JORNAL Edição 5 - Ano 2016 - Casa do Patrimônio da CASA DO PATRIMÔNIO

Babau: o teatro de bonecos popular da Paraíba

Saberes, fazeres, expressões e celebrações Tema da edição - p. 6 Mestre Inaldo (São José dos Literatura de Cordel: caminhada para o reconhecimento como Ramos/PB) e seus bonecos. patrimônio cultural do Brasil - p. 2 Foto: Amanda Viana. Cidade e Patrimônio Cultura Popular de Pombal: expressão cultural paraibana - p. 4 Relicário da memória Iphan-PB promove ações de preservação em Cabedelo e Pitimbu - p. 8 Cultura em ação O início do processo de salvaguarda da capoeira na Paraíba - p. 10 Aprendiz de turista: viagem de Mario de Andrade à Parahyba - p. 12 Saberes, fazeres, expressões e celebrações

Literatura de cordel: caminhada para o reconhecimento como patrimônio cultural do Brasil

Rosilene Alves de Melo (UFCG)

No ano de 2010, a Academia pelo Iphan que irá analisar o pedido de Agostinho Nunes da Costa e seus Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC) registro. Este acontecimento representará descendentes transformaram a cantoria apresentou ao Iphan pedido de registro o reconhecimento governamental de uma num espetáculo popular. Cabe registrar da literatura de cordel como patrimônio arte que a sociedade brasileira já legitimou que as mulheres também abraçavam cultural imaterial do Brasil. O Centro como patrimônio. a viola e as cantadoras Zefinha do Nacional de Folclore e Cultura Popular Chabocão, Chica Barosa, Teresinha A partir do cordel, é possível mergulhar (CNFCP) foi convidado a articular a rede Tietre, Maria de Lourdes, Vovó Pangula no universo pessoal do poeta e, ao mesmo de informações relacionadas ao cordel instituíram a autoria feminina na poética tempo, observar como ele representa e desde então coordena as ações para de improviso. a sociedade e o tempo histórico em encaminhamento do registro. Neste que vive. Assim o cordel se tornou uma A literatura de cordel possui sentido, as histórias de vida dos poetas, literatura ficcional, um registro histórico características editoriais próprias. Os o ofício, a arte e o engenho da feitura dos acontecimentos e uma prática cultural. folhetos são publicados no formato de do cordel estão sendo documentados 10 por 15 centímetros, em papel jornal, e uma ampla pesquisa que está em O cordel tem uma forte relação com com número de páginas múltiplo de andamento revelará o “retrato” da a cantoria de viola, como o repente. 4, o que significa dizer que os folhetos literatura de cordel na atualidade. O Na Serra de Teixeira, sertão da Paraíba, em geral possuem 4, 8, 16, 32 páginas, resultado deste trabalho será apreciado ao final do século XVIII, a família de

2 casadopatrimoniojp.com casadopatrimoniojp.com sucessivamente, recurso que se obtém dobrando uma folha de papel de 30 por 20 centímetros ao meio e em seguida na margem esquerda. As capas dos cordéis trazem informações editoriais importantes para os leitores: título, autor, preço, e, em alguns casos, editora/tipografia onde foi impresso. As capas apresentam uma imagem - fotografia, desenho, clichê ou xilogravura – que condensa a trama da narrativa em verso.

Ao final do século XIX, a literatura de cordel começou a se forjar como um sistema editorial que se beneficiou do surgimento da imprensa. O poeta Leandro Gomes de Barros (1865-1918), ao se instalar no Recife com a Tipografia Perseverança, foi o primeiro editor e autor de folhetos de cordel no Brasil a viver exclusivamente desta atividade. É nesta fase que o cordel passa a discutir a vida urbana, a modernização, o cangaço, a política. O cordel se espalha por todo o país e sai do anonimato. Romances, crimes, acidentes, secas, enchentes, guerras, moda, costumes. Multiplicam-se as editoras especializadas na publicação de folhetos. O cordel se firma como uma crônica diária dos acontecimentos e hoje se constitui em documentação fundamental para análise histórica.

Este é um dos desafios do Iphan: a dimensão nacional que o cordel assumiu exige um grande esforço para inventariar o presente sem esquecer o passado e a multiplicidade de aspectos envolvidos. Os primeiros resultados da pesquisa demonstram que o cordel não é uma prática cultural ameaçada de extinção; porém, o reconhecimento como patrimônio imaterial permitirá a elaboração de políticas públicas que garantam o acesso democrático das futuras gerações a esta arte.

