SINOPSE DO GÉNERO RHAPHIPTERA AUDINET-SERVILLE, 1835

(COLEOPTERA, CERAMBVCIDAE, , PTEROPLIINI) 1

SERGIO A. FRAGOS& e MIGUEL A. MONNÊ3

RESUMO - Uma chave e ilustrações das 21 espécies conhecidas do gênero Rhaphiptera Audinet- -Servijie, 1835, inclusive cinco novas (R. melzeri, R. roppal, R. alvarengai e R. seabrai, do Brasil, e R. tavakilian4 da Guiana Francesa) são apresentadas, além das seguintes alterações nomenclaturais: 1) R. planipennis Zajciw, 1960,é um novo sinônimo deR. gahani Gouneile, 1908; 2) R. gahani vai. clarevestita Tippmann, 1953, e boa espécie, e não uma variedade de gahani; 3) R. albicans Breuning, 1940,é revalidada (não é sinônimo deR. obtusipennis Melzer, 1935). Termos para indexaçio: novas espécies, chave para identificaçio, distribuição geográfica SYNOPSIS OF THE GENUS RHAPHIPTERA AIJDINET-SERVILLE, 1835 (COLEOPTERA. CERAMBYCIDAE, LAMIINAE, PTEROPLIINI)

ABSTRACT A key for and iliustrations of 21 taxa under Rhaphiprera Audinet-Serville, 1835, including five new species (A. melzeri, A. roppai, A. alvarenga! and A. seabrai frnm Brazil and A. tavakiliani from French Guiana) are presented, besides the following nornenclatorial changes: 1) A. plenipennis Zajciw, 1960,is a new synonym of A. gabani Gounelie, 1908; 2) A. gabani var. clarevestita Tipprnann, 1953 is a hill species, not a variety ofgahani; 3) A. albicans Breuning, 1940,is revalidated (not a synonym of A. obtusipennis Meizer, 1935). Index terms: new species, key for identification, geographical distribution

INTRODUÇÃO Breuning, 1942: 138 (todos três monobásicos e os dois últimos monotípicos até esta data) formam O gênero Rhaphiptera conta, presentemente, 21 es- um grupo natural dentro da tribo Prerophini pécies, todas elas aqui ilustradas fotograficamente. (sensu Ercuning). Audinet-Serville descreveu Rim- Apenas duas (elegans Breuning1961 e candicans phiptcra como "deuxiême division" de Pteroplius, Gounelle, 1908) não se encontram entre as séries o que equivaleria, em termos atuais, a subgênero. examinadas, da coleção do Museu Nacional (Cam- Breuning, quer pelos comentários, quer pelo pos Seabra). Os tipos de tais espécies foram foto- próprio significado d0 nome, considera Esthloge- grafados em cores, nas respectivas Instituições depo- nopsis como afim de Thomson,1864: sitárias, por J.S. Moure e são aqui reproduzidos em 107, gênero esse que tem, a nosso ver, maiores afi- branco e preto. Como todas as fotos apresentam a fa- nidades com Haldeman, 1847:56. ce dorsal, os caracteres constantes dessa superfície Pteroplius (Fig. 1) distingue-se de Rlmphiptera foram utilizados prioritariamente na chave, que pelos grânulos uniformemente distribuídos no ter- inclui também a distribuição geográfica e o taina- ço basal dos élitros e pelos fêmures de lados para- nho. Assim, a chave destina-se exclusivamente a lelos em ambos os sexos- Esthlogenopsis difere de auxiliar na identificação, e não tem, declaradamen- Rhaphiptera pelo comprimento do quarto artícu- te, nenhuma pretensão filogenética. lo antenal (mais longo que o terceiro), pelos tu- Ahaphiptera Audinet-Serville, 1835 bérculos do pronoto pouco elevados, obtusos e Rhaphiptera Audinet-Serville, 1835: 66; Thom- pontuados, e pela ausência de projeções internas son,1864: 107,394; Lacordaire,1872: 596;Gounel- nas tibias protorácicas. le,1908: 13 (rev.); Breuning,1961: 7 (rev). Rhaphiptera, Pteroplius Lepeletier & Audinet- Rhaphiptera caracteriza-se pela ausência de grânulos no terço basal dos élitros (podendo -Servilie in Lacordaire, 1830: 183 e Esthogenopsis apresentar ou não, apenas uma bossa sub.basal em Aceito para publicação em 27 de fevereiro de 1984 cada élitro), pelos fêmures engrossados mediana- 2 M.Sc., PItD., EMBRAPA/Museu Nacional, Quinta da Boa Vista, CEP 20942 Rio de Janeiro, RI. mente, pelo terceiro artículo antenal mais longo que o quarto, e pelas projeções subapicais e api- Eng., Agr., Doutor, Prof. Museu NacionaL Bolsista do CNPq, Rio de Janeiro, RI. cais das tíbias protorácicas.

