Se houver essa escolas fazem uma palestra, no serem sempre brancos, a gente cientista social e integrante do Gru - grupostados de que inteligência, se fecham enfim,em um são redu A antropóloga e doutora em nos dias atuais”, declarou. inocente conforme sua cor e etnia. vistocial, paracomo desnaturalizar pessoa, ser respeitado, essa lógica to irracional e insistem em serem quisa em Saúde, Sociedade e Cultu- possibilidade, é possível ter uma so- normaliza. Essa é a perversidade, po de Estudos e Pesquisas em Pen Ciências Sociais Patrícia dos Santos - racista. É preciso que a sociedade melhores que outros de sua espé - Apesar de as pessoas convive- ra na UFPB, Uliana Gomes da Silva, ciedade sem racismo”. naturalizar”. rildo Dias de Souza, há sete anos no Pinheiro lamenta que essa forma de rem até hoje com a herança do ra responde com alguns questiona- brasileira assuma, como premissa, cie? Séculos e séculos passam e enxergar e tratar o outro ainda se “Mas enquanto tiver uma socie FoiRio assim de Janeiro, no caso e maisdo pedreiro recentemente, Ama - - dade capitalista, neoliberalista, que samento Social e Político Brasileiro, essafoi atitude colo é transferida às novas- atualmente temos medidas inclusi-- - em Minessota, nos Estados Unidos,- de uma forma geral, precisa abor obra sem desigualdade social? É possível naturalize esse lugar do negro, que - da Universidade Federal da Paraíba gerações,cada mantém-sequando presente, não do século XXI. Segundo ela, mesmo vascismo, e repressivas a antropóloga que afirmoutentam com que - essadar essas agenda questões”. antirracista. A mídia, se exportou mão de umamentos: sociedade “É possível em que uma a mídiasociedade não negue o racismo e que não pare para (UFPB),entendido Anna como Kristyna um sistema Araújo de da clas importa- os avanços tecnológicos, apósrepita decretadapartir no final de dasuaa abolição segunda religião, da década suaescra cultura, bater essa postura. Dentre as in- ano. Ambos negros, pobres, desar - Uliana Gomes acrescenta que a se alimente do imaginário social Silva Barbosa, o racismo pode ser commados, George rendidos Floyd, e emassassinados maio deste por vatura, em 1888, não houve ações clusivas, Patrícia destaca as ações- que é criado sobre o negro? É possí população negra é a mais marginaliconquistados.- restou para essa população após o racismo, eu diria que é impossível. E efetivas para uma alteração nas es-- vel uma sociedade zada economicamente,“Quando socialmente a gencientíficos, escrava políticos, nos perguntamos: educacionais o que diriarefletir mais sobre ainda, essa uma complexidade sociedade onde que é sificação,causa da baseadosua cor ou em etnia, teorias consciente e cren de de defesa. Será que jamais as pessoas truturasseus escravocratas direitos?” questionou. da sociedade raciais em universidades e concur que valori- - conseguirão extinguir essa “man çasou queinconscientemente. hierarquizam indivíduos por policiais, sem a mínima possibilida ou para a quebra desse “ideal bran sos,afirmativas políticas ede de permanência, reparação: cotas valo - ze vidas A discriminação e o preconceito te pensa onde a população cha”negra que a se abolição? perpetua Como nas elarelações é vista hoje a cracia”, completou Uliana. - contra negros ganharam repercussão co”. A realidade, foi bem outra. rização da história afrodescenden - ne- são desdobramentos desse sistema, e geograficamente. interpessoais? A socióloga, cien - - o racismo é aflorado não existe demo- na imprensaEsses e outros nacional casos e deaté injustiça mundial. Patrícia PinheiroComo enfrentamento enfoca que,- ate, esta reconhecimento das injustiças e gras? porém são coisas distintas. “Discri tista social e integrante do Grupo Foto: Arquivo Pessoal por um- lado,prática, houve elauma reforça tentativa que reparaçãoo pri da memória silenciada. - minação racial é quando se tem um de Estudos e PesquisasA antropóloga em Pensa e integrante- sistemática do de silenciamento das meiro passo é assumir que existeJá as medidas repressivas dizem Hoje em dia se fala mento SocialGrupo e Político de Pesquisa Brasileiro, em Saúde, heranças Socie afroracismo, e indígenas que há– por indivíduos respeito e à aplicação da Lei 7.716/89 Superioridade estáeconômico apenas do colonialismo. dano Universidade Basta imaginário dade Federal e Cultura da (Grupesc)Para - vezes nasocial UFPB, somente folclorizadas. “E muito que não basta não ver que os países que serviram de práticas racistas. “Se não(Lei houver Caó), contra o crime de racismo, A socióloga Anna Kristyna íba (UFPB),- AnnaUliana Kristyna Gomes Araújo da Silva, por ressaltou outro, na prática, esbarramos e do Código Penal, que dispõe tam colônias, em sua grande maioria, um investimento, uma luta contra ser racista. Devemos, sim, - da Silva Barbosa,que enfoca falar sobreque o racismora - com no asBrasil condições socioeconômi bém sobre o crime de injúria racial. Araújo da Silva Barbosa conta que ainda são os países menos desenvol - essas posturas, vamos entrar em É relevante saber como surgiu cismo tem sempreé analisar um conjunto como dea sociedadecas que estáseguiam criando abismos, “Para além das instituições, hoje em - sermos antirracistas. Ou a presença do racismo, sobretu vidos ou seguem em algum nível de decadência, porque o racismo esse modo de enxergar a outra teorias e crençasestruturada que o sustente. na sua “É- basesem de nunca funcio ter havido uma real ten-- dia se fala muito- que não basta não do no Ocidente, está atrelada ao dependência em relação aos países está atrelado às crises políticas e seja, omissão também é pessoa de forma excludente, menor, colonialismo, que se desdobra no - namento. O assunto demandatativa de umamudá-las. econômicas. Soma-se a issoAlém deser desenvolracista. Devemos, sim, sermos com total ausência de empatia ou - colonizadores”, destacou Kristyna. complexa reflexão sobrea ação direitos, estatal, o com a criminaliza - capitalismo. Ou seja, o sentimento de sub ver projetos que vaiantirracistas. contra essa Ou seja, omissão tam racismo respeito. O racismo está longe de - Uma sociedadeimaginário social, o quelugar do negroaumenta a discriminação- racial ruma para um precipício Edição deste mês debate a questão “O racismo precisa de condi - prática, o tema devebém ser é uma racismo. das Ser antirracista im - jugar o outro, a ambição exagerada Patrícia Pinheiro ser algo nato. Pelo contrário, ele pre ções materiais para seu desenvol que a sociedade costuma definir, a pautas essenciais- plicados governanir além de reconhecer os pró - cisa ser entendido como um sistema e a postura de dominação“Uma concor sociedadeconstrução que aumenta desse imaginário e da - vimento e o advento do capitalis rem para o racismo.a desigualdade No entanto, sociala e a discrimi tes, e precisa estar inserida na que foi construído e desenvolvido mo surge desse sistema racial e - desumanização da pessoa negra. educação, na formação política do - Foto: Arquivo Pessoal socióloga ressaltanação que é racial importante ruma para um precipí pluralismo étnico que nos constitui, Agende sua doação no histórico e socialmente. De acordo com ela, o racismo existe cidadão, nos seus direitos”, frisou circunscrever o cio”.racismo A afirmação historica é da antropólogapara continuar e - perpetuandodeixamos de a lógicalado uma educação doutora em Ciências Sociais, Patrícia- a antropóloga. mente. “Pois as relações raciais têm da escravidão, decidadã uma raçae intercultural, superior aumenta-se temática, atua como uma constante dos Santos Pinheiro. Ela explica que suas especificidades de acordo com a outra. o sentimento de injustiça e desagre desorganização e estigmatização o racismo traz inúmeros prejuízos O racismo precisa o contexto analisado, mesmo tendo gação”, acrescentou. das modalidades de existência, à população negra e à sociedade o racismo não é “um tipo de vírus”, Como 1930 Princesa Isabel mantém, em seu Centro Histórico, as nexos entre as formas”. Para ela, com exceção de uma- como forma de incluir ou afastar mas um fenômeno sociopolítico. de condições materiais como um todo. “A qualidade de vida parcela muito restrita da sociedade, grupos e indivíduos. “Isso tem um “Ele é estrutural e estruturante por da população se deteriora, apagam- que recebe desproporcionalmente o esferas da sociedade – relações whatsapp do Hemocentro impacto profundo para indivíduos e para seu desenvolvimento se as ricas contribuições de um apresentar relações em diferentes essas baseadas na dissemelhança racial: afinal, se todos somos iguais, há fruto desses privilégios, a sociedade coletividades. Afinal, como conviver entre humanos, uma herança do e o advento do Foto: Arquivo pessoal em geral sai perdendo. Os efeitos com isso?”, pergunta. dessa prática na formação do in processo colonial”. surge Esses impactos estão presen- capitalismo divíduo, que é alvo do racismo, tes no desenvolvimento da po racial e - ‘Dia Nacional de Tereza de Benguela’ desse sistema envolvem uma série de pulação negra, desde a infância, passando por toda sua evolução- econômico do Não pode ser normal delimitações sobre como pessoa. “Inadmissível é A cultura negra, suas raízes, história, valores, direitos devem (83) 3133-3465 que pessoas que se dizem os modos de ser e saber que ainda há crianças que ser transmitidos com o devido enfoque, e as transmissões dessas colonialismo estar no mundo. negam sua prática religiosa de informações precisam ir além do calendário racial, começando na marcas de uma cidade que foi o epicentro de uma revolução. Página 8 educação de base. “Toda criança tem o direito de saber, seja pela antirracistas façam Ao citar matriz africana temendo agres Anna Kristyna Franz Fanon, sões físicas, mesmo que essas literatura, artes, história e em outras disciplinas que, dentre seus escolhas voltadas para o um impor aconteçam depois de sair da- ancestrais, há diversas heroínas como a Tereza de Benguela – a uns mais iguais que outros? - ‘Rainha Tereza’”, afirmou Luzitana dos Santos, professora e ativis privilégio exclusivo da tante psi escola. Igualmente, não pode ser quiatra- normal que pessoas que se dizem ta no Movimento de Mulheres Negras na Paraíba. De segunda à sexta-feira branquitude, inclusive nos martinica antirracistas façam escolhas volta No dia 25 de julho é celebrado o ‘Dia Nacional de Tereza de no, Patrícia- das para o privilégio exclusivo da Benguela e da Mulher Negra’. A “Rainha Tereza” foi uma lide - currículos escolares Pinheiro branquitude, inclusive nos currí - rança quilombola em Guaporé, próximo à fronteira do estado do afirma que culos escolares”, salientou Maria Mato Grosso com a Bolívia. Sob a liderança da “Rainha Tereza”, Maria Luzitana o racismo, Luzitana Conceição dos Santos,- a comunidade negra e indígena resistiu à escravidão por duas EMPRESA PARAIBANA - como par professora adjunta no Campus IV décadas, sobrevivendo até 1770. - te de um da UFPB, e ativista no Movimento A data comemorativa é chancelada pela Lei 12.987/2014. das 8h às 16h DE COMUNICAÇÃO conjunto da de Mulheres Negras na Paraíba. “Uma criança branca, indígena ou asiática precisa ser ensinada opressão sis Luzitana dos Santos afirma que, sobre a cultura e os valores afro-brasileiros que constituem a cul- - ao contrário do que se possa pensar, tura deste país. E não se pode ter uma ou duas datas para fazer isso”, frisou Luzitana.

Assine o Jornal A União agora: (83) 3218.6518 | (83) 9 9117.7042 [email protected] Edição: Clóvis Roberto Editoração: Ulisses Demétrio AUNIÃO João Pessoa, Paraíba - DOMINGO, 19 de julho de 2020

CONTATOS: [email protected] REDAÇÃO: (83) 3218-6539/3218-6509

Martinho Moreira Franco Artigo [email protected] Inconveniência O cinema tocado em saudades A morte do compositor Ennio Mor- No birô em frente, o pai dele, Seu Olavo, O lixo continua sendo um dos indicativos de civilidade. Mo- ricone, na semana passada, me tocou assistia a tudo, com menções de simpa- radores que jogam parte considerável dos detritos que produz profundamente, como a todos que admi- dentro dos cômodos, jardins, quintais e calçadas das grandes ravam a sua longevidade (91 anos) e, cla- trabalho dos jornalistas. Detalhe: na casas que são as cidades, revelam sua rusticidade, no que diz ro, a notável contribuição que ofereceu à paredetia pela pordisponibilidade trás de Luciano, do filho um pôstere pelo respeito à educação ambiental. E outras leituras sociológicas execução da música no cinema. Acom- dele em encontro com o ator Alain De- podem ser feitas, a partir da identificação dos poluentes. panhei atento os obituários e demais lon. Chiquérrimo, como diria o cronista Os resíduos descartados sem critério enfeiam a estética homenagens prestadas à sua memória. Heitor Falcão. Só que, além do lamento pela perda do Bom, claro que interessavam os tí- aleatória da cidade, impondo ainda deformidades sanitárias, extraordinário fazedor de trilhas sono- haja vista que lixo é daninho às plantas. Além disso, atrai ras, bateu em mim uma saudade danada três itens mereciam atenção especial na animais nocivos à saúde humana, sendo sua parte orgânica dos tempos em que críticos especializa- tulos, resumo e fotos dos filmes, mas digerida por várias raças de bichos que andam soltos pelas dos atuavam diariamente em jornais e e música. O elenco, evidentemente, con- ruas, como jumentos, cavalos, cachorros, gatos e galinhas. rádios locais. tava,leitura e dasmuito. sinopses: Mas esses direção, registros fotografia so- Isso prejudica a vitalidade dessas espécies, transformando- Naquela época, eu, Barreto Neto, bressaiam particularmente reveladores -as em vetores de enfermidades. Ipojuca Pontes, Paulo Melo em uma primeira avaliação. e outros que assinavam A gente parecia Se o diretor era bom, o fotó- De maneira geral, as pessoas, quando entrevistadas, re- colunas ou apresentavam grafo, competente, e o au- clamam da grande quantidade de lixo que se joga no espaço programas em veículos menino manuseando tor da música, abalizado, a público. Ninguém veste a carapuça. Mas o fato é que, toman- de comunicação da cida- produção só poderia ser de do-se como exemplo a cidade de João Pessoa, há entulho em de tínhamos por dever estampas para álbum qualidade. Não havia como demasia nos terrenos baldios, praças, praias, ruas, avenidas procurar às sextas-feiras de figurinhas. falhar. Era só partir para e calçadas. Os rios e os mares também sofrem com tantos os escritórios das empre- o abraço, quero dizer, apa- sas exibidoras em busca nhar o material, botar em- dejetos, principalmente com as embalagens plásticas, que baixo do braço e seguir para a redação. envenenam sua fauna e flora. para estrear na semana seguinte. Era Eu me dirigia ao “Correio da Paraíba”, O sistema de coleta também é deficiente. Há caminhões obrigaçãode sinopses cumprida dos filmes com devoção, programados tal o Barreto a “A União”, Ipojuca a “O Norte” coletores precisando de manutenção ou substituição, e mui- fascínio que aqueles folhetos ilustrados e Paulo à Rádio Arapuan. É pra dar sau- tos sacos de lixo, quando estão rasgados e fora dos depósitos exerciam sobre nós. Afora os impressos dades ou não é? maiores (tonéis etc.), não são recolhidos. Por isso, em certos por escrito, havia a sedução das fotos Voltando a Morricone, era ele uma bairros, a quantidade de lixo nas artérias aumenta exatamente disponíveis. A gente parecia menino referência infalível. Ainda que malo- manuseando estampas para álbum de grassem as demais, sua assinatura, de após a passagem dos carros de coleta, isso sem falar no mau- -cheiro que os dejetos espalhados na rua exalam e do chorume No escritório do Plaza, o magro Gal- havia outros compositores que nos ins- que escorre dos veículos de apanha. ba,figurinhas. credenciado pela Cinema Reunidos algumpiravam modo, convicção certificava sobre e davaa qualidade fé. Mas É preciso avançar na educação ambiental da população, S/A para gerenciar o setor, virava cúm- assim como no aperfeiçoamento da estrutura pública de re- plice no manuseio do material vindo das colhimento de lixo. Isso trará ganhos positivos para o corpo distribuidoras, tal a sua paixão pela cha- dirigidosdo filme. Começariapor Federico por Fellini, Nino Rota o que cujo já “cartão de visitas” são todos os filmes e o espírito da sociedade. Cidade limpa gera prazer e orgulho, mada arte das sombras e dos sons, como bastaria, não fosse o autor das trilhas então se dizia. No gabinete da Cia. Exibi- de “O sol por testemunha”, “Rocco e seus tanto para o morador como para o visitante. Ambos têm o dora de Filmes, sobreloja do Cine Muni- irmãos” e “O poderoso chefão”, entre dever de zelar pela limpeza da cidade, se não ligam para hi- cipal, o gordo Luciano Wanderley, sócio inúmeras outras. Por absoluta falta de giene, tudo bem, ninguém é obrigado a gostar de asseio, mas da empresa, se encarregava ele próprio espaço, retomarei o assunto na próxima se sujarem devem ser multados. quinta-feira, desculpem.

de receber os profissionais de imprensa.

Sitônio Pinto Domingos Sávio Artigo [email protected] | Colaborador [email protected] Humor

Gatos & gatos

Não sei porque chamam de “gato” o vezes – numa delas, por ter se recusado a participar da Sétima Cruzada. Ora, Frederi- que vem da rua. Esse é um fato corriqueiro co era casado com a rainha cristã de Jerusa- noatalho Brasil. habilmente No ano passado colocado passaram no fio elétrico a re- lém, Isabelle II, e tinha feito tratados de paz primir esse mau comportamento com mais com os árabes. Ele não iria recomeçar uma rigor, mas a medida não resolveu o proble- guerra que só interessava ao imperialismo ma. A situação exige preço mais baixo da da Igreja. Frederico, o Imperador das Duas energia, capital de giro para as empresas Cicílias e do Sacro Império Romano, foi um que demandem energia, educação cívica dos monarcas mais cultos do mundo. Fun- para a comunidade, repressão para os usu- - ários sabidos que ainda insistam na utiliza- lidade de preparar administradores; Até ção dos bichanos. quandodou a Universidade os papas e reisde Nápoles da Europa, com da a finacris- Fui avalista de um pequeno empresário, tandade e da OTAN vão embalar cruzadas ele quebrou, morreu, foi pro Céu. Deixou um contra os árabes? gato no estabelecimento; a Luz & força des- Mesmo quando não se conhecia petró- cobriu. A bronca sobrou pra mim, que não leo, os países árabes tinham grande impor- estou chiando. Não dedurei a viúva. Acho tância estratégica e comercial por se encon- até que aquela dívida po- trarem no meio do caminho dia ser escalonada. Fica Foi excomungado três entre a Europa e a Ásia, con- assim mesmo, eu com um tinentes xipófagos unidos embaixador no Céu, além vezes - numa delas, por entre si pelo Oriente Médio. SECRETARIA DE ESTADO DA COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL de Papai, Mamãe, e meus Com a descoberta do petró- Empresa Paraibana de Comunicação S.A. primos. Os biólogos que ter se recusado a leo a coisa se complicou, au- estudam ursos nos Andes mentando a cobiça ocidental participar da sétima sobre aqueles países e seus Naná Garcez de Castro Dória constataram que aquele desertos. DIRETORA PRESIDENTE casalficaram de eufóricos ursos não quando eram cruzada. É o que se vê, hoje, com William Costa Albiege Léa Fernandes parentes. Meus pais tam- a OTAN patrocinando a in- DIRETOR DE MÍDIA IMPRESSA DIRETORA DE RÁDIO E TV bém não são parentes, daí esse caráter que vasão dos países árabes, precedida pela sub- você e a praça conhecem. versão orquestrada a uma só voz pela batuta A UNIÃO Os ursos também me conhecem, e fa- de Barack Obama Hussein II, califa do Sul e Uma publicação da EPC zem festa quando subo as montanhas. Só do Norte: a inquietação política implanta- BR-101 Km 3 - CEP 58.082-010 Distrito Industrial - João Pessoa/PB não gosto das unhas deles, enormes e me- da na Tunísia, Egito, Líbia, Arábia Saudita, donhas. Aprendi a não apertar as mãos dos Iêmen, Argélia, Bahrein, Jordânia, Marro- candidatos. Muito antes da quarentena, e cos etc. Mais além, a maré da crise chega às André Cananéa Renata Ferreira a cantar o samba canção revolucionário; praias do Iraque, Irã, Kuwait, Dijibuti, Sudão, Gerente Executivo de Mídia Impressa Gerente Operacional de Reportagem “não dá mão a preto / não fala com pobre / Omã, Etiópia, Zimbábue, Camarões e Gabão. não carrega embrulho... pra que tanto or- Inclua-se, ainda, a guerra encruada do Afe- PABX: (083) 3218-6500 / ASSINATURA-CIRCULAÇÃO: 3218-6518 / gulho, Doutor...” Comercial: 3218-6544 / 3218-6526 / REDAÇÃO: 3218-6539 / 3218-6509 A cobiça ocidental sobre as riquezas do pelo tsunami político que vem do Norte E-mail: [email protected] (Assinaturas) Oriente se acabará quando, um dia, o Oriente americanoganistão. Todos e europeu, esses sob países um sãosó comando. afligidos se ver livre de suas fabulosas riquezas, como Coincidentemente, os povos árabes levan- ASSINATURAS: Anual ..... R$200,00 / Semestral ..... R$100,00 / Número Atrasado ..... R$3,00 a maré de petróleo que se derrama na África tam-se contra seus governos a uma só vez, CONTATO: [email protected] e na Ásia. Frederico II de Hauhenstaufen, o como se atendessem a um apelo irrecusável OUVIDORIA: Fica proibida a reprodução, total ou parcial, de matérias, figuras e fotos autorais deste jornal, sem prévia e expressa rei poeta de Palermo, foi excomungado três ordenado por todos os minaretes. 99143-6762 autorização da direçao e do autor. Exceto para impressão de cópias, com o fiel e real conteúdo, para uso e arquivo pessoal. Entrevista Edição: Clóvis Roberto Editoração: Bhrunno Fernando João Pessoa, Paraíba - DOMINGO, 19 de julho de 2020 AUNIÃO

Fernando Morais Jornalista e escritor “A tecnologia é que andou mais depressa que a nossa ideologia”

Biógrafo de Chatô e Olga, ele fala em entrevista exclusiva sobre novos projetos, como a biografia do ex-presidente Lula

Foto: Acervo pessoal Lúcio Vilar Especial para A União

Laureado aos 22 anos com o Prêmio ESSO de Reportagem e biógrafo consolidado e respeita- do, na maturidade, Fernando Morais é referência obrigatória ao se discutir jornalismo e literatura de não-ficção no Brasil. Sua fluência narrativa transita, com maestria, pelas duas searas, o que, por- sua vez, já resultou em quatro longas-metragens, tal a força de sua verve. Ele não abdica, porém, da condição de repórter (mantém o blog ‘Nocaute’, no Facebook), além de estar há dez anos debru çado sobre a trajetória do ex-presidente Lula, cujo primeiro volume do livro, ainda sem título, será publicado até o final do ano. Foi em meio a essa maratona, somada aos entraves da pandemia, que encontrou tempo para responder às questões que seguem nessa entrevista exclusiva para A União e onde não titubeou em afirmar que o Nordeste “deu uma lição” ao Brasil nas últimas eleições. A entrevista

Antes de se tornar biógrafo, uma viagem a Cuba lhe rendeu um livro-reportagem (‘A Ilha’) que vendeu como água. Os olhos que sinaram o caminho das pedras para a economia viram Cuba, na juventude, são os mesmos da cubana. E aí eles tiveram que fazer ajustes em maturidade ou o tempo arrefeceu o entusias- algunsAinda dos princípios há razões da para revolução. se orgulhar? mo impresso naquela publicação de 1976? n Fernando Morais: “Eu continuo solidário com a Revolução Cubana, talvez mais hoje do que eu fui quando me aproximei deles” n - - A verdade é que passados, na verdade, Como é que os meus olhos de septuagená sessenta anos, as pessoas estão vendo o que é e n rio vêem o país que eu vi como um jovem de vin o que foi, na verdade, a Revolução- Cubana num - te anos? Bom, eu mudei, Cuba mudou e o mundo- ‘paiseco’ microscópico É preciso ficar claro uma Bom, o jornalismo blica, aberta. Surgiu a internet e a síntese quase mudou nesses cinquenta anos. Infelizmente, eu que tem a população me coisa: não é que mudou o praticado nos anos que fo caricata é mais ou menos assim: se você for às acho que o único que mudou pra pior foi o mun- nor do que a da capital de- ram de 1960 a 1980 é o meu- Casas Bahia e comprar um celular barato, mas do, porque Cuba e eu, modestamente, no que diz São Paulo (11 milhões de jornalismo, não é que acabou períododa adolescente, de formação. em MinasEu fui que tenha acesso a internet, você cria um blog, respeito a mim, mudamos para melhor. Cuba en habitantes). Eu brinco di jornalista em 1961/62, ain- um site, seja lá o nome que dê a isso, e pode ser frentou um verdadeiro apocalipse com o fim da zendo que Cuba tem o PIB o jornalismo. O jornalismo o seu próprio , entendeu? Você, União Soviética, com quem o país tinha relações- da Dazlu, e, apesar disso, Gerais. Eu acho que nós, mi- dependendo do que tenha a dizer às pessoas - estreitas do ponto de vista político e do ponto de está enviando brigadas continua existindo como era nha geração, a sua também, isso já aconteceu centenas, milhares de vezes -,- vista econômico, chamada de ‘diplomacia da so- de médicos para países antes, a maneira de levar a nósmas estamos de ser tendoprotagonistas o privilé você pode atingir cem mil pessoas, pode atingir- lidariedade’. A União Soviética passou a vender desenvolvidos: Itália, gio de não só testemunhar, um milhão de pessoas, algo nunca visto na im para Cuba o petróleo que os Estados Unidos pa França, Espanha, China e notícia às pessoas é que - prensa convencional. Então, tem coisas no ‘No raram de fornecer e, a preços abaixo do mercado,- África, que é um negócio de uma revolução profunda,- caute’ (blog do entrevistado no Facebook) que e passou a comprar de Cuba a cota de açúcar que que eles fazem desde que mudou pra melhor. que é o surgimento da in já deram notícias, já deram mais de um milhão os Estados Unidos se recusaram a comprar, e pa a revolução é revolução,- ternet. Há uma coisa curio- de visualizações na hora que a gente colocou. O gava o açúcar acima do preço do mercado, que desde a guerra da Argélia, sa aí, né? A minha geração Umberto Eco falou que a internet liberou uma foi uma maneira de ajudar a Revolução Cubana.- você não era nascido ain - achava, pelo menos as pes falange de imbecis que estava submersa e que A União Soviética acabou, evaporou da noite pro da, e já tinha médico cubano espalhado pelo soas ditas progressistas da minha geração, que agora tão reaparecendo. Eu estou convencido de- dia e Cuba teve uma queda de 70% no PIB. Ha mundo. Então, eu continuo solidário com a Re a liberdade de expressão, sobretudo nos meios- que, na verdade, é preciso ficar claro uma coisa:- via falta de insumos, falta de gasolina, de trator, volução Cubana, talvez mais hoje do que eu fui eletrônicos de comunicação, rádio e TV, que era- não é que mudou o jornalismo, não é que aca equipamentos, falta disso, falta daquilo, e como quandoO jornalismo me aproximei praticado deles. por sua geração ode, que a tecnologia se tinha antes, acabou ia serandando conquistada mais depressa nas tri bou o jornalismo. O jornalismo continua existin se a tragédia da queda da produção não fosse – entre 1960-1980, é muito reverenciado. bunas, nas trincheiras, nas barricadas. Na verda do como era antes, a maneira de levar a notícia suficiente, o preço desabou também, e aí eles Entretanto, alguns teóricos usam uma cor- às pessoas é que mudou pra melhor. buscaram uma solução que, na verdade não era- rosiva metáfora de ‘cães perdidos’ para a do que a nossa ideologia, porque de uma hora original porque já tinha dado certo na Espanha,- encruzilhada do jornalismo neste século 21. para outra, surgiu um negócio chamado internet- Continua na Página 4 no processo de redemocratização. O que eles fi que já estão querendo começar a controlar em zeram? Turismo. E foram os espanhóis que en vários países. Eu defendo que seja uma rede pú