Poetas discutem com o Iphan registros do cordel e do repente como patrimônio imaterial. Foto: Alexandre Jaco. Embaixo, cordéis vendidos na feira de Mangabeira. Ao lado, córdeis vendidos no Mercado de Artesanato de Tambaú. Fotos: Paola Bonfim.

casadopatrimoniojp.com casadopatrimoniojp.com 3 Cidade e Patrimônio

Cultura Popular de Pombal: expressão cultural paraibana Suelen de Andrade Silva (PEP-Iphan)

Situada a 387 km de distância da representa apenas uma pequena parcela torno da Igreja de Nossa Senhora do capital paraibana, Pombal guarda uma da multiplicidade e riqueza que são Rosário dos Pretos, onde os devotos rica herança da cultura popular do Estado, originárias do município de Pombal, podem assistir às celebrações religiosas, a qual chamou e ainda vem chamando a refletidas aqui. usufruir dos parques, degustar as atenção dos mais diversos olhares, seja de comidas típicas de festas do interior e Através da observação da realização admiradores ou mesmo pesquisadores, assistir às apresentações dos grupos de das manifestações culturais no município até mesmo do poeta e escritor Mário de cultura popular. de Pombal, percebemos a relação entre Andrade. Sua singularidade é expressa esse universo e que sua centralidade se Sobre a Igreja do Rosário, por meio do legado da cultura negra, faz por meio da Festa de Nossa Senhora curiosamente, quando construída, foi constituída pelos grupos dos Congos do Rosário dos Pretos. Por ser tão dedicada a Nossa Senhora do Bom da Confraria da Irmandade do Rosário e representativa, a Festa de Nossa Senhora Sucesso, indicando o sucesso da conquista Pontões, manifestados durante a Festa do Rosário chega a se sobrepor aos do território, posteriormente com a de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, festejos da padroeira da cidade, Nossa construção de uma matriz em maior a qual atrai diversas pessoas de todo o Senhora do Bom Sucesso, e a festa de tamanho. No ano de 1872, a pequena Estado da Paraíba. A Igreja, em estilo emancipação do município. Ela ocorre no igrejinha foi reivindicada para os ritos da barroco e dedicada a Nossa Senhora do início do mês de outubro, com duração população negra e pobre que não tinha Rosário dos Pretos, construída em 1721, de dez dias, quando é celebrada a festa espaço na matriz dos ricos e brancos. Com marca o esboço do traçado urbano religiosa e a festa profana. A abertura a instituição da Irmandade do Rosário em da cidade logo após a conquista dos se faz com a celebração religiosa, onde 18 de julho de 1895, consolidou-se a Festa portugueses sob o território indígena. é realizada a procissão do rosário, o do Rosário como um espaço de pretos, Segundo a historiografia tradicional, qual é levado pela Congregação da brancos, pardos e todos que desejassem hoje também é símbolo da resistência Irmandade e acompanhado pelo grupo cultuar a santa, dando início ao fim das dos negros e representa o espaço de dos Negros Pontões. Os festejos são segregações naquele espaço. festividades religiosas e profanas ligadas realizados no espaço físico que fica em a ela. Esse conjunto de manifestações A tradição negra no sertão da Paraíba também é representada pela Congregação da Irmandade do Rosário. Ela existe em várias partes do país, sendo originada das missões religiosas portuguesas no período de colonização na África. Sua presença é registrada desde o século XVII, representando a cooperação entre os escravos, para o culto religioso (cristão/ católico), a Nossa Senhora do Rosário. No Brasil, as Irmandades eram responsáveis pela coroação de reis negros, que tinham em alguns casos papel político e devoção religiosa.

O grupo dos Congos também tem origem na encenação de culto africano.

4 casadopatrimoniojp.com casadopatrimoniojp.com Festa do Rosário de Pombal, 2014. Foto: Acervo Iphan/PB. Ao lado, foto antiga da festa do Rosário de Pombal com destaque para o grupo dos Negros dos Pontões. Foto: Acervo Verneck Abrantes.