Pesq. agropec. bras., Brasília, 19(9): 1075-1083, set. 1984. 1076 S.A. FRAGOSO e M.A. MONNÉ

Espécie-tipo, R. nodífera Audinet-Serville,1835: afflnisThomson, 1868 (Fig. 7) 66 (monotipia). 5(2') Cada élitro com diminuto espinho ter- minal; mácula látero-dorsal mediana dos Chave para as ewêcies do gênero Rhaphiptera. élitros nítida. Pronoto com pontos negros e nítidos sobre pubescência Cada élitro com uma bossa (glabra ou ocrácea clara. Compr. 23-28 mm. Bra- pilosa) pós-basal ...... 2 sil (Goiás, Mato Grosso e Minas 1' Cada élitro com o terço basal plano, sem Gerais) ...... bossa ...... 7 • - annulicornis Gounelle4908 (Fig. 12) 2(1) Élitros estreitados para o ápice, dotados 5, Élitros com ápices inermes, truncado- de espinho terminal bem desenvolvido, -arredondados. Pronoto não pontuado, bossas eitrais pilosas ...... 3 ou com pontos indistintos, não contras- 2' Elitros com lados subparalelos, ápices tantes ...... 6 inermes ou com espinho diminuto . . . 5 6(5') Mácula baso-eitral subtriangular; mácula 3(2) Bossa eitral com um trigulo de pêlos subterminal dos élitros mal definida; escuros e mais longos no declive anterior. distância entre os lobos superiores dos Tal pilosidade escura contorna inferior- 01h05 1,5 vezes a largura de um lobo. mente a mácula baso-elitral e ornamenta Compr. 15 mm. Guiana Francesa. Peru os bordos da sutura dentro dos limites (Loreto) ...... da mácula. Compr. 23,5 mm. Brasil (Espí- • . . scrutatrix Thomson, 1868 (Fig. 16) rito Santo) . . . seabrai, sp. n. (Fig. 20) Mácula baso-elitral interrompida mediana- 3' Bossa eitral com pilosidade escura mente, desde o escutelo; mácula subter- restrita ao tufo de contorno subcir- mina1 dos élitros arredondada, com qua- cular ...... 4 tro estrias mais escuras e elevadas; distân- 4(3') Bossa elitral elevada, dotada de pêlos cia entre os lobos superiores dos 01h05 3 escuros eretos, o tufo posicionado ligei- vezes a largura do lobo. Compr. 15 mm. ramente adiante do topo; as manchas Brasil (Paraíba e Bahia a São Paulo; escuras laterais bordeadas de pubes- Minas Gerais e Goiás). Argentina (Chaco). cência esbranquiçada; a pontuação dentro oculata Gounelle,1908 (Fig. 3) dos limites da mácula baso-elitral grossa, 7(1') Élitros distintamente espinhosos nos ápi- os pontos reduzindo-se uniformemente ces ...... 8 em tamanho fora desses limites, ao lon- 7' Élitros inermes nos ápices ...... 15 go da sutura. Compr. 21-31 mm. Brasil 8(7) Élitros uniformemente recobertos de pu- (Paraíba e Bahia a Santa Catarina, Minas bescência parda ou acinzentada (epipleu- Gerais e Goiás). Paraguai (Cordillera). ras mais claras), densamente pontuados Argentina (Misiones) ...... no terço basal. Compr. 25 mm. Brasil (Es- • - nodifera Audinet-Serville, 1835 (Fig. 8) pírito Santo e Rio de Janeiro) ...... 4' Bossa eitral reduzida, apenas túmida, - - - - punctulata Thomson, 1868 (Fig. 9) dotada de pélos semidecumbentes, o tufo posicionado no topo; as manchas escuras 8' Élitros dorsalmente com manchas distin- laterais, dos élitros separadas por pubes- tas ------9 cência pardo-ocrácea; a pontuação dentro 9(8') Élitros com uma única mácula basal trian- dos limites da mancha baso-elitral grossa gular, preta e aveludada, restante da su- reduzindo-se drasticamente em diSmetro perfície elitral branco sedosa, uniforme- (quase obsoleta) fora desses limites, ao mente pontuada; tíbias pardo escuras- longo da sutura. Compr. 23-30 mm. Brasil Compr. 22 mm. Brasil (Espírito San- (Rio de Janeiro ao Rio Grande do Sul). to) ...... Paraguai...... triangularis Lane, 1974 (Fig. 10)