Nesta segunda quinzena de julho, partidos vão Informe “Capacidade de diálogo” Ricco Farias definir posicionamento sobre eleição em JP e CG Ainda Adalberto Fulgêncio referindo-se ao go- UN [email protected] vernador João Azevêdo e ao prefeito Luciano Cartaxo: “São líderes que demonstraram ter Nesta semana que se inicia, partidos políticos deverão dar um norte de como se comportarão no que capacidade de diálogo. Desenvolveram ati- diz respeito às eleições majoritárias em João Pessoa e Campina Grande. Obviamente, as grandes vidades conjuntas, com reconhecimento aos legendas, com potencial para levar adiante candidaturas nos dois maiores colégios eleitorais da protocolos científicos. O que eles fizeram na Paraíba, na condição de cabeça de chapa ou na indicação dos candidatos a vice, já estão em di- saúde [neste cenário de pandemia] foi muito álogo mais intenso há pelo menos duas semanas. Porém, esta semana que dá destino à segunda positivo”. quinzena de julho, promete ser de definições sobre os rumos que os partidos irão tomar. Emissários qualificados – e não propriamente as lideranças maiores das legendas–, que já iniciaram conversas Foto: Divulgação prévias com a anuência dos mandatários dos partidos, deverão participar de novas reuniões. Em bares e restaurantes Partidos importantes nesse cenário de pré-campanha, como Cidadania, PV, PT, PSD, Podemos, PCdoB e PSDB, nas duas cidades, estão debruçados sobre as demandas que envolvem a O prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV), formação de alianças e apoios com vistas à eleição majoritária. Em Campina Grande, confirmou que, a partir da próxima semana, a prefei- por exemplo, duas pré-candidaturas, a de Ana Cláudia (foto), do Podemos, e a de Inácio tura começará a fazer a avaliação dos cenários com Falcão, do PCdoB, atuam para ter o apoio do Cidadania. O problema é que ambas as o intuito de flexibilizar o funcionamento de segmen- legendas são da base do governo. Em João Pessoa, no que tange ao posicionamento tos econômicos que ainda estão inativos ou atuando do Cidadania, a solução parece estar, podemos assim dizer, melhor encaminhada. de modo excepcional. O setor de bares e restauran- tes estão entre eles. Nordeste na ‘elite’ “Não vejo problema” Entre os ‘Cabeças’ De acordo com o Diap, costu- Provocado a falar sobre possível “Servir é um remédio”, diz CNBB Na lista dos ‘Cabeças do Congresso meiramente, os parlamentares aliança entre Cidadania e PV, em em relação ao ‘Dia da Caridade” Nacional 2020’, elaborada pelo De- mais influentes do Congresso João Pessoa, o secretário munici- partamento Intersindical de Asses- são de regiões abastadas, eco- pal de Saúde, Adalberto Fulgên- Hoje, no Brasil, é o ‘Dia da Caridade’. A propó- soria Parlamentar (Diap), a Paraíba nomicamente. “Essa tendência, cio, afirmou que não está entre sito da efeméride, o presidente da CNBB, dom tem seis representantes: os senado- no entanto, pela primeira vez, os emissários que estão tratando Walmor Oliveira, emitiu mensagem: “Quem se res Veneziano Vital do Rêgo (PSB) e não se manteve”, registra. “O do assunto, mas opinou: “O go- dedica à caridade, descobre que servir é um re- Daniella Ribeiro (PP), e os deputa- Nordeste é que tem mais re- vernador e o prefeito disseram à médio, é ajudar a transformar a realidade de dos Efraim Filho (DEM), Aguinaldo presentantes nesta edição dos sociedade que o importante é sal- outras pessoas. Se a solidariedade fosse vivida Ribeiro (PP), Wellington Roberto (PL) ‘Cabeças’: 35. E, sozinha, a re- var vidas. Se houve uma aliança como princípio que ordena a sociedade, o mun- e Hugo Motta (Republicanos). gião tem a maior quantidade sanitária, não vejo problema em do seria mais justo, solidário e fraterno”. de senadores na lista: 13”. haver uma aliança política”. Entrevista Edição: Clóvis Roberto Editoração: Bhrunno Fernando AUNIÃO João Pessoa, Paraíba - DOMINGO, 19 de julho de 2020

Fotos: Arcevo pessoal “A luz e a esperança vêm do Nordeste” Fernando Morais revela a paixão pelo jornalismo e diz que a região Nordeste está dando lições políticas ao Brasil

Lúcio Vilar necessárias. Agora, é uma coisa importante para também, você com cinquenta anos de jornalismo, se dez anos que eu estou grudado nele. Eu acumulei Especial para A União terminar a resposta, eu nunca abandonei o jorna- uma montanha, uma cordilheira de informações, lismo. Por outro lado, eu sou muito bom de gastar, sejam atuais, contemporâneas, sejam informações Com passagens importantes veículos da num sou bom de ganhar, então, eu não tenho nada, for ficar bravo com alguém que não quis te dá uma ‘grande imprensa’ em que momento o Sr. teve o ganhei muito dinheiro, mas gastei com quê? Num entrevista,A aventura tem que é ummudar gênero de profissão. que lhe fascina? importante esclarecer, tem um corte temporal, um insight de que iria migrar para a biografia? sei, eu não cheiro cocaína, não tenho duas famílias, n Olha, se eu pudesse escolher, eu seria um corteremotas, como porque dizem nãoos acadêmicos, vai ser uma de biografia. um período Isso da é n A minha migração do jornalismo convencio- não tenho apartamento em Paris, tem um carrinho autor só de história de aventura, eu adoraria ter es- vida do Lula, que é da prisão dele em 1980 até hoje. nal para o jornalismo em livro foi natural, porque se caindo aos pedaços, mas tem uma coisa: o bem que critos histórias do ‘Indiana Jones’, sabe, eu morro de você olhar todos os meus livros, sem nenhuma ex- eu acumulei é um bem talvez mais importante do inveja.... Eu morro de inveja do Mario Puzo ter escri- O filme ‘Lula, o filho do Brasil’ recebeu ceção, são grandes reportagens que, teoricamente, que ter grana, que é a minha independência, minha to ‘O Poderoso Chefão’, uma história de aventura, eu muitas críticas, na época de seu lançamento. poderiam estar sendo publicadas em série num jor- independência como jornalista e minha indepen- adoraria fazer. Eu aprendi a escrever lendo James Alguma vez lhe ocorreu pensar que essa bio- nal ou numa revista. A minha primeira experiência, dência política a partir do momento que eu não te- Fenimore Cooper, que é o cara que criou ‘O Último grafia possa ser acusada de ‘chapa branca’? que foi uma casualidade ocorreu em 1970, portan- dos Moicanos’. Então, eu gosto muito de aventura. n to, cinquenta anos atrás. Caraca, como estou velho! partido político. Isso me dá uma liberdade de loco- Isso talvez me leve sempre a botar um olho em Eu tinha, portanto vinte e dois anos pra vinte e três moçãonho mais política partido muito político, grande. não Não sou éfiliado um saldo a nenhum mate- qualquer personagem pra tirar o lado aventures- para se Olha, pesquisar o filme sobre ‘Lula, Lula, o filho para do Brasil’,os tataranetos eu acho anos e eu ganhei o Prêmio ESSO de Jornalismo em rial, é o saldo da minha independência co dele. Eu abro a cena do “Olga” com uma cena de daque gente é um pesquisar filme que sobre vai ficar, ele, vai é um ser documento importante parceria com outro repórter, Ricardo Gontijo, com ‘bang bang’, ela arrancando o namorado das mãos importante sobre uma época importante, mas eu uma série de reportagens com vinte páginas (bons A biografia de Assis Chateaubriand chegou do juiz, da polícia, eu faço essas coisas com prazer não sei por que não fez sucesso. Para mim, foi uma tempos aqueles em que o jornalismo publicava re- a virar filme de longa-metragem. O que mais lhe adicional. Isso talvez seduza um pouco mais o pes- surpresa. Mas eu num tenho temor de parecer portagens de vinte páginas de extensão, né)? Era encantou na história do paraibano que ‘inven- soal de cinema. O “Olga” vendeu não sei quantos chapa branca, não, por uma única razão: porque uma reportagem que levou quase três meses para tou’ a televisão na América Latina? milhões de exemplares, está bom, mas cada vez que não vai ser chapa branca, não vai ser. É um retrato ser realizada, numa época em que a Amazônia era n Chatô é o personagem com o qual todo bió- do Lula, um retrato do período da vida do Lula. Já um negócio que não estava na moda. Em 1970 a grafo sonha, né? Porque primeiro, ele é polêmico, quinze milhões de pessoas assistindo. Vai pra Net- não é mais o Lula no pau de arara, o menino, que Amazônia ainda era Júpiter e os milicos decidiram ele não é linear, não há nenhum rótulo, nenhum o filme passa na Globo você tem ali dez milhões, vendia mexerica, engraxava sapato. Não, já é ou- construir a Transamazônica, a pretexto de ocupar a carimbo único que você possa usar para descrever o Chatô por lá, então tem isso, não é? Que é a grande tro, o meu livro é sobre um cara que já começa na região.... A Transamazônica, o projeto dos militares o Chatô, porque ele, ao mesmo tempo em que era alegriaflix, não de sei um quantos autor, podermilhões levar de pessoasa sua história assistiram para primeira página sendo preso, sabe? Então, já é o era ligar a Paraíba a fronteira brasileira com o Peru, indiscutivelmente um gênio, ele era um gangster, um número cada vez maior de pessoas. Lula personalidade, é o Lula político, ainda não po- e começava em João Pessoa (Cabedelo), no extremo tinha comportamentos de gangster, mas um gangs- lítico tradicional, mas o Lula ativista e eu acho que leste do Brasil, pegava um pedaço do Piauí, pedaço ter muito peculiar. Até nisso, ele é um personagem Qual o maior desafio de escrever sobre o isso deixará de ser problema para mim até porque do Maranhão, e entrava na selva e atravessava a saboroso, porque ele era um sujeito que tomava ex-presidente Lula, dada a complexidade de um eu tenho diferenças com o PT, tenho e tive, sabe? Amazônia. E nós fomos, dois repórteres, fomos con- dinheiro da elite brasileira de peixeira na mão, com personagem contemporâneo e na ativa? Então, o fato de eu ter esse distanciamento me dá tar o que era a aventura de construir uma estrada chantagens, descobria que o sujeito estava namo- n Tem vantagens e desvantagens, como tudo essas condição necessária para que o livro que não de sei lá quantos mil quilômetros no meio da selva. rando a secretária, num tinha nenhum pudor, de se torne duas coisas indesejáveis: para nem seja ligar para o sujeito e dizia para o milionário, olha, - uma peça acusatória, nem tampouco uma petição Editora Brasiliense, leu a série do Jornal da Tarde e aqui tem um repórter querendo fazer uma matéria meiro,nessa vida, eu tenho fazer umaum pedaço biografia essencial, como a doimportante Lula. No para abrir o processo de canonização de Lula. sugeriuO Caio Graco, publicar filho em do livro. velho Nós Caio topamos, Prado, que mas dirigia tinha- a falando, bisbilhotando a sua vida, eu vou proibir isso nameu vida caso dele, específico, em que eu tem estive a vantagem muito próximo de que, dele, pri se certo receio, estamos falando de 1970, auge da tal, não vou deixar, você é amigo da gente, tá? Muda- que é o pedaço que vai de 1975 a 1980 mais ou me- Você cogitou fazer um livro sobre o ditadura, pau comendo, eles torturando, matando, va de assunto e depois dizia no mesmo telefonema: nos, quando ele cria o PT. Nesse período eu acom- mais temido delegado da ditadura militar, fazendo o diabo. Aí o Caio “Olha, queria te falar uma coi- panhei muito de perto a Sergio Fleury? teve a ideia brilhante de pe- sa, tem um Modigliani, sendo atividade dos metalúrgicos n Para contextualizar dir ao economista Roberto Não há nenhum rótulo, leiloado em Nova York, custa do ABC, eu era deputado Vocês deram uma segunda melhor, deixa eu contar: quan- Campos para fazer o posfácio nenhum carimbo único que você não sei quantos milhões de e nas greves a gente tinha lição pro Brasil, que foi o seguinte, do livro. Porque o Roberto - um grupo pequenininho pensando qual seria o perso- Campos também era contra possa usar pra descrever o Chatô, císsimo se você arrematasse de deputados, quase todos buscar unidade entre os nagemdo eu terminei seguinte. o As “Olga”, pessoas fiquei se a construção da Transama- essedólares, Modigliani nós ficaremos e doasse feliele eram do MDB. Quase todos espantavam quando eu dizia zônica, por outras razões, não porque ele, ao mesmo tempo pro MASP”. Com isso, o MASP foram para o PT, eu fui um governadores do Nordeste... pelas mesmas que nós; ele em que era um gênio... é hoje o único museu do Então eu não sou pessimista. do delegado Sérgio Fleury, o porque achava que o Estado hemisfério sul que tem um MDB. Eu era muito próximo torturador.que desejava Como? fazer a Vocêbiografia es- não tinha que gastar dinheiro ele era um gangster, ele tinha Rembrandt e o MASP é um dodos doutor poucos Ulisses, que ficou tal não no Temos que enfrentar e vencer creveu sobre Cuba, escreveu com isso, o Estado tinha que - quis ir embora, e eu, tam- sobre Olga Benário e agora comportamentos de gangster, mas lhos, nem dos netos do Chatô. bém naquela época, o Lula juntos com a esperança e a luz que vai escrever um livro sobre que desde aquela época já era um gangster muito peculiar. museu público, não é dos fi sabe disso, naquela época, estão vindo aí do Nordeste. Fleury? E eu dizia para as pes- umamanter obsessão o ajuste deles. fiscal, Por vejaque Testemunha ocular eu divergia muito da cria- soas: Fleury é parte da história dos últimos dias do pri- ção do PT, eu achava que do Brasil, é a parte feia da his- livro? Porque se os milicos resolvessem nos pren- meiro magnata das Comunicações, no Brasil, o PT ia rachar a frente, o Frentão, que era o PMDB, tória do Brasil, é a parte sórdida da história do Bra- der,enfiar tinha o Roberto que prender Campos o Roberto no Campos também, o ator se recusou a lhe dar de- né? E eu dizia para eles que achava que aquilo ali de sil, mas ele é parte da história do Brasil. Você não então era uma espécie de ‘álibi preventivo’. poimento sobre o que sabia do velho Chatô. registrar o papel que Fleury teve no Brasil como Isso lhe incomodou muito na época? ampla contra a ditadura militar. Mas acompanhei agente das forças do mal é a mesma coisa que o que E deu certo a empreitada? n Lima Duarte. Eu gosto muito do Lima. Eu dealguma perto maneira,a prisão dele, provocava eu não uma estava fissura lá no na dia, frente mas o Rui Barbosa fez com os documentos da escravi- n - acho Lima um grande ator e vou confessar aqui que todos os dias antes. Tem a famosa passagem que ele dão. “Manda tocar fogo nisso tudo porque apaga ciente pra dar dinheiro. Primeiro, porque eram dois passei a gostar mais dele depois daquela semana já contou do nosso jantar com Fernando Henrique essa nódoa, apaga essa mancha da história do Bra- autores, O mas livro eu vendeu percebi muito que ali bem, tinha mas um não caminho, o sufi que passamos juntos aí, em João Pessoa durante Cardoso que faz uma análise de conjuntura e achou sil”. Bom, não apaga mancha nenhuma. que me permitiria fazer o que eu mais gosto ainda o Festival Aruanda. Ele, por alguma razão que até que não tinha o menor perigo do governo intervir de fazer no jornalismo que é reportagem, eu nunca hoje eu desconheço, eu tentei descobrir aí, em João no sindicato... Isso foi em São Bernardo, num res- O Brasil tem jeito ou já descemos a la- fui um cara de redação, já trabalhei em redação, fui Pessoa, porque a gente estava ali junto bebendo, fu- taurante, e aí o Fernando Henrique achou que não deira no pior sentido da expressão? mando, comendo, falando besteira, e eu achei que n Olha, é um momento muito triste da história ‘pauteiro’, fui editor de cultura, tirando o futebol e ele ia dar alguma dica de por que ele se recusou a militar, que conhecia como é que os militares pensa- do Brasil... As pessoas dizem que eu virei um velho economia,editor, subeditor, de que fui eu ‘copidesque’.... não entendo, Eueu fiztrabalhei de tudo, pra fui- me dá uma entrevista. O Lima não quis falar, foi uma vam,tinha pegourisco porque o carro nume foi emborasei o quê, e oque Lula era falou filho com de carbonário, um velho incendiário, porém, mais oti- ticamente em todas as áreas do jornalismo. pena, porque o Lima viveu um papel interessante mista. Eu acho que tem saída, sim, e vou lhe dizer, eu acho que vocês, nordestinos, começaram já no E aí você já encerrou sua ‘cota’ de redação? Chatô tem a trombose, ele não conseguia falar. E eu Cardosoa gente: “Olhe,tinha eufeito acho num melhor deu certo; vocês meiaficarem”. noite, E nós sei quilômetro zero dessa tragédia, vocês já começa- n Outro dia, um cara me mandou aí uma pá- tenteino fim duas da vida ou dotrês Chatô, vezes, e elesó nodisse finzinho que não. depois Uma o lá,ficamos uma horae a avaliação da manhã, de conjunturanós estávamos que ono professor sindica- ram a ensinar o Brasil. Começaram ensinando o pena, ele aparece no livro, claro, eu cito, faço refe- - Brasil a votar. Bolsonaro foi derrotado em todos os quarenta e oito meses - quarenta e oito meses são rência, aliás, aparece foto dele, mocinho ainda com do companhia para ele, para ter um testemunho se Estados do Nordeste, e em alguns de uma maneira quatrogina do anos, arquivo olha daisso! Veja, - em que primeiro o livro lugar ‘A Ilha’ na ficoulista o bigodão tal, ainda cabeludo, numa das festas de viesseto, dando à intervenção plantão, fazendo e não segurança,deu outra: deenfim, madruga fazen- humilhante. E depois vocês deram uma segunda li- dos mais vendidos, e deu um dinheirinho, claro. E da a tropa chegou e de manhã cedo o interventor ção para o Brasil, que foi o seguinte, buscar unida- aí já era eu sozinho, não tinha que rachar com nin- Lima, não. Certamente teria, ainda que desse um tomou posse. A outra vantagem, que eu acho que é de entre os governadores do Nordeste em torno de guém. E eu descobri que era possível fazer o que eu parágrafo,Chatô, já todo uma entrevado, página a masmais num do livro, fiquei certamente triste com questões administrativas através do Consórcio Nor- gostava sem ter patrão, sem ter editor bafejando no teria sido saborosa. Você testemunhou aí o contato ter ligação de nenhuma natureza com o PT. Porque deste... Então eu não sou pessimista. Temos que en- seu cangote a toda hora, dizendo: “tem que terminar da gente em João Pessoa, durante o festival Aruan- seimportante, eu fosse do é opartido, fato de éeu uma não coisa ser filiado complicada, ao PT, não frentar e vencer juntos com a esperança e a luz que o texto daqui a meia hora fecha, daqui a pouco vai da, em 2015, eu num digo que eu virei amigo do está vindo aí do Nordeste. O que eu puder fazer para descer, não tem espaço, só pode escrever dez lau- Lima Duarte, mas eu acho que rolou ali uma relação Agora, eu tenho trabalhado desde quando terminou das”. Não, escrevo quantas precisar, quantas forem cordial, fraterna, não tenho nada contra ele, porque aé? presidência Porque te tira do um Lula, pouco agora da em isenção. julho Masestá éfazendo difícil... eleições, eu farei. Já falei pra todos os governadores. retribuir o que vocês fizeram pelo Brasil nas últimas Turismo de Princesa A cidade de Princesa Isabel é um convite ao turismo histórico e cultural da Paraíba. O município foi palco em 1930 da Revolta Guedes Roberto de Princesa, sob o comando do Coronel José Pereira. Página 8 Foto:

Edição: Emmanuel Noronha Editoração: Joaquim Ideão João Pessoa, Paraíba - DOMINGO, 19 de julho de 2020 AUNIÃO 5

Fotos: Roberto Guedes

Depressão e ansiedade: as sequelas da pandemia

Cenário de isolamento social e medo constante da morte tem levado pessoas a quadros graves de transtornos mentais

Lucilene Meireles [email protected] - Sintomas de ansiedade Enxaqueca - muitos filmes e séries, tenho estado mais Dores no corpo perto da família. Por outro lado, me sin Tensão to frustrada porque planejei meu ano e O isolamento físico e o estresse du Problemas gastrointestinais, como refluxo, gastrite - agora, estamos praticamente em agosto rante a pandemia do novo coronavírus e não fiz nada do que queria”, lamentou. Taquicardia têm sido o estopim para o surgimento Para ela, o medo de se contaminar Dormência no braço e agravamento de problemas psicológi com o coronavírus é o que mais causa- Falta de ar cos e até psiquiátricos. Nos consultórios, aflição. “Tenho um cuidado exagerado- aumentou o número de pacientes com quando vou ao supermercado. Fico de- Sinais de depressão crises ansiosas e quadros depressivos. sesperada quando alguém espirra ou tos Acordar sem ânimo até mesmo para sair da cama; Há relatos até de tentativas de suicídio se perto de mim. Uso álcool em gel o tem Perda de interesse por coisas que gostava de fazer; em razão da dificuldade de enfrentar po todo. Ao chegar em casa, tomo banho O autocuidado é deixado de lado; um cenário desconhecido, causado por imediatamente, deixo as roupas do lado Mudança total de humor. uma doença grave que provoca mortes e - de fora. Tenho receio de tudo. Espero deixa sequelas. O corpo não responde, o que o pior já tenha passado e que daqui- Fonte: Psicóloga Ludmila Rodrigues. cérebro não consegue entender, batem o a pouco as coisas melhorem. Sei que não medo, o pânico, a sensação de impotên vai ser como antes, mas esse medo vai di cia, e a somatização de tudo isso acaba se minuir. É o que espero”, afirmou. tornando um fardo pesado demais. “No início do isolamento, as pessoas estavam conseguindo lidar porque havia um prazo, seria rápido. Com o tempo, a- pandemia foi tomando uma proporção maior, e o isolamento acaba potenciali- De repente, me vi presa zando traços de ansiedade que a pessoa já tem. O mesmo acontece com a depres- dentro de casa. Já são mais de são. O distanciamento das pessoas, a falta- 90 dias isolada, vivendo uma de rotina causa essas questões. No aten- dimento clínico, percebo que há um au nova realidade, aulas virtuais, mento da desmotivação”, destacou a psi- cóloga clínica Ludmila Rodrigues. - homeoffice, e toda essa A auxiliar de escritório, Anna Karoly na Ferreira da Cunha, 28 anos, tem sen mudança teve reflexos. A tido na pele os efeitos de estar reclusa.- comida se transformou numa Ela não chegou a procurar ajudar médica, mas garante que esse momento tem tra válvula de escape para mim. zido muito ansiedade. Habituada à rotina de oito horas diárias de trabalho, aulas Minha autoestima está baixa, à noite na faculdade, encontros com as ganhei seis quilos e há amigas nos finais de semana, ela afirma que está se sentindo sufocada. “Tenho momentos em que me sinto medo de ficar doente, de ver as pessoas que amo irem embora, de morrer. Fico perdida. sem saber o que fazer, quando isso vai acabar, quando vou voltar à rotina. Só sei- Anna Karolyna Ferreira que nada será como era antes”, relatou. Além de passar a maior parte do tem- po no quarto, os horários de Anna estão desregulados. “Durmo tarde, acordo tar de, se der, durmo à tarde. Tenho visto Psicóloga explica sensações diferentes no enfrentamento da situação As sensações que Anna situação de formas diferentes. crianças, afazeres domésticos Há também os que, mes- todo mundo forçado a ficar em Karolyna está vivenciando Enquanto alguns se estres- e isso contribui para não ficar mo sozinhos, longe de pa- casa, mas também um pouco por conta da pandemia são sam, ficam ansiosos e até parado ou pensando na situa- rentes, sem trabalhar e sem mais conectado consigo. Nes- compreensíveis para o mo- deprimidos, outros enfrentam ção. Porém, mesmo cercado poder sair de casa, estão se se momento, é preciso refletir mento em que uma doença com mais serenidade. por parentes, há quem não redescobrindo, não sentem o que é prioridade, o que desconhecida assola o mun- Algumas pessoas, segun- suporte as incertezas sobre o essa angústia. “Estar sozinho, está fazendo falta. Em muitos do, mata pessoas, destrói do ela, estão em homeoffice futuro e, na maioria dos casos, sem marido e sem filho, não casos, as pessoas dentro de famílias, ameaça a todos. e conseguem ocupar o tempo em decorrência da predispo- quer dizer que é felicidade casa estão se conectando mais A psicóloga clínica Ludmila com o trabalho, mesmo sen- sição, acaba desenvolvendo ou tristeza. Essas pessoas en- nessa rotina”, observou. Rodrigues destacou, porém, tindo falta da rotina. Outras, condições de muita ansiedade contram outros motivos para que as pessoas encaram a têm uma família maior, com ou até mesmo depressão. dar sentido à vida. Agora está Continua na página 6 Edição:Emmanuel Noronha Editoração: Joaquim Ideão AUNIÃO João Pessoa, Paraíba - DOMINGO, 19 de julho de 2020