Nele podemos observar a presença de por lanceiros, guiados por seu chefe, são os agentes produtores de tal riqueza uma corte, composta por rei, secretário, e acompanhados ao som de banda cultural e integrantes dos grupos citados embaixador e os súditos, trajando roupas cabaçal. Também usam trajes de cores anteriormente. Nota-se na fala das azuis, brancas e vermelhas, calças largas e azuis e vermelhas, com lanças na mão pessoas, sejam elas participantes da chapéus em forma de cones. Os cânticos constituídas de bastões com um maracá comunidade local ou mesmo visitantes, a e seus diálogos continuam os mesmos de na ponta. Seguem seus trajetos em duas vontade de que existam medidas para a sua origem, verificado também na época fileiras, realizando dança e seguindo seu proteção e preservação da cultura local. em que as missões folclóricas de Mário chefe. Podemos destacar também, ainda A observação da prática social e dos de Andrade passaram pelo município e atreladas ao lugar da Festa de Nossa contextos vivenciados durante a festa registraram a manifestação. Senhora do Rosário dos Pretos, outras nos mostra o quanto as manifestações manifestações culturais, como a presença são representantes da memória e Os Negros Pontões, também de do Reisado, do Boi e da Burrinha. identidade do lugar e significante para tradição africana, representam uma a comunidade, por isso é imprescindível espécie de guarda do Rosário e da As comunidades quilombolas, Rufino fomentar as práticas que prezem pela Congregação da Irmandade, sempre e Daniel, representam os núcleos de preservação da cultura popular local para os acompanhando durante os trajetos resistências e permanência dos negros as gerações futuras. e procissões da festa. São compostos no Sertão da Paraíba, cujos membros

casadopatrimoniojp.com casadopatrimoniojp.com 5 Tema da edição

Babau: o teatro de bonecos popular da Paraíba Amanda de Andrade Viana (ONG Cia Boca de Cena)

O teatro de bonecos popular do Brasil sociedade de bonecos onde todas as utilização do termo “Mamulengo” não tem suas referências iniciais no período personagens têm suas funções específicas. contemplaria as diferenciações apontadas colonial, através da chegada dos europeus Acreditamos que esta popularização e pelos mestres dos outros estados, além ao nosso continente, especificamente no generalização do termo “Mamulengo” se de Pernambuco. Nordeste do país. As primeiras encenações deu pelo fato de que os primeiros livros Da solicitação ao processo de estariam relacionadas a representações publicados sobre a linguagem teriam pesquisa e análise do dossiê, passaram- do nascimento de Cristo e, com o passar sido feitos por pernambucanos, onde tal se onze anos de muita espera, até que dos anos, foram mescladas ao cotidiano nomenclatura tem sua origem. no dia 05 de março de 2015, durante das pessoas e suas culturas locais, Mamulengo em Pernambuco, Babau a 78ª reunião do Conselho Consultivo incorporando outras expressões populares na Paraíba, João Redondo no Rio Grande do Patrimônio Cultural em Brasília, o aos contextos cênicos, como o Bumba do Norte e Cassimiro Coco no Ceará são Teatro de Bonecos Popular do Nordeste meu Boi, o Pastoril e o Cavalo Marinho. as variações de nomes dadas ao teatro de foi aprovado, por unanimidade, como De acordo com algumas pesquisas, o bonecos do Nordeste, reconhecido pelo Patrimônio Cultural do Brasil e inscrito nome “Mamulengo” é a nomenclatura Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico no Livro de Formas de Expressão do mais conhecida na identificação desse tipo Nacional – Iphan como um Patrimônio Patrimônio Cultural Brasileiro. de teatro no Brasil, principalmente por Cultural Brasileiro. pesquisadores das regiões Centro-Sul. Na Paraíba Sobre o Patrimônio Porém, aqui na Paraíba, o nome dado A pesquisa no Estado teve a Sob a urgência da preservação e pelos bonequeiros populares a este tipo coordenação de Amanda Viana - manutenção dessa manifestação artística de teatro é “Babau” que, segundo Mestre pesquisadora especialista na arte em sua plenitude, no ano de 2004, a Clóvis, da cidade de , é uma bonequeira da Paraíba, com o suporte Associação Brasileira de Teatro de Bonecos dos pesquisadores Luiz Silva, Jacqueline (ABTB – Centro UNIMA – Brasil) deu Alves Carolino, Bia Caclini e do entrada ao pedido de registro do teatro de bonequeiro Artur Leonardo, diretor da bonecos popular do Nordeste com o título Cia Boca de Cena, além da orientação de “Mamulengo – Teatro de Bonecos e supervisão da coordenadora geral Brasileiro como Patrimônio Imaterial”, pois Professora Doutora Izabela Brochado, vários fatores (econômicos, socioculturais da Universidade de Brasília - UnB e do e históricos) estavam contribuindo para Departamento de Patrimônio Imaterial o rápido desaparecimento de muitas do DPI/Iphan. manifestações populares, sobretudo o teatro de bonecos nordestino. O trabalho foi desenvolvido nas cidades de João Pessoa, Bayeux, Cabedelo, Sapé, Em 2008 o processo foi instaurado, Mari, Guarabira, , São José dos sendo agora definida oficialmente a Ramos, , Solânea, Lagoa de denominação do Bem como “Teatro Dentro, Caldas Brandão e Mogeiro. de Bonecos Popular do Nordeste – Mamulengo, Babau, João Redondo, Durante a pesquisa foram identificados Cassimiro Coco”, uma decisão coletiva quinze bonequeiros vivos e atuantes, baseada nas discussões entre a ABTB, o dentre os quais, atualmente, três Iphan e especialistas que identificaram que faleceram e outros não mais praticam o muitos bonequeiros não se reconheciam ofício, seja por motivos de idade, saúde ou como “mamulengueiros” e apenas a opção religiosa.