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F lO. 1. Pteropl/us acumínatu: Audinet-Serville, 2. Rhaphfptera 9ahani Gounelie, 3. R. oculata Gounelie, 4. R. albicans Breuning.

9' Élitros dorsalmente plurimaculados, com Compr. 15-20. Brasil (Minas Gerais,

pontuação restrita, aproximadamente, à Rio de Janeiro e São Paulo) ......

metade basal; tíbias ocráceas ...... 10 pailens Gounelle1 l9OS (Fig. 6) 10(9') Protórax aparentemente alongado (tão 12' Mácula baso-elitral triangular, íntegra; longo quanto largo); pronoto com pon- pontuação pronotal não confluente ...13 tuação obsoleta; mácula baso-eitral deli- 13(12') Comprimento dos élitros cerca de cinco mitada por faixa mais escura, em forma vezes o do pronoto (medido na fotogra- de "W". Compr. 15-21 mm. Brasil (Pará, fia do holótipo). Compr. 18 mm. Brasil

Mato Grosso e Espírito Santo) ...... (Goiás) ......

..... rixatrixThomson, 1868 (Fig. 11) elegansBreuning, 1961 (Fig. 19) 10' Protórax transversal (cerca de 1,3 vezes 13' Comprimento dos élitros cerca de 3,8 a

mais largo que longo) com pontuação 4 vezes o do protórax ...... 14

grossa e nítida ...... 11 14(13') Mácula baso-elitral com bordos distin- 11(10') Mácula baso-elitral reduzida a uma tamente mais escuros, com área adja- estreita faixa basal rufa e cada élitro com cente com pilosidade mais densa, ocul- uma mancha oval, pós-mediana sobre tando parcialmente a pontuação. Compr. superfície cinzento-argêntea uniforme. 20-22 mm. Brasil (São Paulo e Santa

Compr. 17,5 mm. Brasil (Pernambuco) Catarina) ......

(dados da descrição de Gouneile) ...... clarevestita Tippmann, 1953 (Fig. 5) candicans Gounelle,1908 (Fig. 18) 14' Mácula baso-elitral apenas pouco mais 11' Mácula baso-elitral subtriangular (dividida escura que a área adjacente, que é nitida- ou não em estrias longitudinais); élitros mente pontuada. Compr. 18-28 mm.

sem máculas medianas ...... 12 Brasil (Rio de Janeiro) ...... 12(11') Mácula baso-elitral composta por cinco gahaniGounelle, 1908 (Fig. 2) estrias longitudinais subconvergentes; pon- 15(7') Élitros sem máculas escuras nos dois ter-

tuação pronotal grossa e confluente. ços terminais ...... 16

Pesq.agropec. bras., Brasília, 19(9):1075-1083, set. 1984. 1078 S.A. FRAGOSO e M.A. MONNÉ lffl~. 8

FIG.5. Rhaphiptera clarevestita Tlppmann, 6. A. pailens Gounelie, 7. A. aff/nis Thomson, 8.8. nodifera Audinet- -Servilie.

