memória e linguagensRevista da Disciplina de Oficinas de Linguagens Memórias... Culturais e Suas Formas de Expressão e da Disciplina de Mobilidades Culturais 1o Semestre . 2021 tantas Ano 11 . No 17 Edição Especial culturaisTurma Fora de Sede Estrela memórias. Revista da Disciplina de Oficinas de Linguagens Culturais e Suas Formas de Expressão 1o Semestre . 2021 Cidades Ano 11 . No 17 Edição Especial do Vale Turma Fora de Sede Estrela do Taquari

memória e linguagens Memórias... tantas memórias. Cidadesculturais do Vale do Taquari

Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Bens Culturais 1 linha de pesquisa memória e linguagens linguagens

culturais culturaise suas formas de expressão

Esta revista é uma criação dos alunos do curso de Mes- EXPEDIENTE: trado e Doutorado em Memória Social e Bens Culturais, da Unilasalle , para a Disciplina de Oficinas de Linguagens Culturais e Suas Formas de Expressão, de 2021, sob orientação da professora Dra. Zilá Bernd, Reitor da professora Dra. Lucia Regina Lucas Rosa e da prof. Prof. Dr. Paulo Fossatti Dra. Patrícia Kayser Vargas Mangan. Vice-Reitor SOBRE O PPG EM MEMÓRIA SOCIAL E BENS CULTURAIS Pró-Reitor de Pesquisa e Extensão O Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Pró-Reitor de Graduação Bens Culturais (PPG-MSBC) é composto por um curso Prof. Dr. Cledes Casagrande de mestrado profissional e um doutorado acadêmico. O mestrado profissional é um diploma equivalente ao de mestrado acadêmico, autorizando o titulado a atuar no Diretora de Pós-Graduação e Pesquisa Ensino Superior. Sua vantagem em relação a um curso Prof. Dra. Patrícia Kayser Vargas Mangan acadêmico é a ênfase no impacto social da pesquisa científica: para além de uma dissertação, o Mestre Coordenadora do Programa de Pós-Graduação Profissional gera uma série de produtos técnicos que em Memória Social e Bens Culturais contribuem para que sua pesquisa repercuta imediata- mente na sociedade – em organizações, instituições, Prof. Dra. Cleusa Maria Gomes Graebin empresas, etc. Trata-se, portanto, de um processo de formação que enfatiza a inserção profissional para além Vice-coordenadora do Programa de Pós- dos muros da Universidade. Graduação em Memória Social e Bens Culturais SOBRE A DISCIPLINA DE OFICINAS DE Prof. Dra. Tamara Cecília Karawejczyk Telles LINGUAGENS CULTURAIS E SUAS FORMAS DE EXPRESSÃO Professoras da Disciplina de Linguagens Noções de linguagens: comunicação e expressão. Lin- Culturais e Suas Formas de Expressão guagens como suporte da memória cultural. Linguagem Prof. Dra. Zilá Bernd Prof. Dra. Lúcia Regina Lucas como espaço de negociação identitária, de interação cultural e de passagens transculturais. Adequação das da Rosa e prof. Dra. Patrícia Kayser Vargas Mangan linguagens a diferentes usos (midiáticos, técnicocientí- ficos e simbólicos). Linguagens e mediações tecnológi- Projeto Gráfico, Diagramação cas: texto, imagem e som no universo digital. Heteroge- Paulo Fernando Pires da Silveira neidade, mobilidade e hibridação das linguagens. Olhar, foco e perspectiva. Fotos Banco de Imagens Pixabay.com e Fernando Pires Foto+Grafia, exceto quando indicadas na seção.

Revisão Prof. Dra. Zilá Bernd Prof. Dra Patricia Kayser Mangan Prof. Dra. Lúcia Regina Lucas da Rosa

Capa: Convento Franciscano São Boaventura no Município de / RS. Foto: Fernando Pires

2 editorial

Foto: Fernando Pires Memórias... tantas memórias. Cidades do Vale do Taquari

A Revista Memória e Linguagens críticas da noção de mobilidade cultural em Culturais é uma publicação semestral de contextos de globalização e/ou de fronteira, divulgação científica, vinculada à Linha de marcados por fluxos migratórios, transfe- Pesquisa Memória e Linguagens Culturais rências e choques culturais. do Programa de Pós-Graduação em Memó- No segundo semestre de 2018, o Pro- ria Social e Bens Culturais da Universidade grama de Pós-graduação em Memória Social La Salle. Seu objetivo é veicular produções e Bens Culturais iniciou um novo desafio: discentes realizadas no âmbito das discipli- implantar uma turma fora da sede de seu nas de “Mobilidades Culturais” e da “Ofi- mestrado profissional. A partir da parceria cina Linguagens culturais e suas formas de da Universidade La Salle (Canoas-RS) com expressão”. Em formato de magazine, é um a Faculdade La Salle (Estrela-RS), um gru- canal de comunicação entre as produções de po de mestrandos iniciou sua formação no alunos de mestrado e doutorado em Memó- município do Vale do Taquari. Para inte- ria Social e Bens Culturais e a comunidade. grarmos a publicação da Revista Memória e Sua linha editorial propõe (1) questões liga- Linguagens Culturais, na disciplina Oficina das às diversas formas de expressão das lin- de Linguagens Culturais e suas Formas de guagens culturais como textos escritos, auto- Expressão, os mestrandos foram desafiados biográficos, literários, jornalísticos, teatrais, a escreverem sobre alguma memória pessoal das artes visuais, etc (2) estudos de caso de em relação ao Vale do Taquari. mobilidades culturais – espaciais, tempo- Nessa proposta, com o tema Memó- rais, discursivas e linguísticas; e (3) análises rias...tantas memórias. Cidades do

3 Vale do Taquari, apresentamos as produ- frequentadores. Mariana Galeazzi Modesti ções dos alunos e suas memórias de diversos traz as memórias do cais do porto nas suas locais e momentos que, de alguma maneira, escadarias e o quanto a escadaria já foi um marcaram sua trajetória de vida. Começa- local de encontro e de lazer aos munícipes de mos com Fabiele Lermen Spohr narrando Estrela. Mariana destaca a relação harmo- sobre a primeira turma do PPG em MSBC niosa da cidade com o rio. fora de sede, contando um pouco sobre a his- Márcia Andréia Beppler enaltece o tória da UniLasalle Canoas, como também, a parque Princesa do Vale como ponto de en- Faculdade La Salle Estrela e da importância contro entre as pessoas em Estrela, um espa- do curso em nível de Mestrado para a região ço público no coração da cidade. Neste par- do Vale do Taquari. que há muitas histórias marcantes na vida A seguir, Izabel Cristina Martins da dos moradores. Patrícia Branco também se Rosa Schneider relata suas idas e vindas pe- refere a um ponto antigo em Estrela: a praia las estradas entre sua cidade de moradia, a ci- do Cascalho, local de encontro de famílias, dade de seu trabalho e a cidade onde estuda, amigos e pescadores. Ao contar histórias revelando-se uma professora e estudante que pitorescas junto à praia do Cascalho, Patrí- passa mais tempo na estrada que em um lugar cia relata seu fim, dando lugar ao Porto em fixo. Izabel ressalta o quanto o sentimento de nome do progresso da cidade de Estrela. não-pertencimento vem a ela de vez em quan- Cláudia Argiles da Costa registra a do, principalmente, ao ouvir os relatos dos co- história do Colégio Santo Antônio, mesmo legas quanto aos lugares que descrevem. local onde situa-se hoje a Faculdade La Salle Marco Aurélio Wermann nos brinda Estrela, e relata desde a origem fundada pe- com um tema que perpassa alguns outros los jesuítas, passando em seguida para as Ir- textos desta Revista: o rio Taquari. Para mãs Franciscanas, e tendo continuidade com Marco, o rio transportava mercadorias, pes- a Associação de Pais, Professores e Amigos soas e sonhos, por isso, destaca a relação do do Santo Antônio – APASA, integrando va- Taquari com a população de Estrela ao longo lores e constituindo-se um importante edu- da história. candário comunitário em Estrela. Alexsandra Petry, com o título A rua Carlos Evandro Schneider, em seu é o seu quintal, descreve e relembra como texto sobre a educação no Vale do Taquari, eram as ruas da cidade de Estrela no pas- conta o quanto era raro estudar em tempos sado e revela nostalgia devido às mudanças atrás e o quanto foi importante ter superado ocorridas com o crescimento da cidade. Dar- obstáculos para prosseguir nos estudos, con- lã Berlini remonta aos primeiros imigrantes trariando expectativas da época. italianos que chegaram ao Brasil e o orgulho Leandro de Marque faz uma homena- dessa origem, em Estrela, ao fundarem a So- gem à Casa do Morro, em Cruzeiro do Sul, ciedade Italiana Fiori dei Piani. Em sua es- traçando um minucioso histórico sobre essa crita, Darlã descreve o que faz a Associação e importante atração turística. Leandro desta- o quanto seus integrantes são unidos e ativos ca a localização da Casa do Morro, que pri- nos eventos. vilegia uma visão do Rio Taquari, e das Ci- Josemir José Gregory contextualiza dades de Cruzeiro do Sul, Lajeado e Estrela, as memórias da Igreja Matriz Santo Antônio, integrando parte do Vale do Taquari. no município de Estrela, como um importan- Angélica Heinen Mahle mostra o es- te local para congregar os imigrantes vindos porte e o lazer reverenciados na cidade de da Europa, dando-lhes uma sensação de per- , destacando a construção tencimento, unidos pela fé. Em seu histórico, do Parque Multiesportivo Odilo Klein como a Igreja Santo Antônio passou por diversas ótima opção de entretenimento. obras, constituindo-se significativo traba- Renato Kreimeier alude à cidade de lho coletivo da comunidade. Zuleica Regi- Teutônia como a capital do canto coral. Em na Rambo descreve as atividades do Núcleo seu texto, traça um breve histórico sobre o Cultural de Estrela, discriminando os fun- coro e sua importância para a humanidade. dadores e colaboradores e o funcionamento Renato ainda descreve a colonização alemã do Núcleo. Zuleica destaca apresentações e em Teutônia e as reuniões informais com os atividades realizadas de culinária, de músi- vizinhos em tempos mais antigos, com a pre- ca e a importância de tais atividades para os sença da música. Éber Gustavo Jung cita a

4 cidade como um legado até os dias atuais. A Esta edição especial Revista finaliza com a escrita de Elaine Nagel sobre a história da fabricação de cerveja em que é agora lançada, Estrela, especialmente, a cerveja artesanal e além de celebrar a marca de destaque da cerveja Polar. Elaine analisa as motivações para beber cerveja e os as memórias sentimentos evocados. Esta edição especial que é agora lan- e os espaços çada, além de celebrar as memórias e os espaços do Vale do Taquari em narrativas do Vale do Taquari pessoais, comemora o encerramento deste ciclo de formação. Com as primeiras defesas em narrativas ocorrendo em julho de 2020, e a última defe- sa ocorrendo em março de 2021, dedicamos pessoais, comemora esta edição aos dezessete mestres em Memó- o encerramento ria Social e Bens Culturais. Ainda que nem todos os mestres tenham participado deste deste ciclo número, e alguns dos que aqui contribuíram, por um motivo ou outro não finalizaram o de formação. curso, é motivo de muito orgulho apresentar este material. Aproveitamos para agradecer à acolhida ao nosso Programa de Pós-gradu- Igreja São José de Santa Manuela como uma ação e a parceria com a Faculdade La Salle oportunidade de conhecê-la melhor. Reco- Estrela, que sempre apoiou as ações desen- nhecida a importância da igreja para a cida- volvidas neste período tão rico de trocas. de de , Éber rememora cenas vivi- Com desejos de que essa parceria perdure, das ao redor da igreja. encerramos parabenizando os mestres e de- Marciane Blume Inamine presta home- sejando uma agradável leitura. nagem ao professor e administrador público Leonildo José Mariani, ex-prefeito de Estrela Prof. Dra Patricia Kayser Vargas Mangan e um dos impulsionadores do crescimento da Prof. Dra Lúcia Regina Lucas da Rosa cidade. Marciane destaca suas benfeitorias na Prof. Dra Zilá Bernd

5 sumário editoral 3 sumário Siamo tutti felicci que vinhesta qua! 6 Darlã Berlini artigos 5 Igreja Santo Antônio: Turma fora de sede em Estrela, um espaço de memória uma experiência fora de série! e identidade em Estrela Josemir José Gregory Fabiele Lermen Spohr 6 1 Núcleo Cultural de Estrela Estrada, meu paradouro Zuleica Regina Rambo Izabel Cristina Martins da Rosa Schneider 7 2 A escadaria: memórias Uma visão sobre o Rio Taquari de um cais do porto Marco Aurélio Wermann Mariana Galeazzi Modesti 3 8 Parque Princesa do Vale: A rua é o seu quintal memórias de um espaço Alexsandra Petry Márcia Andréia Beppler 4 9

6 memória e linguagens culturais

Praia do Cascalho Capital nacional Patrícia Branco do canto coral - Teutônia/RS 10 Renato Kreimeier 15 Colégio Santo Antônio revitaliza espaço histórico Igreja São José de educação regional de Santa Manuela: Cláudia Argiles da Costa minhas primeiras impressões 11 Éber Gustavo Jung 16 Nenhuma criança sem escola no Vale do Taquari De professor Carlos Evandro Schneider a Administrador Público: 12 memórias de Leonildo José Mariani Casa do morro: Marciane Blume Inamine uma patrimônio histórico 17 em Cruzeiro do Sul Leandro de Marque FABRICAÇÃO DE CERVEJA 13 ARTESANAL EM ESTRELA: Uma história, Santa Clara do Sul: muitas lembranças, grandes uma cidade que vivencia negócios e o surgimento o esporte e o lazer. de muitos encontros... Angélica Heinen Mahle Elaine Nagel 14 18

Foto: Fernando Pires7 Foto: site LaSalle Estrela A primeira turma do Mestrado em Memória Social e Bens culturais fora de sede La Salle Estrela

Mestrado em Memória Social e tuições de ensino superior da Rede Bens Culturais faz parte do Lassalista pertencem a uma rede que Programa de Pós-Graduação da está presente em diversos países e UniLaSalle de Canoas, porém, no se- que se pauta em uma educação de qua- Ogundo semestre de 2018, o mestrado lidade e de excelência, com princí- foi ofertado fora de sede, na La pios cristãos. Salle de Estrela – RS. Estas insti- O Mestrado em Memória Social

8 e Bens Culturais possibilita uma mãos Lassalistas, e mantém mais de formação sólida, pautada nas de- 993 instituições de ensino, além mandas culturais da sociedade con- de estar presente em 80 países. A temporânea. O mestrado analisa as Rede La Salle é reconhecida pela memórias sociais e os bens cultu- excelência de ensino e pela forma- rais no processo de construção da ção humanística. No Brasil, a Rede identidade cultural de grupos so- La Salle está presente em 9 Estados ciais. Como este curso é interdis- e no Distrito Federal com mais de ciplinar, no Mestrado na La Sal- 47 mil alunos. le de Estrela, temos a presença Conforme o site da Universida- de profissionais das mais diversas de (https://www.unilasalle.edu.br/ áreas, como: civil, militar, saú- canoas), a UniLaSalle de Canoas, em de, políticas públicas, gestores, 1976, iniciou suas atividades como inclusive eu, que sou da área da Centro Educacional La Salle de En- educação, e atuo como professora. sino Superior, com a implementação Este artigo visa contar um do curso de Estudos Sociais e pos- pouco sobre a história da UniLasal- teriormente os cursos de Letras e le de Canoas, como também, da Fa- Pedagogia, devido à filosofia da Con- culdade La Salle de Estrela e sobre gregação. Com o passar dos anos e a primeira turma a com o surgimento de ser ofertada fora novos cursos, o Cen- de sede. Uma turma No Brasil, tro Educacional tor- com grandes vivên- nou-se então Centro cias nas mais diver- a Rede La Salle Universitário – Uni- sas áreas, buscando LaSalle. o aperfeiçoamen- está presente em Devido ao grande to e aprimoramento 9 estados e no aumento de alunos, profissional a par- e a vasta extensão tir dos estudos do Distrito Federal de cursos de espe- mestrado em Memória cialização, em 2007 Social e Bens Cul- com mais de iniciou o curso de turais. Mestrado em Educa- Ao saírem da 47mil alunos. ção, e em dois anos graduação ou da es- seguintes, surgiu o pecialização, mui- Mestrado em Memória tas pessoas já têm em mente a ne- Social e Bens Culturais, posterior- cessidade de continuarem buscando mente, o Programa de Mestrado foi se o aperfeiçoamento e a atualização. adequando e surgindo outros cursos Para tanto, almejam estudos que ve- com o passar dos anos. nham contribuir de fato para seu Então, em 2017, o Centro Uni- aprimoramento profissional, sendo o versitário La Salle foi reconheci- mestrado uma incessante procura e do como Universidade, dando conti- desejo de muitas pessoas. nuidade à educação com princípios Existem programas de pós- cristãos e de excelência, marca do -graduação para diversas áreas, e compromisso da Rede La Salle. em todo o país, o que facilita as Já a Faculdade La Salle está chances de conquista da tão sonha- situada em Estrela, a 98 km da da vaga no mestrado. UniLaSalle de Canoas. Estrela é Uma universidade tão almeja- um dos municípios mais antigos do da e vista com “bons olhos” é a Vale do Taquari. Universidade La Salle de Canoas, No ano de 2006, conforme o que faz parte da Rede La Salle. A site da La Salle (https://www. Rede La Salle é composta pelos Ir- unilasalle.edu.br/faculdade/es-

9 trela), a prefeitura de Estrela A turma é composta por 20 alu- manifestou interesse em ofertar nos, das mais diversas idades e educação superior no município, já profissões, possibilitando uma rica que são poucas instituições de en- troca de aprendizagens e vivências. sino superior presentes nesta re- O grupo é muito seleto, criativo e gião, firmando assim, uma parceria dinâmico. Estamos sempre nos aju- com a Rede Lassalista. Então, no dando, auxiliando e contribuindo ano de 2007, a prefeitura estabe- para a construção de aprendizagem. leceu contato com a Mantenedora e As trocas de experiências e a vi- foi criada a Faculdade de Tecnolo- são ampla que o grupo tem frente às gia La Salle – Estrela. questões abordadas em aula são fun- A faculdade La Salle funciona damentais para o processo de apren- nas instalações do educandário pri- dizagem do mestrado. vado, Colégio Santo Antônio, onde Como sou professora, tenho ad- também é oferecida a educação bási- mirado as dinâmicas e metodologias ca. A faculdade situa-se no centro ativas que os professores do mes- da cidade de Estre- trado utilizam, que, la, possibilitan- apesar de ser um do fácil acesso ao A turma é curso de pós-gradu- transporte público, ação, se fazem pre- como também, rápido composta por 20 sentes metodologias acesso aos municí- ativas e dinâmicas, pios vizinhos da re- alunos, das mais que contribuem para gião. Ela é coorde- diversas idades a aquisição do co- nada por uma equipe nhecimento. As aulas engajada pelo espí- e profissões, são muito diferen- rito cristão, e que ciadas e atrativas! está sempre compro- possibilitando Os professores do metida com os prin- mestrado são pro- cípios da Rede Las- uma rica troca de fissionais excepcio- salista. aprendizagens nais, alguns mais A faculdade La dinâmicos, outros Salle dispõe de um e vivências. mais tradicionais, prédio antigo, po- porém, percebe-se o rém, muito bem con- nível de excelência servado e agradável. destes professores. As salas são todas equipadas com Nota-se claramente, que possuem ar-condicionado e retroprojetores, muito conhecimento e segurança no cadeiras, mesas, quadros, todas são assunto que estão abordando nas au- muito amplas e arejadas. A primei- las, e estão contribuindo fortemente ra turma do mestrado, na qual faço para nosso aprimoramento profissio- parte, é muito privilegiada, pois nal e processo educativo. Destaco temos uma sala reformada. A sala que as aulas do mestrado, geralmen- é linda! Esta sala apresenta mesas te, são conduzidas por 2/3 profes- em formato de “U” que suscita um sores, diferentemente dos cursos de trabalho contínuo, em grupo, algo graduação e especialização em que é que representa a união do nosso gru- apenas 1 professor. E ressalvo que po. Além disso, a mobília é branca, as aulas são muito válidas, pois é com almofadas coloridas, dando um nítida a ligação destes professo- ar muito moderno e contemporâneo. res, é muito oportuna essa organi- As cadeiras são estofadas e muito zação, contribuindo para uma apren- confortáveis, possibilitando um am- dizagem mais eficaz. biente agradável de aprendizagem. Também saliento que, duran-

10 Foto: site LaSalle Estrela te os intervalos, os professores “Trabalha questões relativas à do mestrado permanecem conosco, os memória social, pensada como um cam- mestrandos. Nesta ocasião, nos sen- po a partir do qual se pode refletir timos ainda mais à vontade com os sobre: as relações entre memória, docentes, são momentos de muita des- cultura, identidade, linguagem, es- contração, conversas e trocas. Mais paço e representações sociais; me- uma experiência rica dos encontros. mória, cultura, educação e patri- Os encontros do mestrado ocor- mônio cultural (material, imaterial rem quinzenalmente, nas sextas-fei- e natural); produção, circulação, ras à noite, e nos sábados no turno apropriação e usos sociais de bens da manhã e da tarde. Apesar de serem culturais (materiais, imateriais e dois dias muito intensos, são dias naturais); memória, cultura, infor- de muitas aprendizagens e reflexões. mação e comunicação. Aprofunda estu- O Mestrado em Memória Social e Bens dos sobre a pluralidade de culturas Culturais é um mestrado profissio- e de memórias; sobre os diferentes nal, que viabiliza um impacto so- espaços e lugares de memória, patri- cial da pesquisa científica, sendo mônio cultural em uma perspectiva que o mestrando, realizará diversas integral; e sobre as relações entre produções que, de fato, contribui- desenvolvimento social e econômico rão na sociedade e nas identidades a partir do uso ético e responsável de uma cultura. O mestrado em Memó- dos bens culturais.” ria Social e Bens Culturais: Desta maneira, o mestrado ana- lisa as memórias sociais e os bens 11 culturais no pro- do passado ocorre cesso de construção ...um curso pelos grupos sociais da identidade cul- interdisciplinar do presente. As me- tural de grupos so- mórias de um indi- ciais, sendo um cur- que capacita de víduo nunca são só so interdisciplinar suas e nenhuma lem- que capacita de for- forma teórica brança pode existir ma teórica e técni- apartada da socieda- ca aos profissionais e técnica aos de. para atuarem nas O Mestrado em Me- áreas da memória so- profissionais para mória Social e Bens cial, da cultura e Culturais da Rede da gestão de bens atuarem nas áreas La Salle mostra o culturais. da memória social, compromisso da Rede Um dos prin- Lassalista com os cipais autores que da cultura e da princípios cristãos aborda sobre a Me- e do conhecimento, mória Social é Mau- gestão de bens como ferramentas de rice Hallbwachs, ensino, aprendiza- sendo o seu livro culturais. gem e transformação aporte teórico con- social. Este curso dizente para as au- de mestrado tem de- las do mestrado. Segundo Halbwachs monstrado a importância do patrimô- (2006), as memórias são construções nio cultural, artístico, ambiental, dos grupos sociais, são eles que científico e tecnológico para a vida determinam o que é memorável e os social e cultural. O mestrado tem lugares onde essa memória será pre- possibilitado um leque de aprendi- servada. Ou seja, essa reconstrução zagens e construções. Está sendo gratificante fazer parte da Rede Lassalista, uma rede de edu- cação cristã, que é reconhecida por Foto: Acervo da Autora. sua excelência e qualidade.

REFERÊNCIAS:

https://www.unilasalle.edu.br/ canoas/a-universidade/http:// lasalle.edu.br/faculdade/estre- la/

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Centauro, 2006. vvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvv

Autora: FABIELE LERMEN SPOHR - Formada pelo Curso Nor- mal, graduada em Le- tras-Espanhol e mes- tra em Memória Social e Bens Culturais. Pro- fessora por formação e vocação.