6 casadopatrimoniojp.com casadopatrimoniojp.com É interessante informar que a quantidade de mestres bonequeiros registrados pela pesquisa não corresponde à realidade atual, pois, além da morte de alguns bonequeiros, também surgiram novas descobertas posteriores à pesquisa, cujos nomes não constam na lista dos identificados nesse processo.

Os mestres registrados foram: Zequinha, Ramiro e Jagunço de Bayeux; Clébio, Luiz e Clóvis de Guarabira; Damião Ricardo de Caldas Brandão; Vavau de João Pessoa; Inaldo e Sandoval de São José dos Ramos; Nildo de ; Maestro de Bananeiras; Paulo de Mogeiro; Miro de Mari; e Leão de Solânea.

Agora, com o reconhecimento oficial do Bem, o trabalho consiste na formação do plano nacional de salvaguarda com ações reais e viáveis à manutenção e sustentabilidade desse patrimônio cultural brasileiro para as novas gerações.

Maleta com bonecos do Mestre Maestro (Bananeiras/PB). Foto: Paola Bonfim. Acima, Mestre Araújo (/PB) e ao lado, Mestre Miro (Mari/PB). Fotos: Acervo Cia Boca de Cena. casadopatrimoniojp.com casadopatrimoniojp.com 7 Relicário da memória

Iphan-PB promove ações de preservação em Cabedelo e Pitimbu

Pricilla Rezende (Iphan)

Ruínas de Almagre: igreja será Como ruína, Almagre foi tombado em Entre as atividades envolvendo Almagre entregue à comunidade 1938 pelo antigo SPHAN, Serviço do está a sua recente inclusão no Cadastro Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Nacional de Sítios Arqueológicos (CNSA). Popularmente conhecida como (1937-1946), como parte das políticas O trabalho foi realizado em maio deste Ruínas de Almagre, a Igreja de Nossa de tombamento vigentes que buscavam ano e faz parte do projeto que prevê o Senhora de Nazaré está sendo submetida identificar e registrar imóveis coloniais registro de sítios arqueológicos da Paraíba. a serviços de escoramento, limpeza, existentes em todo o território nacional. O CNSA apresenta os sítios arqueológicos cercamento, drenagem e iluminação. A brasileiros cadastrados pelo Iphan, com o As próximas ações, previstas em duas ação foi definida pela Superintendência do detalhamento técnico e filiação cultural etapas, preveem, além da estabilização Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico dos Sítios Arqueológicos. Nacional na Paraíba (Iphan-PB) como parte definitiva das ruínas, a possibilidade das medidas de preservação do patrimônio de realização de uma anastilose, que A previsão é de que até o final do cultural e arqueológico previstas nos consiste na reconstrução parcial de um ano sejam concluídos os trabalhos desta processos de licenciamento ambiental. bem histórico. Entre os aspectos a serem etapa em Almagre. Em seguida, análise considerados está a análise das condições técnica e consulta popular vão embasar Localizada na praia de Ponta de dos elementos remanescentes e das os trabalhos que definirão o uso correto Campina, em Cabedelo, litoral norte estruturas existentes. O procedimento e a destinação adequada para a igreja. da Paraíba, a igreja do século XVI já admite a recomposição das partes, porém Entre as manifestações populares estão o pertenceu aos jesuítas que fundaram ao os elementos de integração deverão desejo de reativá-la como espaço religioso seu redor colônia de catequese indígena. ser reconhecíveis. e torná-la rota de visitação turística.

