MORFOLOGIA DOS FRUTOS, SEMENTES E PLÂNTULAS DE Platonici insignis MART. (). III GERMINAÇÃO E PLÂNTULAS1

Káthia Socorro Mathias MOURÃO2, Celia Massa BELTRATP

RESUMO - São apresentados aspectos morfológicos das plântulas em desenvolvimento de Platonici insignis Mart.. A piàntala é criptocotiledonar, hipógea A raiz é axial e no epicótilo, desenvolvem- se 2-5 pares de catáfilos opostos, antes do aparecimento do primeiro par de metáfilos. Estes são simples, de disposição oposta cruzada, elípticos, tendo pecíolos curtos, com duas minúsculas alas; a venação é pinada, camptódroma, fortemente broquidódroma. Palavras-chaves: Platonici insignis Mart.; germinação; plântula Fruit, Seed and Seedling Morphology of Platonia insignis Mart. (Clusiaceae). III. Germi­ nation and Seedling. SUMARV - Morphological and developmental features of seedlings of Platonia insignis Mart, are here described. The seedling is cryptocotylar, hypogeal. The primary root is axial; opposite scale leaves (cataphylls) precede the foliage leaves (metaphylls) in the epicotyl. The metaphylls are simple, eliptic, decussate, short petiolate; venation pattern is pinnate, camptodromous, and strongly brochidodromous. Key-words: Platonia insignis Mart.; germination; seedling

INTRODUÇÃO desenvolvimento das plântulas, são muito úteis para os que trabalham em A fase de plântula além de crítica viveiros e para as pesquisas sobre é também pouco conhecida A armazenamento de sementes e capacidade de se reconhecerem, num regeneração de florestas (NG, 1973). dado momento, as plântulas e os A combinação de características estádios juvenis na mata, pode ser de da semente e do adulto, na plântula, grande valor para se estabelecer a pode fornecer numerosos indícios para dinâmica de populações dnesta mata, a identificação das espécies no campo bem como o manejo silvicultural de e em amostras de sementes (NG, muitas matas semelhantes. Além disso, 1973; AMO, 1979; DUKE & pode servir como índice para o POLHILL, 1981; KUNIYOSHI, 1983; reconhecimento do estádio sucessional PARRA, 1984). em que se encontra a mata, de acordo com a diversidade de espécies e os Revendo a literatura relativa aos indivíduos que dominam o solo (AMO, caracteres morfológicos das plântulas 1979). A comparação de resultados de Clusiaceae, torna-se evidente a sobre a velocidade de germinação de grande carência de estudos sementes, aliados ao de morfologia e pormenorizados, especialmente no que se refere a Ρ insignis.

1 Parte da Dissertação de Mestrado da primeira autora. Projeto subvencionado pela CAPES e pela FAPEMA 2 Dpto. de Biologia, UEM, Av. Colombo, 5790, Maringá, PR. CEP: 87020-900 3 Dpto. de Botânica, IB/UNESP, Caixa Postal: 199, Rio Claro, SP CEP: 13506-900 MOURÃO & BELTRATI (JOHANSEN, 1940), para (1985a; 1985b) realizaramum estudo observações posteriores, sendo outra morfo-anatômico detalhado dos frutos parte herborizada e depositada como e sementes maduros desta espécie. documento taxonômico no Herbarium Dando continuidade a estes trabalhos, Rioclarense (HRCB) sob o n° de no presente estudo foram registro 14589. determinadas as principais Os termos utilizados na descrição características das plântulas, visando das plântulas estão de acordo com sua identificação no campo. TOMLINSON (1960), DUKE (1965; 1969)eMIQUEL(1987). MATERIAL E MÉTODOS A seguinte técnica foi utilizada na diafanização dos metáfilos para O material botânico utilizado no estudos de venação: os metáfilos fo­ presente trabalho constou de frutos ram mergulhados em Hidróxido de maduros coletados no Parque Estadual Sódio a 5% e, depois, em solução do Itapiracó, área sob a aquosa de Hipoclorito de Sódio a 20%, responsabilidade da Secretaria de Meio lavados, corados em Safranina Aquosa Ambiente e Turismo do Estado do a 1 %, desidratados em série alcoólica, Maranhão (SEMATUR), situada a montados em gelatina glicerinada 2°32' de latitude sul e 44° 17' de longi­ liqüefeita a 40'C e as lâminas lutadas tude oeste, no município de São Luis