12 Foto: IZABEL CRISTINA MARTINS ESTRADA, MEU PARADOURO

iariamente viajo de uma cida- centro do Estado ao nosso Vale. Ao de para outra, muitas vezes, me deslocar por entre ela sinto, em no automático. meu rosto, o amanhecer de um novo Minha trajetória inicia-se dia esperando encontrar meu lugar. Dem Lajeado, junto à aurora do dia, Augé (apud GUTIERREZ e LEDESMA, quando entro no meu carro e me di- 2015) afirma que “[...] se um lugar rijo para o trabalho, perfazendo o pode se definir como identitário, trajeto, utilizando a rodovia RST- relacional e histórico, um espa- 453, que liga a Terra ço que não pode se definir nem como de Areia. Esta rodovia, também co- identitário, nem como relacional, nhecida como Rota do Sol, gentil- nem como histórico definirá um não mente cruza o município ligando o lugar [...]”. (p. 17). 13 Chego então, ao meu primeiro Busco em meu trajeto algo destino, a Escola de Educação In- para contemplar todos os dias na fantil que situa-se em um bairro ida e na volta. E, por mais que eu próximo, na qual permaneço durante tente olhar, tudo passa tão rápido seis horas da minha vida diaria- que, muitas vezes, já passou. Vejo mente, professando em poucos segundos com muita dedicação o refrescante rio e convicção a profis- “[...] no verão, Taquari, e ali está são que minha alma o porto de Estrela, escolheu para seguir escaldante onde barcos ancoram esse caminho de zelo contrasta com deixando um pou- que tenho por meus co de si, trazendo pequeninos. a refrescância consigo a saudade Saio dali e dos viajantes. Eles vou para a BR 386, das águas se utilizam do rio de onde inicio o como local de tra- meu percurso para do rio Taquari, balho, e ali, mal a próxima cida- consigo enxergar de, Estrela. Parece que serpenteia o sua estrutura, mas tudo voar através consigo ler, preso dos meus olhos, fá- nosso Vale [...]” em seus grandes si- bricas, paradas de los, que contêm os ônibus, mercado, e grãos produzidos no sim, muita estrada, é um vai e vem Vale “Porto de Estrela”. Conta a de carros, ônibus, caminhões, car- história que foi inaugurado em 1977 ros de polícia, resgate, ambulân- e o acesso hidroviário só foi ple- cias, todos apressados para chegar no após a conclusão da eclusa de ao seu destino, é o “intervalo” do , situado a alguns almoço. O asfalto que aproxima as quilômetros rio abaixo. pessoas com seus entes queridos, Ao entrar no trevo de aces- lembranças e memórias. so de Estrela é possível vislumbrar Fico a observar, em certos a origem germânica, apresentada em dias, a paisagem que nem sempre algumas arquiteturas da cidade, não agrada aos meus olhos, pessoas a so- me canso de contemplar o ajardina- frer embaixo do viaduto, frio, calor mento que há no canteiro central a assolar essa família que ali esta- da nossa Princesinha do Vale, as- va e agora, se foram, é... uma vez, sim como é conhecida carinhosamen- olhei e tudo ali es- te. Faço esse per- tava sendo aterrado. curso por um curto Me fiz algumas per- tempo, mas sinto en- guntas: Para onde “[...] ainda não chendo meus pulmões foram? Será que es- ao respirar a fra- tão bem? Não sei, encontrei o meu grância das flores sei que ali não es- lugar, mas penso que perfumam o meu tão mais! caminho e chego ao Retomo meu que todos estes meu destino, a Es- olhar para o as- cola de Ensino Fun- falto, que, no ve- lugares também damental 20 de Maio, rão escaldante, onde sou Orientadora contrasta com a re- são meus [...]” Educacional, escola frescância das águas essa para a qual te- do rio Taquari, que nho muito carinho. serpenteia o nosso Vale e proporcio- Durante o crepúsculo, realizo na lazer, alimento e labor a vários meu regresso para o aconchego de meu habitantes dos diversos municípios lar em que inicio uma nova jornada, que por ele são banhados. parece tudo igual, mas não é... a 14 Foto: IZABEL CRISTINA MARTINS arborização exuberante das pétalas a tonalidade das flores e folhas do trevo fazendo-me revisitar mi- causadas pelo entardecer, a sombra nhas lembranças, bosques e praças que meu carro pega por alguns ins- por onde passei em minha infância, tantes que refrescam o meu ser. Por faço conexões durante o tempo em que vezes, no verão, a chuva que molha estou no meu trajeto, me despeço o meu carro é o sol que seca do deste município em que ali perma- outro lado da ponta, fico a pensar neci por quatro horas. Meus olhos que clima tão louco, que de um lado percorrem pelo trevo e ali observo tem chuva intensa e do outro, sol do outro lado, em uma das pétalas, o radiante. E no inverno são contras- Chuck e Ruth, monumento cultural que tantes os fenômenos da natureza, nos remete à colonização germânica, em Estrela, uma densa cortina de trazendo para os nossos olhares um neblina cerrando os olhares para a pouco da história deste lugar. cidade e em Lajeado, sem resquício Sigo a minha viagem e vislum- algum desta neblina. bro esse caminho enchendo meu olhar Essa cortina de neblina, que e sentimento de tudo que possa me se esvai na medida em que vou atra- conectar ao meu lugar. Os carros, vessando a ponte Estrela-Lajeado, carretas, ônibus de viagem me fazem faz meus olhos descobrirem as ma- lembrar de como cheguei por aqui, ravilhas que há nas margens do Rio apenas com uma mala cheia de so- Taquari. A primeira imagem que mar- nhos. A arborização florida que há ca meu trajeto, em Lajeado, são as nas margens da BR-386 me encantam, torres da Igreja Matriz Santo Iná-

15 Foto: IZABEL CRISTINA MARTINS cio de Loyola à minha esquerda, que meu pertencimento, porque “[...] luta para manter sua imponência de- Identificar-se é fazer parte, é in- vido às intempéries do tempo, mar- cluir-se em um determinado meio, cada por uma grande tragédia, seu é criar vínculos [...]”. (COLOMBO incêndio no ano de 1953. Imagem que 2017, 178). me faz refletir sobre seu surgimento Fico a pensar, muitas vezes, e memórias que ali residem. em quem passa por mim, ouço rádio, Este templo me remete à lem- mas o que eu queria era poder parar brança que tenho do início de minha pelo caminho e contemplar algo que vida, o meu batizado. Com isso faço realmente pertencesse a mim, aos idas e vindas em minha memória para meus sentimentos, assim como meus lembrar dos detalhes que escutei colegas falam de suas experiências desta data em minha infância. Vendo de infância nesses lugares ou cida- as fotos de batismo, percebo a gran- des que citei. O lugar que me vejo de semelhança que há entre elas. quando fecho os olhos remete-me à No percurso que se segue vou grama verdejante, onde estou a ro- buscando semelhanças e reconheci- lar, a correr, passar pela ponte no mentos, pois ainda não encontrei o lago do Parque Barigui ou cruzar o meu lugar, mas penso que todos es- lago com o Cisne, um pedalinho que, tes lugares também são meus, fazen- por vezes, eu e meu tio e o cachor- do parte de minhas memórias. Dia- ro Falcão passeávamos. Eu só que- riamente busco minha identificação, ria sentir aqui a emoção que sinto

16 de lá! Mas não, a saudade da minha minhas reflexões que sim... chego em cidade é muito grande, para mim, casa e gostaria de estar andando de seria fácil descrever o Passeio Pú- carro por mais alguns minutos para blico, ou a praça Osório em que ia terminar meus pensamentos, ou vol- todas as vezes que tinha dentista, tar às minhas memórias... lembrar brincar no escorregador que tinha e fazer conexões ao hoje, às cida- um túnel, sim isso, para mim não des em que passo diariamente e de tinha preço. E depois parar em uma como seria bom poder, mesmo que por lanchonete e tomar uma deliciosa e alguns instantes, contemplar algo refrescante “Wimi”... “Ai que sau- naquele dia e viver aquele momento dades que tenho [...], que os anos único, tentando se reconhecer na- não me trazem mais”. quele rio que corre todos os dia A vida que tenho é repleta em um único sentido, descendo para de partidas e despedidas, lugares desembocar no Jacuí, Lago Guaíba, onde estive e agora não estou mais, Laguna dos Patos e seu maior desti- talvez eu nem me reconheceria mais no, o Oceano Atlântico. em minha própria cidade, minha que- rida Curitiba, acredito que ficou REFERÊNCIAS: apenas nas lembranças... Mas acre- ditem, tudo vale a pena, a vida COLOMBO, Nilza Cristina Tabor- aqui também é boa, só preciso so- da de Jesus. Memória e identi- nhar mais e me ver aqui e não lá... dade. In: BERND, Zila; MANGAN, Buscar em todos os pontos de che- Patrícia Kayser Vargas (Org.). gada uma parada que me fixe, que eu Dicionário de expressão da memó- consiga me ver neste lugar. ria social, dos bens culturais e Durante o trajeto, fico a re- da cibercultura. 2. ed. Canoas: fletir em como seria se eu tivesse Unilasalle, 2017. p. 178-179. crescido por aqui? Em que cidade meus pais teriam se instalado? Em GUTIERREZ, Ana Lérida; LEDESMA, Sandra. Lugar, Não Lugar, En- trelugar: novas espacialidades. Memória e Linguagens Culturais: “[...] realizo muitas Mobilidade e Impactos culturais, idas e vindas em Canoas, v. 1, n. 9, p.16-22, Não é um mês válido! 2015. Semes- minha alma [...]” tral. Disponível em: https:// www.unilasalle.edu.br/canoas/ revista-memoria-e-linguagens- -culturais/. Acesso em: 20 set. qual igreja eu teria sido batiza- 2018. da? Qual teria sido a minha escola? Meus amigos? Enfim... Muitas pergun- vvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvv tas me faço nesse trajeto que não dura mais do que 30 minutos, rea- Autora lizo muitas idas e vindas em minha IZABEL CRISTINA MARTINS DA ROSA alma. Há momentos em que percebo SCHNEIDER - Professora, Coorde- que brotam lágrimas em meus olhos… nadora Pedagógica e Orientadora São essas lembranças nas quais mer- Educacional. Pedagoga. Es- gulho. Meus pensamentos correm para pecialista em Orientação chegar a algum lugar, um destino, Educacional e em Gestão que geralmente se perde nas che- Escolar. Mestra em gadas das escolas, ou quando es- Memória Social e Bens tou parada em frente ao meu por- Culturais pela Unila- tão, onde há alguns dias, como já salle/Canoas. E-mail da havia dito, estou no automático, autora izabel.201820427@ pois mergulhei tão profundamente em unilasalle.edu.br. 17 Foto: Rádio Independente

uando falamos do Rio Taqua- ri, nos referimos aos primór- UMA dios de nossa colonização, que se deu por intermédio do rio, que, Qdesde então, passou a transportar VISÃO mercadorias, pessoas e seus sonhos. Novas vidas, novas conquistas e de- safios e novos negócios. Um mundo novo por construir. Conforme Schie- SOBRE rholt (2002), em seu livro Estrela Ontem e Hoje, O nome do rio Taquari vem do tupi-guarani. Segundo alguns O RIO historiadores, Tibiquari significa- va “rio da Pequena. E o rio teve importância fundamental para desenvolver esta nossa terra, uma TAQUARI vez que ele era meio logístico para o escoamento da produção agrícola, mas também, para a importação de in- sumos, ferramental, equipamentos e produtos manufaturados trazidos da capital. Consultando a wikipedia, verificamos que 18 o rio Taquari tem suas nascen- gundo vale mais fértil do mundo. tes nos municípios de Camba- Também aqueles que por ele são ba- rá do Sul e Bom Jesus, quan- nhados se alimentam e bebem de suas do é ainda conhecido como Rio águas, criam muitos vínculos e ja- das Antas, sendo que com este mais esquecem de sua importância. nome, o rio faz um percurso Por vários anos, as cidades do seu de 390 km. Nas proximidades entorno, e principalmente as maio- do município de São Valentim res, Estrela e Lajeado, ficaram de do Sul recebe as águas do rio costas para o Taquari. Mas nos úl- Carreiro, onde então passa a timos 20 anos, vários movimentos da se chamar propriamente rio Ta- sociedade civil organizada passaram quari. Deságua no rio Jacuí a cuidar e cobrar do Poder Público no município de Triunfo. Com local e das comunidades, ações con- o nome de Taquari, perfaz um cretas visando reconhecer a sua im- percurso de 140 km, totali- portância, bem como, promover ações zando, portanto, uma extensão de manutenção, limpeza e controle de 530 km desde seu nascedou- da qualidade de suas águas. Temos, ro até a foz. O rio Taquari é em Estrela, a colônia de pescadores importante para a economia do Z20, cujo papel de orientação da Estado do . população que reside principalmente Suas águas drenam um total de nas regiões ribeirinhas e vivem da 98 municípios. pesca artesanal é muito importan- te. Este grupo ajuda na fiscalização Mas a visão que quero trazer e conservação das condições míni- sobre o rio Taquari diz respeito à mas para poder retirar parte de seu inspiração que ele nos traz, como sustento econômico, mas também aju- paisagem, como mostra da grandiosa da nos cuidados, alertando as au- natureza e das suas belezas natu- toridades quando da pesca predató- rais. O rio Taquari fascina por ria fora dos períodos permitidos, sua exuberância e imponência. O bem como, do uso de equipamentos rio ilumina e em- que descaracteri- bala os sonhos de zem a subsistência. toda uma comunidade O rio ilumina e Também nesse perí- e faz desenvolver odo, várias ações raízes profundas embala os sonhos aconteceram no sen- em todos que aqui tido de dar vida ao convivem. O rio Ta- de toda uma rio, utilizando suas quari é memória, comunidade e águas para lazer e é história, é ri- várias modalida- queza, é sonho e é faz desenvolver des esportivas. As- alento. Porque como sim, com todas essas rio, faz a vida se- raízes profundas ações, e sendo mais guir, serpenteando utilizado, a comuni- as tristezas e ale- em todos que dade local passou a grias, buscando ca- exercer mais contro- minhos, transpondo aqui convivem. le sobre essa grande barreiras e dificul- riqueza regional. dades. Ele é mansi- As novas gerações dão em tempos normais, resiliência já crescem com o sentimento e o co- em tempos de seca e turbilhão em nhecimento sobre a importância do momentos de enchente. nosso rio Taquari, pois além de O Rio Taquari em virtude de preservar uma importante fonte de suas enchentes anuais, torna mui- vida, seja para o abastecimento das to produtivas as terras que nele residências através da água potá- se banham, sendo considerado o se- vel, seja para a produção agrícola e

19 industrial, serve como referência o acesso às praias do litoral era de território e de nossa história. extremamente caro e demorado. Mas Muitas são as memórias que cons- a praia do Cascalho também sempre tituem lembranças de tempos pas- foi palco de eventos que divulga- sados e que aos poucos estão sendo vam a beleza da mulher estrelense, reavivadas com a devolução do rio inclusive com um evento específico, às comunidades locais, como pode- com a escolha da Miss Cascalho, como mos citar o caso de Estrela, que relata Schierholt (2002). Já na dé- na década de 60 doou o acesso na cada de 60 foi idealizado um gran- parte central da cidade para a am- de evento social regional, chamado pliação da fábrica da Polar, onde de concurso Rainha das Praias do várias obras do contexto históri- Taquari, que se realizou pela pri- co foram abandonadas e a população meira vez em 1968 e teve seu último foi impedida de ter contato com o evento ocorrido em 1975, já fora de Taquari. Assim como, também, ficou seu local original, devido à inter- impedida de desfrutar dos espaços dição ocorrida. Naquele ano, a Rua onde estavam alguns bens culturais Arnaldo J. Diehl foi interrompida, e de suas memórias. sendo proibida a passagem de pesso- as, pois a rua foi doada pela Admi- nistração Municipal da época para a Muitas são ampliação da Cervejaria Polar S/A. Para termos a dimensão da importân- as memórias cia do referido concurso regional, Ane Elizabeth Horst, que foi elei- que constituem ta Rainha das Praias do Taquari e Princesa das Piscinas do Rio Grande lembranças de do Sul, em 1974, foi revelada para o Estado e para o Brasil em 1976 tempos passados e e conquistou o título de Miss Rio que aos poucos estão Grande do Sul e Miss Simpatia do Brasil, levando o nome de Estrela sendo reavivadas com para todo o país. Conforme reporta- gem do Jornal Nova Geração, datada a devolução do rio às de 23 de junho de 2017, “A ‘Praia do Cascalho’ do Rio Taquari esteve comunidades locais exposta terça-feira, dia 20, quando a Barragem Eclusa de Bom Retiro do Sul foi aberta para a limpeza das O Município de Estrela possui correntes das comportas. várias memórias ligadas ao rio Ta- Com isso, o rio baixou cinco quari, sendo que podemos citar qua- metros e mesmo que tenha sido esta- tro das principais: a praia da Cas- bilizado no mesmo dia, muitos mora- calheira, a Escadaria, a Barragem dores puderam voltar ao local, que e o Porto. A praia da Cascalheira, antigamente era o point dos morado- Praia do Cascalho ou a “Prainha” res no verão para banho e confrater- como alguns a chamavam, era palco nização.” Traz esta matéria, ainda, de diversos eventos sociais e es- o relato de um cidadão relembrando portivos da população de Estrela e dos tempos em que frequentava o lo- arredores nos verões. Como naquela cal, o sr. Dércio José Rockenbach época ainda não existiam piscinas, levou o filho de 12 anos para mostrar o local era utilizado para a prá- como era: “Tinha a praia da casca- tica da natação. Também as famílias lheira, uma ilha de pedras que ia aproveitavam para passar momentos de até a metade do rio, mais ou menos, lazer e para se refrescar na Prai- tinha umas pedras grandes e tarta- nha, fugindo do calor no verão, pois rugas em cima delas”. Outros dois

20 Foto: arquivo Aepan pontos históricos junto às margens sendo sua maior cheia. Foi um de- do Rio Taquari em Estrela, eram a sastre para a região, o que tornou o Escadaria, que tinha em anexo o Por- rio praticamente sem condições para to antigo. Conforme o site da Ong a navegação e a ligação com a par- AEPAN, localizada em http://aepan. te alta do Vale. O assoreamento e blogspot.com/2016/09/escadaria- o pouco calado inviabilizaram tais -do-rio-taquari-patrimonio.html, atividades, levando à desativação a inauguração do antigo Porto, em do antigo Porto. No local, onde se 1924, proporcionou uma nova dinâ- localizava a Escadaria, foram cons- mica econômica e foi determinante truídas duas estátuas do Comércio e para o desenvolvimento do municí- da Indústria, as quais também eram pio, uma vez que, por Estrela era chamadas de Adão e Eva. Assim como a escoada parte da produção agrícola Praia do Cascalho, a Escadaria ficou e industrial da cidade e arredores, sitiada de 1975 até 2008, em virtude bem como, chegavam produtos da ca- da doação de uma rua para a Polar, pital e de outras regiões do Estado sendo que a população não teve aces- para comercialização. so ao que era patrimônio público Estava criado ali um ambiente por muitos anos. As estátuas foram de negócios, uma vez que este era retiradas e recolocadas no Belve- ponto de embarque e desembarque. O dere na Rua Chá Pereira junto ao antigo Porto funcionou até 1941, Rio. Com o fechamento da cervejaria que em virtude de uma grande en- em 2006, o Poder Público Municipal chente, onde houve precipitação de adquiriu em conjunto com um inves- mais de 640 mm, elevou as águas do tidor privado em 2007, todo o com- Taquari para além dos 29 metros, plexo da extinta Polar e reabriu as

21 passa a funcionar o Porto de Estre- A falta la, dando sentido e uso à construção de investimentos da Barragem de Bom Retiro. “Com uma área de 47.000 ha, sendo 20 ha com de recursos para benfeitorias. Com calado de 2,50m a 3,20m, o desassoreamento, o cais tem 585m, com dois berços de atracação, um silo vertical com assim como capacidade para 40.000 toneladas; dois armazéns graneleiros, com ca- as leis ambientais pacidade para 50.000 toneladas; um armazém para carga geral, com área que não permitem de 2.300m² e um pátio pavimentado a retirada de materiais de 3.500m², para estocagem de con- têineres. Os armazéns graneleiros do leito do rio, e o silo são equipados com moegas rodo-ferroviárias, transportadores tornou a navegação de corrente, elevadores de caneca, correias transportadores e balan- uma atividade inviável ças de fluxo”, conforme Schierholt (2002). Com isso, novamente o rio através do Taquari voltou a ter protagonismo na navegação Fluvial do RS, e Estre- Porto de Estrela. la em especial. Mais uma vez, o rio dava o tom do desenvolvimento, o que ruas, devolvendo ao povo de Estrela infelizmente durou até o final dos o acesso ao Rio Taquari em sua área anos 90, aproximadamente, quando o central. Conforme cita o site da modal fluvial passou a ser subutili- AEPAN “Em 2014 o Governo de Estrela zado, sendo substituído pelo modal reconstruiu o espaço público procu- rodoviário. A falta de investimen- rando manter as características do tos de recursos para o desassorea- antigo Porto construído em 1924. As mento, assim como as leis ambien- estátuas “Adão e Eva” finalmente re- tais que não permitem a retirada de tornaram para casa. Estava restabe- materiais do leito do rio, tornou lecida a relação da cidade com seu a navegação uma atividade inviável rio Taquari.” Outra grande obra que através do Porto de Estrela. a região ganhou em 1976 foi a Barra- gem Eclusa localizada em Bom Retiro REFERÊNCIAS: do Sul, a qual teve um grande im- pacto na economia, meio ambiente e SCHIERHOLT, José Alfredo. Estre- costumes da região. Com o início das la ontem e hoje. Estrela: Novak suas atividades e o fechamento das Edita Multimídia, 2002. comportas, o represamento das águas http://aepan.bllogspot. do Taquari inundou por completo a com/2016/09/escadaria-do-rio- Praia do Cascalho em Estrela, mas -taquari-patrimonio.html trouxe facilidades para a navegação fluvial. A Câmara da Barragem Eclu- vvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvv sa possui 120 metros de comprimento por 17 metros de largura e profundi- Autor dade de 16 metros, permitindo a pas- Marco Aurélio Wermann - sagem de embarcações com até 3,20 Bacharel em Economia metros de calado. Em 1977, com a pela Univates, Mes- inauguração do Terminal Rodo-Ferro- tre em Memória Social -Hidroviário de Estrela, pelo então e Bens Culturais pela Exmo. Sr. Vice-presidente da Repú- Universidade La Salle. blica Adalberto Pereira dos Santos,

22 Fonte: Blog do Airton Memorial da Aepan ONG Calçadão de Estrela, 1979

Pai Paulinho regiãoe ondeos seusa cidade voluntários. de Estre- la se Fonte:situa surgiu Acervo há domilhares autor A RUA de anos, junto com o territó- rio nacional. Foi habitada por ín- Adios e animais, onde tudo para eles É O SEU era quintal. Posteriormente foi ha- bitada por imigrantes, tornando-se Fazenda Estrela, povoado e poste- QUINTAL riormente cidade, o que ocorreu na segunda metade do século XIX. As primeiras construções realizadas estão localizadas no que é o centro da cidade. Desde sua emancipação, muitos aspectos físicos mudaram, como por exemplo: ruas, prédios e ambientes de lazer. Mesmo não nos dando conta, essas ruas preservam um pouco da história e da memória do Município, bem como dos antigos e atuais moradores ou visitantes. As ruas desta cidade nem sem- pre foram largas e asfaltadas. O es- critor estrelense Schierholt (2002, p. 428), afirmou no livro Estrela: Ontem e Hoje, que:

23 Além dos caminhos naturais pe- que a Fazenda Estrela passou a ser los rios e arroios navegáveis, cidade no final do século XIX e iní- nos dois séculos de história cio do século XX. O pequeno povoado de Estrela, os primeiros povo- possuía poucas casas e as ruas já adores abriam eram nominadas: trilhos e pi- ques pelas flo- Se as ruas não ti- As ruas restas, ligan- nham iluminação no- do as sedes das preservam um turna, em 1890 já fazendas entre possuíam nomes; mas si e estas com pouco da história nove anos mais tarde o Rio Taquari. o Intendente Péri- Alguns des- e memória do co Oliveira Freitas, ses primiti- Município, bem pelo Ato nº 20, de vos caminhos 18 de abril de 1899, já existiam, como dos antigos alteraria tudo, dan- abertos pelos do uma nomenclatu- índios, ori- e atuais ra fortemente vin- gem das pri- moradores cada pela marca do meiras estra- Partido Republicano das. As mais ou visitantes. Rio-Grandense, no- antigas ve- menclatura que em redas eram as grande parte subsis- que margeavam te até hoje (HESSEL, rios e arroios, percorridos 1983, p. 46). pelos aborígines que caçavam e pescavam, depois usadas pe- Este autor descreve como ocorreram los povoadores que acompanha- as pavimentação destas ruas: vam embarcações por terra ou se comunicavam entre os pri- A pavimentação das ruas da meiros portos e ancoradouros. cidade com paralelepípedos teve início na Rua Júlio de No parágrafo seguinte, o autor Castilhos, na quadra entre fala sobre a mudança dessas trilhas a Praça e o prédio da Pre- em ruas: feitura e a Igreja Matriz, em 1941, na gestão do bacha- Tais sendas e trilhas servi- rel Cláudio de Toledo Mércio ram de leitos para estradas, (HESSEL, 1983, p. 47). alargadas pelo uso mais in- tenso de escravos, arrastan- Conforme informado por Hes- do toras com juntas de bois, sel, as ruas tinham nomes dis- tropeiros carregando far- tintos dos atuais, a Rua Fernan- dos de erva, e, no período do Abbott era chamada de Rua da da colonização, por carroças União, por exemplo. e carretas para o transporte Mas, afinal, você se lembra da de produtos coloniais (SCHIE- rua Fernando Abbott? Não? Duvido RHOLT, 2002, p. 428). que se és estrelense, nunca tenha passado por ela sequer uma vez. Vou Quanto às ruas da cidade de lhe auxiliar: é localizada no cen- Estrela, Hessel, outro escritor es- tro da cidade, próxima à rua Tira- trelense, relata no livro O Municí- dentes e à rua Júlio de Castilhos, pio de Estrela; História e Crônica teve alterações importantes na dé-