Fotos: Pixabay

Não existe receita para evitar ficar ansioso, estressado ou até mesmo para não entrar em depressão, mas é possível que a pessoa siga algumas dicas de profissionais que podem ajudar a vencer tudo isso Medo da morte e incerteza sobre quando tudo passará Sobrecarregadas pelo oceano de possibilidades que envolve a covid-19, pessoas enfrentam a ansiedade e o pânico

Lucilene Meireles sar”, analisou a psicóloga Mesmo sabendo [email protected] Ludmila Rodrigues. A possibilidade de mor- que em inúmeros casos, Investigação de sintomas persistentes Em meio a uma pan- rer ou de perder alguém em demia, se ouve muito falar razão da covid-19, segundo muitos sobrevivem, Quando os sinto- se animar e se adaptar. Temos que observar sobre morte e esse é um ela, causa medo, inseguran- existe um medo muito mas de ansiedade se O cérebro vai entender que mudanças ocorre- assunto que causa medo ça. “Existe o medo de encon- tornam muito frequen- aquilo que faz bem”, ram, o que descobri- à maioria das pessoas. trar e não poder tocar, a fal- grande. Se a pessoa já tes, é preciso buscar ensinou. mos de bom nas outras “Mesmo sabendo que em ta que isso faz com amigos, tem ansiedade em ajuda. “Se a pessoa pessoas, o que o isola- inúmeros casos, muitos so- com a família. Sempre digo fica a maior parte do Em meio ao caos mento ensinou, fazer brevivem, existe um medo aos pacientes que é uma luta relação a doença, entra muito grande. Se a pessoa diária para a gente se man- dia se questionando, Todo mundo sabe planos para o futuro. já tem ansiedade em rela- ter nesse momento que esta- em pânico se consumindo, pen- que não existe receita Assim, vamos conse- ção a doença, entra em pâ- mos vivenciando. Temos que sando em quanto isso para evitar ficar an- guindo nos manter”. nico. O que aflige é o medo buscar um novo sentido pra Atinge a todos e cada um está atrapalhando a sioso, estressado ou A respiração é ou- e a incerteza, inclusive de vida, porque tudo isso é mui- com um nível de estresse di- vida diária, se ela pen- até mesmo para não tro ponto importante. quando isso tudo vai pas- ferente”, constatou. sa o tempo todo no entrar em depressão, Quando é tranquila, que está deixando de mas é possível seguir distribui para o corpo to difícil em todas as idades. fazer, se está atrapa- algumas dicas que uma tranquilidade. lhando no trabalho, podem ajudar a ven- “Em momentos de iso- na rotina, se o nível for cer tudo isso. “Mesmo lamento, travamos a Vencendo o isolamento físico alto, é preciso ajuda o momento trazendo respiração e passamos psicológica e, em al- incertezas, precisamos a ter sintomas físicos”, “Não existe isola- de pessoas com ansie- Por outro lado, se- guns casos, psiquiátri- tentar sobreviver. As constatou. “A vida é mento social e, sim, fí- dade e depressão tem gundo Mendoza, existe ca. Tem que investigar pessoas devem acor- um presente. A gente sico, ou seja, uma situa- aumentado por várias um grupo de pessoas a questão emocional”, dar sabendo o que tem muita coisa para ção que pode ser con- razões. “Quando as com tendência genética. explicou Ludmila Ro- vão fazer, estabelecer fazer e tanta coisa tornada, por exemplo, pessoas estão mais pró- “Neste caso, o isola- drigues. uma rotina, trabalhar, passa despercebida. através de ferramentas ximas entre si, fecha- mento físico, o confina- De acordo com organizar a casa, o Se não conseguir, uma que aproximam as pes- das num determinado mento poderá fazer com a especialista, a an- guarda-roupa. Tem ajuda psicológica é soas, como a internet, ambiente e se existem que elas manifestem siedade tem levado que ter a rotina diá- necessária. Junto com uma chamada de vídeo, rivalidades, atritos, isso com mais intensidade muitos indivíduos a ria para estar sempre o paciente, o especia- uma ligação”, de acordo tende a se tornar mais seu quadro de ansie- um cardiologista e, na em movimento”, disse lista vai tentar enten- com a psiquiatra Vilma profundo e aumenta o dade e depressão. Na verdade, eles não têm Ludmila Rodrigues. der o que está levando Mendoza, professora do nível de ansiedade e de- depressão, é preciso nada. “É um período É preciso também, a essa situação e ver curso de Psiquiatria da pressão. Se os relacio- o apoio familiar, me- delicado e difícil até conforme ensinou a outras possibilida- Universidade Federal namentos estão bons, dicação e, sobretudo, para diagnosticarmos e psicóloga, desenvolver des. Em alguns casos, de Campina Grande temos observado que vigilância, porque empi- temos que ter cuidado o autocuidado, que acontece de ser mais (UFCG). essas pessoas têm se ricamente aumentaram com essas questões”. alimenta a autoesti- físico. Então, precisa Ela destacou que unido mais, descoberto os quadros de tentativa Ela afirmou que muitos ma. Ter compaixão, de medicamento pres- o peso do termo iso- mais coisas que fazem de suicídio. Então, vigiar pais relatam que os fi- contemplar o que há crito por um psiquiatra lamento social é mui- com que o dia delas é essencial para evitar lhos adolescentes não de bom ao redor nesse durante um período to grande nos últimos seja mais agradável”, que isso aconteça”, ex- querem estudar, mas a momento. “Existem coi- para reverter a situa- meses e a quantidade observou. plicou. dica é ter calma, tentar sas boas acontecendo. ção”, completou.

A diferença entre ansiedade e depressão Sintomas de ansiedade* Dicas para viver melhor durante a pandemia A ansiedade e a depressão são bem distintas e n Enxaqueca n Ouça boas músicas uma necessariamente não leva à outra. Dependendo do nível de ansiedade, pode ser até pior que estar n Dores no corpo n Faça uma comida diferente deprimido, conforme avaliou a psicóloga Ludmila Ro- n Tensão drigues. A depressão envolve o humor e vai além da nVeja filmes tristeza. “Quando estamos tristes, passa. Na depres- n Problemas gastrointestinais, como refluxo, gastrite são, não. Falta vontade de fazer coisas que antes n Leia um livro n Taquicardia fazíamos, a autoestima é baixa, parece que há um peso segurando na cama. Há um vazio. Na depres- n Dormência no braço n Acompanhe as lives são grave, os pacientes não quererem nem tomar n n banho”, disse. Falta de ar Fique mais próximo dos familiares em casa Na ansiedade, há uma preocupação com o fu- Sinais de depressão n Faça uma ligação turo. As pessoas querem uma segurança, se preo- n Acordar sem ânimo até mesmo para sair da cama; cupam tanto com o futuro e não conseguem viver n Faça uma chamada de vídeo o presente. Gera até taquicardia e falta ar. Pode n Perde o interesse por coisas que gostava de fazer; levar a ataques de pânico e fobia social. O desafio n O autocuidado é deixado de lado; é saber o que está fazendo para melhorar agora”, acrescentou. n Mudança total de humor. Fonte: Ludmila Rodrigues, psicóloga. Edição: Emmanuel Noronha Editoração: Joaquim Ideão João Pessoa, Paraíba - DOMINGO, 19 de julho de 2020 AUNIÃO Tratamento de covid-19 com plasma vem dando resultado Uso em fase experimental é considerado satisfatório e conta com alta procura dos hospitais, e população dá apoio

FotoS: Secom/PB Ana Flávia Nóbrega ral da Paraíba (UFPB ) e com [email protected] o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-PB), é - feita quando os pacientes re- sionais da área de saúde e cuperados não apresentam pacientesPesquisadores, já recuperados profis da sintomas há mais de 30 dias. covid-19 estão se unindo para levar a possibilidade Como funciona de recuperação a mais pa- A pesquisa liderada pela cientes. A pesquisa baseada pesquisadora da UFPB, Da- no uso do plasma convales- niele Idalino Jenebro, retira cente de pacientes que já se o plasma das amostras de recuperaram do novo coro- sangue doadas por pacientes navírus vem sendo colocada já curados para administrar em prática há quase dois me- nos pacientes hospitalizados ses na Paraíba. O uso, ainda e em estado grave, que ain- em fase experimental, vem da lutam contra a covid-19, sendo satisfatório, segundo através de infusão do plas- a diretora técnica do Hemo- ma já com anticorpos para centro da Paraíba, Valéria tentar neutralizar o vírus no Cristina de Lucena Limeira, corpo da pessoa que recebe devido à alta procura dos a doação. hospitais pelo plasma e tam- Mesmo com a alta pro- bém o apoio da população, cura médica, o uso do plas- que enxerga o tratamento ma ainda precisa de testa- como uma alternativa viável gem em maior escala para para tentar vencer a doença. - A disponibilidade de ência possam ser comprova- doações, no entanto, não dos.que Ainda os resultados assim, a alternati de efici- acompanha o número da va vem sendo usada também demanda de pacientes que, em outros estados do Brasil cada vez mais, precisam do e outros países. tratamento. O Hemocen- Mesmo sendo aplicada tro Paraíba distribuiu, até o em caráter experimental, momento, 76 plasmas para a pesquisa vem mostrando pacientes em tratamento da resultados efetivos na recu- O plasma é a parte líquida do sangue de um paciente já recuperado do novo coronavírus e a coleta é realizada pelo Hemocentro em parceria com a UFPB e Lacen-PB doença nos hospitais do Es- peração de pacientes, visto tado. De acordo com Valéria que, segundo Valéria Cris- quisa, ainda não temos uma ação de sangue, também direto para o paciente. Nós só poderá receber se estiver Cristina de Lucena Limeira, tina, diretora do Hemocen- resposta concreta sobre o é escassa. Valéria Cristina e os familiares dos pacien- hospitalizado. Uma transfu- a procura segue alta, mas o tro, a demanda pelo plasma resultado. Mas o retorno dos de Lucena Limeira ressalta tes estamos nessa tentativa são não é uma coisa corri- banco conta com 16 plasmas convalescente nos hospitais hospitais está sendo muito que, mesmo com a crescen- de divulgar para conseguir queira e só é indicada quan- do tipo A+, 3 do tipo AB, 7 do vem crescendo. “Ainda é um bom. Cada vez mais eles es- te demanda pelo uso, o nú- mais doações”, falou. do o paciente está interno O+ e apenas 4 do tipo O-. projeto de pesquisa. Esta- tão solicitando o plasma e o mero de doações ainda está De acordo com a direto- e vai tendo o seu quadro se O plasma é a parte líqui- mos desenvolvendo a pes- uso nos pacientes vem sendo aquém do esperado. “Temos ra técnica, a administração agravando, já próximo da da do sangue de um paciente quisa conjuntamente a par- satisfatório”, declarou. um estoque um pouco mais precisa ser feita apenas em intubação. No hospital, eles já recuperado do novo coro- tir da doação de plasma por folgado do tipo A. Mas os de- pacientes em estado grave e possuem todo o respaldo navírus. A coleta, realizada pacientes que apresentaram Estoque baixo mais, O, AB, A-, B são muito hospitalizados porque eles médico e a intenção já é evi- pelo Hemocentro em parce- sintomas leves e já estão re- A disponibilidade do precisam de acompanha- tar que o paciente vá para a ria com a Universidade Fede- cuperados. Por ser uma pes- plasma, assim como a do- entrar, e quando entra, já vai mento médico. “O paciente UTI”, informou. difíceis. Já é uma luta para Doadores passam por exames e avaliações para salvar vidas Com o crescimento dos tras quatro pessoas. Então se Pessoa e poderá ajudar a salvar Ele lembrou que, diante de uma ciência tranquila de que ajudei casos de covid-19, os hospi- isso fosse possível, estaria mui- a vida de outros dois pacientes pandemia como essa, em que pessoas a recuperarem a sua tais precisam cada vez mais to feliz em ajudar o próximo”, que sofrem nos hospitais na não se tem muitas informações saúde”, relatou Adelton Alves. dos pacientes considerados relata Marcelo. luta contra o vírus. sobre remédios para a cura da recuperados para que juntos “Infelizmente, não conse- O jornalista teve o diag- doença, todo método utilizado Como doar possam salvar vidas. Marcelo gui, o meu IgG já estava abaixo nóstico confirmado no dia 13 para a cura é louvável. “E saber Apesar das campanhas Diogo Alves da Silva, 32 anos, do exigido pelo Hemocentro. de maio através de uma tomo- que o plasma de uma pessoa que movimentam as redes so- é um dos candidatos que se No meu caso já estava em grafia que mostrou a alteração pode salvar vidas me encorajou ciais por familiares de pessoas prontificaram a tentar ajudar 3,80 e o necessário séria 40,0 no pulmão. Adelton não preci- para que eu pudesse tomar a internadas com a doença, o de alguma forma. O mecâni- acima, o que foi uma pena sou ficar internado, apresentou decisão de doar”. Hemocentro faz um trabalho de co e estudante de Engenharia pois gostaria muito de doar... sintomas leves da doença e Adelson disse que se sentiu tentar conscientizar os pacientes Mecânica foi contaminado pela Mas cada um tem que buscar teve os exames aprovados para bem em ter contribuído e que recuperados para que as doa- covid-19, não apresenta sinto- fazer a sua parte, sem uma realização da doação do plas- o Hemocentro vem realizando ções sejam maiores. A Paraíba mas há vários dias e procurou o mentalidade individualista, a ma. A doação foi realizada na um grande trabalho na busca conta com 15.359 pacientes Hemocentro para fazer a doa- gente vai sair dessa situação última terça-feira. de pessoas que se dispõem que alcançaram a cura clínica ção de plasma convalescente. mais rápido”, declarou. “A melhor sensação que eu a fazer a doação do plasma. para os sintomas agravantes Só buscar o Hemocentro, Recuperado do novo coro- tive foi a de saber que estava “Fui doador voluntário e não da covid-19 e são considerados no entanto, não é suficiente. navírus, o jornalista e apresen- contribuindo para que vidas tive indicação de uma pessoa recuperados. Os que apresen- Para doar, após atender aos tador Adelton Alves já realizou fossem salvas e espero que que está precisando porque taram sintomas mais leves que, critérios de ter tido apenas a doação do plasma convales- assim as pessoas também pro- sei que muitas pessoas estão segundo a Secretaria de Estado sintomas leves, não ter sido cente no Hemocentro de João cedam”, comentou o jornalista. precisando. Estou com a cons- da Saúde (SES), são a maioria, hospitalizado e não apresentar podem se submeter aos exames sintomas há 30 dias ou mais, o para a doação de plasma. doador passará por uma série A comunicação para doa- de exames e avaliação médica ção pode ser feita via WhatsA- para se enquadrar nos critérios pp do Hemocentro da Paraíba necessários para garantir a no número +55 83 3133-3473 segurança do paciente que irá O doador passará ou do telefone (83) 3133- receber o plasma convalescen- por uma série de 3465. te e ainda ter uma quantidade exames e avaliação O uso do plasma convales- de anticorpos relevante. médica para se en- cente não é uma novidade na “Fiz os exames e aguardei quadrar nos critérios medicina sendo uma prática os resultados. As regras para utilizada como alternativa te- doação são bem restritas. necessários para rapêutica para pacientes com Tem que saber se o IgM está garantir a segurança Síndrome Respiratória Aguda acima de 40, caso não esteja, do paciente que irá Grave (SARS), bem como na não poderei doar. Eu já sou receber o plasma pandemia da influenza H1N1 doador de sangue e doar para convalescente e de outras doenças. Nos casos que outras pessoas vençam a já testados, a técnica é consi- doença é muito importante. Eu derada segura. Na pandemia fui informado que uma pessoa do novo coronavírus ainda está pode chegar a ajudar até ou- em desenvolvimento. GIRO NOS

MUNICÍPIOS Edição: Emmanuel Noronha Editoração: Bhrunno Fernando AUNIÃO João Pessoa, Paraíba - DOMINGO, 19 de julho de 2020

Princesa Isabel Marca do turismo histórico e cultural

Revolta de Princesa, em 1930, sob o comando do Coronel José Pereira, levou o nome da cidade para o cenário nacional

Fotos: Roberto Guedes Teresa Duarte e Artístico Nacional, formam um Coluna Miguel Costa-Preste. O pro- [email protected] conjunto de atrativos para uma jeto consta da implantação de um viagem a um tempo de luta onde o monumento feito em cimento em Distante 413 km de João Pes- “coronelismo” era forte na política homenagem ao movimento políti- soa, o município de Princesa Isabel nordestina. co. Um ponto turístico que é bas- é um convite ao turismo histórico O prefeito revela que está tra- tante visitado é a Praça das Estre- e cultural da Paraíba. O município, balhando no resgate a esse poten- las, local que deu início à habitação há 90 anos, foi palco em 1930 da cial turístico de Princesa, com um da cidade de Princesa Isabel. Revolta de Princesa, sob o coman- projeto de revitalização que prevê Diz a história que o local tem do do Coronel José Pereira, consi- também a implantação turística um olho d’água que era ponto de derada a mais decisiva do século no Açude Padre Ibiapina, local que parada para os vaqueiros perdidos. XX, na Paraíba, em que pese os esteve inserido nos “Caminhos do Eles vinham beber água e foram desdobramentos históricos, no Padre Ibiapina”. No projeto consta habitando o local, que também tem - a colocação de uma estatua do Pa- uma pequena casa feita de taipa vou o nome da cidade para o cená- dre em uma ilha existente no açude em homenagem a Natália do Espí- rioâmbito nacional. estadual, O atual conflito prefeito que Ricar le- para visitação turística. No municí- rito Santo, primeira mulher a resi- do Pereira do Nascimento relata pio também existe a Lagoa da Cruz, dir no local. Mas o grande atrativo que a história política vivenciada, onde migraram para Pernambuco aos olhos dos turistas que chegam torna o município um verdadeiro os desbravadores da Coluna Pres- ao município é o Palacete do José convite ao turismo. tes, “quando esses desbravadores Pereira, situado na Praça Epitácio “Esse atrativo histórico só souberam que o Coronel José Pe- Pessoa, local onde se encontra a Projeto preserva as habitações do Centro Histórico da cidade de Princesa Isabel existiu aqui em Princesa Isabel, reira era o líder político do municí- única estatua de corpo inteiro do que foi a ponta do iceberg para o pio, eles se retiraram daqui”, conta político, sendo ela confeccionada Rio Grande do Sul, quando surgiu o prefeito. em bronze. No Palacete José Pe- a mandiocultura, algo em torno de nos produtos de toda cadeia produ- a Revolução de 1930, já que o que Outro projeto a atual admi- reira o seu bisneto Thiago Pereira 200 produtores, povoado Lagoa de tiva da mandioca. O evento, que já aconteceu lá foi inspirado com a nistração municipal está desen- preserva um pouco da história que São João e as famílias do Ecedro, Mãe é reconhecido nacionalmente, não Revolução de Princesa”. Esse fato, volvendo juntamente com o neto Cambira e Moça Branca. será realizado neste ano por conta conforme o prefeito, aliado aos de Luís Carlos Prestes, que, jun- móveis e utensílios domésticos da No período da Festa da Man- da pandemia causada pelo corona- belos casarios no Centro Históri- tamente com Miguel Costa, foram casaé retratada do Coronel em fotografias, José Pereira. poucos dioca e da Cavalgada, o povoado vírus, cuja determinação da Orga- co, muitos tombados pelo Iphan - os responsáveis pelo movimento Na sala principal do Palacete recebe pessoas de diversos Estados, nização Mundial da Saúde é evitar Instituto do Patrimônio Histórico revolucionário também chamado José Pereira, ele expõe um espe- contribuindo para o incremento aglomerações. lho de cristal que foi um presente no casamento do seu bisavô, uma bela cristaleira, chapeleiro, relógio e uma mesa muito bem conservada com cerca de cem anos que perten- ceu ao sogro de Zé Pereira, que o presenteou. Mas é no povoado La- goa de São João, que acontece sem- pre no mês de setembro a principal festa do município que é um dos maiores produtores de mandioca do Nordeste e que também produz uma das melhores farinhas do país. A comunidade abriga uma po- pulação de 412 famílias agricultoras que sobrevivem plantando a cultura da mandioca em 220 hectares de

transformada em farinha, biscoito, sorvete,terra, que goma lá mesmo e outros é beneficiada derivados e do produto. São quatro comunida- O Centro Histórico é o registro de um tempo em que o “coronelismo” era forte na política des que trabalham na região com

A Praça da Estrela e a Igreja do Bom Conselheiro são pontos de visitação turística da cidade Esportes

Curso de Graduação em Jornalismo da UFPB comemora uma Divulgação

década da criação da disciplina optativa de “Jornalismo Foto: Cultura Especializado em Esportes”. Página 12 Edição: Audaci Junior Editoração: Luciano Honorato João Pessoa, Paraíba - DOMINGO, 19 de julho de 2020 AUNIÃO 9 “Hermano José foi o mentor natural de diversos artistas” Hoje é comemorado o centenário de nascimento de um dos maiores nomes das artes plásticas da PB

Foto: Marcos Russo Guilherme Cabral [email protected]

Um dos maiores nomes das artes plásticas do Estado e considerado um mestre por vários artistas igualmente re- terconhecidos, ensinado hoje e influenciadoé lembrado o centenário de nascimen- to do paraibano de Serraria, Hermano José. Um exemplo é Flávio Ta- vares, para quem o amigo foi seu “mentor natural”. E, apesar da morte ter ocorrido em 21 de maio de 2015, o pupilo ga- rantiu que ainda o sente a lhe guiar. “Quando estou pintando, continuo sendo orientado, sin- to a fala dele como se dissesse o seguinte: ‘Olha os movimen- tos, Flávio! Cuidado para não repetir os gestos! Olha a fusão das cores!’. Também sinto a fala de papai, Arnaldo Tavares”. “Além de grande artista, Hermano foi – e continua sen- do – um dos maiores pintores na profundidade e no conhe- cimento da pintura. Durante a vida, ele foi um andarilho do saber. Hoje todo mundo é mes- Paraibano de Serraria, José foi aluno tre. Mestre é uma coisa que de Ivan Serpa no Museu de Arte não se deve falar gratuitamen- Moderna (RJ), bem como de Gilvan te. Quando se fala em Ariano Samico e Ana Letícia Quadros Suassuna, não se fala ‘mestre ’. Ele e Her- mano estão na área mítica, que passam a ter uma áurea. Não precisa dizer. O próprio nome tem a sapiência, a palavra do ser, a obra. Hermano é uma en- ba, em João Pessoa, pintando neidade. Daí suas gravuras tidade que, na Terra, aparece abstratas, fruto da sua apren- esporadicamente. É um mes- observando modelos vivos, dizagem no Museu de Arte Um artista com um olhar sempre tre absoluto, que merece todo anatomia,o que não se figuras tem mais humanas, hoje, e Moderna (MAM) do Rio, que, o respeito”. paisagens da cidade, como a Flávio Tavares começou a Lagoa do Parque Solon de Lu- sua pintura”. voltado à preservação da natureza receber orientações artísticas cena e a ponta do Cabo Branco, certamente,Já para Raul veio Córdula, influenciar que do amigo a partir dos 16 anos como desbravador”. reside em Pernambuco, Her- Além dos pincéis, Hermano lante, sem ser castrador”, disse Flávio de idade. “Hermano José foi o Segundo Tavares, ele en- mano “era uma pessoa obsti- José também agia como um ativista Tavares. “Hermano dizia que Recife mentor natural de diversos veredou pelo impressionismo nada e dedicada às artes, ten- em defesa do meio ambiente. perdeu as vantagens da província e - francês, no qual a grande vir- “Ele sempre teve um olhar vol- ganhou as desvantagens da metró- sive, alguns da nova geração, tude era captar a luz europeia. de gravura no Rio, considera- tado à preservação da natureza”, pole. Ele temia que isso acontecesse artistas,pela dimensão que influenciou, dele como inclu ser “Mas Hermano captou a luz do sido,um grandeao passar renovador pela oficina na afirmou Chico Pereira. “Daí suas em João Pessoa. Era defensor feroz humano. Ele não tinha ar pro- arte brasileira”. telas dedicadas ao Cabo Branco de tudo que representasse o belo em fessoral. A sua fala tinha cla- impressionistas da pintura Outro contemporâneo do e as paisagens vegetais da capi- arte. Não era só colonial e barroco, reza e não queria impregnar tropical.francesa. EleIsso tinha era notório. influências No saudoso artista, Miguel dos tal, João Pessoa, pinturas essas Hermano também era moderno. Era as suas ideias, mas buscava o Rio de Janeiro, Hermano so- Santos lembrou que conhe- que já vinham do seu passado de avançado no tempo”. que cada artista poderia dar ceu José no começo da década aprendiz, no Centro de Artes do Tavares ainda conta que o de melhor. A arte é feita para concretistas. A prova é que, de 1960. “Não fui seu aluno. final dos anos 1940, e sobreviven- mentor e amigo, além do meio melhorar a condição humana freunos últimos influência anos dos da abstratossua vida, Entretanto, ele foi mestre de do, ainda, pelos anos de 1950 e ambiente, se preocupava também e não encher as galerias. Her- quando já havia retornado todos nós e tem grande impor- 1960. O mesmo espaço que tran- com a arquitetura. mano fazia críticas construti- para João Pessoa, voltou a pin- tância na arte brasileira. sitou José Lyra, Ivan Freitas, Breno Ao se referir à atuação como vas quando eu estava pintan- tar naturezas mortas na técni- O artista visual e crítico de Mattos e tantos outros artistas ativista em defesa da ecologia, do, repassando ensinamentos ca pastel sobre papel, e ao abs- de artes Dyógenes Chaves construtores da arte paraibana. No Dyógenes Chaves também ressal- para melhorar, como observar tracionismo, que são sinfonias analisou que o fator mais im- meu entender, o grande legado de tou o papel de militante desempe- o que eu estava expressando de formas retilíneas transpa- portante em Hermano José Hermano foi sua luta intransigente nhado por Hermano José, princi- muita coisa no quadro”. rentes, que formam prismas foi a sua estadia no Rio de pela preservação da natureza e a palmente por meio da Associação O artista lembrou que de cristais e transmitem espi- Janeiro, onde foi trabalhar sua coleção de arte”. Paraibana dos Amigos da Natureza visitava, com seu pai, a casa ritualidade, sem precisar de como funcionário público “Quando voltou a morar na (Apan). Ele admitiu ser um artista da mãe de Hermano José, no descrição de princípios, pois e lá estudou gravura com Paraíba, vindo do Rio de Janeiro, militante, inclusive na estética e centro de João Pessoa, quan- se sente movimento e a luz. Ele o norte-americano Johnny Hermano passou a atuar em defesa na ação política, por influência do ess chegou a morar no Rio voltou ao passado impressio- Friedlander, que morava em da ecologia, não aceitando princí- de Hermano, e mencionou, como de Janeiro. “O quarto de Her- nista dele e ao concreto, pois Paris. “Hermano foi inovador pios rígidos de governos re- exemplo, a luta de José contra a era livre para explorar o que na arte da gravura em metal. trógrados. Era construção de espigões na orla era mais parecido com um quisesse, sem cabresto. Ele es- A arte dele é geométri- uma voz vigi- marítima de João Pessoa. manosantuário. ficava Lá eu reservado, vi um quadro que tava introjetado de sapiência”, ca e abstrata e, que pintou, retratando uma disse Flávio Tavares. além de tudo, manga rosa cortada e com a Chico Pereira lembrou ele inovou ao faca do lado, que me chamou que conheceu o artista nos cortar a chapa Imagens: Marcos Russo a atenção pelas cores. O meu anos 1960, no Rio. “Nos reen- de metal, fazen- primeiro museu foi olhar a contramos na Paraíba, quan- do um dente para arte desse mestre”. do ele se aposentou e passou deixar uma área branca no papel”, Fases de um artista João Pessoa, instalando-se no explicou. “A fase da “Com suas fases de pintu- aBessa, residir numa definitivamente casa que agora em é gravura é a melhor ra, Hermano José favoreceu a um espaço cultural da UFPB, dele, porque conse- muitos artistas. Ele vivenciou vontade testamental dele, que guiu projeção nacio- vários momentos da arte bra- garante a preservação da sua nal e internacional e sileira e universal e, no Rio de memória”, disse. passou a ganhar prê- Janeiro, foi aluno de Ivan Ser- Nas palavras de Perei- mios em países como Falésia do Cabo Branco pa no Museu de Arte Moderna ra, ele era um artista versátil. a Itália e o Chile. A grande representada na gravura dos anos 1960 aos 70, como “Hermano teve uma formação produção dele é a pintura, em metal e na tela (acima); também de Gilvan Samico e ainda calcada no século an- mas é preciso saber que ele a última fase do artista, o terior, mas soube muito bem também se destacou na gra- Ana Letícia Quadros. Ele come- abstracionismo (ao lado) çou no Centro de Arte da Paraí- transitar pela contempora- vura”, disse Chaves. Cultura Edição: Audaci Junior Editoração: Luciano Honorato 10 AUNIÃO João Pessoa, Paraíba - DOMINGO, 19 de julho de 2020