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FIG.9. R/,epfliptera punctulata Thomson, 10. A. triangularis Une, 11. R. rixatrix Thomson, 12. A. annulicornis Gounelte.

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15' Élitros com máculas nos dois terços ter- bescente, com pontos grandes e profun-

minais ...... 19 dos. Compn 11-20 mm. Brasil (Espírito

16(15) Mácula baso-elitral contrastante, distinta- Santo e Rio de Janeiro) ...... mente separada dos ámeros e unindo-se • - - . obtusipennis Melzer,1935 (Fig. 15) a máculas pronotais (em forma de "<" e 19(15') Elitros com pubescência rala, cada um 1 5 11); pontuação restrita à metade basal deles com uma faixa reta mais clara dos élitros. Compr. 10,4 mm. Brasil formada por cor tegumentar) da ba-

(Mato Grosso) ...... se ao ápice. Compr. 11 mm. Guiana

...... a!varengai, sp. n. (Fig. 13) Francesa ......

16' Mácula baso-elitral relativamente pouco -...... tavakiiiani, sp. n. (Fig. 22) contrastada, ou apenas esboçada; pro- 19' Elitros recobertos de pubescência densa, noto sem as máculas referidas em sem faixas longitudinais ------20

16(15) ...... 17 20(19') Pronoto mais elevado no disco, aí com 17(16') Mácula baso-eitral apenas esboçada, co- quatro tubérculos rombos e glabros, se- mo faixa transversa de pubescência par- parados por curta carena mediana; pu- da, ocupando o sexto basal, restante dos bescência basal dos élitros e escutelo élitros recobertos de pubescência cinzen- amarelo-dourado, parte mediana recober- ta, esparsa, deixando ver o tegumento, ta com pubescência branco-argêntea irre- que é pontuado1 exceto em área irregular gularmente disposta. Compr. 21 mm.

submediana; pronoto da cor da faixa, Brasil (Amazonas) ...... com pontos esparsos e semi-obsoletos. roppai, sp. n. (Fig. 17)

Compr. 12 mm. Brasil (Bahia) ...... 20' Pronoto com dois tubérculos dorsais cô-

...... meizeri, sp. n. (Fig. 21) nicos; élitros com máculas (basais e láte- 17' Mácula baso-elitral com o contorno ro-medianas) de pubescência parda, sobre posterior relativamente nítido, porém superfície cinzenta. Compr. 15-16 mm

pouco contrastante; pronoto com pontos Brasil (Bahia e Minas Gerais) ......

grossos e profundos ...... 18 albipennis Breuning, 1947 (Fig. 14) RhaphipteragahaniGounelle, 18(17') Mácula baso-elitral com contorno poste- 1908 Rhaphiptera gabani Gounelle 1908: 15; Breuning rior em ziguezague, englobando cerca de 1961:11. um quinto dos élitros, contrastando com Rhaphiptera phanipennis Zajciw, 1960: 144, o escutelo (nitidamente mais claro); pro- Fig. 6, syn. n. noto com uma faixa não pontuada de Zajciw (1960: 146), tendo identificado R. pubescência ocrácea (mais clara que o ciarevestita Tippmann, 1953, como "gahani", cita restante da superfície) entre os tubércu- cinco caracteres diferenciais entre a sua "plani- los dorsais. Compr. 17 mm. Brasil (Espí- pennis" e "gahani" válidos se observada a correção rito Santo) ...... de identificação aqui feita com base no diapositivo ..... albicans Breuning,1940 (Fig. 4) do tipo de Gounelle (tomado por J.S. Moure no 18' Mácula baso-elitral formada por uma li- British Museum) e o holótipo de Zajciw (deposita- nha (relativamente larga) de pubescén- do no Museu Nacional). cia mais rala, definindo um triângulo Pela série (79 exemplares) examinada, a distri- maior mediano, tendo a cada lado um tri- buição limita-se ao Estado do Rio de Janeiro (Cor- ângulo menor (com ângulo inferior mais covado, Floresta da Tijuca e Parque Nacional do agudo do que o do mediano), junto à Jtatiaia). sutura,uma área longitudinal com pontos menores e recoberta de pubescência mais Rhaphiptera clave vestita Tippmann, 1953, stat. ti. clara e mais densa do que o resto da Rhaphiptera gahani var. clarevestita Tippmann1 superfície; pronoto uniformemente pu- 1953:359, est. 25, Fig. 61; Breu. ing, 1961:11.