24 Fonte: Jornal Nova Geração - Estrela Rua Fernando Abott - Dezembro de 1996

cada de 70 e posteriormente em 90, ponto de encontro para a comunidade é rodeada por comércios e durante local. Isso se manteve até feverei- o Natal virou ponto turístico da ro do ano seguinte. cidade, nos últimos anos, tendo em Tendo em vista a experiência vista que fica decorada e iluminada. ocorrida no ano anterior, a Rua Fer- Agora sabes qual é? Sim, é o Calça- nando Abott foi reelaborada em 1978. dão de Estrela! Foram 15 dias de obras até ser inau- Desde sua abertura, ali era gurada em dezembro de 1978, desta permitido o trânsito de veículos, vez, ela estava totalmente fechada, sejam eles de tração animal ou mo- impossibilitando a passagem de ve- tor, bem como, de pedestres. Até ículos pela rua. A iniciativa era que, em dezembro de 1977, os morado- para que servisse aos moradores, res e empresários das ruas Fernando visitantes e empresários a utili- Abott, Júlio de Castilhos e Tira- zarem como espaço de lazer conforme dentes se mobilizaram, solicitando ocorreu no verão de 77. aos órgãos competentes da Prefeitu- Ao longo dos anos, algumas me- ra Municipal de Estrela o fechamen- lhorias foram sendo realizadas na to da rua após às 20h. Essa medida iluminação pública e jardinagem no foi atendida e os moradores utili- período em que a rua estava dispo- zavam o espaço como lazer, sendo um nível apenas para pedestres. Outra

25 Fonte: Jornal Nova Geração - Estrela Arte gráfica: Débora Griebeler (@d.grblr.collage) Rua Fernando Abott sem calçadão, 1977

alteração que mudou o Calçadão foram lelepípedos, hoje é asfaltada. as fachadas dos prédios e casas, al- Este espaço atualmente é fre- guns foram sendo reformados e ade- quentado como ponto de encontro para rindo à arquitetura mais moderna, amigos, famílias e casais (tradi- outros foram demolidos e deram lu- cionais ou não) principalmente aos gar a construções com outros desig- finais de tarde e de semana para con- ns. Para alegria de pessoas como eu, fraternizar com um chimarrão ou to- que adoram prédios antigos, ainda mar um sorvete, das sorveterias que há alguns preservados nesta rua. estão localizadas no entorno. No Posteriormente, nos anos de Calçadão há construções destinadas 1995/1996, tendo em vista a deman- principalmente ao comércio de rou- da de trânsito no centro da cidade pas e alimentação. foram realizadas transformações. Ainda há divergências en- Entre elas, a reabertura do Calça- tre moradores e comerciantes sobre dão para trânsito de veículos: via qual seria o melhor modelo para única em sentido sul, contrário ao esse espaço na cidade: aberto para encontro do Rio Taquari, sem espaço circulação de veículos ou fechado. para estacionamento ou carga e des- Já houve inclusive quem sugerisse carga de produtos. Este permanece que fosse coberto para ser utili- sendo o modelo atual da rua. A rua zado em eventos locais. que já foi de chão batido, foi pa- Acredita-se que a música Rua vimentada primeiramente com para- da Passagem do compositor e can-

26 tomar o passado se ele não es- Há tivesse conservado no ambiente o aspecto material que nos circunda. É ao espaço, ao nosso espaço - o emocional espaço que ocupamos, por onde passamos muitas vezes, a que destes espaços, sempre temos acesso e que, de que passam a ser qualquer maneira, nossa ima- ginação ou nosso pensamento a espaços de cada instante é capaz de re- construir - que devemos voltar memória. nossa atenção, é nele que nos- so pensamento tem de se fixar para que essa ou aquela cate- goria de lembranças reapareça. tor Lenine descreva o interesse dos estrelenses por esse assunto: Nós, estrelenses, correspon- “Todo mundo tem direito à vida/ demos a um grupo. Sendo assim, nos todo mundo tem direito igual/sem lembramos uns aos outros e aos es- ter medo de andar na rua/porque a paços de memórias coletivas. Isso é rua é o seu quintal”. Afinal, mes- aplicado ainda em grupos menores e mo sendo um espaço público, nós o distintos, como por exemplo: famí- frequentamos e, para isso, devemos lia e colegas de trabalho. nos sentir confortáveis neste am- biente. Talvez esse carinho tenha REFERÊNCIAS: sido herdado lá de trás, “porque a rua é o seu quintal”. HALBWACHS, Maurice. A Memória Apesar das mudanças nessa rua, Coletiva. São Paulo: Centauro, ela permanece com o charme dos can- 2003. teiros de flores e antigos postes de iluminação, os complementos são os HESSEL, Lothar Francisco. O mu- prédios e fachadas que datam da pri- nicípio de Estrela; história e meira metade do século XX. crônica. , Ed. da Universidade, UFRGS, 1983. Além do aspecto físico que nos liga aos ambientes, sejam eles ca- SCHIERHOLT, José Alfredo. Estre- sas ou ruas, neste artigo descrita la: Ontem e Hoje. Lajeado: O Au- a Rua Fernando Abott, o Calçadão, há tor, 2002. o aspecto emocional destes espaços, que passam a ser espaços de memória. vvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvv O sociólogo Maurice Halbwachs(2003, p. 170) descreve a vinculação de Autora: grupos a espaços de memórias como: ALEXSANDRA PETRY - Formada em Gestão de Recursos Humanos, aca- Assim, não há memória coletiva dêmica da Especialização que não aconteça em um contex- em Pedagogia Empresa- to espacial. Ora, o espaço é rial e Educação Cor- uma realidade que dura: nos- porativa e Mestranda sas impressões se sucedem umas em Memórias Sociais e às outras, nada permanece em Bens Culturais. E-mail nosso espírito e não compreen- para contato: alexsan- deríamos que seja possível re- [email protected]

27 Fonte: Imagem extraída da internet, no endereço eletrônico http://imigracaoitali- nanobrasil.blogspot.com/2011/09/vapor-roma-18-de-fevereiro-de-1886.html

s primeiros descendentes ita- lianos chegaram ao Brasil em SIAMO 1875 provenientes de uma Itália que vivia a pior crise de sua his- Otória, a qual já não absorvia mais a mão-de-obra no setor industrial, TUTTI em face do grande êxodo rural que ocorria em toda a Europa por causa do Industrialismo. FELICCI QUE A revolução industrial, mo- vimento que iniciou em 1760 e transformou o sistema de traba- lho da época, incluiu a transição VINHESTA de métodos de produção artesanais para a produção por máquinas. A revolta fez eclodir a industria- QUA! lização no Velho Mundo, porém não foi suficiente para absorver a grande disponibilidade de mão-de- -obra oferecida pelas rurícolas, agora residentes nas cidades. Para De Boni e Costa (1991), (Somos a entrada em massa de italianos no estado do Rio Grande do Sul acon- todos teceu dentro das grandes transfor- mações econômicas e sociais que o felizes porque capitalismo de produção provocou na Europa durante o século XIX. A grande maioria dos imigran- vieste tes italianos viu o Brasil pela pri- meira vez no oceano. Foi pelo meio aqui!) marítimo, viajando mais de 30 dias da Itália até o Brasil. Com efeito, em meados do Sécu- lo XIX a Europa vivia um momento de

28 grande êxodo rural, posto que os mo- radores abandonaram crescentemente o meio rural para morar nas cidades e labutar nas indústrias que surgiam no meio urbano . Porém, a migração do campo para as áreas urbanas foi tamanha que as cidades europeias fi- caram abarrotadas de migrantes que, por não encontrarem mais vagas de trabalho, começaram a viver em con- dições subumanas. Neste contexto, compreende- -se que todas essas transformações foram os motivos para a eclosão da imigração italiana. No Brasil, entretanto, na mesma época falta- A imagem foi extraída da publicação de va mão-de-obra para trabalhar nas Angelina Wittmann em sua obra Nacionalismo lavouras de café da região Sudeste no Vale do Itajaí - a partir do Governo de e nas propriedades agropecuárias Getúlio Vargas de 15/7/2016, disponível em ttps://angelinawittmann.blogspot.com/2016/07/ do Sul, haja vista os movimentos nacionalismo-no-vale-do-itajai-partir.html. e as leis relativas à abolição da escravatura. De acordo com Giron e Herédia cultura italiana. Assim, fundaram (2007), a abolição da escravatura em 1993 a Società Italiana Fiori passou a exigir mão-de-obra livre, dei Piani, que conta hoje com mais conforme trecho extraído da obra de 600 sócios. História da Imigração Italiana no Rio Grande do Sul, in verbis: Essa associação, cuja sede lo- caliza-se no interior de Estrela- “As leis que extinguem de for- -RS, uma pequena cidade tipicamente ma gradativa a escravidão exi- habitada por descendentes alemães gem a substituição da mão-de- no interior do Estado gaúcho, conta -obra escrava pela livre. A hoje com muitos associados de di- vinda de colonos estrangeiros versas etnias, como a portuguesa, é indispensável para garantir alemã e italiana. É uma “socieda- a produção agrícola nacional”. (GIRON e HERÉDIA, 2007, p. 24)

Neste contexto, o governo Os brasileiro e o italiano firmaram um acordo de cooperação, o qual pre- ítalos-brasileiros via a imigração de italianos para têm orgulho de a terra do Pau-Brasil. Na Itália divulgava-se e incentivava-se a ida serem descendentes de italianos desempregados e pobres para o Brasil. desta etnia, Foi assim que aconteceu o início do processo de imigração dos reconhecida por nossos antepassados para o Brasil. Este é um breve intróito para mos- seus valores trar em quais contextos ocorreu a vinda do imigrante italiano para como o trabalho, o o Brasil. Alguns de seus descen- dentes, muitos anos depois, uni- empreendedorismo, ram-se na cidade de Estrela, com a intenção de fundar uma associação a perseverança que pudesse resgatar as tradições e e a fé. 29 Fonte: DARLÃ BELLINI - Imagem da sede da Società Italiana Fiori dei Piani, locali- zada na Estrada Municipal Leopoldo Armindo Horn, s/n, Linha Santa Rita, Estrela-RS. de”, como muitos popularmente cha- Na parte superior da área fí- mam-na, aberta a todas as pessoas sica onde fica situada a Società, que quiserem cultivar tradições e existe um quiosque, construído de culturas italianas. forma rústica, que serve para a re- A Ata de criação da Società alização de eventos menores. Adja- foi lavrada em 1993 e assinada por cente a ele está a estande de tiro várias pessoas, entre elas Hermogê- ao alvo (pedana ). O esporte é admi- neo Lizot, Lucio Tales Bellini, Irno nistrado pelo Departamento de Tiro Delai, Gilmar Longhi, entre outros. que reúne a maior parte de todos os Após sua criação, seu espaço associados do clube. É o maior de- físico, primeiramente, foi insta- partamento, pois, dentro da socie- lado junto ao Terminal Rodoviário, dade que ainda conta com o Departa- no Centro de Estrela. Entretanto, mento de Cultura e Departamento de em 1999 foi adquirida uma área de Marketing. terras junto à Linha Santa Rita, Os praticantes dispõem de um interior do município e erigida estande de tiro ao alvo, usualmente sua sede atual. chamado por eles de tiro ao prato, A sociedade tem logotipo que utilizam armas do tipo espingarda. a identifica perante a sociedade, Uma máquina oculta na casamata de em que destaca as cores da bandei- cor ‘verde’ (imagem) ejeta pratos ra da Itália, que são o branco, o em quatro direções distintas alea- verde e o vermelho . toriamente e os atiradores, posta- Desde sua fundação até os dias dos na pedana, disparam suas armas atuais, a associação vem realizan- com o objetivo de acertá-los a apro- do diversas atividades relativas à ximadamente 40 metros de distância. tradição e cultura italiana, como A associação ainda dispõe de outro por exemplo, a dança, a música e o estande de tiro, que é utilizado por tiro esportivo. praticantes de tiro em outra moda- Na dança, possuiu um grupo de lidade, com revólver e pistola. dançarinos que, vestidos tipicamen- A oferta gastronômica é ou- te, apresentam-se frequentemente em tro ponto forte da sociedade. Ela eventos realizados na própria sede. realiza alguns eventos anuais em Por seu turno, os apreciadores de boa música coralista estão bem ser- vidos com as vozes do grupo de can- tores. A associação possui um coral formado por mais de 20 membros que entoam magníficas músicas italianas. Fonte: DARLÃ BELLINI Os membros do coral também se vestem - Imagem da placa afixada de forma típica para suas apresen- na entrada da associação. tações ao público. 30 Fonte: DARLÃ BELLINI - Imagem do Estande de Tiro ao Alvo, junto ao quiosque da Società. sua sede, nos quais são servidos promovido pela sociedade, no qual a os mais variados pratos da culi- associação concede gratuitamente o nária italiana. A cozinha italia- almoço ao sócio que está em dia com na é reconhecida mundialmente por a Tesouraria, como forma de cele- oferecer os mais saborosos pratos, brar o ano que vai terminando. cultivados por gerações durante o Antes de começar a servir o passar dos tempos. almoço, tem missa! Ela é celebrada A cada ano, a sociedade reali- dentro do salão principal, mas já za o jantar da caça, promovido pelo foi realizada em outras épocas no Departamento de Tiro, no qual são lado externo da sociedade, onde se servidos pratos típicos capitanea- localiza uma pequena capela de al- dos pela codorna recheada. venaria, chamada de capitel. No Filó tem sopa de capeletti Em quase todos os eventos gastronô- e queijo ralado da entrada. Depois micos, o associado Basílio Mezacasa é servido um delicioso buffet de pi- patrocina um aperitivo à base de cadinhos, como salamito, copa, lin- cachaça que mais parece um fino li- guiça, queijo, grostoli, torresmo, cor. Geralmente o creme e o sagu são polenta com queijo e pinhão a noi- servidos na sobremesa. te inteira, além de muita cantoria Durante os eventos gastronô- patrocinada por pequenos grupos de micos, é solicitada uma salva de cantores italianos de várias cida- palmas aos organizadores e ao pes- des da região. soal da copa e cozinha que, de forma A Associação organiza também voluntária, não medem esforços para um jantar-baile, no qual serve de- bem atender as pessoas que partici- lícias gastronômicas como massa ao pam dos eventos. molho sugo e ao molho de galinha “Siamo tutti felicce que vi- caipira, polenta mole e frita, tor- nhesta qua” é o jargão que define a téi, tortellini, pien e grande va- característica da Società, que em riedade de saladas. português significa dizer “somos to- Este cardápio praticamente dos felizes porque vieste aqui”. As prevalece também no Almoço do Asso- pessoas que organizam e trabalham ciado, que é o último evento do ano nos eventos, assim como a sociedade em si, sentem-se felizes pelo fato das pessoas irem até a sede parti- cipar das atividades. Esse tipo de envolvimento solidário e afetivo é fruto de me- mórias, tradições, hábitos, tipo de criação e educação recebidas de seus genitores, espírito voluntá- rio e o compromisso de manter viva 31 Passar algum tempo dentro da biblioteca analisando estes mate- riais faz com que as pessoas re- tornem no tempo, imaginando qua- dros e contextos de como e quando aconteceram os fatos dispostos em escrituras, imagens e fotografias, em muitas vezes reconstruindo men- talmente os possíveis quadros do passado.

REFERÊNCIAS: Fonte: fotografia acervo da Società -Imagem de alguns voluntários que trabalham na DE BONI, Luis Alberto. e COSTA, cozinha da sede quando tem evento. Estão exibindo as polentas assadas/brustoladas com Rovílio. Far La Mérica, A Pre- queijo, servidas no Filó. sença Italiana no Rio Grande do Sul. 1991. Ed. Riocell, São Pau- lo. a cultura italiana. GIRON, Loraine Slomp e HERÉDIA, O interior do salão princi- Vania Beatriz Merlotti. His- pal é dividido em salão propriamen- tória da Imigração Italiana no te dito, copa e cozinha, setor dos Rio Grande do Sul. 2007, Edições fornos, área do buffet, área do pal- EST. Porto Alegre. co e a Biblioteca Mário Basségio. Mário Basségio (in memorium) vvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvv foi um dos fundadores da socieda- de. A biblioteca recebeu seu nome Autor: em reconhecimento aos bons serviços DARLÃ BELLINI - é formado em Di- prestados por ela a toda comunida- reito pela UNISC (Santa Cruz do de. Mário é pai de Ênio Basségio, Sul-2003/2) e tem por pro- advogado na cidade de Estrela, que fissão a Advocacia. Nas- é associado e já foi membro de di- ceu em Muçum-RS em 1970 retorias anteriores. e reside em Estrela A biblioteca é bastante mo- desde 1982. Desde 2017 desta. Conta com alguns livros e está exercendo também a documentos, públicos e privados. Há vereança no município. também algumas fotos, imagens, tro- Mestre em Memória Social e féus e lembranças de algumas fases Bens Culturais na Universidade da vida da sociedade. La Salle/Estrela-RS.

Fonte: fotografia acervo da Società - Imagem da equipe da cozinha em dia de evento gastronômico.

32 Foto: Josemir José Gregory Imagem da construção IGREJA SANTO ANTÔNIO/ESTRELA: RELIGIÃO, IDENTIDADE E MEMÓRIA

ste texto pretende contextu- localiza-se no município de Estre- alizar as memórias da igreja la/RS, situada no centro do muni- Matriz Santo Antônio, locali- cípio e está associada ao histórico zada no município de Estrela, apre- de sua colonização. Estrela foi uma Esentando em ordem cronológica o seu Colônia criada no ano de 1856 pelo histórico. Como fonte principal foi coronel reformado da Guarda nacio- utilizado o livro intitulado A His- nal, Victorino José Ribeiro, que de- tória das casas: um resgate histó- vido ao alto valor imobiliário das rico dos jesuítas no sul do Brasil, terras por motivo de incentivo do escrito por Padre Inácio Spohr, pu- governo brasileiro ao fluxo imigra- blicado no ano de 2018, sendo que tório ao Rio Grande do Sul, optou ele utilizou como fonte de pesquisa por dividir a sua propriedade de- documentos relacionados ao histó- nominada Fazenda da Estrella em 45 rico da igreja, assim como demais lotes para os imigrantes europeus. importantes fontes bibliográficas. A propriedade recebeu imigrantes a A igreja matriz Santo Antônio, partir de 1856 provenientes de di-

33 ferentes regiões da Europa, como ter os laços entre os imigrantes no Baviera, Dinamarca, França, Prús- denominado Novo mundo e as celebra- sia e alguns de São Leopoldo, pri- ções eram realizadas no idioma dos meira colônia alemã no Rio Grande imigrantes, ou seja, o alemão. do Sul que fora ocupada desde 1824. Assim, as igrejas serviram Salamoni (2001, p.8) afirma como semente de (re)memoração para que, a partir de colônias autossufi- os imigrantes e conforme cita Spohr cientes, originaram-se novas formas (2018, p. 18), foi lida e publica- de convivência entre os colonos. Em da na data de 24.08.1973 em missa grande parte desses núcleos, os imi- conventual as seguintes informações grantes buscaram “recriar” e “(re) relacionadas ao início da constru- construir” suas relações de paren- ção da igreja Santo Antônio devido tesco ou amizade que remetiam ao à necessidade deste espaço: mesmo passado. A noção de que per- tenciam a uma mesma comunidade le- a provisão pela qual é nomeado vou os colonos alemães a promoverem o P. Francisco Schleipen, SJ, o surgimento de várias associações, vigário encomendado da Fregue- cujo objetivo, em princípio, foi a sia de Santo Antônio da Es- manutenção de uma herança cultural, trela. Criada esta paróquia de Santo Antônio de Estrela, o P. Francisco Schleipen foi ...os imigrantes mandado como primeiro pároco, chegando em fins de agosto. A buscaram “recriar” e missão foi difícil: não havia igreja nem casa paroquial. O “(re)construir” suas padre morou primeiro na casa de Antônio Victor de Sampaio relações de parentesco Menna Barreto. Depois residiu por mais de um ano num quarto ou amizade de Miguel Ruschel. Os costumes que remetiam ao dos homens não eram deprava- dos, mas alheios à autoridade mesmo passado. espiritual. Havia frequentes brigas, pobreza própria de co- lônia nova. Por isso foi pre- ciso proceder com toda a pru- o que se deu a partir das constru- dência e fortaleza. ções das igrejas e escolas, e em seguida, de instituições vinculadas Conforme a igreja fora sendo à cultura, como clubes de tiro, co- construída, doações eram realizadas rais, grupos de danças folclóricas, por parte dos membros da comunida- entre outros aspectos perceptíveis de, Spohr (2018) menciona que em até os dias atuais. 31.12.1875 mandaram fazer bancos de Dessa forma, conforme a colô- igreja, para os quais João E. Mall- nia foi se desenvolvendo, os tem- mann contribuiu com a quantia de 100 plos religiosos foram surgindo. mil réis. Também foi doada à igreja São católicos e luteranos ocupan- matriz uma estátua de Santo Antônio do diferentes “picadas” dentro da de Lisboa pelo Sr. Vitor de Sampaio colônia Estrela, sendo a primeira Mena Barreto. Esta obra é da fá- colônia ocupada Novo Paraíso; em brica artística de Mayr e Cia., de seguida, Arroio do Ouro; e no ano de Munique, Bavária. É importante res- 1873, a autorização para constru- saltar que João E. Mallmann consta ção da igreja matriz Santo Antônio, como patriarca na lista dos primei- no centro do município. As igrejas ros imigrantes de Estrela, conforme eram importantes espaços para man- documentos do Arquivo Histórico do

34 Estado do Rio Grande para participar das do Sul, natural da ...as igrejas missas. Isso aconte- Prússia, que chegou serviram como ceu até 1880, quando ao município com sua uma igreja então foi família formada por semente de construída, cita que 12 pessoas, sendo 6 quase tão ampla como do sexo masculino e (re)memoração a daqui, em honra de 6 do feminino no ano Santo Inácio. de 1856. para os Passados alguns Em 31.07.1879, Spohr anos, Spohr (2018) (2018, p.24) regis- imigrantes... menciona que no ano tra em seu livro que de 1889, fez-se uma “Aumentando-se cada consulta com a dire- vez mais a população desta fregue- toria da igreja para deliberar so- sia, se resolveu, em julho deste bre as obras na igreja matriz. Sendo ano, aumentar a igreja matriz de uma cada vez mais necessária a constru- nave em forma de cruz, para caber ção de uma torre onde possam ser nela o povo.’’ suspensos os sinos, como também um É importante ressaltar que, no aumento da igreja em vista do aumen- ano em que foi decidida a ampliação to da população. No dia 01.01.1890 o da igreja, Spohr (2018) relata que P. vigário pôs a pedra fundamental grande parte da população do lado da torre direita da igreja, vizinho esquerdo do rio Taquari contribuiu ao paço municipal. No dia 13.07.1890 para que este aumento fosse possí- realizou-se a colocação das santas vel. Isto porque os habitantes ocu- cruzes nas nossas duas torres. Pela pavam a mesma igreja, onde atualmen- primeira vez, em 30.07.1890, toca- te é o município de Lajeado, na qual ram os sinos nas torres da igre- atravessavam de canoa o rio Taquari ja muito mais claro e bonito. Em

Foto: Josemir José Gregory - Detalhe do interior da igreja.

35 Foto: Josemir José Gregory - Imagem do interior da igreja.

01.09.1892 chegando a Estrela, de realizou uma celebração com cantos, longe se avistam as duas torres da música, sermão fúnebre, como se cos- matriz, como duas estrelas. Fez-se tuma fazer nas igrejas católicas da lá uma grande construção da igreja, Alemanha. Isso por ocasião da morte elegante e firme, a qual na região do imperador Guilherme I, a pedido chamam de catedral. de muitos alemães natos. A igreja A igreja passou por várias estava ornada para isso com coroas transformações no decorrer do tempo e ramos de palmeiras e estandartes. até chegar à forma atual devido ao Houve sermão para lembrar que deve- aumento da população e no seu in- mos respeito à pátria e aos prínci- terior é possível visualizar em um pes e esquecer as injúrias feitas à painel criado qual fora a estrutura Companhia de Jesus na Alemanha. inicial na sua construção. Spohr (2018) menciona que no A igreja matriz Santo Antônio dia 06.06.1901 fez-se a bênção so- tinha várias funções, não somente lene do altar-mor da matriz. O al- aquelas com vínculos religiosos, tar é de cedro, ornado de escultu- mas também era ocupada em deter- ras douradas. A mesa do altar e as minados momentos para eleições po- quatro colunas que o apoiam são de líticas e em outros, para reafirmar mármore. As esmolas dadas, segun- a identidade dos imigrantes. Spohr do as possibilidades, provam que o (2018) cita que em março de 1888, se povo ama o decoro da casa do Senhor.