Estevam Dedalus Artigo Sociólogo | colaborador Kubitschek Ciência e misticismo Pinheiro [email protected] Ariano Suassuna reclamava da má sorte de sempre O desenvolvimento humano foi lento (na perspecti- va individual, é claro) e bastante prodigioso. Desenvol- querendo interferir nas suas ideias. Numa dessas inves- vemos ferramentas, agricultura, domesticamos animais, Foto: Divulgação tidas,aparecer um emamigo sua do casa dramaturgo pessoas tentando tentou fazer convertê-lo com que ou ele controlamos o fogo, inventamos a roda, a escrita, os mudasse os nomes dos personagens João Grilo e Chicó outros idiomas. De quebra, sugeriu que mudasse a am- essamitos, perspectiva, as religiões, tais a matemática, façanhas parecem as artes, ter as ocorrido ciências, em os bientaçãopor achá-los da regionaispeça, deixando demais, de difíceis lado o Sertãode traduzir e os can para- umalfabetos curto espaçoe uma infinidade de tempo. de coisas. Quando vemos por gaceiros e todo aquele universo simbólico já que, no seu Os avanços tecnológicos dos últimos 200 anos modo de ver, as pessoas estariam de saco cheio daquelas precisam ser compreendidos com base em processos histórias. Podemos imaginar o tamanho da perda para a históricos que abarcam mudanças radicais na forma literatura e a cultura nordestina se o escritor paraibano como organizamos a sociedade, como o surgimento do tivesse embarcado nessa. capitalismo e de uma nova racionalidade, o industrialis- Com raríssimas exceções recebo a visita desses mo, as grandes rupturas com as formas de pensamento

- Renascimento e o Iluminismo, especialmente este últi- recem“empreendedores nas redes sociais. de ideias” Durante em minha esses diascasa, um mas amigo o tradicional e o estabelecimento do método científico. O Tom Jobim (1927-1994), compositor de canções como ‘Lígia’ tentoumesmo me não convencer, posso dizer numa da frequência conversa de com WhatsApp, que eles apaque todo salto tecnológico que conseguimos nos últimos mo, Outrofoi mais problema importante de uma para argumentação livrar-nos das que “trevas” atribui de 100 anos se deve aos Senhores do Universo, que envia- osqualquer avanços “espírito tecnológicos evoluído.” da modernidade à intervenção ram seres evoluídos para a Terra e nos livraram de um de espíritos evoluídos é reduzir a importância dos seres Hoje é hoje mundo de trevas. - O principal argumento dele é que não faz o menor gância ou vaidade humana, mas de retirar-lhe todo mé- Uma Lígia na minha vida. A Lígia de Jobim, sentindo que apenas nos últimos 100 anos a humani- rito.humanos. Já ouvi Não muitas se trata histórias de dar sobre um “chega extraterrestres pra lá” na seremarro que preencheu naquele dia, mas aquele dia não dade tenha alcançado um estágio de desenvolvimento os responsáveis pela construção das pirâmides do Egito, existe mais, dia em que devoramos em sussur- tecnológico tão avançado, considerando que os seres ideia imortalizada por Erich von Daniken no livro Eram os ros lentos orgasmos gritantes, coisas que já pas- humanos vivem no planeta há 8 mil anos (existem regis- Deuses Astronautas?. O autor seria posteriormente des- saram. Sequer em aparentes ondulações que se tros de homo sapiens que remontam há 300 mil anos). mascarado por suas fraudes pseudoarqueológicas. permitiram apreender-me. Nada me prende. Eu Trata-se de um raciocínio historicamente equivocado. Nesses casos, prefiro sempre usar a Navalha de aprendo todo dia, apesar das tabuadas. Ocam e o princípio Pluralitas non est ponenda sine Não me sujeito ao âmago de histórias apri- e não fôssemos acumulando conhecimentos, desenvol- , isto é, “a pluralidade não deve ser colo- neccesitate sionadas nas subtilezas alheias. Nas cobranças vendoÉ como culturas, se já nascêssemos criando técnicas, intelectualmente diferentes acabadossistemas sociais e de ideias. Foram milhões de anos até nossos meio de variáveis mais simples, não há necessidade de de pessoas e de alguns amigos. Amigo não pode ancestrais desenvolverem a capacidade de ordenar apelarcada sem para necessidade”. respostas mirabolantes. Se podemos explicarSe historiadores algo por e cobrar do outro. Jamais. Não tente me levar para mentalmente eventos, atribuindo-os uma lógica. Sem tal arqueólogos são capazes de explicar a construção das o passado, que eu não vou. Nem a música conse- pirâmides pelos próprios egípcios, não há motivos para gue isso, sequer o cinema. de faculdades como imaginação, abstração, previsão e apelar para a teoria dos astronautas antigos, a não ser A semana passada, Vanderlita Neves, me man- simbolização.capacidade, afirmam A partir os daí biólogos, foi possível estaríamos criar a linguagem,privados pelo desejo de dar um tom de mistério e misticismo a dou um vídeo com imagens da cidade (Jatobá), em talvez a nossa maior invenção. grandes feitos humanos. que nascemos, feitas por um drone, mas aquele - diu à orientação de outra beleza, não existe mais. Klebber Maux Dias fimHá anos de tarde não vouintenso, ao lugar imenso, em queno desvio nasci. que presi Estética e Existência [email protected] | colaborador Há dias longos que são só tardes de julho.

estou livre de muita coisa: do som do WhatsApp, do Quandolatido do vejo cão, o de dia ter se quedissolver fazer nacara luz bonita, do crepúsculo, quando A inclusão do outro não tenho o que falar ou não querer nada dizer. Se-

Foto: Divulgação A cada dia convivemos com medo do retroativo entre si. No primeiro nível, elas Poxa, tá na cara. Tudo acontece na vida. outro, porque quem está próximo é uma dirigem a ação social de forma imediata, querDias de ouvir assim alguém transportam perguntar: uma “Está melancolia, chateado?” são ameaça à vida. Diante dessa tensão, os ci- na medida em que comprometem a von- íntimos da dor e nos observam da cabeça aos pés. - tade dos atores e orientam-na de modo Eu às vezes não sinto nada. Sinto muito. Sequer a ça e na exclusão. O risco de excluir o outro determinado. No segundo nível, elas regu- alegria de tantas vezes ser seguida pela penumbra édadãos também estão se excluiraprisionados de um navalor desconfian humano. lam os posicionamentos críticos em caso que revela o anoitecer. Tá vendo, hoje é hoje. A exclusão social é uma renúncia em Trago no meu rosto as mesmas linhas que ambientes da organização da sociedade como os membros da comunidade devem - que afeta um problema social gerado por de conflito. Uma moral não diz apenas - vaquinho. Às vezes, peço que não me levem a uma péssima infraestrutura econômica, ca motivos para dirimir consensualmente formam as residências da canção de Nelson Ca política, e de saúde pública, geralmente se comportar; ela, simultaneamente, colo aquela árvore do poema de Augusto! “Meu pai, são impulsionados pelos preconceitos. O tese de Habermas surgiu no seu livro Teo- mal, mas o “mau” se corta pela raiz. Eu sou como outro excluído gera o isolamento social e riaos respectivos da Ação Comunicativa conflitos de (1981), ação (...)”. na Essaqual tudo existe o mesmo brilho? Deus pôs almas nos sempre está impedido de exerce os seus ele diz: “De modo que eles constituíssem por que sua ira não se acalma?! Não vê que em direitos e deveres, os sintomas vitais são: uma perspectiva para condições de vida Guardarei comigo contos de todos os cantos, - que rompessem a falsa alternativa entre oscedros... meus diasno junquilho...” santos e cruéis, dias sem sentido de permitir que a noite seja mais calma que a ma- as péssimas condições financeiras; a am continuidade em relação a Inclusão do nhã, com ou sem a presença de Lígia. putação da cultura; a falta da identidade Psicólogo e linguísta canadense Steven Pinker Outro‘comunidade’ e ‘sociedade’ (...)”. Dando social; a negação da capacitação e escolha- moral, ele analisa que as regras morais horas, onde poderei estar na linha do sol posto, profissional; o não acesso ao mercado de possibilidade de tomar essas decisões ou, devem, diante demonstrar do ‘’conteúdo “um universalismo racional” da no solQuantas de arrebol rosas da no canção Rosa dea dar Djavan forma ou aseguir tantas a trabalho; o impedimento para a reali diretamente, matando-as. dotado de uma marcada sensibilidade lembrança da pureza de Zé Lins. zação do projeto de vida; dentre outros. Steven Pinker demonstra que a Li um texto belo do jornalista Rubens Nóbre- Temos como exemplos: idosos; pobres; natureza humana pode ser um problema Habermas apresenta a possibilidade - desigualdadetoxicodependentes; social existedesempregados; um insuportá - de ordem genética. E que o nosso agir é depara inclusão as diferenças”. de uma forma de universalis- naram e ali eu vi a palavra mais bonita: agradecer. velportadores sofrimento de deficiência.que conduz Diante a própria de todades- determinado por aspectos biológicos, e mo que seja sensível às diferenças. É de por existir diferenças genéticas da per- um universalismo para todos, onde ele gaHavermos em que deele ter pede dias bênção feitos ade muitos esperanças, que lhe eu ensi sin- potencializa várias formas de humilhação. sonalidade, existem também comporta- postula: “essa comunidade moral se cons- to. Toda semana falo com escritora Angela Bezer- Deve-setruição e priorizar isso é uma o afeto ameaça na éticaà existência e na e mentos violentos determinados por essas titui inicialmente pela ideia negativa da ra, sem o mais absoluto sigilo, uma série de coisas, política para excluir a dor social, e agir características biológicas, independente abolição da discriminação e do sofrimen- dias circunspectos, vestidos de nossas possibili- com respeito para com a beleza moral, a - to, assim como da inclusão dos marginali- dades. Às vezes, chegamos a luz velada dos can- zados – e de cada marginalizado em par- na estética existencial. ade compreensão outras estruturas, dessa sejam: diferença sociais; genética reli - fim deO incluirpsicólogo a dignidade e linguista de canadense todo cidadão nosgiosas; ajudaria emocionais, a melhorar dentre a socialização outras. E que da deeiros da “Serra da Confusão”, onde ela foi criada. Steven Arthur Pinker (1954), no seu livro espécie humana. Uma das teses de Pinker conceitoticular –, deem universalismo uma relação de por deferência fundamen - Sãoqual presumíveis será então onossos meu desejo,sentimentos, ouvir somosLígia nova figu- Tábula Rasa: a negação contemporânea é de que crescer no ambiente familiar não tarmútua uma (...)”. comunidade Habermas construtiva revoluciona e nãoesse rantesmente, depensar um filme exatamente que não aoestá contrário em cartaz. ou igualAfinal, a da natureza humana (2004), analisa - por ser uma comunidade ou “um coletivo lidade do indivíduo, e que nem tudo está que obriga seus membros uniformizados cinema, não gosto de samba, não gosto de chuva, determina a inteligência e nem a persona Jobim,nem gosto que eude nunca sol, mas sonhei que comme incitavocê, nuncaà diferença, fui ao expõema “desconfiança as perseguições, moderna” guerras, como uma geno - da variação da personalidade, da inteli- jamais a indiferença (?). Eu sempre estou partindo cídiosdas faces e a doexploração “medo da do desigualdade” homem pelo hoe - nos genes; afirma também que a metade à afirmação da índole própria de cada - em formatos diferentes, ignorando a presença dos algo no ambiente: o acaso! um”. A beleza dessa tese de Habermas é que sempre estiveram ausentes. - gência e do comportamento provém de um universalismoNa extensão destaque signifique coluna, sinta-se“abertu Puxa vida! Eu esperava nunca mais amar! conceitomem. Pinker (...). Oafirma: segundo o medo, é o darwinismo (...) poderia Jürgen Habermas (1929), no seu livro raconvidado diante de para todos a eaudição para todos”. do 276 Do- social:conduzir se aas três diferenças males. O entre primeiro os grupos é o pre da InclusãoO filósofo do Outroe sociólogo (2004), alemão apresenta mingo Sinfônico, deste dia 19, das 22h Kapetadas às 0h. Busque no Google radiotabajara. 1 - Gente, estou pensando como se fala com condições inatas, essas diferenças não pb.gov.br ou sintonize FM 105.5. Irei podemnas condições ser atribuídas de vida à(...) discriminação provêm de suas (...). nívelum “conteúdo de respeito racional” por parte da demoral, todos que e, poré - 2 - Não é nada fácil procrastinar. A cada dia O terceiro é a eugenia: se as pessoas dife- justificado pela existência de um mesmo ward William Elgar (1857-1934). Elgar aster pessoas que inventar pessoalmente. uma desculpa Não lembro nova para mais; enga - rem biologicamente de modos que outras em formas de responsabilidade solidária demonstrouapresentar o otimismocompositor como inglês estilo Ed pessoas valorizam ou menosprezam, isso entreconsequência, os seres humanos.em suas manifestações Habermas nos de vida, e a partir da espiritualidade 3 - Som na caixa: “A estrela mais linda, hein? as levaria a tentar melhorar a sociedade diz: “Regras morais operam fazendo re- construiu a unidade na diversidade interferindo biologicamente – encora- humana. Também priorizou seu amor nar a mente exige esforço danado; jando ou desencorajando as decisões das coordenar as ações comprova-se em dois pela família e ajudou seus amigos ao níveisferências de interação,a si mesmas. acoplados Sua capacidade de modo de longo de toda vida. Tá no Gantois”, de Caymmi. Colunista colaborador pessoas sobre ter filhos, tirando-lhes a Cultura Edição: Audaci Junior Editoração: Luciano Honorato João Pessoa, Paraíba - DOMINGO, 19 de julho de 2020 AUNIÃO 11

Alex Santos Cinema Cineasta e professor da UFPB | colaborador Letra Atriz Adèle Haenel em cena de ‘A Revolução em Paris’ (2017), filme Lúdica

dirigido por Pierre Schoeller e que Foto: Divulgação está no Festival Varilux em Casa Hildeberto Barbosa Filho [email protected] Naldinho

Naldinho só bebe em pé, encostado no balcão

vagabundo,da BBS, isto é,que Banca Naldinho Boa sorte. não éTodo da grana. dia a mesma Gente garrafa de vinho tinto, parece que suave. Vinho - gasimples, iluminada”. como outros que fazem pouso naquilo que,Tenho um dia uma e meio simpatia alcoolizado, toda especial chamei por de “pocilNaldi- - nho é marinheiro, e, aqui e ali, embarca por dias nho. Às vezes, ele some, desaparece, pois Naldi mandar notícias. e meses, sem dar explicações, sem deixar nem - nho Naldinhoe um cuidado é a gentileza que me comovem. em pessoa. Não Quando sei se estátem ‘A Revolução em Paris’: mulher.por aqui, Nunca fica com lhe perguntei.a mãe, a quem Nós, dedicahomens um que cari be-

lutas pela democracia menosbemos acomo vida ofício,dita particular. queremos Cada a companhia um com sua um his do- tória,outro, cada mas umnãos com nos seu interessa cofre de a vidasegredos, do outro. temores, Pelo Um dos acontecimentos mais em- - culpas, remorsos, mágoas e dissabores. blemáticos a marcar as lutas político- nais fechados. Ainda não muito visto no - - sociais na Europa, incitando ânimos e dependência, fazendo-me buscar os ca mum na obra cinematográfica. Mas, ao ma de tudo. Assim ele me disse. Que seu amor é a ordem pública daqueles tempos, terá de Cinema Francês em Casa, ênfase à participação feminina nos con- A Revolução final, deduz-se por um heroismo cole Sei que Naldinho tem uma filha que ama aci sido a Revolução Francesa de 1789, pro- mercado,em Paris a não ser pelo Festival Varilux tivo:frontos, o populaço.revelando Sobretudo, a “Marianne” dando-se como maior e mais profundo que os abismos dos mares vocando a Queda da Bastilha, em 14 de faço aos interessados pela História Uni- por onde andou e por onde anda, distante da terra, julho daquele mesmo ano. “Liberdade, versal, e que é uma assisti dessas prevendo indicações a data que de Mesmo que tenhamos, no percurso de Igualdade, Fraternidade” foi o lema que - personificação da República Francesa.- Naldinho fala pouco, mas sabe de muitas ilustrou a bandeira das mais sangrentas mendaria ao amigo José Octávio de Ar- tantes como a do advogado e político distante dos amigos e distante da BBS. páginas da História dos povos europeus, terça-feiraruda Mello, passada. na sua busca Razão incansável por que reco por todofrancês filme, Robespierre, a presença umde figurasdos persona impor- aparelhos eletrônicos, com os riscos e ciscos, os - fatos novos da história e pelo seu apego gens símbolos da revolução, atuante no coisas. Possui uma habilidade prática com esses cia no mundo todo. ao bom cinema. - surpreende, e até já me alertou, com a sabedoria A hostilidade se estenderia por 10 (2017) dirigi- sembleia Nacional Constituinte, vindo influenciando revoluções pela democra A Revolução em Paris deengodos um tibetano e malefícios, disciplinado, das redes paras sociais, seus perigos que me e - Parlamento Francês e membro da As- francês, na luta entre jacobinos ou giron- nel (Françoise), Gaspard Ulliel (Basile), nou sendo guilhotinado. anos, sacrificando na guilhotina o povo do por Pierre Schoeller, com Adèle Hae a sofrerA queda inúmeras da Monarquia, pressões e quena França, termi elétrica, joia rara, carro importado, ventilador de - - desastres. Sabe quem conserta computador, cerca dinos,a cabeça estes, até cuja de reis.sede Como ficava foino oPalais caso des do Laurentme que Lafittereconstitui (Louis uma XVI), época Louis agitada Garrel se regime para a República aqui também frete e todas estas utilidades que movimentam os Tuileries, centro de Paris, fazendo rolar (Robespierre) e grande elenco, é um fil nosno Brasil.leva a refletirMais ainda, sobre quandoa passagem se sabedes nervosteto, ar dacondicionado, rotina. máquina de lavar, quem faz em praça pública. Fato ocorrido pelo des- narrativa que demonstra preocupação - Outro dia me falou do mar e do silêncio dos entãocontentamento monarca deLuiz uma XVI, massa que enfurecida,é degolado de Paris, na França do século 18. Uma composta de camponeses, políticos radi- nós meros espectadores uma curiosa ter existido um brasileiro como teste águas, das noites abundantes e da sinfonia das cais, até de intelectuais contra os privilé- real com a história, mas deixando para munha ocular dos fatos, em Paris. Seu ondas,navios. cortando Das manhãs o esquecimento azuis e do sol dos dourando náufragos, as gios da monarquia considerados feudais, de tamanha saga? Isso, se considerar- nome,Direito. José Mesmo Bonifácio cético de às Andrade idéias de e Silva,uma - inclusive os da Igreja Católica. indagação:mos que o Ondecinema está, sempre no filme, teve o comoherói que fora de Portugal à Paris para estudar Ainda in clausura pelo covid-19, so- destaque os seus “heróis”. Bonifácio presenciou a agitação de jaco- - mente o modo streaming nos tem propi- - revolução,binos nas ruas conforme parisienses. sua rica – Mais biografia, “coi- brea epopeia estas coisas, dos peixes Naldinho e o eco espicha encantado o olhar dos para bú o - sas de cinema”, acesse nosso blog: www. zios que se dispersam na praia. Ao discorrer so manas atrás, aqui na coluna, falei dessa mostrarSimbólica, aquele a“super-homem” performance históritão co- no carretel de seus devaneios e nos fios elásticos ciado algumas opções de qualidade. Se ca no filme, mas sem preocupação em demundo, sua fantasia. que parece se alargar, flexível e sem fim, alexsantos.com.br. - lindo o aço da lembrança com os tremores da sau- Quando está longe dos seus, Naldinho fica po (há sempre outras mulheres no coração dos ma- O cinema na Revolução de 30 rinheiros!)dade. A mãe, tecem a filha a e,malha quem improvável sabe, outras dos mulheres amores aquáticos, intensos e fugidios, que navegam pela A Academia Paraibana de Cinema (APC) se congratula com o professor e historiador José Octávio de Arruda Mello, memória das criaturas. membro da Academia Paraibana de Letras (APL), também com o professor Francelino Soares, pelo trabalho de revisão histórica que ambos vêm realizando sobre a Revolução de 30 na Paraíba. Segundo o professor Zé Octávio, trata-se de - uma publicação em livro a ser lançada ainda este ano. No bojo dessa nova versão histórica sobre 30 está o cinema, com to simplesNaldinho de nãoser. comoBondoso, é eu. generoso, Não faz versos, prestativo, mas a colaboração de um dos membros da APC. expressa a poesia que bebe da vida no seu jei consigo e com seus fantasmas que o chamam para amigo, e sempre em pé no balcão da BBS, a falar ‘Diálogos Culturais’ Como será Naldinho nos portos de Guiné-Bis- a insólita viagem das geografias desconhecidas.

sau, Amsterdã, Cairo e Moscou? Será que Naldinho Começa amanhã série de reuniões já bebeu seu vinho vagabundo às margens do Sena,- do Volga, do Reno, do Solimões? - Não sei. Sei que Naldinho bebe o dia a dia neu virtuais sobre a Lei Aldir Blanc na PB tro e limpo com seus pares anônimos na BBS, pon- to de encontro localizado na esquina do mundo Cairé Andrade serão transmitidos pelos canais A semana foi de inquieta- apenase que faz um vizinhança homem. Um com homem a inutilidade como outro e o deses qual- [email protected] da instituição no Facebook e You- ção para o secretário, que esteve quer,pero. queSim, ganhaporque, o pãonão comtenho o dúvidas,suor de seuNaldinho rosto eé tube. Os encontros on-line vão aguardando a regulamentação da está cercado de solidão por todos os lados. Com investimentos que so- acontecer diariamente, sempre no lei para que possa dar seguimento mam um montante de R$ 68 mi- - aos esclarecimentos para os diri- Foto: Divulgação - ta-feira (dia 24). gentes municipais e para a popu- ciada com a Lei nº 14.017/2020, mesmo horário, até a próxima sex- lação. “A regulamentação é algo conhecidalhões, a Paraíba também vai como ser “Lei benefi Al- decisivo e é o que vai definir o que dir Blanc”. Desta verba, R$ 36 mi- O Secretário de Estado da Cul deverá ser dialogado e esclareci- tura da Paraíba, Damião Ramos- do”, conclui o gestor. dastramentoCavalcanti, pretende dos artistas organizar atuantes e paralhões osserão municípios destinados como ao Governo medida nasistematizar região. “Essa para lei preparação vem em um do mo ca- emergencialdo Estado e outrospara profissionais R$ 32 milhões da mento bastante necessário por ser cultura independentes. Ao total, a considerado um volume de recur- sos jamais vindo para a área de cul- setor cultural nacional. tura e que estava sendo esperada há lei vai destinar R$ 3 bilhões para o anos. Teremos, na primeira etapa, implementação desta lei no Esta- diálogos com secretários de cultura Para esclarecimentos sobre a- dos municípios e, logo em seguida, com a liberação da regulamentação, do, a Secretaria de Estado da Cul vamos estabelecer os contatos com turacom (Secult-PB)os dirigentes inicia municipais amanhã, res às- artistas de todas as áreas, inclusive Através do QR Code acima, acesse a 9h,ponsáveis uma série pelo de setor reuniões cultural, virtuais que página da Secult-PB no Facebook Colunista colaborador

para instituições culturais”. Esportes Edição: Geraldo Varella Editoração: Luciano Honorato 12 AUNIÃO João Pessoa, Paraíba - DOMINGO, 19 de julho de 2020

Fotos: Arquivo Pessoal

Componentes da equipe do projeto de extensão da Universidade Federal da Paraíba com o professor Edônio Alves (ao centro) durante a transmissão de jogo do Botafogo pelo Campeonato Brasileiro da Série C de 2015, realizado no Almeidão 10 anos de Jornalismo debates e evolução Esportivo na UFPB

Iago Sarinho de “Jornalismo Especializado disciplina foi criada em 2010 a danças tecnológicas da última disciplina, é o projeto “Críticas listas esportivos. Além de um [email protected] em Esportes”. A “cadeira” tem partir de uma demanda de es- década, estas, responsáveis de Esportes no Jornalismo Es- diálogo sobre as perceptivas - tudantes, mas principalmente por um novo modo de se pro- portivo” que já foi responsável de um dos mercados que mais As manhãs de quintas-fei- cações importantes na rotina diante da ampliação do campo duzir conteúdo jornalístico, por experiências importantes crescem no mundo, o do entre- ras no Centro de Comunicação, jornalísticasido responsável focada por nas modifi infor- de atuação para o jornalismo especialmente no campo dos como a transmissão do Cam- tenimento através dos espor- Turismo e Artes (CCTA) da mações referentes ao esporte esportivo na Paraíba, no Brasil esportes. peonato Brasileiro da Série C tes, especialmente o futebol e Universidade Federal da Para- paraibano ao longo desse perí- e no mundo. Desde esse pe- Além da disciplina, nesse na Paraíba. Sobre o aniversá- quais os caminhos existentes, íba (UFPB) há 10 anos ganha- odo, transformando-se em um período, a produção acadêmi- rio desse marco para o Jorna- nesse sentido, para o jornalis- fator que culminou em avan- foram lançados ao mercado, ca focada no Jornalismo Espor- lismo na Paraíba, o Jornal A mo esportivo paraibano. Mes- o desenvolvimento da cober- muitosríodo, deles, diversos hoje profissionais ocupam po- tivo também obteve ganhos União entrevistou o professor mo com a pandemia, as aulas turaram umesportiva espaço noespecífico Estado. para Em de conteúdo voltado ao fenô- sições de destaque dentro de quantitativos e qualitativos Edônio Alves em um bate-pa- seguem acontecendo por meio 2020, o curso de Graduação menoços significativos esportivo. na produção um processo natural de reno- com uma série de estudantes remoto e até lives têm acon- em Jornalismo da instituição Idealizada pelo Professor vação da crônica esportiva no desenvolvendo trabalhos vol- os caminhos para a cobertura tecido com a participação de comemora uma década da do Departamento de Jorna- estado, transição que também tados para a temática. Além esportivapo que trouxe no Estado reflexões e o sobrenovo personalidades do meio espor- criação da disciplina optativa lismo (Dejor), Edônio Alves, a está diretamente ligada às mu- disso, uma das extensões da - tivo paraibano.