Pesq. agropec. bras., Brasúla, 19(9): 1075-1083, set. 1984. 1080 S.A. FRAGOSO e M.A. MONNÉ

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FIG. 13. Rhaphiptera alvarengal ap. n., holótipo macho. 14. A. elbipennis Breunlng, 15. A. obtuslpennls Meizer, 16. Racrutatrix Thomson, 17. A. roppa!sp. n., holótipo macho.

Além dos caracteres indicados na chave aqui a largura do lobo; antenas apenas ultrapassam os inserida e aqueles cinco outros já mencionados por ápices dos élitros, pubescentes, unicolores. Zajciw (1960: 146), R. clarevestita difere de R. Protórax (6,4 mm largura x 4,5 mm compri- gahani pela distância entre os lobos superiores dos mento) densa e profundamente pontuado, os pon- olhos, que na primeira é 2,5 vezes e na segunda 1,6 tos (em parte confluentes), distintos na superff- vez a largura do lobo superior. de de pubescéncia ocrácea. Na série examinada (23 exemplares), a distri- Escutelo arredondado posteriormente, recober- buição da espécie restringe-se aos Estados de São to de densa pubescência ocrácea. Élitros com má- Paulo e Santa Catarina. cula basal triangular, onde os pontos são grossos Rhaphiptera albicans Breuning, 1940, ,evalld. e profundos, ocrácea-pubescente, os bordos poste- Rhaphipteraalbicans Breuning, 1940:152 riores (bem como os lados da sutura) delimitados por faixa de pubescéncia distintamente mais escu- Breuning (1961: 14) sinonimizou A. albicans ra, que, ao atravessar a parte anterior das bosas com A. obtusipennisMelzer, 1935: 185, com apenas pós-basais, forma dois pequenos triângulos, com os as palavras: "Albkans Br. est un synonyme." vértices dirigidos para diante, e onde os pélos são A comparação do diapositivo do holótipo de mais longos; uma faixa de pubescência mais densa Breuning com o tipo de Melzer (Museu de Zoolo- e esbranquiçada, em curvas opostas e onde a pon- gia, Universidade de São Paulo), bem como da sé- tuação é obsoleta, separa a mácula basal das duas rie de A. obtusipennis (15 ex.) com um único máculas JÁtero-dorsais (uma em cada élitro), estas exemplar de albicans (Espírito Santo, Mun. Con- são ocráceas nas epipleuras, com uma linha media- ceição da Barra: Pedro Canário) revelam duas es- na e o bordo interno castanho escuro; no quarto pécies facilmente diferenciáveis, tanto pela chave, terminal, mácula formada por linhas castanho como pelas fotos aqui inseridas. escuras alternadas com ocrâceas; ápices dotados de

Rhaphip tara seabrai, Ip. n. espinhos aguçados e recurvos. Fêmea: Tegumento castanho escuro. Cabeça Face ventral ocráceo-acinzentada; último seg- com pontos crateriformes, fortes, distância entre mento abdominal visível (79) brevemente emar- os lobos superiores dos olhos cerca de 2,5 vezes ginado.