36 quentava a igreja era imigrante ou A igreja matriz descendente e não compreendia ou- Santo Antônio tro idioma. Os padres alemães deve- riam ser substituídos por suíços ou tinha várias funções, alemães naturalizados. Foram tempos difíceis, a língua alemã não foi não somente aquelas proibida somente durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) no Bra- com vínculos sil, como também durante o governo de Getúlio Vargas, com a campanha religiosos, mas de Nacionalização (1937-1945) quan- também era ocupada do se perderam várias caracterís- ticas do imigrante alemão, não so- em determinados mente nas igrejas, mas em todos os espaços. momentos para Pode-se concluir que os imi- grantes contribuíram para que os eleições políticas templos religiosos fossem constru- ídos. Foram várias dificuldades en- e em outros, frentadas, porém, o trabalho cole- para reafirmar tivo da população fez com que se concretizasse a construção da Igre- a identidade ja matriz Santo Antônio. dos imigrantes. REFERÊNCIAS:

SALAMONI,Giancarla. A imigra- Depois, foi realizada uma procissão ção alemã no Rio Grande do Sul: com o Santíssimo, da qual partici- o caso da comunidade pomerana param cerca de 1.800 pessoas. de . História em Revis- O autor menciona ainda que, ta. Pelotas, V. 7, 25-42, dezem- na data de 05.12.1903 fez-se um in- bro/2001. ventário, ou seja, uma relação dos bens que haviam na igreja matriz SPOHR. Inácio. História das ca- nesta data e nele constam muitos sas: um resgate histórico dos equipamentos como lanternas, cande- jesuítas no sul do Brasil- Paró- labros, pois a iluminação ainda era quia Santo Antônio- Estrela/RS. a combustão. Somente em 30.06.1918, Porto Alegre: Padre Réus, 2018. foi, conforme autorização obtida em maio do mesmo ano, que se instalou vvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvv energia elétrica na igreja. A ins- talação ficou sob a responsabilidade do técnico Bruno Schwertner. Custou Autor: Gradua- dois mil contos de réis. Relata que JOSEMIR JOSÉ GREGORY - do em História/Licenciatura pela a luz elétrica é mais econômica e Universidade do Vale do mais prática do que a luz acetilene. Taquari, Univates. Pro- No mesmo ano em que se insta- fessor de História no lou energia elétrica, uma surpresa Colégio Santo Antônio/ à grande parte da população. Desde Estrela e Escola Es- que o Brasil declarou guerra contra tadual de Ensino Médio o Império alemão, as coisas se tor- Santa Clara/ Santa Cla- naram difíceis, pois foi proibido ra do Sul. Mestre em Memó- o uso da língua alemã, de modo que ria Social e Bens Culturais pela grande parte da população que fre- Universidade La Salle, Canoas.

37 compõe-se de duas categorias de as- Núcleo sociados: A) Associados Fundadores: São todos aqueles que assinaram a Cultural de Ata de Fundação da Associação, bem como os que foram admiti- dos nos trinta dias após a sua fundação; Estrela B) Associados Colaboradores: São todas as pessoas físicas ou jurídicas, simpatizantes e NÚCLEO CULTURAL DE ESTRELA, apoiadores das atividades cul- fundado em 13 de julho de 1989, turais desenvolvidas pela As- é uma Associação Civil sem sociação e que desejem parti- fins lucrativos, sem conotação po- cipar de suas finalidades, sendo Olítico-partidária e religiosa, nem admitidos em número ilimitado, discriminação de qualquer nature- mediante proposta de admissão za, com sede na cidade de Estrela. aprovada pela Diretoria. Tem por finalidade promover ativida- des de relevância pública e social, resgatando a pluralidade étnico- O NÚCLEO CULTURAL DE ESTRELA -cultural, procurando abrir novos exerce as suas ações por intermé- espaços para outras expressões da dio dos seguintes Órgãos Delibera- cultura popular. A realização das tivos: atividades culturais ocorre junto ao Centro de Cultura e Turismo Ber- 1º - Assembléia Geral tholdo Gausmann - Casa de Cultura. 2º – Diretoria 3º - Conselho Fiscal

Presidências do Núcleo Cultural: O Núcleo Cultural de Estrela é um importante divulgador do co- 1989/1991: Berenice Anschau nhecimento artístico e um facili- 1991/1993: Marion Becker Rodrigues tador da inclusão social. Por meio 1993/1994: Izolete Uhlmann de vivências e experiências com- 1995/1997: Ana Rita Berté Bagestan partilhadas, promove a prática 1999/1999A Andréas Ulrich Hamester artística e as relações coletivas, 2005/2006: Leonidas Ertel desenvolvendo a sensibilidade, a 2006/2008: Edson Wiethölder musicalidade, o autocontrole, a 2009/2010: Edelson Ivan Fortes 2011/2012: Marcelo Fortes 2013/2014: Zuleica Regina Rambo O Núcleo 2015/2016: Edelson Ivan Fortes 2017/2018: Luis Carlos Pereira Bastos Cultural de Estrela é um importante Para realizar seus objetivos, o Núcleo Cultural de Estrela se divulgador vale de recursos financeiros oriun- do conhecimento dos de repasses do poder público de todas as esferas, iniciativas cul- artístico e um turais próprias, bem como de doa- ções e contribuições espontâneas da facilitador da comunidade. O Núcleo Cultural de Estrela inclusão social.

38 Fonte: https://www.facebook.com/N%C3%BAcleo-Cultural-de-Estrela-502409346610680/ autoestima e tantas outras poten- diferentes grupos. Ao final do ano cialidades. é realizado um grande espetáculo O projeto do Núcleo Cultural onde todos os alunos são convidados promove oficinas semanais de artes a fazer parte do Recital aberto à cênicas, artes plásticas e música comunidade. Isso traz a valorização com o intuito de desenvolver o in- dos participantes das oficinas assim divíduo em suas habilidades artís- como dos professores e propicia mo- ticas. Durante o ano as inscrições mentos de vivências culturais para são feitas junto à secretaria da as comunidades que o recebem. SECULTUR onde o candidato é ins- Nas aulas de artes plásticas crito em uma lista de espera que o aluno utiliza diferentes lingua- é enviada ao professor. A exceção gens artísticas visuais, como dese- ocorre aos alunos que são atendidos nho, pintura e gravura, para criar por projetos desenvolvidos em esco- suas obras e expressar suas ideias las e/ou espaços fora da sede. e sentimentos. Na oficina de artes Durante o ano ocorrem diver- cênicas é pesquisada e estudada a sas apresentações dos grupos for- prática teatral em grupo, com rea- mados nas oficinas em festividades, lização de montagem e circulação de momentos cívicos e apresentações espetáculos. Explora a criativida- para comunidade em geral. O momento de, expressão corporal, ampliando a de apresentar o trabalho realizado capacidade expressiva dos alunos. durante o ano é de grande importân- No coral, trabalha-se com peças mu- cia para a entidade, pois apresen- sicais desenvolvendo o canto in- ta o trabalho desenvolvido com os dividualmente e coletivamente com

39 objetivo de conhecer e produzir ma- doce e canto coral. terial para apresentações. Há coral do CAPS com fins te- Nas aulas de prática instru- rapêuticos e inserção social. Uti- mental são desenvolvidas técnicas lizando o canto como musicotera- específicas de cada instrumento. pia, atendendo às necessidades Hoje a comunidade é atendida com au- físicas, emocionais, cognitivas, las de bateria, contrabaixo, esca- sociais dos pacientes. letas (melódica-aerofone de palhe- A Banda de Estrela é um grupo ta livre semelhante ao acordeom), profissional que tem a proposta de acordeom, guitarra, instrumentos levar a música típica alemã para as de sopro (palheta/bocal/embocadura festividades do município. O gru- po ensaia semanalmente e está dis- ponível para apresentações em mo- mentos cívicos e festividades. Há ...o Núcleo Cultural o Quarteto Fascínio, grupo formado por profissionais que representam o de Estrela é uma município em festivais e eventos. Através das oficinas minis- importante fonte de tradas por professores qualifica- dos, busca desenvolver habilidades conhecimento e técnicas de instrumentos musicais, elemento de formação canto, artes cênicas e plásticas para aprimoramento dos indivíduos. de identidade cultural Enfim, o Núcleo Cultural de Estre- la é uma importante fonte de co- e a construção nhecimento e elemento de formação de identidade cultural e a cons- da cidadania trução da cidadania onde agentes multiplicadores de cultura assumem onde agentes o papel de transformadores da rea- lidade social. Mais do que isso, multiplicadores de a formação artística tem propor- cionado desenvolvimento pessoal e cultura assumem estimula a formação de novos pro- o papel de fissionais na área da cultura.

transformadores da REFERÊNCIAS:

realidade social. https://www.facebook.com/N%- C3%BAcleo-Cultural-de-Estre- la-502409346610680/ livre), piano, teclado, violino, violão e técnica vocal. vvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvv Dentro do amplo universo do ensino da música, destacam-se os Autora: projetos sociais em educação mu- ZULEICA REGINA RAMBO – Mestra sical, causando impacto e intera- em Memória Social e Bens gindo diretamente com a sociedade, Culturais Unilasalle; contribuindo para a recuperação e especialista em Ges- afastamento de crianças e jovens tão Escolar(UCB Cas- de baixa renda que se encontram em telo Branco); graduada risco social. Esses projetos vol- em Ciências Biológicas tados ao âmbito social são reali- (UNIVATES); licenciada zados em instituições de ensino da em Música (UERGS). Co- rede municipal. O professor vai a ordena projetos de musicaliza- escolas para oferecer gratuitamen- ção em escolas e atua no Núcleo te oficinas como escaletas, flauta Cultural de Estrela-RS.

40 A ESCADARIA: MEMÓRIAS DE UM CAIS DO PORTO

SAUDOSO RECANTO Escadarias e estátuas do antigo porto de Estrela. Óleo sobre tela de Gisela Schulz Schinke - 1978 - 40x60cm

m 15 de outubro de 1924, na ci- acesso ao povoado. Por muito tempo dade de Estrela, no Rio Gran- foi a principal entrada à cidade, de do Sul, no final do mandato pois possibilita linhas de navega- do intendente Manuel Ribeiro Pontes ção no principal rio do vale e o EFilho, que durou 15 anos e 15 dias, escoamento de produtos agrícolas e foi inaugurado o mais belo Cais de industriais para a região, além de Porto à margem esquerda do Rio Ta- proporcionar um local de encontro quari. O jornal vigente da época, O e de lazer aos munícipes. A poucos Paladino, noticiava o fato falando metros da escadaria, ficava o Passo “de um melhoramento tão relevante e de Estrela, local onde atracava a com o qual pode a nossa urbs gabar- barca que percorria vilarejos vi- -se de ser possuidora do melhor e zinhos, trazendo e levando visi- mais belo cais do Rio Taquari.” tantes e trabalhadores ao povoado. A cidade que tão pouco se es- Era pelo Passo de Estrela que ba- tendia além da colina, tinha o rosto nhistas tinham acesso à praia de voltado para o poente, para as mar- cascalho nas margens do Taquari, gens do frondoso rio, pois era por onde nos dias quentes, desfrutavam ele que Estrela mantinha contato com do frescor das águas. o mundo exterior, através do peque- No alto dos 105 degraus da es- no cais. Assim perdurou até surgir cadaria, havia duas imagens escul- as modernas rodovias, principalmen- pidas em pedras de areia, obras do te a Estrada da Produção concebida canteiro Asmuz Ericksen, que sim- e inaugurada pela administração es- bolizavam a indústria e o comércio tadual de Leonel Brizola em 1960. local. Obra exuberante, a escadaria O cais estrelense tinha um dava acesso ao trapiche onde atra- trapiche e uma escadaria que dava cavam os barcos a vapor que traziam

41 ANTIGO PORTO DE ESTRELA Foto: Acervo Memorial da Aepan-ONG e levavam mercadorias acondiciona- sua inauguração, ocorreu uma gran- das em barricas de madeira para a de cheia fazendo com que o nível do capital como banha, grãos, cereais, majestoso Rio Taquari se elevasse erva-mate, fumo e produtos deri- para mais de 29 metros impossibili- vados de animais, bem como malas tando e levando ao declínio a nave- postais, correspondências e pas- gação devido ao assoreamento. Foram sageiros nas incríveis viagens a 22 dias de chuvas ininterruptas que vapor e gasolina. fizeram com que a bela colina onde Devido à altura da barranca, Estrela se desenvolvia, temporaria- as mercadorias que embarcavam ou mente, se tornasse uma ilha, levan- desembarcavam no porto eram trans- do a ela, e a toda região, mudanças portadas por maxambombas, enge- em nível econômico e social. nhocas que tinham como objetivo a Em 1974, a rua Arnaldo J. carga e descarga dos vapores atra- Diehl, amorosamente chamada de “Rua cados no porto, ou seja, faziam a da Praia”, onde ficava a Escadaria, ligação e o transporte dos produ- foi fechada para que a Indústria de tos armazenados até o cais que era Bebidas Antárctica Polar S/A, in- praticamente ao nível das águas. dústria cervejeira e que estava em As maxambombas eram feitas de ma- plena expansão, pudesse colaborar terial simples. Os piões feitos de para o desenvolvimento da cidade. madeira ficavam nas extremidades do Segundo o ilustríssimo médi- trilho, um cabo de aço fazia a li- co, que atendia o ambulatório da gação entre as extremidades para empresa na década de 70, Dr. Werner que os carrinhos descobertos, nos Schinke, a incorporação da Cerve- quais eram transportadas as merca- jaria Polar pela paulista Cia. An- dorias, fossem movimentados. Ini- tárctica e a consequente mudança da cialmente a tração era animal e diretoria proporcionou grandes me- mais tarde à luz elétrica. lhoramentos em diversas áreas como Aproximadamente 20 anos após saúde e social. No entanto, mui-

42 tos proprietários tiveram de dei- sessões da Sociedade de Medicina, xar suas casas para que a indústria ficava deslumbrado pelo encantamen- pudesse ampliar seu empreendimento to da pequena cidade e pelo cais no gerando um grande descontentamento qual desembarcava para subir os in- aos moradores da Rua da Praia. contáveis degraus da escadaria. Médico clínico e cirurgião ge- Devido à expansão, em 1974, a ral, Dr. Werner Schinke se formou em direção da Polar resolveu construir medicina em 1954 em Porto Alegre, e um ambulatório médico com enferma- para a pequena Estrela se mudou com ria e um vestiário com chuveiros a esposa, a Senhora Gisela Schulz e sanitários para os empregados. Schinke, que além de ser enfermeira Resolveu-se para tanto usar o lo- formada pela Cruz Vermelha, é uma cal histórico da escadaria do por- exímia pintora com traços fortes e to. Na ocasião, as estátuas foram delicados. Mais tarde, decidido a transferidas para o início da Rua especializar-se, achou oportuno in- Júlio de Castilhos e a escadaria gressar numa área da medicina que foi aterrada até o nível da Rua Ar- estava em ascensão, a Medicina do naldo J. Diel, e em cima do aterro Trabalho. Esta decisão ocorreu de- foi construído o citado prédio. Se- vido a uma lei recente, na qual o gundo o médico, que de longe acom- Ministério do Trabalho impunha a em- panhava a obra, foram centenas de presas que com mais de 500 trabalha- caminhões de terra os responsáveis dores, fosse obrigada a ter um mé- pelo aterramento, a fim de dar a de- dico especialista na área. Segundo vida sustentação à edificação. o Dr. Schinke, ele iniciou uma nova O Dr. Schinke tinha por fun- fase em seu exercício profissional, ção o atendimento ambulatorial. que, segundo ele, foi uma decisão Este consistia em dar consultas e muito acertada e gratificante. atender os acidentados de pequenas Entre muitos contos e memó- lesões, na medida do possível, no rias narradas nas “Reminiscências próprio ambulatório. Ocorrências de Werner Schinke e esposa Gise- como pequenos cortes por queda dos la em sua relação com a Cerveja- engradados, na época de madeira, e ria Antarctica-Polar de Estrela.” que com o uso e o tempo apodre- , o historiador por paixão, conta ciam e quebravam fazendo com que da visão inesquecível de Estrela no dezenas de garrafas caíssem ao chão alto do barranco. Quando vinha de e estilhaços de vidro ferissem os , primeira vila em funcionários, eram frequentes, até que exerceu a medicina, em peque- que começaram a usar engradados de nas embarcações para participar das plástico. Fazer parte da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho também era de grande im- Dr. Werner Schinke e Dona Gisela Schulz portância, pois participava de reu- Schinke em sua Biblioteca particular. Foto: Mariana Galeazzi Modesti niões e dava palestras e esclareci- mentos sobre assuntos relativos à Medicina do Trabalho e outros. “15 de março de 2004, neste dia prestei o último serviço para a Cervejaria Antárctica/Polar, após 29 anos de serviços prestados. Cou- be-me a melancólica tarefa de exe- cutar os Exames médicos demissioná- rios, isto é, formular e fornecer o derradeiro atestado de saúde ocupa- cional do empregado.” Para o Dr. Werner Schinke, o fechamento defini- tivo de todas as atividades da fá-

43 Em 2008, o governo municipal, A escadaria sob a administração do prefeito é reinaugurada Celso Brönstrup, juntamente com a iniciativa privada, iniciou um pro- com a presença cesso de aquisição dos imóveis da Companhia de Bebidas das Américas da comunidade - AMBEV, a antiga proprietária do imóvel, e no ano seguinte deu-se que passa a resgatar início à revitalização da Escadaria com a derrubada do prédio que fora o seu contato construído sobre o acesso ao cais do porto. Num ato simbólico, o prefei- com o rio. to Celso Brönstrup e o Dr. Werner Schinke, deram a marretada inicial brica Polar foi um duro golpe para na edificação que estava construída as famílias dos colaboradores, as- sobre a histórica escadaria. sim como para todo o município. Após revitalização, em 2015, No ano de 2006, encerraram de- o governo de Estrela, ao comando de finitivamente as atividades dos re- Carlos Rafael Mallmann, devolveu à miniscentes que ficaram para cuidar comunidade um dos locais históri- do patrimônio da indústria cerve- cos mais importantes do município. jeira. Por coincidência, no mesmo A escadaria é reinaugurada com a ano em que a Polar foi desativada, presença da comunidade que passa a o Dr. Schinke aposentou-se do exer- resgatar o seu contato com o rio. cício da medicina, dedicando-se, “É bem verdade que em cada consci- assim, a cultivar memórias, obje- ência individual as imagens e os tos e documentos históricos adqui- pensamentos que resultam dos diver- ridos no decorrer da sua vida, ao sos ambientes que atravessamos se lado de sua companheira de caminha- sucedem segundo uma ordem nova e da, a Senhora Gisela. que, neste sentido, cada um de nós

ARTE NA ESCADARIA Foto: ...

44 REFERÊNCIAS:

HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. Editora Centauro, São Paulo/SP, 2006

HESSEL, Lothar. O Município de Estrela História e Crônica. Edi- tora da Universidade, Porto Ale- gre/RS, 1983.

SCHIERHOLT, José Alfredo. Estre- Da esquerda para a direita: la Ontem e Hoje. Novak Multime- Dolores Mussnich, Patrícia Pedotte, dia, Lajeado/RS, 2002. Adriane Mallmann e Lilyan Cândido Foto : Acervo particular de Lilyan Cândido FOLHA DE ESTRELA, Jornal. Ano 16, n 814, ed. especial 813, Estrela, tem uma história” (HALBWACHS, 2006, 26 de março de 2015. p.57). Nossas histórias, nossas me- mórias se entrelaçam formando uma Entrevistados: memória coletiva. Dr. Werner H. E. Schink é, Médico Com a aquisição e reabertura da do Trabalho aposentado e Ex-Pre- Rua da Praia, a escadaria como pon- sidente do Centro Cultural 25 de to turístico, concentra há mais de Julho - Vale do Taquari três anos um dos principais eventos Lylian Cândido, é a idealizado- da cidade: o Arte na Escadaria. Este ra do projeto social e cultural movimento artístico e cultural ide- “Arte na Escadaria”, Bacharel alizado inicialmente pelas Senhoras em Letras com Licenciatura para Lylian Cândido, Dolores Mussnich e Literatura e Língua Portuguesa, Adriane Mallmann, e que mais tarde Especialista em Gestão e Super- recebeu a participação de Patrícia visão Escolar e Educação Indíge- Pedotte, responsável pelo projeto de na. Fotógrafa por paixão, amante revitalização do espaço, foi ins- da arte e cantora do Grupo Musi- pirado nas feiras e exposições que cal “Vocal em Cena” de Estrela. são realizados em espaços públicos de outros países como Buenos Aires vvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvv e Peru, e na cidade vizinha Lajeado, onde ocorre o Arte na Praça. Autora: Segundo Lylian Cândido, por MARIANA GALEAZZI MODESTI - é ser a Escadaria um espaço significa- Especialista em Gestão e Do- tivo e democrático, é importante que cência no Ensino Superior pela a comunidade se aproprie dele de ma- La Salle/Estrela; Psi- neira prazerosa e responsável a fim de copedagoga Institu- resgatar cada vez mais a sua relação cional pela Universi- com o rio. O Arte na Escadaria acon- dade Castelo Branco/ tece nos primeiros domingos de cada RJ; Especialista em mês e conta com o apoio da Secretaria Arteterapia pela Psi- de Cultura do município. Por ser um quê Clínica de Artete- espaço social que oportuniza entre- tenimento e apresentações multicul- rapia/RS; Pedagoga pela turais com brincadeiras para crian- PUCRS; Mestra em Memória Social ças, shows e exposições de artesãos e Bens Culturais pela UNILASAL- locais, possibilita tal aproximação, LE/RS; Graduanda em Psicologia oferecendo aos munícipes um resgate pela UNIVATES. E-mail:maria- às memórias de um cais do porto. [email protected]

45 PARQUE PRINCESA DO VALE Memórias de um espaço no município de Estrela

Parque Princesa do Vale é um espaço público, no coração do município de Estrela, RS. Co- nhecido como Parcão, o lugar é mo- Otivo de orgulho para os moradores e referência no Vale do Taquari. Está situado na Rua Júlio de Casti- lhos, Bairro Cristo Rei, próximo ao centro da cidade. De fácil acesso ao longo do trecho da Br 386, para quem trafega no sentido capital - interior pode-se acessar o centro urbano pela Trans Santa Rita, pelo Bairro Imigrantes ou ainda pelo trevo de entrada do município. O Parque Princesa do Vale oferece à comunidade e aos visitantes uma in- fraestrutura para lazer e prática de esportes. Além disso, o espaço é utilizado pela administração mu- nicipal para eventos de educação, cultura, saúde e lazer. Festivi- dades, como Maifest, Brincando no Parque, Semana da Criança, Natal, bem como celebrações ecumênicas são tradicionais e mobilizam o setor cultural e econômico do município. O tempo e o espaço são funda- Parque Princesa do Vale mentais para retratar a memória do Imagens: Airton Engster dos Santos local, antes privado e, que há vin- Memorial da Aepan-ONG (2013) te e três anos passou a ser de uso público. E para dar eco às memó-

46 rias desse espaço foram entrevista- (Empresa já desativada, que fa- das duas famílias com o objetivo de bricava móveis) e também tinha um elucidar fatos especialmente pela banhado grande. No prédio da an- ótica de quem observou as transfor- tiga empresa, atualmente é um Pub. mações do jardim de sua casa e por Próximo ao Supermercado havia uma quem realizou o desenho do projeto, casa que foi retirada. Ela expres- da planta à obra finalizada. sa saudosa: -“Era tudo gente co- Em relação ao tempo, Neusa nhecida, gente da nossa!” Das pes- disse que acompanhou toda a trans- soas que moravam na casa, não teve formação do espaço que fica em fren- mais notícias. Na extensão do ter- te a sua casa. Conta que era pe- reno, com as obras foram constru- quena quando veio morar em Estrela ídas pistas de skate, bicicross, e que naquela época o local ainda atletismo e um campo de rugby. era roça com mato de eucalipto, O movimento no Parcão ini- brejo e banhado. Seu pai plantava cia cedo pela manhã com gente ca- e criava vacas. Próximo à calçada minhando ou na prática de espor- havia uma cerca natural de hibis- tes e segue ao longo do dia até cos bem alta que delimitava o es- às 23 horas com atividades livres paço da calçada. Quem passava pela e orientadas. Neusa disse estar rua, via pouco do lugar. Os circos acostumada com o barulho. Desta- e parques de diversão que vinham ca que das belezas do parque quem para a cidade eram instalados nes- visita não imagina as mudanças e te espaço por ser amplo e de fácil nem que em épocas de cheias, o acesso aos moradores. parque fica embaixo d’água. Relata Em relação ao tempo de trans- que morou quarenta anos dentro da formação, lembra que quando nas- enchente e que toda a vez que vi- ceu o filho Gabriel (21) tinha uma nha água, precisavam sair. Brincou árvore grande onde penduravam uma que depois que fez sua casa alta, rede para embalar o bebê. “Era bo- nunca mais veio enchente grande, nito!” Depois com o parque, o es- só menores. E afirma:“- Quem não paço foi transformado, inclusive conhece, não imagina como fica essa os arredores. Do outro lado da rua área!” Lembra que nas enchentes havia uma oficina, atrás da Madetec grandes, os postes da cerca do Parcão ficavam só com a ponta de fora. E mesmo com essas dificulda- des gosta de morar ali. Segundo Vergulino, o Parcão é a coisa mais bonita que aconteceu em Estrela. Deu um “tchan” na cidade. Considerando os municípios vizinhos, o casal destaca que o Parcão é um lugar especial de con- vivência para crianças e suas famí- lias, pois tem espaço, estrutura e segurança para todas as idades. De quadras para prática de diferentes esportes, pistas para caminhada, patinetes e bicicletas. Além dis- so, o parque oferece academia ao ar O casal, Neusa da Silva Vicente (56) e livre, pracinhas e espaço com ban- Vergulino Pereira Vicente (64) residem há cos para o bom chimarrão. Em dias mais de quarenta anos ao lado do de eventos as pessoas podem passe- Parque Princesa do Vale e dizem ter bastante coisa para contar, pois criaram ar de caiaques com instrutores, no seus cinco filhos nesse lugar. lago artificial. São boas ideias e o Imagem: Autora pensamento para o coletivo.