A entrevista perfil profissional dos jorna

no Brasil e no mundo, cada vez mais, está aspectos da vida. Essa visão abre um campo em vários meios ao mesmo tempo dentro crescendo. Com o negócio do esporte se ex- amplo de abordagem, por exemplo, das rela- desse conceito que chamamos de produção pandindo em grande escala, surge um mer- ções do esporte com a política, a economia, de conteúdo. Evidentemente que, nesse perí- cado amplo para se trabalhar. O esporte é um com as desigualdades sociais, ou seja, eu ava- odo de 10 anos, a disciplina foi sendo adap- dos segmentos que mais está evoluindo entre lio que a prática do jornalismo esportivo na os conteúdos de entretenimento e lazer, as- Paraíba tem melhorado bastante e entendo que seguem acontecendo no jornalismo, seja sim como dentro da cadeia econômica rela- que a disciplina na graduação da UFPB tem dotada ponto dentro de vistadesse da contexto prática ou de da modificações perspectiva cionada aos meios de comunicação de massa contribuído muito para essa mudança posi- teórica. Assim, a disciplina tenta acompanhar que está vinculada à lógica do capitalismo tiva e que isso deve se tornar uma tendência essas mudanças e dar uma formação míni- Edônio Alves, professor do Departamento de Jornalismo global. Na Paraíba, o esporte, especialmente daqui para frente em todos os meios e mídias. ma, já que temos uma carga horária pequena, o futebol, já possui um certo grau de matu- pois trata-se ainda de uma disciplina optati- Como surgiu a proposta para a cria- ridade enquanto negócio e, diante disso, é Nesse período, houve uma série de va, mas que traz um conteúdo que vislumbra ção da disciplina? Havia uma demanda importante o curso de jornalismo começar a modificações na maneira de se produzir a discussão para a criação de conteúdos em por parte dos estudantes ou era uma ca- preparar os alunos para trabalhar nessa área, jornalismo. Como a disciplina foi moldada várias mídias e a abordagem multiplatafor- rência da própria grade curricular da gra- assim como devemos ter em áreas como a tendo em vista essas alterações? O jorna- ma. Diante disso, hoje ela se enquadra dentro duação em Jornalismo da UFPB? política e a cultura. Nesse cenário, o curso de lismo esportivo conseguiu acompanhar - A criação da disciplina de Jornalismo jornalismo não ter uma disciplina que trate essas mudanças na Paraíba? lismo. É óbvio que ela sozinha não dá conta Esportivo teve a ver com duas questões. A de uma área em pleno desenvolvimento seria Quando criamos a disciplina, estávamos dedas todas exigências as necessidades desse novo do perfil jornalismo de jorna es- primeira era uma demanda de alunos que, contraproducente, pois a universidade pre- ainda no começo do que hoje é o jornalismo portivo, mas sem dúvida alguma é um ponta naquela época, já achavam que deveria ha- cisa proporcionar respostas às necessidades multiplataforma, onde há o cruzamento de pé inicial para quem deseja trabalhar nesse ver algo na grade curricular que tratasse de da sociedade. mídias e a possibilidade do jornalista atuar mercado em expansão. jornalismo esportivo dentro do âmbito dos jornalismos especializados. Observando isso Nesses 10 anos, a partir da criação da e em conversas com alunos surgiu essa ideia. disciplina, o que mudou no jornalismo es- O segundo fator foi a conclusão do meu dou- portivo da Paraíba? torado, onde estudei a presença do futebol Como trata-se de uma experiência de na literatura brasileira. Quando retornei do 10 anos, onde já formamos um contingente doutorado para a sala de aula e munido dos de alunos que estão trabalhando no merca- disciplina, achei por bem propor na grade isso vai redundar em impactos no mercado curricularconhecimentos do curso suficientes a possibilidade para montar de criaressa dedo trabalho profissional em esporte. de jornalismo, Eu percebo é óbvio que, quepor um conteúdo especializado na área de espor- conta dessa especialização, os alunos levam tes. Passados dez anos, acredito que avan- da disciplina para o mercado, hoje nós temos çamos muito, inclusive com uma migração uma prática em jornalismo esportivo muito importante dessa produção para o Mestra- melhor do que o que tínhamos anteriormen- te. Isso você percebe pela forma na aborda- para tornar a cadeira um conteúdo obrigató- gem do esporte, pelas pautas que surgem, Um bom contigente de alunos está riodo Profissionaldentro do currículo de Jornalismo. da graduação. Agora a luta é textos melhores, uma maior pesquisa e apro- sendo preparado na UFPB para o fundamento sobre o esporte e suas ligações mercado do jornalismo esportivo que com o mundo social. Essas questões são nor- Qual a importância de haver uma es- já tem vários formandos em atuação pecialização no jornalismo esportivo já teadas por um entendimento de que o espor- desde a graduação? te não se trata apenas de um jogo, mas sim de O jornalismo esportivo é uma área que um fenômeno que está imbricado com outros Pandemia Pesquisadores da UFCG desenvolveram sistema que detecta a probabilidade do aumento de contágio do novo coronavírus Página 16 Edição: Nara Valusca Editoração: Ulisses Demétrio

João Pessoa, Paraíba - DOMINGO, 19 de julho de 2020 AUNIÃO 13 Foto: Fotos Públicass

Mangues são berçário e abrigo natural da vida Ecossistema é área de reprodução de várias espécies, servindo ainda como estabilizador climático do planeta

Alexsandra Tavares getação desse ambiente úmido, exemplo, o lixo trazido de longe [email protected] típico do encontro entre o rio e pelo rio Cuiá tem efeito imedia- o mar. Na comunidade, a pro- to no mangue”, relata. Fiscalização e conscientização Desde que nasceu, há 53 fessora tornou-se presidente da A oferta de peixes e ou- anos, a professora Tereza Cris- Associação de Sustentabilidade tros alimentos retirados da Segundo o diretor da Diep, a para a população. A coordenadora tina Araújo de Oliveira esteve dos Pescadores, Ambientalistas água também não é a mesma equipe de Fiscalização Ambiental de Estudos Ambientais da Supe- em contato com o mangue, e Moradores da Praia de Jacara- se comparada ao passado. Na da Semam realiza um trabalho de rintendência de Administração do ecossistema costeiro per- pé , a Aspanja. O objetivo é esti- Apa, a orientação é para que monitoramento dos mangues na Meio Ambiente (Sudema), Maria tencente ao bioma da Mata mular a consciência e a educa- não ocorra a pesca no mangue- capital. Periodicamente, são feitas Christina Vasconcelos, diz que a Atlântica que tem, inclusive, ção ambiental dos moradores e zal. “Mas, percebemos na fala ações como vistorias nas áreas captura de animais para comer- uma data no calendário mun- visitantes, já que a comunidade dos meus pais, dos antigos pes- protegidas, inclusive com uso de cialização e consumo permitiu, ao dial alertando sobre a impor- está ligada a uma Área de Pro- cadores, que o mangue muda. drone, e atendimento às denún- longo dos anos, a sobrevivência de tância de sua preservação. Em Antes, tinha muito goiamum, inúmeras comunidades tradicio- 26 de julho é celebrado o Dia muito peixe que hoje não tem, cias realizadas pela população. Internacional para Conserva- Desmatamento, o aratu. Então, havia esses ani- Os contatos para denunciar são: nais na zona costeira. “Isso possi- ção do Manguezal. Fonte de mais em abundância e, agora, é 0800 281-9208 e o emergência. bilitou a manutenção da tradição alimento, essas formações ocupação irregular e diferente devido à degradação, [email protected]. A Diep ain- e cultura características dessas deposição de resíduos à poluição”, declarou. da faz o diagnóstico das nascentes regiões”, explica. natural para águas (despolui- A poluição é uma das for- e corpos hídricos. ção),florestais sendo atuam consideradas como filtro por sólidos são as maiores mas de degradar os mangues. “A secretaria também atua di- Saiba mais especialistas como o berçário causas da degradação De acordo com o engenheiro retamente com educação ambien- O engenheiro florestal Yuri de muitas espécies. tal da população, principalmente, Rommel Vieira Araújo, diretor da É nesse ambiente que Te- dos manguezais Araújo, diretor de Estudo e nas escolas municipais, onde te- Diep, afirmou que João Pessoa reza Cristina vive desde crian- Pesquisasflorestal Yuri Ambientais Rommel daVieira Se- mos um programa chamado Escola apresenta 1.060,25 hectares de cretaria do Meio Ambiente de ça. Ela foi criada na cidade de Semente”, completou Yuri. manguezais, distribuídos em oito Bayeux, nas proximidades de teção Ambiental (Apa). João Pessoa (Semam), entre os áreas, onde as mais representati- um mangue. “Tenho boas lem- Segundo ela, apesar de problemas encontrados nesses branças da infância. Das histó- o local ser preservado, de a ambientes estão o desmata- Valor social vas em extensão estão localizadas rias fantásticas dos pescado- comunidade respeitar o man- mento para ocupação irregular, Apesar de em algumas áreas na foz no Rio Gramame e no Rio res”, conta. O tempo passou e gue e a natureza em geral, são que inclui aterramento do local; protegidas não ser possível pescar Sanhauá, mas também podem ser hoje, aos 53 anos, ela mora há perceptíveis as mudanças no a deposição de resíduos sóli- nem catar caranguejos nos man- encontradas na foz dos demais rios mais de 10 anos numa comuni- manguezal. “Estou aqui há 11 dos, tanto doméstico quanto da gues, em alguns manguezais do existentes no município. Os dados dade tradicional, em Jacarapé, anos. Somos uma espécie de construção civil; o lançamento Estado, essas formações florestais são do Plano Municipal de Con- João Pessoa. - também são vistas como impor- servação e Recuperação da Mata Do quintal da casa de Te- mos degradação no mangue além da instalação ilegal de tantes fontes de alimento e renda Atlântica de João Pessoa. resa Cristina, já se avista a ve- porfiscal uma ambiental. questão Mas global. percebe Por moradias.de efluentes das residências;

Carlos Aranha [email protected] | colaborador “O país que pude, que me A trovoada Até o ano de 802701 deram e ao que me dei” nnn Raramente de chuva torrencial, precisei de médiuns, com relâmpagos cru- Não exatamente Será preciso ler padres, psicanalistas e zando o céu. Senti ser Wells. Dizem ser bem inferior à um cidadão a fazer “Em berço esplêndido”, ada afasta-me da pastores. a hora. Corri por entre N zadaprimeira. por Gore Acho Verbinski que a avaliação e Simon permanentemente da de Meira Penna, para O trecho que mais árvores até o meio de lembrança da tarde em crítica é muito mais para Bráulio atividade a essência compreendermos não que olhei para o céu e vi gosto na Bíblia é o que uma praça, onde pude da realidade. Não somente , aconselha ao cristão olhar para o céu que me uma nuvem formando tem esse perfil. Sindi- mas também Antônio entrar no quarto e molhava e, no momento traços de familiares Conselheiro, Glauber Tavares,O intenso cinéfilo desejo especialista do homem em calista? Nem pensar. fechar a porta para de um trovão mais forte, rostos sobrepostos. Religioso? Não gosta Rocha, , rezar. Quem tem fé, gritei: “Deus, sei que me ficçãoviajar através científica. do tempo não nasceu Oswald de Andrade, - com o livro de Wells. Já existia há de cumprir deveres assim o faz. Quem “fala” escutas e tens o poder de cediam-se numa confra- escrupulosamente. e Tiradentes? com Deus não preci- me matar com um raio, séculos. Quem acredita que a Atlân- Democrata? Sempre Entender os desafios, ternização Vivos ede mortos hologramas su tida existiu, supõe que os sobre- sa recorrer a inter- mas não o farás, porque disse que os poderes mistérios e enigmas mediários. Esse diálogo de ti não tenho medo, projetados por minha viventes do continente submerso mente. Há vivos agoni- equivalem-se em de uma terra caotica- silencio so, telepático, pois sou tua imagem e cuidaram de transmitir a idéia para mente colonizada, para zantes e mortos ressus- qualquer dos regimes. dispensa agentes, semelhança”. Que cidadão é esse? que escapemos de um atravessadores. Logo a seguir, a citados, consolidando permitido. Inclua-se o sonho de que Habitante num futuro desagradável? O um mistério que a raça O primeiro sinal chuva demonstrou anada humanidade. é proibido. Afinal, sonhar é bairro de classe cidadão que conheço da ausência de fé é a amor em me molhar, humana atual não conse- Numa inversão do que nor- média, gosta de re- - pessoa anônima -, falta de coragem em o corpo que uso sentia guirá resolver. Precisarí- malmente ocorre, o filme de Ge- sponder com outra que não é ativista, ficar só. É ter de apelar que não ficaria doente amos da concretização orge Pal é que me levou ao livro pergunta: que país é sindicalista, religioso a outra pessoa para e éramos cúmplices: eu de um mito semelhante de Wells. Nele, o personagem esse? Ressurge a voz e democrata, disse tentar chegar a Deus e os relâmpagos. A tro- à fonte da juventude: a que não tem nome - é conheci- de Renato Russo: que “ninguém escapa Pai-Mãe. Não chegará voada era uma sinfonia, máquina do tempo. do como “o viajante do tempo” - concretiza, “No Amazonas, no àquilo que não é a sua e, entre paredes de a perfeita consonância. essência”. ilusões, a realidade da Me senti senhor de ab- a partir de conceitos bem elaborados na Araguaia, na Baix- nnnnnnnnnn ada Fluminense, no Ele afirmou não queda vai superar a solutamente tudo den- Matemática, uma máquina capaz de viajar Mato Grosso, nas ter destino ditado pe- miragem da ascensão. tro de mim, apesar da pela Quarta Dimensão. Com ela, vai até o relatividade ao redor, Entusiasmo foi algo nascido em mim Gerais e no Nord- los versos de Affonso ano de 802701. este, tudo em paz. Na Romano de Sant’An- nnnnnn incluindo dois amigos, quando, adolescente, vi “A máquina do tempo”, Este texto, no entanto, não propõe-se a re- morte eu descanso, na: “Este é o país que abrigados a cerca de sumir a história elaborada por Wells. É apenas mas o sangue anda pude, que me deram O dia em que come- cem metros e perplexos de H. G. Wells, dirigida por George Pal. Lembro o resgate de uma memória pessoal relativa aos solto, manchando os e ao que me dei, e é cei a me sentir livre da pelo que achavam ser primeiraque a crítica adaptação gostou muito,cinematográfica pois li um da artigo obra de instantes em que meus olhos passearam pelo papéis, documentos possível que por ele, “certeza” dos que me loucura. Na verdade, céu. Outros olharam e viram coisas diferentes - fiéis ao descanso do imerecido, - ainda traduziam como “peca- tinha recuperado a Não conheço a segunda adaptação, reali- patrão”... morrerei”. dor” foi belo. Era noite minha inteireza. Linduarte Noronha sobre o filme. algumas, bem mais significativas. Edição: Nara Valusca Editoração: Ulisses Demétrio 14 AUNIÃO João Pessoa, Paraíba - DOMINGO, 19 de julho de 2020 Brasil possui a maior faixa de manguezal do planeta Na Paraíba, são quase cem quilômetros quadrados de mangue, em pontos de transição entre rio e mar Alexsandra Tavares ção nas áreas costeiras, a [email protected] má administração dos resí- duos sólidos, o lançamento A Superintendência de de esgotos sem tratamen- Fundamental para equilíbrio da natureza Administração do Meio Am- to nos rios são alguns dos biente (Sudema) informou problemas registrados nos A bióloga e pesquisadora Karina Massei afirma Crispim, explica que quando um mangue entra em que não há uma delimitação manguezais, citadas pela que a estimativa é de que pelo menos três quartos degradação, muitas espécies podem ter redução na exata, nem número certo de Superintendência de Admi- das espécies da biodiversidade marinha, incluindo os população ou mesmo desaparecer. Entre os impactos mangues na Paraíba. Porém, nistração do Meio Ambiente peixes marinhos de interesse comercial, dependam também está a queda de oxigênio nesse ambiente, o considerando o que diz o (Sudema). De acordo com dos manguezais para se desenvolverem. Isso é apenas que afasta a entrada de vários animais marinhos nos Atlas dos Manguezais do Maria Christina Vasconcelos, uma amostra da relevância dessas formações florestais mangues/estuário para reprodução. Brasil, publicado pelo Minis- coordenadora de Estudos para a natureza. Ela também destaca a necessidade de se manter tério do Meio Ambiente em Ambientais do órgão, essas “Ou seja, este ecossistema garante a integridade a saúde dos mangues, no sentido de corrigir os erros, ações antrópicas (causa- 2018, mangues “são áreas da faixa costeira e dos próprios oceanos, amplia a minimizando, por exemplo, a poluição. “Principalmen- que podem estar associadas das pelo homem) atuam na resiliência dos ecossistemas, das comunidades e da te a provocada por falta de tratamento adequado de a corpos de água estuarina poluição e destruição dos própria atividade econômica costeira”. A bióloga alerta esgoto, porque é de baixo custo para implantação. ou diretamente às águas cos- mangues. teiras, de frente para o mar”. - que o poder público precisa conscientizar e capacitar Isso poderia ocorrer com o incentivo à construção de Partindo deste princí- tura mostra uma redução, as comunidades quanto à exploração e implementação fossas ecológicas”, sugeriu. pio, estima-se que exista em área,Ela afirma de 10% que dos a litera man- de alternativas de geração de renda sustentáveis, bem Ao avaliar a situação dos mangues na Paraíba, o uma área de 96 quilômetros guezais na Paraíba, quando como a participação no gerenciamento e no manejo geógrafo e professor da UFPB, Pedro Costa Guedes quadrados de mangues pre- se compara a década de 90 de recursos. “Mesmo que não seja possível a explora- Vianna, afirma que é preciso uma maior atenção das sentes em áreas abrigadas aos dias atuais. A ação do ção dos recursos naturais, que estabeleçam políticas autoridades. Para ele, também é preocupante o des- do litoral tropical, no ponto homem gera prejuízos que públicas como alternativas para as comunidades que conhecimento por parte da população sobre o valor de contato entre o continen- impactam nas funções que se encontram instaladas nessas áreas”. ambiental dos manguezais. “Diagnósticos seriam bem- te e o mar, no Estado da Pa- os manguezais exercem na A bióloga, pesquisadora e professora da Uni- -vindos, mas do jeito em que estão as políticas am- raíba. Assim, é possível as- natureza. “Fragilizando o versidade Federal da Paraíba (UFPB), Maria Cristina bientais no Brasil, isso está fora de questão”, enfocou. sociar os mangues às regiões ambiente e proporcionando estuarinas (ambientes aquá- a mortandade de espécies, o Foto: Pixabay ticos de transição entre o rio - e o mar), destacando a foz nomia e na vida social de dos maiores corpos hídricos todaque reflete a população também que na mora eco que há no litoral paraibano, no entorno desses espaços”, como a do Rio Mamanguape, frisou Christina Vasconcelos. Rio Camaratuba, Rio Paraíba O coordenador de Me- e Rio Gramame, onde, con- dições Ambientais da Sude- sequentemente, são encon- ma, João Carlos de Miranda, tradas grandes extensões de destaca que os mangues que mangue. apresentam piores condi- Há também rios menos ções no Estado, devido à caudalosos que formam poluição e degradação em manguezais em seu desá- geral, estão na desembo- gue no mar, com áreas de cadura do Rio Mandacaru. mangue menores, mas, não “Ele e o Rio Jaguaribe rece- por isso, menos importantes bem muito esgoto, porque para o ecossistema, dentre cruzam muitas áreas onde os quais podem ser citados não existem saneamento. Além de permitir o equilíbrio ambiental, os mangues são ainda fonte de renda e de manutenção das tradições culturais das comunidades a foz do Rio Jaguaribe, do Rio Esses rios, quando chegam Cabelo, Rio Cuiá, Rio Gurugy, ao estuário, degradam esse Rio Garaú e Rio Jacarapé. trecho”. Além de acompanhar a Os manguezais desempenham inúmeras funções na natureza e na sociedade. Vastidão balneabilidade dos corpos Veja algumas delas citadas pela Sudema No Brasil, há presença hídricos, a Sudema realiza desse ecossistema em toda - n Proteção da linha costeira; a costa litorânea (de Norte a vidades educativas e um n Funcionamento como barreira mecânica à ação erosiva das ondas e marés; Sul), sendo o país que possui trabalhofiscalização conjunto ambiental, para ati a n Retenção de sedimentos carreados pelos rios, constituindo-se em uma área de deposição natural; a maior faixa de manguezal efetivação e gestão socioam- n Ação depuradora, funcionando como um verdadeiro filtro biológico natural da matéria orgânica e área de reten- do planeta. São aproximada- biental das Unidades de Con- ção de metais pesados; n mente 20 mil quilômetros servação. Os números para Área de concentração de nutrientes; n Área de reprodução, de abrigo e de alimentação de inúmeras espécies; quadrados de extensão. denúncia são 3218.5591 n Área de renovação da biomassa costeira; (Divisão de Fiscalização) e n Estabilizador climático; o 9 8844.2191 (Plantão Su- Ameaças n Fonte de alimentos ao homem como moluscos, crustáceos e peixes. A constante urbaniza- dema – funciona 24h).