com esmalte incolor (adaptação das (MA) técnicas de HANDRO (1964) e No estudo dos aspectos FELIPPE & ALENCASTRO (1966). morfológicos da plântula, as sementes A descrição da veneção seguiu a foram colocadas para germinarem terminologia de HICKEY (1973; sacos de plantio contendo uma mistura 1979). de três partes de terra e uma parte de esterco de curral. Foram utilizadas As ilustrações das plântulas fo­ amostras de 100 sementes, sendo as ram obtidas a partir de espécimes vivos. plântulas mantidas em ambiente natu­ RESULTADOS ral, em local aberto e parcialmente sombreado. Aspectos da germinação Foram feitas inicialmente observações mensais e depois O início da germinação torna-se trimestrais. Os diferentes estádios de visível cerca de um mês após a desenvolvimento das plântula até o semeadura, quando emerge a raiz aparecimento das primeiras folhas primária, de coloração amarelada, que definitivas foram descritos e ilustrados. cresce muito, e posteriormente se torna As plântulas obtidas, em diferentes robusta. Apresenta raízes secundárias fases de desenvolvimento, foram em finas, e muitas lenticelas. parte fixadas em F.A.A. 50% Com aproximadamente cinco a seis meses começa a crescer o epicótilo, elíptica, ápice e base agudos (Fig. 7) permanecendo os dimunutos cotilédones A margem é inteira, a textura é no interior do tegumento da semente. coriàcea e a coloração verde-brilhante. Em condições ambientais, O pecíolo é curto, achatado obteve-se 95% de germinação. ventralmente, com duas pequenas alas. Morfologia e desenvolvimento da A venação é pinada, piàntala camptódroma, fortemente broquidóroma. A veia primária é ro­ O desenvolvimento da plântula pode busta (2,5%), de curso reto e não ser observado através das Figuras 1 a 6. ramificada (Figs. 7 e 8). A plântula de Platonici insignis As veias secundárias possuem o é criptocotiledonar, hipógea. A raiz é ângulo de emergência moderadamente axial podendo-se observar, com cerca agudo (55°) e uniforme do ápice até a base de três meses, a presença de raízes da lâmina. A espessura é fina e o curso laterias, que posteriormente se tornam reto, sendo ramificadas (Figs. 7 a 9). bastante ramificadas O epicótilo, após O laço formado pelas veias a sua emergência, cresce rapidamente secundárias fica forte e reto, dando mostrando coloração avermelhada. origem a uma veia intramarginal, Antes do aparecimento do primeiro par paralela à margem da folha, e onde as de metáfilos, que ocorre com cerca de veias secundárias numerosas e muito cinco a seis meses, desenvolvem-se 2- próximas estão fusionadas Dessa veia 5 pares de catáfilos opostos, de intramarginal partem arcos terciários aspecto membranàceo que, às vezes, que nem sempre se unem aos podem se tornar esverdeados, superadjacentes (Figs. 7 e 9). expandindo-se ligeiramente. Em um As veias terciárias têm um padrão dos exemplares estudados observou-se casualmente reticulado, com ângulo de também presença de dois pares de origem, na maioria agudo-obtuso (AO), catáfilos, entre o primeiro e o segundo podendo variar (Figs 7 a 9). par de metáfilos. A venação de ordem superior é Os metáfilos são simples, de distinta. Veias casualmente orientadas disposição oposta cruzaada, elípticos, (Figs. 8 a 10). As vênulas variam de providos de pecíolos curtos simples curvadas a ramificadas de uma Inicialmente sua coloração é verde- a várias vezes (Figs. 10 e 11). As aréolas acobreada, passando, posteriormente a têm desenvolvimento imperfeito, arranjo verde brilhante. casual, forma irregular e tamanho grande Raízes adventícias podem surgir (Figs. 8 a 11). na base do epicótilo DISCUSSÃO E CONCLUSÕES Morfologia e padrão de venação dos metáfilos De acordo com a classificação de DUKE (1976; 1969) a plântula de A lâmina foliar é simétrica, Platonici insignis é criptocotiledonar, isto Figuras 1 a 6. Estádios sucessivos de desenvolvimento da plântula. 