47 Nesse espaço de moradia e convivên- co por 35 anos. Além de secretário cia foi construída a identidade da municipal exerceu atividades de es- família que tem amor pelo lugar. criturário e topógrafo. Ocupou a E afirmam que não trocam sua mora- pasta nos governos dos ex-prefeitos dia por nada. Há memórias afetivas Leonildo José Mariani e de Guinther que foram construídas ao longo dos Ricardo Wagner. Das funções como anos do casal. Halbwachs (2003, secretário, lembra que organizou p.72) afirma que o funcionamento da concursos, como o de Miss Estrela, memória individual não é possível e trouxe a convite as jornalistas sem esses instrumentos que são as Maria do Carmo e Vera Armando entre palavras e as ideias, que o indiví- outras personalidades como juradas duo não inventou, mas toma empres- com vistas a engrandecer o evento. Na entrevista relatou que a área onde se localiza o Parque era da Mitra Diocesana, organismo ad- As lembranças ministrativo da Igreja Católica. permanecem As tratativas para a aquisição do espaço ocorreram na gestão de Leo- coletivas e nos são nildo José Mariani, no ano de 1992. O investimento foi realizado pela lembradas por outros, administração municipal e o Bispo Diocesano. Naquele período, os ges- ainda que trate de tores tinham como finalidade trans- formar o espaço com a construção de eventos em que um parque para o uso da comunidade. somente nós Das memórias narradas pelo casal Neusa e Vergulino, o ex-secretário estivemos envolvidos explica que na área onde se locali- za o parque por longos anos também e objetos que somente foi um depósito de lixo e que mexer naquela área não seria tarefa fá- nós vimos. Isso cil. O tempo passou e em 1993, na gestão de Günther Ricardo Wagner acontece porque houve um movimento popular por par- jamais estamos sós” te de alguns moradores de Estrela, solicitando ao prefeito a transfor- (HALBWACHS, 2013, mação daquela área. Em meados de janeiro de 1995, p. 30). o ex-prefeito Günter depois do ex- pediente da Prefeitura Municipal, encontrou Bitti descendo as esca- tado de seu ambiente. Não é menos das do saguão do prédio e de ma- verdade que não conseguimos lem- neira informal o questionou sobre brar senão do que vimos, fizemos, a possibilidade de elaboração de um sentimos, pensamos num momento do projeto para o parque. Com dezoito tempo, ou seja, nossa memória não noites de trabalho, o secretário se confunde com a dos outros. Ela fez uma maquete e a planta baixa, está estreitamente limitada no es- observando os padrões, escalas e paço e no tempo. medidas oficiais dos campos e qua- José Itamar Horn (Bitti), ex- dras conforme cada esporte propos- -secretário da Secretaria Municipal to. Após a etapa do planejamento, de Esporte e Lazer (SMEL) contri- com a maquete feita e a planta em buiu com a memória organizacional pranchas com nanquim, apresentou o do estudo. Da memória profissional projeto ao ex-prefeito, detalhan- relatou que foi funcionário públi- do, inclusive, o cálculo de espaço

48 entre as quadras e pracinhas para possibilitar a circulação de am- bulância ou outro veículo em caso de emergência. Realizada a aprecia- ção e aprovação do trabalho apre- sentado, Bitti fez a solicitação para implementar e executar a obra que teve seu início em fevereiro de 1995. E assim deu-se início ao tra- balho que aconteceu ao longo de um ano e três meses aproximadamente.

Curiosidade - O nome do par- que foi escolhido em um concurso popular através da lei nº 2.714, de 29-11-1994, com a participação de 120 pessoas, foi escolhido o nome “Parque Princesa do Vale”, tendo como autores a Milena Görgen e João Sai Grando.

Com os conhecimentos de to- pógrafo e auxílio de aparelhos to- pográficos o secretário orientou a descarga de cada carga de terra com o cuidado de observar o nivelamento para evitar que em épocas de cheias a água fique empoçada, facilitando a drenagem. Lembra que no projeto José Itamar Horn (Bitti). original havia um palco para even- tos, dois chafarizes com estrutura de ferro. Além disso, no projeto e execução havia uma ponte que atra- vessava o lago. Com o desgaste e o passar do tempo foi removida. Destaca a importância da sua equipe de trabalho e auxílio da Se- cretaria Municipal de Obras e Via- ção (SMOV), no período de um ano e três meses, desde a primeira carga de terra até o acender da última lâmpada. Em números, foram 10.500 cargas de terra de caminhão truk com capacidade de 12m³. Destas, 6.500 cargas foram do lado da pista de skate e bicicross e, do lado do parque foram 4.000 cargas, porque Prefeito Carlos Rafael Mallmann. já havia uma parte aterrada com o lixo que era depositado no espaço anteriormente e o lago, que era um bom espaço de terra. Já a pista de atletismo foi feita mais tarde, na gestão do prefeito Celso Bronstrup.

Da relação com o parque, Bit-

49 ti diz que não gosta muito de en- p. 30) “nossas lembranças perma- trar no local, pois por ser minu- necem coletivas e nos são lembra- cioso, não pode ver alguma coisa das por outros, ainda que se trate fora do lugar e, principalmente, a de eventos em que somente nós es- Capatazia que se encontra instalada tivemos envolvidos e objetos que dentro da área do Parcão. Contudo, somente nós vimos”. reconhece sua contribuição à co- munidade enquanto protagonista na REFERÊNCIAS: elaboração do projeto. É grato pela confiança depositada pelo Prefeito Blog do Airton Engster dos San- Günter, pelos profissionais que con- tos – Notícias de Estrela – RS; tribuíram com seu trabalho, pela Aepan – ONG – Email: aepan.ong@ família que o apoiou, especialmente gmail.com nesse período. FORTUNA, Carlos. Culturas ur- Em relação à manutenção, a banas e espaços públicos: Sobre Prefeitura Municipal realiza lim- as cidades e a emergência de um peza regular e manutenção do es- novo paradigma sociológico. Fa- paço público. Há câmeras de se- culdade de Economia da Universi- gurança e vigias que zelam pelo dade de Coimbra e Centro de Es- cuidado do espaço para o bem-estar tudos Sociais. Revista Crítica das pessoas que circulam, no horá- de Ciências Sociais, 63, Outubro rio em que o parque está aberto, 2002: 123-148 ou seja, nos turnos da manhã, tar- de e noite durante a semana e nos HALBWACHS, Maurice. A memória finais de semana. coletiva; Tradução de Beatriz De acordo com o Prefeito Ra- Sidou. São Paulo: Centauro, fael Mallmann o parque é um ponto 2003. de encontro da comunidade e refe- rência no Vale. Como gestor, des- vvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvv tacou as atividades de manutenção e futuros investimentos como a qua- Autora: dra coberta para esportes e even- MÁRCIA ANDRÉIA DE CASTRO tos. Projeto de modernização das BEPPLER - Professora, Peda- pracinhas o Projeto do Governo Fe- goga, Mestra do Curso Memória deral para iluminação e construção Social e Bens Culturais Unila- de arquibancadas com possibilidade salle. A autora traz em si o de ampliar os eventos à noite. valor da família e o de- No dia 18 de maio de 1996 sejo de ajudar pessoas a obra foi concluída e o Parque através da educação. Princesa do Vale foi entregue à Professora apaixonada comunidade estrelense. Foram mui- com formação inicial tas ações e mãos que contribuíram no Curso Normal do para a execução da obra que com- Colégio Santo Antônio; pletou em 2019, 23 anos de exis- graduação em Pedagogia tência. Já a cidade de Estrela, no pela ULBRA e especialização, dia 20 de Maio completou seus 143 no Curso de Gestão Escolar Anos de história. pela Faculdade La Salle Estre- O estudo realizado através la. É professora no Instituto das narrativas é um diálogo en- Estadual de Educação Estrela tre o real observado e o tempo de da Manhã onde atua com a for- transformação referente à memória mação inicial de professores. desse espaço querido, preservado Coordenadora Pedagógica do Co- pela gestão municipal e comunida- légio Santo Antônio e da Fa- de local. Para HALBWACHS, (2006, culdade La Salle Estrela.

50 Fonte: Blog do Airton - Aepan Rio Taquari - Antas

município de Estrela é banhado pelo Rio Taquari, que trouxe PRAIA por suas águas, os coloniza- dores para desbravarem este local Oe fundaram, em 20 de Maio de 1876, DO este município, um dos mais antigos do Vale do Taquari. Margens estrei- tas, muito cascalho, fácil acesso e águas limpas fizeram do Taquari CASCALHO dos anos 50, 60 e 70, um espaço de lazer e encontro dos moradores da região - ali aconteceram muitos eventos sociais, concursos de bele- za, encontros, momentos relembra- dos com emoção, pois fizeram parte da infância e adolescência de mui- tos estrelenses. Segundo o jornal O Informa- tivo (2005) , “A Praia do Cascalho era o local de encontro de famí- lias, amigos e pescadores. Lá se

51 Fonte: Blog do Airton - Aepan Rio Taquari - Antas podia fisgar bons peixes, prati- história desse rio, dessa praia. car esporte e as lavadeiras também Rio Taquari, que foi… aproveitavam a extensão da encosta praia sem mar… de cascalhos para limpar roupas. praia sem areia… Por não ter muita profundidade, o praia com cascalho… Praia do rio permitia a travessia a pé para Cascalho! a cidade de Lajeado. Havia, inclu- Trago as memórias de Maria sive, competições do nadador mais Noeli Finger, professora aposenta- rápido.” (P. 12) da, que ainda hoje reside em Estre- Resido em Estrela desde que la, mas costuma passar o verão no nasci e a Praia do Cascalho sempre litoral norte. despertou minha curiosidade pelas Noeli, como é chamada pelos diversas histórias que ouvi na mi- amigos, recebeu-me em sua residên- nha infância. Não tive oportunidade cia de veraneio, na praia de Xan- de conhecê-la – ficou submersa quan- gri-lá, e contou-me que viveu toda do eu tinha apenas cinco anos; mas sua infância e adolescência junto cresci ouvindo as memórias dos meus às águas do Rio Taquari, em Estre- pais e tios, com saudosas e felizes la. Naquele tempo, deslocar-se para lembranças daquele lugar tão espe- o litoral era privilégio de poucos. cial que marcou a vida de tantos Durante 15 anos de sua vida, estrelenses e moradores da região. dos cinco aos vinte anos, Noeli mo- Acredito que essa vivência tenha rou na Rua da Praia, onde seus pais me motivado a pesquisar e trazer a tinham uma padaria. Não conheciam a

52 praia, a praia deles era a “Prai- de uma cachoeira natural, formada nha do Cascalho”; durante o verão, pela correnteza das águas em volta todos os dias, desciam a barranca – de uma ilha” (p.16) toda ela com cascalho, para chegar Conforme o Jornal “Folha de à “Prainha”. Estrela”, de 2005, (p.12) estes Essa praia tinha uma rua onde concursos eram promovidos pela Rá- as pessoas passavam e também tra- dio Alto Taquari, aconteciam anual- fegavam caminhões e carros levan- mente, com exceção de 1972, quando do as bebidas. Lá aconteciam chur- as constantes cheias do Rio Taqua- rascos, as pessoas se encontravam ri impossibilitaram a realização. junto às árvores onde já tinham as A primeira edição foi realizada em suas barraquinhas/cabanas destina- 1968, a vencedora foi a cruzeirense das para passar bons dias durante Maria Inês Vogt, a última edição, o verão. Essas barraquinhas eram em 1975 também teve uma vencedora limpas, cuidadas e embelezadas por cruzeirense, Suzane Barros, que ga- moradores – diziam que era o pon- nhou um automóvel Volkswagen. to - local reservado sem qualquer Noeli segue compartilhando custo para passar os dias. suas memórias dizendo que seus pais Conta, ainda, que tomavam ba- faziam muitos negócios, pois to- nho de sol em cima dos cascalhos, atravessavam o rio a nado até uma ilha que havia no meio do Taqua- ri. Alguns se aventuravam nadando Rio Taquari, por uma pequena cachoeira abai- xo. As pessoas levavam os idosos que foi… para passear na Prainha, que fica- praia sem mar… vam sentados na sombra, e, também, os animais. O “Duque”, cachorro da praia sem areia… Noeli, acompanhava-os e nadava com eles. As crianças aprendiam a na- praia com cascalho… dar no Rio Taquari, não em pis- cinas, como acontece hoje. Disse Praia do Cascalho! que até seus 17 anos veraneava na “Prainha do Cascalho”. A grande maioria das pessoas não conhecia o litoral, veraneava e aproveita- das as pessoas que desciam a bar- vam os finais de semana na Praia do ranca do rio compravam os doces, Cascalho. Noeli foi conhecer o li- os pães, levavam as merendas todas toral norte com quase vinte anos, para fazer piquenique no rio; por- um pouco antes de casar. tanto, além do lazer, havia também, Segundo ela, eram organiza- o desenvolvimento do comércio no dos os belos desfiles das misses do entorno da Prainha. Vinham pessoas Rio Taquari - uma das festas mais de todos os municípios da redondeza lindas que aconteciam. O Jornal para aproveitar, desciam de carro “O Informativo do Vale” de dezem- quase até a beira do rio, pois na bro de 2005, traz: “O evento de época o prefeito fez um acesso para maior destaque era o concurso de os carros trafegarem. beleza Rainha das Praias, apeli- O esposo de Noeli, enquan- dado de Miss Cascalho. A primeira to ainda namoravam, vinha de Por- edição ocorreu em 1968. Uma pas- to Alegre visitá-la e eles anda- sarela era montada no dia do even- vam de caíco, passeavam pelo Rio to e pessoas se aglomeravam para para apreciar a paisagem, que era fazer a torcida e curtir a beleza muito bonita. Seus filhos aprovei-

53 taram pouco a prainha, pois nos lembrança individual é então anos setenta a população recebeu, baseada nas lembranças dos com muita tristeza, a notícia de grupos nos quais esses indi- que não teria mais a Prainha. Não víduos estiveram inseridos. houve mobilização alguma no senti- do de reivindicar a permanência/ As memórias de Noeli foram conservação desse espaço de lazer, expressadas com muita emoção, ca- entretenimento e economia. Os ci- rinho e orgulho em poder sociali- dadãos da época aceitaram pacifi- zar sua história de vida que se camente a decisão. Disse que com mistura com uma parte da histó- a construção da Barragem em Bom ria do município de Estrela. “É, Retiro do Sul, a Praia do Casca- portanto, mediante a categoria de lho ficou submersa. Além de não ter “memória coletiva” de Halbwachs mais aquele espaço de lazer, mui- que a memória deixa de ter ape- tas famílias, assim como os pais nas a dimensão individual, tendo dela, ficaram prejudicadas com seu em vista que as memórias de um comércio. Tiveram, ainda, que dei- sujeito nunca são apenas suas ao xar suas casas na rua da Praia, passo que nenhuma lembrança pode por sugestão do prefeito da época, coexistir isolada de um grupo so- sendo indenizadas. Muitos estre- cial.” (GIUSLANE, p. 247) lenses, assim como Noeli, levaram O Jornal Folha de Estrela, para suas residências alguns cas- de 2005, reforça as memórias de calhos para guardar de lembrança. Noeli, registrando que: “…as fa- Ela, inclusive, tem alguns guarda- mílias aproveitavam o local para dos em Estrela, e, também, em Xan- acampar, havendo a construção de gri-lá. Hoje eles são preservados, cabanas, possibilitando, inclusi- não podem ser retirados do rio. ve, pernoitar por lá. Contava com Participa do grupo “Barran- uma infraestrutura muito boa, a queiros do Rio Taquari” (moradores começar pelo acesso, que regular- da antiga Rua da Praia, hoje Ar- mente era patrolado, além da co- naldo José Dihel), que organizou locação de sanitários, um bar que quatro eventos muito bonitos para comercializava bebidas (Polar/An- reviver e compartilhar memórias. tarctica) e alimentos, facilitan- Um deles aconteceu no SESI de Es- do, assim, a vida dos banhistas, e trela e teve cascalhos do Rio Ta- ainda contava com estacionamento quari decorando as mesas. Esse para carros. (p. 12) grupo tem, inclusive, uma músi- Como nos conta a História do ca, composta por Mário Ruschel, município, Estrela cresceu, com o cujo estribilho Noeli ainda sabe progresso, veio a iniciativa de se entoar: “Rua da Praia que tantas ter um Porto Rodo-Hidro-Ferroviá- lembranças nos traz, das brinca- rio, mas, para tanto, foi necessá- deiras, dos tempos que não voltam ria a construção de uma Barragem mais.” A música, na íntegra, cos- – Eclusa, localizada no município tuma ser cantada nos encontros dos vizinho de Bom Retiro do Sul para barranqueiros. Para Giuslane, se- possibilitar a navegação. Em 1977, gundo HALBWACHS (2006, p. 248), com a conclusão da construção da Barragem, a profundidade do Rio … a lembrança necessita de Taquari aumentou, bem como suas uma comunidade afetiva, cuja margens, para possibilitar a na- construção se dá mediante o vegação. Assim findou-se a Prainha convívio social que os indi- ou Praia do Cascalho, que até hoje víduos estabelecem com outras é saudosa lembrança de muitos mo- pessoas ou grupos sociais, a radores daquela época. Em 29 de

54 setembro de 2010 as comportas da Jornal Folha de Estrela – Es- Barragem foram abertas durante 36 trela, 1 de dezembro de 2005. horas para possibilitar o resga- te de um barco de areia que havia Jornal O Informativo – Vale do afundado e, com isso, nas proximi- Taquari RS - Lajeado, 3 de de- dades da escadaria, foi possível zembro de 2005. rever a antiga Praia do Cascalho por algumas horas, trazendo à tona vvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvv memórias de vários moradores que passam para as novas gerações o Autora: amor por esse lugar! PATRÍCIA BRANCO - Mestra em Memó- ria Social e Bens Culturais pela REFERÊNCIAS: UNILASALLE; Pós-graduação em Psicopedagogia pela HALBWACHS, Maurice. A memória UCS; Graduação em Peda- coletiva. Tradução de Beatriz gogia Supervisão Esco- Sidou. 2ªed. São Paulo: Cen- lar pela ULBRA; Super- tauro, 2013. Giuslane Francis- visora na Secretaria ca da Silva Municipal de Educação de Estrela; Coordenadora AEDOS Revista do corpo discente da Educação Infantil e Anos Ini- do PPG – História da UFRGS Ae- ciais do Colégio Santo Antônio. dos, Porto Alegre, v. 8, n. 18, E-mail: patricia.201820344@uni- p. 247-253, Ago. 2016 248 lasalle.edu.br.

Quer conversar sobre como se dá o processo de criação, concepção de produto e desenvolvimento dos trabalhos realizados no nosso PPG? Gostaria de trocar ideias com colegas e egressos, expor tuas inquietações e tirar dúvidas, conversando de aluno pra aluno?

A Representação Discente do Mestrado e do Doutorado lançou os

MnemoDiálogos um espaço nosso!

João Kupka Tatiana Araújo de Lima [email protected] [email protected] 55 Primeira construção do Colégio Santo Antônio em 1921 Fonte: Arquivo do Colégio Santo Antônio Colégio Santo Antônio revitaliza espaço histórico de educação regional

56 o século XIX, ano de 1897, numa Flesch que a viagem de Porto Alegre pequena vila do sul do Brasil, a Estrela durou vinte e seis horas, a comunidade sonhava com mais o que hoje, pelo asfalto, se faz em um educandário. Estrela era gover- pouco mais de uma hora. Nnada pelo Intendente eleito, Pércio Naquele 10 de janeiro de 1898, de Oliveira Freitas. Naquela época, o vapor que subia o Rio Taquari as comunidades construíam suas es- não conseguia avançar por causa colas e colégios buscando soluções das águas rasas de um período de próprias para enfrentar com rapi- seca, e para piorar, na madrugada dez o problema do ensino para seus abate-se uma tempestade que fazia filhos. Eram frequentes as reuniões o vapor sacudir. Jorrava água pe- dos padres jesuítas de Estrela e las frestas. Felizmente chegou ou- Lajeado onde comentavam seus pro- tro barco, fez-se a baldeação, mas blemas pastorais, chegando à con- a maratona não chegava ao fim: os clusão da necessidade de uma escola passageiros tiveram de completar o católica em suas paróquias. Os pais reclamavam um atendimento para edu- cação de suas filhas, porém a difi- culdade era encontrar congregações Eram frequentes religiosas que se dispusessem a se as reuniões estabelecer tão longe, como na épo- ca estava o Vale do Taquari. dos padres jesuítas Então, os padres jesuítas se reuniram com algumas lideranças de Estrela e Lajeado para a escolha do local. O pároco, reverendo Francisco Xavier Schlei- onde comentava pen, viajou a Porto Alegre com o propósito de fundar um colégio ca- seus problemas tólico. Em 4 de maio de 1897, uma área de 4.566m2 foi adquirida, ocu- pastorais, chegando pando uma quadra inteira bem no cen- à conclusão da tro da vila, próxima à igreja ma- triz. Sua habilidade de construtor necessidade de contribuiu para a decisão de cons- truir um prédio na sede do municí- uma escola católica pio para dar início ao educandário que seria doado para a congregação em suas paróquias. das Irmãs Franciscanas da Penitên- cia e Caridade Cristã. Iniciava a construção do prédio com fachada de frente para a rua Santo Antônio trecho em carroça puxada por mulas. de direção leste-oeste, passando Nesse período da história, somen- a denominar-se pelo Ato Municipal te as capitais das províncias eram nº 20, de 18-4-1899, segundo Lothar chamadas de cidades. Hessel ApubSchierholt (2002): Rua Finalmente, às 14 horas do Coronel Flores. dia 11 de janeiro de 1898, a comu- O Colégio foi fundado um ano nidade recebeu as seis Irmãs Fran- após o início de suas obras. A Irmã ciscanas que partiram de Porto Ale- Superiora da Missão, Madre Ludge- gre com o compromisso de dirigir ra organizou a primeira comunidade uma obra de educação e contribuir religiosa formada pela Madre Hya- com o desenvolvimento dessa peque- cinthaTiedig, irmã Cecília Stülp, na vila situada à margem esquerda irmã Valéria Meurer, Irmã Marina do rio Taquari. Foram recebidas com Turati, irmã Materna Müller e irmã banda de música, foguetes e discur- Mathilde Kipper para assumirem a sos. Cansadas, passaram pelos arcos obra educativa. Conta Irmã Benícia cobertos de flores até chegarem à 57 Espaços do Colégio Santo Antônio, 2019 Fonte: Arquivo da Autora

casa em que o colégio funcionaria. Foram inúmeras as transformações No dia 16 de janeiro iniciaram as que ocorreram desde sua fundação, aulas.O ensino era de orientação passando por internato de meninas católica e somente para meninas. A e jovens. Este atendia a demanda de primeira turma iniciou o ano letivo alunas oriundas das cidades da re- com 8 (oito) alunas matriculadas. gião pois era quase inexistente o Foi ministrado na sua totalidade transporte diário. O ensino, além em língua alemã nos dois primeiros de primeiro grau primário, era in- anos de sua fundação. Porém, em seu crementado com o ensino de música início, até surgir uma escola para e artes domésticas buscando o cum- meninos, acolheu os de tenra idade. primento da sua missão inicial. A portaria n° 335, de 2 de maio de 1950 oficializou o curso Ginasial O educador agregando a Escola Normal Regional em 1954. Passados onze anos, ins- franciscano trabalha talou-se a Escola Normal de segun- do ciclo. O coro do Colégio Santo na promoção da vida, Antônio, formado por alunas e sob o comando da Irmã Branca, dona de da paz e do bem, uma voz admirável e excelente or- estando aberto a ganista, abrilhantaram a primeira missa dominical. novas formas de As quermesses com as genero- sas contribuições e a colaboração ensinar e aprender na por parte dos pais das alunas sem- pre foram um considerável auxílio relação com o outro e financeiro para a manutenção e am- pliação do educandário. Século XXI. com o conhecimento. As dificuldades financeiras aumentan-