Fábio Mozart Toca do Leão colaborador Governador do Estado vai morar em Itabaiana

Acredita não? Então leia o Diário do com o melhor Jardim Público da região, Itabaiana - Casa Dr. Antonio Batista San- teatral que fez história na terra de Vladi- Estado: “Hoje a grande cidade do inte- foi nessa época que a cidade chamou a tiago.” mir Carvalho”, disse Marcos Veloso. rior, talvez a única do Estado que apre- atenção de alguns governantes. É nessa E por aí vai o livro de Romualdo Pa- A obra tem como ponto de partida a senta o aspecto de meio civilizada, está fase áurea que o Vice Presidente passa lhano, uma obra que enleva qualquer caderneta de anotações de Irene Mari- quase toda calçada e arborizada, tem um período residindo na cidade, na Praça itabaianense. Depois ele fala da nossa nheiro Jerônimo, professora que exercia abastecimento d’água, serviço de remo- do Coreto. Oportunamente, o Presidente cultura, dos artistas de teatro e do mo- a função de secretária do grupo teatral, ção de lixo e outros próprios das cidades do Estado, Sr. Antonio Pessoa, encanta- vimento artístico, até chegar ao Grupo remetendo ao título do filme norte-ame- onde o bom gosto e a honestidade pre- do com o desenvolvimento e a beleza da Experimental de Teatro de Itabaiana, ricano “A lista de Schneider”. A atriz Pal- dominaram”. cidade, também resolve usufruir da qua- conjunto que merece longo exame, in- mira Palhano produziu sua dissertação Esse Diário é de 1916, uma quar- lidade de vida que oferecia aquele muni- cluindo espetáculos montados e episó- de mestrado tendo como sustentação ta-feira, 17 de maio. Quem colheu essa cípio. Isto fica claro no “Jornal Diário do dios vivenciados nos mais de quarenta sua experiência como atriz no Grupo Ex- pérola foi Romualdo Palhano e publicou Estado, anno II, número 381: anos de atuação dos amadores. O texto perimental de Teatro de Itabaiana. em seu livro “O Teatro na terra de Zé da ”O Presidente do Estado vai morar em ainda oferece elementos para o debate Este livro de Romualdo Palhano Luz - Da União Dramática ao GETI”, obra Itabayanna defronte de um jardim aberto sobre nossa involução. cumpre um papel importante, que é o de lançada no início de 2011. Deixo com vo- em praça arborizada e cuidada, como na Sobre este grupo teatral que fundei registrar nossa história recente de forma cês o trecho em que Romualdo fala desse capital não se faz, embora hoje o jardim em Itabaiana em 1976, estamos produ- objetiva. A construção narrativa sobre o fato marcante do tempo em que éramos esteja desfalcado de suas muitas roseiras zindo o documentário “A lista de Irene”, passado itabaianense é mais uma gran- risonhos e francos, radiosos e otimistas, e ornamentação de vistosas folhagens, com roteiro de Fábio Mozart e direção de contribuição desse itabaianense/ exultantes como moradores de uma ci- mas em todo caso é um jardim.” de Marcos Veloso. O documentário fala potiguar à cultura paraibana, que sabe dade bonita, rica e culta. O famoso Coreto de Itabaiana ainda da geração dos anos 70 na cidade de Ita- combinar as peculiaridades da pesquisa “Nesse período a cidade de Itabaia- resiste até os dias de hoje. Em Itabaia- baiana, com foco no Grupo Experimen- universitária com a reflexão e as confi- na passou a ser notícia de jornal por sua na o Conselho Municipal funcionava no tal de Teatro, reunindo depoimentos de dências de um artista que foi nosso mu- beleza, economia, seus jardins, entre ou- antigo prédio do “Paço Municipal”, ain- membros do coletivo dramático. “O filme nícipe por muitos anos e aqui deu início tros fatores. Com sua estação triangular, da hoje existente naquela cidade. Atual- quer preservar a memória cultural de à sua trajetória vitoriosa no mundo da com a indústria mais famosa do Estado e mente, funciona a Câmara Municipal de Itabaiana, através do relato desse grupo cultura e das artes. Edição: Emmanuel Noronha Editoração: Bhrunno Fernando João Pessoa, Paraíba - DOMINGO, 19 de julho de 2020 AUNIÃO 15 Aterrorizados pelo bullying, jovens desistem dos estudos Vítimas sofrem humilhações por causa da aparência ou da condição social e terminam abandonando sonhos no caminho

Fotos: Arquivo pessoal Iluska Cavalcante lhar, a falta de interesse ou Os jovens que [email protected] uma gravidez. Na região Nordeste, a desistem da O bullying sofrido por necessidade de trabalhar foi Willton Nicklas quando esta- o principal motivo aponta- escolarização pela falta va na sétima série do Ensino do pelos jovens, com 34,1%; Fundamental fez com que ele logo em seguida, vem a falta de interesse perderam perdesse a vontade de ir à es- de interesse em estudar, com o gosto pela própria cola. A cor da sua pele, a sua 31,5%. Mas que motivos le- - vam o jovem a não ter inte- aprendizagem, e a ram com que o adolescente, resse em estudar? No caso de àclasse época social com eseus o seu 15 peso anos fize de Willton, o medo, a tristeza e a sociedade aborda isso idade, fosse humilhado pelos vergonha dos colegas. Apesar como algo normal colegas de turma, em uma es- de não mencionado na pes- cola particular de Cabedelo, quisa, fatores como bullying, região Metropolitana de João depressão e abuso sexual, Na opinião da psicopeda- Pessoa. Mesmo contra a von- por exemplo, também podem goga Thays Rodrigues, o am- tade de seus pais e com medo afetar o desempenho dos es- biente escolar precisa ser um de decepcioná-los, ele desis- tudantes. local de segurança para que o tiu de estudar. Willton lembra que, com aluno consiga permanecer. “O Willton, hoje com 35 as ofensas que recebia, pas- bullying se enquadra dentro anos de idade, não foi o úni- sou a mentir aos pais sobre as dos diversos tipos de violên- co a passar por isso. Dos 50 idas ao colégio. “Eu era negro, cia dentro da escola. O medo milhões de jovens no Brasil, pobre e gordo, sofria vários é quem assume o controle e entre 14 e 29 anos, aproxi- tipos de bullying, me chama- isso faz com que as crianças madamente 20,2% não com- vam de fedorento, todos es- e adolescentes sofram uma pletaram alguma das etapas sas ofensas. Daí, eu perdi o queda no desempenho esco- da Educação Básica. A gran- interesse, eu senti vergonha, lar, que leva à evasão e ou- de maioria eram pretos ou tristeza. Minha mãe me dava tras consequências de saúde pardos, cerca de 71,7%. Os o dinheiro do lanche, mas eu mental, que vão prejudicar a dados, divulgados na última pegava o dinheiro para pegar aprendizagem desses indiví- quarta-feira pelo Instituto o trem, ia para João Pessoa e duos, independentemente da - escola que frequentam”. tatística, também apontam voltar para casa”. De acordo com a psico- queBrasileiro os principais de Geografia motivos e que Es ficavaHoje, andando o “multiuso”, até a hora como de pedagoga, transformar o am- levaram os jovens a desistir - biente escolar em um espaço são a necessidade de traba- lar com o que trabalha, corre mais atrativo é essencial para Willton Nicklas desistiu da escola na sétima série do Ensino Fundamental, aos 15 anos de idade, por conta do bullying atrásele gosta do detempo se definir perdido. para Em fa transformar essa realidade. 2018, voltou a estudar atra- “Os jovens que desistem da Eu era negro, pobre vés do programa de Educação escolarização pela falta de e os sujeitos que aprendem”. casa. A gravidez também pode conseguiria se concentrar nas de Jovens e Adultos e preten- interesse perderam o gosto A desigualdade social ser vista por esse lado da de- aulas se, quando ele saiu de e gordo, sofria vários de terminar o Ensino Médio pela própria aprendizagem, e também é apontada pela sigualdade social e da falta de casa, deixou os pais com fome, no próximo ano. Seu maior a sociedade aborda isso como especialista como um dos informação e orientação que, sob efeitos de alucinógenos tipos de bullying, me objetivo é ter a carteira as- algo normal, na verdade, de- principais fatores que levam em geral, não é ofertada pelas ou mesmo com depressão, e chamavam de sinada. “Eu tive que voltar a veríamos transformar a es- à evasão escolar. “A maioria famílias ou escolas”. muitas vezes esses jovens têm estudar porque precisava de cola num espaço de apren- das pessoas que desistem de Além dos motivos mais fedorento, todos essas um emprego melhor. Apesar dizagem onde as crianças e estudar estão às margens da comuns, como drogas e gra- sob os cuidados dessas pes- da minha idade, eu nunca as- adolescentes sintam o desejo sociedade. Os jovens que, em videz, a depressão, proble- soas.irmãos Todas menores essas quesituações ficam ofensas. Daí, eu perdi o sinei uma carteira, a maioria da permanência; e isso real- geral, apontam a necessidade mas familiares e abuso sexual, levam a um ponto em que a interesse, eu senti dos meus trabalhos é com mente é algo que exige muito do trabalho convivem com fa- mesmo ainda sendo assuntos decisão precisa ser deixar a contrato e eu preciso de um esforço público. O foco da esco- mílias grandes e precisam aju- pouco falados, são uma reali- escola para se dedicar aos cui- vergonha, tristeza la precisa ser a aprendizagem dar os pais com o sustento da dade. “Um adolescente jamais dados da família”.

emprego fixo”. Realidade da Paraíba não difere do restante do Brasil

De acordo com o profes- um patamar de 1800, com como alunos mortos ou pre- da criança ou simplesmente teiro, que trabalha com alu- sor de Português da rede pú- os jesuítas, e os jovens estão sos. “A faixa etária que deve- por questão de vergonha dos nos do Ensino Infantil ao Ela comentou ainda que blica e privada e presidente bem à frente, na era tecnoló- ria estar na escola acaba se amigos. Embora essa vergo- Fundamental I, o principal asmero drogas ou fica e inexistente”.a prostituição do Conselho de Educação de gica. Essa diferença da esco- envolvendo com drogas ilíci- nha esteja sendo até ultra- motivo que faz com que as dos pais, por exemplo, são Cabedelo, João Condado, a la tradicionalista desmotiva tas, porque na comunidade passada, porque quando elas crianças não sejam alfabe- problemas familiares en- realidade da Paraíba não di- o jovem e o leva a deixar a em que eles moram é como contam na sala é como se fos- tizadas é a falta de incenti- frentados por seus alunos. fere da do restante do Brasil. escola”. um ‘status’ para eles, então, se algo positivo para elas. vo dos pais, principalmente “O problema são os pais que Além da situação econômi- Além disso, uma forte muito jovens acabam se en- em pessoas de baixa renda. geralmente não incentivam. ca, a falta de atratividade das realidade no Estado tem sido volvendo. Alguns foram mor- Analfabetismo na PB “Na escola onde sou su- - escolas contribui para esse o envolvimento dos jovens tos na hora em que foram as- Uma das consequências pervisora, por exemplo, al- segue proteger, eles tem hora resultado. “O que leva o jo- com as drogas e o crime. Con- saltar e eles relatam isso de da evasão escolar é a baixa gumas famílias moram em paraOs nosso dormir, filhos para a gente estudar, con vem realmente a abandonar dado conta que, diariamente, forma bem natural. Porque escolaridade ou até mesmo o barracos, então eles residem mas muitas dessas crianças precisa lidar com situações analfabetismo. A taxa de anal- por pouco tempo e sempre então, começam a relatar fabetismo entre as pessoas de se mudam. Quando se ausen- qualquer situação. Por isso a escola é que ela ficou em algunstalvez elesfatos confiem que são em muito mim, 15 anos ou mais de idade em tam a gente tenta ligar para acontecenão têm, ficama desistência, vulneráveis oa chocantes para um educador, 2019, na Paraíba (16,1%), foi os números que eles nos dei- abandono, mas por conta da para um pai”, narra Condado. a 2ª maior do Brasil, de acor- xam, mas eles mudam o nú- falta da estrutura familiar”. O professor conta que em uma sala com 30 alunos, apenas de Alagoas, que atin-

giudo como percentual o IBGE, ficando de 17,1%. atrás PREFEITURA MUNICIPAL DE JOÃO PESSOA restam entre sete ou oito. Em comparação com 2016, EMLUR – AUTARQUIA ESPECIAL MUNICIPAL DE LIMPEZA URBANA Apor gravidez exemplo, na ao adolescência fim do ano, quando a taxa também era de TERMO DE ADJUDICAÇÃO E HOMOLOGAÇÃO

também é um dos fatores im- 16,1%, esse indicador perma- CONCORRÊNCIA PUBLICA 00001/2019 PROCESSO ADMINISTRATIVO Nº 2017/00656 OBJETO: CONTRATAÇÃO DE EMPRESAS DE ENGENHARIA, ESPECIALIZADAS NA ÁREA portantes e até naturalizados neceu estável. DE LIMPEZA URBANA E MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS PARA A EXECUÇÃO nas escolas. “O índice de jo- No ano pesquisado, ha- DE LIMPEZA EM VIAS E LOGRADOUROS PÚBLICOS DO MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA/PB. Com base nas informações constantes no referido processo e em cumprimento aos termos vens entre 13 e 14 anos que via cerca de 508 mil pessoas do artigo 43, inciso VI, da Lei n° 8.666/93 e alterações posteriores, conheço os autos do processo, acolho parecer da Assessoria Jurídica, e em razão de haver recursos ADJUDICO e HOMOLOGO engravidam é muito grande. analfabetas no Estado, com a presente licitação que tem por objeto o CONTRATAÇÃO DE EMPRESAS DE ENGENHARIA, ESPECIALIZADAS NA ÁREA DE LIMPEZA URBANA E MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS UR- Só no ano passado, em uma uma taxa maior entre ho- BANOS PARA A EXECUÇÃO DE LIMPEZA EM VIAS E LOGRADOUROS PÚBLICOS DO MU- escola que eu trabalho, em mens, de 19%, enquanto no NICÍPIO DE JOÃO PESSOA/PB, ora licitado em favor das empresas: BETA AMBIENTAL LTDA, CNPJ: 24.303.231/0001-32 restou declarada como vencedora para o lote I, pelo valor total de R$ João Pessoa, das três turmas grupo feminino essa propor- 115.979.770,08 (cento e quinze milhões novecentos e setenta e nove mil setecentos e setenta reais e oito centavos); LIMPEBRAS ENGENHARIA AMBIENTAL LTDA, CNPJ:00.609.820/0001-85 em que eu ensino, em duas ção era de 13,5%. A pesquisa restou declarada como vencedora para o lote II, pelo valor total de R$ 91.479.922,08 (noventa e um milhões quatrocentos e setenta e nove mil novecentos e vinte e dois reais e oito centavos); delas apareceram meninas indicou ainda que a taxa de LIMPMAX CONSTRUÇÕES E SERVIÇOS EIRELI, CNPJ:10.557.524/0001-31 restou declarada grávidas. A questão da inicia- analfabetismo era maior en- como vencedora para o lote III, pelo valor total de R$ 88.159.743,36 (oitenta e oito milhões cento e cinqüenta e nove mil setecentos e quarenta e três reais e trinta e seis centavos); totalizando o valor ção sexual tão cedo, na esco- tre pessoas pretas e pardas de R$ 295.619.435,52 (duzentos e noventa e cinco milhões seiscentos e dezenove mil quatrocen- tos e trinta e cinco reais e cinqüenta e dois centavos) pelo prazo de quarenta e oito meses. Em la pública, principalmente, (18%), do que entre brancas consequência, ficam convocados os adjudicatários para assinatura dos instrumentos contratuais, é porque não tem essa edu- (12,2%). nos termos do art. 64, caput, da Lei nº. 8.666/93, sob pena de decair o direito à contratação sem prejuízo das sanções previstas no art. 81 desta lei. cação sexual. Essas meninas Na opinião da educa- João Pessoa, 17 de Julho de 2020. Lucius Fabiani de Vasconcelos Sousa Edileuza Monteiro diz que falta de incentivo dos pais prejudica alfabetização deixam a escola para cuidar dora Edileuza Araújo Mon- Superintendente – EMLUR Edição: Emmanuel Noronha Editoração: Ulisses Demétrio 16 AUNIÃO João Pessoa, Paraíba - DOMINGO, 19 de julho de 2020

Foto: Divulgação

Evolução da infecção por covid-19 na Paraíba n Os mapas que ilustram essa matéria demonstram a evolução histórica das infecções por covid-19 na Paraíba de abril a junho. Nota-se claramente que a epidemia não está estabilizada mas se propaga pelo interior. Com acesso a essas informações a população tem subsídios para entender que os cuidados continuam sendo necessários para evitar o aumento do contágio. Municípios pequenos, como Riachão do Bacamarte estava, na semana que passou, com 42 casos por mil habitantes, um número considerado alto, pelos espe- cialistas. Guarabira, que concentra um polo na região do Brejo, estava com 45 casos por mil habitantes. Multidisciplinaridade fortalece a pesquisa sobre coronavírus População terá informações geradas por inteligência artificial para predição de casos de covid-19 no Estado

Márcia Dementshuk - Especial para A União ver um aumento do número edital Covid-19. O edital foi- ordem de R$ 1 milhão. Em De acordo com o coorde casos, é gerado um alarme,- - de pessoas com a covid-19. elaborado em conjunto pela um segundo momento, a nador da pesquisa “Predição enviado para as autoridades nal deste mês Trata-se de um sistema que Secretaria Executiva da Ci Assembleia Legislativa da- Georreferenciada de Surtos- de saúde. No momento, es de julhoAté opes fi- irá detectar a probabilidade ência e Tecnologia do Estado Paraíba destinou mais R$ 1 de covid-19”, Edmar Gurjão,- tamos fazendo mapas com de o contágio aumentar, ou- da Paraíba e a Fundação de milhão, proveniente de eco os pesquisadores desenvol a quantidade de casos em CIÊNCIA não. Apoio à Pesquisa da Paraíba nomias efetivadas na casa vem um “software cujo ob todas as cidades da Paraíba quisadores da A ferramenta é o resul (Fapesq). - legislativa em função do jetivo é a detecção de surtos e em Campina Grande, essa- Universidade- tado da pesquisa “Predição “Aí está uma resposta afastamento presencial das- de covid-19. Usa dados das demonstração é por bairros”.- Federal de Georreferenciada de Surtos- emergencial para uma cala atividades, o que possibilitou secretarias já confirmados e O sistema pode ser aplica Campina Gran de covid-19”, coordenada midade em saúde que pegou- o financiamento de 18 proje a localização desses casos via do em qualquer Estado ou mu de vão disponibilizar para a pelo professor Edmar Can- a todos nós de surpresa. O tos de pesquisa em covid-19- CEP. A cidade é dividida em nicípio, desde que inseridos população um site pelo qual- deia Gurjão, que ganhou Governo do Estado da Para no nosso Estado”, explicou o regiões e é possível fazer um os dados, e pode servir para os moradores poderão saber apoio do Governo do Esta íba mobilizou esforços que presidente da Fapesq, Rober acompanhamento contínuo. o monitoramento de qualquer a localidade onde poderá ha do da Paraíba por meio do resultaram em recursos da to Germano. Detectado um crescimento de doença epidemiológica. Modelagem matemática vai prever ocorrências

Os pesquisadores trabalham inseridas e gera um boletim outro eu estou aprendendo tanto agora na modelagem matemática epidemiológico em formato de nesses poucos meses no projeto para fazer a previsão de aumento banco de dados, o que vem sendo que posso considerar como um

de casos. Essa modelagem é fei- compartilhado com o projeto de curso completo. Eu vejo o quanto c p e

g

ta usando inteligência artificial, georreferenciamento da UFCG. a pesquisa se fortalece quando n i t e k

pela qual o software aprende “O projeto acadêmico traz há um grupo de especialistas r

CAMPEONATO a em cima da base de dados que propostas diferenciadas, princi- empregando seus conhecimen- PARAIBANO m vai recebendo. É uma função palmente no sentido de entre- tos diferentes para um mesmo matemática criada para modelar gar uma ferramenta útil para a objetivo. É assim que estamos 2020 e apresentar resultados de como população. Pesquisa, ensino e trabalhando”, salienta Thyago. O os casos de covid estão crescendo. extensão são atividades obriga- projeto conta com a participação Os dados reais são encaixados tórias da universidade que tem de especialistas de diversas áreas, nessa função; o resultado é uma que trazer de volta pra sociedade como Exatas, Saúde, Engenharia, aprendizagem do programa em o que produz. Esse projeto é uma Computação, Ciência de Dados, cima da base de informação. contrapartida para a sociedade que colaboram para a construção x Parte desses dados vêm de com um produto baseado em do sistema. informações das Secretarias Saú- ciência, fatos novos e experiên- “A sociedade ainda precisa Sousa/PB Botafogo/pb des. O sistema aprende tendên- cias”, declara Miguel Dantas ver que a ciência da computação cias, que tipo de caso acontece é uma atividade voltada para os com mais frequência, caracte- Pesquisa fatos reais, da vida”, continua rísticas, entre outros. Segundo o Um dos integrantes do proje- Thyago Pereira. “Havia a imagem domingo Diretor de Vigilância em Saúde do to é Thyago Pereira da Silva, estu- da ficção científica, com equipa- 19 DE JULHO 16h Município de Campina Grande, dante de Ciência da Computação mentos inacessíveis para meros ESTÁDIO MARIZÃO - SOUSA/PB Miguel Rodrigues Albuquerque da UFCG; quando é reconhecido mortais; mas o que fazemos hoje Dantas, o sistema de informações pela dedicação a este trabalho, é real, para as pessoas usarem.

de síndromes gripais (e-SUS) - ele agradece com a ressalva de Ter acesso a informações sobre a N A R R A Ç Ã O que registra não só a covid-19 que há muitas pessoas envolvidas possibilidade de infecções por do- lIMA SOUTO como também outras doenças sem as quais não seria possível enças, por exemplo, vai ajudar na C O M E N T á R I O S - usado pela saúde pública em avançar no desenvolvimento. prevenção, pode diminuir casos e IVO MARQUES Campina Grande permite fazer “Se por um lado, as aulas pre- proporcionar um ambiente mais R E P O R T A G E N S FRANCO FERREIRA um download das informações senciais estão interrompidas, por seguro para todos”. Orris Soares Tonio O jornalista, escritor e dramaturgo paraibano fundou Arte: o Jornal O Norte, criou peças teatrais e prefaciou o poeta Augusto dos Anjos. Página 18

Edição: Cecília Noronha Editoração: Ulisses Demétrio João Pessoa, Paraíba - DOMINGO, 19 de julho de 2020 AUNIÃO 17 Eterno Arte: Tonio em sons, versos e prosas Livardo Alves embalou o Brasil em memoráveis carnavais, sendo ‘A marcha da cueca’ sua música mais famosa Lucilene Meireles - [email protected] cas e ainda tem música inédita que, futuramente, vou gravar.“Trabalhamos Tomamos muita juntos, cerveja fizemos lá no mais Ponto de 50 de músi Cem “Eu mato, eu mato quem roubou minha cueca Réis. Ele trabalhava na Assembleia Legislativa e toda pra fazer pano de prato...”. Atire a primeira pedra quem noite a gente se encontrava lá com outros colegas. nunca ouviu (e cantou) a famosa música carnavalesca Falava-se de tudo. Era um grupo de pessoas de alto ‘A marcha da cueca’, que desde os anos 1970 embalou muitos carnavais e até hoje faz parte do repertório Segundo o escritor, os encontros eram sempre Lucilene Meirelesde quem admira a festa de Momo. O responsável por [email protected] nível,uma terapia. muito refinadas. “Discutíamos muito os assuntos da po- ela? O paraibano Livardo Alves da Costa, pessoense da lítica, durante a ditadura. Depois íamos para a Torre gema e assíduo frequentador do Ponto de Cem Réis, no Centro da Capital. Era ali, em encontros ébrios, que ele costumava reunir os amigos, discutindo te- (bairroLivardo de como João um Pessoa), homem onde muito morávamos, inteligente. filosofando “Ele tinha mas que iam da política sobremuitas a ideias, vida e era morte”, muito lembrou desprendido”, Gilvan, constatou. que definiu à música. Em vida, O trabalho mais conhecido foi mesmo ‘A marcha compôs mais de da cueca’ e, pela repercussão que alcançou, a autoria 300 músicas. acabou se tornando alvo de uma disputa. E Livardo O escritor e teve que brigar, assistido por um advogado, reivindi- jornalista Gilvan cando seu nome como compositor. “A música era um de Brito fazia parte da “equipe” entre ele, Carlos Mendes e Sardinho os créditos pela e estava em prati- sucessoautoria. totalNós combinamosno Brasil, e fizeram e concluímos um trato que de dividir pode- camente todas as ria ser dessa forma”, relatou Gilvan de Brito. Mesmo “reuniões”. A ami- dividindo os louros pela marchinha, ele conseguiu zade era tamanha ganhar muito dinheiro todos os anos depois do Car- que decidiu escrever naval. “Era a música mais tocada no Rio de Janeiro e, principalmente, em São Paulo”, lembrou. Livardo morreu em 16 de afevereiro biografia dedo amigo.2002, Biografia prevista para ano que vem aos 66 anos, vítima de um câncer e, como diz o Brito, aA obrabiografia certamente de Livardo trará Alves muito está mais concluída, informações mas só e sua estátua de bronze, no devecuriosidades ser lançada sobre no o próximo compositor ano. e Escrita poeta, porjá que Gilvan ambos de Pontoletreiro de afixado Cem Réis, ao lado partiu de cultivavam uma grande amizade e parceria nas compo- sições. De acordo com o jornalista e escritor Gilvan de para o povo de sua terra, perpe- Brito, a ideia inicial era lançar o livro este ano, mas faltou tuadodeixando em sons, um versos, “valioso prosas”. legado O monumento é uma obra do artista J. Maciel e foi inaugurado apoio para tornar o texto público. “A biografia está pronta, em 4 de agosto de 2009. masé que acho seja difícilpublicada sair esteem 2021”, ano. Falta concluiu. mais valorização e investimento no pessoal da terra. A expectativa agora Ator, poeta e compositor de trilha Além de compositor, Livardo gido muito mais para o Carnaval, Alves participou de algumas peças quando fazia mais sucesso. Tem teatrais. Numa delas, a ‘Canção muitas músicas, MPB, muito trabalho de Fogo’, chegou a ir para o Rio interessante. No entanto, o sucesso de Janeiro acompanhado por um mesmo foi mais de Carnaval. ‘Banho grupo que tinha nomes como a de bica’, de 1972, por exemplo, cantora , Anco Már- tocou no Nordeste todo”, contou cio, entre outros. Juntos, conforme Gilvan de Brito. contou o jornalista e escritor Gilvan O poeta Livardo Alves compôs de Brito, apresentaram a peça. Na a música do longa-metragem ‘A época, além de atuar, Elba Ramalho inesperada visita do imperador’, de descobriu seu talento como cantora. Gilvan de Brito. “Fez muito sucesso “Se tornou cantriz”, disse Gilvan. nacional. Era uma boa pessoa, inteli- “Livardo fazia música e atua- gente”, ressaltou. Fez ainda parceria va, mas a praia dele era música e com Vital Farias em ‘Forrofunfá’, criatividade. Fizemos duas peças mas se consagrou como um dos de teatro. Porém, o legado dele é principais compositores brasileiros na música, com um trabalho diri- de marchinhas de Carnaval.