8 casadopatrimoniojp.com casadopatrimoniojp.com Nossa Senhora da Penha de França depois de restaurada acolhe população para missas e celebrações

Missa solene foi celebrada para marcar a entrega da igreja para o povoado de Taquara, em 16 de julho, no município de Pitimbu (PB) e contou com a participação maciça da população. A igreja está em pleno funcionamento realizando encontros e celebrações.

O templo construído em meados do século XVIII e um dos marcos da ocupação do litoral sul paraibano foi entregue pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) na Paraíba.

A reforma iniciada em novembro de 2015 fez a recuperação dos pisos, paredes, cobertura e seus elementos estruturais, acabamento e pintura. As intervenções tiveram o acompanhamento técnico do Iphan-PB para que cumprissem os parâmetros estabelecidos e garantissem a autenticidade da Igreja em suas características históricas e culturais.

De Estilo Barroco, o espaço religioso apresenta técnica construtiva de alvenaria mista de tijolos maciços e pedra calcária, empregando também a técnica tradicional do canjicado.

A iniciativa é resultado do Termo de Compromisso firmado entre o Iphan no Estado e a empresa Brennand Cimentos como parte do processo de licenciamento ambiental pela instalação de cimenteira no município. A próxima etapa é entregar a igreja Nossa Senhora do Rosário, que também é beneficiada pelo acordo e deverá estar pronta em novembro deste ano.

Igreja de Nossa Senhora da Penha de França antes e depois da restauração, Pitimbu/PB. Fotos: Acervo Iphan/PB. Ao lado, serviços de estabilização das Ruínas de Almagre, Cabedelo/PB. Foto: Andreia Rocha. casadopatrimoniojp.com casadopatrimoniojp.com 9 Cultura em ação

O início do processo de salvaguarda da Capoeira na Paraíba André Sarmento (UFPB), Emanuel Braga (Iphan) e Saulo de Tarso G. da Nóbrega (UFPB)