58 Espaços do Colégio Santo Antônio, 2019 Fonte: Arquivo da Autora do, redução no número de matrícu- luntário e cooperativo de gestão, las e aumento da inadimplência, bem primando pelas decisões coleti- como elevada folha de pagamento com vas. O Colégio acompanhou o espí- pessoal levam a congregação fran- rito do tempo, sendo atingido pe- ciscana a comunicar o encerramento las transformações e mudanças de das atividades. Em reunião reali- seu curso, sem perder sua essência zada no dia 26 de setembro de 2005 franciscana. Com ideias sustentá- com os pais, professores e, em cli- veis, cooperativistas e uma visão ma de muita comoção, foi comunicado global, pais, colaboradores (pro- pelas irmãs Paula e Mônica Azevedo o encerramento das atividades em 31 de dezembro daquele ano. Os pais destacaram a importância da insti- E o fazer educativo tuição e pediram tempo para refle- lassalista por ser tir, principalmente para encontrar uma alternativa. Foi estipulado o parte de uma prazo de uma semana para que pais e professores formassem uma comissão rede internacional para avaliar a situação. A comuni- dade escolar, na busca de soluções de educação, para dar continuidade a esta his- tória de educação e ensino, funda, agrega valor à no dia 19 de outubro de 2005, a Associação de Pais, Professores e comunidade regional Amigos do Santo Antônio – APASA. disseminando A APASA tem a nobre causa de administrar o colégio, mantendo o conhecimentos com ensino de qualidade e os princí- pios franciscanos num modelo vo- uma visão global. 59 fessores e funcionários), alunos individualidades e fortalecimento e equipe diretiva fizeram deste lu- da cidadania global. gar um exemplo cultural, primando A educação franciscana, fun- pelo ensino e desenvolvimento in- dada nos princípios evangélicos de tegral das pessoas. dignidade, reverência, liberdade Os desafios contemporâneos da e solidariedade, busca a formação educação transcendem a velha ideia de uma sociedade justa e fraterna, de paredes em que o regime escolar concebendo a pessoa como um ser de se desenvolveu no século XX, confor- relações. O educador franciscano me Célia Maria David (2015). A esco- trabalha na promoção da vida, da la do século XXI propõe novas formas paz e do bem, estando aberto a no- de aprendizado, com base tecnoló- vas formas de ensinar e aprender na gica e ambientes compartilhados em relação com o outro e com o conhe- redes e entre redes. Houve avanços cimento. E o fazer educativo las- no que se refere a salas com aces- salista por ser parte de uma rede so a tecnologias diferenciadas para internacional de educação, agrega atender as demandas contemporâneas valor à comunidade regional disse- de metodologias ativas. minando conhecimentos com uma vi- Desenvolveu-se, no Colégio são global. As duas instituições Santo Antônio, uma educação voltada unem-se em sua essência desenvol- vendo o coletivo através da educa- ção de pessoas. As duas instituições unem-se em sua REFERÊNCIAS: DAVID, CM., ET AL., orgs. De- essência safios contemporâneos da educa- ção [online]. São Paulo: Editora desenvolvendo UNESP; São Paulo: Cultura acadê- o coletivo através da mica, 2015. SCHIERHOLT, José Alfredo. Estre- educação de pessoas. la: Ontem e Hoje. Lajeado: Edi- tora Evangraf, 2002.

a ambientes de cooperação e con- HESSEL, Lothar Francisco. O mu- forto, valorizando o exercício de nicípio de Estrela; história e vivências coletivas com normas, va- crônica. 2. Editora Porto Ale- lores, bem-estar e conhecimento de gre, 2004. si, buscando o propósito de sua es- sência, a Paz e o Bem. Somando pen- vvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvv samentos e fazendo acontecer é o que move a comunidade educativa na Autora: construção e reconstrução da iden- CLAUDIA ARGILES DA COSTA - Mestra tidade desse espaço de educação. em Memória Social e Bens Cultu- Diferentes tempos e etapas rais da Unilasalle; Espe- de formação convivem de forma har- cialista em MBA Gestão moniosa, tendo no objetivo social Financeira (Faculda- de cada instituição o propósito de de La Salle Estrela); educar e desenvolver o coletivo. O e Supervisão Escolar Colégio Santo Antônio e a Faculda- (Universidade Cândido de de Tecnologia La Salle – Estre- Mendes); Bacharel em Di- la compartilham espaços desde sua reito (UNIVATES). Diretora instalação no município no ano de Administrativa da Faculdade La 2009, o que favorece o exercício do Salle Estrela e Diretora do Co- cuidado com o coletivo, respeito às légio Santo Antônio, Estrela-RS. 60 Estado atual da EEEF Bernardo Roberto Fröhlich, extinta em 2008 Foto: Carlos Evandro Schneider.

bservando a atual conjuntura, é possível imaginar que quem NENHUMA cresce na zona rural de um município tão pequeno quanto Bom ORetiro do Sul, de aproximadamente CRIANÇA 9 mil habitantes (parece bastan- te, mas depois da emancipação do distrito de esse número reduziu significativamente), SEM na época de 1983/84, não teria mui- ta “perspectiva de futuro”. Ain- da mais com pais com escolaridade ESCOLA tão baixa e sem visão de mundo que proporcionasse grandes esperanças. Escrevo isso não como lamúria, mas como descrição da realidade em que NO eu estava inserido, numa proprieda- de rural pequena, sem condições de grandes plantações ou de criações VALE que pudessem gerar renda o suficien- te para uma vida satisfatória. Meu pai trabalhava fora, ser- DO vidor público estadual, sediado em Lajeado mas trabalhando em diversos municípios da região, e minha mãe, era dona de casa. O desconhecimento TAQUARI da realidade social era tão gran- de que minha mãe “ficou em casa” até os meus 10 anos sem contribuir para nenhum tipo de previdência, o que hoje lhe causa transtornos pela

61 EEEF Boa Esperança, zona rural do município de Paverama, ainda em funcionamento. Foto: Carlos Evandro Schneider.

idade avançada em um trabalho bra- sas”, que nem ela acreditaria. Ob- çal que está longe de proporcionar viamente naquele tempo eu não tinha uma aposentadoria digna. noção da realidade e não sabia o Algumas brincadeiras típi- quão duro o mundo poderia ser, tal- cas da época, como pega-pega, pi- vez, nem meus pais tivessem este que-esconde, jogar bola… Fizeram senso de realidade. Entretanto, com minha consci- ência de hoje, sou obrigado a es- “[...] um grupo é uma crever o quanto isso tudo foi signi- ficativo, no sentido positivo, para instituição com papéis a minha formação moral, biológica e psicossocial. Eu não seria quem definidos a partir de sou hoje sem ter passado por isso direitos, obrigações e e, reforço como educador que sou, a importância de uma família bem es- deveres, que cada um truturada, não perfeita, bem pelo contrário. Mas essa família me en- deve ser responsável sinou que um grupo é uma institui- ção com papéis definidos a partir de pela sua parte [...]” direitos, obrigações e deveres, que cada um deve ser responsável pela sua parte, senão, descamba tudo. Enfim, durante um primário in- parte desta minha infância também. teiro em uma brizoleta multisse- Mas minha mãe sempre é implacável riada, a vinte minutos a pé da mi- em lembrar que eu amarrava um saco nha casa, fizesse chuva ou sol, com vermelho de cebola, ou batata, para direito a calçado fechado somente “voar” como o Super Homem como “se no inverno porque “chuva de verão fosse capaz de fazer grandes coi- faz bem”, peguei gosto pela “re-

62 lação com papéis”. Claro que hoje cindíveis disponíveis. eu sei que a desculpa do calçado Naquela Brizoleta, cinza com fechado era um mote para ludibriar aberturas e detalhes em azul cla- a mim e ao meu irmão mais velho. ro, típico das construções do Esta- A condição financeira familiar não do, com assoalho vermelho escuro, suportava mais do que dois pares à base de muita cera em pasta, em de sapatos por ano, e como éramos salas pintadas totalmente de “ama- dois filhos, cada um tinha direito relo bebê”, com cortinas em um ter- a um. Naquela época os calçados, gal bege as quais minha mãe proje- feitos de uma combinação plástica tou, costurou e estampou de acordo indescritível, não duravam muitos com suas competências e habilida- meses, combinado a estradas de chão des manuais. A minha, foi uma das batido, com pedras pontiagudas e 5.902 escolas primárias construí- soltas, então… pior ainda. das em convênio com os municípios No inverno, nem sempre a sola interessados no projeto. E havia ainda estava inteira, então, para muitas outras, nos mesmos moldes, suportar a água nos pés, se coloca- pudera, eram pré-fabricadas e vi- vam as meias e um saco plástico an- nham com paredes inteiras a serem tes de calçar os sapatos, chegando levantadas, inclusive com os vi- na escola, descalçou-se tudo para dros nas janelas. A minha foi cria- “secar” até a hora da saída. Os sa- da em 25 de janeiro de 1947, mas cos plásticos utilizados não eram eu somente fui estudar lá em 1989, os de açúcar, ou arroz, que eram depois da minha mãe, que “passou mais grossos e resistentes, esses por lá” em 1965, aproximadamente. eram nossos “Tupperware’s” da épo- A minha foi extinta pela governa- ca, nós usávamos os menos impres- dora Yeda, em 2008, curiosamente,

Grupo de Mães Flor de Maio, da Barra do Silva Jorge, no interior de uma das salas de aula Foto: Dalva Guilhermina Schneider.

63 há exata uma década atrás. Todas estas são memórias au- Na minha 4ª série, como era o tobiográficas, são recortes e ele- único aluno da turma, e o mais ve- mentos da minha história de vida. lho e, portanto, o “mais responsá- A memória autobiográfica se apoia na vel”, deveria eu ajudar minha pro- memória histórica, pois, fessora nos trabalhos burocráticos e administrativos, como registro de [...] toda história de nossa livros da biblioteca, montagem de vida faz parte da história em matrizes para cópia no mimeógrafo geral. Mas a segunda seria, e coisas do gênero. Penso que toda naturalmente, bem mais ampla esta trajetória, aparentemente so- do que a primeira. Por outra frida, mas que lembro de forma sau- parte, ela não nos represen- dosa, fez com que o meu senso de taria o passado senão sob uma pertencimento com o local me tor- forma resumida e esquemática, nasse dono dele. Não dono único, enquanto que a memória de nossa mas um dos talvez centenas de donos vida nos apresentaria um qua- que passaram por aquele espaço e se dro bem mais contínuo e denso. “adornaram” daquele prédio, toman- (HALBWACHS, 1990, p. 55) do-o como referência da trajetória de uma fase da vida em que fomos Orgulho-me muito de ter fei- to parte de um dos maiores planos educacionais da América Latina, o “[...] fomos Serviço de Expressão e Descentra- lização do Ensino Primário (SEDEP) responsáveis pelo instituído pelo governo de Leonel de Moura Brizola (daí Brizoleta) corte da grama, pela durante seu governo Estadual que previa “Nenhuma criança sem Escola poda das árvores de no Rio Grande do Sul”, de 1959 até uva japonesa 1963, durante o qual foram constru- ídas 6.302 escolas como uma forma e pela manutenção de combater o analfabetismo, que em nível nacional chegava a 67%. da horta.” As “Brizoletas” foram um avanço imensurável, uma proposta de longo prazo, uma demonstração de preocupação resiliente e perseve- responsáveis pelo corte da grama, rante para o desenvolvimento social pela poda das árvores de uva japo- de todo um Estado. No Vale do Ta- nesa e pela manutenção da horta. quari, tivemos dúzias e dúzias des- A minha Brizoleta é o meu lu- tas construções. Penso que minha gar de memória no Vale do Taqua- trajetória profissional é bem seme- ri, assim como tantas outras Bri- lhante a esta empreitada. Desde que zoletas foram o lugar para tantas me lembro, sempre “trabalhei” para outras crianças, por todos os mu- construir uma imagem estável, confi- nicípios que compõem nossa região, ável e confiante, ciente de que isso pois, nossas memórias coletivas es- é uma construção de longo prazo. tão contempladas entre os aspectos Elas, as “Brizoletas”, fo- material, simbólico e funcional. ram criadas nos locais mais diver- Têm a materialidade de um lugar de sos possíveis, com ajuda direta das referência para o grupo e de manter comunidades nas quais foram inse- e difundir as memórias e, ao mesmo ridas. Provavelmente, este envol- tempo, são as expressões de nossa vimento obrigatório de quem queria convivialidade em nossas memórias uma Escola para os seus filhos criou autobiográficas (BLANK, 2017). um laço de pertencimento da comuni-

64 dade com a escola, até porque foram contada no livro “Marcas do tempo: edificadas em lugares que não tinham imagens e memórias das brizole- nenhum ponto de referência comuni- tas”, de Claudemir de Barros, e é, tária, como igreja ou salão comuni- praticamente, um registro histó- tário, por exemplo. rico de uma memória que demonstra Lembro que na localidade vi- que a união faz a força. “[...] a zinha havia uma capela católica, memória é um fenômeno individual onde as missas mensais eram regu- e psicológico que se liga também lares. Já os luteranos não possu- à vida social. [...].” (PACHECO, íam um local para as celebrações 2017, p. 195). dos cultos, então, utilizavam-se da brizoleta. Também havia as reu- REFERÊNCIAS: niões de formações da EMATER, na Escola, minha mãe, inclusive, mi- BLANK, Veleida Ana. Memória e nistrou um curso de pintura em te- tempo. In: BERND, Zilá; MANGAN, cido para as integrantes do Clube Patrícia Kayser Vargas (Org.). de Mães Flor de Maio, que era com- Dicionário de expressões da me- posto, basicamente, pelas mães com mória social, dos bens culturais filhos naquela Escola. e da cibercultura. 2. ed. Ca- noas: Unilasalle, 2017. p. 150- 151.

“As memórias HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Centauro, que vêm à tona 1990. são compostas PACHECO, Margarete Ross Perei- de fragmentos, que ra. Memória e tempo. In: BERND, Zilá; MANGAN, Patrícia Kayser linkadas a fragmentos Vargas (Org.). Dicionário de ex- pressões da memória social, dos de outras pessoas vão bens culturais e da cibercultu- ra. 2. ed. Canoas: Unilasalle, se constituindo numa 2017. p. 195-197.

sequência lógica[...]” QUADROS, Claudemir de. Marcas do tempo: imagens e memórias das brizoletas. Santa Maria: Unifra, As memórias que vêm à tona 2005. 120 p. são compostas de fragmentos, que linkadas a fragmentos de outras vvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvv pessoas vão se constituindo numa sequência lógica, formando uma Autor: história inteira que faz parte de CARLOS EVANDRO SCHNEIDER - uma memória coletiva composta por Pedagogo. Supervisor Escolar. todos e todas que tiveram relação Especialista em Gestão Es- com aquele local. A minha brizole- colar, Pública e Pre- ta é o ponto de convergência que videnciária; Orien- estabeleceu o elo das memórias co- tação e Supervisão letivas da Barra do Silva Jorge, Escolar; e Docência localidade onde ela está constru- no Ensino Superior. ída, criando um local significati- Mestre em Memória So- vo para muitos que preencheram seu cial e Bens Culturais tempo com várias histórias de vida pela UNILASALLE. E-mail: utilizando-se daquela referência. carlos.201820425@unilasalle. A história das Brizoletas foi edu.br.

65 Foto atual da vista da Casa do Morro Vista do Rio Taquari, e das cidades de Cruzeiro do Sul, Lajeado e Estrela. Fonte: Leandro de Marque. nov 2018

ruzeiro do Sul é uma cidade situada às margens do rio Ta- CASA quari, Vale que também possui essa nomenclatura, localizada na Cporção centro-leste do Rio Gran- DO de do Sul. Este Vale se situa na microrregião centro-oeste, e faz fronteira com diversos municípios MORRO como Estrela, Lajeado, Bom Retiro do Sul, Mato Leitão, Santa Clara do Sul e Venâncio Aires. Conta com 36 municípios colonizados por diversas etnias como índios, afrodescenden- tes e principalmente por alemães e italianos. Possui também duas gran- des empresas: a Faros, que produz diversos produtos para consumo ani- mal, e também a fábrica centenária de chocolate Natal. Situada na cidade de Cruzeiro do Sul, a Casa do Morro é uma atra- ção turística, que foi construída por ordem do Tenente Coronel Pri-

66 mórdio Centeno Xavier de Azambuja, foi adquirida por Leocádia Villa- filho de Laura e João Xavier Azambu- nova de Azambuja e seu marido Ra- ja. fael Fortunato de Azambuja. Com relação ao seu históri- A família Azambuja residia co, o governo de Portugal concedeu ainda lá por muitos anos, e após sesmarias a várias famílias para 1914, foi ocupada por inquilinos; se proteger da ameaça da Espanha; e depois foi abandonada à própria no sul do Brasil não foi diferen- sorte. Infelizmente muitos vânda- te, a concessão foi em sua maioria los depredaram a casa pelo fato de para descendentes de portugueses acharem que haviam ali tesouros es- e alemães, na história de Cruzei- condidos pela família Azambuja. ro do Sul, se destacou a família Azambuja, que ajudou a formar o centro da cidade. ...para O Tenente-Coronel Primórdio Centeno Xavier de Azambuja, pri- tentar recuperar mogênito do casal Azambuja, após e espantar os ladrões ter lutado na Guerra do Paraguai e retornar ao Brasil, acabou herdan- foram divulgados do as posses de sua família. Com o falecimento de seu pai, João, ele boatos de que continuou com a comercialização de a Casa do Morro terras, e também com as atividades agrícolas de sua família. No ano era assombrada de 1872, começou a construção de sua casa, ao lado da residência de por fantasmas sua mãe, que nada mais é que o atu- al prédio da Prefeitura Municipal e lobisomens. de Cruzeiro do Sul. Na realização da obra de sua residência, ocorreu naquele ano uma enchente de gran- No ano de 1922 foi criado o des proporções que acabou atingindo 6º Distrito de Lajeado – denomina- sua construção, destruindo-a quase do de São Gabriel da Estrela, isto por completo. Diante deste fato, o causava problemas com a cidade de Tenente-Coronel Primórdio Centeno São Gabriel, então o governo re- Xavier de Azambuja resolveu cons- solveu modificar o nome no ano de truir uma casa no alto do povoado, 1940, de São Gabriel da Estrela que mais tarde ficou conhecida como para Cruzeiro do Sul. a Casa do Morro. Sua construção de- Logo após esta denominação, morou aproximadamente cinco anos. no Brasil, naquela época, muitos Ele residiu na casa do mor- nomes de municípios, vilas, cida- ro até o ano de 1898, e no dia 17 des foram trocados. O município de de maio do mesmo ano, ele morreu Cruzeiro do Sul foi um dos atingi- de causa natural. O Tenente-Coro- dos passando a se chamar Setembri- nel Primórdio não era possuidor na. O povo não gostou do novo nome de grandes fortunas, e sua heran- imposto à cidade, e esperando uma ça foi dividida entre seus netos ocasião, pediu a modificação do nome e sua filha Altina. Sem contar que da cidade para que voltasse a se suas dívidas eram maiores que o chamar Cruzeiro do Sul e no ano de valor da metade de suas posses. 1949, foi restabelecido este nome. Com isto, a casa foi vendida num No ano de 1962, mais preci- leilão público no ano de 1901 e samente no dia 7 de agosto daquele

67 ano, através de um decreto da Pre- feitura Municipal de Lajeado – pois Cruzeiro do Sul era seu 6º distri- to, a casa do Morro foi declarada de utilidade pública, sendo então desapropriada – seu último proprie- tário foi Armando Lopes. No ano seguinte, surge a ideia de se emancipar da cidade de Lajea- do, para isto houve a realização de um plebiscito no dia 25 de agosto daquele ano, sendo que a vitória do “SIM” foi avassaladora. Após a di- vulgação dos resultados, no próximo dia, comerciantes e industriários fecharam seus estabelecimentos e com muita alegria saíram para fes- tejar em todos os cantos da recém- Foto antes da restauração da Casa do Morro – site da Prefeitura de Cruzei- -criada cidade de Cruzeiro do Sul. ro do Sul. Em 1969, o governo municipal da cidade precisava eleger um pa- trimônio Histórico que representas- se a vontade do povo, que ajudasse na construção da compatibilidade do novo município recém-criado. Não houve nenhuma dúvida quanto à es- colha deste símbolo que até hoje é referência na região do Vale do Ta- quari – A Casa do Morro. Depois disto, para tentar re- cuperar e espantar os ladrões foram divulgados boatos de que a Casa do Morro era assombrada por fantasmas e lobisomens. Infelizmente em que pese todas as tentativas de manter os ladrões e invasores afastados pelos boatos, não foi possível pa- rar com essas depredações e inva- sões. Depois de um longo período de abandono, a Casa do Morro foi par- Foto atual com a restauração parcial cialmente recuperada e abrigou res- da Casa do Morro. taurantes, museus, bibliotecas e a Fonte: Leandro de Marque. nov 2018. Secretaria de Cultura de Educação do Município de Cruzeiro do Sul. Um grande destaque da casa do Morro é sua localização, que pri- vilegia uma visão do Rio Taquari, e das Cidades de Cruzeiro do Sul, Lajeado e Estrela. Um dos grandes destaques da Casa do Morro foi o restaurante chamado de “Casa do Morro”, que era muito movimentado e frequentado por diversas pessoas do Vale do Taquari. Hoje, apesar da casa do Morro

68 estar fechada, nesta mesma rua, pela lativo ao tombamento. No ano de fama deste local e por seu enorme 2006, a Secretaria Municipal de número de frequentadores, três res- Educação e Cultura iniciou o pro- taurantes disputam a clientela num cesso de tombamento, publicando espaço de apenas 500 metros. Infe- edital e notificando proprietários lizmente apenas um dos restauran- de imóveis lindeiros. Com este ato tes, construído ao lado da Casa do de tombamento, tem-se a garantia de Morro, possui a visão magnífica do que o prédio histórico não poderá rio Taquari que banha várias cida- ser destruído ou descaracterizado. des, dentre as quais se pode visu- E também garante que perto da Casa alizar do restaurante: Cruzeiro do do Morro não poderão ser construí- Sul, Estrela e Lajeado. Desde o ano dos outros prédios que possam des- de 2001 a casa está fechada, sen- caracterizar sua harmonia. do propriedade do Município e está Em que pese o processo de aguardando obras de manutenção. tombamento, que desautoriza cons- No ano de 2014, algumas alu- truções perto da Casa do Morro, nas do Colégio Estadual João de muitas residências e prédios já Deus da cidade de Cruzeiro do Sul estavam ali construídos, estes organizaram e criaram um grupo cha- não foram afetados pelo ato de mado de “Amigos da Casa do Morro”, tombamento; e em relação à casa, para tentar angariar recursos para é proibido trocar ou modificar as investir e, se possível, começar características originais de seu uma reforma para reativar a Casa projeto arquitetônico. do Morro. O trabalho destas pessoas Para a obtenção de recursos foi apresentado no poder Legislati- do Fundo Nacional de Cultura ou do vo Municipal, que foi muito elogia- Fundo Estadual de Cultura para res- do pelos representantes do povo. taurações é necessário que o bem Para a identificação de seus esteja tombado, por isso foi neces- integrantes foi adotada uma re- sário que se fizesse o tombamento. presentação que simbolizasse esta Após a recuperação do pré- ideia – uma camiseta estampada com dio, a Prefeitura pretende im- a figura da Casa do Morro. Esta novi- plantar um Centro Cultural com dade foi apresentada ao poder Exe- espaços para diversas finalidades cutivo, representado pelo excelen- artísticas, de artesanato, músi- tíssimo Sr Prefeito Municipal, que ca, dança, entre outros. demonstrou apreço e ofereceu ajuda aos representantes, dando início REFERÊNCIAS: aos trabalhos por eles propostos. Após várias reuniões deste Site da Prefeitura de Cruzei- Grupo com representantes do Poder ro do Sul - http://www.cruzeiro. Legislativo e Executivo, surgiram rs.gov.br/casa-do-morro/ várias ideias como venda das cami- sas, de artesanatos e também reali- VOLKMER, Márcia Solange e GRE- zação de feiras, eventos, bingos, GORY, Júlia Leite. A Casa do para a obtenção de recursos para Morro: um lugar de memória em começar a manutenção e conserva- Cruzeiro do Sul/RS. ção da Casa do Morro. Atualmente o município autorizou o recebimento vvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvv de materiais doados e materiais de construção para a reforma da Casa do Autor: Morro, as doações podem ser feitas LEANDRO DE MARQUE - Ba- diretamente à Prefeitura, através charel em Direito pela da Secretaria Municipal de Educação UFRGS. Pós-Graduado e Cultura. Podem participar tanto em Direito Tributário pessoas físicas como jurídicas. pela UNISINOS. Outro ponto importante é re- 69 Imagem aérea do Parque Odilo Klein Fonte: Prefeitura Municipal de Santa Clara do sul

orar em Santa Clara do Sul significa ter acesso a espaços SANTA CLARA para esporte e lazer. Criado em 20 de março de 1992, por lei nº M9.621, o município situa-se no Vale do Taquari, região Central do Esta- DO SUL do, possuindo 119 km de distância da capital. Apontada pelo último censo do IBGE, em 2010, a população Uma cidade de 5.697 pessoas é composta pela etnia italiana e alemã, sendo esta última predominante. que vivencia A cidade é tranquila e de es- pírito hospitaleiro. Durante a se- mana, as crianças e adolescentes o esporte têm a oportunidade de, no turno inverso ao da escola, praticarem e o lazer esportes, sempre instruídos e su- pervisionados por professores de Educação Física contratados pelo poder público municipal. Já os fi- nais de semana são regados a rodas de conversa nos jogos esportivos.