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IlÍ

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Fie. 18. Ahaphiptera candicans Gouneile, holótipo macho (foto de J.S. Motive), 19. A. elegans Breuning, holótipo (foto de J.S. Moure), 20. A. seabrai sp. n., holótipo fêmea, 21. A. melzeri sp. n, holótipo macho, 22. A. tavaküianisp. n., holótipo macho. Holótipo fêmea (23,5 mm comprimen- te a uma mácula mediana não pontuada, que não to x 6,7 mm largura), Brasil, Espírito Santo: atinge a base, contrastante com a superfície ocrá- Linhares, XI. 1973, E. Silva col., depositado na cea; inferiormente aos tubérculos laterais localiza- coleção do Museu Nacional (Campos Seabra), -se uma faixa mais escura em toda a extensão e que Rio de Janeiro. Parátipo fêmea, mesmos dados do continua paralelamente ao bordo elitral até o pri- holótipo. meiro segmento abdominal (inclusive). Comentário: Espécie similar e próxima de R. Escutelo arredondado posteriormente, elevado, nodifera Audinet-Serville, 1835, dela distinta pela densamente recoberto de pubescência amarela, mácula baso-elitral, pela pontuação quase invisível fortemente contrastante com a coloração elitral da faixa esbranquiçada que separa as máculas mais adjacente. Élitros com maéula basal castanho escu- escuras dos élitros e pelo menor desenvolvimento ra, densa e fortemente pontuada, com pubescência dos tubérculos dorsais do protórax. rala, de formato cordiforme, cujos limites baso- Rhaphíptera alvarenga!, sp. n. -laterais são bem separados dos úmeros e dão a Macho: Tegumento castanho-avermelhado, sob impressão de continuar as máculas pronotais; as máculas do pronoto e dos élitros; episternos e restante da superfície com a pontuação gradual- epímeros meso e metatorácicos, distintamente mente diminuindo, recoberta de pubescência ocrá- mais escuros. Cabeça densamente recoberta de cea, ápices obliquamente truncados. pubescência ocrácea, ocultando em parte a pontua- ção semi-obsoleta; distSncia entre os lobos supe- Face yentral ocráceo-acinzentada; último seg- riores dos olhos cerca de duas vezes a largura do mento abdominal visível (79) truncado. lobo; antenas atingindo a extremidade dos élitros Holótipo macho (10,4 mm comprimen- ao nível do ápice do nono artículo, pubescentes, as to x 3,9 largura), Brasil, Mato Grosso, Vera bases dos artículos mais claras. (129 46' 5, 55? 36' W), X. 1973, Alvarenga & Protórax (3 mm largura x 2,1 mm comprimen- Roppa col., depositado na coleção do Museu Na- to) pontuado, os tubérculos dorsais moderadamen- cional (Campos Seabra), Rio de Janeiro. te elevados, incluídos em duas manchas dorso- Comentário: Espécie muito característica, dis- -laterais em forma de "<" e ">", (onde a pontua- tingue-se das demais pelas máculas do pronoto e ção é mais grossa e profunda) ligadas anteriormen- dos élitros. Pesq. agropec. bras., Brasília, 19(9):10754083, set. 1984. 1082 S.A. FRAGOSO e M.A. MONNÉ