A capoeira, historicamente, reclusa foram registrados como Patrimônio possam ministrar cursos, palestras e aulas às ruas, às matas, aos redutos humanos Cultural Imaterial do Brasil. Embora o em instituições de ensino fundamental, marginalizados do Brasil, gradualmente Registro tenha amplitude nacional, o médio e superior; 2. articulação com os sai dos becos e vielas “da vida”, ocupa reconhecimento se baseou em pesquisas movimentos nacionais promovidos pelos os grandes centros urbanos, os vários desenvolvidas nos estados da Bahia, capoeiras com vistas para a promoção setores da sociedade (escolas, instituições Pernambuco e Rio de Janeiro - cujas de gratificação (ou aposentadoria) de ensino superior, órgãos do governo, capitais são consideradas, por estudiosos especial para os Mestres de Capoeira, entidades internacionais, etc.) e, do assunto, como centros históricos da reconhecidamente formados na tradição; através da contribuição de Mestres, capoeira do século XIX. O conhecimento 3. definição de políticas que promovam Contramestres, professores e iniciados na acumulado para instrução do processo o apoio logístico para apresentações capoeira, ganha o mundo. permitiu a identificação dos principais internacionais; 4. formação de um Coletivo elementos que constituem a Capoeira de Mestres e Capoeiristas, representantes Os últimos sessenta anos em seus sentidos contemporâneos: de associações e coordenadores de testemunharam a difusão da capoeira o conjunto de saberes transmitidos grupos e escolas de Capoeira na Paraíba nos 5 continentes, sendo praticada em pelos mestres formados nas tradições que unifiquem o Plano de Salvaguarda; mais de 150 países. Esta dinâmica de da Capoeira e reconhecidos por suas 5. Promoção/estruturação de pólos e expansão mundial deve-se a investidas comunidades; e a roda de Capoeira, projetos comunitários atuantes no Estado; dos próprios capoeiristas que se lançaram forma de expressão que condensa 6. elaboração de um plano de manejo no mundo sem ajuda financeira ou todas as referências culturais da para as ambiências que produzem as estratégica de órgãos governamentais ou manifestação, onde ela se atualiza de matérias-primas utilizadas na produção entidades privadas. modo pleno. dos instrumentos musicais da Capoeira; Na esteira dessa difusão, para alguns 7. realização de Fóruns locais para Entretanto, diante das especificidades Mestres e especialistas no assunto, a compreensão das demandas específicas e culturais e da diversidade de modos capoeira apresenta-se como o maior organização política dos grupos atuantes de organização social e política da divulgador da língua portuguesa e da no Estado. Capoeira pelo Brasil, o Iphan vem cultura brasileira pelo mundo. Assim articulando encontros locais com Mestres, Algumas dessas diretrizes já se afirmou Gilberto Gil, ex-Ministro Contramestres e educadores da Capoeira encontram em avançadas discussões, a da Cultura do governo Lula, num voltados para a construção de diretrizes exemplo do quarto ponto, pois há um pronunciamento em Genebra, Suíça, em para a salvaguarda da Capoeira em cada consenso entre a maioria dos Mestres 2004: “A capoeira se disseminou pelo Estado da Federação Brasileira. mais antigos do Estado, especialmente mundo com entusiasmo. Mesmo sem do município de João Pessoa, de que falar português, um chinês, um árabe, A partir de 2014, após a realização a prática sistematizada da Capoeira na um judeu ou um americano pode repetir de diversas rodas de conversa com Paraíba ocorreu pelas mãos e pés do o compasso da mesma música, a arte do representantes da capoeira na Paraíba, Mestre Zumbi Bahia. Apesar da provável mesmo passo, a ginga do mesmo toque”. algumas diretrizes de planejamento presença da Capoeira em outros contextos E o Mestre Jelon ainda acrescenta: “Nós de políticas públicas foram bastante temporais e espaciais do que hoje se somos os verdadeiros embaixadores do debatidas e merecem destaque: 1. busca tornou o Estado da Paraíba, recentes Brasil no exterior”. de parcerias com as Secretaria de Estado e Município de Educação para que registros historiográficos datam a década Em 2008, a Roda de Capoeira Mestres, Contramestres e professores de de 1970 do século XX como marco inicial e o Ofício dos Mestres de Capoeira Capoeira detentores do saber-capoeira da Capoeira paraibana.

10 casadopatrimoniojp.com casadopatrimoniojp.com lutam pela consolidação da Capoeira no Estado.

No intuito de contribuir para consolidação dessa articulação, a Superintendência do Iphan na Paraíba promoveu, em 2016, o I Fórum para Salvaguarda da Capoeira na Paraíba no município de João Pessoa, a fim de divulgar as informações produzidas pelo processo nacional de Registro e organizar o Plano de Salvaguarda voltado para as demandas específicas de Mestres, Contramestres, educadores e grupos de Capoeira presentes no Estado.

A Capoeira está viva nas rodas, nas ruas, nas escolas e na memória ativa dos seus Mestres, constituindo um movimento de resistência da cultura popular Neste período, certas práticas lúdicas no público presente. Capoeristas como paraibana. Suas práticas educativas vivenciadas por grupos populares Pássaro Preto afirmam que logo após a têm promovido, na maioria das vezes marginalizados pela organização do realização do evento, cresceu o número sem apoio de governos municipais, Estado brasileiro passaram a compor a de alunos nos primeiros cursos de estaduais e federal, políticas públicas alegoria da diversidade cultural nacional. Capoeira da capital e os convites para as estratégicas no meio juvenil, articulando Mesmo que continuassem a ser vistas apresentações em colégios e em festas. cidadania, cultura, esporte e lazer com as como símbolos de um “folclore perdido dimensões espirituais profundas da vida O Mestre Zumbi Bahia foi um dos no tempo”, algumas manifestações, a dos novos ingressos, contribuindo para o precursores do ensino e prática da exemplo da Capoeira, transformaram-se fortalecimento de uma cultura de paz e Capoeira na Paraíba. E, até hoje, alunos em potencialidades culturais e turísticas participação crítica e política fundamentais iniciados no universo da capoeiragem passíveis de um olhar político estratégico. na formação de futuras gerações. pelo Mestre Zumbi Bahia e outros Em tal contexto, Adalberto Mestres, Contramestres, professores e I Fórum Capoeira PB. Foto: Acervo Iphan/PB. Conceição, o Mestre Zumbi Bahia, alunos de outras escolas de Capoeira Embaixo, Grupo Capoeira Nagô do Mestre Baiano e o Graduado Jamayka, Conde/PB. organizou uma apresentação cultural Foto: Thiago Nozi com seu grupo “Filhos de Obá” no ano de 1977 na capital paraibana. Após a realização do espetáculo, intitulado “Uma Noite na Bahia”, Mestre Zumbi Bahia foi convidado pelo historiador e folclorista Tenente Lucena para iniciar um trabalho educativo da Capoeira no SESC/João Pessoa. Um ano depois da referida apresentação, segundo estudo desenvolvido pela Contramestre e pesquisadora Malu, outro “evento” articulado pelo mesmo Mestre Zumbi Bahia contribuiu para a divulgação da Capoeira na Paraíba. O espetáculo “Berimbau de Ouro Show” foi realizado na antiga Coordenação de Extensão Cultural/COEX Universidade Federal da Paraíba e produziu um grande impacto