Foto: Arquivo do Jornal A União

Parênteses para um protesto

n “Por favor, me ajude. Estão me destruindo” A edição de 20 de Esta semana, o Jornal A União publicou fevereiro de 2002 do matéria sobre o vandalismo investido contra o Jornal A União fez monumento em homenagem a Livardo Alves, instalado no Ponto de Cem Réis. Em forma de uma homenagem ao protesto a essas destruições, algum cidadão artista, mostrando anônimo chegou a colocar uma placa junto à a importância de imagem de bronze do artista. Nela, estavam os seguintes dizeres: “Por favor, me ajude. Livardo para a Estão me destruindo”. Infelizmente, estátuas, cultura brasileira bustos e outras esculturas vêm sendo depreda- das de maneira recorrente em nossa cidade. Esses vândalos agem, geralmente, na ca- Foto: Acervo/ família lada da noite. Além de pichar, levam partes do monumento, especialmente aqueles feitos de Uma das fotos mais bronze, com o objetivo de comercializar o mate- conhecidas do rial, ilegalmente. No caso da estátua de Livardo, composItor, sentado usurparam óculos e quebraram parte do cha- péu. Como se não bastasse, ainda perfuraram em banco de a imagem para poder cunhar assinatura sobre praça no Ponto de ela. Atitudes de total desrespeito ao artista e à Cem Réis, inspirou memória de nossa cidade. E o ‘Almanaque’, que busca eternizar um pouco a história da Paraíba, o monumento em por meio de seus personagens, não poderia dei- sua homenagem xar de registrar aqui a sua indignação. Edição: Cecília Noronha ? ? Edição: Cecília Noronha Editoração: Ulisses Demétrio Quem foi? Editoração: Ulisses Demétrio 18 João Pessoa, Paraíba - DOMINGO, 19 de julho de 2020 João Pessoa, Paraíba - DOMINGO, 19 de julho de 2020 AUNIÃO 19 Orris Soares A revolução gráfica no jornalismo impresso

Artes: Tonio Hilton Gouvêa Orris, embora ele seja “injustamente mais conhecido pelo [email protected] fato de ter prefaciado e organizado a obra de Augusto dos parentesco com Anjos Eu e Outras Poesia”. Prefácio e edição da obra de Augusto dos Anjos humorista O jornalista, escritor e dramaturgo paraibano Órris Amigo pessoal de Augusto dos Anjos (1884-1914), Orris Jô Soares Soares – contemporâneo e amigo de celebridades das Soares coordena, prefacia e elabora, em 1920, a edição do Os amigos íntimos chamavam Orris de n “Orris era irmão de “Empresário de Augusto dos Anjos”. Motivo: Oscar Eugênio Soares, letras como Ariano Suassuna, Olavo Bilac, Augusto dos volume de poesias, que já havia sido publicado em vida genro do influente po- Anjos, Tobias Barreto e Graciliano Ramos – nasceu em pelo próprio Augusto, em 1912. A esse material o jornalista além de organizar também prefaciou a edição lítico Evaristo Monteiro, João Pessoa o dia 14 de outubro de 1884, e morreu na acrescenta versos póstumos. Anos depois, em 1928, por de ‘Eu e Outras Poesias’. Ele foi o responsável que ousou romper com cidade do Rio de Janeiro, em 10 de fevereiro de 1964. interferência de Orris, a Livraria Castilho, do Rio de Janeiro, pelo lançamento desta edição, que até nos João Pessoa, porque o Descendia do rico comerciante português Adolpho edita a terceira edição da mesma obra. O resultado é um dias de hoje é procurada nas livrarias. Conta presidente provincial Jô Soares (sobrinho-neto de Orris), em sua da Paraíba prejudi- Eugênio Soares, dono da loja Boa Fama, fundada na extraordinário sucesso de crítica e público. cou Oscar na política capital paraibana em meados do século 19. A pós-doutora em Letras e Literatura Socorro de autobiografia, que foi o tio-avô quem comuni- paraibana,” afirma o Orris se formou em Direito pela Faculdade de Direito cou ao badalado poeta da época, Olavo Bilac, jornalista e historiador a precoce morte de Augusto, em Leopoldina José Otávio de Arruda que as peças de teatro de Orris são bem recebidas Mello. “Evaristo tinha polivalência indiscutível. Foi deputado, Fátima Pacíficopor Barbosa especialista registra da ainda área. em A pesquisadoraseu dicionário (MG), no dia 12 de novembro de 1914. Após ouvir Orris declamar ‘Versus Íntimos’, Bilac tanto prestígio que ocu- jornalistado Recife. Suae homem trajetória de profissional letras, além se deapoiou em uma explica que o professor da UFPB e doutor pou, simultaneamente teria dito: “Fez Bem em morrer. A poesia não secretário geral do Estado da Paraíba, em Fundou com seu irmão, em Artes e Teatro pela USP Paulo Vieira [a lei da época permitia] perdeu muita coisa”. “reconhece a qualidade e tendências cargos de deputado e Oscar Soares, o jornal Em contrapartida, Jô Soares registrou que vereador na Paraíba, se delegado do Tribunal de Contas e do Instituto expressionistas” do jornalista. Ariano Suassuna sempre dizia que os literatos destacando como o par- Nacional1920. Também do Livro. chegou Fundou a ser comfiscal seu de bancos, irmão, O Norte, em 7 de maio E quando se refere à peça ‘Rogério’, deveriam agradecer a Orris o fato de tornar lamentar que por mais Oscar Soares, o jornal O Norte, em 7 de maio considerada sua obra prima, cujo tema tempo permaneceu na de 1908. A Paraíba Augusto um poeta conhecido. Em ‘O livro Assembleia Legislativa de 1908. A Paraíba iniciava uma nova era é uma revolução, Paulo Vieira reforça no do Jô – Uma autobiografia desautorizada’, do Estado”, acrescentou. iniciava uma nova era o humorista confessa ainda que sua herança O pai do apresentador O Norte, que trazia para esta parte gráfica, em se tratando sua admiração pela produção de Orris. “Outro genética pelo teatro viria de seu tio Orris que, de televisão, escritor, gráfica, em se tratando de jornais escritos. indicadordicionário de organizado sua modernidade, por Socorro pois aparenta Pacífico como ele, seria um anarquista. Ainda segundo dramaturgo, ator e humorista Jô Soares, também surgiu com boa qualidade textual, de jornais escritos tomar como referência a revolução soviética a obra de Jô, o escritor Lima Barreto chegou Orlando Heitor Soares, inaugurandodo Nordeste uma uma feição era revolucionária gráfica diferente, na a questionar o motivo pelo qual as peças apelidado “o Garou- imprensa paraibana. Até o Jornal A União, este ponto de vista, torna-se ainda mais teatrais de Orris não foram montadas com o pa”, era neto de Oscar seu concorrente maior, noticiou sua inauguração com espantosa a contemporaneidadede outubro de 1917”, da afirma obra, pois o professor. líder de uma“Por destaque que mereciam. Soares, o mesmo que Outro relato interessante diz respeito ao fundou o jornal O destaque. Hoje o Jornal A União é o jornal mais antigo da revolução popular, Rogério, após a vitória, torna-se um cruel Norte junto com Orris. Paraíba e está em plena atividade. O Norte, porém, acabou e desumano ditador, assassino e temível déspota”, conclui. projeto do Dicionário da Língua Portuguesa Então, Oscar era avô vendido ao megaempresário paraibano da comunicação que fora interrompido. Orris teria comentado de Jô, e Orris, tio-avô. Assis Chateaubriand, que o incorporou ao acervo dos Diários Biografias e dicionários com o pai de Jô: “Orlando, eu acho que não Mercedes, mãe de Jô, Associados, após utilizá-lo na sua campanha para senador. Além das obras teatrais, a produção de Orris Soares tenho mais lucidez suficiente para continuar Queiroz Garcia, funcionário do Serviço de considerada evoluída uma obra desta envergadura”. Mais tarde, os Censura e Diversões Públicas da Ditadura para a sua época, foi a primeira mulher a tirar Literatura e teatro que escreveu estão, por exemplo, ‘A Barreira’ (Paraíba, parentes de Orris concluíram que este episó- Militar, recusou um pedido de montagem da habilitação de motorista O ‘Pequeno Dicionário de Escritores e Jornalistas – 1917)inclui também e ‘A Cisma’ biografias (Rio de eJaneiro, dicionários. 1915); Entre ‘Rogério: os trabalhos drama dio resultou, para ele, em grande frustração. peça ‘Rogério’, alegando que “o personagem no Rio de Janeiro. Isto Sua criação teatral também é rodeada de principal era centrado num perigoso líder, levou Orris a comentar de Antonio Borges da Fonseca a Assis Chateaubriand’, em 3 atos’; ‘Pedro Américo’ (1920); e os dois volumes de que “a irreverência e o organizado pela pós-doutora em Letras e Literatura Socorro fatos curiosos. Em 27 de dezembro de 1969 que pretendia fazer uma revolução sindica- – cinco anos após a morte de Orris – Wilson lista de contornos anarquistas”. humor estavam no san- O Governo do Estado da Paraíba também publicou seu gue da família”. paraibanos reconhecem a qualidade das obras teatrais de trabalho‘Dicionário completo de Filosofia’ de teatro (Rio em de 1985. Janeiro, 1952 e 1968). de Fátima Pacífico Barbosa, ressalta que historiadores Angélica Dom Lúcio Cardoso

[email protected] [email protected]

pressão do rosto, do corpo; o que claro, pela imensa popularidade que o futebol so de ‘Café soçaite’, compôs a marcha ‘O que Jornalistas em quarentena não dá para fazer pela tela ou pelo Miguel Gustavo “Pra frente, Brasil” - tinha e tem na nossa população. é café soçaite’. Em 1958, ‘Fanzoca de rádio’, telefone”, diz. - marcha gravada por Carequinha na gravado- o grande compositor desconhecido dinário chamado Miguel Gustavo Werneck de ra Copacabana, que tornou-se a marchinha Em junho passado, a Asso- Nassif, Marcelo Auler, Maria- Na Paraíba, um projeto seme- SousaSurge Martins a figura (Rio de de um Janeiro, compositor 24 de março extraor de mais popular daquele ano. Em 1959, desta- ciação Brasileira de Imprensa na Kotscho, Norma Couri, Pau- lhante está sendo desenvolvido, “Noventa milhões em ação, pra frente - 1922 – Rio de Janeiro, 22 de Janeiro de 1972). cou-se com ‘E daí’, um samba gravado por Eli- (ABI) estreou o projeto “Jor- lo Markun, Pedro Bial, Ricardo mas no formato de livro digital e Brasil do meu coração. (...) De repente é aque- vamente, a Copa Jules Rimet. Encobrindo a Ele foi um compositor, jornalista, radialista, zeth Cardoso na Copacabana. Em 1961, lan- nalistas em Quarentena – série Kotscho e Ricardo Lessa. O ma- com um recorte de gênero. Na or- la corrente pra frente parece que todo o Bra- seleçãointenção canarinha, governista quedo slogan conquistou, ufanista definiti utili- e poeta brasileiro. Miguel Gustavo foi casado çou o ‘Chá chá chá’ e ‘Brigitte Bardot’. ganização, estão as jornalistas sil deu a mão. Todos unidos na emoção, tudo é zado pela ditadura militar na época (a letra com Sagramor Scuvero, atriz, radialista, es- O espírito sagaz de Miguel Gustavo de- exclusiva”. Trata-se de um con- terial foi editado pelo jornalista um só coração. Todos juntos vamos, pra fren- original dizia 70 milhões em ação), após a critora e vereadora pelo PTB em 1954. Talvez cidiu explorar ao máximo o lado teatral do junto de podcasts com grandes Paulo Gustavo, que escreve so- Sandra Moura, professora da Uni- te,Brasil, salve a seleção”. - o mais carioca dos autores em razão das suas cantor Moreira da Silva, que andava em bai- nomes do jornalismo brasileiro bre cultura pop no portal Fre- versidade Federal da Paraíba, Kiá- ‘Pra frente, Brasil’ é uma canção compos- da para 90 milhões em ação. Esta canção fez composições se utilizar do jeito de ser carioca, xa na sua carreira musical. Dando início ao que, à semelhança de muitos akpop. ra Fialho, Sônia Lima e Zezé Bécha- ta por Miguel Gustavo para inspirar a seleção divulgação do censo demográfico, foi altera colocando nas suas criações bastante gírias, ciclo do samba de breque. Com Moreira da outros colegas por aqui, tive- Pedro Bial abre a série ex- de. O e-book “Isolamento Social: brasileira na Copa do Mundo FIFA de 1970. Foi e passaram a cantar a bela canção ao ponto de humorismo e críticas jocosas. A sátira era um Silva gravando: ‘O conto do pintor’, ‘O rei do ram de ressignificar sua forma clusiva da ABI. E, logo no início, relatos de mulheres jornalistas” é cantada pelo país na euforia ufanista gerada comesquecerem que o povo o que brasileiro ocorria nosficasse porões energizado da dita- dos seus bordões preferidos. gatilho’, ‘O último dos moicanos’, ‘O seques- uma obra coletiva que se propõe a pela primeira transmissão ao vivo e a cores de dura, notadamente, na operação bandeirante. Miguel Gustavo além de um grande com- tro de ringo’, ‘O rei do cangaço’ e ‘Morenguei- de trabalhar devido ao confina- destaca um ponto importan- vista” são diferentes; e conta que, uma Copa, e tornou-se hino desta edição, para Na Copa do Mundo de 1970, no México, o positor de sambas e marchas, foi autor de ra contra 007’. Kid morangueira, herói ima- mento imposto pela pandemia te do isolamento social dele: a nessa nova dinâmica de trabalho, narrar o cotidiano de jornalistas os brasileiros. Brasil formou uma seleção que é considerada famosos jingles como ‘Pra frente Brasil’, das ginário criado por Miguel Gustavo, passava de covid-19. oportunidade de ter uma convi- os diálogos do programa ficaram que cumpriram o distanciamento Nos anos 70 o Brasil vivia sobre o regime a melhor de todos os tempos. Sobre o coman- casas da banha, que criou fama e causou polê- a habitar os sambas de breque. Mais do que A ideia dos podcasts partiu vência maior com as duas filhas muito mais ricos, principalmente social, seja como isolamento, seja militar e chegava perto do seu auge de repres- do do alagoano Mário Jorge Lobo Zagalo, Pelé e mica por utilizar um trecho da melodia ‘Jesus, nunca Moreira voltava a ser o Tal, o persona- de Ricardo Carvalho, que é con- pequenas. “Se tem uma coisa porque os convidados ficam mais à como quarentena. são, tortura e controle da mídia. Naquele mo- companhia. O regime ditatorial usava o slogan alegria dos homens’, de J.S. Bach. Compôs o líssimo. Depois de criar este personagem Kid selheiro e diretor licenciado da que essa quarentena me propi- vontade em suas próprias casas. Segundo as organizadoras, a mento os historiadores denominavam como “AME-O OU DEIXE-O” e a única saída era o ae- jingle para o Leite Glória que até hoje é lem- Morangueira dentro do novo estilo, surgiu ‘O os anos de jumbo e o presidente era o gaúcho roporto para aqueles que conseguiam alcançar. brado por muita gente pela forma moderna rei do gatilho’, expressão máxima desta fase, ABI, em São Paulo. E teve como ciou foi uma convivência íntima Já no podcast mais recente, vei- obra será útil a futuras gerações de origem alemã Emilio Garrastazu Médici. O O regime militar explorava na sua propa- e criativa que a letra falava sobre as caracte- gravado por Moreira da Silva. inspiração uma matéria de Lí- e intensa com essas crianças, culado no site da ABI no dia 15 de como memória da pandemia de General assumiu o país em 1970, nesse clima - rísticas do produto. Em 1952, compôs ‘Vovó- Em 1962, o samba de breque contava via Ferrari sobre os riscos diá- essas pequenas, que eu não te- julho, temos a voz de Ricardo Lessa, covid-19, que também precisa ser de tensão, mas também de otimismo e euforia. zinha’, uma valsa em parceria com Edmundo a saga de um cowboy fuleiro em meio a um rios que repórteres correm, na ria de outra forma, no meu dia a um jornalista com mais de 40 anos registrada sob a perspectiva das A origem de ‘Pra frente Brasil’ deve-se gandaMédici, oficial ele exaltava o esporte qualidades como outrosdos jogadores, ditado Souto e Juanita Castilho. super bang bang italiano surrealista. Na- porta do Palácio da Alvorada, dia normal. Isso é muito legal e como repórter e seis livros publica- mulheres. O e-book, que já está em a um concurso (com premiação de dez mil rescomo já oorganização fizeram. Nos e discursos patriotismo. realizados O futebol por Para se consagrar de uma vez por todas, quela época, a música era na verdade uma dos. Para ele, a relação presencial fase de finalização, traz o confina- cruzeiros), organizado pelos patrocinadores “paixão nacional” pareceu um ótimo meio de lançou ‘Café Soçaite’, de 1955, e alcançou seu divertida sátira aos faroestes espaguetes a em Brasília, tentando entrevis- muito enriquecedor”. das transmissões dos jogos da copa. Ricardo conquistar legitimidade frente à população. primeiro sucesso. O samba do polivalente Mi- lá Hollywood. A história começava com Mi- tar o presidente da República. Ao longo do podcast, Bial com o entrevistado é da maior im- mento de jornalistas em aborda- - Unir seleção, governo, nação: construir iden- guel Gustavo foi gravado pelo cantor Jorge guel Gustavo narrando a saga do famoso Kid Para a série, foram entre- diz que sente falta da redação, portância, porque o gestual revela gens que envolvem medo, angústia, trocinado por uma cervejaria, enquanto Nara tidade. A coletividade também era uma carac- Veiga na Copacabana. Jorge Veiga seu com- Morangueira, herói que somente atirava em vistados Ana Luíza Guimarães, do encontro com as pessoas muito. “O repórter precisa do entre- insegurança, tensão, solidão, insô- CravoDamante Albin sustenta afirma que que o concurso o concurso tinha fora o pa - terística valorizada pelos militares, que deve- padre iria interpretar sua sátira, abordando nome da lei. O próprio compositor acabava Caco Barcellos, Chico Caruso, e da troca de ideias. Também vistado. A gente faz muita reporta- nia, fragilidade, morte. Tive a hon- trocínio das anunciantes Esso, Souza Cruz e ria ser estendida também ao povo brasileiro. - Ernesto Paglia, Fernando Ga- fala sobre as mudanças ocorri- gem por telefone, por vídeo quando ra de ser convidada para ser um Gillette, em parceria com a Rede Globo. O governo militar se utilizou da seleção social carioca dos anos 1950. Em 1956, Jorge No concurso a canção vencedora foi o não tem pandemia, mas o contato fí- dos fragmentos desse mosaico de brasileira como instrumento de propaganda ironicamenteVeiga lançou o oLP granfinismo Boate Tralalá, e com o colunismo a música entrandoCom inspiraçãono filme como de compositor Michael Gustavo e um faro di beira, Fernando Morais, Jor- das na produção do “Conversa”, hino ‘Pra frente Brasil’. Os versos “noventa durante a ditadura militar. Na tentativa de le- título puxando outras, também de autoria de retorde autor do filme.de jingles publicitários, ele fez histó- ge Pontual, José Trajano, Juca programa que ele apresenta; sico é muito legal. Tem várias obser- narrativas. E já estou ansiosa para milhões em ação, pra frente, Brasil, do meu gitimar o regime fechado e sombrio, o gover- Miguel Gustavo. ria na música brasileira, com canções que até Kfouri, Leilane Neubarth, Luis lembra que “conversa” e “entre- vações que a gente faz, como a ex- ler o registro de outras colegas. coração” e a melodia tornaram-se símbolo da no utilizou o futebol, de várias maneiras. Isso, No ano seguinte, aproveitando o suces- hoje estão no imaginário do povo. 20 AUNIÃO João Pessoa, Paraíba - DOMINGO, 19 de julho de 2020 Editoração: Lênin Braz

Walter Ulysses- Chef formado no Curso de Gastronomia no antigo Lynaldo Cavalcante em (João Pessoa) e tem Especialização na Le Scuole di Cucinadi Madrid. Já atuou em restaurantes de @waltinhoulysses diversos países do mundo, a exemplo da Espanha, Itália, Portugal e Holanda. Foi apresentador de [email protected] programas gastronômicos em emissoras de TV e rádio locais e hoje atua como chef executivo de cozinha na parte de consultorias.

Fotos: Drew Hays/Unsplash

• A cachaça Matuta vem dando show nas Lives. No fim de semana passado foi uma das patrocinadoras em doações para a Live de Raí do Saia Rodada, que foi o maior sucesso. O bom de tudo é saber que as doações es- tão indo para aqueles que mais necessitam. Parabéns pela ini- ciativa! Seu Instagram @cacha- camatuta • Sexta-feira passada foi o dia internacional da Pizza e a Pizza Fan, nos fez uma surpresa com bastante carinho, nos trou- xe duas pizzas bem especiais. Vale salientar que a Pizza Fan não atua em nossa Capital, só em Santa Rita. Aí vemos o tanto de carinho que ele tem por esse colunista. Seu Instagram @piz- za_fan_dellivery • A Delicia da Lalú está de vento em popa com seus pratos executivos de segunda a sábado e com um preço super especial. Além de ser uma comida deli- ciosa, pode fazer o pedido sem medo, pois é a comida que a vovó Aqui se faz, aqui se paga! fazia com muito carinho. Seu Ins- tagram é @deliciadalalu.jp • O Sanduba do Careca e ão era de se imaginar bém que, quem não quiser me acompanhar Essa volta com o novo normal ainda Carlos Jr Lanches continuam um preço tão alto que o não se tem uma data, mas tudo só terá a de- firmes e fortes, juntamente com ramo em hotelaria está só me referir às siglas de associações e de vida diferença da sobrevivência se houver outros parceiros em uma campa- passando, quando eu grupos,pode ficar, mas pois falar eu tambémestou seguindo. da minha Não classe vou união entre grupos, associações e classes nha de levar alimento aos mais me refiro a hotelaria en- de Chef de Cozinha, que é tão desunida. Com funcionais que está por trás dos bastido- necessitados nesta pandemia. tram todos os ramos de tanta desunião não consegue colocar um res, para juntos trilharmos um caminho em Parabéns galera! Sozinho nin- comidasN e hospedagens no geral. membro como presidente no sindicato para busca de nossos objetivos, como também guém chega a lugar nenhum! Por partes eu acredito que depois de tentar propor mudanças no cenário empre- reivindicar melhorias de linhas de crédi- Seus Instagrans @carlosjrlan- tudo isso será um ramo de ligações amigá- sarial, pois o que se encontra já se tornou Rei tos junto ao Governo Federal e através dos ches @sandubadocareca.jpa veis, nos que sobreviverem a todo esse caos de tanto tempo que ocupa o espaço. bancos. • Quer adquirir temperos que estamos vivendo. Falo isso, pois sei como é o território dos Sozinho, solitário e achando que alguém naturais pra comer bem? A Gra- São muitas siglas de associados em vários dois lados o qual falei. Cobra engolindo cobra e ou a empresa é a rainha da cocada preta não aspectos diferentes que geram muitas discórdias um querendo puxar o tapete do outro, e muitas chegará a nenhum lugar neste momento di- titude – Empório Natural tem e desunião. Até em um momento de desespero - vezes se vendendo de acordo com o valor que diversas opções entre produtos como a pandemia - recebi mensagens de grupos o outro cobrou. Me desculpe leitor, mas chega pequenos grupos de empresas do mesmo desidratados e em grãos para informando que só comprassem em empresas A a ser uma prostituição de negócio. Eu não me ramofícil. Hoje e também com todo diferentes aperto dase pandemiajuntarem paravejo tornar seus dias de quarentena e B porque elas eram as de melhores qualidade vendo por migalhas, tenho meu caráter e per- se divulgarem nas plataformas das redes so- na cozinha mais saudáveis. Co- para o consumo durante a pandemia. - cias. Isso é ser humano. É ser simples. nheça todos os produtos através Nesta vida aprendi que ninguém chega sar o que passei e viver a vida que vivi morando Entenda que a dor do outro também po- do Instagram deles @gratitude. em nenhum lugar sozinho, mas aprendi tam- sonalidade e sei o quanto foi caro e difícil pas derá chegar a doer em você! emporionatural

fora do país para ser um “Chef de Cozinha”. Foto: Arquivo Pessoal

Sanduba Arretado

Ingredientes

Molho escuro Diferenças entre carne de sol, carne de n 1 caixa de creme de leite s/ soro charque e carne seca n 3 dentes de alho Sul e sua principal diferença da carne de sol n ½ colher de sopa de vinagre de Aé acarne quantidade de charque de sal é típicautilizada do Riono preparo.Grande do A maçã receita surgiu a partir de uma adaptação feita n Meia xícara (chá) de óleo pelo português José Pinto Martins, em 1777. n Sal e pimenta do reino a gosto Ele quis aproveitar o gado que era abatido n 1 colher de cachaça apenas para uso do couro e deu um toque es- n 2 colheres de molho inglês pecial à receita de carne de sol que aprendeu quando morou no Ceará. Sanduíche Para isso, usou uma carne com grande quan- n 500g de carne de sol magra, des- tidade de gordura e a cortou em mantas para salgada e cortado em bifes bem finos ajudar no processo de desidratação, que leva n 1 colher (sopa) de óleo n 5 fatias de queijo prato ou muçarela quantidade de iodo. Esse procedimento retira, n 5 fatias de presunto de sua preferencia bastante sal fino — é mais efetivo pela elevada n 5 pães francês cortados ao meio no seguida, ela é levada para a secagem, que dura praticamente, todo o líquido da carne. Em sentido de comprimento cerca de dez dias. A carne seca, também parecida com a carne n 20 rodelas de tomate cortadas ao de sol, passa por uma desidratação mais meio intensa. Tanto a quantidade de sol quanto n 8 folhas de alface americano rasgadas o tempo de cura são maiores. Primeiro as Modo de preparo para escurecer e misture até ficar ho- Montagem: em uma das metades do mantas são empilhadas em um local seco para Prepare o molho: no copo do liquidifi- mogêneo. Reserve. pão, espalhe o molho, a carne de sol, desidratarem e depois são levadas a varais no cador, coloque o leite, o alho e o vina- Em uma chapa, coloque o óleo e aque- o queijo, o presunto, o tomate e a al- gre e bata em potência média. Abra a ça em temperatura alta. Junte a car- face, e feche com a outra metade do Dessa forma, como o próprio nome diz, a tampa e coloque, aos poucos e em fio, ne e grelhe por 6 minutos, virando na pão. Sirva em seguida. carne é solbem para mais finalizar seca do a que secagem. o charque e a o óleo, até acabar (cerca de 2 minu- metade do tempo, ou até dourar. Em Repita o processo com o restante dos carne de sol. Ou seja, a carne seca sofre mais tos). Transfira para uma tigela, coloque seguida corte a carne em fatias bem ingredientes e sirva todos os outros - um toque de cachaça e molho inglês finas e reserve. pães. dade maior pela desidratação. mudanças: cor, textura firme e prazo de vali Consiste no preconceito e na discriminação com base em percepções sociais baseadas em diferenças biológicas entre os povos; muitas vezes toma a forma de ações sociais, práticas ou crenças, ou sistemas políticos que consideram que diferentes raças devem ser classificadas como inerentemente superiores ou inferiores com base Pensar em características, habilidades ou qualidades comuns herdadas. Edição: Jorge Rezende Editoração: Lênin Braz Racismo João Pessoa, Paraíba - DOMINGO, 19 de julho de 2020 AUNIÃO 21

Fotos: Pixabay Todos Uns mais iguais que iguais... os outros?

Um ciclo de Racismo, tratamento maléfico Discriminação ao indivíduo & Preconceito

Alexsandra Tavares tratamento diferenciado a um indi- Mas, por que tamanha brutalidade [email protected] Foto: Arquivo Pessoal - - É preciso que a Racismo, discriminação e pre- víduodade. ouJá grupoo preconceito por causa racial de sua pode cor foidem atribuída estar em a eles?alguns O elementos que motiva conceito. Elementos que se inte- ouser etnia, compreendido ferindo o princípio como daopinião, igual essesinseridos crimes? secularmente As respostas na poes- sociedade brasileira ragem em um ciclo de tratamento sentimento, atitude apressada que trutura social. A antropóloga e inte- assuma, como analisados isoladamente têm suas uma intolerância fundamentada no grante do Grupo de Pesquisa premissa, essa maléficopróprias aopeculiaridades. indivíduo, mas Ao quando falar- trazemracismo”, como explicou. fundo uma aversão, - Então, nessa percepção distorci- agenda antirracista. A a diferença entre esses três pontos. da de mundo, um homem ou mulher em Saúde, Sociedade e Cultu mosSegundo sobre a racismo,doutora valeem sociologia, sabermos ra na UFPB, Uliana Gomes da mídia, de uma forma cientista social e integrante do Gru- competente ou incompetente, apro- Silva,uma luta destacou constante. que “Éser uma negro luta geral, precisa abordar po de Estudos e Pesquisas em Pen- podepriado ser ou visto inapropriado, como apto culpado ou inapto, ou nopara Brasil conseguir e continuar trabalho, vivo para éser inocente conforme sua cor e etnia. essas questões - para descontruir o imaginário so- samento Social e Político Brasileiro, rildo Dias de Souza, há sete anos no vistocial, para como desnaturalizar pessoa, ser respeitado, essa lógica da Universidade Federal da Paraíba FoiRio assimde Janeiro, no caso e mais do pedreirorecentemente, Ama racista. É preciso que a sociedade Uliana Gomes (UFPB),entendido Anna como Kristyna um sistema Araújo de clas da- em Minessota, nos Estados Unidos, brasileira assuma, como premissa, Silva Barbosa, o racismo pode ser- ano. Ambos negros, pobres, desar- de uma forma geral, precisa abor- sificação,causa da sua baseado cor ou em etnia, teorias consciente e cren commados, George rendidos Floyd, e assassinados em maio deste por essadar essas agenda questões”. antirracista. A mídia, foi colo- çasou inconscientemente. que hierarquizam indivíduos por - Uliana Gomes acrescenta que a cada quando A discriminação e o preconceito de de defesa. população negra é a mais marginali- se exportou mão de obra são desdobramentos desse sistema, policiais, sem a mínima possibilida zada economicamente, socialmente porém são coisas distintas. “Discri- contra negros ganharam repercussão “Quando a gen- restou para essa população após partir de sua religião, sua cultura, minação racial é quando se tem um na imprensaEsses e outrosnacional casos e até de mundial.injustiça te pensa onde a população negra escrava nos perguntamos: o que e geograficamente. Superioridade está apenas no imaginárioa abolição? Como ela é vista socialhoje a seus direitos?” questionou.