Um pouco da história da Cidade de Santa Clara do Sul

A denominação de Santa Clara do Sul originou-se de uma das fi- lhas do colonizador Antônio Fialho de Vargas, terceiro proprietário do território atual do município

70 de Lajeado (a partir de 1853), que Zeca Ferreira “Maragatos”. Em 28 deu o nome de Irmã Clara de Santa de maio de 1895, os colonos santa- Estanislau da Congregação de Maria -clarenses, sob a direção de José (Maria Clara Fialho de Vargas), à Diel (Coronel José Diel, comissário fazenda de matas virgens “Fazen- e inspetor do quarteirão de Santa da Santa Clara”, evento histórico Clara, vice-intendente de Lajeado e ocorrido em 1869. depois primeiro subprefeito do dis- Eclesiasticamente o territó- trito) proclamado comandante civil rio santa-clarense era subordina- da guarda local, e o sub-comandan- do, desde seus primórdios à Fre- te Nicolau Klein, venceram os ma- guesia de Santo Amaro e após, à ragatos, colocando-os em fuga, fato de São José Taquari. Em 1873, à histórico que muito orgulha a comu- freguesia do 2º distrito de paz de nidade local. Estrela, ou seja, Santo Inácio de Em agosto de 1895, foi funda- Loyola de Lajeado. da a Sociedade Alemã de Atiradores Em abril de 1899, Santa Cla- de Santa Clara, hoje extinta. Em ra sediou o 2º Congresso Geral de 1913, teve lugar em Santa Clara do Católicos do Rio Grande do Sul. Em Sul a fundação do “Sindicato Rural 1916 foi inaugurada a atual Igre- para os colonos de Lajeado”, que em ja matriz e, em 1929, foi cria- 1938, se transformou na atual Asso- da a atual paróquia São Francisco ciação Rural de Lajeado. Xavier, de Santa Clara do Sul. Em Em 1918, foi fundado o Tiro de 1891, foi criada a vila de Lajeado Guerra 239, o maior e mais organi- que, em 1944, foi elevada à cate- zado do interior do Estado, que teve goria de cidade. turmas de 130 recrutas. Em 1946, o Em 1914, Santa Clara do Sul referido Tiro de Guerra foi desa- foi elevada à categoria de 2º dis- tivado, passando a constituir-se na trito de Lajeado, sendo que, em Sociedade Centro de Reservistas de 1938, foi elevada à categoria de Tiro de Guerra 239, clube social. vila. Nos conturbados anos da Re- Em 1945, o nome de Santa Clara volução Federalista de 1893/1895, do Sul foi mudado para “Inhuverá”, os colonos santa-clarenses tomaram por lei governamental, nome indíge- parte no combate contra o Bando de na que significa “Campo Resplande-

Entrada do Parque Multiesportivo Odilo Klein Fonte: Prefeitura Municipal de Santa Clara do sul

71 cente”, sendo que, em 1948, nova- Santa Cruz, Sampainho, Alto Arroio mente o distrito passou a chamar-se Alegre, Chapadão, Picada Santa Cla- Santa Clara do Sul. ra, Sampaio, Linha Serrana e São Em 1942, chegaram a Santa Bento, hoje pertencentes ao municí- Clara do Sul as primeiras irmãs da pio de Santa Clara do Sul. Congregação da Divina Providência, Em 20 de março de 1992, por que assumiram a Escola Paroquial, lei nº 9.621, criou-se o município a atual Creche Municipal e o atual de Santa Clara do Sul, cuja data Hospital Imaculado Coração de Ma- de instalação é de 1º de janei- ria em 1953, que antes pertencia a ro de 1993, fazendo parte dele, Carlos Schnorr. as comunidades de São Bento, Nova Em 1967, iniciou-se o Ginásio Santa Cruz, Chapadão, Alto Arroio Comercial Santa Clara do Sul, man- Alegre, Linha Serrana, Sampaio, tido pela Campanha Nacional de Es- Sampainho, Picada Santa Clara e colas da Comunidade, que em 1975, Rua das Flores. instalou o 2º grau - Auxiliar de Escritório - e atualmente denomi- Parque Multiesportivo Odilo na-se Escola Estadual de Ensino Klein - uma opção de lazer e esporte Médio Santa Clara. Em 1969, Santa Clara do Sul As obras do parque iniciaram festejou o centenário da coloni- em outubro de 2015 e foram conclu- zação. ídas em 28 de maio de 2016. Desde Em 1990, o distrito de San- então, a estrutura de lazer e prá- ta Clara possuía 3.000 habitantes, ticas esportivas são aproveitadas sendo que o núcleo contava com cer- por crianças, jovens e adultos de ca de 2.040 habitantes (IBGE). San- domingo a domingo. ta Clara do Sul foi o distrito de O parque foi construído às Lajeado com maior índice de alfa- margens da Rua Alberto Schabbach, betização e foi o primeiro distrito no centro da cidade. A estrutu- a conseguir uma escola de 2º grau, ra tem uma área de 11.005,24 me- que funciona desde 1975. O distrito tros quadrados, possuindo pistas estava composto pela sede urbana, a de skate e de caminhada, quadras vila de Santa Clara do Sul, e mais de basquete e de areia, campo de oito comunidades, que são: Nova futebol sete, academia ao ar livre

Parque Odilo Klein Fonte: Prefeitura Municipal de Santa Clara do sul

72 e uma praça com brinquedos em ma- no Hospital Bruno Born, de Lajeado. deira para crianças. Para o santa-clarense Messias A denominação do parque é uma Mahle, 15 anos, o Parque Multies- homenagem a um dos ícones da his- portivo Odilo Klein é uma boa op- tória de Santa Clara do Sul. Odilo ção de entretenimento, “aproveito Klein nasceu em 4 de junho de 1934, muito os espaços do Parque, jogo na Rua das Flores. vôlei, ando de skate e sento nos Desde jovem, seu Odilo Klein bancos para tomar tererê com meus sempre demonstrou espírito comuni- amigos. Sempre vejo muitas pessoas, tário, se envolvendo e se dedican- e de várias idades praticando algum do a diversas atividades. Parti- esporte ou curtindo uma sombra en- cipou do grupo teatral amador do tre amigos ou familiares.”. Messias município, presidiu a Paróquia São também já participou de vários cam- Francisco Xavier e o Círculo de peonatos de vôlei no Parque organi- Pais e Mestres da antiga Escola São zados pela prefeitura municipal, o José, integrou a comissão organi- que acaba atraindo pessoas da cida- zadora da Festa do Centenário da de e fora dela. Colonização de Santa Clara do Sul O poder público de Santa Clara em 1969 e foi tesoureiro da então do Sul tem como costume a promo- Sociedade Centro de Reservistas do ção de jogos esportivos no Ginásio Tiro de Guerra 239. de Esportes, no Campo Municipal ou Além disso, por 12 anos, Klein no Parque da cidade, sejam de vô- presidiu a Sociedade Centro de Re- lei, futebol, campeonatos de ska- servistas, a qual reconstruiu em te, etc., o que incentiva muitos 1967, com a ajuda das comunidades cidadãos a procurarem pela práti- local e vizinha, depois de um ven- ca de algum esporte, fazendo com daval destruir o prédio. Em 1970, que muitas pessoas vivenciem o uso fundou o Grupo de Bolão Tiradentes. do exercício físico, tão importante Durante sua gestão, foi construída para a nossa saúde. a cancha de bolão no clube, à qual seu Odilo se dedicou por muitas ho- REFERÊNCIAS: ras na lixação da madeira e na sua preparação minuciosa. Na década de IBGE: https://cidades.ibge.gov. 80, foi responsável pela ampliação br/brasil/rs/santa-clara-do- da sociedade. -sul/panorama Membro da comissão de compras do Hospital Comunitário das Irmãs Portal Região dos Vales: http:// da Divina Providência, ainda teve www.regiaodosvales.com.br/ atuação marcante na vida política de Santa Clara do Sul, represen- Prefeitura Municipal de Santa tando e defendendo os interesses do Clara do Sul: https://www.san- então distrito como vereador da ci- taclaradosul.rs.gov.br/ dade de Lajeado entre 1969 e 1972. Além disso, foi membro atuante da vvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvv Comissão Emancipacionista. Empresário de sucesso e com Autora: visão empreendedora, nos últimos ANGÉLICA HEINEN MAHLE - Mes- anos de vida, seu Odilo se dedi- tra em Memória Social e Bens cou, pessoalmente, com a ajuda de Culturais. Especialista sua filha Anelize e do historiador em Educação Especial José Alfredo Shierholt, à pesquisa e graduada em Pedago- da história de imigração dos ale- gia. Atualmente é pro- mães e à fundação de Santa Clara do fessora de Educação Sul. Ele tinha o sonho de produzir Infantil e Anos Ini- um livro sobre esses assuntos. Em ciais do Ensino Funda- dezembro de 2012, veio a falecer mental na rede privada após ser submetido a um cateterismo de ensino.

73 Lagoa da Harmonia Fonte: Acervo Prefeitura de Teutônia

Coro é o mais antigo entre os grandes agentes sonoros cole- CAPITAL tivos. Um dos registros mais antigos, descobertos na Caverna OCangul, na Espanha, aponta para a NACIONAL DO prática de cantos e danças em grupo na era neolítica, na pré-história. Antigos documentos do Egito e Meso- potâmia revelam-nos a existência de CANTO uma prática ligada aos cultos reli- giosos e às danças sagradas. Ao longo da história do coro CORAL houve várias evoluções. Inicialmen- te como canto monódico (uma voz), mesmo sendo executado por um coro e a música. Mais tarde, o canto Teutônia – RS coral começou a ser executado com mais vozes (polifonia), assumindo Histórico do uma técnica mais rebuscada e ar- tística. O elo que une os dois é que o primeiro serviu de ponto de Canto Coral partida, de fundamento para o se- gundo, isto ocorreu nos séculos VII 74 e VIII, quando surgiu uma polifonia vencer. Somente quando o Imperador “aparente”. Somente no século XI Romano Constantino se converteu ao é que o sentido polifônico assu- cristianismo a música cristã con- miu uma característica mais inde- quistou sua liberdade e a ideia dos pendente. Surgiu então o coro com coros começou a se difundir. um papel mais independente, inclu- O coral protestante foi di- sive ritmicamente. Desse modo, re- fundido por Martinho Lutero (1483 alizou-se no século XII a primeira a 1545), frade agostiniano alemão, reforma coral. que se rebelou contra a ostentação Com uma estrutura a três vo- do luxo e as indulgências da igre- zes, o coral atingiu seu apogeu no ja católica. Lutero era músico e século XIII, principalmente na es- percebeu que através dela poderia cola parisiense de Notre-Dame. Com organizar e propagar em toda a Ale- o desenvolvimento da técnica coral, manha melodias populares e o canto novas formas apareceram, onde se Gregoriano com o repertório da lín- estabeleceu a tão comum estrutura a gua alemã. Com o objetivo de que os quatro vozes. Nesta época surgiram fiéis entendessem o que estava sendo três formas de corais distintos: cantado e compreender bem o que a que possuía forma mais festiva; uma nova mensagem cristã dizia. Somente espécie de cantiga de roda; e aque- no século XV é que o coral começou le que aparece à Missa onde eram a assumir a estrutura que é adotada cantadas as principais partes da missa católica. Na antiga Grécia, o Coral já Com o Imperador era uma organização perfeitamente estabelecida e a ele era dada a Romano Constantino maior importância em todas as fun- ções sociais. Deixou de ter caráter a idéia dos Coros exclusivamente religioso e passou a fazer parte de festas populares começou a se difundir. e orgias pomposas. Tem vida pró- pria e passa a ser considerado como uma das mais elevadas expressões do atualmente, formada por coralistas ser humano. Em Athenas, o recruta- e um regente. mento, vestuário e instrução de um No Vale do Taquari, através coro era um serviço público. A mú- do canto coral, surgiu a ideia dos sica ocidental cantada foi sistema- festivais de música e encontros de tizada pelo Papa Gregório I (590 a corais, com o objetivo de divulgar 604). Assim, surgiu o Canto Grego- a cultura trazida pelos antepassa- riano, que tem como característica dos, principalmente dos alemães de a riqueza melódica e a ausência de origem protestante. polifonia. O canto é uma melodia em uníssono e tem o ritmo livre. A história da Colônia de Teutônia, Os romanos eram um povo liga- RS do diretamente às guerras e às con- quistas. Limitavam-se a copiar tudo A história da Colônia de Teu- o que encontravam. Tinham preferên- tônia está relacionada com a da cia pela flauta e suas orgias, lon- imigração alemã iniciada em 1824, gínquos precursores do carnaval. com a criação da Colônia alemã de O coro cristão nasceu nas catacum- São Leopoldo e a chegada dos pri- bas de Roma. Assim, surgiu uma nova meiros colonizadores. A Colônia foi doutrina que entoava à divindade, idealizada pelo comerciante ata- pedindo auxílio para a sua causa cadista Carlos Schilling que, em e coragem para a luta sem tréguas, 1858, adquiriu terras devolutas do onde o ideal cristão haveria de município de Taquari para dar iní-

75 cio ao seu projeto. Iniciou com a venda de lotes de aproximadamente Capital Nacional do Canto Coral 25 ha, aos agricultores. Em 1861, adquiriu mais uma área de terras A herança da tradição alemã também de Taquari para ter aces- está presente em vários aspectos so à Nova Colônia de Teutônia, que no município de Teutônia-RS. Esta loteou para vender. Nos anos de herança está representada pelo idioma alemão, pela arquitetura e pela música. Entre as várias ma- Teutônia, RS, “Cidade nifestações culturais trazidas pe- los imigrantes, uma especialmente que Canta e Encanta” se destaca: o canto coral, que é uma tradição dos seus colonizado- é a Capital Nacional res alemães, especialmente no mu- nicípio de Teutônia por se manter do Canto Coral. viva até hoje. A tradição do can- to coral é usual em momentos dis- tintos, principalmente em igrejas 1865/1866 chegaram a Teutônia os por ocasião de cerimônias como ba- primeiros colonos, boa parte deles tismos, confirmações, crismas, ca- vinda da antiga zona colonial de samentos, datas representativas na São Leopoldo, alguns de Santa Ca- vida dos imigrantes e seus descen- tarina, outros diretamente da Ale- dentes, festas de louvor e agrade- manha (Pomerânia, Saxônia, Boêmia, cimento e também em sepultamentos. Silésia) e da colônia frustrada de Esta forma de manifestação coleti- São Carlos, da Argentina. va ocorre principalmente no inte- Em 1868, chegaram 41 imigran- rior do município, zona rural, onde tes Westphalianos, o que deu um estão concentrados a maioria dos novo impulso ao processo de desen- corais. Cada comunidade, pela sua volvimento da região. Quanto às co- tradição, possui um ou mais corais, munidades, sabe-se que a primeira que estão filiados à Associação dos picada de Teutônia foi Picada da Corais de Teutônia-ACOTE. Boa Sorte (hoje Bairro Canabarro), O município de Teutônia, RS que contava com 48 lotes já no ano tem por lema: “Cidade que Canta e de 1858. Em 1860, foi aberta a Pi- Encanta”. Com, em torno de 41 co- cada Hermann (Linha Germano), com 56 lotes e, em 1865, a Picada Boa Vista, com 52 lotes, seguindo-se a O município de Picada Frank, em 1868, com 92 lo- tes. De 1869 a 1870: Picada Schmi- Westfália detém um dt, Picada Clara e Picada Welp, com 49, 23 e 10 lotes, respectivamente. dos corais mais antigos Outras picadas foram abertas entre 1872 a 1878, como a Picada Catari- do Rio Grande do Sul na. A Colônia de Teutônia perten- com 148 anos cia ao município de Taquari de onde se emancipou Estrela, de Estrela de atividades. se emancipou Teutônia e de parte de Teutônia, se emancipou Westfá- lia. O atual município de Teutônia rais e cerca de 1.000 coralistas, é se emancipou de Estrela, em 24 de a Capital Nacional do Canto Coral. maio de 1981, que conta atualmente Este título nacional foi concedido com área de 179 Km2 e ocupa o 2º à Teutônia pela Lei 13.563, sancio- lugar em importância econômica no nada pelo presidente Michel Temer Vale do Taquari. no dia 21 de dezembro de 2017. Além

76 Festival evidencia canto coral em Teutônia Fonte: Grupo A Hora

disso, o município também possui ria, são oriundos de uma região a Orquestra Municipal de Teutônia, próxima à Holanda e que integra que já conquistou por duas vezes, o atual estado da Renânia do Nor- 1997 e 2000, o 1º lugar no Festival te, Westfália. Os imigrantes ale- O município de Internacional de Bandas, na cidade mães chegaram ao local por volta de Grimma, Alemanha. Mostrando des- do ano de 1869 e falavam o dialeto Westfália detém um sa forma também, a aptidão do seu westfaliano (Plattdüütsk), língua povo para a música e o canto coral, até hoje muito difundida entre os dos corais mais antigos como uma memória social coletiva. munícipes westfalianos. No início tiveram muito trabalho para cons- do Rio Grande do Sul A História do Município de Westfá- truir: estradas, escolas, igrejas lia RS e sociedades culturais, nas suas com 148 anos comunidades. A história do município de O Município integra as loca- de atividades. Westfália, que faz parte da Colô- lidades de Linha Frank, Linha Sch- nia Teutônia, colonizada a partir midt, Linha Berlim e Linha Pais- de 1858, iniciou com a chegada de sandu (antigamente conhecida por imigrantes alemães vindos das re- Picada Krupp), e ainda conta com giões da Westfália e Hunsrück da as comunidades de Picada Molke, Pi- Alemanha. cada Bismark, Picada Horst e Köln. Recebeu o nome em homenagem Os nomes de cada localidade home- aos imigrantes, que, em sua maio- nageiam os pioneiros Daniel e Ja-

77 cob Frank (Linha Frank), Cristian e mens. Assim, em 07 de maio de 1877, Peter Schmidt (Linha Schmidt) e os foi fundado o oficialmente primeiro irmãos Horst (Picada Horst); Pica- coral da Colônia Teutônia, Picada da Molke e Bismark são em memória Frank, hoje Linha Frank, Westfália- de pessoas do alto comando alemão -RS, sob o nome de Deutcher Sänger- - general Helmuth Erhard Moltke e bund, Coro de Homens, que mais tar- Otto Eduard Leopold Bismark, unifi- de passou a ser Coro Misto formado cador da Alemanha, ambos da Prús- por homens e mulheres. Por causa sia; Berlim (Linha Berlim) lembra a da 2ª guerra mundial, o referido capital da Prússia e da Alemanha, coro passou a chamar-se Socieda- após a unificação em 1870; Köln des- de de Cantores Aliança. Esse coral taca a importante cidade da região já existia provisoriamente em 1870, da Westfália; e o nome Krupp (Linha isto é, sem estatutos, apenas com Paissandu) está ligado à siderúr- registros e apontamentos de ensaios gica Krupp, uma importante empre- em livro apropriado. O coral ainda sa prussiana que contribuiu para a hoje está ativo, com 148 anos, um unificação da Alemanha. Westfália se dos mais antigos do gênero de todo emancipou em 16 de abril de 1996, de o Vale do Taquari e do Rio Grande Teutônia e Imigrante. E instalado do Sul. com administração própria, de mu- nicípio, em 1º de janeiro de 2001, REFERÊNCIAS: possui uma área com superfície de 64 Km2. Atualmente é o município DAHMER, Hélio. Documentário - com a melhor distribuição de renda Sociedade de Cantores Aliança per capita, do Brasil. Linha Frank. Westfália, aposti- la, 2017. Sociedade de Cantores Aliança, Li- nha Frank Westfália, RS FECORS. Disponível em: Acesso em 05 de novem- constituiu uma modalidade de desta- bro de 2018. que na Alemanha. Para os primeiros imigrantes alemães que chegaram na TEUTONIA. Disponível em: linha Frank, Westfália-RS, em 1869, acesso em 06 de no- frentar a saudade da terra natal, vembro de 2018. dos familiares distantes, além de auxiliar nos desafios que o desco- WESTFÁLIA. Disponível em: nhecido trazia. O canto estava vol- acesso trazendo alegria às noites escuras em 07 de novembro de 2018. em família. Nas reuniões com os vizi- vvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvv nhos, além da troca de ideias e notícias, leitura da bíblia tam- Autor: bém se cantava, o que fez surgir RENATO KREIMEIR - Engenheiro os corais. O canto coral tratava- Agrônomo com especialização em -se de uma forma mais aprimorada Gestão de Cooperativas de cantar em que se buscava a har- e Gestão Financeira. monia das vozes. Essa atividade Professor da Faculda- normalmente ocorria à noite. de La Salle Estrela, Em abril de 1876, foram ela- RS. Mestre em Memória borados os estatutos com 10 artigos Social e Bens Cultu- na língua alemã, do coro de ho- rais.

78 uando surge a oportunidade de realizar uma pesquisa sobre IGREJA algo da sua cidade, logo vem à memória algo que conhecemos bem, do Qqual temos muitas informações, ge- SÃO JOSÉ DE ralmente escolhe-se um local para o nosso convívio. Também pensei des- sa forma num primeiro momento, mas numa segunda análise, veio-me re- SANTA correr que seria essa uma oportu- nidade de escrever sobre um local que não conheço pessoalmente no meu MANUELA: município, apenas ouvi falar. Se- ria essa uma ótima oportunidade de conhecer a Igreja Católica da comu- nidade de Santa Manuela e conversar Minhas um pouco sobre ela com o professor Romeu, um guardião da história da comunidade e da Igreja. primeiras Quais são as minhas informa- ções sobre a Igreja? Quando me faço essa pergunta, logo me vem em mente impressões as pinturas. Mesmo sem conhecer, sei que há pinturas lindas no seu interior. Tenho grandes expectati- vas em vê-las pessoalmente. Penso que é a Capela Sistina de Pave- rama, com suas pinturas no teto e nas paredes. Tenho curiosidade em ter acesso às informações escritas sobre a história dessa Igreja. Sei que ela apresenta uma arquitetura eclética. É uma antiga igreja do município, que tem frases e inscri- ções na língua alemã, mas que ti- veram que ser cobertas de tinta no período da 2ª Guerra Mundial. São menos de 6 km de estra- da de chão do centro de Paverama

Igreja São José de Santa Manuela - Paverama. Fonte: Katiúscia D’Ávila

79 tas expectativas em conhecê-la pes- [...] em abril de 2018 soalmente. Sei que em abril de 2018 a comunidade de a comunidade de Santa Manoela entrou como ponto de visitação de uma rota Santa Manoela, turística autoguiada: “Caminhos de Paverama”. Esse trajeto oferece a entrou como ponto de turistas e habitantes a oportuni- dade de descobrir e reconhecer a visitação de comunidade de Santa Manuela, brin- dando-os com os encantos locais. uma rota turística Consegui agendar uma visita à igreja através da Sidilene De- autoguiada [...] nise Christ, uma colega de aula lá dos tempos de Estadual, e que até a comunidade de Santa Mano- atualmente, também é professora ela. Muitos não gostam de andar municipal, atuando na Escola São por percursos de estrada de chão. José, de Santa Manuela, que leva É necessário diminuir a velocida- o mesmo nome da Igreja. de do carro mas, em contraparti- Chegou o tão esperado dia de da, temos mais tempo para perceber conhecer a Igreja São José de San- as paisagens, ouvir os pássaros e ta Manuela e de conversar com o respirar o ar do campo. professor Romeu para conhecer pe- O caminho não me é estra- culiaridades do templo e da comu- nho. Tenho ótimas memórias sobre os piqueniques na Hípica Reck- ziegel, quando ainda estudava na Sagrada Família abençoada por Deus Escola Estadual na década de 90, Fonte: Éber Gustavo Jung indo a pé da escola até o local do piquenique e ninguém reclama- va. As histórias dos piqueniques são sempre recordadas nas rodas de conversas de amigos que juntos es- tudavam na Estadual. Segundo Hal- bwachs (1990, p. 80):

Dentro de tais meios todos os indivíduos pensam e se recor- dam em comum. Cada um, sem dú- vida, tem sua perspectiva, mas em relação e correspondência tão estreitas com aqueles ou- tros que, se suas lembranças se deformam, basta que ele se coloque do ponto de vista dos outros para retificá-Ias.