Rhaphip teta me/zeri sp. n. largura) mais largo do que longo, recoberto de Fêmea: Tegumento castanho-avermelhado, pou- pubescência amarelo-dourada, com pontos mais co mais escuro na cabeça e no protórax. Cabeça grossos e menos esparsos do que na fornte; com recoberta de pubescéncia castanho-acinzentada, quatro tubérculos dorsais rombos e achatados, se- fina e esparsamente pontuada; distancia entre os parados por uma carena pós-mediana, glabra e lobos superiores dos olhos cerca de 3 vezes a lar- brilhante. gura do lobo; as antenas atingem o início do quar- Escutelo densamente pubescente em amarelo- to apical dos élltros, uniformente coloridas. -dourado, ápice arredondado. Élitros com o ter- Protórax (3,1 mm largura x 2,2 mm compri- ço basal com pubescência esparsa amarelo-doura- mento) uniformemente pontuado e pubescente, da, o restante recoberto de pubescência branco- pardo-acinzentado, os tubérculos dorsais modera- -argêntea, mais densa no segundo terço e mais es- damente elevados. - parsa no terço terminal; pontuação mais forte na Escutelo arredondado no ápice. Elitros com má- base, gradativamente mais tênue para os ápices, cula basal apenas esboçada, como faixa transversa, estes arredondados e inermes. Pernas protorácicas ocupando o sexto anterior, com pubescência recobertas de pubescência amarelo-dourada, os parda, ligeiramente mais escurecida que o restante outros dois pares, de pubescência branco-argêntea. da superfície elitral; esta é recoberta de pubes- Pleuritos meso e metatorácicos com predomi- cência pardo-acinzentada, esparsa, deixando ver o nância de pubescência dourada; metasterno mais tegumento, que é ornamentado de pontos, cujo túmido, na região supracoxal, que nas demais interior é enegrecido; os ápices obliquamente trun- espécies, com áreas glabras sub-laterais, com man- cado s. chas pubescentes irregulares, tanto douradas como Esterno e abdômen de coloração uniforme, a esbranquiçadas. Abdômen recoberto de branco, os pubescência mais rala que no dorso; último seg- esternitos 3 a 6 com três e o último esternito visí- mento abdominal visível (79) brevemente emargi- vel (79) com apenas duas áreas glabras, ápice su- nado. tilmente emarginado. Holótipo fêmea (12 mm comprimento x 2,5 mm Holótipo macho (21 mm comprimento x 7 mm largura), Brasil, Bahia, Encruzilhada (Estrada Rio- largura), Brasil, Amazonas, Tabatinga, XII. 1978, Bahia, km 965), XI. 1973, Seabra & Roppa coL, C.S. Peixoto col., depositado na coleção do Museu depositado na coleção do Museu Nacional (Cam- Nacional (Campos Seabra), Rio de Janeiro. pos Seabra), Rio de Janeiro. Comentários: Distingue-se das outras espécies Comentário: Distingue-se imediatamente das pelos quatro tubérculos rombos e achatados do outras espécies pela mácula baso-elitral mal defini- pronoto. da, em forma de faixa transversa, sem formar triân- Rhaphip teta tavakiliani sp. n- gulo. É possível que, com a coleta eventual de ou- Macho: Tergumento castanho, distintamente tros exemplares, os pontos com o interior enegre- mais escuro no escapo, nas manchas póstero-dor- cido venham a ser interpretados como uma carac- sais d0 pronoto (incluindo os tubérculos), nos éli- terística individual, e não específica. tros uma faixa sutural em triângulo alongado nos quatro quintos basais, e uma faixa dorso-lateral R/iaphiptera roppai, sp. n. um pouco mais longa que a sutural, além de uma Macho: Tegumento castanho-avermelhado, mais faixa pleural que vai dos olhos até os dois primeiros escuro na cabeça e no protórax. Cabeça com fron- esternitos abdominais, fêmures e tarsos. Cabeça fina te glabra finamente pontuada, o restante com raros e densamente pontuada na fronte, os pontos mais pontos, irregularmente dispostos, recoberta por esparsos atrás dos lobos superiores dos olhos, es- pubescência amarelo-dourada. Distância entre os tes túmidos; tubérculos anteníferos não projetados lobos superiores dos olhos igual à largura de um para frente, uniformemente recoberta por pubes- lobo; antenas alcançando a extremidade dos éli- céncia parda; distância entre os lobos superiores tros ao nível do ápice do artículo 8. dos olhos cerca de duas vezes a largura do lobo. Protórax (4,2 mm comprimento x 5 mm de Protórax (2,3 mm comprimento x 3 mm largu-