É relevante saber como surgiu A socióloga Anna Kristyna econômico do colonialismo. Basta A antropóloga e integrante do Como enfrentamento a esta esse modo de enxergar a outra Araújo da Silva Barbosa conta que ver que os países que serviram de Grupo de Pesquisa em Saúde, Socie- prática, ela reforça que o pri- pessoa de forma excludente, menor, a presença do racismo, sobretu- colônias, em sua grande maioria, dade e Cultura (Grupesc) na UFPB, meiro passo é assumir que existe com total ausência de empatia ou do no Ocidente, está atrelada ao ainda são os países menos desenvol- Uliana Gomes da Silva, ressaltou racismo, que há indivíduos e respeito. O racismo está longe de colonialismo, que se desdobra no vidos ou seguem em algum nível de que falar sobre racismo no Brasil práticas racistas. “Se não houver ser algo nato. Pelo contrário, ele pre- capitalismo. dependência em relação aos países é analisar como a sociedade está um investimento, uma luta contra cisa ser entendido como um sistema “O racismo precisa de condi- colonizadores”, destacou Kristyna. estruturada na sua base de funcio- essas posturas, vamos entrar em que foi construído e desenvolvido ções materiais para seu desenvol- Ou seja, o sentimento de sub- namento. O assunto demanda uma decadência, porque o racismo histórico e socialmente. vimento e o advento do capitalis- jugar o outro, a ambição exagerada complexa reflexão sobre direitos, o está atrelado às crises políticas e mo surge desse sistema racial e e a postura de dominação concor- imaginário social, o lugar do negro econômicas. Além de desenvol- Foto: Arquivo Pessoal rem para o racismo. No entanto, a que a sociedade costuma definir, a ver projetos que vai contra essa socióloga ressalta que é importante construção desse imaginário e da prática, o tema deve ser uma das O racismo precisa circunscrever o racismo historica- desumanização da pessoa negra. pautas essenciais dos governan- mente. “Pois as relações raciais têm De acordo com ela, o racismo existe tes, e precisa estar inserida na de condições materiais suas especificidades de acordo com para continuar perpetuando a lógica educação, na formação política do o contexto analisado, mesmo tendo da escravidão, de uma raça superior cidadão, nos seus direitos”, frisou para seu desenvolvimento nexos entre as formas”. a outra. a antropóloga. e o advento do capitalismo surge desse sistema racial e econômico do colonialismo Anna Kristyna Pensar Edição: Jorge Rezende Editoração: Lênin Braz 22 AUNIÃO João Pessoa, Paraíba - DOMINGO, 19 de julho de 2020 Fotos: Pixabay

Perpetuidade de uma “mancha” que precisa acabar Há grupos que se fecham em um reduto irracional e insistem em serem melhores que outros de sua espécie

Alexsandra Tavares só observar as doutrinas dessa per- ção da população negra, sendo um prios privilégios, mas também lutar É possível uma sociedade onde as [email protected] cepção de mundo que surgem no exemplo importante a Lei de Proi- contra essas estruturas”. pessoas negras possam escolher a século XIX que legitimaram, cien- bição da Capoeira no Código Penal forma de trabalho? Se houver essa Os seres humanos são cons- de 1890 no Brasil, além da perse- sociedade sem racismo, a antropó- possibilidade, é possível ter uma so- tituídos do mesmo material bio- guição às expressões religiosas loga Aoe integrante refletir sobre do Grupo uma possívelde Pes- ciedade sem racismo”. lógico, pertencem a uma mesma tificamente,acreditavam, a porhierarquia exemplo, racial que e oa afrodescendentes. Triste ver que quisa em Saúde, Sociedade e Cultu- “Mas enquanto tiver uma socie- espécie, dependem das mesmas eugenia.tamanho Teoriasdo crânio cientificistas era um indica que- essas perseguições não cessaram ra na UFPB, Uliana Gomes da Silva, dade capitalista, neoliberalista, que condições para sobreviver, têm o tivo de superioridade racial de um nos dias atuais”, declarou. responde com alguns questiona- naturalize esse lugar do negro, que mesmo ciclo reprodutivo, são do- grupo em relação a outro”. Apesar de as pessoas convive- negue o racismo e que não pare para A antropóloga e doutora em rem até hoje com a herança do ra- sem desigualdade social? É possível seres semelhantes. Mas por que há Ciências Sociais Patrícia dos Santos mentos:uma sociedade “É possível em que uma a mídiasociedade não o racismo, eu diria que é impossível. E tadosgrupos deque inteligência, se fecham em enfim, um redu são- Pinheiro lamenta que essa forma de atualmente temos medidas inclusi- se alimente do imaginário social refletirdiria mais sobre ainda, essa uma complexidade sociedade queonde é to irracional e insistem em serem enxergar e tratar o outro ainda se cismo,vas e repressivas a antropóloga que tentam afirmou com que- que é criado sobre o negro? É possí- - melhores que outros de sua espé- bater essa postura. Dentre as in- vel uma sociedade cracia”, completou Uliana. cie? Séculos e séculos passam e do século XXI. Segundo ela, mesmo clusivas, Patrícia destaca as ações que valori- o racismo é aflorado nãoFoto: existe Arquivo demo Pessoal essa atitude é transferida às novas repitaapós decretada no final daa abolição segunda da década escra- ze vidas gerações, mantém-se presente, não vatura, em 1888, não houve ações raciais em universidades e concur- ne- importa os avanços tecnológicos, efetivas para uma alteração nas es- afirmativassos, políticas e de de permanência, reparação: cotasvalo- gras? truturas escravocratas da sociedade rização da história afrodescenden- Hoje em dia se fala conquistados. ou para a quebra desse “ideal bran- te, reconhecimento das injustiças e muito que não basta não científicos,Será que políticos, jamais educacionaisas pessoas co”. A realidade, foi bem outra. reparação da memória silenciada. conseguirão extinguir essa “man- Patrícia Pinheiro enfoca que, Já as medidas repressivas dizem ser racista. Devemos, sim, cha” que se perpetua nas relações por um lado, houve uma tentativa respeito à aplicação da Lei 7.716/89 interpessoais? A socióloga, cien- sistemática de silenciamento das (Lei Caó), contra o crime de racismo, sermos antirracistas. Ou tista social e integrante do Grupo heranças afro e indígenas – por e do Código Penal, que dispõe tam- seja, omissão também é de Estudos e Pesquisas em Pensa- vezes somente folclorizadas. “E bém sobre o crime de injúria racial. mento Social e Político Brasileiro, por outro, na prática, esbarramos “Para além das instituições, hoje em racismo da Universidade Federal da Para- com as condições socioeconômi- dia se fala muito que não basta não íba (UFPB), Anna Kristyna Araújo cas que seguiam criando abismos, ser racista. Devemos, sim, sermos Patrícia Pinheiro da Silva Barbosa, enfoca que o ra- sem nunca ter havido uma real ten- antirracistas. Ou seja, omissão tam- cismo tem sempre um conjunto de tativa de mudá-las. Soma-se a isso bém é racismo. Ser antirracista im- teorias e crenças que o sustente. “É a ação estatal, com a criminaliza- plica ir além de reconhecer os pró- Uma sociedade que aumenta a discriminação racial ruma para um precipício “Uma sociedade que aumenta pluralismo étnico que nos constitui, temática, atua como uma constante o racismo não é “um tipo de vírus”, esferas da sociedade – relações a desigualdade social e a discrimi- deixamos de lado uma educação desorganização e estigmatização mas um fenômeno sociopolítico. essas baseadas na dissemelhança nação racial ruma para um precipí- cidadã e intercultural, aumenta-se das modalidades de existência, “Ele é estrutural e estruturante por entre humanos, uma herança do cio”. A afirmação é da antropóloga e o sentimento de injustiça e desagre- como forma de incluir ou afastar apresentar relações em diferentes processo colonial”. doutora em Ciências Sociais, Patrícia gação”, acrescentou. grupos e indivíduos. “Isso tem um dos Santos Pinheiro. Ela explica que Para ela, com exceção de uma impacto profundo para indivíduos e o racismo traz inúmeros prejuízos parcela muito restrita da sociedade, coletividades. Afinal, como conviver à população negra e à sociedade que recebe desproporcionalmente o com isso?”, pergunta. ‘Dia Nacional de Tereza de Benguela’ como um todo. “A qualidade de vida fruto desses privilégios, a sociedade Esses impactos estão presen- da população se deteriora, apagam- em geral sai perdendo. Os efeitos tes no desenvolvimento da po- A cultura negra, suas raízes, história, valores, direitos devem se as ricas contribuições de um dessa prática na formação do in- pulação negra, desde a infância, ser transmitidos com o devido enfoque, e as transmissões dessas Foto: Arquivo pessoal divíduo, que é alvo do racismo, passando por toda sua evolução informações precisam ir além do calendário racial, começando na envolvem uma série de como pessoa. “Inadmissível é educação de base. “Toda criança tem o direito de saber, seja pela delimitações sobre saber que ainda há crianças que literatura, artes, história e em outras disciplinas que, dentre seus Não pode ser normal os modos de ser e negam sua prática religiosa de ancestrais, há diversas heroínas como a Tereza de Benguela – a estar no mundo. matriz africana temendo agres- ‘Rainha Tereza’”, afirmou Luzitana dos Santos, professora e ativis- que pessoas que se dizem Ao citar sões físicas, mesmo que essas ta no Movimento de Mulheres Negras na Paraíba. Franz Fanon, aconteçam depois de sair da No dia 25 de julho é celebrado o ‘Dia Nacional de Tereza de um impor- escola. Igualmente, não pode ser antirracistas façam Benguela e da Mulher Negra’. A “Rainha Tereza” foi uma lide- tante psi- normal que pessoas que se dizem rança quilombola em Guaporé, próximo à fronteira do estado do escolhas voltadas para o quiatra antirracistas façam escolhas volta- martinica- das para o privilégio exclusivo da Mato Grosso com a Bolívia. Sob a liderança da “Rainha Tereza”, privilégio exclusivo da no, Patrícia branquitude, inclusive nos currí- a comunidade negra e indígena resistiu à escravidão por duas branquitude, inclusive nos Pinheiro culos escolares”, salientou Maria décadas, sobrevivendo até 1770. afirma que Luzitana Conceição dos Santos, A data comemorativa é chancelada pela Lei 12.987/2014. currículos escolares o racismo, professora adjunta no Campus IV “Uma criança branca, indígena ou asiática precisa ser ensinada sobre a cultura e os valores afro-brasileiros que constituem a cul- Maria Luzitana como par- da UFPB, e ativista no Movimento te de um de Mulheres Negras na Paraíba. tura deste país. E não se pode ter uma ou duas datas para fazer conjunto da Luzitana dos Santos afirma que, isso”, frisou Luzitana. opressão sis- ao contrário do que se possa pensar, Pensar Edição: Jorge Rezende Editoração: Lênin Braz João Pessoa, Paraíba - DOMINGO, 19 de julho de 2020 AUNIÃO 23

Foto: Reprodução

Episódios como o A genealogia assassinato de George Floyd da intolerância demonstram que o racismo é a chaga que sustenta as racial hierarquias sociais

Dina Melo “A violência policial, tanto lá base do novo imperialismo no con- [email protected] quanto aqui, é histórica e tem cor. tinente africano pelas nações eu- Querer achar que o ocorrido nos ropeias, do apartheid na África do Foto: Arquivo pessoal Assistir à eclosão incendiária Estados Unidos e o que acontece Sul, do segregacionismo nos Esta- do movimento ‘Black Lives Matter’ nas favelas brasileiras não têm dos Unidos e do racismo no Brasil”, A violência policial é (do inglês, ‘Vidas Negras Impor- conotação racial é, no mínimo, tam’), que varreu com protestos vá- falsear a realidade”, sentencia o Paralelamente, ele diz, emer- histórica e tem cor. Querer rios pontos dos Estados Unidos em historiador Pedro Nicácio Souto, exemplificagiam duas correntes: Souto. o determinis- achar que o ocorrido nos maio e junho deste ano, remete-nos da Universidade Federal de Cam- - ao questionamento: em que ponto pina Grande (UFCG). Qual a ori- vel pela evolução das pessoas) e Estados Unidos e o que acontece da história vidas negras passaram gem do ódio racial? Antes de tudo moo racial geográfico (havia (oraças meio puras, é responsá por- a importar? E para quem, e em que é preciso voltar no tempo e abrir tanto, superiores). “As teorias nas favelas brasileiras não têm medida? Qual limiar separa o papel o contexto. raciais pregavam, entre outros do negro dentro das cadeias produ- Os evolucionistas sociais, ba- aspectos, que alguns grupos não conotação racial é, no mínimo, tivas que, secularmente, o relega- seados na concepção de Charles poderiam evoluir. Há, portanto, falsear a realidade ram a uma posição de exploração, Darwin (1809-1882), passaram a uma hierarquização da sociedade subserviência e produto para o de aplicar as teorias de seleção natural inserção – e posterior insurgência – à compreensão das relações huma- morais, e cujo modelo é a Euro- diante de barbáries como a de um nas e suas organizações sociais. “É baseadapa. No Brasil, nos caracteres como não físicos tínha -e Pedro Nicácio - como se algumas sociedades que mos uma percepção birracial, rança até a morte com o joelho so- estivessem em atraso devessem ser optamos pela tese do branquea- policialbre o seu branco pescoço? asfixiando um segu suplantadas por outras. Esta foi a mento”, compara. Nacionalismo branco e reação radical Crises mundiais: o germe do ódio Ku Klux Klan e neonazistas são habitadas por negros. A partir espaços (acesso irrestrito a bair- células que dão voz a supremacis- da década de 1920, passaram a ros, ônibus e escolas) e se prote- “Não é acaso que o avanço das ideologias e movimentos tas brancos no mapa da intolerân- incendiar cruzes, o que ampliou o ger contra as investidas racistas políticos de extrema-direita coincida com momentos de profunda cia norte-americana e europeia, ar ameaçador da organização. O violentas, incorporadas especial- crise: seja econômica, social, política ou de valores. São terrenos respectivamente. Como pontos nome foi inspirado em uma palavra mente pelas forças policiais. Nes- férteis para a busca de bodes expiatórios. Foi assim entre a Pri- convergentes, têm ideais fascistas do idioma grego, kyklos (que signi- se contexto surgiram, em 1966, meira e a Segunda Grandes Guerras, quando grupos humanos e condenam a miscigenação que, fica círculo), adaptada para Ku Klux os Panteras Negras, em Oakland, inteiros – judeus, ciganos, comunistas, socialistas, deficientes segundo defendem, é causa de e adicionada à expressão Klan, em na Califórnia. Assumidamente ra- – foram exterminados em nome de uma suposta supremacia todos os problemas sociais. Apesar referência a clan (“clã”, em inglês). dicais, os Panteras reivindicavam branca e ocidental”, analisa o historiador Luciano Mendonça de causar alarde, esses extremistas A Klan, que chegou a contar o direito às armas para combater de Lima, da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). não congregam a maior parte dos com 4 milhões de seguidores em as agressões, na esteira dos mo- “Hoje, quando mais uma vez o mundo está mergulhado racistas, que preferem não se filiar seu auge, não passa hoje de 5 a vimentos civis por igualdade en- em uma de suas maiores crises, projetos neofascistas (repre- a grupos organizados. 8 mil membros, espalhados em 72 cabeçados por Martin Luther King. sentados, por exemplo, pelos governos de Trump e Bolsonaro) A KKK surgiu no Tennessee, no células. O enfraquecimento deve- O que havia começado com reaparecem com força na cena contemporânea, desta vez século XIX, logo depois da Guerra se a dois fatores: tanto ao moni- pequenas ações intimidatórias contra pobres, negros, mulheres, homossexuais, indígenas e Civil Americana (1861-1865) com toramento pelo governo norte-a- como resposta aos supremacistas imigrantes”, pontua. o propósito de perseguir, espan- mericano, por um lado, quanto ao ganhou status de partido, com O ódio encontra alvos ligeiros para os problemas de uma car e assassinar negros libertos e surgimento de outras organizações ideais marxistas e anticapitalistas, nação quando esta não aprende com os erros do passado – e defensores dos direitos civis para extremistas, por outro. No fim, o e pautas sociais abrangentes volta- assim se perpetua um ciclo, não importam as fronteiras. “Nós os afro-americanos. Era composta ódio racial segue espalhando seus das para a população negra, prin- tivemos uma abolição da escravatura absolutamente limitada. por ex-combatentes brancos de boa tentáculos de intolerância – desta cipalmente na área da educação Os egressos do cativeiro continuaram sem-terra, teto, educação condição financeira (os confedera- vez também contra LGBTs, judeus, sob a perspectiva inclusiva. A boina formal, sem cidadania. Tivemos uma abolição de cima para dos), inconformados com a derrota imigrantes e antiliberais, conforme preta e os punhos cerrados para baixo. Os índices tristes da população negra hoje mantêm re- que lhes garantia o direito sobre os direitos dessas minorias são cima eram os símbolos do movi- lação direta com a escravidão e uma pós-abolição malfeita. No terras e o trabalho escravo. reconhecidos. mento. A reação radical levou à Brasil, quem ocupa os piores cargos? Quem habita as favelas? Ficou muito conhecida pelos Como o fim da Guerra de morte muitos panteras até Quem ocupa as prisões? Ser negro no Brasil é, antes de tudo, trajes macabros que lhes cobriam Secessão acirrava o antagonismo que, em 1982, resistência”, arremata o professor Souto. a identidade, pelos rituais de enfor- racial nos Estados Unidos, os ne- o partido se camentos públicos e por promover gros sentiam a necessidade dissolveu. Foto: Arquivo pessoal incêndios criminosos de ocupar em casas antes antigos Não é acaso que o avanço das ideologias e movimentos

Foto: David Fenton/Getty Images políticos de extrema-direita coincida com momentos de profunda crise: seja econômica, social, política ou de valores Luciano Mendonça Foto: Julian Myles/Unsplash Pensar Edição: Jorge Rezende Editoração: Lênin Braz 24 AUNIÃO João Pessoa, Paraíba - DOMINGO, 19 de julho de 2020

Alma não tem cor? Num mundo racista, educação, religião e pobreza têm...

E não é colorida

Iluska Cavalcante racionalizado. O racismo não só está Secretaria da Mulher e do Desenvol- importante que ajudou a disseminar sistema de comunicação reforçan- [email protected] relacionado com a falta de caráter esse discurso de ódio: a mídia. Na do muito isso, com o que eu chamo ou problemas psicológicos, como sociedade foi dividida entre culturas Paraíba, por exemplo, alguns progra- Educação, religião, pobreza ou muita gente deixa a entender, ele é vimentotidas como Humano, inferiores Roberto e tidas Silva, como a mas de televisão, em busca de audi- até mesmo um lugar, tem cor? O um sistema extremamente racional, superiores. “Os inferiores são os ência, têm estereotipado a imagem dehomens, categoria e tem produzida: cor, ele é ospreto; ‘môfios’. tem racismo levou a população negra à que impede que essa população ne- negros, os quilombolas, índios, ciga- do jovem periférico. “O sistema todo Esse ‘môfio’ tem sexo, porque são- margem da sociedade, estrutural ou gra tenha acesso ao básico que pre- nos, a cultura dita como subalterna é racista, mas a polícia faz essa sele- institucional, esse mal tem afetado cisa para sobreviver”, disse. e menores que a cultura europeia, ção. Se tornou natural ela ter aque- umcolaborando perfil de modocom esseque eleextermínio é identi diversas bases da sociedade e a divi- Apesar de se expressar muitas norte-americana e branca, implan- e aí nós ficado:do povo ‘lá negro”, vai môfio’. disse Com Roberto isso Silva.estão dindo de acordo com a cor. Cerca de vezes de forma simples, dentro do tada aqui no Brasil como referência temos o Foto: Arquivo Pessoal 73% da população que recebe bolsa cotidiano, através de frases reprodu- e padrão, inclusive religiosos”. le perfil produzido, família é preta ou parda, segundo zidas diariamente, como ditados po- Ele explicou que a desvaloriza- dados de 2014 do Ministério do De- pulares do tipo “a coisa está preta”, a ção da cultura africana, colocando-a O racismo não só senvolvimento Social. Além disso, a manifestação do racismo chega a ser em um patamar menor de qualida- grande maioria dessas pessoas não muito mais grave. Principalmente de, inclusive quando o assunto é a está relacionado com a consegue chegar às universidades. dentro das comunidades e perife- religião, gera consequências em to- As “religiões de brancos”, como o rias, a violência policial é uma das das as áreas da sociedade, na eco- falta de caráter ou cristianismo, são a de maior desta- consequências desse ato. “Todo ho- nomia, criminalidade, na violência, problemas psicológicos, que e mais bem aceitas. E o que di- mem negro é dito pela polícia como educação e vulnerabilidade social. zer dos lugares mais periféricos das marginal, essa é a institucionaliza- “Essa população vai sendo colocada como muita gente deixa cidades? Lá também há uma cor pre- ção do senso comum, desse racismo à margem da sociedade por conta dominante. que está ali nas brincadeiras, mas de todo esse direcionamento que a entender, ele é um Para explicar o motivo é neces- acaba indo para a polícia como uma foi atribuído a esses públicos. É fato sistema extremamente norma. Se um homem negro morre o racismo no Brasil desde o período ocupa os piores índices de desen- racional sárioimperial. voltar O muitosativista anos do emovimento identificar como uma pessoa vinculada ao trá- confirmadovolvimento quehumano. a população A população negra negro, professor e pesquisador Da- na periferia a sua morte é justificada negra é a maioria quando se trata de Danilo Santos nilo Santos explicou que essa prática de extermínio, de matança da popu- empregos informais, por exemplo”. acabou ditando as relações sociais fico.lação Há negra vários como exemplos um todo”, cotidianos ressal- Dentro da violência que ocorre dos dias atuais. “O racismo vai se tou o ativista. nas comunidades e periferias, com - De acordo com o coordenador mortes diárias principalmente de cesso histórico cada vez mais sendo da Gerência de Equidade Racial da homens jovens e negros, há um fator configurando no decorrer do pro Intolerância religiosa e a “norma branca” Foto: Arquivo Pessoal É fato confirmado A rejeição da cultura ne- aconteceria? Mas o crucifixo “É comprovado que a religião é gra também se estende para não gera desconforto nenhum, uma estratégia de reunir e for- que a população negra as religiões de matriz africa- é a norma. É a religião norma- talecer o povo e eliminar isso é ocupa os piores índices de na. O gerente de Equidade tiva de espiritualidade para que uma estratégia de enfraquecer Racial do Estado, Roberto todos sigam. Aquilo que foge à aquele povo. É comum a gente desenvolvimento Silva, ressaltou que há as norma é dito como de menor ver que pessoas andam na rua humano. A população religiões de maior prestí- prestígio. Eles precisam des- com suas vestes que você vê e gio dentro da sociedade, qualificar a religião do outro, identifica o segmento religioso negra é a maioria onde a Umbanda, o Can- no caso a afro, negra ou indí- da pessoa, como uma bíblia quando se trata de domblé e a Jurema, por gena, a fim de afirmar aquela ou um crucifixo, que remetem exemplo, ficam à margem. religião dita como aceita para às religiões cristãs. Mas se empregos informais “Se a sociedade ostenta uma a sociedade”. você usar algo que remete à religião, inclusive você tem Roberto Silva explicou que religião afro nas ruas, não é Roberto Silva crucifixos em muitas institui- desmerecer a religião de um visto da mesma forma. Você vai ções públicas, por exemplo, povo é uma forma de tentar en- observar reações como ‘miseri- imagina se colocar um Exu fraquecê-lo. Esse preconceito se córdia’, ‘está amarrado’, essas na porta de entrada... Que estende para a forma de vestir. expressões, entre outras”.

Acesso à educação

Ainda na época do período apresenta a partir da perspectiva 13 de maio, por exemplo, onde da escravidão, a população ne- da população branca europeia. uns comemoram como data da gra foi impedida de ter acesso à Se você parar e ver os livros, abolição, mas nós temos outra educação. Não apenas por não essa perspectiva vai apresentar a leitura disso. Se resume como conseguirem ser educados, mas população negra apenas como o uma data comemorativa, mas também porque eram impedidos. escravizado, como se a população não é o que a lei diz”. O estado brasileiro criou uma negra não tivesse história antes Além disso, dentro da edu- lei, em 1837, onde negros eram da escravidão e nem depois da cação, ainda são poucos autores impedidos de frequentar a escola. escravidão”, disse. negros que produzem obras O ativista do movimento negro Apesar da Lei 10.639/03 de acadêmicas ou que conseguem Danilo Santos explicou que essa, 2013 tornar obrigatório o ensi- chegar a profissões como médicos entre tantas outras leis, como a namento da história e da cultura ou advogados, por exemplo. “Se que impedia a população negra afro-brasileira nas escolas, dificil- você ver conteúdos nas escolas de ter direito a terras, após a mente esse conhecimento é pas- e ele não é nem indígena, nem abolição, trouxe graves conse- sado. Segundo explicou o gerente africano, então ele tem nome, quências que são manifestadas de Equidade Racial do Estado, o ele é da Europa. A nossa escola nos dias atuais. ensino desse conhecimento nas é muito branca. Quais são os Ele ressaltou outro problema escolas é raro e quando acon- autores negros e negras que dentro da educação brasileira, tece é de forma superficial. “Foi produziram livros? E aí vem o onde a perspectiva negra não é preciso uma lei para que esse racismo estrutural, porque não passada nas aulas de história. conteúdo fosse passado e ainda tem estranhamento o fato de “Impede que a gente apresente assim não é passado. Para não serem sempre brancos, a gente a história a partir da perspecti- dizer que o conteúdo é dado, as normaliza. Essa é a perversidade, va da população negra, só nos escolas fazem uma palestra, no naturalizar”.