Além dos piqueniques, há os jogos de futebol no campo do In- ternacional de Santa Manoela, nos quais, atuando com o Grêmio Espor- tivo Sete de Setembro de Morro Azul, geralmente ocorriam desentendimen- tos diante dessa rivalidade Grenal do município. Mas a Igreja… Fiquei com mui-

80 de finalização das pinturas. [...] Então O professor relata que o pin- desde aquela vez, tor da obra original vinha até a atual cidade de Maratá, trazendo as nem os padres tintas, onde era necessário buscá- -lo de carroça, devido à quantidade não se arriscaram de material. O irmão marista trazia todas as tintas em pacotes e latas em trazer e misturava no momento da pintura. Assim que terminavam as tintas, ele gente aqui. [...] ia embora até , ficava fora por dois ou três meses e vol- nidade em geral. Foram 50 degraus tava para pintar. para chegar até a porta para tirar O que mais atraiu o meu olhar, a prova sobre o que eu sentiria e certamente o da grande maioria dos ingressando pela primeira vez na visitantes que entram pela primei- Igreja. ra vez na igreja, é a dimensão das Foi e certamente sempre será pinturas. São pinturas grandes, que uma sensação maravilhosa poder transpassam a sensação de amplitude entrar numa igreja centenária. do ambiente. Penso o quão difícil Principalmente se tratando de uma foi realizá-las, principalmente as igreja do município em que resido. pinturas do teto, observo a pro- Aos meus olhos, a primeira coisa porcionalidade, o realismo e as que me chamou a atenção foram as pinturas nas paredes e no teto. Não consigo parar de admirar! Res- Interior da Igreja São José. guardando as devidas proporções, Fonte: Katiúscia D’Ávila lembra sim, a Capela Sistina, ao menos o que conheço dela. Em meio às conversas com o professor aposentado José Romeu Kunrath, 73 anos, o guardião da história da Igreja, relatou que a sua construção iniciou no ano de 1912, com apenas 14 sócios na épo- ca. Toda a igreja foi construída por um único pedreiro e as pedras grês foram trazidas de carroça, todas de um único local, de cer- ca de mais de 3 km de distância, custando ao encarregado do servi- ço algumas carroças quebradas. A construção levou 5 anos. A igreja foi inaugurada em 19 de março de 1917, dia de São José, motivo pelo qual ela é homenage- ada recebendo o seu nome: Igreja São José. Também em 1917, inicia- ram as pinturas nas paredes e no teto. O único registro que se tem sobre as pinturas é uma data do ano de 1925, pintada no teto sobre o altar. A pintura foi realizada por um irmão marista argentino e a data de 1925, teria sido a data

81 matizes formadas a partir de cores [...] Felicidade: por primárias e secundárias. Tudo isso proporciona um verdadeiro encanta- conhecer um lugar mento e uma sensação hipnotizante e admiradora do conjunto da obra. tão significativo Imagens de santos, anjos tocando diversos instrumentos, representa- e tão carregado ções divinas repletas de detalhes em perfeitas combinações de cores. de história, As pinturas sofreram interfe- rências em 1942, quando por ordem de memórias e de de Getúlio Vargas, foi proibida a sensações; [...] língua alemã no Brasil, então todos os escritos de salmos e provérbios na língua alemã foram cobertos por cobertas e novamente destacadas no outras tintas. Até nas escolas os lugar que lhes são de direito. livros com textos em língua alemã Referente à possibilidade de foram recolhidos. Ver aqueles bor- restauração das pinturas, o profes- rões de tinta sobre as frases em sor Romeu relatou: alemão aguça ainda mais a curio- “ o último que veio aqui, então, sidade sobre o que essa tinta re- um grande engenheiro, que o padre almente esconde. Permaneci por al- arrumou, fez só isso aqui (passan- guns minutos ali, tentando decifrar do o dedo numa parte da pintura alguma letra, alguma palavra que da parede), chegando até aqui as- levemente aparece, como que se su- sim (altar) mostrou pro padre e pra plicassem para serem lidas, redes- mim, olhou de novo o dedo, e fez assim: larguei de mão! Aí o padre queria saber por que, e eu também. Detalhe da Pintura Ele disse: _ Não! É que são sete em degradação de Santa Cecília. ou oito camadas sobrepostas e eu Fonte: Éber Gustavo Jung não sei o que que ele usou. Ele fez assim: (esfregando os dedos) como é que isso não apagou ainda em cento e tantos anos. Sete, oito camadas sobrepostas, devia ter apagado tudo já, como é que ainda tem? Então desde aquela vez, nem os padres não se arriscaram em trazer gente aqui. Não adianta! Desde que eu trabalho aqui, há 51 anos, acho que vieram 30 e todos eles agradeciam e fala- vam o mesmo discurso: _ Não, não... não vou botar a mão por que não sei fazer igual.” Enquanto o professor Romeu contava e divagava sobre a histó- ria da igreja, consegui vislumbrar em meus pensamentos a história do professor de uma forma tão vívida como se minha mesmo fosse. Halbwa- chs (1990, p. 47) explica que

Toda a arte do orador consis- te talvez em dar àqueles que o ouvem a ilusão de que as con-

82 vicções e os sentimentos que essencialmente auditiva, o ele desperta neles não lhes status de guardião da histó- foram sugeridos de fora, que ria. [...] A oralidade con- eles nasceram deles mesmo, que tribui para “documentar” o ele somente adivinhou o que se mundo, suas mensagens e suas elaborava no de suas experiências de vivências, consciências e não lhes em- através de narrativas repe- prestou mais que sua voz. tidas e mnemonicamente apre- endidas. [...] (TRINDADE, Enquanto o homem divagava, 2017, p. 225). “as lembranças que nos são mais di- fíceis de evocar são aquelas que Ao terminar minha visita à não concernem a não ser a nós, que igreja, despertou em meu peito constituem nosso bem mais exclusi- dois sentimentos: felicidade e ar- vo, como se elas não pudessem es- rependimento. Felicidade: por co- capar aos outros senão na condição nhecer um lugar tão significativo de escapar também a nós próprios.” e tão carregado de história, de (HABWACHS, 1990, p. 49). memórias e de sensações; arrepen- Dentre as diversas conversas dimento: por ter protelado tanto e memórias relatadas, Romeu destaca tempo da minha vida para conhecer que as partes de madeira da igreja a Igreja São José, sua história, são todas originais: bancos, al- sua arte e suas lembranças presen- tares, púlpito, escada para o me- tes na memória do professor Romeu zanino, tudo teria sido feito em e em cada pedaço daquele templo. madeira, da própria região, por um morador local, do qual, Kunrath não REFERÊNCIAS: recorda mais o nome. Outro incidente dentre os mais HALBWACHS, Maurice. A memória de cem anos da igreja é o relato re- coletiva. São Paulo: Revista dos ferente a um roubo de algumas peças Tribunais Ltda, 1990. 190 p. em prata e até em bronze que havia na igreja, ocorrido há uns 35 anos TRINDADE, Ana Lígia de Oliveira. atrás, juntamente com os paramentos Oralidade e Memória. In: BERND, de prata como o turíbulo, a naveta, Zilá; MANGAN, Patrícia Kayser e até um candelabro. Vargas (Org.). Dicionário de ex- Atualmente o templo é usado pressões da memória social, dos para missas, com a presença do pa- bens culturais e da cibercultu- dre; no primeiro e no terceiro do- ra. 2. ed. Canoas: Unilasalle, mingo do mês e nos demais domingos, 2017. p. 224-226. são realizados cultos, sem a pre- sença do padre, mas conduzidos pelo vvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvv ministro da eucaristia. Pouca coisa dessa história Autor: e, dessas informações, estão re- ÉBER GUSTAVO JUNG - Professor gistradas. O guardião detém co- de Anos Iniciais. Licenciado em nhecimentos únicos, informações Artes Visuais pela ULBRA/ adquiridas de outros membros da Canoas. Especialista em comunidade que viveram no período Psicopedagogia pela da construção da igreja. Mas algu- Universidade Santa mas lembranças já se perderam com Cecília. Mestre em os anos e infelizmente, não pode- Memória Social e Bens rão mais serem recuperadas. Entre- Culturais pela Unila- tanto, é importante destacar que salle/Canoas. E-mail do autor: eber.201820426@unila- [...] cabe à memória humana, salle.edu.br.

83 Fonte: Blog Airton Engster dos Santos DE PROFESSOR A ADMINISTRADOR PÚBLICO: memórias de Leonildo José Mariani

partir de um bate-papo em for- Lembramos que nem sempre os ma de entrevista realizado precursores do legado de desenvol- com um dos personagens ilus- vimento de uma cidade são conquis- tres da cidade de Estrela-RS parti- tados pelos filhos da terra. E para Amos para a execução deste trabalho ilustrar este artigo vamos utilizar que trata das memórias pessoais e as memórias do professor e ex-pre- sociais. E, estes registros são de feito Leonildo José Mariani que ad- uma grande importância porque vão ministrou a cidade de Estrela no relatar os feitos de um professor e período de 1989 a 1992 no primeiro administrador público. mandato e 1997 a 2000 no segundo

84 mandato.Tais memórias nos remetem ao começo da biografia e suas rela- A ções com as pessoas, o que está de trajetória acordo com a ideia de que: como docente Para que a nossa memória se aproveite da memória dos ou- teve início tros, não basta que estes nos apresentem seus testemunhos: no Colégio também é preciso que ela não tenha deixado de concordar com Santo Antônio as memórias deles e que exis- tam muitos pontos de contato Estrela-RS entre uma e outras para que a e se prolongou lembrança que nos fazem recor- dar venha a ser constituída por 15 anos. sobre uma base comum”. (HAL- BWACHS, 2006, p. 39).

A história de Mariani come- anos. No ano de 1973, as ativida- ça na cidade de , RS, onde des se voltaram para o contrato na nasceu no dia 10 de março de 1944 3ª Delegacia de Educação, hoje CRE filho de agricultores o pai Ste- - Coordenadoria Regional de Educa- fano Mariani e a mãe Palma Scapin ção, onde desenvolveu as atividades Mariani. Leonildo José Mariani é administrativas por 15 anos. No ano casado com Regiane Maria Wendel Ma- de 1976, foi aprovado no concurso riani, tem 4 filhos, Carlos, Lucas, público para professor na área de Mateus e Stéfani e três netos. história e filosofia onde foi nomeado Com 29 anos, no ano de 1973, para dois contratos de 20 horas. assumiu o cargo de docente no Co- Durante 10 anos, ministrou légio Santo Antônio em Estrela-RS. cursos de formação na Escola Es- Sua carreira de estudante teve iní- tadual Estrela da Manhã, hoje co- cio em uma escola na área rural no nhecida como IEEEM – Instituto Es- interior de Aratiba-RS. Já o gi- násio e o científico foram concluí- dos na cidade de -RS. Em Fonte:http://www.estanciavelha.rs.gov.br/ noticias/detalhe/2071 Viamão, iniciou o curso de Filosofia e fez um ano de Teologia. Mas foi na Universidade de que concluiu o curso de Filosofia. A trajetória como docente teve início no Colégio Santo Antô- nio Estrela-RS e se prolongou por 15 anos. No Colégio Martin Luther Estrela-RS, trabalhou por 5 anos. Na Escola João Batista de Melo, em Lajeado-RS, permaneceu por 3 anos. Todas essas escolas são da rede privada de educação. Na rede pública, atuou na Es- cola Estadual João de Deus no muni- cípio de Cruzeiro do Sul-RS por 4 anos. Seguindo, lecionou na Escola Estadual Presidente Castelo Bran- co na cidade de Lajeado-RS, por 5

85 Parque Princesa do Vale - Novembro 1994 Imagem do acervo digital histórico do site WWW.NOSSADICA.COM.BR tadual Educação Estrela da Manhã, prova e realizou outra atividade no período de férias para os pro- avaliativa. Nem por isso acharam a fessores “leigos” de escolas muni- atividade extra penosa. Estas me- cipais, que na maioria das vezes mórias afetivas guardadas em nos- eram indicados por prefeitos para sas lembranças voltam à tona quando as áreas rurais, e que não possu- somos convidados a relembrar nossas íam habilitação de magistério. A práticas docentes. Segundo Halbwa- modalidade de curso de férias sur- chs (1990, p. 143), esse momento giu no Estado do Rio Grande do Sul “[...] é aquele que ocupamos, por pela preocupação com esses profes- onde passamos, ao qual temos acesso sores, para que estes pudessem ser e que fixa as nossas construções inseridos após esta habilitação no e pensamentos do passado para que plano de carreira do magistério reapareça esta ou aquela categoria estadual. Esse curso era ofertado de lembranças”. pelo governo do Rio Grande do Sul Em 1989, as atividades de do- de forma gratuita. cência foram interrompidas para que Uma das memórias inusita- um novo desafio de trabalho também das citadas por nosso entrevista- em prol da comunidade se desenvol- do aconteceu durante uma avaliação vesse. A partir de 1989, passou a onde se deparou com alunas muito exercer um cargo na vida pública, dinâmicas que gostavam de “tro- sendo o prefeito da cidade de Es- car ideias” durante a avaliação. trela. E também de 1997 até 2000 Baseado no comportamento, resolveu retornou para novamente adminis- elaborar quatro provas objetivas trar a cidade. diferentes. O resultado disso fo- Como homem público, de 1989 ram muitas notas inferiores a cin- a 1992, sua preocupação com o Vale co. Moral da história: Anulou a do Taquari não era apenas com as

86 cidades polos, como também as que pertenciam à região dos Vales. Ci- [...] o terceiro dades estas que possuíam os mesmos grande orgulho foi interesses e necessidades. Para po- der abrandar estas questões Econô- a criação do CEMAI - micas e Sociais foi criado o CO- DEVAT (Conselho de Desenvolvimento Centro Municipal de Regional do Vale do Taquari) sendo Mariani nomeado o primeiro presi- Atendimento Integral dente. Com isso foi deixado de lado um pouco o “bairrismo” e passou a – onde eram atendidas trabalhar com o coletivo em prol das comunidades do Vale. todas as crianças Examinemos agora a memória no turno inverso individual que, segundo Halbwa- chs (2003), não está inteiramente da aula com isolada e fechada. Para evocar seu próprio passado, em geral, a pessoa alimentação [...] precisa recorrer às lembranças de outras, e se transporta a pontos de referência fora de si determinados ções voltadas para a área de educa- pela sociedade. Mais do que isso, o ção. Isso foi percebido pois tinha funcionamento da memória individual a prática de visitar as escolas e não é possível sem esses instrumen- creches mensalmente. Mesmo quando tos que são as palavras e as ideias não havia verbas públicas, opta- que o indivíduo não inventou, mas va pela locação de imóveis para tomou emprestado do ambiente. instalação de creches, adaptando Das atividades realizadas as necessidades mais urgentes. No como administrador público foram início conseguia atender aproxima- três as que mais marcaram a sua damente entre 200 a 300 crianças carreira: a primeira delas foi ter nas creches, após o término da ges- mantido o “sangue de professor”, tão, já era possível alocar apro- como é observado nas suas realiza- ximadamente 2000 crianças. E o terceiro grande orgulho foi a criação do CEMAI - Centro Municipal de Atendimento Integral Durante 10 anos, – onde eram atendidas todas as crianças no turno inverso da aula ministrou cursos de com alimentação, orientação para fazer os temas, trabalhos manuais formação na e esportes. Este trabalho teve de- Escola Estadual dicação da professora Dorli Sch- neider e da primeira dama Regiane Estrela da Manhã, Maria Wendel Mariani. Uma curiosi- dade citada pelo Leonildo José Ma- hoje conhecida riani, foi que na década de 90, na entrada da cidade, havia placa onde como IEEEM – dizia:-” Estrela não tem criança de rua, ou estava na sala de aula ou Instituto estava no CEMAI” (Centro Munici- pal de Atendimento Integral). Um Estadual Educação benefício deixado pelo CEMAI foi Estrela da Manhã que muitos alunos foram capacitados e levaram este aprendizado para a [...] vida adulta. E muitos adquiram ofí-

87 loteamento popular que não oferecia Um dos grandes risco de enchentes. desafios foram Um dos orgulhos da cidade e que atrai um público significativo as enchentes que para prática de esportes, lazer e também eventos em datas comemora- assolavam a cidade. tivas é o Parque Princesa do Vale, mais conhecido como “Parcão”. Esta E nos anos de 1989 e área foi adquirida por Leonildo José Mariani no ano de 1992, foto 1990 foram removidas na figura 2, onde o parcão já está sendo moldado na administração de mais de 200 famílias Günther Wagner. E os demais bair- para loteamento ros da cidade foram beneficiados com áreas de lazer e prática de espor- popular que não tes. Quase todas as comunidades do interior foram beneficiadas na cons- oferecia risco trução de pavilhões destinados a esportes e festas da comunidade. de enchentes. Encerrando este nosso relato fica uma afirmação de nosso entrevis- tado que diz que: - “ a atividade cios, como o de padeiro. política é desgastante mas ao mesmo Além das crianças, outro lado tempo gratificante, principalmente de atenção recai sobre os idosos, quando voltada para as pessoas e que no início houve uma certa difi- não para as coisas”. culdade em atrair este público para Contudo, percebemos que suas encontros. A criatividade em tornar raízes nunca serão esquecidas, seus esta atividade rotineira, atraindo feitos estarão sempre guardados na as pessoas idosas para os encontros memória dos estrelenses que têm semanais se deu através da distri- muito orgulho de seus cidadãos. buição de brindes, alimentos, ações que estimularam a participação da REFERÊNCIA: comunidade. Esta organização tem a dedicação especial da primeira HALBWACHS, Maurice. A Memória dama, Regiane Maria Wendel Maria- Coletiva. São Paulo: Centauro, ni. Outra forma de convite para as 2003. atividades do programa de rádio do sindicato, onde eram informados vvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvv dia, hora e localidade do evento. Também era proporcionado transpor- Autora: te público até o local do evento. MARCIANE BLUME INAMINE - Mes- Essa ligação com o lugar é anali- tra em memória social e Bens sada por Halbwachs (2003, p.165) Culturais. Professora graduada como uma “vinculação dos grupos a em Licenciatura em Ci- um espaço: os grupos estão ligados ências e Habilitação naturalmente a um lugar, porque é o em Matemática pela fato de estarem juntos num dado es- Univates. Fez espe- paço que permite aos membros criar cialização em Gestão laços sociais”. Financeira e Gestão Mas nem tudo eram festas. Um e Docência para Gra- dos grandes desafios foram as en- duação pela Faculdade La chentes que assolavam a cidade. E Salle. Atua na área de educação nos anos de 1989 e 1990 foram re- em escolas públicas, privadas, movidas mais de 200 famílias para Senac e Faculdade La Salle.

88 seguinte artigo tem como ob- jetivo contextualizar a di- FABRICAÇÃO nâmica da produção de cer- vejas artesanais no município de OEstrela, apresentando informações DE CERVEJA relevantes para vincular com a cultura e o contexto vivido pelo município. Como fontes para a re- alização do artigo foram utili- ARTESANAL zados reportagens, entrevistas, e dados, assim como também impor- tantes fontes bibliográficas. EM ESTRELA: Atualmente o movimento cer- vejeiro artesanal está em alta e projeta colocar a bebida em evi- dência, estimulando a ideia de Uma história, que o consumo em menor quantida- de, contudo com melhor qualidade é sim o principal motivo da adesão muitas de milhares de consumidores a este novo pensamento. No Estado são mais de 144 lembranças, microcervejarias, sendo que o RS é o que possui atualmente o maior número de empresas de cervejas ar- tesanais no Brasil. Este número grandes representa atualmente 20% do to- tal de fábricas sendo que o número atual é de 675. negócios e o Estes números demonstram que este novo cenário cervejeiro ga- nhou um espaço no mercado regio- nal, as empresas de grande porte surgimento monopolizaram o mercado com pro- dutos padronizados, abrindo desta forma uma oportunidade de negócio de muitos para o atendimento de um público que está em busca de um produto diferenciado. Atualmente encontramos nos encontros... supermercados, restaurantes ou lo- cais que praticam somente a ven- da destes produtos uma quantidade enorme de opções, trazendo diferen- tes sabores e aromas. E é na encantadora cidade de Estrela-RS (princesa do vale) como é considerada por muitos, que en- contramos um polo atrativo deste consumo, onde apreciadores da bebi- da e empreendedores se envolvem com a produção, estocagem e comercia- lização deste produto. Estrela-RS fica localizada no centro oriental, e conforme o censo de 2010 possuiu

89 Parque Princesa do Vale - Novembro 1994 Imagem do acervo digital histórico do site WWW.NOSSADICA.COM.BR

30.628 habitantes. relato do Sr. Márcio Braun, presi- É neste contexto cultural que dente da associação, os encontros ocorre o FESTIVAL DE INVERNO DE ocorrem mensalmente, e o objetivo CERVEJA ARTESANAL, que é organiza- é a integração, realização de pa- do pela Acerva Estrela (Associação lestras, degustações dos produtos dos Cervejeiros Artesanais de Es- que são desenvolvidos pelos pró- trela). Este evento é muito tra- prios associados, reforçam a cultu- dicional e no ano de 2016 a edição ra cervejeira da região que é muito contou com mais de 1.700 pessoas e forte. Muitos rótulos desenvolvi- com 20 cervejarias artesanais de dos foram adotados por cidades e todo o sul do Brasil. estados e se tornaram ícones e par- Este festival surgiu com a te da identificação com a bebida. ideia de fortalecer a cultura cer- A cidade de Estrela-RS, nes- vejeira da região, mostrando que é te contexto, tem a Polar com essa possível consumir cerveja em qual- identificação. Pois a história desta quer época do ano. No ano de 2019, cerveja inicia na cidade, onde era o Festival, na sua 5ª edição, ocor- produzida. O nome Polar foi adotado reu no dia 27 de julho. pela empresa em 1969 e posterior- A Acerva Estrela foi funda- mente comprada pela Antarctica. A da em 08 de maio de 2013, em Es- fábrica não existe mais, mas a Po- trela-RS, é uma associação sem fins lar continua no coração dos Estre- econômicos, que tem por finalidade lenses. Em 20 de abril de 2006 a difundir e aprimorar a cultura de multinacional AMBEV anunciou a de- produção de cerveja artesanal. sativação da fábrica de cervejas. Cada região tem caracterís- ticas e cultura própria, e com a “Meus amigos e meus familiares cerveja não é diferente. Conforme tinham orgulho em dizer que

90 trabalhavam na Polar. Ofere- ciam cerveja Polar para beber sempre que recebiam visitas. A valorização da Polar naque- la época era evidente” (En- trevistada 11 – 10/07/2015). Ref. Monografia: Jéssica Taís Scheeren “Pô Polar, Estrela é teu lar” (Movimento criado em 1999, por moradores da cidade de Estre- la, para tentar manter a cer- vejaria na cidade).

Os textos citados relatam um pouco da importância da empresa Po- lar no contexto da cidade de Es- trela. O primeiro representando o orgulho dos funcionários em meados dos anos de 1970. Já o segundo re- presenta um movimento que aconteceu em 1999 na cidade de Estrela, em que os moradores expressavam o or- gulho que era de ter a cervejaria instalada no município. Acervo da Aepan-ONG Os depoimentos retratam que o hábito de consumir cerveja pode ser um produto de consumo que si- sem dúvida nenhuma, além dos re- naliza práticas e valores, assim lacionamentos construídos tem um como estabelece vínculos existen- significado nas lembranças de mo- tes entre um povo e a cerveja e, mentos com amigos, de rituais, de comemorações e de emoções. Até hoje histórias são con- Até hoje histórias são tadas relacionado a Polar como um assunto que ainda está na memória contadas relacionado dos habitantes da cidade, nas fo- tos mais antigas, quando ocorriam a Polar como um as festividades, o rótulo aparecia como marco principal do evento. assunto que ainda Conforme indicações de Samara e Morsch (2005) a cultura é o acú- está na memória dos mulo de crenças, valores e costu- habitantes da cidade, mes que direcionam o comportamento, exercendo uma grande influência e nas fotos mais trazendo consequências com as nor- mas ou mesmo as heranças sociais antigas, quando e culturais de um grande grupo de indivíduos. Isso se reflete já com ocorriam as a vestimenta típica alemã cultua- da na região de Estrela, herdando, festividades, o rótulo assim, um comportamento social e cultural valorizado há anos pelas aparecia como marco famílias da região. principal do evento. Segundo Solomon (2011), são comportamentos e símbolos que acon-

91 beber cerveja, se reunir e falar As lembranças sobre fatos ocorridos anterior- mente podem estar relacionados a trazem à tona símbolos (rótulos, fotos). As lem- sentimentos, branças trazem à tona sentimentos, emoções, e além deste contexto, te- emoções, e além deste mos que considerar também a movi- mentação econômica trazida à cidade contexto, temos que de Estrela-RS com o crescimento das microcervejarias. considerar também a movimentação REFERÊNCIAS: HALBWACHS, Maurice. Memória Co- econômica trazida letiva. São Paulo: Vértice, à cidade de Estrela-RS 1990. CERVEJAS DO MUNDO - HISTÓRIA DA com o crescimento CERVEJA BRASIL. In: Cervejas do das microcervejarias. Mundo. Disponível em: Acesso em: 6 jun. 2015. tecem repetidamente, lembrando as- sim, o ritual da gentileza. SAMARA, Beatriz S.; MORSCH, Mar- Para Bauman (2002), o concei- co A. Comportamento do consumi- to de cultura se torna “subjetivi- dor: Conceitos e Casos. São Pau- dade objetivada”. Um esforço para lo: Pearson Prentice Hall, 2005. entender o modo como as ações indi- SOLOMON, Michael R. O comporta- viduais podem ter validez coleti- mento do consumidor: comprando, va e como as múltiplas interações possuindo e sendo. 9. ed. Porto entre indivíduos podem construir Alegre: Bookman, 2011. “uma realidade dura e implacável” (BAUMAN, 2002, p. 259), de uma so- BAUMAN, Z. 2002. La cultura como ciedade alienada, que distingue as praxis. Buenos Aires, Paidós. esferas públicas e privadas da vida Monografia: Jéssica Taís Schee- humana. Para Bauman, é através da ren – Pô Polar, estrela é teu cultura que o homem se encontra lar compreendendo a prática do “em um estado de revolta constan- consumo de cerveja em Estrela. te” (BAUMAN, 2002, p. 343) contra Nov.2015. o estado paralisador voltado uni- vvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvv camente para o privado. Samara e Morsch (2005) afirmam que, para satisfazer as necessidades, Autora: todo indivíduo é orientado pela mo- ELAINE NAGEL - Graduada em Admi- tivação humana; Solomon (2011) en- nistração de Empresas pela Uni- tende que a motivação é compreender versidade de , por que os consumidores fazem o que UNISC, pós-graduada em fazem. A motivação pode ser referi- Gestão Estratégica de da aos processos que fazem as pes- Pessoas pela Fundação soas se comportarem de um jeito ou Getúlio Vargas, Mes- de outro. Para Bergamini (1977), é tra em Memória Social possível manter as pessoas motiva- e Bens Culturais pela das quando se conhece suas neces- Universidade La Salle, sidades e lhes oferece fatores de Canoas. Atua também como satisfação para tais exigências. consultora de empresas e pa- Desta forma, podemos concluir lestrante. E-mail: elaine.na- que de forma geral, a motivação de [email protected].

92 MNEMOCAST 2a Temporada Mnemocast | Podcast on Spotify

Foto: Fernando Pires

93 Revista da Disciplina de Oficinas de Linguagens Culturais e Suas Formas de Expressão 1o Semestre . 2021 Ano 11 . No 17 Edição Especial Turma Fora de Sede Estrela

Memórias... tantas memórias. Cidades do Vale do Taquari

ISSN 2358-1581

memória e linguagens culturais

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