casadopatrimoniojp.com casadopatrimoniojp.com 11 Aprendiz de Turista: viagem de Mario de Andrade à Parahyba Rau Ferreira (IHCG)

“O Turista Aprendiz” é um dos mais a sua obra “Macunaína”, proferindo importantes livros de Mário de Andrade, alguns elogios. Já em 10 de maio de há muito esgotado e reeditado em 2015, 1930, Olavo lhe envia alguns poemas ao através de projeto do Iphan. Os relatos de modernista desejando publicá-los. viagens registram manifestações culturais e religiosas coletadas pelo folclorista em todo o Brasil. Este “diário”, escrito com O Jornal Casa do Patrimônio é produzido pela humor elevado e recurso prosaico, narra Superintendência do Iphan na Paraíba, por as inusitadas visitas de Mário ao Nordeste meio da Casa do Patrimônio da Paraíba. brasileiro. O seu iter inclui Estados como Equipe da Casa do Patrimônio da Paraíba Alagoas, Rio Grande do Norte, Ceará, Átila Tolentino Pernambuco e Paraíba. Carla Gisele Moraes Emanuel Braga Mário adentrou à Parahyba na noite Letícia Helen S. Teles Mário permaneceu dez dias na de 27 de janeiro de 1929. Vinha de Maria Olga Enrique Silva automóvel de Natal/RN. Atravessou o Parahyba, desfrutando do convívio dos Pricilla Rezende Mamanguape para chegar à capital intelectuais ligados à Revista “Era Nova”, Suelen Andrade por volta das três da matina do dia cujo encontro teria sido mediado por Superintende do Iphan/PB seguinte. No caminho, esperavam José Câmara Cascudo e Antônio Bento. Em Claudio Nogueira Américo, Ademar Vidal e Silvino Olavo sua estadia nesse Estado, caminhou pelo Chefe da Divisão Técnica do Iphan/PB que lhe ofertou um afetuoso abraço e litoral e visitou prédios históricos, alguns Christiane Finizola uma edição autografada de “Sombra bairros e cidades. Foi conduzido por José Chefe da Divisão Administrativa do Iphan/PB Iluminada”. Após a hospedagem, fez Américo ao Brejo de Areia - passando Lindaci Bandeira de Souza breve passeio à beira mar, na praia por Alagoinha em dia de feira – e Editor de Tambaú. Na sua crônica, guardou permanecendo naquele município brejeiro, Casa do Patrimônio da Paraíba a expressão d’o caso da aranha, uma em casa do escritor d’A Bagaceira (1928) Projeto Gráfico e diagramação “aranha enorme” que observou quando até a boquinha da noite. Daniella Lira chegara a seu quarto provocando-lhe Mário de Andrade recolheu vasto Telefone: (83) 3241.2896 inquietude e medo material que vai de cantigas, cocos e E-mails: [email protected] e [email protected] cordéis; reunindo-se com os cantadores Os três amigos se esforçavam para que Fan page: www.facebook.com/ o autor de “Macunaína” (1928) coletasse populares que tanto admirava. casadopatrimoniodaparaiba/ melodias. Foram “gentilíssimos”, anotou. Após sua vinda à Parahyba, blog: http://casadopatrimoniojp.com À noite visitou as oficinas do jornal A Mário e Silvino Olavo ainda trocaram Portal: www.iphan.gov.br União que noticiou a sua chegada às correspondências. Em 07 de setembro de Este jornal foi impresso em papel reciclado. terras parahybanas. 1928, o esperancense declara ter recebido

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