1 e 2: 1 mês (após a semeadura); 3: 3 meses; 4 e 5: 6 meses; 6: 9 meses (cf = catáfilo; eh = eixo hipocótilo-radicula; eo = epicótilo; le = lenticela; mf = metáfilo; rp = raiz primária; rs = raiz secundária; rv = raiz adventícea) Figuras 7 a 11. Padrão de venação do metáfilo 7: Aspecto geral da venação; 8: Detalhe da região da nervura central; 9: Detalhe da região marginal; 10: Detalhe de uma areola; 11: Detalhe de uma vènula, (ap = ala peciolar; ni = nervura intramarginal; np = nervura primária; ns = nervura secundária) é, os cotilédones permanecem no inte­ citou as seguintes características gerais: rior da testa, após a germinação Pela plântula criptocotiledonar, cotilédones definição de MIQUEL (1987) a plântula unilaterais, catáfilos supracotiledonares dessa espécie enquadra-se no tipo opostos, em todos os gêneros estudados, "hipógea" (criptocotiledonar-hipógea). exceto Clusia, que apresenta No presente trabalho, para definir germinação fanerocotiledonar, com o estádio de plântula, pareceu mais cotilédones iguais. AMO (1979), para adequado adotar-se o conceito de Rheedia edulis, e MIQUEL (1987), PARRA (1984), segundo o qual a fase para Garcinia polyantha, Garcinia sp., de plântula é "a que transcorre,desde a Mammea africana e Pentadesma germinção da semente, até o momento butyracea, citaram plântulas em que aparece o primeiro nomófilo com criptocotiledonares hipógeas. características semelhantes aos da Bn Platonia insignis foram planta-mãe". observadas raízes adventíceas na bae do MENSBRUGE (1966) obteve epicótilo, mas estas não chegam a substituir taxas variáveis de germinação em a raiz primária, como ocorre nas tribos Clusiaceae, que considerou como: Moronobeae e Garcinieae (PLANCHON elevadas (80 a 90%), em Mammea & TRIANA apud BRANDZA, 1908; africana, , BRANDZA, 1908; GUILLAUMIN, Garcinia gnetoides e G. polyantha; 1910); em todas as espécies de Clusiaceae baixas (30 a 50%), em G kola e descritas por MENSBRUGE (1966), com Symphonia globuli/era; e muito baixa exceção de Allanblackia flori­ (10%), em Allanblackia floribunda. bunda (tribo Moronobeae); e em Em P. insignis a taxa de germinação foi Symphonia globulifera (MAURY- de 95% e portanto, pode ser considerada LECHON et ai, 1980). elevada. A ocorrência de lenticelas na raiz De acordo com MENSBRUGE primária de Mammea americana foi (1966), nas Clusiaceae por ele descritas, citada por BRANDZA (1908). Estas a germinação é sempre "hipógea", com estruturas estão presentes também na as plântulas se caracterizando pela raiz primária de P. insignis. presença de um longo e espesso Quanto ao padrão geral de venação, epicótilo, que apresenta catáfilos opostos; as folhas da plântula são praticamente pelas duas primeiras folhas simples e idênticas às da planta adulta (MOURÃO opostas; e pela ausência de pêlos e de & GIRNOS, 1994), enquadrando-se no estipulas. Estas características estão padrão citado por fflCHEY & WOLFE presentes em P. insignis. (1975) para o Grupo "Ochnaceous", no qual DUKE (1965) descreveu como está incluída a família Clusiaceae. Na criptocotiledonares as plântulas de classificação de MELVILLE (1976) está Calophyllum calaba, Rheedia situado no tipo paxilato, cujo sinônimo é portoricensis e Garcinia mangostana. paralelódromo-transverso (MOUTON Para a família Clusiaceae DUKE (1965) apud MELVILLE, 1976). Bibliografìa citada JOHANSEN, D.A. 1940. microtechnique. McGraw-Hill Book, New York. 523 p. AMO, R.S. del 1979. Clave para plântulas y MAURY-LECHON, G.; CORBINEAU, E.; estados juveniles de espécies primarias COME, D. 1980. Données préliminaires de una selva alta perennifolia en Veracruz, sur la germination des graines et la con­ México. Biotropica, 4(2): 58-108 servation des plantules de Symphonia BRANDZA, G. 1908. Recherches anatomiques globulifera L.f. (Guttifere). Revue Bois et sur la germination des Hypéricacées et Forêts des Tropiques, 193: 35-40. des Guttifères. Annates des Science MELVILLE, R. 1976. The terminology of the Naturelles Bot., serie 9, 8: 221-300 leaf architecture. 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Aceito para publicação em 08.02.95