Pesq. agropec. bras., Brasília, 19(9): 1075-1083, set. 1984. SINOPSE DO GÊNERO RHAPI-IIPTERA AUDINET-SERVILLE 1083 ra), mais largo que longo, recoberto de pubescên- REFERÊNCIAS cia parda em toda a parte anterior aos tubérculos AUDINET-SERVJLLE, J.G. Nouvelie classification de dorsais, bem como numa faixa estreita entre eles e la famiile des Longicornes (suite). Ana. Soe. EntomoL de cada lado, abrangendo os tubérculos laterais, a Fr., Paris, 4(1):5-100, 1835. pubescéncia distintamente mais escura nas duas BREIJNING, S. Novae species Cerambycidarum IX. máculas póstero-dorsais de tegumento também Folia Zool. Ilydrobiol., Riga, 10:1 15-214, 1940. mais escuro (onde os pontos são maiores). BRUNING, S. Novae species Cerambycidarum XI. Folia Escutelo protuberante, arredondado apicalmen- Zool. HydrobioL, Riga, 11:113-75, 1942. te, pardo pubescente. Élitros com um tubérculo BREUNING, S. Nouvelies formes de longicornes du Musée de Stockholm. Ark. Zool., Uppsala, 39A(6): pontudo em cada úmero, a pubescéncia curta, 1-68, 1947. amarelada, deixando predominar a cor tegumentar, BREUNING, S. Révision des Pteropliini (Co!., Cerornbyci- os pontos grossos, gradativamente menores a partir dae). Pesquisas,?. Alegre, 9(5):5-60, 1961. da metade para o ápice, o terço terminal pratica- GOUNELLE, E. Cérambycides nouveaux ou peu connus mente não pontuado; ápices obliquamente trun- de la région néotropicale, principalement de la sous- cados. -région brésjlienne. Ann. Soe. Entomol. Fr., Paris, 77:7-20, 1908. Face ventral recoberta de pubescência curta, HALDEMAN, S.S. Material towards a history of the rala e gr(sea. Coleoptera Longicornia of the United Sates. Trans. Holótipo macho (11 mm comprimento x 2,8 mm Am. Philos. Soe., Philadelphia, 10: 27-66,1847. largura), Guiana Francesa, Caiena, Approuague LACORDAIRE, J.T. Mémoire sur les habitudes des (Montagne Tortue), 26. VIII. 1981, G. Tavakilian insectes colébptêres de l'Arnérique méridionale. Ann. col., depositado na coleção do Museu Nacional, ScLNat., Paris, 21:149-94, 1830. LACORDAIRE, M.T. Histoire naturelle des Insectes. Rio de Janeiro. Parátipos macho e fêmea com os Genera des Coleóptêres, ou exposé rnéthodique et mesmos dados do holótipo, depositados no Museu critique de tous Les genres proposésjusqu'ici dans cet de Paris (M.N.H.N.). ordre d'insectes. Paris, Librairie Encyclopédique de Comentário: Difere das demais espécies pelas Roret, 1872. v.9, Part II, p.41 1-930. duas faixas elitrais mais claras de cor tegumentar. LANE, F. Descrição de nova espécie de Rhaphiptera Serville, 1835, e notas sobreR. punctu!ata Thomson 1868 (Coleoptera, Cerambycidae ). R. bras., AGRADECIMENTOS Entornol., São Paulo, 18(3):93-9, 1974. MELZER, J. Novos cerambycideos do Brasil, da Argenti- Os autores agradecem ao Pe. Jesus Santiago na e de Costa Rica. Arch. Lnst. Biol., veg., Rio de Moure a utilização de seus diapositivos coloridos, Janeiro, 2(2): 173-205. 1935. quer nas comparações referidas no texto, quer pela THOMSON, J. Matériaux pour servir a une révision des permissão de reproduzir dois deles (Fig. 18 e 19), desmiphorites (lamites, cérambycides, coLeóptêres). Physis Rec. llist. Nat Paris, 2(6): 101-46, 168. depois de refotografados em branco e preto (as THOMSON, J. Systema cerambycidarum, ou exposé de outras dezenove fotografias são originais, operadas tous les genres compris dans la famille des céramby- pelos autores especificamente para a presente cides et fainilies limitrophes. Mém. Soc. R. Sci- sinopse). Agradecemos também a todos que, dire- Liêge, 19:1-540, 1864. ta ou indiretamente, colaboraram neste artigo. TIPPMANN, F.F. Studien über neotropisclie Longicornier II (Coleoptera: Cerambycidae). Dusenia, Curitiba, 4: Os nomes específicos aqui cunhados são dedica- 313-62, 1953. dos a Moacyr Alvarenga, Julius Meizer, Olmiro ZAJCIW, D. Novos longicórneos neotrópicos II (CoL, Roppa, Carlos Alberto Campos Seabra e Gerard Cerarnbycidae). R. bras. Entorno!., São Paulo, 9: Tavakilian. 130-49, 1960.

Pesq. agropec. bras., Brasília, 19(9): 1075-1083, set. 1984.